O valente e guerreiro cacique da guerra guaranítica acabou virando santo da causa missioneira. São Sepé, portanto, é o primeiro santo dos gaúchos.
O índio missioneiro Sepé Tiaraju nasceu na Redução de São Luiz Gonzaga/RS. Como era órfão de pai e mãe, foi adotado pelo padre jesuíta Antônio Sepp – por isso o nome Sepé – e transferido para a redução de São Miguel Arcanjo, atual Ruínas de São Miguel. Lá estudou e aprendeu a ler, escrever e guerrear. Quando crescido foi nomeado Alferez por demonstrar ser um líder guerreiro valente, forte, sábio e bom.
Lutou bravamente contra os exércitos unidos da Espanha e Portugal para defender as terras dos Sete Povos das Missões, que diziam pertencer a Deus e a São Miguel, tanto que um dia proferiu a famosa frase:
– Esta terra tem dono!
Na verdade, as terras pertenciam aos índios guaranis, posto que lá viviam, educavam seus filhos, produziam seus alimentos e criavam gado. Dizem que Sepé Tiaraju foi predestinado por Deus e por São Miguel para nascer com um lunar (luz) na testa.
Em 1750, quando a guerra guaranítica dos índios contra os intrusos espanhóis e portugueses começou, por causa do um acordo secreto chamado Tratado de Madrid, o qual expulsou do Rio Grande do Sul mais de 30 mil índios, o lunar (luz) de Sepé Tiaraju começou a brilhar ainda mais forte nas noites escuras. Ele guiava os soldados de Sepé na guerra de armas de fogo contra arcos e flechas do exército guarani.
Nessa luta, o exército luso-espanhol dizimou grande parte dos índios guaranis do RS, matando também Sepé Tiaraju, em 1756, na famosa Batalha de Caiboaté, hoje distrito de Tiaraju, situado nos arredores de São Gabriel/RS.
A propósito, o poeta do Arcadismo brasileiro, Basílio da Gama, buscando livrar-se da perseguição jesuítica empreendida por Marques de Pombal, escreveu um poema épico denominado O Uruguai (1769). Narra a luta dos índios contra os dois exércitos de Portugal e Espanha. O poema, constituído de 05 cantos, partes, registra os desdobramentos da troca das terras de Colônia do Sacramento, que eram de Portugal, pelas grandes áreas de terra dos Sete Povos das Missões, que eram da Espanha. Assim, hoje a Colônia do Sacramento pertence ao Uruguai e os Sete Povos das Missões pertencem ao Brasil.
Na obra aparecem importantes heróis, especialmente os guaranis Sepé Tiaraju, Lindoia, Tatu-Guaçu e Cacambo. Sem dúvida, Sepé e Lindoia constituem importantes personagens da literatura brasileira e do folclore gauchesco. Lindoia é a grande heroína da Literatura Brasileira.
Finda a guerra guaranítica, dizem que Deus retirou o lunar da testa de Sepé e o colocou no céu do pampa para ser o guia de todos os gaúchos. Hoje o lunar de Sepé é conhecido como a Constelação do Cruzeiro do Sul. Foi por isso e muito mais que o valente e guerreiro cacique da guerra guaranítica acabou virando santo da causa missioneira. São Sepé, portanto, é o primeiro santo dos gaúchos.
*Esta lenda compõe coletânea de 10 histórias reunidas em livro “Histórias Preciosas”, publicado em 2016.
Enquanto não virarmos a chave na direção da sustentabilidade (que deve ser entendido como sinônimo de sobrevivência e equilíbrio planetário), ou mesmo enquanto não buscarmos novos esquemas produtivos, nosso destino maior será o de conviver com um colossal desastre coletivo que atende pelo desonroso nome de devastação do planeta. É esse o ponto que mais nos condena.
Empurrada pela globalização contemporânea que vincula o alcance de bem-estar ao que se compra e se consome, pela primeira vez a sociedade humana se encontra diante dos limites da biosfera – sistemas de suporte à vida da Terra.
Falando o óbvio, o que mais se vê aí não são apenas impactos, mas riscos e impasses ecológicos levados à nossa civilização. Temos agora uma emergência em escala global. Quer dizer: o colapso ecológico chegou.
Tal e qual, nessa atual sociedade de dominação, cada um sabe, o saldo é muito desfavorável à causa ambiental. Difícil de negar, estamos marcando a mais complexa ruptura climática que já nos convida, agora mesmo, a trocar o termo aquecimento por ebulição global.
Nesta altura, enfatizando o que não é segredo algum, à medida que o modelo econômico dominante força quase tudo para além dos limites físico-ecológicos, paisagens e ambientes do mundo vivo (terrestres e marinhos) estão sendo castigadamente modificados.
De saída, vale lembrar: dois terços dos maiores rios do mundo tem sido moderadamente e severamente fragmentados pela construção de represas ou reservatórios. Já decuplicamos a produção de lixo e já conseguimos produzir, desde os últimos tempos, quase 9 bilhões de toneladas de plástico – 70% disso virou lixo.
O detalhe pernicioso é que boa parte desses plásticos (restos de rede, linhas de pescas e assim por diante) já atingem 92% dos recifes de corais rasos do planeta e levam, todos os anos, 100 mil animais marinhos à morte.
