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Magistério: uma carreira em extinção?

Os Congressos dos Professores Municipais de Passo Fundo sempre são um momento ápice de uma discussão ou problematização que a categoria dos professores e professoras faz em cada momento histórico.

Na última quarta-feira do mês de agosto (30), o VIII Congresso dos Professores Municipais de Passo Fundo tentou responder a pergunta tema do encontro deste ano: “Magistério: uma carreira em extinção?”

Os palestrantes, Vereadora Professora Regina, o psicanalista Francisco dos Santos Filho e os professores Altair Fávero e Rafael Torres, debateram o tema com os docentes da rede municipal sob aspectos políticos, pedagógicos, laborais e de saúde da carreira do magistério.

Durante o dia, nos turnos manhã e tarde, vários pontos relevantes foram levantados e destacados, com o intuito de responder o questionamento, como o fato de a crise na educação no país ser um projeto, a necessidade de mobilização da categoria para tentar barrar os ataques ao plano de carreira, a urgência da valorização da profissão docente, a preocupação com o processo de sofrimento psíquico presenciado no magistério atualmente, entre outros.

Mediação das mesas de debates

Mediar os debates do VIII Congresso dos Professores Municipais de Passo Fundo realizado no dia 30/08/2023 foi uma das tarefas que fiz com alegria, satisfação e responsabilidade. Confesso que, ao olhar e observar este evento do lugar mais nobre (mesa de debates) pude perceber que este foi capaz de nutrir as esperanças de tanta gente que, além de bonita, ousa erguer as cabeças no meio do rebanho para afirmar a dignidade da profissão docente e lutar pelos direitos de nossa profissão.

Alguns apontamentos e considerações:

Os Congressos dos Professores Municipais de Passo Fundo sempre são um momento ápice de uma discussão ou problematização que a categoria dos professores e professoras faz em cada momento histórico.

Os temas e temáticas que são abordados nos congressos tem a finalidade de motivar, mobilizar, discutir e apontar rumos da organização política e sindical para o enfrentamento das questões mais urgentes do magistério.

Este Congresso suscitou perguntas: por que somos tão pouco valorizados? Por que nos impõem tanta burocracia, tanto trabalho que sufoca nossa essência pedagógica? Será que estamos mesmo em extinção, tendo em vista estudos sobre um apagão na docência?

A opção do CMP Sindicato para a problematização destas questões foi escolher professores e professoras parceiros das lutas pela afirmação da dignidade docente e da valorização profissional. O Sindicato aposta na reflexão e ação de professores para professores, pois estão mais próximos da realidade e podem melhor problematizá-la.  

A nossa resistência significa a nossa existência. Todo tipo de ataques à escola pública e aos direitos dos professores e professoras são injustificáveis. Apesar de terem perdido força movimentos que atacavam a profissão docente como o Homescholling e Escola sem Partido, os professores e professoras continuam sendo atacados e mal tratados com sobrecarga de trabalho, excesso de planejamentos, retirada de direitos e o não pagamento de seu piso salarial.

O VIII Congresso dos Professores Municipais de Passo Fundo fez um duplo movimento na sua organização e discussão, colocando a importância da luta política e organizativa e a importância dos conhecimentos acadêmicos sobre o tema. Neste sentido, os painéis da manhã e da tarde tiveram falas de sindicalistas e de especialistas/estudiosos da academia.

Os desafios são imensos para a categoria dos professores e professoras.

Para além de suportarem condições cada vez mais complexas e adversas em suas salas de aula, estão sendo convocados para lutarem pelo reconhecimento de sua função na sociedade e para barrarem as ameaças constantes que retiram direitos e ameaçam o seu plano de carreira. Estão sendo convocados a resistir e lutar contra a mercantilização da educação, onde são vistos como meros repassadores de conteúdos prontos (exemplo mais recente em São Paulo).

O VIII Congresso dos Professores Municipais de Passo Fundo afirma a necessidade de lutas cada vez mais organizadas e combativas, para que professores e professoras sejam mais ouvidos/as e mais valorizados/as, com vistas à qualidade social da educação pública. Este congresso cumpre também com uma grande tarefa de um Sindicato de professores e professoras: a formação crítica e política sobre os temas e sobre os interesses que envolvem a educação.

A pergunta do Sétimo Congresso dos Professores de Passo Fundo, 2022, foi: “Cidades educadoras: o que temos a ver com isso?”. Confira: https://www.neipies.com/cidades-educadoras-o-que-temos-a-ver-com-isso/

Crédito fotos: João Lucas da Silva

Autor: Nei Alberto Pies, diretor de Formação do CMP Sindicato e mediador dos debates do VIII Congresso dos professores municipais de Passo Fundo

Edição: A.R.

