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Mais um ano chega ao fim com a educação sob ataque no Brasil

Entregar a relatoria ao Projeto de Lei enviada pelo executivo atual ao ex-ministro da educação responsável pela reforma do novo ensino médio em 2016, através de uma Medida Provisória, é mais que uma evidência do quanto o atual Congresso, alguns gestores do MEC, Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed), as fundações e os institutos empresariais estão influenciando na revisão e implementação de políticas do atual governo.

O professor, escritor e sociólogo Florestan Fernandes (1920-1995), patrono da sociologia brasileira, enfatizava que a “educação é o mais grave dilema brasileiro. A sua falta prejudica da mesma forma que a fome e a miséria, ou até mais, pois priva os famintos e miserais dos meios que os possibilitem a tomar consciência de sua condição, dos meios a aprender resistir”. E deixava claro que não se trata de qualquer educação, mas a que educação de qualidade social e emancipatória das classes populares.

Há um ano, após o fim de um difícil processo eleitoral, com a vitória do candidato petista, única opção viável para derrotar um projeto antidemocrático, negacionista e irresponsável, boa parte da população brasileira anseia pela reconstrução de várias políticas públicas que retrocedemos desde 2016.

Esta esperança ainda nos move, até porque, como afirmava Paulo Freire, a esperança não é um capricho de teimosia, mas um imperativo categórico histórico e ontológico de todo ser humano.

No âmbito federal, algumas medidas e políticas foram anunciadas, especialmente para a educação básica, tais como o Compromisso Nacional Criança Alfabetizada, que prevê o fomento a um regime de colaboração entre União, estados e municípios; o Programa Escola em Tempo Integral, instituído pela lei nº 14.640 de 31 de julho de 2023, que visa fomentar a criação de matrículas em tempo integral em todas as etapas e modalidades da educação básica, na perspectiva da educação integral; a Estratégia Nacional de Escolas Conectadas, com investimentos de R$ 8,8 bilhões para universalizar a conectividade das escolas públicas de educação básica até 2026, entre outras ações.

Além dessas políticas estruturantes para a educação básica, tivemos avanços no tema de equidade, a começar pela reestruturação da Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão, extintas no governo anterior.

Para o ensino superior foi aprovada a Lei de Cotas e revisões e discussões iniciais sobre a Educação a Distância (EaD), Formação de Professores e a convocação da Conferência Nacional de Educação (Conae) para janeiro de 2024.

Porém, poucas ações estruturantes foram pensadas em 2023 para a complexidade de desafios no campo educacional e social.

Ainda no âmbito federal, o ritmo está muito lento do ideal. Para o ensino médio, outra etapa estratégica da educação nacional e das pautas das juventudes, é preocupante a dificuldade de enfrentar e reverter as reformas impostas com o “Novo Ensino Médio” (NEM) e as BNCCs para educação básica e BNC –formação professores entre 2016-2018.

Entregar a relatoria ao Projeto de Lei enviada pelo executivo atual ao ex-ministro da educação responsável pela reforma do novo ensino médio em 2016, através de uma Medida Provisória, é mais que uma evidência do quanto o atual Congresso, alguns gestores do MEC, Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed), as fundações e os institutos empresariais estão influenciando na revisão e implementação de políticas do atual governo.

Nesta perspectiva de manter a reforma do novo ensino médio, as juventudes brasileiras terão um ensino médio desqualificado, com apenas 1,8 mil horas ou 2,1 mil horas de formação básica geral, completando esta etapa fundamental de sua formação básica, com um “cardápio” de cursos básicos de (des)qualificação profissional de qualquer coisa, visto que o novo ensino médio aceita tudo, como cursos O que rola por aí?Educação Financeira – Torne-se um milionárioRPG – conquistadores de mundoMeu mundo, Meu futuro: Me ajuda a construir?Quitutes da nossa terra – todos aceitos pelos sistemas de ensino.