Assim sendo, há algo de muito errado aí.
Contemporâneo ao avanço do modo capitalista claramente obcecado pelo lucro imediato e alheio à preocupação ambiental, corremos o risco de “normalizar” o absurdo, isto é, todo o descompasso socioambiental/devastação ecológica provocados em larga extensão pela dominante economia destrutiva.
Para todos os fins, de acordo com a organização não-governamental Wildlife Conservation Society (WCS), a humanidade já conseguiu modificar dois terços da área terrestre e 87% dos oceanos e das áreas úmidas (zonas de fronteira entre os sistemas terrestres e aquáticos), lar de 40% de espécies em todo o mundo.
Dura realidade, desde o começo dos anos 2000, a pesca industrial reduziu o número de peixes oceânicos grandes para apenas 10% de sua população pré-industrial. Hoje em dia, 80% dos recursos pesqueiros estão sobrepescados, o que leva a uma estimativa desabonadora: até 2048, todas as pescarias do mundo poderão entrar em colapso.
E tem mais. O relatório State of the Rainforest 2014, publicado pela Rainforest Foundation Norway, nos informa que metade das florestas tropicais do mundo (mais de 9 milhões de km2 da superfície terrestre) desapareceram de nosso campo de visão nos últimos tempos, eliminando imenso armazém de carbono.
Assim, em tempo real, a eliminação de cobertura florestal desde há muito tem sido considerado como a marca mais evidente da profunda alteração ecológica diante de nós.
Ponto importante, sabemos hoje que até 20% das florestas tropicais foram desmatadas apenas desde a década de 1990, enquanto outros 10% desses ecossistemas foram diretamente afetados devido às temperaturas mais altas, períodos mais longos sem chuva e secas mais frequentes ocasionadas pelas mudanças climáticas.1
Verdade indigesta, o mundo vem perdendo todos os anos aproximadamente 10 bilhões de árvores.2 São quinze bilhões removidas contra cinco bilhões plantadas (30% de perda global anual). Dos 64 milhões de km2 de florestas existentes antes da expansão demográfica e tecnológica dos humanos, restam menos de 15,5 milhões, ou 24%. Desde o início da civilização humana, o mundo perdeu 46% das árvores conhecidas.
E não faz muito tempo que a organização ambiental Fundo Mundial para a Natureza (WWF) anunciou que a Terra perdeu mais de 60% dos seus animais selvagens (mamíferos, aves, peixes, anfíbios e répteis).
Dito e feito, o ritmo atual de perda de espécies provocada pela primeira vez por forças humanas (antropocentrismo dominador) é cerca de 100 a 1.000 vezes maior do que há alguns séculos.
Fria matemática, das nove milhões de espécies3 de animais e plantas que habitam o planeta, 1 milhão delas estão hoje em dia sob risco de extinção. Mais precisamente, 20% das espécies de vertebrados estão atualmente em situação limite; e, pesarosa estimativa, “30% das espécies poderão desaparecer até a metade do corrente século”.4
Balanço apresentado, na mesma Casa Comum onde compartilhamos a vida com milhões de espécies catalogadas, 10% dessas são eliminadas a cada década. Conta fácil de assimilar, “a cada dia desaparecem 74 espécies de nosso planeta. Três por hora”.5
Síntese mais expressiva de uma crise global, com o modelo de economia impositivo que nos guia e determina destinos, a verdade dita sem cerimônias é que estamos abrindo grande vulnerabilidade.
Nesse sentido, os fatos comprovam que essa grave crise já saiu de controle. Afinal, em detrimento da biodiversidade, dos corpos d´água, da energia, da terra/solo, do mundo selvagem, dos habitats do planeta (em terra e no mar), enfim, frente ao quadro capitalista que gesta e alimenta o desequilíbrio planetário, às próximas gerações estamos deixando um planeta bastante vulnerável do ponto de vista socioambiental.
O curioso, contudo, é que nem sequer conseguimos perceber o básico: “ao atacarmos a biodiversidade”, para falar como Edward O. Wilson (1929-2021), “atacamos a nós mesmos”.
Como parece lógico, diante de um sistema baseado no valor, na produtividade e na mercadoria e que, por razões óbvias, não leva em conta a restrição ecológica (limite de recursos), já atingimos um ponto em que não mais conseguimos disfarçar o impacto ecológico, tampouco (e muito menos) conseguimos aliviar nossa pegada ecológica.
Amarga constatação, as mais variadas marcas de devastação do meio ambiente e de degradação ecossistêmica que seguimos deixando ao longo dos tempos tem sido cada vez mais difíceis de serem apagadas.
Causa e efeito, para piorar, enquanto a rentabilidade e a ideia de crescimento ocupam o centro da questão, não conseguimos enxergar num horizonte próximo a emergência de uma sintomática sentença de morte: o comprometimento dos ecossistemas terrestres e de água doce, fundamentais à saúde humana.
Falando de forma rasteira: diante da escala de efeitos (eco)destrutivos sobre o meio ambiente e, claro, visto no todo, sobre os serviços ambientais, sequer estamos respeitando o tempo naturalmente necessário de o planeta se restaurar.
