Quando se trata de amizade, a conversa fica mais séria, não é mesmo? Ter bons amigos, que não faltem às promessas, é uma dádiva. A lisura é uma capacidade tão difícil de encontrar nas pessoas. Amigos confiáveis são raros.
Como sempre, nestes dias menos luminosos de outono, costumo recolher-me. Fico enrodilhada em uma poltrona, como faz minha gatinha Rita Lee. Introspectiva, me ponho a pensar em tudo. No sentido da vida. Gosto de me voltar para dentro. É um exercício intrincado, nesta época em que tudo é compartilhado nas redes, lotadas de oba-oba.
Ao fim da tarde de um sábado chuvoso, que fez com que escurecesse mais cedo, resolvi pedir uma pizza. Coloquei o desejo em ação. Na hora da entrega rolava muita água. Os carros passavam na rua, levantando e esparramando água para todos os lados. Os faróis ficavam ofuscados. Saí no avarandado de sombrinha em punho e fui em direção ao portão, já acionando o controle. Então, escutei:
— Não venha, Elenir! Você vai se molhar… Eu vou até aí.
O entregador era meu amigo e desejava me proteger.
— Imagina… Quanta gentileza. Te cuida. Não corra! — eu quis protegê-lo, também.
O delicioso cheirinho de pizza à portuguesa, minha preferida, exalava pela casa toda.
Naquele instante, dei-me conta de que faltava algo.
— Oh! Meu Deus! — o refrigerante não fora entregue.
— Bah! Não estou com vontade de tomar vinho hoje, embora a noite seja propícia.
A primeira coisa que pensei é que não iria reclamar. Não prejudicaria meu amigo com uma queixa. Já sofrem tanto com esse trabalho, indo até tarde da noite.
Quarenta e cinco minutos depois, ele estava no portão, pedindo desculpas e entregando o litro de Coca-Cola.
A chuva tinha diminuído um pouco. A pizza já havia sido devorada. O motoboy estava mais calmo. Desejando um bom final de semana, perguntou:
— Por acaso você ligou lá para a pizzaria, reclamando?
— Não, imagina se faria isso com você — respondi, colocando nas mãos dele o valor de uma nova tele-entrega.
Pondo o capacete, dando sinal de arranque na motocicleta, falou bem alto que eu era uma amiga de verdade.
Employees giving hands and helping colleagues to walk upstairs. Team giving support, growing together. Vector illustration for teamwork, mentorship, cooperation concept
Essa profissão humanizante e humanizadora que percorreu os séculos, em nosso tempo é frequentemente maltratada, perseguida, injuriada, precarizada. Apesar de tudo isso, milhares de homens e mulheres persistem a acreditam no valor de educar.
A motivação principal deste escrito é divulgar a belíssima coletânea Ética e Docência, organizada pelos professores Angelo Vitório Cenci, Andrei Luiz Lodéa, Bruna de Oliveira Bortolini e Patrícia Carlesso Marcelino (2024) que acaba de sair pela Editora da UPF. Trata-se de uma publicação que trata de um tema central para os desafios educacionais contemporâneos. Conforme os organizadores escrevem na apresentação, “a docência é uma profissão, mas também é um ofício. Ela necessita de uma esmerada formação intelectual, pedagógica e metodológica, mas também de saberes práticos adquiridos mediante experiência, tato pedagógico e criatividade” (p.7).
I
Essa profissão humanizante e humanizadora que percorreu os séculos, em nosso tempo é frequentemente maltratada, perseguida, injuriada, precarizada. Não por todos, certamente, e nem sempre de forma pública, mas na sutileza das sombras, no anonimato das ações tácitas, no submundo das redes sociais, nos discursos de ódio de uma extrema direita ressentida, na idolatria dos que colocaram o deus mercado no altar dos sacrifícios da vida humana e no uso instrumental da natureza; por estes a profissão docente é frequentemente hostilizada.
Professores e professoras, principalmente os que advogam um pensamento crítico e reflexivo em suas práticas docentes, são frequentemente acusados de serem doutrinadores, comunistas, insolentes, perturbadores do progresso econômico e responsáveis pelo fracasso da educação. Apesar de tudo isso, milhares de homens e mulheres persistem a acreditam no valor de educar.
Em seu belo livro O valor de educar, o filósofo e educador espanhol, Fernando Savater, diz que “[…] em qualquer educação, por pior que seja, há suficientes aspectos positivos para despertar em quem a recebeu o desejo de fazer melhor com aqueles pelos quais depois será responsável” (Savater, 2000, p. 17). Tal perspectiva nos tutela, acompanhando as reflexões anteriores, o desafio de pensarmos e estruturarmos processos educativos para que as futuras gerações possam ser melhores que a nossa geração ou a geração que nos precedeu. Mas como realizar tal façanha? De que forma é possível pensar e projetar um processo educativo que seja suficientemente eficaz para dar conta das crises e demandas educacionais atuais?
A educação deve preparar pessoas para competir na sociedade do mercado ou deve formar seres humanos completos? Deve doutrinar ou educar para a autonomia? Deve focar-se e concentrar suas energias no repasse de informações e na instrução eficiente ou no árduo e complexo processo de produção de conhecimentos e na construção de cidadãos? Deve preparar para um emprego ou preparar para a vida? Deve manter uma “neutralidade aparente” diante da pluralidade de opções ideológicas, religiosas, políticas e tantas outras formas de vida, ou deve inclinar-se por debater sobre o preferível e propor modos de vida mais confiáveis?
No bojo de todas essas questões e tantas outras que poderiam ser apresentadas, ainda cabe perguntar: é obrigatório educar todo mundo da mesma maneira ou deve haver tipos diferentes de educação, isto é, conforme a clientela a que sejam dirigidos? A obrigação de educar é assunto público ou questão privada de cada um? Por que a educação carrega em si, no seu modo de ser planejada e exercida, uma dimensão existencial, antropológica, ontológica, epistemológica, política e ética?
“Ninguém escapa da educação”, afirmava o saudoso Carlos Rodrigues Brandão (1986, p. 7), em seu consagrado livro introdutório O que é educação. Em qualquer lugar que estamos, na rua, em casa, na escola, nas situações mais inusitadas, diante da televisão, quando conversamos com outras pessoas, lemos um jornal, um livro ou qualquer outro tipo de informativo, ou quando compartilhamos nas redes sociais informações ou curiosidades: todos nós estamos envolvidos com a educação para aprender, ensinar, socializar, construir, dinamizar, fazer, conviver, revitalizar nossa própria existência. “A educação invade nossa vida e nossa vida é misturada com a educação”, ressaltam Fávero e Tonieto (2010, p. 14), pois “[…] não há uma forma única de educação e ela não se realiza apenas em locais formais”.
Em cada cultura, em cada época, em cada espaço, há traços educativos que se traduzem em formas de vida de indivíduos, grupos e comunidades inteiras e é por isso que “ninguém escapa da educação”. Mas essa condição se restringe aos seres humanos ou se estende aos demais seres vivos?
Nas pesquisas e escritos de diversos cientistas e pensadores contemporâneos, não há dúvida de que em todos os seres vivos existe uma relação entre o viver e o conhecer. As teorias atuais que tratam dos sistemas complexos auto-organizativos e autopoiéticos indicam o profundo vínculo que existe entre o viver e o conhecer. Para essas teorias, as interações de um organismo vivo com o seu meio ambiente são vistas como interações cognitivas, de modo que há, portanto, uma identificação entre o processo de vida e o processo do conhecer. Humberto Maturana e Francisco Varela (2001, p. 194), em seu livro A árvore do conhecimento, destacam que “[…] toda interação de um organismo, toda conduta observada, pode ser avaliada por um observador como um ato cognitivo”. Sendo assim, “[…] o fato de viver – de conservar ininterruptamente o acoplamento estrutural como ser vivo – corresponde a conhecer no âmbito do existir”.