Porém, o maior interesse dos estados com o novo ensino médio, tão defendido pelo Consed é a redução dos investimentos na educação básica por meio da não realização de concursos públicos para docentes e técnicos administrativos, manutenção e ampliação dos contratos temporários precários nas redes de ensino e, a terceirizando 40% do currículo do ensino médio parcerias público-privadas para oferta dos cursos citados anteriormente.

O segmento das grandes empresas, por meio de suas fundações e institutos empresariais, articulados com o Consed, controlam o orçamento público da educação e orientam os investimentos de acordo com seus interesses, inclusive manipular e doutrinar os estudantes.

No âmbito do legislativo, seja no Congresso Nacional, seja nas assembleias legislativas estaduais e câmaras de vereadores, os ataques e a pauta educacional conservadora prosseguem e, até se intensifica.

Um mapeamento sobre a “Educação sob ataque no Brasil” em curso pela Campanha Nacional pelo Direito à Educação revela que tivemos nos últimos anos 1.993 proposições legislativas, das quais 1.319 (66,2%) correspondem a legislação estaduais e 674 (33,8%) à legislação federal.

E do que tratam essas proposições? Versão sobre a escola sem partido (9,95), doutrinação (7,9%0, Censura (5,5%), Perseguição (6,7%), afastamento (0,4%), demissão (1,6%), correspondem a 32% das preocupações e proposições legislativas federais.

Recentemente, na Câmara de vereadores de Manaus foi aprovado que a Bíblia é um instrumento pedagógico a ser utilizado nas escolas e, em várias assembleias legislativas, como a do Rio Grande do Sul, é discutida a manutenção das escolas cívico-militares.

Quem está trabalhando e pesquisando nas ciências da educação, sabe que temas não são nem prioritários nem os reais problemas da educação brasileira.

Legisladores e gestores deveriam questionar por que não executaram o Plano Nacional de Educação (2014-2024), os Planos Estaduais de Educação (2015-2025) e os Planos Municipais (2016-2026) para melhor planejarmos os próximos planos a partir de 2024.

Sem uma avaliação séria e um diagnóstico efetivo em conjunto com a sociedade gaúcha referente a educação na última década, a Assembleia Legislativa do RS e o governo estadual estão empenhados em aprovar um novo marco legal para a educação do Estado, em caráter emergencial no apagar das luzes do ano letivo vigente, como se já não existisse um marco legal no país e no estado, descumprido pelos próprios proponentes.

O denominado novo marco legal para a educação gaúcha, na verdade, é uma pauta de cinco medidas que favorece os próprios interesses dos gestores atuais no exercício da gestão, em detrimento de medidas que efetivamente melhores a qualidade da educação em nosso estado.

Vejamos as propostas que estão em pauta no legislativo:

– PEC 299/2023: altera os artigos 199, 211, 214, 215 e 216 da Constituição Estadual retirando a responsabilidade do Estado do RS pelo oferecimento do Ensino Fundamental, mesmo sendo notória a incapacidade dos municípios pela sua oferta considerando o contexto histórico de desenvolvimento da educação no RS;

–  PL 517/2023: institui o Marco Legal da Educação, que nada de novo apresenta, visto que tudo que anuncia já está previsto na legislação educacional brasileira e gaúcha, em descumprimento e descontinuado pelas sucessivas gestões, principalmente, na última década;

– PL 518/2023implanta sérias alterações na composição, no funcionamento e nas atribuições do Conselho Estadual de Educação (CEEd-RS), órgão mais autônomo, plural e democrático do Brasil. O objetivo principal é submetê-lo ao poder executivo;

–  PL 520/2023: prevê alteração da Lei 11.123/1998, que dispunha sobre a Educação Profissional, visando “modernizar a legislação e promover a inclusão produtiva dos estudantes a nível profissional e técnico”, reforçando a Cede lógica do NEM, ou seja, jovens pobres não devem sonhar com a formação superior nas universidades e permanecerem cursando itinerários de qualificação profissional;

Por este conjunto de iniciativas e ataques à educação, aos órgãos democráticos, às escola, às universidades, aos professores e funcionários públicos, estamos concluindo mais um ano com poucos avanças na educação devido ao contra-ataque do campo conservador derrotada na última eleição presidencial, com apoio das gestões neoliberais que priorizam o controle, as avaliações de desempenho, a redução do investimento público e a privatização da educação básica e superior por meio de vários mecanismos.

