O autor João A Sartori fez seu primeiro lançamento de livro. A obra nasce no contexto missioneiro, tem 300 páginas e possui vários blocos diferenciados e que se interligam naturalmente.
O conteúdo reporta à história jesuítica-guarani. Retrata, em suas páginas, também a inclusão do trabalho do escravo negro na construção dos sítios dito jesuíticos-missioneiros.
Excelente leitura, apaixonante, vai te levar da vida na aldeia à luta da mulher nos períodos de crises para o sustento do lar, à influência das forças da natureza, à caça, ao enfrentamento rude entre o homem e as feras, à guerra, ao misticismo, à racionalidade, à humanidade posta à prova, ao peso do alimento nas sociedades não acumuladoras, às pajelanças e à chegada do homem pálido e de diversas nacionalidades.
As perplexidades, a interação entre culturas diferentes, as culturas do homem tecnicista e do homem natural nos sertões da colônia Brasil; a visão do homem de pele com pigmentação negra e destes de seus destinos e sua nova condição social nas fazendas e em engenharia de seus senhores.
Depois, vai para o Jesuíta, seus projetos, suas análises, considerações e seu domínio. Mais adiante, como o escravo negro se inseriu no processo de fracionar e levantar as pedras (as mais pesadas e não ditas pelo autor) para levantar paredes ao Sul do Brasil.
Reserve o seu e tenha acesso a este inédito material.
Por muitas vezes desejei que a vida tivesse gosto de mistério; que minhas certezas, tão pouco prováveis, soçobrassem aos caprichosos devaneios que nos entregam devedores de respostas.
Acredito que algumas pessoas compõem com o mundo, se colocam de tal modo que parecem atender a uma espécie de destinação. É como se ouvissem um clamor próprio e habitassem o mundo em uma proximidade poética. Criam um modo de vida incapaz de provocar o que existe, encantando o tempo para que a crueza dos dias seja menos estúpida.
O poeta é um encantador do tempo, sabe acolher o passado, o presente o futuro, abertos em suas inteirezas, dispondo-se ouvindo a voz da sua própria condição. “Encantar o tempo, é isso que devemos fazer a todo instante, laçar a vida e ir segurando no exato limite que ela, ao ir se soltando, não nos deixe com a sensação de que não somos nada”.
Quanto mais encantamos o tempo, mais contamos histórias, pois somente as contamos porque, de alguma forma, nos sobramos no tempo. É como se permanecêssemos nas pequenas coisas, por alguns instantes, e pudéssemos narrar uma história sobre nós mesmos.
Saber ler sem a pressa dos “alfabetizados” que devoram informações; ler como quem compreende menos a palavra e mais o dizer; demorar-se e ao esticar-se no espaço-tempo, experimentar a completude de uma vida singular. Da altura da minha percepção enviesada, desejo encantar o tempo para entregar a cada um dos outros uma história menos difícil de ser vivida.
“Meus sonhos estão cá fora do mundo, lugar devido das paradas reais, os outros, heróis de carne, homens simples, príncipes eventuais…”
Por muitas vezes desejei que a vida tivesse gosto de mistério; que minhas certezas, tão pouco prováveis, soçobrassem aos caprichosos devaneios que nos entregam devedores de respostas. Sei que nada nos impede de sermos açambarcados pelos pasmos dos encontros primeiros, mesmo que cansativamente acontecidos, mas temo que a explicitação absurda das cruezas humanas impossibilite as experiências e nos entregue ainda mais empobrecidos.
No limite, poderíamos compreender nossa própria existência como repetição, pois de alguma maneira antecipamos nosso modo acontecendo, assumindo possibilidades já lançadas. Creio, contudo, que há algo que resvala, que fica ali, a mexer conosco, tentando empurrar espessura para nossa fisionomia existencial. Não sei o tamanho e nem o quanto, mas podemos fazer algo, “tenho por isto a entrega do que me sou”.
Autora: Marli Silveira.Poeta e Escritora. Acadêmica da Academia Rio-grandense de Letras. Também escreveu: “O dizer poético”: https://www.neipies.com/o-dizer-poetico/
O mês de dezembro de todos os anos letivos marca a história de uma Escola de Ensino Fundamental. A chegada dos estudantes ao nono ano do Ensino Fundamental é a maior conquista e o maior troféu que a escola pode exibir. É a demonstração de uma caminhada que se traduz em uma história que envolve superação, dedicação, amor e afetividades, desafios de aprendizagem e muita convivência.
Esta matéria destaca a fala de uma mãe que, no dia 19 de dezembro de 2023, em nome dos pais e mães presentes, manifestou-se de maneira emocionante e contundente, valorizando o empenho dos estudantes, o trabalho dos professores e professoras e a participação ativa dos pais e mães na vida dos estudantes formandos 2023 da Escola de Ensino Fundamental Zeferino Demétrio Costi.
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Prezados formandos, professores, familiares e convidados especiais!
Hoje é um dia de grande alegria e emoção: um dia em que celebramos não apenas a conclusão do ensino fundamental, mas também os laços que foram criados e fortalecidos aos longo desses anos de estudos, vivências e aprendizagens.
Queridos formandos: olhamos para cada um de vocês com corações cheios de orgulho e admiração e também reconhecemos o desenvolvimento de suas habilidades, caráter e personalidades únicas.