Assim falando, quem faz uso crítico da razão sabe bem que a resposta é curta: por conta do modo de produção e consumo (indicadores do crescimento) que nega os limites ecológicos e faz a regência dos conteúdos capitalistas, deixamos o planeta que nos acolhe em condições de colapsar.
Prova disso: os ciclos vitais estão sendo desarticulados ao mesmo tempo em que vemos empobrecer a diversidade biológica da Terra.
Mas, convenhamos: nada tem sido mais estúpido do que o overshoot ecológico – o estouro do “orçamento natural” do planeta para sustentar a não menos estúpida lógica de acumulação.
De modo geral, o raciocínio em torno do overshoot ecológico (para além dos limites) é simples de entender: a partir de certo tamanho (queremos dizer, aumento produtivo) da economia, há mais custos (perdas) socioambientais que benefícios (ganhos) sociais.
Por sinal, perdas e supressões de natureza, em maior ou menor grau,vão compondo, modo próprio, um cenário sombrio.
De resto, os especialistas seguem apontando que somente 3% da superfície terrestre – e não 25%, como se acreditava até recentemente – pode estar ecologicamente intacta, permanecendo da mesma maneira como era há mais de 500 anos.7
Esse baixo percentual que permanece isento da ação antrópica, vale o destaque, está representado por desertos (Saara, em especial), algumas regiões frias (Groenlândia e o norte do Canadá) e as partes mais inacessíveis das florestas tropicais.
Problema de primeira ordem, o fato é que também não dá mais para disfarçar que já fomos longe demais com a quebra de equilíbrio na relação sociedade-natureza. E, nesse caso, na era do Antropoceno em que vivemos, a sobrevivência de nossa espécie, como é previsível, não está garantida.
Pelo sim, pelo não, se é verdade que somos produtos do que produzimos, convém enfatizar agora o que parece mais óbvio ainda: enquanto não virarmos a chave na direção da sustentabilidade (e isso deve ser bem entendido como sinônimo de sobrevivência e equilíbrio planetário), ou mesmo enquanto não buscarmos novos esquemas produtivos, nosso destino maior será o de conviver com um colossal desastre coletivo que atende pelo desonroso nome de devastação do planeta. É esse o ponto que mais nos condena.
Em breve, esta história estará disponível em livro “A saga de Pedrinho Pequeno e sua caminhada em busca de fé”.
Pedrinho não crescia. Sua Mãe o levou em uma aventura de fé que transformou sua vida. Não rezava Pedrinho, mas à sua Mãe ouvia.
Como se aventurar nestes dias de crescimento, em um mundo de crescente desinteresse pela fé? Quem falará aos jovens sobre a importância em se viver com fé, quando a realidade se apresenta contrária?
Desejamos, por ora, deixar uma mensagem aos pais leitores do site.
Aos adultos que experimentaram a fé em sua caminhada, aos que sempre acreditaram, aos que enfrentaram todas as batalhas ao longo de uma vida de dúvidas e resignação, de altos e baixos, sempre há uma reconciliação possível, uma tragédia percebida e superada, um perdão a seu dispor, um renascer. Esperança, portanto!
Amanhecer, crendo em segurança, agradecer por todas as coisas, pedir e receber, é a rotina dos que andam na paz da sua fé. Porém, cair e levantar, sem demora, nem sempre são situações que lhes aumentam o discernimento de que seus tropeços podem ser o resultado de escolhas e atitudes erradas − embora sua aceitação e compreensão evitem pensamentos porosos, vulneráveis, menos claros e enfraquecidos. Para isso, bastará aceitar e entender que cair é normal, mas permanecer caídos, jamais.
Mas quem avisará esses pré-adolescentes de que tem de ser assim? De que a dúvida não é uma perda de outro mundo, pela qual seus pais já não tenham passado?
Levantar-se é o alvo, sempre! Mas isso para todos nós que já caminhamos um pouco nessa estrada. Para os pequenos que veem apenas o portão de onde ela se inicia, nem tudo está tão evidente.
Nosso Pedrinho partiu pequeno para essa jornada, e retornou muito grande de sua aventura. Gigante, na verdade. Teve a graça de ser filho de Fátima, assim como todos podem sentir-se filhos e filhas de Maria, se dessa forma acreditarem.
Caminhava na vida difícil, pela qual milhares de meninos e meninas andam pelo mundo, justamente em seus dias de descobertas, quando em seus anos iniciais tudo pode acontecer para desviar a sua atenção e direcioná-los a promessas de falsas alegrias, a outras aventuras, longe de Deus, de seu Filho e sua Mãe.
Ser menino ou menina, ouvir o que sua mãe fala, ouvir a voz de seu pai, quando presente, ou de seu próximo, pode ser a redenção de uma vida para todos, um recomeço a cada manhã, nessa beirada cheia de riscos e ausências, a qual todos os dias temos de retomar.
Muitas vezes, as famílias que vemos constituídas são assim mesmo. Mãe e filho, mãe e filha… Sozinhos, sozinhas, enfrentando um mundo de desafios e dores. Mas a fé, em sua essência, pode ser o complemento vital para que a vida se descubra maravilhosa e cheia de sentido. Afinal, nem sempre estaremos onde estamos, limitados aos nossos dias, em uma sucessão deles, em que se precisa demais e se tem de menos. Poderemos crescer e ter em vida tudo o que sonhamos, e a fé será a nossa aliada, uma vez que não há idade, tamanho ou época para ser invocada.