Dizendo de modo aforístico: “viver é conhecer” (viver é ação efetiva no existir como ser vivo). É com base nessa relação autopoiética da vida e com conhecimento que podemos responder à pergunta: como surge a ética? De acordo com Maturana e Varela (1995, p. 262), a ética surge da consciência da estrutura biológica e social dos seres humanos, que brota da reflexão humana e a coloca no centro como fenômeno social constitutivo. E como toda a ação humana sempre acontece na linguagem, assim, também, todo ato linguístico produz o mundo que criamos com os outros nos atos de convivência que dão origem ao humano: por isso, todo ato humano traz consigo um sentido ético. Esse vínculo entre humanos é o fundamento de toda ética como reflexão sobre a legitimidade da presença do outro.
Em Sem fins lucrativos (2019), a filósofa Martha Nussbaum argumenta que se tornou urgente nos preocuparmos com a diferença de perspectiva de uma educação baseada no modelo utilitarista — que aceita e propaga a ideia do crescimento econômico e que impõe, também, ao sistema escolar e universitário, um sistema de avaliação quantitativa de produtividade —, e uma formação que se oriente pelo modelo do desenvolvimento humano, no qual são fomentadas e preservadas as condições para a criação de capacidades que permitam a constituição de uma sociedade democrática e de uma cidadania global.
Mais recentemente, Nussbaum (2022) também dedicou um livro à questão da ética para com os animais, indicando a necessidade de incluir, na mudança paradigmática necessária à educação do nosso tempo, a consideração da nossa responsabilidade em relação às diferentes formas de vida. Estamos aqui, portanto, no centro de nossas indagações sobre as relações entre os pressupostos éticos e epistemológicos da atividade docente, para a qual é preciso ter sempre presente o caráter relacional que nos vincula aos outros e ao mundo.
É notório, a partir das posições defendidas por essas teorias e por esses autores, que “viver é conhecer” e que “[…] o processo de cognição tem a ver com a conduta efetiva ou adequada de um organismo vivo em um contexto relacional” (Fávero; Tonieto, 2010, p.15). No entanto, permanece a questão anteriormente formulada: a inevitabilidade do processo educativo se restringe aos seres humanos ou se estende aos demais seres vivos?
Ou ainda, qual é a forma especificamente humana de cognição que diferencia o ser humano de outros animais superiores? Em seu livro Educar para reencantar a vida, o teólogo e economista Jung Mo Sung (2006, p. 27-28) responde a essa segunda pergunta da seguinte maneira: “[…] o único mecanismo biológico capaz de gerar esse tipo de mudança no comportamento e na cognição […] é a transmissão social ou cultural que funciona em escalas de tempo de magnitudes bem mais rápidas do que as da evolução orgânica”.
A resposta formulada por Jung Mo Sung está ancorada em diversos autores os quais defendem a tese de que, na espécie humana, há um processo de transmissão e de aprendizagem cultural que se diferencia de outras espécies.
Baseado em seus estudos Sung (2006) identifica três tipos básicos de aprendizagem cultural humana: a) aprendizagem por imitação; b) aprendizagem por instrução; c) aprendizagem por colaboração. Esses três tipos de aprendizagem só são possíveis na espécie humana porque possuímos a “cognição social” que possibilita perceber e compreender os indivíduos pertencentes à mesma espécie como sendo iguais a nós.
Apesar de sermos biologicamente muito semelhantes aos primatas, por exemplo, é o ato de nos identificarmos com outros membros da nossa espécie que possibilita os três tipos de aprendizagem acima indicados. É nesse aspecto que a aprendizagem da linguagem simbólica se torna um divisor de água entre a espécie humana e os outros animais superiores. “O que dá à cognição humana o seu poder único e impressionante em relação aos outros animais”, ressalta Jung Mo Sung (2006, p. 29), “[…] é o fato de usarmos os símbolos linguísticos em interações discursivas onde as diferentes perspectivas de apreensão e compreensão de algum fenômeno possibilitadas por esses símbolos são explicitamente contrastadas e compartilhadas”.
Em seu instigante livro Ensaio sobre o homem, o filósofo contemporâneo Ernst Cassirer (2001, p.50-51) define o ser humano como sendo um animal symbolicum, pois, para ele, a razão é um termo muito inadequado para compreender as formas da vida cultural do homem em toda a sua riqueza e variedade. “É inegável que o pensamento simbólico e o comportamento simbólico estão entre os traços mais característicos da vida humana, e que todo o progresso da cultura humana está baseado nessas condições”.
Os animais também são suscetíveis de comportamentos simbólicos e os cientistas estão convencidos de que o problema da linguagem animal é algo que merece nossa atenção e cuidado. No entanto, ressalta Cassirer (2001, p. 54-59), é necessário distinguir “[…] as camadas geológicas da fala” que possibilitam distinguir a linguagem humana da linguagem animal, ou seja, “[…] a diferença entre a linguagem proposicional e a linguagem emocional é a verdadeira fronteira entre o mundo humano e o mundo animal” (grifos do autor). A linguagem proposicional é o grande distintivo da linguagem humana. Da mesma forma, há uma distinção entre sinais e símbolos: “[…] um sinal faz parte do mundo físico; um símbolo é parte do mundo humano do significado” (Cassirer, 2001, p. 54-59).
As reflexões de Cassirer nos ajudam a retomar a pergunta que foi indicada anteriormente: a educação se restringe aos seres humanos ou se estende aos demais animais superiores?
Acreditamos que as considerações acima expostas são, provisoriamente, suficientes para respondermos afirmativamente: a educação é uma particularidade humana e nos tornamos humanos pelos processos educativos que acontecem em nossa vida. Isso implica em dizer que a humanização não é um processo natural, mas que nos tornamos humanos na medida que participamos de uma comunidade que possui regras, linguagem e cultura. É neste sentido que Jung Mo Sung (2006, p. 35) diz que “[…] nós seres humanos somos de certa maneira ‘animais desnaturados’”, pois, mesmo sendo nosso ponto de partida natural, “[…] nossa espécie foi enxertada de certos processos biológicos” que foram se adaptando pelas necessidades (a posição do pé, o dedo polegar oposto a outros quatro dedos, o deslocamento do cérebro etc.) e “[…] de processos históricos e sociais que nos possibilitaram a habitar o universo da cultura”. Sendo assim, nós “[…] não habitamos mais apenas o mundo dos fatos, mas o mundo dos signos e dos sentidos” (Sung, 2006, p. 35).
O fato do ser humano habitar o mundo dos signos e dos sentidos requer um constante processo educativo e é por isso que a escola surge como uma das mais importantes instituições historicamente criadas para socializar os saberes culturais e, com isso, possibilitar o processo de humanização das futuras gerações.