Tenho certeza que, para nós pais e mães, lembramos do primeiro dia de aula, quando segurávamos as suas mãozinhas enquanto entravam na escola, ansiosos e cheios de curiosidades.
Desde então, testemunhamos a evolução de cada um, as primeiras palavras escritas, as primeiras palavras lidas, as amizades se fortalecendo, tivemos a pandemia e passamos por ela, foram tantas provas, trabalhos, apresentações, desafios que contribuíram para o crescimento, aprendizado e para construção de uma base sólida para cada um.
Vocês se tornaram não apenas estudantes dedicados, mas jovens adultos prontos para enfrentarem as surpresas e desafios que o Ensino Médio trará.
Nunca esqueçam: o aprendizado vai além dos livros e das salas de aulas, a resiliência, a amizade e a empatia que cultivaram aqui serão fundamentais para o sucesso em todas as jornadas futuras.
Neste momento, queremos incentivar cada formando a abraçar o futuro com dedicação e entusiasmo, pois a cada ciclo que se inicia, surgem oportunidades e descobertas incríveis. Estamos confiantes de que vocês estão preparados para enfrentar qualquer desafio que possa surgir. Sejam compassivos, perseverantes e mantenham viva a chama da curiosidade que os trouxeram até aqui.
Professores, professoras, diretora, coordenadora e demais funcionários: queremos expressar nossa sincera gratidão, seu compromisso incansável. Vocês foram mais do que instrutores, foram mentores, guias e inspirações. O impacto que tiveram nas vidas desses jovens foi imensurável, e estamos agradecidos por seu empenho e amor pela educação.
Filhos e filhas, sempre estaremos aqui para apoiá-los em suas escolhas, continuem a perseguir seus sonhos com paixão e determinação. E não esqueçam: o aprendizado, o conhecimento é contínuo e ninguém no mundo tirará isso de vocês.
Parabéns a todos os formandos e agradecemos a cada um de vocês por encherem nossas vidas com alegria e orgulho e que o futuro reserve muitas realizações e sucesso.
Amamos vocês!!! Obrigada!
Mãe: Rosiane de Quadros
Filhas:Ana Clara de Quadros Colla (formanda ZDC 2021) recebeu medalha de honra ao mérito no Ensino Médio – Colégio Tiradentes. Rafaela de Quadros Colla (formanda 2023) conquistou Bolsa integral Integrado UPF. Estudantes estudaram na Escola EMEF ZDC desde o primeiro ano do Ensino Fundamental.
Defender a democracia como forma de vida e a escola como espaço de experiências democráticas constituidoras de uma sociabilidade solidária e de respeito a singularidade dos sujeitos significa combater a mentalidade tecnicista que aparelha os espaços escolares para formar mentes e corpos subservientes.
Não resta dúvida de que John Dewey (1859-1952) está sendo reconhecido como um dos mais importantes filósofos e educadores do século XX e que sua obra foi responsável por influenciar processos educacionais e filosóficos de diversos países.
Dewey contribuiu imensamente para a metafísica, a epistemologia, a filosofia da mente, a filosofia da ciência, a filosofia da arte, a filosofia da educação e a filosofia social. Ele concebia o aprendizado como um processo continuo que dura a vida inteira e para tanto, a educação tem um papel imprescindível durante toda a vida humana, uma vez que nosso filósofo/educador acreditava que o mais significativo de um aprendizado é a solução habilidosa de problemas.
A educação para Dewey não é um processo que se limita ao âmbito formal da escolarização.
Em Democracia e educação, uma de suas principais obras, ele faz uma distinção entre educação no sentido geral e a educação formal. Esta (educação formal) é um ambiente controlado e simplificado, onde são simuladas situações sociais para que jovens e crianças possam ser estimulados e guiados para a solução de problemas. A educação geral, por sua vez, resulta das interações normais e pessoais de pessoas que convivem em um determinado contexto.
O grande erro, diria Dewey, reside no falso pressuposto concebido por muitos de que a capacidade de aprender tenha atingido um estágio final de maturação e que, portanto, em uma determinada fase, não há mais necessidade de modificação. Para nosso filósofo/educador todos nós precisamos de educação ao longo da vida, porque a necessidade de buscar uma melhor solução de problemas é um desafio que nunca se esgota.
Historicamente, muitas teorias e escolas educacionais tentaram fixar hábitos de controle comportamental, de atenção, de disciplina, de imitação de habilidades. No entendimento de Dewey, tais teorias e escolas não deram conta da complexidade das experiências formativas e acabaram se tornando uma forma medieval e hierárquica de sociedade que necessitam ser superadas.
Uma sociedade democrática requer um sistema educacional que possa ir além de processos mecânicos de memorização ou de aquisição de habilidades previamente estabelecidas. A efetiva participação de uma sociedade democrática pressupõe muito mais do que a aprendizagem de uma forma de vida fixa postulada por fatos, regras e habilidades estipuladas previamente por uma autoridade, pois uma democracia não pode cair na suposição errônea e perigosa de que há uma lista fixa de informações e saberes ou mesmo de habilidades e competências que permite a um adulto ser bem-sucedido durante toda a vida.