Mas vários movimentos de resistência e luta democrática estão na rua defendendo a democracia, a educação pública de qualidade, a formação e valorização da carreira docente no Brasil.

Um bom exemplo foi a realização do IX Encontro Nacional das Licenciaturas (Enalic), do VIII Seminário Nacional do Pibid e do III Seminário Nacional do Programa Residência Pedagógica na Univates, em Lajeado, entre 6 e 8 de dezembro.

Neste encontro das licenciaturas, 8,6 mil pessoas se cadastraram, mais de 1,7 mil estiveram presencialmente, de todas as regiões do Brasil, com mais de 5 mil trabalhos submetidos. Foram 2.755 de pesquisas, 755 comunicações científicas e 2 mil relatos de experiências.

Onde há reflexão, debate, participação e luta, há esperança por uma educação pública de qualidade social emancipatória dos estudantes e das classes populares.

Autor: Gabriel Grabowski, professor e pesquisador. Também escreveu “Unesco alerta sobre uso excessivo de tecnologias educacionais”: https://www.neipies.com/unesco-alerta-sobre-uso-excessivo-das-tecnologias-educacionais/

Edição: A. R.

Caminho de cercas – um livro e tanto…

Quando leio nossos autores, fico a pensar: este texto será lido daqui a cem anos?
Muitos não me dão a certeza. Fabrício Bastos com seu “Caminho de cercas” me deu
esta convicção.

Foi a Vera Ione Molina que me passou o livro de Fabrício Bastos, Caminho de cercas. De cara, a capa (de Maria Bastos) me chama a atenção, uma foto de uma árvore quase solitária. Tons de cinza que me fazem pensar no conteúdo, antes da leitura, e depois também.

Um livro bem composto, pelo Prym da Editora Bestiário. Tem revisão da Vera Ione, com apresentação da Lélia Almeida, que dá a dimensão da profundidade grandeza do que vamos ler, por um autor leitor e exímio artista da palavra, um tanto machadiano. Já seria tudo isso muito bom, antes da leitura. E foi melhor ainda poder ler o texto de Ondina Fachel Leal que me leva a seu “Os gaúchos”. E Fabrício consegue nos falar de alguns deles e de outras personagens bem talhadas da urbe também.

Se me fosse dada a tarefa de compor os Melhores Contos Brasileiros eu já tinha certeza de incluir, é claro, Simões Lopes Neto e Darcy Azambuja (que poucos conhecem). Agora teria a certeza de colocar um do Fabrício Bastos, talvez demorasse na decisão entre Notícia do Campo ou Adágio.

Fabrício é um contista de mão cheia, e Caminho de cercas é um livro e tanto.

Fica difícil acrescentar algo mais, depois que você ler o que dizem dele a Lélia Almeida, consagrada contista e romancista, que conviveu com ele, e a Ondina Fachel Leal, que estudou e entendeu a alma do homem da pampa, da fronteira.

Também é necessário falar da narrativa, pois o autor mescla falas, “plausíveis realidades” com fantasias, sem medo de expor a alma, os desejos, os sentimentos das personagens que se sustentam na sua complexidade, imitando seres reais, porque as pessoas têm estes sentimentos todos que muitas vezes os autores não aliançam. Em alguns momentos, passagens me fizeram lembrar do Reynaldo Moura e seu Romance no Rio Grande.

Há contos no qual trata das relações familiares e de encontros que são um primor, pois, com sutilezas, com frases que mais soam um pensamento filosófico ou psicológico, vão mostrando o que somos, o que pensamos, o que pensamos e não expressamos.

Quando leio nossos autores, fico a pensar: este texto será lido daqui a cem anos? Muitos não me dão a certeza. Fabrício Bastos com seu “Caminho de cercas” me deu esta convicção.