Em um mundo de incompreensões e intolerância, a amizade verdadeira é um bálsamo que alivia todos os nossos esgotamentos e cansaços. Assistimos, de nossas portas e janelas, ao sofrimento e à indiferença que nos são apresentados por uma sociedade que abandona cada vez mais a aceitação entre pais e filhos, a tolerância em si mesma, e que não rejeita por completo a violência que ameaça a todos. Então, a fé, que sempre vem acompanhada de boas pessoas, torna-se nossa melhor amiga e confidente.
Podemos ver que em locais em que há pobreza e onde falta quase tudo, que ali mesmo recebe-se muito afeto dos que nada ou pouco possuem, quando dividem seus nadas com os demais. As mãos vazias, de quem nada tem a ofertar, entre um abraço fraterno e um sorriso amável, fecham o ciclo da generosidade e empatia, entre a divisão e a acolhida do pouco que é possível compartir.
A dor de Maria, a Mãe de Deus e dos homens, ao ver seu Filho morrer no desamparo, em meio a ladrões crucificados por homens brutais, repete-se a cada esquina, em que tantas Marias cruzam as ruas todos os dias, em nome de sua sobrevivência e de seus pequenos e pequenas. É nessa força que devemos nos assentar, na certeza de que jamais houve abandono de seu amor e de sua presença, e que, em todos os lamentos e em todas as ausências que esses jovens venham a sentir, mediante seu apoio, sempre haverá solução, perdão, cura e crescimento espiritual e material.
Pela razão do que Maria viveu e sentiu, em momentos de dor profunda na perda de seu Filho, hoje ela vive a amparar e acolher os que nela depositam a sua espera, mesmo que em fiapos de fé, como fios soltos pelas calçadas deste mundo, mas que, juntando-os, podem tecer um manto de confiança e transformação.
Pedrinho Pequeno voltará à sua rotina completamente mudado. Irá crescer, em altura e sabedoria, em convivência e empatia. Sua mãe já o sabia, pois é Maria. Ver seu filho sendo revelado a um novo mundo, em que foi preciso crer, para então mudar, é um milagre que está ao alcance de todas as crianças e jovens, o tempo todo, e que pode se repetir ao início de cada oração. Basta pedir, basta confiar!
Destacamos a qualidade das falas, o interesse genuíno e as ricas orientações que os jovens veteranos dividiram com quem só agora está chegando à universidade.
Milhares de estudantes de graduação deram início ao primeiro semestre letivo de 2024, neste último dia 20 de fevereiro na UPF (Universidade de Passo Fundo), nas cidades de Passo Fundo, Casca, Lagoa Vermelha, Carazinho, Soledade e Sarandi.
Enquanto se ajustam à nova rotina, bixos e veteranos iniciam novas etapas em suas formações acadêmicas. Além de movimentar os prédios e os espaços físicos que compõem a Universidade, os jovens veteranos mandaram recados para a galera que agora inicia sua faculdade.
O vídeo que segue foi produzido pela Assessoria de imprensa da UPF como um conteúdo para as redes sociais.
Destacamos a qualidade das falas, o interesse genuíno e as ricas orientações que os jovens veteranos dividiram com quem só agora está chegando à universidade.
O Papa Francisco propôs encarnação para a construção de Economias de Terra e Caminho, ou seja, economias que tenham história, trajetória, inserção no território e um sentido de horizonte e caminhada, uma economia verdadeiramente humana e humanizada, que cuide de todos.
Neste texto, apresentaremos elementos do trabalho que os jovens que responderam sim ao chamado do Papa Francisco, elaboraram juntos em um processo que foi celebrado em setembro de 2022 em Assis, e que segue sendo um compromisso a transformar a economia começando pelos sistemas agroalimentares. O trabalho ao qual todo o povo de Deus é chamado, no realmar a economia, se inspira no chamado de Cristo a São Francisco: “vai e reconstroi a minha casa que, como você vê, está em ruínas”, o que significa começar escutar as injustiças que vemos e buscar construir a comunhão com quem vive e trabalha pela ecologia em nossos territórios, indo ao encontro, e exemplo do bom samaritano.
O enfoque nas juventudes é um convite a combinar o conhecimento científico ao qual muitas das novas gerações são chamadas a conhecer e a experiência e competências das formas de vida tradicionais em comunidade para co-criar respostas eficazes e proféticas com uma visão global e uma ação local.
Nossas ações locais são convidadas a aproximar dois elementos importantes do ensinamento do Papa Francisco: a ecologia integral enquanto paradigma e construir pontes entre todos os atores envolvidos na sociedade, ou seja, formar alianças pela vida.
Nesta 46ª Romaria da Terra do Rio Grande do Sul, ocorrida no dia 13.02.2024, fomos chamados a construir ações pela vida, direitos e conquistas das mulheres camponesas. Isto é crucial para resolver injustiças presentes em muitos setores, especialmente no setor da agricultura, uma vez que os sistemas alimentares envolvem vários atores da sociedade. O que aqui apresentamos são pistas para ações possíveis às nossas realidade a orientar os nossos passos futuros.