 

Escutar a juventude deve ser uma metodologia de escola

Estas sinopses de estudantes, que seguem publicadas, intencionam convidar mais professores e professoras e estudantes, principalmente de escolas públicas do Brasil, para que vejam, discutam e trabalhem, em sala de aula, o documentário “Nunca me sonharam” e possam também refletir sobre sonhos, possibilidades e superação de dificuldades a que estão sujeitos todos os adolescentes e jovens.

Escrevo esta matéria com o objetivo de reforçar o alerta já anunciado por muitos estudiosos e especialistas, ao longo dos últimos anos: a necessidade de promovermos uma educação no Ensino Médio que valorize os estudantes, fazendo-os protagonistas dos seus conhecimentos e de suas histórias. Escrevo também para relatar uma prática pedagógica com estudantes do Ensino Médio onde estes foram provocados a produzir conhecimentos a partir do Documentário “Nunca me sonharam”.

Em novembro de 2020, passei a compor a equipe de Redatores do Referencial Curricular Gaúcho do Ensino Médio (ver aqui: https://educacao.rs.gov.br/upload/arquivos/202111/24135335-referencial-curricular-gaucho-em.pdf), com 20 horas semanais de minha carga horária dedicadas, exclusivamente, à escrita do documento, até o final do ano de 2022. Foi uma experiência incrível, com muito conhecimento e aprofundamento de conceitos sobre educação e os desafios de implantar um novo desenho do Ensino Médio, agora contemplando a Formação Geral Básica e os Itinerários Formativos.

Foi justamente neste início de trabalho como redator do Referencial Curricular Gaúcho que me foi apresentado o Documentário “Nunca me sonharam’, do diretor Cacau Rhoden (veja aqui: https://www.youtube.com/watch?v=aE2gOo9rW1w).

Encantei-me com as diversas perspectivas, possibilidades e olhares sobre as juventudes e sobre os desafios de uma educação mais interessante para eles, os jovens do Ensino Médio. Ao voltar para sala de aula, em meados de 2023, com turmas de segundo ano do Ensino Médio, em aulas do componente curricular Projeto de Vida, fiz deste documentário um material de apoio e suporte às reflexões sobre as escolhas dos jovens frente às suas diferentes realidades.  

Combinei com estes estudantes do segundo ano do Ensino Médio do Instituto estadual Cecy Leite Costa que construiríamos um “produto final” depois das análises e discussões do Documentário: a construção de sinopses.

Estas sinopses, que seguem publicadas, intencionam convidar mais professores e professoras e estudantes, principalmente de escolas públicas do Brasil, para que vejam, discutam e trabalhem, em sala de aula, o documentário “Nunca me sonharam” e possam também refletir sobre sonhos, possibilidades e superação de dificuldades a que estão sujeitos todos os adolescentes e jovens.

Acredito, como disse uma professora que participou do Documentário, que “escutar a juventude também deve ser uma metodologia de escola”.

Confira o que escreveram os jovens estudantes sobre o Documentário “Nunca me sonharam”. Estas sinopses foram selecionadas entre os estudantes de 04 turmas do segundo ano do Ensino Médio do Instituto Estadual Cecy Leite Costa, do turno da Manhã.

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O documentário “Nunca me sonharam” explora o cenário da educação pública do brasil. Lançado em 2017, aborda a realidade das escolas públicas no país e dá voz a estudantes, professores e responsáveis, mostrando a falta de recursos e a importância da educação para o futuro dos jovens. Oferece uma visão crítica e reflexiva sobre o sistema educacional do país, além de destacar histórias inspiradoras de jovens que superam todo tipo de adversidades para construir um futuro melhor. (estudante Iasmin Soldá)

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“Nunca me sonharam” é um documentário que apresenta as dificuldades vividas por estudantes de escolas públicas brasileiras. O documentário é protagonizado por diversos membros das comunidades escolares como estudantes, coordenadores, diretores e diretoras, vistos em rotinas diárias que se passam numa escola e as implicações que estas tem em suas vidas pessoais. As dificuldades passadas: sociais, econômicas e mentais impedem, muitas vezes, estes jovens de realizarem seus sonhos. Mas a determinação destes transforma sonhos em realidade. As ideias e os sonhos dos jovens são retratados em todo o documentário, mostrando que, mesmo sem o apoio esperado e sonhado, seus sentimentos e vontades permanecem fortes. (estudante Artur B. Costa)

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O documentário retrata como é a realidade dos jovens estudantes do ensino médio de escolas públicas do Brasil, mostrando dificuldades sociais e econômicas que estes passam, evidenciando pontos de vista diferentes. Mostra também como a escola pode ter um papel importante e uma influência na vida dos jovens, acolhendo-os e incentivando-os, para que assim possam se permitir sonhar. (estudante Nicolas Ribeiro Lima)