Autor: Adeli Sell, professor, escritor e bacharel em Direito. Também escreveu “Areté, virtude, excelência.

https://www.neipies.com/arete-virtude-excelencia/

Edição: A. R.

Direitos Humanos: porque são imprescindíveis

Já é por demais sabido que o ideário dos Direitos Humanos cumpre um papel histórico e político, junto com a construção democrática. Ao longo do tempo, desde suas intenções iniciais expressas na Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, promulgada em 1789, ao tempo da Revolução Francesa, inúmeras foram as alterações realizadas nesse ideário.

O alargamento de visões, a amplitude de questões, em que foram pleiteados novos direitos, teve uma remodelação significativa, debatida na Assembleia da ONU, reunida na Carta em 1948, com o título Declaração Universal dos Direitos Humanos.

Atualmente, os direitos são acrescidos de novos avanços à medida em que a sociedade se repensa nas diversidades e singularidades e postula novos significados e compreensões na esfera dos direitos, em que a Vida seja preservada, sempre!

Se estamos pensando em direitos em uma democracia plena, é óbvio que pensemos em uma sociedade plural. Essa questão aponta para a democracia como o fato da razão política, enquanto relação intersubjetiva de poder. É a configuração de uma sociedade em que as pessoas se estabeleçam como interlocutoras legítimas do poder social, nem sempre reconciliado com o poder político.

Há que superarmos uma forma idealizada de direitos humanos, concretizando ações face às urgências atuais de justiça, igualdade e liberdade. Assim se compõe a ideia de valor, de modo que uma vida boa e justa seja vivida por todas as pessoas. Este é o desafio atual cujo cuidado da vida humana, implica necessariamente em cuidar da vida do planeta.

Ilustração: Alisson Afonso.

Instagram: https://www.instagram.com/affonso.alisson/

Autora: Cecilia Pires. Também escreveu crônica “O pensar da criança”: https://www.neipies.com/o-pensar-da-crianca/

Edição: A. R.

Estudante Êmily: conhecimentos para pensar futuro do Planeta e humanidade

Como professores e professoras, incentivadores/as continuaremos enaltecendo o potencial de cada um dos nossos alunos, dizendo todos os dias o quanto são capazes, são especiais, são queridos e amados, para que realizem os seus sonhos e sintam-se acolhidos pelo conhecimento. (Professora Ana Paula Pedroso)

A estudante Êmily Risson Zanella, da EMEF Dom José Gomes, da rede municipal de Educação de Passo Fundo é uma das estudantes selecionadas para participar da Missão Educadora, projeto da Secretaria Municipal de Educação de Passo Fundo. Ela representa a área de Conhecimento Ciências da Natureza.

Os 05 estudantes da rede municipal de Passo Fundo vão representar Passo Fundo na próxima Missão Cidade Educadora, apresentando projetos da cidade para outros lugares do mundo. Em 2024, estes estudantes participarão de uma viagem à Suíça. Os estudantes selecionados são de sétimos anos, se prepararam durante o ano todo e obtiveram o melhor desempenho em cada área do conhecimento em suas escolas, participando, por fim, de um hackathon durante o Festival de Ciência, Inovação e Tecnologia (FECIT).

Destacamos o protagonismo dos estudantes e a construção de conhecimentos, apoiados por seus professores e professoras e pelas direções e coordenações das escolas. Este reconhecimento representa todo o empenho e trabalho dos professores e das professoras de Ciências da Natureza que atuam em nossa rede municipal de Passo Fundo, RS.

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A estudante Êmily explica o que viveu neste processo de seleção para o qual se preparou e com disposição, alimentando um sonho seu.

“Este prêmio para mim, foi uma grande conquista e esta oportunidade que a Prefeitura nos deu é incrível! Eu nunca imaginei que alcançaria uma conquista dessas… Tenho muito orgulho de mim e isso me fez perceber que quando você vai atrás de seus sonhos, você ultrapassa barreiras!”

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A mãe Agnes Risson reconhece o mérito de sua filha e manda um recado importante aos pais e mães de estudantes.