1. Ver as injustiças: em de diferentes territórios, culturas, origens e valores, três principais formas de injustiças persistem na produção de alimentos:
I. “O grito da Terra”: ameaças à biodiversidade de plantas e animais, uso massivo de produtos químicos que contaminam os solos, exploração indiscriminada de florestas e recursos hídricos, minimizar (tirar terras dos camponeses) falta e uso indevido de água, ciclones e outras consequências das alterações climáticas que causam incerteza e custos elevados para agricultores, resultando por vezes em migração e abandono da terra.
II. “O grito dos pobres”: marginalização e exploração de diferentes grupos: as mulheres, indígenas e demais populações tradicionais, comunidades quilombolas, pequenos agricultores, pessoas vulneráveis que sofrem de insegurança alimentar, e também o grito dos animais, da fauna e da flora silvestre. Os grandes empreendimentos para a agricultura, a mineração e o extrativismo não consideram estes gritos da terra e de seus habitantes, deixando um cenário de terra arrasada.
III. A perda do verdadeiro valor dos alimentos e a distribuição injusta do valor econômico na cadeia de abastecimento agroalimentar: as razões econômicas que estão na base da exploração da terra, geram lucro para um setor da sociedade, deixando muitos à margem dos fartos lucros obtidos a partir da terra e dos filhos da terra, o Papa Francisco tem denunciado e dito que isto não é economia.
2. Refletir juntos para responder às injustiças socioambientais e climáticas: os sintomas de injustiças são comuns a nível global, mas assumem características diferentes consoantes nos territórios. Por isso a nossa reflexão comunitária e participativa, é convidada a dar nova alma às economias de verdade, que nascem da vida em comum: Construindo e comunicando uma narrativa caracterizada por uma abordagem integral na produção alimentar, compartilhando realidades e soluções locais. Apresentar uma visão comunitária nas políticas públicas e estratégias ecológicas desde o nível local, nacional e internacional.
3. Chamados para a ação. É importante refletir bem para agir bem, por isso propomos, enquanto jovens que responderam ao chamado para uma Economia de Francisco, a construir uma nova aliança para mudar os Sistemas Agroalimentares, o que implica a ajuda de todos nós, incluindo aqueles que têm a responsabilidade e o papel crítico de tomar decisões económicas e políticas e difundir uma nova narrativa. Para tanto é fundamental um processo contínuo para construir ações sustentáveis através nos locais onde atuamos, orientando nossas ações para ouvir as injustiças que ferem a terra e os pobres da terra, buscando solucioná-las.
O Papa Francisco nos propôs encarnação para a construção de Economias de Terra e Caminho, ou seja, economias que tenham história, trajetória, inserção no território e um sentido de horizonte e caminhada, uma economia verdadeiramente humana e humanizada, que cuide de todos.
Autoria: Este texto é uma síntese de algumas ideias apresentadas pela Vila Agricultura e Justiça da Economia de Francisco, reunidos em Assis, em 22 de setembro de 2022. Gabriela, Federica, Maria Virgínia, Catalina, Mateusz, Andrei Thomaz e outros jovens que trabalharam neste processo podem ser contatados através do endereço: agricultureandjustice@francescoeconomy.org
Sempre que eu penso rádio, penso em rádio AM. Ali a vida vibrava. Notícias, futebol, programas ao vivo com comunicadores capazes de levar uma tarde inteira nas costas, ou uma manhã. Programas com ouvintes falando ao telefone, mandando dedicatórias de amor. Coisa bonita demais.
Quando eu era pequena ouvia, junto com meu pai, o programa do Collid Filho, na Rádio Tupi, ondas curtas, sempre com poemas e músicas românticas. O pai tinha discos dele também. Era uma delícia.
Na Rádio Fronteira do Sul, além dos programas do pai, também adorava o Show da Tarde. A gente ia lá na rádio e gravava a dedicatória, pedindo a música. João Paulo era quem comandava os enormes gravadores de fita de rolo. Era o máximo.
Ouvia também o programa do Barros de Alencar, na Tupi. Ali rolava o correio do amor. Minha irmã mandava cartas pra lá e chegou a ter vários correspondentes por conta do rádio. Era uma espécie de tinder dos anos 70.
O rádio é um mundo.
Quando morei em Passo Fundo, ouvia todos os dias o rei do rádio, o José Gomes JG, na Rádio Uirapuru. O carro da TV estava sempre ligado nele e volta e meia a gente ia lá dar um abraço no JG, pedir uma música. Era muito bom. Invariavelmente ele colocava a música “As Andorinhas” do Trio Parada Dura, porque sabia que eu gostava e dedicava para nós. E, nessa hora, a gente abria as janelas da Fiatizinha da TV e cantava a plenos pulmões, eu, Gilmar Lima e Flavio Goncalves. Era uma festa.
José Gomes, JG. Reprodução/rede social
Até hoje, quando ouço essa música, me ponho a cantar, cheia de pura alegria. Lembranças tão boas…
O rádio foi minha primeira casa, quando ainda era uma menina, ajudando o pai no Ranchinho do Nhô Zé. E é nessa casa que ainda sigo, hoje na Comunitária do Campeche. O rádio é bonito demais… e imorrível…
Ao exigir do homem moderno que tome consciência das consequências, das possibilidades e dos limites de seu saber e agir, nosso filósofo coloca questões que até hoje prosseguem conosco.