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“Nunca me sonharam” é um documentário impactante. Com uma abordagem sensível e honesta, mostra as dificuldades enfrentadas pelos estudantes em busca de uma educação de qualidade. Além de depoimentos de estudantes, professores e especialistas, somos levados a refletir sobre os desafios enfrentados nas escolas públicas. Aparecem questões sociais como desigualdade e falta de oportunidades para jovens de comunidades carentes. “Nunca me sonharam” é uma obra indispensável para compreendermos a realidade educacional brasileira e refletirmos sobre possíveis soluções para transformar esta realidade”. (estudante Elisa R. Rezende)

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Dirigido por Cacau Rhoden, o documentário mostra, além das histórias contadas por estudantes de escolas públicas do país, uma denúncia de descaso com a juventude. Estas histórias são capazes de gerar identificação com a gente e com as injustiças socais pelas quais passa a juventude. O documentário é um misto de alegria e de espanto, denúncia e falta de cuidados com a juventude. Com tudo isso, ele se torna um material necessário para conscientizar a população do cuidado com as próximas gerações, tanto do mundo quanto do amado Brasil”. (estudante Amanda Costa)

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“Nunca me sonharam” retrata os sonhos dos jovens estudantes do nosso país. Histórias de jovens em realidades diferentes, pensamentos diferentes e sonhos muito parecidos. Apesar das dificuldades, os jovens não deixam de sonhar e pensar num futuro melhor. O documentário passa um pouco de esperança para os jovens, mas se olharmos a realidade de nosso país, a maioria desses jovens não conseguirá realizar seus sonhos. Isso é algo realmente deprimente e triste, mas não deixa de ser a realidade da maioria dos jovens. (estudante Maria Eduarda Weber)

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Amor por um futuro, é isso que o documentário traz, o desejo e a necessidade de se sonhar.

Documentário “Nunca me sonharam” traz à tona a vivência da juventude brasileira que tem muita dificuldade em sonhar ou ser sonhada. A experiência trazida no documentário demonstra o interesse os mestres pelos seus discípulos (dos professores pelos estudantes), incentivando que os mesmos sonhem e ultrapassem os limites da realidade onde vivem. Amor por um futuro, é isso que o documentário traz, o desejo e a necessidade de se sonhar. E você? Já se sonhou hoje? (estudante Francisco E. Teixeira Filho)

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“Nunca me sonharam” conta a realidade das escolas e dos jovens estudantes de hoje em dia, apresentando as lutas e as dificuldades que todos passam. O documentário também conta como o estudo pode e deve auxiliar os adolescentes e jovens na sua trajetória de vida, com esperança no futuro e nos seus sonhos, trazendo reflexão e emoção aos telespectadores, fazendo com que estes queiram assistir cada vez mais. (estudante Amanda Borges Mateus)

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“Nunca me sonharam” é um poderoso documentário brasileiro que explora o sistema educacional do Brasil através de histórias de estudantes, professores e comunidades. Revela os desafios e esperanças daqueles que lutam por uma educação de qualidade e mostra a importância de sonhar grande para alcançar um futuro melhor. Este inspirador documentário convida a refletir sobre a importância de uma educação inclusiva e de qualidade para todos os estudantes e nos motiva a sermos agentes de mudança no sistema educacional brasileiro. (estudante Jesús Ernesto Ramirez Gomez)

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O documentário retrata a realidade dos estudantes do ensino público, proporcionando reflexões sobre o pouco investimento e incentivo que os jovens recebem para dar conta dos desafios da educação e da busca por um futuro melhor. É possível compreender e identificar-se com as condições adversas e precárias relatadas no documentário, pois estas são, muitas vezes, o que causa desmotivação dos jovens para sua qualificação pessoal e profissional. (estudante Larissa Barrill)

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Sonho de um país mais justo e igualitário começa nas salas de aula.

É um documentário que aborda de forma emocionante e reveladora a realidade do sistema educacional brasileiro. Ele mergulha nas vidas dos estudantes, professores e especialistas, mostrando o impacto da educação em suas trajetórias. O documentário mostra a falta de recursos nas escolas, como também o poder que a educação tem para transformar vidas e romper ciclos de desigualdade. “Nunca me sonharam” é um poderoso documentário que alerta a todos da importância de investir na educação como forma de construir um futuro melhor para nosso país. Através de histórias reais e emocionantes, somos lembrados de que o sonho de um país mais justo e igualitário começa nas salas de aula. (estudante Leonardo Argenta Fortes)