“Agradeço imensamente esta oportunidade única de incentivo aos estudos que a Prefeitura de Passo Fundo oferece aos seus alunos da rede municipal de ensino, através da missão ” Cidade Educadora”. Eu, como mãe de uma das alunas vencedoras, só tenho a agradecer pela filha dedicada e estudiosa que Deus me deu. E como mãe, gostaria de deixar uma dica:  deem tempo de qualidade aos seus filhos, pois eles querem e precisam de amor e atenção! E mostrem a eles que a educação é o melhor caminho para o futuro!”

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O coordenador pedagógico Jonas Antonio Cantu destaca a caminhada da estudante na escola.

“A dedicação e a força de vontade da Emily durante a caminhada de Êmily como estudante na escola Dom José Gomes são evidentes e sua premiação foi uma consequência por tudo o que ela se doa aos estudos e à sua formação”.

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A diretora Veridiana Giaretta Miotto destaca que foi gratificante participar da Missão Cidade Educadora, pois conseguimos auxiliar, incentivar e oportunizar às crianças a mostrarem suas capacidades e a ter novas experiências.

Os alunos participantes se dedicaram ao máximo e a nossa aluna vencedora Emily foi merecedora desta premiação devido a todo o seu empenho e dedicação ao longo de sua caminhada escolar. Também acho importante destacar o apoio dos pais que a incentivaram muito”.

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A professora Professora Ana Paula Pedroso, que acompanhará a estudante Êmily na viagem à Suíça reflete sobre a importância dos professores e professoras para o despertar das potências e das habilidades em cada um e em todos os estudantes, bem como coloca alguns desafios para educação contemporânea.

“A Educação é a essência emocional e intelectual que impulsiona os sonhos e trilha caminhos na evolução do ser humano. Além das trocas de conhecimentos com os estudantes, acredito que em mundo tomado pela violência e pelo obscurantismo, o fundamental está no desenvolvimento das habilidades de ser empático e de fato humano.

O Ubuntu nos ensinou que a cooperação é a mais bela escolha, porém está distante da realidade contemporânea, portanto, lidar com a competitividade é um desafio imenso para a Educação atual.

Fazer parte das conquistas dos nossos alunos é muito emocionante enquanto professora idealista que sou, estou feliz em ver o brilho no olhar especialmente da Êmily que é uma aluna estudiosa e dedicada, também o entusiasmo dos demais estudantes.

Como incentivadores que somos enquanto profissionais da área da Educação, (a mais linda e importante profissão intelectual, pois somente ela é capaz de gerar todas as outras profissões existentes no Planeta Terra), continuaremos enaltecendo o potencial de cada um dos nossos alunos, dizendo todos os dias o quanto são capazes, são especiais, são queridos e amados, para que realizem os seus sonhos e sintam-se acolhidos pelo conhecimento.

Agradecemos e parabenizamos a SME pela Missão Cidade Educadora que está oportunizando a experiência de novas culturas e saberes”.

Em 02/12/2023, editamos matéria com estudante Bernardo Micheletto, da EMEF Zeferino Demétrio Costi, selecionado pela área de conhecimento Ciências Humanas. Leia também: https://www.neipies.com/estudante-bernardo-orgulho-da-familia-e-da-escola/

Fotos: Divulgação EMEF Dom José Gomes/arquivo pessoal Ana Paula Pedroso.

Edição: A. R.

Por um tempo não vivi

Por um tempo não fui eu. Por um tempo não vivi.

Por um tempo, tentei viver como as pessoas “normais”. Segui regras. Amarrei, escondi minhas asas. Tentei crer em promessas estúpidas. Esforcei-me para olhar na mesma direção que todos os outros olhavam. Sufoquei meu coração para doutriná-lo em questões lógicas e em porquês infames e degenerados.

Por um tempo, usei óculos, para enxergar “longe”, igual à maioria. Caminhei olhando para o chão, sempre ignorando as formiguinhas que iam e vinham sob meus pés. Passei a ignorar também as estradas solitárias, as noites escuras, as madrugadas com cantos de pássaros estranhos seguidas de auroras enviesadas.