Dentre os clássicos da filosofia moderna, Friedrich Nietzsche (1844-1900) talvez seja um dos pensadores mais incômodo e provocativo. Em sua obra, todos os domínios são postos em xeque: científicos, éticos, religiosos, estéticos e políticos. Sua vocação crítica cortante o levou ao submundo de nosso civilização, sua radial honestidade intelectual denunciou a mesquinhez e o cinismo ocultos em nossos valores mais elevados, dissimulados em nossas convicções mais firmes, renegados em nossas mais sublimes esperanças.
Para Nietzsche filosofar é um ato que se enraíza na vida e um exercício de liberdade que exige vigilância crítica, coragem de denunciar a impostura da mistificação intelectual, determinação para assumir a própria vida. Por isso foi e continua sendo um pensador desconcertante.
Nietzsche foi considerado um dos grandes mestres da suspeita, pois denunciou a moralidade e a política moderna como transformação vulgarizada de antigos valores metafísicos e religiosos que são usados cinicamente para dominar as massas.
Nietzsche se opôs à supressão das diferenças, à padronização dos valores que, sob o pretexto de universalidade, encobre a imposição totalitária dos interesses particulares de grupos que querem dominar. Para ele, igualdade não pode ser entendida como uniformidade, pois quando isso acontece, as pessoas são transformadas em peças anônimas da engrenagem global de interesses e ocorre a manipulação de corações e mentes pelos grandes dispositivos formadores de opinião.
Conforme nos diz Giacóia Junior, professor da Unicamp e um dos grandes estudiosos de nosso filósofo, o pensamento de Nietzsche pode ser comparado a uma espécie de sensor que registra e antecipa questões e desafios de nosso século, pois sua ambição foi o de realizar um diagnóstico fiel da situação do homem moderno.
Pelo fato de nos considerarmos herdeiros dos progressos do iluminismo, julgamo-nos liberados das cadeias da ignorância e da superstição. As possibilidades advindas da utilização industrial da ciência e da técnica, nos fez acreditar que poderíamos descobrir todos os segredos do universos e construir uma sociedade livre das formas de opressão, violência e exploração. No entanto, nos adverte Nietzsche, esse otimismo trouxe consequências ocultas: o mesmo progresso que produziu enormes avanças conduz inexoravelmente à exaustão dos valores herdados da tradição, à sua impossibilidade de dar sustentação a futuros projetos viáveis, no campo do conhecimento, quer da ética, quer da política.
Nietzsche viveu e pensou em profundidade a crise que se abatia sobre a Europa ao final do século XIX. Foi um pensador que teve coragem de pensar seu tempo e indicar as contradições proporcionadas pela cultura. Ao exigir do homem moderno que tome consciência das consequências, das possibilidades e dos limites de seu saber e agir, nosso filósofo coloca questões que até hoje prosseguem conosco. Ler suas obras, de difícil compreensão, nos ajudam a compreender o tempo presente, marcado por acontecimentos que desestruturam nossa compreensão do mundo e geram um vazio existencial opressivo.
A despeito de sua visão sóbria produzida pela crise, Nietzsche tentou ser, ao mesmo tempo, um anunciador de novas esperanças que possam produzir a criação de novos valores, a instituição de novas metas para a aventura humana na história.
Encontramos em Nietzsche um pensador paradoxal que combina elementos antagônicos: sombra e luz, agonia e êxtase, gravidade e leveza. Uma provocação produtiva para dessecar o tempo presente e construir desafios futuros.
A maioria dos filmes sobre mãe e filho que vi focalizam os sacrifícios que as mães fazem pelos filhos. Alguns, é verdade, mostram a tirania delas. Poucos se detém no sacrifício que filhos fazem pelas mães.
Acompanhei um rapaz que havia, após muito esforço, passado no vestibular para medicina em uma cidade muito distante da sua. Teria de se afastar da mãe viúva e de uma irmã adolescente. A mãe, ao saber, teve uma crise de pânico. Mesmo tratada e assintomática, não admitia se afastar do filho. Não podia se mudar junto pois sustentava a família como costureira.
O filho implorava para que o deixasse ir. A mãe respondia com choro descontrolado. Quando ele me perguntou o que fazer, nós dois ficamos a pensar. A matrícula se encerrava em três dias.
“Vou e não olho para trás e olho só para mim. E é um direito meu, lutei por isso, não estou fazendo nada de errado. Ou não faço a matrícula e fico com a minha mãe. Faço mais um ano de cursinho e tento passar na faculdade que fica a apenas trinta quilômetros de minha cidade. Priorizo a relação com a minha mãe ou o meu futuro profissional?”.
Como fazia parte dele a empatia, deduzi a decisão que tomaria. Praticava o VAIVÉM EMPÁTICO: ia em imaginação ao interior das pessoas e retornava trazendo o sentimento que nelas deduzia existir e sentia como elas.
“Vou ficar. Não faz parte de mim virar as costas para minha mãe e para minha irmã. Vou fazer mais um ano de cursinho”.