Certamente, a escola foi uma das principais invenções que contribuiu de forma singular para o aprimoramento cultural da espécie humana e para o avanço do conhecimento. Não teríamos evoluído, em termos de civilização, e não teríamos atingido o estágio atual das modernas tecnologias sem a presença marcante da escola. No entanto, em um cenário de transformações rápidas e profundas, ocasionadas pelas tecnologias da informação e comunicação, associamo-nos às reflexões de Charlot (2019, p.161), quando diz que hoje, observa-se “[…] uma indeterminação crescente quanto à definição do que é um ser humano” e, por isso, um dos desafios fundamentais à educação diz respeito à questão antropolítica. Nesse cenário, a própria escola pública vê-se atacada, de todas as formas, com acusações, demandas e questionamentos que abalam suas estruturas e sua própria identidade, que fragilizam seus sujeitos (professores, alunos e gestores), de modo a confundir suas funções e sua relevância social em um mundo cada vez tecnificado e mercantilizado.
São imensos os desafios do tempo presente, pois envolvem situações complexas, problemas profundos, dilemas gigantescos, ações coletivas que ultrapassam as particularidades locais ou regionais. Tais desafios não podem ser enfrentados apenas com discursos ou com decretos, não serão contornados se não existir uma consciência coletiva cidadã que seja capaz de produzir uma responsabilidade solidária e ética que nos ajude a ver para além dos interesses imediatos econômicos. Tal consciência requer uma atitude ética educacional do conjunto da sociedade. Teremos coragem de dar esse passo?
Parte das ideias que foram esboçadas acima estão também desenvolvidas no capítulo que escrevi com grande amigo Luiz Carlos Bombassaro (Professor da UFRGS). A coletânea completa onde está publicado o capítulo pode ser acessada no seguinte link: https://www.researchgate.net/publication/380404922_Etica_e_docencia_VI_ebook_2024
Referências:
BECKER, Fernando. A epistemologia do professor😮 cotidiano da escola. Petrópolis: Vozes, 1993.
BRANDÃO, Carlos Rodrigues. O que é educação. 18ª ed. São Paulo: Brasiliense, 1986.
BOMBASSARO, Luiz Carlos. As fronteiras da Epistemologia. Como se produz o conhecimento. 3ª ed. Petrópolis: Vozes, 1992.
CASSIRER, Ernst. Ensaio sobre o homem. São Paulo: Martins Fontes, 2001.
CENCI, Angelo Vitório; LODÉA, Andrei Luiz; BORTOLINI, Bruna de Oliveira; MARCELINO, Patrícia Carlesso (orgs.). Ética e Docência. Passo Fundo: Editora UPF, 2024.
CHARLOT, Bernard. A questão antropológica na educação quando o tempo da barbárie está de volta. Educar em Revista, Curitiba, v. 35, n. 73, p. 161-180, jan./fev., 2019.
FÁVERO, Altair Alberto; TONIETO, Carina. Educar o educador:reflexões sobre docente. Campinas: Mercado de Letras, 2010.
FÁVERO, Altair Alberto; TONIETO, Carina. O lugar da teoria na pesquisa sobre a docência no Ensino Superior. In: FÁVERO, Altair Alberto; TONIETO, Carina (Orgs.). Epistemologias da docência universitária. Curitiba: CRV, 2016. pp. 31-49.
FÁVERO, Altair Alberto; TONIETO, Carina; POSSEL, Bianca. A resolução de problemas como prática interdisciplinar: uma proposta epistemetodológica. In: FÁVERO, Altair Alberto; TONIETO, Carina; CONSALTÉR, Evandro (Orgs.). Interdisciplinaridade e formação docente.Curitiba: CRV, 2018. pp. 89-102.
FÁVERO, Altair Alberto; TONIETO, Carina; CONSALTÉR, Evandro; CENTENARO, Junior Bufon (Orgs.) Leituras sobre Martha Nussbaum e a Educação. Curitiba: CRV, 2021.
MATURANA, Humberto e VARELA, Francisco. A árvore do conhecimento:as bases biológicas da compreensão humana. São Paulo: Palas Athena, 2001.
NUSSBAUM, Martha. Sem fins lucrativos. Por que a democracia precisa das humanidades. São Paulo: Martins Fontes, 2019.
NUSSBAUM, Martha. Justice for animals. Our Collective Responsibility. New York: Simon & Schuster, 2022.
SAVATER, Fernando. O valor de educar. São Paulo: Martins Fontes, 2000.
SUNG, Jung Mo. Educar para reencantar a vida. Petrópolis: Vozes, 2006.
Repercutimos, neste site educacional, o trabalho de uma Escola da Rede Municipal de Passo Fundo, A EMEF Zeferino Demétrio Costi. A partir do trabalho da Coordenadora Pedagógica (que também já atuou na escola como Orientadora Educacional) Adriana Severo dos Santos, este educandário vem trabalhando diuturnamente para enfrentar o bullying, uma prática bastante comum em ambientes escolares e que deve ser enfrentada a partir de estratégias educativas permanentes.
Uma das temáticas mais debatidas na sociedade hoje, principalmente nos espaços escolares, é o Bullying, tornando-se um desafio a nós educadores e educadoras. O desafio é pensar e desenvolver um trabalho preventivo junto aos estudantes e toda a comunidade escolar.
Esse trabalho de sensibilização, conscientização, permeado de atividades pedagógicas preventivas, busca fortalecer e tornar a escola um ambiente escolar emocionalmente saudável, produtivo e positivo. Por este motivo, escolas tem se preocupado cada vez mais, não só com o desenvolvimento acadêmico, mas também com o desenvolvimento social e emocional dos estudantes.
Cabe ressaltar que, o bullying influencia e contribui diretamente no processo ensino aprendizagem, sendo um dos fatores determinantes ao sucesso ou fracasso escolar, por isso é tão determinante seu debate e medidas de prevenção.
A escola é um espaço de vivencias coletivas, por isso, é preciso oferecer meios para se encontrar novas soluções no combate a estes tipos de constrangimentos e, mostrar para as pessoas que bullying não é brincadeira, mas, sim, um ato de crueldade e violência contra estas crianças e adolescentes. Além disso, projetos de prevenção, essenciais no âmbito escolar, visam discutir formas de convivência, valorizando a amizade, os valores humanos, a integração, empatia, solidariedade, sentindo-se feliz, seguro e respeitado.
É importante destacar também, que os efeitos do bullying podem ser devastadores, traumáticos e irreversíveis, se não combatidos e denunciados, por isso partindo deste pressuposto, apresentamos algumas sugestões… que nos últimos quatro anos a Escola Municipal Zeferino Demétrio Costi tem trabalhado com os estudantes e toda comunidade escolar, em vários momentos educativos, refletindo e avaliando, buscando amenizar e instalar uma cultura da paz, pela harmonia e boa convivência de todos.
Coordenadora da EMEF Zeferino Demétrio Costi em seu ambiente de trabalho.
Seguem sugestões de materiais educativos que podem ser trabalhados junto a estudantes das séries iniciais do Ensino Fundamental.
LIVROS:
ERNESTO: 3º,4º,5º ANOS
– Os direitos das Crianças – Ruth Rocha
– Adaptação Declaração Universal dos Direitos Humanos – Ruth Rocha e Otávio Roth.
Materiais Audiovisuais como sugestões para trabalhos com estudantes:
Seguem, também, sugestões de materiais audiovisuais (vídeos) que podem ser trabalhados junto a estudantes das séries finais do Ensino Fundamental.
1.O filme CURTA DIFERENÇAS foi realizado com financiamento da Lei Federal de Incentivo à Cultura. Tem o patrocínio exclusivo das Empresas RANDON, a realização da Secretaria Especial da Cultura, do Ministério do Turismo e do Governo Federal. A ideia nasceu com a música DIFERENÇAS de Rodrigo Munari. Da música surgiu o livro DIFERENÇAS do mesmo autor, com ilustrações de Felipe Munari. Do livro as palavras e ilustrações ganham vida, voz e movimento no filme CURTA DIFERENÇAS!!!