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O documentário “Nunca me sonharam” apresenta adolescentes e jovens com pouca perspectiva e esperança de um futuro próximo, com poucos sonhos e planos. Retrata também a realidade da educação brasileira, pondo assim, em destaque, o porquê dos estudantes deixarem a escola. Contudo, mesmo com todos os problemas e desafios, cada estudante quer apenas encontrar um lugar para descobrir suas vocações e seus sonhos. Os jovens querem sonhar e ser sonhados. (estudante Laura Grando)

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O documentário dá vozes aos estudantes, professores e gestores, enquanto explora os desafios enfrentados pelo sistema educacional no Ensino Médio. Busca, também, mostrar a importância da educação como meio de transformação social e discute algumas questões como a falta de estrutura nas escolas, a desmotivação dos estudantes e a necessidade de valorizar o papel dos educadores e professores na formação dos jovens. (estudante Samuel Amorin)

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Este documentário brasileiro, lançado em 2017, destaca os desafios enfrentados por jovens e professores em escolas precárias e aborda temas como desigualdade, falta de recursos e importância da educação para o desenvolvimento do país. O documentário oferece um olhar crítico sobre a realidade e busca promover discussões para possíveis melhorias e soluções para a educação no Brasil. (Wesley Nunes M.)

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No documentário podemos observar as condições precárias que muitos adolescentes vivem, muitos com dificuldades de ir para a escola por causa da distância e de outras realidades de carência. Ao mesmo tempo, vemos os professores e professoras abordarem o que pensam destes jovens e da realidade vivida por eles. Apesar de levarem uma vida cheia de dificuldades, os adolescentes e jovens não desistem de sonhar. Muito antes, pelo contrário, sonham para alimentar uma visão boa de futuro. (estudante Marjory Badalotto)

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“Nunca me sonharam” traz um olhar profundo sobre a realidade das escolas públicas do Brasil, através do relato de histórias dos estudantes, funcionários e professores. O documentário explora os obstáculos de estudantes que buscam uma educação de qualidade, tendo que lidar com a falta de recursos, violência e dificuldades socioeconômicas. Ao mesmo tempo destaca o papel fundamental dos educadores e professores na vida destes estudantes para que não deixem de sonhar.

Estas sinopses, acima publicadas, intencionam convidar mais professores e professoras e estudantes, principalmente de escolas públicas do Brasil, para que vejam, discutam e trabalhem, em sala de aula, o documentário “Nunca me sonharam” e possam também refletir sobre sonhos, possibilidades e superação de dificuldades a que estão sujeitos todos os adolescentes e jovens.

Assista também:  Educação é um Direito | websérie Nunca Me Sonharam | Instituto Unibanco | LEG: https://youtu.be/FG23FkuTlz4?list=PLggyRMb5eNeK7Oq2NA-lRr2FWrdTeBl1-&t=140

 Créditos:

  1. Fotos dos estudantes do Instituto Estadual Cecy Leite Costa: Douglas Pereto/ https://www.instagram.com/cecynarede/
  2. Fotografias publicadas entre as sinopses: Divulgação/ Documentário Nunca me Sonharam: https://youtu.be/wNkB7RVXLJw?t=14

Edição: A. R.

Temos sede de amor, porque só o amor nos sacia verdadeiramente

“Continuemos a crescer juntos na fraternidade, como sementes de paz num mundo tristemente funestado por demasiadas guerras e conflitos”, saudação de Papa Francisco a irmãos e irmãs de outras confissões cristãs e religiões, durante homilia na Mongólia, em 03/09/2023.

“Trazemos dentro de nós uma sede inextinguível de felicidade; andamos à procura de significado e orientação para a nossa vida, de motivação para as atividades que realizamos cada dia. Queridos irmãos e irmãs, a fé cristã é resposta a esta sede”, disse Francisco em sua homilia.

O Papa Francisco celebrou a missa na “Steppe Arena”, neste domingo (03/09), em Ulan Bator, no âmbito de sua viagem apostólica internacional à Mongólia. Participaram da missa mais de duas mil pessoas, dentre as quais peregrinos das Filipinas, Vietnã e Camarões.

Francisco iniciou sua homilia, citando o Salmo 63 que diz: «Ó Deus, (…) a minha alma tem sede de Ti, todo o meu ser anela por Ti, como terra árida, exausta, sem água». A seguir, recordou que Jesus “nos mostra o caminho para ficarmos saciados: é o caminho do amor, que Ele percorreu até o fim, até à cruz”.  Depois, o Papa se deteve em dois aspectos: a sede que nos habita e o amor que sacia a nossa sede.