Nas análises de Dewey, essa forma errônea de compreender a educação apartada da vida é resultado de um dualismo que provém de um longo processo histórico e que se instaurou na nossa cultura filosófica e educacional. Por isso, podemos dizer que um dos principais objetivos de Dewey é combater e superar as concepções dualistas que estão presentes nas nossas formas de ver o mundo tais como teoria e prática, mente e corpo, interesse e esforço, trabalho e lazer, juízos físicos e juízos de valor, saber científicos e saber moral, pensar e agir, mundo sensível e mundo inteligível.
Num cenário conturbado em que estamos vivendo, fortemente polarizado pela forma como são apresentados os acontecimentos que estão em curso, tempos em que se coloca em questionamento a democracia, as conquistas sociais e os direitos humanos; tempos em que emergem certos posicionamentos reacionários e que ameaçam o estado de direito; tempos de discurso de ódio, de louvação à irracionalidade; tempos de apologia às armas, de violência física e verbal, de proliferação dos mais perversos preconceitos; o pensamento de John Dewey pode se apresentar como luz para combater o obscurantismo e a decadência humanitária que ameaça a convivência plural, a diversidade e a forma de vida democrática.
Defender a democracia como forma de vida e a escola como espaço de experiências democráticas constituidoras de uma sociabilidade solidária e de respeito a singularidade dos sujeitos significa combater a mentalidade tecnicista que aparelha os espaços escolares para formar mentes e corpos subservientes.
Se almejamos uma sociedade justa, promotora de equidade, sensível aos problemas ambientais e ao combate à pobreza, a concentração de renda, à violência e a todas as forma de preconceito, então necessariamente a escola deve ser um tempo e espaço democrático de humanização, socialização e singularização.
Relatório problematiza algumas questões: “Como se produz o ódio atual no Brasil e quem são seus agentes? Quais são as motivações e que estratégias mobilizam e alimentam o ódio? A quem interessa a produção e a manutenção do ódio? Que possibilidades se apresentam e que perspectivas existem para o seu enfrentamento? A educação tem alguma contribuição a oferecer?
O Relatório do Direito Humano à Saúde no Brasil 2022 objetiva refletir a temática do direito humano à saúde a partir do discurso do ódio que abalizou o país naquele ano. Se é amplamente aceito que esse discurso do ódio, anulador da alteridade, é uma das marcas da história brasileira, também é verdade que a partir do governo Bolsonaro ele ressurge e se acentua. Como decorrência direta do bolsonarismo direitos foram violados, as eleições de 2022 se tornaram um campo de Fake News e a democracia brasileira assistiu a uma das suas maiores crises em função de mais um golpe em curso.
Eis uma das grandes tarefas das forças democráticas e dos movimentos e entidades que lutam pelo direito à saúde: manter-se vigilante. Afinal, como nos lembra Bertold Brecht, “a cadela do fascismo está sempre no cio”, e não há saúde sem democracia, assim como não há democracia sem saúde.
Nessa esteira, o Relatório problematizou algumas questões: “Como se produz o ódio atual no Brasil e quem são seus agentes? Quais são as motivações e que estratégias mobilizam e alimentam o ódio? A quem interessa a produção e a manutenção do ódio? Que possibilidades se apresentam e que perspectivas existem para o seu enfrentamento? A educação tem alguma contribuição a oferecer?” Essas questões são postas como centralidade pelo professor Eldon Muhl, ao refletir sobre o tema em A cultura do ódio e o ódio à racionalidade: os desafios das lutas populares no Brasil.
Para a produção do Relatório do Direito Humano à Saúde 2022, adotaram-se metodologia e formato diferentes das edições anteriores, pois compreendeu-se que o momento exigia uma reflexão acerca do tema e busca de estratégias de resistência e enfrentamento; como diz a epígrafe do texto “A exigência que Auschwitz não se repita é a primeira de todas para a educação” (Adorno, 1995, p. 119). E poderíamos acrescentar: para a luta dos direitos humanos e do direito humano à saúde.
Neste sentido, a riqueza do texto está na sua grande capacidade de “radiografar” os tempos atuais a partir das contribuições da Escola de Frankfurt e de ter sido discutido junto aos movimentos e entidades do Fórum DH Saúde.
No entanto, como escreve Eldon, no quarto item do texto, intitulado “Perspectivas e desafios das lutas populares no Brasil”,
“[…] não podemos ser ingênuos sobre o poder destrutivo do ódio, suas práticas ampliadas pela indústria cultural e a economia sustentada na violência. O enfrentamento dos mecanismos de manipulação e das patologias produzidas exige esclarecimentos sobre a produção e a reprodução do ódio e, ao mesmo tempo, a manutenção das condições que tornam possível o seu enfrentamento.”
O Relatório quer se constituir em um recurso, dentre muitos outros, que contribua nesse enfrentamento, pois faz-se necessário desvelar o ocultamento da discussão para construir estratégias de resistência e enfrentamento. Com isso, reafirmamos o objetivo do Relatório: contribuir com afirmação da democracia, do controle social, da organização social popular e da luta pelo direito humano à saúde.
Assim como nas edições anteriores, o Relatório Direito Humano à Saúde no Brasil 2022 é uma iniciativa do Fórum DH à Saúde e conta com o apoio da Misereor. Reiteramos o nosso desejo de que este Relatório, feito a várias mãos, fortaleça e nutra nossa esperança de estarmos sempre em movimento, comprometidos com a luta pelos direitos humanos e por um mundo melhor para todas e todos.