2.Time espanhol lançou vídeo promocional aderindo à campanha do Dia Internacional contra o Bullying Escolar. No comercial, com o tema “Contra o bullying, coragem e coração”, uma criança é vítima de bullying no pátio de uma escola e outras duas crianças a defendem, uma delas vestida com a camisa do zagueiro Stefan Savic, defensor do time de Diego Simeone. O vídeo é encerrado com a legenda: “Às vezes os verdadeiros craques são os que defendem, não os que atacam”. A campanha é realizada no dia 2 de maio e visa conscientizar crianças e adultos sobre o bullying em escolas.
Entendemos que a abordagem didática e pedagógica da tragédia ambiental no RS representa uma oportunidade única de construirmos sentido e relevância destes conteúdos nas salas de aula, trazendo elementos reflexivos que apontem possíveis soluções e ampliem a capacidade crítica e criativa dos nossos estudantes, razão maior da existência de nossas escolas.
Acreditamos numa educação contextualizada, que se importa e que trabalha, didática e pedagogicamente, temas emergentes e urgentes que impactam a sociedade, inclusive aqueles que surgem repentinamente, que podem estar fora dos nossos planos de trabalho ou planejamentos trimestrais ou mensais. É o caso da recente catástrofe ambiental que assola o sul do Brasil, impactando sob vários aspectos a economia, a vida social, cultural e educacional de nosso querido Rio Grande do Sul, do nosso querido e amado Brasil.
Nossas escolas não podem ficar alheias às realidades sociais e ambientais. Quando ocorrem eventos sociais ou ambientais que impactam a vida de nossas comunidades, precisamos ousar para incluir, efetivamente, este contexto como um tópico das discussões das nossas escolas, bem como uma interessante forma para nossos estudantes desenvolverem habilidades relevantes já previstas na nossa BNCC (Base Nacional Comum Curricular).
Este conteúdo pode ser abordado por diferentes componentes curriculares, por áreas de conhecimento ou mesmo constituir um trabalho de toda escola onde cada componente ou área de conhecimento colabora com uma abordagem específica. Se este conteúdo, da prática e da realidade social mais impactante e eminente não nos importa, o que nos importará?
A partir deste entendimento e convicção, decido socializar, neste ensaio, alguns apontamentos/sugestões de intervenção pedagógica, a partir de minha experiência vivenciada em salas de escolas públicas de anos finais do Ensino Fundamental e Ensino Médio. Algumas sugestões e propostas foram sugeridas com colegas professores e professoras que, como eu, já ousaram trabalhar e problematizar o evento da tragédia ambiental que assola o RS em 2024 e das grandes e impactantes consequências para todos os gaúchos e gaúchas, brasileiros e brasileiras.
Lembramos que há habilidades específicas que versam sobre este tema. Citaremos algumas: (EF07CI08) Avaliar como os impactos provocados por catástrofes naturais ou mudanças nos componentes físicos, biológicos ou sociais de um ecossistema afetam suas populações, podendo ameaçar ou provocar a extinção de espécies, alteração de hábitos, migração etc. (EF09CI13): Propor iniciativas individuais e coletivas para a solução de problemas ambientais da cidade ou da comunidade, com base na análise de ações de consumo consciente e de sustentabilidade bem-sucedidas.(EM13CNT301): Construir questões, elaborar hipóteses, previsões e estimativas, empregar instrumentos de medição e representar e interpretar modelos explicativos, dados e/ou resultados experimentais para construir, avaliar e justificar conclusões no enfrentamento de situações-problema sob uma perspectiva científica. (EF05GE10) Reconhecer e comparar atributos da qualidade ambiental e algumas formas de poluição dos cursos de água e dos oceanos (esgotos, efluentes industriais, marés negras etc.).
A educação ambiental está prevista em competência da BNCC, aparece entre as Competências Gerais: Agir pessoal e coletivamente com autonomia, responsabilidade, flexibilidade, resiliência e determinação, tomando decisões com base em princípios éticos, democráticos, inclusivos, sustentáveis e solidários.
Enumeramos alguns tópicos que podem auxiliar os professores e professoras na organização de intervenções didáticas e pedagógicas.
1. Sensibilidade social do problema.
Percebemos que um grupo expressivo de estudantes ainda não está/ nem estão envolvidos e sensibilizados para a leitura, interpretação e intervenção do problema vivenciado no RS.
Os estudantes possuem, modo geral, informações muito superficiais, pouco refletidas e, muitas vezes, resultado de disseminação de Fake News, reproduzidas em diferentes redes sociais. Para tanto, necessitam de uma provocação para a leitura e estudo de matérias científicas e jornalísticas sobre o tema, para a socialização de informações e para o debate das questões que envolvem a maior tragédia ambiental já vivida no RS.
Sugestões de atividades:
Uma das maneiras de fazer esta sensibilização e aproximação com a realidade concreta das milhares de pessoas afetadas pela tragédia pode ser através da representação de imagens/desenhos/interpretação através da arte. Esta atividade rende muito para a formação da sensibilidade social do problema. Força os estudantes a buscarem imagens impactantes reveladas através da mídia e das redes sociais. Leva-os também a pesquisar pequenos textos ou imagens na internet, a fim de superarem a interpretação rasa dos fatos.
Estes trabalhos confeccionados pelos estudantes podem ser expostos em painéis no interior das escolas, bem como podem ser postadas em redes sociais utilizadas pelas comunidades escolares.
Outra estratégia é contar histórias ou convidar pessoas que já vivenciaram o drama de abandonar as casas, voltar para as casas para habitá-las novamente e recomeçar tudo de novo. Pode-se também assistir com estudantes pequenas reportagens que contenham relatos de pessoas/famílias que já passaram por esta realidade.
2.Problematização e aprofundamento de conhecimentos
Este tópico compreende a necessidade de eleger e elencar aspectos mais específicos para aprofundar e compreender a tragédia ambiental que ocorreu em nosso estado.
Sugestões de atividades:
No caso específico, estudar a geografia do nosso estado, as bacias hidrográficas, as estatísticas sobre o volume de chuvas, as cidades mais afetadas, os problemas e soluções já experimentados para sanar ou mitigar o problemas das enchentes. Envolve saber também qual é a dimensão do problema: número de mortos, quais são as populações mais atingidas, número de famílias desalojadas e fora de suas casas; número de pessoas diretamente afetadas, cifras e números sobre os custos da recuperação das áreas e dos estragados causados pela tragédia ambiental.
Pesquisar e problematizar sobre quais foram os eventos semelhantes que ocorreram no passado, que ações foram tomadas pelos governantes e como a população reagiu ao que aconteceu.
3.Intervenção e engajamento social
Este tópico representa o desafio do engajamento social, a partir do conhecimento adquirido e construído junto e com os estudantes. Pode prever ações concretas que envolvam atividades voluntárias, arrecadação de mantimentos ou comidas.
A depender da situação e do lugar onde moram os estudantes, pode resultar em visitas de conhecimentos a comunidades afetadas diretamente pela tragédia ambiental.
Pode suscitar também o estudo sobre alternativas para a mitigação de consequências de uma tragédia ambiental deste porte como tratamentos para obter água potável, retirada de populações e cidades inteiras de áreas de risco, ocupação do solo urbano e riscos iminentes por ocuparmos áreas de preservação ambiental ou muito próxima de mananciais, rios ou lagos.