Peregrinos à procura da felicidade

Papa Francisco é recebido por crianças na Prefeitura Apostólica, em Ulaanbaatar / Foto: REUTERS/Carlos Garcia Rawlins

“Primeiramente, somos chamados a reconhecer a sede que nos habita“, disse o Papa, recordando que “o salmista grita para Deus a sua secura, porque a sua vida se assemelha a um deserto. As suas palavras têm uma ressonância particular numa terra como a Mongólia: um território imenso, rico de história e cultura, mas caraterizado também pela aridez da estepe e do deserto”. “Muitos de vocês estão habituados ao encanto e à fadiga de caminhar. Com efeito, todos somos «nômades de Deus», peregrinos à procura da felicidade, viandantes sedentos de amor”, disse o Pontífice, acrescentando:

Assim o deserto evocado pelo salmista refere-se à nossa vida: somos aquela terra árida que tem sede de água límpida, água que mata a sede em profundidade; é o nosso coração que deseja descobrir o segredo da verdadeira alegria, aquela que nos pode acompanhar e sustentar mesmo no meio da aridez existencial.

“É verdade! Trazemos dentro de nós uma sede inextinguível de felicidade; andamos à procura de significado e orientação para a nossa vida, de motivação para as atividades que realizamos cada dia; e sobretudo temos sede de amor, porque só o amor nos sacia verdadeiramente, faz sentir bem, abre à confiança fazendo-nos saborear a beleza da vida. Queridos irmãos e irmãs, a fé cristã é resposta a esta sede.”

A seguir, Francisco passou ao segundo aspecto: o amor que sacia a nossa sede. Segundo o Pontífice, “este é o conteúdo da fé cristã: Deus, que é amor, no seu Filho Jesus, fez-se próximo de ti, deseja partilhar a tua vida, as tuas fadigas, os teus sonhos, a tua sede de felicidade. É verdade que, às vezes, nos sentimos como terra deserta, árida e sem água, mas é igualmente verdade que Deus cuida de nós e nos oferece a água límpida e refrescante, a água viva do Espírito que, brotando em nós, nos renova, libertando-nos do perigo da secura. Esta água nos é dada por Jesus”.

Só o amor sacia verdadeiramente a nossa sede

Recordando as palavras de Santo Agostinho, «Deus teve misericórdia de nós e abriu-nos um caminho no deserto: nosso Senhor Jesus Cristo. E proporcionou-nos uma consolação no deserto: os pregadores da sua Palavra», o Papa disse:

Estas palavras, queridos amigos, recordam a vossa história: nos desertos da vida e nas limitações por serdes uma comunidade pequena, o Senhor não vos deixa faltar a água da sua Palavra, especialmente através dos pregadores e missionários que, ungidos pelo Espírito Santo, a semeiam em toda a sua beleza. E a Palavra sempre nos remete para o essencial da fé: deixar-se amar por Deus para fazer da nossa vida uma oferta de amor. Porque só o amor sacia verdadeiramente a nossa sede.

“Se pensamos que o sucesso, o poder, as coisas materiais são suficientes para saciar a sede de nossas vidas, esta é uma mentalidade mundana, que não leva a nada de bom, pelo contrário nos deixa mais áridos do que antes”, sublinhou Francisco.

O melhor caminho de todos é este: abraçar a cruz de Cristo

Irmãos, irmãs, o melhor caminho de todos é este: abraçar a cruz de Cristo. No coração do cristianismo, temos esta notícia impressionante e extraordinária: quando perdes a tua vida, quando a ofereces generosamente, quando a pões em risco comprometendo-a no amor, quando fazes dela um dom gratuito para os outros, então a vida volta para ti em abundância, derrama dentro de ti uma alegria que não passa, uma paz do coração, uma força interior que te sustenta.

“Esta é a verdade que Jesus nos convida a descobrir, que Jesus quer desvendar a todos vós, nesta terra da Mongólia: para ser feliz, não serve ser grande, rico ou poderoso. Só o amor nos sacia o coração, só o amor cura as nossas feridas, só o amor nos dá a verdadeira alegria. Este é o caminho que Jesus nos ensinou e abriu para nós. Com a graça de Cristo e do Espírito Santo, poderemos trilhar o caminho do amor”, concluiu.

Obrigado, por serdes bons cristãos e honestos cidadãos

No final da missa celebrada em Ulan Bator, o Papa Francisco saudou os presentes, dizendo que partiu “para esta peregrinação animado de grande esperança, no desejo de os encontrar e conhecer”.

Obrigado, por serdes bons cristãos e honestos cidadãos! Ide em frente, com mansidão e sem medo, sentindo a proximidade e o encorajamento de toda a Igreja, e sobretudo o olhar terno do Senhor que não se esquece de ninguém e olha com amor para cada um dos seus filhos.