O ódio e o discurso do ódio na sociedade atual
O ódio com um fenômeno social decorre de contextos e de indivíduos que o mantêm. Sem a manutenção individual e grupal, o ódio não se desenvolve e não se reproduz. Ainda que possamos ter desejos destrutivos como indivíduos, eles somente se tornam efetivos quando os compartilhamos em grupos e os desenvolvemos em práticas objetivas. Ou seja, o ódio somente se manifesta de forma efetiva quando surge o discurso do ódio, isto é, o “discurso oral ou escrito que seja abusivo ou ameaçador e expresse preconceito contra um grupo específico, principalmente com relação à raça, religião ou orientação sexual” (Dicionário Oxford, apud Gomes, 2021, p. 474).
O ódio não é uma manifestação instintiva e espontânea, mas um ato que envolve alguma intencionalidade e determinação coletiva. Ele se configura nas interações que o instruem e alimentam, o que significa que ele precisa sempre da agregação entre os indivíduos para se tornar uma força capaz de promover ações de violência e agressão.
Nos termos de Gomes: os ideais que sustentam o discurso de ódio estão engendrados no tecido social, determinando o modo de agir de certos grupos da sociedade, organizados ou não. Assim, o afeto “ódio” se materializa por meio da linguagem, inserindo-se na forma de um conjunto de valores, no registro simbólico que dita tanto as relações entre os sujeitos quanto aquilo que cada um se percebe capaz de tolerar (2021, p. 474).
Discurso de ódio é a comunicação pública que procura degradar simbolicamente grupos e pessoas historicamente oprimidos ou sistematicamente discriminados. Como já dissemos, trata-se de uma forma consciente e intencional de gerar simbolicamente iniquidade entre pessoas por conta de uma categoria coletiva: origem, cor da pele, gênero, religião, orientação sexual, entre outras.
As intenções desses discursos podem variar, expressando sentimentos, xingamentos, defendendo ideologias, justificando desigualdades, relativizando a violência e a discriminação, expressando crenças religiosas, buscando visibilidade, mobilizando seguidores, coordenando atos de violência, sustentando governos retrógrados, além de através de outras expressões.
Assim como no antissemitismo, o ódio hoje existente é o ódio do indivíduo frustrado sobre si mesmo e seus iguais, igualmente fracassados. No entanto, é preciso atentar que o ódio não é essencialmente alimentado pela emoção ou pelo afeto, mas por uma ação afetiva que tem levado ao desenvolvimento de um dos elementos centrais desse conceito: o de que se trata de uma forma de discriminação concreta, objetiva, ou seja, de uma forma de exclusão construída sobre relações de poder baseadas em características coletivas, racionalmente justificado.
O ódio já não mais se apresenta como um sentimento de negação, mas como uma atitude de negação justificado por explicações históricas ou por argumentações consideradas resultantes de uma racionalidade cientificamente desenvolvida.
Os resultados desse processo são o embrutecimento humano e a submissão do indivíduo à condição de sentir-se incapaz de agir e reagir ao processo de dominação existente. Nessa situação, corpo e mente são paralisados pelo medo e ficam enrijecidos como cicatrizes, tal qual esclarecem Adorno e Horkheimer:
[…] no lugar onde o desejo foi atingido, fica uma cicatriz imperceptível, um pequeno enrijecimento, onde a superfície ficou insensível. Essas cicatrizes constituem deformações. Elas podem criar caracteres, duros e capazes, podem tornar as pessoas burras – no sentido de uma manifestação de deficiência, da cegueira e da impotência, quando ficam apenas estagnadas, no sentido da maldade, da teimosia e do fanatismo, quando desenvolvem um câncer em seu interior. A violência sofrida transforma a boa vontade em má. E não apenas a pergunta proibida, mas também a condenação da imitação, do choro, da brincadeira arriscada, pode provocar essas cicatrizes. Como as espécies da série animal, assim também as etapas intelectuais no interior do gênero humano e até mesmo os pontos cegos no interior de um indivíduo designam as etapas em que a esperança se imobilizou e que são o testemunho petrificado do fato de que todo ser vivo se encontra sob uma força que domina (1947-1985, p. 240).
O conteúdo do discurso do ódio se baseia na depreciação de grupos que vivem experiências crônicas de violência, longos processos de subordinação, um histórico de condições de vida precárias e fracassadas.
Além de alimentar mentiras e inverdades sobre grupos e indivíduos, o produtor do discurso do ódio alimenta o sentimento de inferioridade, desqualifica os conhecimentos populares, deprecia a moral e os costumes das populações pobres, ridiculariza a visão de mundo que apresentam. ]
Sua prática de comunicação é de incitação ao ódio, do desprezo pelos diferentes, da discriminação dos não iguais, a negação pública de genocídios e dos crimes contra a humanidade; sua prática é a promoção de xingamento, de escárnios e de insultos contra adversários e opositores. Produzem e sustentam em nome de seus interesses notícias falsas e o negacionismo.
O cancelamento se torna a prática comum quando se sente ameaçado em sua certeza. O discurso do ódio é um grande desafio da atualidade. A própria ONU, em 2019, apresentou um documento intitulado “Estratégia e Plano de Ação sobre o Discurso de Ódio” e estabeleceu, em 2021, por meio de Resolução A/RES/75/309, o dia 18 de junho como o “Dia Internacional de Combate ao Discurso de Ódio”.