Entendemos, por fim, que uma tragédia ambiental como esta vivida por significativa parte da população gaúcha tem muito a ensinar a todos, sejam professores e professoras, como também aos estudantes. Entendemos, também, que a tragédia representa uma oportunidade única de construirmos sentido e relevância destes conteúdos nas salas de aula, trazendo elementos reflexivos que apontem possíveis soluções e ampliem a capacidade crítica e criativa dos nossos estudantes.
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Atividade para Educação Infantil (sugestão do professor Marciano Pereira)
Habilidade EI03EO01 (Demonstrar empatia pelos outros, percebendo que as pessoas têm diferentes sentimentos, necessidades e maneiras de pensar e agir)
Utilizar a história “E a Chuva” da autora Sabrina Fuhr ou “Céu, Sol, Sul de ”Cristina Saling Kruel.
Passo: explorar as ilustrações da história (pode- se mostrar as ilustrações enquanto se lê/ conta a história).
Passo: pedir para as crianças falarem sobre o que sentem quando chove? O que fazem em dias de chuva?
Perguntar para as crianças sobre o que já sabem a respeito de enchentes, o que ouviram e ou viram.
Solicitar que elaborem desenho sobre a conversa feita. Aínda podem utilizar massinha de modelar para expressar sentimentos despertados pela história.
É importante que as crianças expressem sentimentos vivenciados com a história e o contexto. Pode ser que algumas delas já tenham tido experiências relevantes em dias de muita chuva, e até mesmo enchentes.
Onde for viável a Escola pode motivar campanha de doações junto a famílias e a comunidade do entorno da Instituição. Se cada criança fizer uma contribuição, ela mesma fazer a entrega vai estar aprendendo de forma prática a empatia.
Para valorizar a atividade didática feita com as crianças, é possível utilizar os desenhos delas como peça para campanha de doação, publicar nas redes sociais da escola também é uma maneira de motivar o estudo do contexto e possibilitar a ressignificação das realidades.
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Outros subsídios para a leitura dos professores e professoras.
Gabriel Grabowski, professor e colaborador convidado do site já escreveu, nos alertando sobre o papel das escolas para a educação ambiental: “…todas as instituição de ensino, da educação infantil à pós-graduação, precisam, emergencialmente, se transformarem em espaços integrais de educação ambiental sustentáveis. Uma educação ambiental permanente, não neutra, crítica, integradora, prática, transversal, inter e multidisciplinar, vivencial e com participação da sociedade e da comunidade”. Leia mais:https://www.neipies.com/crises-climaticas-e-educacao-ambiental/
Professora Ana Lúcia Vieira, em ensaio publicado no site, afirma que “precisamos pensar estratégias harmoniosas entre teoria e prática, entre o que se diz e o que se faz, caso contrário, nossos estudantes não entenderão o propósito e a importância de tratar das causas ambientais, e a forma de agir deles permanecerá inalterada”. Leia mais:https://www.neipies.com/educacao-ambiental-por-etica-ou-por-etiqueta/
Gládis Pedersen, pedagoga, tratando sobre a importância do cuidado com o Planeta Terra aponta que “atividades planejadas adequadamente, de forma multidisciplinar e interdisciplinar, enriquecem o processo ensino aprendizagem na escola. Encontramos, na Base Nacional Curricular Comum, entre as competências do Ensino Religioso que o aluno deve: “Reconhecer e cuidar de si, do outro, da coletividade e da natureza enquanto expressão de valor da vida”. Leia mais: https://www.neipies.com/a-terra-nossa-mae-comum/
Rosângela Trajano, a partir de preocupação de como falar com as crianças sobre o clima, escreve: “faça com que as crianças reflitam sobre clima e natureza e levantem questões críticas, de posicionamento favorável a proteção do meio ambiente e com mais rigor a quem prejudica a natureza. Crie uma cartilha de boas práticas junto a natureza”. Leia mais:https://www.neipies.com/como-falar-sobre-o-problema-do-clima-com-as-criancas/
Imagens: desenhos/gravuras feitos por estudantes da EMEF Zeferino Demétrio Costi e Instituto Estadual Cecy Leite Costa durante aulas da semana (06 a 10/05/2024)
Autor: Nei Alberto Pies, professor, escritor e editor do site.
Entre outras medidas, é importante desenvolver uma educação socioambiental crítica e transversal, em todos os níveis e instituições. Repensar o modelo de desenvolvimento em curso, baseando-o na sustentabilidade dos ecossistemas e da biodiversidade, no emprego da ciência e da tecnologia em vista da justiça social, econômica e ambiental.
No contexto das inundações reincidentes no Rio Grande do Sul, do caos generalizado e das mobilizações locais, nacionais e internacionais para prestar socorro e solidariedade, advém uma série de reflexões e questionamentos. Por que as águas caem de forma intempestiva e sobem tão depressa como em um novo dilúvio? E por que são tão devastadoras quando caem e sobem assim de repente? Quando as águas baixarem e mesmo enquanto elas permanecem caindo e subindo, é tempo (ainda) de pensarmos e agirmos em várias direções.
A meu ver, nossas ações devem ser, fundamentalmente, em três níveis.
1) Nível imediato: Em forma de resgate de pessoas e animais; oferecendo abrigo e doando gêneros de primeira necessidade; com serviços de apoio psicológico, médico, fraterno, espiritual, etc. Trata-se daquilo sem o qual a tragédia se ampliaria e agravaria. De um modo ou de outro, medidas dessa natureza podem ser e estão sendo tomadas por instituições, grupos, organizações e população em geral. Nesse sentido, a solidariedade está bem aflorada, o que é altamente louvável e humano e faz toda a diferença. Será que desta vez conseguiremos fixar a solidariedade como uma verdadeira cultura, um modo de ser ampliado e duradouro?
2) Nível conjuntural: Ser solidário na hora da tragédia é vital, mas não basta. É preciso (re)planejamento urbano sob vários aspectos, incluindo a previsão de desastres, com os devidos sistemas de alerta e orientações de prevenção. Repensar a infraestrutura urbana é prioridade número zero, a considerar que, segundo o IBGE/2022, dos mais de 203 milhões de habitantes no Brasil, 84,72% da população já vive em zonas urbanas, o que ainda poderá aumentar.
Neste nível conjuntural emergem desafios como a criação de mecanismos eficientes de segurança; garantia de recursos para emergências; realocação de residências, de bairros ou até de cidades inteiras, etc. Isso implica um grande dilema, pois ao mesmo tempo em que é algo urgente e envolve muitos recursos, não pode ser feito sem o devido planejamento. Reconstruir no mesmo local, além de oneroso é temerário, pois ocorrências semelhantes poderão se repetir. Então, onde, como e com que recursos reerguer o que foi destruído?
3) Nível estrutural e global:As mudanças climáticas e suas consequências diretas e intensas sobre os ecossistemas, a vida humana e as edificações materiais são um fato. Agora estamos numa crucial encruzilhada. Se seguirmos pela via neoliberal, consumista, individualista, predatória e negacionista, as tragédias inaturais, ou seja, produzidas pelo próprio ser humano tendem a ser sempre mais graves e dramáticas. Ainda em 2018, Raymond Pierrehumbert, professor de física da Universidade de Oxford, um dos autores do Painel Intergovernamental para Mudanças Climáticas (IPCC) escreveu: “No que diz respeito à crise climática, sim, chegou a hora de entrarmos em pânico”.
Sem deixar de lado as ações no nível imediato e conjuntural, é essencial alargar ainda mais o horizonte.