Sem empatia não sentiria o sofrimento da mãe e iria embora. Mas com empatia, o sofrimento desesperado dela era sentido por ele. E assim percebia a limitação de sua mãe e a gravidade da situação.
Esse rapaz acabou no ano seguinte entrando na faculdade de medicina próxima a sua cidade.
Não tive mais notícias dele, mas posso crer que vem sendo um bom médico.
O enfrentamento da “policrise” que marca a humanidade atual implica em retomar o caminho do conhecimento como superação destas “cegueiras” que levam a crer no que não é recomendável crer, seguir a quem não é adequado seguir, fazer o que se deve evitar seja feito.
Edgar Morin* afirmou o que está no título em artigo recentemente publicado constatando o que chama de uma “situação paradoxal” na qual se encontra a humanidade: “o progresso científico e tecnológico, que está se desenvolvendo prodigiosamente em todos os campos, é a causa dos piores retrocessos do nosso século”. Isto porque, “o progresso dos conhecimentos, multiplicando-os e separando-os criando barreiras entre as disciplinas, levou a um retrocesso do pensamento, que se tornou cego”.
A cegueira do pensamento resulta do domínio do cálculo, do exagero tecnocrático, da excessiva busca de poder, o que faz com que o conhecimento fique “incapaz de conceber a complexidade da realidade e em particular das realidades humanas”. Isso explica o “retorno aos dogmatismos e aos fanatismos” que “espalham os ódios e as idolatrias”.
A humanidade vive uma “policrise”: “é a crise da humanidade que não consegue se tornar Humanidade”. Para ele já teria sido ultrapassado o ponto de revisão e de retorno e “agora parece tarde demais”. Ainda assim, acredita que, mesmo que talvez já não haja esperança, o desafio é “passar para a Resistência”, visto que as experiências históricas apontam que ela pode existir quando já não há esperança e, talvez, servir de ativador para que seja restaurada.
O conjunto de posicionamentos deste grande pensador contemporâneo aqui brevemente resumido enseja comentários e reflexões, conforme segue.
A cegueira apontada por ele tem causas e consequências. Talvez seu apelo caminhe na direção do que sugere Jose Saramago no “Ensaio sobre a Cegueira”, no sentido de uma “cegueira branca” que toma conta e que não deixa ver o que “salta aos olhos”. E, diante dela, o desafio na hora do “vamos ver”, é de ter que “fechar os olhos para ver” o tanto de cegueira que está ao nosso redor visto ser o pior cego aquele que não quer ver, mesmo que possamos ter “a responsabilidade de ter olhos quando os outros os perderam” (1995, p. 241).
Há uma cegueira que não é nova e nem acomete subitamente a humanidade. Já foi denunciada por vários da Teoria Crítica e, infelizmente, parece imune dado estar vacinada pelo positivismo crasso que toma conta da “vida científica”. Suas exigências submetem ao “cálculo do suportável”, ao esvaziamento e ao “desencantamento”. Não há valores que possam subsistir, exceto aqueles que alimentam a “roda viva” das muitas repressões que roubam o desejo de “ter voz ativa” e de o “nosso destino mandar”, e carregam milhões aos cultos a mamon.
A grande sábia, a “doutíssima” Diotima, aquela que instruiu a Sócrates no “Banquete” de Platão, dizia que a “ciência do amor” estaria no “intervalo” intermediário entre entendimento e ignorância – um algo que está “entre estes dois extremos”. Tudo o que é “gênio”, como o amor, tudo o que e genial, como a ciência, está entre extremos: ali também estaria a ciência, estaria a filosofia, os que filosofam – o filósofo, assim como o amor, está “entre o sábio e o ignorante” (204 a, b, c).
Um dos problemas da “cegueira” é que ela “destrói este intervalo” e, dessa forma, impede o conhecimento.
Não há ciência se o que se sabe é um absoluto que faz desaparecer por completo a dúvida, toda a ignorância. É preciso que se preserve alguma ignorância, alguma dúvida, junto com algum saber, para que se esteja desafiado a saber, a conhecer, a fazer ciência, a saber ainda mais e melhor. Sempre que se agir para destruir esta possibilidade se estará fechando alternativas e dando vasão a dogmatismos e fanatismos, a ódios e idolatrias.
O enfrentamento da “policrise” que marca a humanidade atual implica em retomar o caminho do conhecimento como superação destas “cegueiras” que levam a crer no que não é recomendável crer, seguir a quem não é adequado seguir, fazer o que se deve evitar seja feito. E, acima de tudo, em encontrar caminhos que abram espaços para que o amor seja o gênio a fazer viva a ciência e a ciência processo de respeito, produção, reprodução, desenvolvimento, manutenção e cuidado da vida, de todas as formas de vida, da vida em abundância, sobretudo aquela que humaniza a Humanidade.
Que a resistência insurgente alimente estes processos e nos faça agentes desta insistente prática.
Se antes corríamos o risco de colocarmos vinho novo em odres velhos, hoje há muitos odres novos, estratégias, marketing, estruturas eclesiásticas para todo gosto. Porém, o vinho está em falta. Os odres estão vazios. As igrejas estão cheias de pessoas vazias.