Em 2023, o secretário-geral da ONU, António Guterres, por ocasião dessa data, manifestou-se afirmando que
“o discurso de ódio é usado para alimentar o medo e a polarização, frequentemente para ganhos políticos e com um custo imenso para as comunidades e as sociedades. Incita a violência, exacerba as tensões e impede os esforços para promover a mediação e o diálogo. É um dos sinais de alerta de genocídio e de outros crimes atrozes. O discurso de ódio é frequentemente dirigido a grupos vulneráveis, reforçando a discriminação, o estigma e a marginalização. Minorias, mulheres, refugiados, migrantes e pessoas de diversas orientações sexuais e identidades de gênero são alvos frequentes. As plataformas de mídia social podem amplificar e espalhar o discurso de ódio à velocidade da luz. […]. Os nossos escritórios e equipes em todo o mundo enfrentam o discurso de ódio implementando planos de ação locais com base nessa estratégia. Iniciativas de educação, campanhas 23 de discurso positivo, pesquisas para entender e abordar as causas profundas e esforços para promover a inclusão e a igualdade de direitos têm um papel importante. Os líderes religiosos, comunitários e empresariais também devem desempenhar o seu papel (ONU, 2023).
Como? Pensou Helena. Consumindo, ou melhor, comprando algo que ela deseja e entregue? Doía mais porque no fundo, o que estávamos ensinando para uma criança é que a felicidade se encontrava nas coisas materiais.
Helena estava no shopping (não era um lugar que ela costumava frequentar com frequência, mas, o mercado que ela frequentava ficava no shopping, então sim, podemos dizer que ela frequentava parte do shopping com frequência!).
Como de vez em quando a vontade dela por doces, principalmente na TPM, superava tudo que ela sabia sobre os malefícios do açúcar, ela resolveu comprar um sorvete (com bastante cobertura de chocolate e caramelo! Mais doce que batata doce).
Ao sair do mercado, rumo ao seu objetivo maior, o sorvete!
Helena se deparou com os enfeites natalinos, e uma árvore com algumas cartinhas. Ela resolveu espiar. Espiou várias.
Todas elas seguiam um padrão: endereçadas para o dito Papai Noel, solicitando os seus respectivos presentes: que iam desde uma boneca até uma bicicleta, ou um vídeo game.
Ao fechar e devolver a última cartinha lida, Helena olhou para a placa que dizia “faça uma criança feliz neste natal”.
Como? Pensou Helena. Consumindo, ou melhor, comprando algo que ela deseja e entregue? Doía mais porque no fundo, o que estávamos ensinando para uma criança é que a felicidade se encontrava nas coisas materiais.
Ela respirou fundo e foi em busca do seu sorvete até que, ao invés de aproveitar o seu sabor, a cabeça dela insistia em pensar nas crianças. Prometeu a si mesma que depois do sorvete ela voltaria à árvore.
– Oi moça. Você por acaso tem o contato de algum responsável por essas cartinhas?
– Sim, só um minuto que vou lhe passar.
– Contato salvo, muito obrigada!
. . .
No dia de Natal, Helena foi até uma comunidade carente da cidade. Onde havia pedido permissão para organizar um encontro com a criançada.
Um abraço gostoso e demorado com cada criança, uma apresentação e um convite estendido aos pais para participarem do momento. Sentados em círculos, Helena pediu aos pais que compartilhassem com as crianças, como eles costumavam brincar antigamente.
A cada nova história, Helena anotava atentamente as brincadeiras, uma em cada bilhete, acrescentando tudo em uma caixa.
– Por favor, alguém pode pescar um papel dessa caixinha!
– Gabi, uma criança de 5 aninhos levantou o seu dedinho e pescou um papel.
Esconde-esconde…pega-pega… pular corda …
Helenas, as crianças e seus pais passaram um dia inteiro brincando juntos. Ao final, todos estávamos cansados, mas, com algumas certezas: que elas dormiriam bem naquela noite e que provavelmente nunca mais esqueceriam aquele dia.
Jesus nasce em Gaza e, agora, já não podem matá-lo, pois haverá de ressuscitar em cada criança, em cada jovem, em cada cidadão palestino consciente de que a terra das vinhas e das oliveiras guarda em seu solo as cinzas de seus mais longínquos ancestrais.
Neste Natal, Jesus nasce em Gaza. Não na manjedoura exposta em um curral, mas entre escombros do que resta das moradias de seus habitantes.
Não nasce cercado de animais, e sim de bombas detonadas, balas de fuzis Tavor Ctar atiradas contra a população civil (950 tiros por minuto), granadas e gases letais. E os voos assassinos dos caças F-35.
Jesus nasce e ignora que seus pais, que pretendiam se refugiar no Egito, foram atingidos mortalmente por uma chuva de bombas “bunker buster” jogadas pelas tropas israelenses.
Agora não é o rei Herodes que passa centenas de crianças ao fio da espada. É o governo sionista de Netanyahu, na ânsia de vingança e de exterminar aqueles que são considerados “animais humanos”, segundo declaração do ministro da Defesa de Israel, Yoav Gallant.