Entre outras medidas, é importante desenvolver uma educação socioambiental crítica e transversal, em todos os níveis e instituições. Repensar o modelo de desenvolvimento em curso, baseando-o na sustentabilidade dos ecossistemas e da biodiversidade, no emprego da ciência e da tecnologia em vista da justiça social, econômica e ambiental. Adequar a legislação e as políticas públicas de proteção do meio ambiente, considerando a realidade do aquecimento global e suas consequências tais como essa que se abate sobre o Rio Grande do Sul
Enquanto as águas caem, sobem e baixam; seja no rigor do frio ou do calor, é imperativo refletir e construir meios para evitar que outras tragédias inaturais e de tamanha gravidade sigam acontecendo. Faz tempo que estudiosos do clima avisaram que estamos num ponto já sem retorno. Talvez ainda tenhamos um pouco de tempo para mudanças radicais no nosso modo humano de viver em sociedade e na relação de cuidado com a natureza. Mas, isso é mais um desejo do que uma certeza!
Unamo-nos, pois, em um só propósito: trazer alívio, conforto e esperança àqueles que enfrentam as tempestades da vida e das chuvas. O Rio Grande do Sul precisa do nosso apoio, da nossa compaixão, da nossa solidariedade. Que a nossa resposta seja um eco de amor que ressoe através das montanhas e vales, mostrando que, juntos, somos mais fortes do que qualquer tormenta.
Em um jardim de solidariedade, no qual as raras rosas pretas desabrocham como segredos guardados na noite, ecoa um chamado silencioso, uma sinfonia de compaixão que ressoa. Como as pétalas singulares que se tingem de um “carmesim” profundo, estas rosas são mais que simples flores; são testemunhas vivas da resiliência e da generosidade dos corações sulistas.
Imagine-se no jardim da solidariedade, onde as rosas noturnas dançam ao ritmo das sombras, cada pétala é um fragmento de compaixão. Enfrentando as tempestades da vida, como os bravos corações que chamamos de vizinhos, essas flores desafiam a seleção natural, buscando a profundidade do amor e da bondade.
O “carmesim” nelas é como um chamado silencioso, uma promessa de renovação mesmo nas noites mais escuras. E assim, nas entranhas do Sul do Brasil, onde o céu derrama suas lágrimas incessantes, essas rosas noturnas florescem como faróis de esperança, lembrando-nos de que a solidariedade é nossa maior força.
Que nossas mãos se estendam como compassos de música, guiando aqueles perdidos na escuridão da tempestade. Unidos, como notas numa sinfonia da compaixão, possamos oferecer abrigo e conforto. Que o amor seja nossa canção mais bela, mesmo quando as nuvens encobrem o céu. E que, como as rosas noturnas, possamos florescer mesmo nas condições mais desafiadoras, lembrando-nos de que a solidariedade é nossa maior força.
Nas terras do Sul do Brasil, onde a esperança se entrelaça e a bravura nunca passa, a solidariedade é a rosa preta, rara, que nos guia pelo caminho da compaixão. Unidos, como as pétalas de uma rosa, podemos enfrentar qualquer tempestade e florescer juntos, iluminando a escuridão com a luz da nossa generosidade. Que o chamado das Rosas Noturnas seja o nosso guia, e que a solidariedade seja a nossa mais bela melodia.
As pontes que nos ligam estão abaladas, mas não destruídas. Façamos delas laços de solidariedade, de apoio mútuo na medida em que é na união dos nossos esforços que encontraremos forças para reconstruir o que as águas furiosas levaram consigo.
Unamo-nos, pois, em um só propósito: trazer alívio, conforto e esperança àqueles que enfrentam as tempestades da vida. O Rio Grande do Sul precisa do nosso apoio, da nossa compaixão, da nossa solidariedade. Que a nossa resposta seja um eco de amor que ressoe através das montanhas e vales, mostrando que, juntos, somos mais fortes do que qualquer tormenta.
Repercutimos, nesta coluna, matéria feita por Marcos Antonio Corbari do jornal Brasil de Fato RS sobre uma experiência que realizei junto com professores e professoras de uma escola de Assentamento em Pontão, RS, utilizando a metodologia das cartas pedagógicas.
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É um pequeno livro. Pouco mais de 50 páginas. De leitura rápida. Mas é ao mesmo tempo grande. Um grande livro pelo tanto que representa. Mostra como uma educadora pode provocar seus educandos e educandas a florescer para o mundo, efetivando a educação impregnada pelo esperançar, bem do jeitinho que ensinou Paulo Freire. Dá para dizer mais, a educação impregnada pelo afeto, semente das verdadeiras revoluções.
Com certeza a educadora Elaine Busch – do 4º ano na Escola 29 de Outubro, no assentamento 16 de Março, território da antiga Fazenda Annoni, transformado pela Reforma Agrária, no município de Pontão (RS) – não imaginaria que ao instigar o grupo de crianças a escrever cartas para a educadora e escritora Isabela Camini, veria a experiência tornar-se objeto de um livro. Esses educadores e educadoras do Movimento dos Trabalhadores e das Trabalhadoras Rurais Sem Terra (MST) têm essa mania de olhar para seus Sem Terrinhas e esticar-lhes as asas.
Como educadora e mediadora da atividade, descrevo como um momento mágico. Em meio a tantas opções tecnológicas, não pensei que um meio já tido como ultrapassado por muitas pessoas, a carta, fosse despertar tanta emoção. É inexplicável o brilho nos olhos das crianças ao lerem a primeira resposta. Fala dos estudantes: “nossa, ela realmente respondeu. Ela gostou da nossa letra. Ela tirou um tempo para nos responder, sinto a emoção nas palavras! Ela disse que conheceu nossos pais. Ela conheceu o acampamento”. Nas entrelinhas, percebi que estavam contentes, porque se sentiram valorizados, importantes, porque alguém as ouviu e, acima de tudo, os respondeu.(professora Elaine Jovita Busch)
O trabalho com Cartas Pedagógicas não é novidade dentro da pedagogia dos e das Sem Terra. Nem para qualquer alguém que tenha Freire como guia. A novidade que o livro “Cartas de afeto e aprendizagens: uma relação entre educandos e educadora”, publicado pela editora Saluz, traz, é justamente o protagonismo das crianças. Suas palavras, suas histórias, suas raízes, seus sonhos são a pauta da conversa postal e provocam em Camini reflexões que vão além das respostas enviadas neste diálogo que se desenrolou via serviço postal entre maio e dezembro de 2023.
Não espere o leitor que este livro seja um tratado de ciência da educação. Não vem com um mosaico de recortes teóricos, nem com as costumeiras palavras difíceis ou citações de sobrenomes repletos de consoantes. O referencial teórico está na relação, o método é o afeto, a práxis é a história que antes de ser contada precisa ser escrita com o cotidiano daqueles e daquelas que são legítimos frutos de uma luta.
O instrumento de construção – a correspondência trocada entre Camini e o grupo do 4º ano – são cartas pedagógicas como devem ser de fato: repletas de verdades subjetivas, interpretações de mundo, leituras sobre um cotidiano que é transformador por natureza, tanto para quem aprende quanto para quem ensina (e é preciso citar, neste processo todas e todos deixam claro que muitas vezes quem tem o título de “educador/a” é que acaba aprendendo com quem está na condição de “educando”).
Este é um livro urgente, escrito com a pressa de quem vive o cotidiano de tempos que devoram as subjetividades das pessoas. Precisava chegar logo às mãos destes educandos e educandas, enquanto ainda encontram-se em meio ao processo de formação, tendo ciência de que seus escritos mesmo que singelos são extraordinários e por isso transformadores da realidade.