A seguir, o Papa saudou os bispos, os sacerdotes, os consagrados e consagradas, e todas as pessoas de várias regiões do imenso continente asiático que foram à Mongólia. Expressou particular reconhecimento a quantos ajudam a Igreja local, apoiando-a espiritual e materialmente. Agradeceu ao presidente e às autoridades pelo acolhimento e cordialidade, bem como por todos os preparativos realizados.

Continuemos a crescer juntos na fraternidade

A seguir, saudou de coração os irmãos e irmãs de outras confissões cristãs e religiões:

Continuemos a crescer juntos na fraternidade, como sementes de paz num mundo tristemente funestado por demasiadas guerras e conflitos.

Francisco agradeceu também a todos aqueles que trabalharam para tornar frutuosa e possível esta viagem, e a quantos a prepararam com a oração.

A palavra «obrigado», na língua mongol, deriva do verbo «regozijar-se». “O meu obrigado corresponde a esta bela intuição da língua local, pois é cheio de alegria”, disse Francisco, acrescentando: “É um obrigado grande a vós, povo mongol, pelo dom da amizade que recebi nestes dias, pela vossa capacidade genuína de apreciar até os aspectos mais simples da vida, de preservar sabiamente as relações e as tradições, de cultivar com cuidado e solicitude a vida do dia-a-dia.”

Eucaristia, centro vital do Universo

“A missa é ação de graças, “Eucaristia”. Celebrá-la nesta terra fez-me lembrar a oração do padre jesuíta Pierre Teilhard de Chardin, elevada a Deus exatamente há 100 anos, no Deserto de Ordos, não muito distante daqui. Diz assim: «Prostro-me, meu Deus, diante da vossa presença no Universo volvido ardente e, sob os traços de tudo o que eu encontrar, e de tudo o que me acontecer, e de tudo o que realizar no dia de hoje, desejo-vos e espero-vos»”, disse o Papa.

O Padre Teilhard estava ocupado com pesquisas geológicas. Desejava ardentemente celebrar a Santa Missa, mas não trazia consigo nem pão nem vinho. Eis, então, que compôs a sua “Missa sobre o Mundo”, expressando assim a sua oferenda: “Recebei, Senhor, esta Hóstia total que a Criação, movida pelo vosso apelo, vos apresenta na nova aurora”.

Segundo o Papa, “uma oração semelhante já havia surgido em sua mente, enquanto se encontrava na frente de batalha, durante a Primeira Guerra Mundial, servindo como carregador de macas”.

“Este sacerdote, muitas vezes incompreendido, tinha percebido que «a Eucaristia é sempre celebrada, de certo modo, sobre o altar do mundo» e é «o centro vital do Universo, centro transbordante de amor e de vida sem fim», inclusive num tempo como o nosso, de tensões e de guerras”, sublinhou Francisco, citando alguns trechos de sua Encíclica Laudato si’.

“Irmãos e irmãs da Mongólia, obrigado pelo vosso testemunho! Que Deus vos abençoe. Estais no meu coração e, no meu coração, permanecereis. Por favor, lembrai-vos de mim nas vossas orações e nos vossos pensamentos”, concluiu.

Leia também: https://oglobo.globo.com/mundo/noticia/2023/09/03/em-visita-a-mongolia-papa-pede-aos-chineses-que-sejam-bons-cristaos-e-cidadaos.ghtml

Créditos: Jornalista Mariangela Jaguraba – Vatican News

FOTO DE CAPA: Papa Francisco cumprimenta um membro da delegação budista da Mongólia, que visitava o Vaticano em maio de 2022 /Foto: Vatican Media via Reuters.

FONTE:https://www.vaticannews.va/pt/papa/news/2023-09/papa-francisco-missa-viagem-apostolica-mongolia-amor-sede-vida.html

Edição: A.R.

Brincando com a vida

Sonhei que havia chegado meu marca passo. Um helicóptero pousou no meu quintal. Sonho meu!

O coração que recebi de minha mãe era perfeito, mas por tempo uso, nervosias, temperamento, gordura e outras dificuldades impostas por mim, começou a se mostrar incapaz. O alívio foi no sonho pois, ao me acordar, percebi, e mais senti, que deveria continuar esperando.

Por estes dias de aflição, consegui falar um bom tempo com um amigo cardiologista. Me falou da dificuldade de depender do Estado. Afirmou que a entrega do precioso material está sendo de uso restrito em razão de o Estado pagar pouco. Não falta o coração artificial, falta outro tipo de material, o vil metal é que também está em jogo. Eu fico nessa luta de interesses, pensando quanto vale meu coração.

Foi me dito, depois de o exame Doppler mostrar, que eu havia rodado: minha força física original havia se esgotado. Eu mesmo constatei e diagnostiquei: se as alterações do impulso elétrico demorarem ainda mais para impulsionar os batimentos… babaus minha vida.