Por um tempo, parei de conversar com fantasmas. Não evoquei nenhum demônio, não dialoguei com anjos, não fiz rezas para nenhum deus. Guardei em gavetas os crucifixos da casa e joguei todas as velas no lixo. Não procurei mortos no cemitério, não cantei em línguas estranhas nem me embriaguei com ambrosia.

Por um tempo, não deixei que minha visão se perdesse da sacada em direção a outros mundos, repletos de luzes multicoloridas e pensamentos esvoaçantes. Prendi em uma gaiola os pássaros da minha imaginação e ignorei quando eles sentiram sede de voo. Com um bisturi, cortei a ligação dos meus pulsos com o meu coração.

Por um tempo, anulei minhas cores e me fiz do jeito que me queriam — cinza. Ensaiei discursos, decorei falas. Caminhei tão certinho, sempre pela calçada, seguro e acompanhado por toda a gente.

Por um tempo não fui eu.

Por um tempo não vivi.

Autor: Aleixo da Rosa, autor da crônica “Pensar é para todos”: https://www.neipies.com/pensar-e-para-todos/

Edição: A. R.

Uma vida dedicada ao trabalho em um hospital

Uma das missões que procuramos desenvolver neste site é contar ou repercutir boas e interessantes histórias. A história que segue contada é de Arnaldo Dalchiavon, um menino que, desde seus 13 anos, trabalhou num importante hospital da região norte do RS: o HSVP (Hospital São Vicente de Paulo).

Acompanhamos sua trajetória há 25 anos. Reconhecemos sua humildade, sua generosidade, sua forma singela e particular de ajudar muitas pessoas que buscam serviços de saúde e também seus serviços profissionais exercidos neste hospital há mais de 52 anos.

Repercutimos matéria produzida pelo serviço de Comunicação Social do Hospital São Vicente de Paulo.

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“Após 52 anos e 62 dias de trabalho e dedicação ao Hospital São Vicente de Paulo, nesta semana o colaborador Arnaldo Dalchiavon encerrou sua trajetória profissional na Instituição em um encontro de despedida marcado por homenagens e boas lembranças, com a presença de ex-colegas e equipe de diretores. 

Sua história no HSVP começou a ser escrita no dia 1º de outubro de 1971, quando ainda era pré-adolescente. No início exerceu atividades em diferentes setores, mas foi na radiologia que ele se encontrou profissionalmente. Das mais de cinco décadas de trabalho, 44 foram como técnico na área. Em 2016, Arnaldo tornou-se protagonista do livro O filho do Hospital, obra escrita pelo cirurgião vascular Ronaldo André Poerschke. Leia mais: https://hsvp.com.br/post/1474/livro-o-filho-do-hospital-e-inspirado-na-humanizacao

Após a entrega de uma placa de agradecimento, o presidente José Miguel Rodrigues da Silva fez questão de exaltar o quanto Arnaldo é um exemplo a ser seguido. “Nos sentimos felizes em prestar essa homenagem a cada um que está cumprindo sua missão exercida com muito amor dentro do Hospital. Pessoas como o Arnaldo são exemplos a serem seguidos na sociedade. Desejo, em nome da diretoria, que esse novo ciclo que se inicia lhe traga ainda mais realizações”, frisou o presidente.

Créditos: Liliane Ferenci – Comunicação HSVP

Edição: A. R.

Um novo Natal para pensar

Ser feliz em tempos de natais repetidos ou enfadonhos, onde se troca a essência por subsistência, orações por presentes, dar e receber votos superficiais, nem de longe representa o verdadeiro espírito de Natal.

Estamos na melhor época, para enviar e receber mensagens, as mais variadas, como desejos de paz, alegria, algumas muito sinceras, outras nem tanto.

Tudo parece feliz, nestes dezembros febris.

Mas, se formos ao limite de nossas expressões, enviamos e recebemos palavras que nos contradizem o tempo todo.