Para avalizar essa resenha, busco alguns recortes dos intertextos que vem em anexo ao livro:
“Escrever cartas é manter vivo em nós o aspecto mais necessário na atualidade: sermos humanos”, aponta Munir Lauer.
“O testemunho das trocas cultivadas nesta obra se insere no conjunto maior de esperanças na humanidade, de luta pela refundação da sociedade em bases sociais e ecológicas mais harmônicas”, afirma Roger Elias.
“Esse processo de troca é, em sua essência, a literatura na prática, como ferramenta de transformação de consciência do ser humano”, alinha Clarisse Teles.
“Nesse mundo de hoje, em que as relações são líquidas e superficiais, a carta é um acalanto, pelo fato de realmente trazer consigo a necessidade de pensar”, explica Elaine Busch.
“A cultura do saber ler e escrever o mundo, como já ensinou Paulo Freire, se concretiza nesse fazer pedagógico”, contextualiza Márcia Ramos.
“Essas crianças vivem suas infâncias com alegria, espontaneidade e plena liberdade. São crianças que podem viver suas infâncias com plena certeza de que sua palavra é ouvida, com respeito e dignidade”, conclui Isabela Camini.
E na resenha não será citado nenhum texto de algum dos alunos?
Enquanto redigia este texto debati com a pedagoga e dirigente do Setor de Educação do MST, Clarisse Teles, a respeito de uma delas, quiçá a mais singela, porém a que mais me instigou. O aluno Nicolas, inserido dentro do espectro autista, em sua carta afirmou: “Gosto da escola, dos colegas. De andar de bicicleta” e questionou: “E você?” Essa, entre todas, foi minha carta preferida. Lindamente simples e direta. Sem muita explicação nem justificativa. Bem como deve ser o “gostar”. A gente gosta e ponto. E você gosta do quê? Temos nos preocupado tanto com tantos “porquês” que acabamos deixando de lado o que realmente importa, que são os “oquês”.
O que eu achei do livro? Não fico cômodo na tarefa de “avaliador”. Convido a que o leiam, assim como fiz, com pensamento livre e coração aberto. Porque não devemos avaliar afetos. Leiam o novo livro de Isabela Camini. De Elaine Bush. De Clarisse Teles. De Munir Lauer, Roger Elias e Márcia Ramos. Mas sobretudo, leiam o primeiro livro de Nicolly, Bernardo, Valentina, Graziela, Luiza, Eduardo, Rafaela, Willian, Valentina e Nicolas.
O lançamento será realizado no próximo dia 14 de maio de 2024, na escola, com a presença dos pequenos autores e autoras, da organizadora, da educadora que provocou a escrita e demais que contribuíram com entrelinhas e intertextos. O Brasil de Fato RS também vai! Nos vemos em Pontão”!
Trate seus filhos por igual como eles lhe tratam. Mesmo que você admire um mais do que o outro pelas suas habilidades e facilidades de compreenderem as coisas, pelo seu jeito físico de se parecer mais com você ou pelo seu jeito de agir ser exatamente igual ao seu.
Começo este pequeno ensaio literário com uma frase do meu amado poeta português Fernando Pessoa que nos diz “Mais vale ser criança que querer compreender o mundo.” A criança não compreende o mundo, mas compreende a forma como é tratada no ontem, no hoje e no futuro.
A infância é a fase da vida mais incompreendida pelos adultos. As crianças nascem vazias de conhecimentos e aos poucos vão recebendo conceitos diferentes e absorvendo os movimentos dos objetos e pessoas ao seu redor sem se dar conta do turbilhão de coisas que ainda têm para aprender.
Ser criança não é coisa fácil. Antes a gente só brincava e estudava. Hoje, temos que fazer um monte de coisas para deixarmos os nossos pais descansarem porque parece que eles se cansam da gente vez ou outra, não é mesmo? Os pais nunca deveriam se cansar das suas crianças, pois elas são o que de mais belo existe dentro de uma casa e sem elas nada teria mais importância no lar.
Se você é uma pessoa de muitos amigos deve tratá-los de diferentes formas quando os encontra ou numa roda de samba. Você sempre tem aquele preferido que quer sentar-se ao seu lado, o que gosta de falar de jogos e você o escuta com atenção ou o que fica calado o tempo inteiro e você o respeita. Cada amigo você trata de um jeito, certo?
No entanto, os amigos são pessoas adultas que já estão preparadas para isso e muitas vezes tem amigo que não gosta de receber um tratamento diferente, se zanga e vai embora. Todos gostam de ser tratados por igual. Ninguém quer ser tratado com diferenças numa festa ou reunião. As pessoas amam umas as outras e sentem ciúmes quando são tratadas de formas diferentes, ficam tristes e chegam até a chorar escondidas pela falta de empatia de alguns amigos.
Eu venho hoje pedir para você papai ou mamãe que tem mais de uma criança em casa tratá-las por igual, sim. Não dá mais atenção a uma do que a outra, não trazer um presente para uma e esquecer a outra porque já está maiorzinha e vai entender. Ninguém entende a falta de atenção, desleixo, a falta de amor.
Trate seus filhos por igual como eles lhe tratam. Mesmo que você admire um mais do que o outro pelas suas habilidades e facilidades de compreenderem as coisas, pelo seu jeito físico de se parecer mais com você ou pelo seu jeito de agir ser exatamente igual ao seu. Elas são crianças e entendem quando são tratadas de formas diferentes.
Por mais que você seja um pai ou mãe atencioso não esqueça de que a criança quer amor e atenção, ela quer saber que é amada incondicionalmente por você, logo imagine como se sente a criança que é esquecida no canto da casa enquanto o seu irmãozinho menor recebe todo o seu carinho. Claro que ela vai ficar triste e certamente até adoecer. Ela vai querer ir embora. Fugir de casa. Eu sempre pensava em fugir de casa quando meus pais brigavam comigo.
A vida de uma criança precisa ser tratada com respeito e cuidados. Alguns pais de primeira viagem esquecem de que seus filhos os amam e veem neles os seus heróis. Se os pais os tratam com indiferença, nas suas cabecinhas vão pensar que fizeram algo extremamente errado ou feio e vão ficar tristes. Muitos pais nem percebem essa tristeza porque estão ocupados demais com os seus problemas ou dando atenção para o irmãozinho que tirou notas boas na escola enquanto o outro está lá no quarto esquecido.
A criança que fica a mercê da própria sorte para sentir-se amada e tratada com cuidados e amor pode se deixar levar pelo carinho e palavras de qualquer estranho, principalmente aquelas que ficam horas no smartphone sem a vigilância dos pais. Elas contam tudo para a pessoa estranha do outro lado da linha como se fossem os seus salvadores e acabam fazendo coisas para essas pessoas que são prejudiciais aos seus crescimentos físicos e emocionais.
Tratar todas as crianças por igual é o certo e ponto final.
Mesmo que uma seja mais peralta do que a outra, mesmo que uma seja birrenta e a outra não, mesmo que uma tire notas boas na escola e a outra só faça bagunças. Pense naquele amigo que você esquece de dar atenção enquanto passa horas conversando com outro ao telefone. Como você se sentiria se fizessem isso com você?
Todas as crianças da casa devem receber o mesmo tratamento. Não que precisem se vestir com roupas iguais, não me refiro a isso. Mas, que sejam amadas e respeitadas nas suas individualidades e subjetividades recebendo a mesma atenção e cuidados dos seus pais para que se sintam amadas o tempo todo vivendo a segurança de um amor incondicional que nenhuma bruxa ou coisa parecida vai roubar delas.