Jesus e seus pais não encontraram acolhida em Belém. Tiveram que se abrigar em um curral. Do mesmo modo, famílias palestinas foram sumariamente expulsas de seus lares para dar lugar aos colonos sionistas que não reconhecem o direito de a nação palestina instituir o seu legítimo Estado. Escorraçadas, essas milhares de famílias foram confinadas nos estreitos limites de Gaza e da Cisjordânia, controladas por tropas israelenses como se fossem subumanas, sobrevivendo em condições análogas a campos de concentração a céu aberto.
Jesus nasce hoje sem que magos venham presentear-lhe com ouro, incenso e mirra. O que ele ganha agora são 12 mil toneladas de bombas desde 7 de outubro (33 toneladas de explosivos por quilometro quadrado), equivalente à potência de uma bomba atômica.
Não há coro de anjos nem cânticos de glória a Deus, e sim o grito estridente de sirenas de alarme e o silvo aterrorizante de projéteis disparados pelos canhões mortíferos dos tanques Merkava.
Jesus nasceu sob o selo da discriminação: por ser palestino, por ser filho bastardo de um casal nazareno (tanto que José quis abandonar Maria ao sabê-la grávida), por ser um sem-teto, por sua família ter ocupado a terra de uma chácara em Belém, por ser considerado blasfemo e usurpador do título de Filho de Deus.
Jesus, mais uma vez, é rechaçado em sua própria terra. Se seus conterrâneos são impedidos de formar seu Estado, qualquer ação de autodefesa que desencadeiem será qualificada de “terrorista”. Epíteto que jamais a grande mídia utilizou quando Menachem Begin, em 22 de julho de 1946, explodiu, em Jerusalém, o Hotel King David e matou 91 pessoas. Nem quando mais de 200 mil pessoas, todas inocentes, foram cruelmente assassinadas no maior atentado terrorista de todos os tempos – as bombas atômicas atiradas pelo governo dos EUA sobre as populações civis de Hiroshima e Nagasaki.
Sim, o Hamas rompeu a linha da “guerra justa” ao sequestrar mais de 200 pessoas, a maioria civis. Mas quem reage às “detenções administrativas” feitas pelo governo de Israel e que mantém nas prisões cerca de 5 mil pessoas sem acusações formais?
Jesus nasce em Gaza e, agora, já não podem matá-lo, pois haverá de ressuscitar em cada criança, em cada jovem, em cada cidadão palestino consciente de que a terra das vinhas e das oliveiras guarda em seu solo as cinzas de seus mais longínquos ancestrais.
Leia também:“O sonho da terra prometida deve ser sustentável, mas a reação desmedida e injustificada a toda população da Faixa de Gaza, como pensam alguns, não suporta a tese do direito à proteção, tão defendido por Israel. Há Terra para todos, todos podem respirar, há dias ensolarados para todos, mas há mísseis para todos, igualmente, sem a vontade de perseguir, obsessivamente, por PAZ duradoura”. (Autor: Nelceu Zanatta)https://www.neipies.com/ha-odio-demais-ha-terror-e-misseis-demais-temos-de-parar-esta-guerra-comecemos-rezando/
Entregar a relatoria ao Projeto de Lei enviada pelo executivo atual ao ex-ministro da educação responsável pela reforma do novo ensino médio em 2016, através de uma Medida Provisória, é mais que uma evidência do quanto o atual Congresso, alguns gestores do MEC, Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed), as fundações e os institutos empresariais estão influenciando na revisão e implementação de políticas do atual governo.
O professor, escritor e sociólogo Florestan Fernandes (1920-1995), patrono da sociologia brasileira, enfatizava que a “educação é o mais grave dilema brasileiro. A sua falta prejudica da mesma forma que a fome e a miséria, ou até mais, pois priva os famintos e miserais dos meios que os possibilitem a tomar consciência de sua condição, dos meios a aprender resistir”. E deixava claro que não se trata de qualquer educação, mas a que educação de qualidade social e emancipatória das classes populares.
Há um ano, após o fim de um difícil processo eleitoral, com a vitória do candidato petista, única opção viável para derrotar um projeto antidemocrático, negacionista e irresponsável, boa parte da população brasileira anseia pela reconstrução de várias políticas públicas que retrocedemos desde 2016.
Esta esperança ainda nos move, até porque, como afirmava Paulo Freire, a esperança não é um capricho de teimosia, mas um imperativo categórico histórico e ontológico de todo ser humano.
No âmbito federal, algumas medidas e políticas foram anunciadas, especialmente para a educação básica, tais como o Compromisso Nacional Criança Alfabetizada, que prevê o fomento a um regime de colaboração entre União, estados e municípios; o Programa Escola em Tempo Integral, instituído pela lei nº 14.640 de 31 de julho de 2023, que visa fomentar a criação de matrículas em tempo integral em todas as etapas e modalidades da educação básica, na perspectiva da educação integral; a Estratégia Nacional de Escolas Conectadas, com investimentos de R$ 8,8 bilhões para universalizar a conectividade das escolas públicas de educação básica até 2026, entre outras ações.
Além dessas políticas estruturantes para a educação básica, tivemos avanços no tema de equidade, a começar pela reestruturação da Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão, extintas no governo anterior.
Para o ensino superior foi aprovada a Lei de Cotas e revisões e discussões iniciais sobre a Educação a Distância (EaD), Formação de Professores e a convocação da Conferência Nacional de Educação (Conae) para janeiro de 2024.