É verdade, já vivi um bom tempo. E muitos vão dizer: ele já deu o que tinha que dar, ainda que, naturalmente, não concorde.

Se puser numa balança os prós e os contras, acho que tenho direito de um bonus a mais. Um tempo de prorrogação e aí o juiz pode dar pelo jogo terminado. Afinal deixei um resultado social, ao menos nota 7, se não mais.

Posso mostrar o quanto procurei ajudar no curso da vida dos mais velhos por estas bandas no norte do Estado. Acho que ajudei também a melhorar a qualidade de ensino num projeto institucional.

Ia esquecendo: ajudei a criar o curso de psicologia. Só esse curso bastaria para dar meu tempo de prorrogação.

Mas bá tchê… tem ainda mais: até ajudei a criar ensino superior no Sul do Piauí.

Por tudo isso, e pelos milhão e meio de aulas, me deem um tempo para usufruir desta primavera, dos amigos, de minha casa, e das letras que ainda sou capaz de redigir. Buenas se não for assim, tchau! Já começo a me cansar. Todavia, caprichando no português,… ser-lhes-ei, amici mei, eternamente grato.

Autor: Agostinho Both

Edição: A.R.

Os gaúchos

Vimos no livro, linha a linha, página a página, como é o gaúcho, o seu ser, o seu fazer, como se forja o homem trabalhador da estância, como a imagem que se tem desta mesma pessoa: homem, solitário, vivendo isolado numa fazendo, morando, alimentando-se no galpão. Homem vivendo entre outros homens, distante das mulheres que lhes metem mais medo do que qualquer outro sentimento.

Não sou eu que tenho uma tese sobre quem é ou não é gaúcho. Vou falar de algo mais amplo, mais sério, que é do livro de Ondina Fachel Leal, “Os Gaúchos – cultura e identidade masculinas no pampa”. É o livro que veio para ficar, para que não se perca mais tempo com discussões exotéricas, porque a realidade do gaúcho e seu locus está nas páginas deste livro.

Trata-se de livro da antropóloga porto-alegrense, lançado em 2021 pela Tomo Editorial. O texto deste livro tem como base sua tese de doutoramento feito nos EUA, em 1989. Ou seja, nosso acesso ao escrito em português se dá mais de 30 anos depois.

Aqui não temos uma resenha, nem um texto crítico, mas uma provocação para a leitura obrigatória deste texto profundo, sério, fruto de uma pesquisa exaustiva nos campos abertos do pampa, em especial na região de Alegrete e Artigas no Uruguai.

Vou tentar mostrar com alguns tópicos as razões pela leitura, a começar pelo Prefácio – “O mais eloquente dos silêncios” – do professor titular de antropologia do Museu Nacional/UFRGS.

Temos boas razões da leitura, insisto, também na Apresentação – Trinta anos, trezentos anos – feita pelo professor titular de Literatura no Instituto de Letras, Luís Augusto Fischer. Para mim, o Professor Fischer fez um grande bem para todos nós em convencer a autora a produzir o livro em português. Não cabe aqui falar deste tempo em que era “apenas” uma tese acadêmica em inglês. Ganhamos todos nós.

Na Introdução, de 2020, Ondina nos explica o seu “Reencontrando os gaúchos”.

Vou seguir os capítulos, para pegar o fio da meada dos escritos para as pessoas terem uma ideia da pérola que agora os leitores em português têm em mãos.

Ondina começa com “O gaúcho e o Pampa – terra de fronteira sem fronteiras”, o que lembrou Artigas e Andresito, entre outros, que sempre sonhavam com uma “pátria sem fronteiras”. No livro, em várias passagens, fica claro que para o gaúcho a “fronteira”, pouco ou nada lhe diz respeito.

Na página 39, aparece o título “Homens montados: o Sul como área cultural” para logo em seguida tratar da semântica do termo gaúcho: “guerreiro, bandido, herói, trabalhador”.

No Capítulo seguinte: “Trabalho de campo – quando o campo é campo” – temos o “recorte” da pesquisa, das planuras da Pampa, das estâncias, dos vilarejos, do trabalho dos peões etc. para ela nos falar de “Uma intrusa em um universo masculino: notas sobre o método”.

“O galpão e suas histórias” é, em minha opinião, o início da apreciação da seiva não só do favo de mel, mas de toda a caixa dele. Ela, ao escrever: “O galpão, a casa dos homens” é o toque de mestre para entender a sua busca do “ser gaúcho” – causos ali contados, payadas, chistes, ditados, “lore” (tradição) do riso etc.