Ser feliz em tempos de natais repetidos ou enfadonhos, onde se troca a essência por subsistência, orações por presentes, dar e receber votos superficiais, nem de longe representa o verdadeiro espírito de Natal.

Se estamos plenos do respeito ao próximo, bem-estar por pertencer a uma sociedade que respeita animais e plantas, que cuida e preserva o meio ambiente, então este será um novo natal.

Mas é isso mesmo o que vemos?

Aliás, poderia haver Natal feliz, sem o mais absoluto respeito à natureza e a tudo o que nos cerca? Não seria esta a mais viva expressão da criação de Deus? Porque continuada a sua destruição, logo não teremos sequer presépios para montar.

Começando por reciclar nossos pensamentos, é uma boa opção quando ouvimos nossas religiões dizerem que somos eternos e que o nosso paraíso não é aqui. Por quais razões deveríamos zelar pelo nosso entorno, preservar o meio que nos sustenta, se nossa casa fica em outro lugar? Haverá um céu distante que nos aguarda, depois de destruirmos o que nos foi dado?

Creio que Céu nenhum!

Este é o momento em que a sustentabilidade passa a ser um valor Cristão como os demais, por que preserva, por que não descarta, não destrói, por que faz retornar bens e objetos, que teriam como destino certo a vala do esgotamento de recursos em que a Terra nos oferece.

Ser sustentável, portanto, não seria uma forma de estar mais próximo à Deus?

Reflita em sua vida o quanto sustentável são seus gestos e ações e converta-se a causa, para um ideal de um novo homem, alinhado com o próprio Cristo, filho do Criador de tudo e a quem todas as folhas e gotas de chuva são de seu conhecimento.

Assim como o nascimento do seu filho nos remete a um novo ciclo de vida, da mesma forma é possível reiniciar, refazer, retornar, recomeçar, tudo o que nos foi confiado por Ele, pelo cuidado com a natureza e pela proteção e gratidão, a todos aqueles que a cuidam.

Converta-se à sustentabilidade, portanto!

Antes de tentar salvar o mundo, salve o que o mantém vivo em sua casa, o meio ambiente ao seu redor, o verde que o cerca.

Revisite seus pensamentos, não os resista, não os negue, apenas faça-os mostrar e os apresente ao seu próximo, mais próximo, convencendo-o a preservar a nossa aldeia, nosso planeta, que já demonstra cansaço com seus inquilinos.

E não espere pela sua segunda vinda, se assim o crê, destruindo o que nos foi confiado. Antecipe-se, renove-se. Ajude a preservar o ar em que você respira para que na volta de Cristo Ele possa o respirar igualmente.

Mas se você o aguardar de verdade, em primeiro lugar, coopere com o ambiente, preserve a sua volta, sendo um bom convidado à vida, o que de fato você é. Um aliado da natureza e não o seu algoz.

Amar o meio ambiente sobre todas as coisas…

Lute para que este mandamento não se torne o mais importante, sem demora, em nome da sobrevivência da humanidade.

Seja um cristão sustentável por inteiro!

Se possível, um feliz natal!

Autor: Nelceu Zanatta, autor da crônica ‘Há ódio demais, há terror e mísseis demais. Temos de parar esta guerra. Comecemos rezando?”: https://www.neipies.com/ha-odio-demais-ha-terror-e-misseis-demais-temos-de-parar-esta-guerra-comecemos-rezando/

Edição: A. R.

Eu e os da minha geração

Eu

e os da minha geração

caminhamos.

Caminhamos

e já não me sinto tão só.

Eu

e os da minha geração.

Avançamos em direção

a um futuro incerto

que nos espreita

ao derredor

nos agarra pelo pescoço

ao dobrar de uma esquina

ao entrever um rosto na multidão

ao responder ao acaso

alguém que nos acena

e já não sabemos quem é.

Alguém que não víamos há

cinco

dez

vinte anos

e que só reconhecemos

porque uma cumplicidade mais profunda

nos aproxima:

envelhecemos juntos.

Eu e os da minha geração.

Criamos filhos.

Suportamos privações.

Tivemos alegrias e derrotas.