Porém, poucas ações estruturantes foram pensadas em 2023 para a complexidade de desafios no campo educacional e social.
Ainda no âmbito federal, o ritmo está muito lento do ideal. Para o ensino médio, outra etapa estratégica da educação nacional e das pautas das juventudes, é preocupante a dificuldade de enfrentar e reverter as reformas impostas com o “Novo Ensino Médio” (NEM) e as BNCCs para educação básica e BNC –formação professores entre 2016-2018.
Entregar a relatoria ao Projeto de Lei enviada pelo executivo atual ao ex-ministro da educação responsável pela reforma do novo ensino médio em 2016, através de uma Medida Provisória, é mais que uma evidência do quanto o atual Congresso, alguns gestores do MEC, Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed), as fundações e os institutos empresariais estão influenciando na revisão e implementação de políticas do atual governo.
Nesta perspectiva de manter a reforma do novo ensino médio, as juventudes brasileiras terão um ensino médio desqualificado, com apenas 1,8 mil horas ou 2,1 mil horas de formação básica geral, completando esta etapa fundamental de sua formação básica, com um “cardápio” de cursos básicos de (des)qualificação profissional de qualquer coisa, visto que o novo ensino médio aceita tudo, como cursos O que rola por aí?, Educação Financeira – Torne-se um milionário, RPG – conquistadores de mundo, Meu mundo, Meu futuro: Me ajuda a construir?, Quitutes da nossa terra – todos aceitos pelos sistemas de ensino.
Porém, o maior interesse dos estados com o novo ensino médio, tão defendido pelo Consed é a redução dos investimentos na educação básica por meio da não realização de concursos públicos para docentes e técnicos administrativos, manutenção e ampliação dos contratos temporários precários nas redes de ensino e, a terceirizando 40% do currículo do ensino médio parcerias público-privadas para oferta dos cursos citados anteriormente.
O segmento das grandes empresas, por meio de suas fundações e institutos empresariais, articulados com o Consed, controlam o orçamento público da educação e orientam os investimentos de acordo com seus interesses, inclusive manipular e doutrinar os estudantes.
No âmbito do legislativo, seja no Congresso Nacional, seja nas assembleias legislativas estaduais e câmaras de vereadores, os ataques e a pauta educacional conservadora prosseguem e, até se intensifica.
Um mapeamento sobre a “Educação sob ataque no Brasil” em curso pela Campanha Nacional pelo Direito à Educação revela que tivemos nos últimos anos 1.993 proposições legislativas, das quais 1.319 (66,2%) correspondem a legislação estaduais e 674 (33,8%) à legislação federal.
E do que tratam essas proposições? Versão sobre a escola sem partido (9,95), doutrinação (7,9%0, Censura (5,5%), Perseguição (6,7%), afastamento (0,4%), demissão (1,6%), correspondem a 32% das preocupações e proposições legislativas federais.
Recentemente, na Câmara de vereadores de Manaus foi aprovado que a Bíblia é um instrumento pedagógico a ser utilizado nas escolas e, em várias assembleias legislativas, como a do Rio Grande do Sul, é discutida a manutenção das escolas cívico-militares.
Quem está trabalhando e pesquisando nas ciências da educação, sabe que temas não são nem prioritários nem os reais problemas da educação brasileira.
Legisladores e gestores deveriam questionar por que não executaram o Plano Nacional de Educação (2014-2024), os Planos Estaduais de Educação (2015-2025) e os Planos Municipais (2016-2026) para melhor planejarmos os próximos planos a partir de 2024.
Sem uma avaliação séria e um diagnóstico efetivo em conjunto com a sociedade gaúcha referente a educação na última década, a Assembleia Legislativa do RS e o governo estadual estão empenhados em aprovar um novo marco legal para a educação do Estado, em caráter emergencial no apagar das luzes do ano letivo vigente, como se já não existisse um marco legal no país e no estado, descumprido pelos próprios proponentes.
O denominado novo marco legal para a educação gaúcha, na verdade, é uma pauta de cinco medidas que favorece os próprios interesses dos gestores atuais no exercício da gestão, em detrimento de medidas que efetivamente melhores a qualidade da educação em nosso estado.
Vejamos as propostas que estão em pauta no legislativo:
– PEC 299/2023: altera os artigos 199, 211, 214, 215 e 216 da Constituição Estadual retirando a responsabilidade do Estado do RS pelo oferecimento do Ensino Fundamental, mesmo sendo notória a incapacidade dos municípios pela sua oferta considerando o contexto histórico de desenvolvimento da educação no RS;
– PL 517/2023: institui o Marco Legal da Educação, que nada de novo apresenta, visto que tudo que anuncia já está previsto na legislação educacional brasileira e gaúcha, em descumprimento e descontinuado pelas sucessivas gestões, principalmente, na última década;
– PL 518/2023: implanta sérias alterações na composição, no funcionamento e nas atribuições do Conselho Estadual de Educação (CEEd-RS), órgão mais autônomo, plural e democrático do Brasil. O objetivo principal é submetê-lo ao poder executivo;
– PL 520/2023: prevê alteração da Lei 11.123/1998, que dispunha sobre a Educação Profissional, visando “modernizar a legislação e promover a inclusão produtiva dos estudantes a nível profissional e técnico”, reforçando a Cede lógica do NEM, ou seja, jovens pobres não devem sonhar com a formação superior nas universidades e permanecerem cursando itinerários de qualificação profissional;
Por este conjunto de iniciativas e ataques à educação, aos órgãos democráticos, às escola, às universidades, aos professores e funcionários públicos, estamos concluindo mais um ano com poucos avanças na educação devido ao contra-ataque do campo conservador derrotada na última eleição presidencial, com apoio das gestões neoliberais que priorizam o controle, as avaliações de desempenho, a redução do investimento público e a privatização da educação básica e superior por meio de vários mecanismos.