Quando se fala de revolução, pensa-se em uma insurreição popular, rebelando-se contra autoridades constituídas, depondo governos, provocando divisões, instigando o ódio e a revolta. E não é por menos. Basta uma rápida verificada na História para constatar isso. Toda revolução política teve seus presos políticos, seus torturados, mortos e desaparecidos. A guilhotina usada na revolução francesa não nos deixa mentir.
Porém, a revolução proposta por Jesus é de outra natureza. Aliás, a expectativa dos discípulos era de que Jesus promovesse um levante contra Roma e as autoridades judaicas que haviam se promiscuído com o Império.
Jesus propunha um tipo de revolução totalmente inversa ao que eles esperavam. Não uma revolução armada, mas uma revolução de amor. Existiria algo mais subversivo que o amor?
O Evangelho é, por si só, a mais subversiva mensagem jamais pregada.
Vejamos alguns exemplos de seu conteúdo revolucionário.
Sem dúvida, o mais subversivo sermão pregado por Jesus ficou conhecido como Sermão da Montanha. Enquanto o senso comum acreditava que felizes eram os ricos arrogantes, Jesus afirma que felizes são os pobres de espírito. Se para eles felizes eram os que gargalhavam nos banquetes dos palácios, para Jesus, felizes eram os que choravam.
Neste sermão, o Mestre Galileu propõe uma ética totalmente inversa àquela disseminada pelos mestres da época.
“Ouvistes que foi dito: Olho por olho, e dente por dente. Eu, porém, vos digo: Não resistais ao homem mau. Se alguém te bater na face direita, oferece-lhe também a outra. E se alguém quiser demandar contigo e tirar-te a túnica deixa-lhe também a capa. Se alguém te obrigar a caminhar uma milha, vai com ele duas.” Mateus 5:38-41
Ora, se isso não é subversivo, o que é, então?
Não se trata apenas de pacifismo panfletário, mas de amor às últimas consequências.
“Ouvistes que foi dito: Amarás o teu próximo, e odiarás o teu inimigo. Eu, porém, vos digo: Amai a vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem” (vv.43-44). Não se trata de fazer vista grossa aos seus abusos e desmandos, mas de insistir em amar a seus inimigos, ainda que estes sejam desprezíveis, indignos de nosso amor.
Em momento algum, Jesus endossou o estilo de vida vigente à época. Seu compromisso não era com a manutenção do status quo, mas com a introdução de uma nova ordem de coisas onde o ser humano teria mais importância do que as instituições e tradições. Onde o sábado que era uma das instituições mais prezadas pelos judeus, teria sido feito para o bem-estar do homem, e não o homem para o sábado.
Jesus ajusta o foco de modo que possamos enxergar a vida dentro de uma perspectiva que possibilite uma relação saudável entre os seres humanos e o sagrado, sem fundamentalismos engessados.
Ele denunciou através de Seus ensinamentos a inversão de valores predominante naquela sociedade. Desferiu um golpe fatal no espírito consumista, colocando a avareza como oponente de Deus. “Ninguém pode servir a dois senhores. Ou há de odiar a um e amar o outro, ou se devotará a um e desprezará o outro. Não podeis servir a Deus e às riquezas” (v.24).
Em outras passagens, Ele demonstra que no Reino de Deus as coisas funcionam de maneira inversa ao mundo. No Reino quem quiser ser o maior, tem que ser o menor. Quem amar sua própria vida, acabará desperdiçando-a, mas quem se dispuser a gastá-la por amor de Cristo e de seu semelhante, a reencontrará.
Para Jesus, o Reino de Deus não seria uma realidade distante, algo a ser esperado para depois desta vida, mas a ser buscado hoje como prioridade absoluta. Buscar o Reino de Deus é buscar a justiça, a igualdade entre os homens, desejando que a vontade divina se cumpra na terra como no céu.
Ora, não há nome mais próprio para isso que subversão.
Infelizmente, a igreja cristã tem se promiscuído com o mundo, trocando os valores eternos do reino pelas propostas indecorosas feitas por um sistema apodrecido. Pastores, em busca de fama e reconhecimento, vendem-se e negociam os votos de seu rebanho.
Cristãos ajustaram suas crenças às agendas políticas e ideológicas, demonstrando maior lealdade aos poderosos que ao próprio Cristo. A verdade foi trocada por um prato de lentilhas, e pior, lentilhas podres.
Se antes corríamos o risco de colocarmos vinho novo em odres velhos, hoje há muitos odres novos, estratégias, marketing, estruturas eclesiásticas para todo gosto. Porém, o vinho está em falta. Os odres estão vazios. As igrejas estão cheias de pessoas vazias.
Creio que assim como a Reforma Protestante só aconteceu porque a igreja redescobriu o conteúdo subversivo das epístolas de Paulo, a Revolução acontecerá quando a igreja redescobrir o teor subversivo dos Evangelhos, principalmente do Sermão da Montanha.
Em vez de gastarmos nosso tempo pregando invencionices humanas, retornemos à mensagem do Reino e do Amor de Cristo. Em vez de uma nova Reforma Protestante, necessitamos sim é de uma Revolução Reinista, isto é, centrada no Reino, e não em estruturas denominacionais.