Avançamos e desistimos.

Deixamos alguém para trás

e voltamos a encontrar.

Eu e os da minha geração.

Andamos juntos

até o momento derradeiro

que a todos vemos se acercar.

Em especial

a mim

e aos da minha geração.

Autor: Julio Perez, autor da poesia “Meus filhos, os poemas”: https://www.neipies.com/meus-filhos-os-poemas/

Edição: A. R.

A mulher do concerto

Sabe, a arte é para ser sentida. E quando você troca o seu presente, por uma filmagem para ver, quem sabe, em um futuro, você perde o agora. Se for para ver um concerto por uma tela, você não precisa estar aqui, pode poupar gasolina e reduzir as emissões de dióxido de carbono, assistindo de casa!

Helena estava refletindo o quanto uma letra tem o poder de mudar o sentido de uma frase.

Por exemplo, se você é como eu, e não gravou ainda a diferença entre conserto e concerto, talvez a sua mente tenha viajado para uma oficina mecânica e teorizado a respeito do direito das mulheres serem o que elas quiserem ser, inclusive mecânicas!

Mas, se a sua onda não for tão feminista, ou se você é um indivíduo devidamente aportuguesado, presumo que já tenha associado a ideia do título com o que de fato pretenderia ser: a mulher do concerto, assim, com “c”, que representa aquele conjunto de gente tocando junto, guiados pelo cara que fica dançando de costas para nós!

Enfim, Helena foi a um desses concertos, de graça na catedral. Uma pausa para deixar um parabéns aos organizadores, porque sim, o mundo precisa de mais eventos como esses.

Legenda: Com a regência do maestro Evandro Matté, o concerto da Ospa Teatro São Pedro contou com a participação dos solistas Kauanny Klein e Sérgio Sisto neste útlimo dia 01/11/2023. Créditos: Mateus Leal / Agência RBS

Eles marcaram às 19h, meio cedo para a rotina de Helena e em função disso, ela chegou atrasada. Não, não era porque ela queria tomar banho antes de ir, na verdade ela foi sem tomar banho mesmo! Ultimamente, não dava tempo. Era uma correria dos diabos.

Chegando na catedral, Helena sentou onde tinha espaço (lá atrás, sem poder ver muita coisa). Até que ela foi um pouquinho para o lado, e entre muitas cabeças, Helena encontrou um vão que dava acesso direto as costas do maestro! Ótimo, já estava bom, até que…

A mulher sentada no banco da frente resolveu puxar o seu smartphone e gravar, cobrindo o ângulo de Helena.

Respira, pensou Helena. Ela não vai gravar tudo, é só uma recordação. Aquilo seguiu em alternâncias de baixar o celular e levantar o celular a cada música.

Moça, com licença – sussurrou Helena

Posso lhe fazer uma pergunta?

Com ar de surpresa e indignação, a mulher respondeu: sim!

Depois de gravar, você tem o hábito de rever as filmagens, ou deixa salva até o seu celular alegar que não tem mais memória, e então, exclui tudo?

Sem tempo para retorno, Helena já emendou. Sabe, a arte é para ser sentida. E quando você troca o seu presente, por uma filmagem para ver, quem sabe, em um futuro, você perde o agora. Se for para ver um concerto por uma tela, você não precisa estar aqui, pode poupar gasolina e reduzir as emissões de dióxido de carbono, assistindo de casa!

Depois daquilo, ficou aquele clima de peido no ar.

A mulher se voltou para o concerto, revoltada, e continuou gravando. Até que a reflexão pareceu ter sido processada pela sua consciência e ela foi deixando aos poucos àquele péssimo hábito. Três músicas sem levantar o celular. Vitória! A reflexão tinha surtido efeito.

Um pouco antes do concerto acabar, Helena resolveu levantar e sair de fininho. Vai que a mulher resolvesse querer consertar o estrago que o concerto causara nela no final!

Autora: Ana P. Scheffer, autora da crônica “Não está tudo bem”: https://www.neipies.com/nao-esta-tudo-bem/

Edição: A. R.

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