Mas vários movimentos de resistência e luta democrática estão na rua defendendo a democracia, a educação pública de qualidade, a formação e valorização da carreira docente no Brasil.
Um bom exemplo foi a realização do IX Encontro Nacional das Licenciaturas (Enalic), do VIII Seminário Nacional do Pibid e do III Seminário Nacional do Programa Residência Pedagógica na Univates, em Lajeado, entre 6 e 8 de dezembro.
Neste encontro das licenciaturas, 8,6 mil pessoas se cadastraram, mais de 1,7 mil estiveram presencialmente, de todas as regiões do Brasil, com mais de 5 mil trabalhos submetidos. Foram 2.755 de pesquisas, 755 comunicações científicas e 2 mil relatos de experiências.
Onde há reflexão, debate, participação e luta, há esperança por uma educação pública de qualidade social emancipatória dos estudantes e das classes populares.
Quando leio nossos autores, fico a pensar: este texto será lido daqui a cem anos? Muitos não me dão a certeza. Fabrício Bastos com seu “Caminho de cercas” me deu esta convicção.
Foi a Vera Ione Molina que me passou o livro de Fabrício Bastos, Caminho de cercas. De cara, a capa (de Maria Bastos) me chama a atenção, uma foto de uma árvore quase solitária. Tons de cinza que me fazem pensar no conteúdo, antes da leitura, e depois também.
Um livro bem composto, pelo Prym da Editora Bestiário. Tem revisão da Vera Ione, com apresentação da Lélia Almeida, que dá a dimensão da profundidade grandeza do que vamos ler, por um autor leitor e exímio artista da palavra, um tanto machadiano. Já seria tudo isso muito bom, antes da leitura. E foi melhor ainda poder ler o texto de Ondina Fachel Leal que me leva a seu “Os gaúchos”. E Fabrício consegue nos falar de alguns deles e de outras personagens bem talhadas da urbe também.
Se me fosse dada a tarefa de compor os Melhores Contos Brasileiros eu já tinha certeza de incluir, é claro, Simões Lopes Neto e Darcy Azambuja (que poucos conhecem). Agora teria a certeza de colocar um do Fabrício Bastos, talvez demorasse na decisão entre Notícia do Campo ou Adágio.
Fabrício é um contista de mão cheia, e Caminho de cercas é um livro e tanto.
Fica difícil acrescentar algo mais, depois que você ler o que dizem dele a Lélia Almeida, consagrada contista e romancista, que conviveu com ele, e a Ondina Fachel Leal, que estudou e entendeu a alma do homem da pampa, da fronteira.
Também é necessário falar da narrativa, pois o autor mescla falas, “plausíveis realidades” com fantasias, sem medo de expor a alma, os desejos, os sentimentos das personagens que se sustentam na sua complexidade, imitando seres reais, porque as pessoas têm estes sentimentos todos que muitas vezes os autores não aliançam. Em alguns momentos, passagens me fizeram lembrar do Reynaldo Moura e seu Romance no Rio Grande.
Há contos no qual trata das relações familiares e de encontros que são um primor, pois, com sutilezas, com frases que mais soam um pensamento filosófico ou psicológico, vão mostrando o que somos, o que pensamos, o que pensamos e não expressamos.
Quando leio nossos autores, fico a pensar: este texto será lido daqui a cem anos? Muitos não me dão a certeza. Fabrício Bastos com seu “Caminho de cercas” me deu esta convicção.
Autor: Adeli Sell, professor, escritor e bacharel em Direito. Também escreveu “Areté, virtude, excelência.
Somos mais do que máquinas, somos pessoas que sentem, que pensam e que amam. A arte, a filosofia e a literatura são indispensáveis para a formação humana. Essa formação precisa dar centralidade para cuidar de si, da coletividade e da natureza.
Participe de um encontro virtual assistindo ao vídeo que segue, com pessoas que dedicam suas vidas e sua atuação pessoal e profissional para a formação humana integral. Este diálogo foi mediado por professor Israel Kujawa e pelo professor Marciano Pereira.
Este vídeo foi gravado no dia 13/12/2023, postado no canal do yotube Pedagogia do Digital.
Repercutimos e recomendamos este material justamente pela densa, sincera e convicta afirmação da empatia como forma de humanização. Dentre outras ideias, Nelceu Zanatta defende que o fim da empatia pode significar o fim da civilização.
Uma das reflexões destacadas no encontro foi sobre Empatia e Natal, publicada por Nelceu Zanatta no site e com importantes repercussões.
“Este é o momento em que a sustentabilidade passa a ser um valor Cristão como os demais, porque preserva, porque não descarta, não destrói, porque faz retornar bens e objetos, que teriam como destino certo a vala do esgotamento de recursos em que a Terra nos oferece. Ser sustentável, portanto, não seria uma forma de estar mais próximo à Deus?”