A correria da vida, as exigências que o mundo faz dos adultos para cumprirem metas e objetivos, sempre nos deixam preocupados e cheios de temores. Esquecemos que as crianças têm medo de serem abandonadas nas portas das escolas ou em um parquinho qualquer.
Dessa mesma forma acontece quando as tratamos de um jeito diferente, elas pensam que estamos as deixando de lado porque já não gostamos mais delas, já não nos interessam mais. Estamos as descartando como se fosse uma coisa ou objeto e começam a chorar por qualquer coisa e até mesmo voltam a fazer xixi na cama.
Os traumas das crianças são causados na sua maioria por uma educação descuidada dos próprios pais ou responsáveis. Quando tratamos as nossas crianças de forma diferente elas ficam desconfiadas das nossas ações e começam a temer que façamos algo pior com elas ou que as abandonemos por não atenderem as nossas expectativas de serem boazinhas em tudo o que desejamos.
Não pense que você engana uma criança. As crianças são inteligentes e sabem quem as ama verdadeiramente. Elas também percebem quando são tratadas de forma diferente. Seja o tamanho do presente do irmãozinho que foi maior do que o dela, seja a atenção que você dá quando o irmãozinho fala do seu dia e você fica todo empolgado e quando ela fala você faz de conta que nem percebeu. São coisas pequeninas do cotidiano que fazemos com as nossas crianças que vão sendo acumuladas nas suas cabecinhas e começam a criar fantasias assustadoras com bichos e monstros.
Escuto quase todos os dias os meus amigos falarem que os consultórios de psicologia estão cheios de crianças assustadas e pais desesperados. Se o amor é possível curar tudo o que está acontecendo com as nossas crianças? Não conseguem perceber mais que as amamos? Ou estamos amando-as de um jeito errado?
Se pudéssemos entrar no pensamento de uma criança veríamos que lá dentro tem muitos questionamentos e coisas desarrumadas que foram causadas por nós. Sim, nós, pais e responsáveis que estamos mais preocupados em ficar milionários e irmos passar o resto das nossas vidas morando numa ilha paradisíaca.
O filósofo Sócrates não tratava os seus alunos de forma diferente, mas Platão vez ou outra tinha inveja deles. Achava que seu mestre dava mais atenção para os moços bonitos e o deixava de lado. Platão já era um jovem dotado de vários conhecimentos quando foi ter aulas com Sócrates e mesmo assim sentia que era tratado de forma diferente vez ou outra pelo seu mestre.
Deste jeito são as crianças na sala de aula com os seus professores. Elas conseguem perceber as que são verdadeiramente amadas e recebem cuidados. Desconfiam de que não recebem os mesmos cuidados porque não tiram notas boas ou porque são bagunceiras na sala de aula e que bagunçar parece não ser uma boa ideia, mas insistem na bagunça para chamar a atenção do professor somente para si nem que seja pelo erro e sabendo que está fazendo uma coisa feia e não boa para si própria a criança quer receber atenção também.
No meu mundo de criança fui tratada sempre com indiferença pelos meus professores e acho que devido a cor da minha pele ou quem sabe das minhas altas habilidades que eles não sabiam como lidar. Eu sempre terminava as minhas atividades primeiro do que os outros alunos e quando o professor passava uma tarefa eu logo resolvia antes mesmo da explicação.
Fui uma criança tratada de forma desrespeitosa pelos meus professores. Eles me colocavam num canto da parede, isolada de todas as outras e ali eu ficava até a aula terminar para não atrapalhar os demais alunos que ainda estavam aprendendo a fazer as tarefas enquanto eu já tinha terminado fazia tempo.
Meus pais nunca me trataram diferente e isso foi bom para mim. A minha mãe sempre cuidou bem de mim e mesmo eu sendo filha única numa família de três homens e uma mulher, mamãe nos beijava e abraçava com o mesmo cuidado que dava a cada um de nós. Eu via nos seus olhos cansados que se preocupava com o nosso bem-estar por igual e que quando perguntava como fomos na escola queria saber de nós quatro e não somente apenas de um ou dois.
Estou trazendo este assunto para você antes que seja necessário levar a sua criança ao consultório de um psicólogo ou a um terapeuta qualquer para saber o motivo dela estar triste por demais ou chorar o tempo todo quando você chega em casa ao invés de ficar alegre, talvez ela saiba que era para nesta hora você abraçá-la e dizer-lhe coisas lindas, mas você simplesmente se volta para o irmão mais velho ou mais novo e pergunta o que eles fizeram o dia todo esquecendo daquela que está ali quieta e tristonha à espera da sua atenção.
Ser bem tratado nos dias de hoje está bem difícil eu sei. No entanto, a criança não é culpada do seu comportamento malcriado, da sua birra ou da sua bagunça emocional na frente de estranhos, tudo o que ela quer é a sua atenção por pelo menos um instante. Ela quer que você chegue em casa e a abrace como faz com o bebê recém-nascido. Afinal, ela também é uma criança só mais crescidinha.
Cuidado com a forma com você trata a sua criança. Trate a todos por igual e experimente a dose dupla de amor que vem de Deus e dos seus amigos e crianças.
Para terminar este pequeno ensaio literário gostaria de citar um trecho do poema do nosso querido poeta português Fernando Pessoa que nos diz:
“A criança que fui chora na estrada. / Deixei-a ali quando vim ser quem sou. / Mas hoje, vendo que o que sou é nada, / Quero ir buscar quem fui onde ficou.”
E que toda criança possa ir buscar quem foi ontem num cuidado atencioso por parte dos seus pais e responsáveis, afinal devemos ser tratados por igual sendo criança ou gente grande. Vá buscar você onde se deixou ficar.
Querendo ou não, há algo novo em nossas vidas. A população gaúcha está passando por um desafio – conviver com alagamentos urbanos. Mas será que a culpa é da chuva?
Parece ser mais simples culpar o visível, ou seja, a chuva, mas é preciso olhar com atenção o que isso revela. Chuvas sempre ocorreram, mas uma das principais razões para a cidade não dar conta da água da chuva é o excesso de impermeabilização do solo, que pode ser exemplificado pelos asfaltos. Em uma equação em que temos cada vez mais asfalto e cada vez menos solo disponível para absorver a água da chuva, a conta da absorção da água está cada dia mais deficitária. O reflexo direto disso corresponde a bocas de lobo sobrecarregadas, ruas e calçadas alagadas, resultando em famílias surpreendidas com água dentro de suas casas.
Experimentamos, na prática, o resultado do direcionamento dos investimentos públicos a iniciativas que reproduzem um modelo de cidade que não funciona mais, já que diminuem o verde e aumentam o cinza.
Mas é possível, a partir de ferramentas de planejamento urbano, contribuir para a redução dos efeitos dos dias chuvosos, entre as quais está a necessidade de os munícipios construírem planos de contingência que irão garantir um alerta mais qualificado, bem como o atendimento de famílias moradoras em áreas de risco.
E não só. Também é possível mitigar os dias quentes. Uma das formas é ampliar áreas verdes, e isso pode ser garantido a partir de inúmeras iniciativas apoiadas nas soluções baseadas na natureza (SBN).
As emergências climáticas devem ser entendidas como um fenômeno que se manterá constante. Esse problema requer uma solução coletiva, que se inicia com uma ação individual: o voto. Em um ano de eleições municipais, é importante perguntar: qual atenção será dada pelos candidatos e candidatas ao enfrentamento da maior emergência da humanidade?