Para se entender melhor, o capítulo seguinte “Mulher, a alteridade ausente” (em contraposição a “casa dos homens”, no caso o galpão. Ali, Ondina trata da ausência feminina. A autora fala á exaustão da vida das mulheres, fora da estância, em “las casas”.

Em seguida, vamos à leitura de “Os homens e seus galos” – um título genial porque tem significados múltiplos, ali a autora fala de “Rinha de Galos”. E esta relação “homem-galo”, o rinhadeiro, o jogo, tudo com um ar de “proibido”, mostra como há clara indicação do modo de ser galo, postura, coragem, bravura, luta até a morte como um gaúcho e se vê.

O mais chocante é quando chegamos ao capítulo “Suicídio – a morte como um discurso final” – não porque falar da morte por determinação pessoal, mas porque é um meio de ser, de mostrar que o gaúcho tem domínio sobre si e seu meio pela coragem, tanto que pode e vai tirar sua vida.

Expus aqui um relato breve dos capítulos e seu conteúdo.

Não poderia deixar de falar e citar aqui o poeta gauchesco, talvez o mais significativo, Vargas Netto:

“E o que o gaúcho fez!?

Quanto caboclo bicharedo

Chegava rindo, como num brinquedo

e entreverava na peleia

Como quem entra num bochincho”

(…)

“Está na massa do sangue desse povo,

Porque o gaúcho é como o cinamomo,

duma ponta de raiz brota de novo

e um outro cinamomo ficará de pé.”

(…)

“Um gaúcho se mata e não se vence”.

A poesia de anos e anos, bem antes dos estudos de Ondina, Vargas Netto publicou em sua Tropilha Crioula em 1925.

A autora também se valeu da nossa literatura, das músicas, dos causos para poder afirmar o que, de fato, é O GAÚCHO. Não estamos aqui tratando como vulgarmente falamos que gaúcho é qualquer pessoa daqui, do Rio Grande do Sul. Na verdade, estamos diante de rio-grandenses. Já que gaúchos são homens da Pampa, trabalhadores da campanha, que vivem solitários nas lides da produção de gado, equinos, ovelhas, vivendo no galpão da estância, com o “seu” cavalo, sendo ele a figura mitológica do “centauro”.

Vimos linha a linha, página a página, como é o gaúcho, o seu ser, o seu fazer, como se forja o homem trabalhador da estância, como a imagem que se tem desta mesma pessoa: homem, solitário, vivendo isolado numa fazendo, morando, alimentando-se no galpão. Homem vivendo entre outros homens, distante das mulheres que lhes metem mais medo do que qualquer outro sentimento.

Os escritos de Ondina Fachel Leal nos levam a pensar na necessidade de discutirmos mais nossa cultura, nossas origens, como chegamos a este gaúcho, passando por Sepé e Andresito.

Nada melhor do que ler o livro, pois este texto é uma mera instigação.


Autor: Adeli Sell

Edição: A.R.

A emancipação dos falsos ídolos

Um desafio educacional ainda permanece. A escola laica, pública, republicana, enquanto casa de formação das novas gerações, pode se tornar por excelência um tempo e espaço de emancipação dos falsos ídolos.

Idolatria é o culto que se presta aos ídolos. No sentido figurado, idolatria significa “amor excessivo”, “admiração exagerada”, que pode produzir ações desmesuradas, muitas vezes insanas, irracionais, fora de controle. O comportamento de alguém tomado pela idolatria é excessivo, alienado, ilusório.

Idolatrar é divinizar e imortalizar (tornar deus) algo ou alguém que é perecível, mortal, humano.

A idolatria sempre se fez presente na história humana. Nos tempos primitivos, fenômenos da natureza eram idolatrados como deuses. O medo dos fenômenos naturais assustadores eram aplacados com o culto as divindades. Com o tempo, pessoas passaram a ser idolatradas, pois representavam, muitas vezes de forma ilusória, uma suposta proteção dos perigos que rondam a vida humana. “Líderes autoritários”, no passado e no presente, usaram e usam da idolatria para pavimentar seu perverso caminho de ditaduras, maldades e opressão. E a história nos mostra as perversidades que produziram, causando miséria, perseguição e mortes.

A ciência moderna nasceu da luta contra a idolatria. O conhecimento científico, de certa forma, é uma explicação dos fenômenos naturais e sociais que promove a emancipação dos seres humanos dos grilhões da idolatria. Por isso que líderes autoritários odeio a ciência, a educação e o pensamento crítico. Na gênese da ciência moderna, Francis Bacon foi um combatente da idolatria.

Francis Bacon (1562-1626), é considerado juntamente com René Descartes, um dos iniciadores do pensamento moderno, tanto por sua defesa ao método experimental que revoluciona ou pela ciência que fez avançar o conhecimento científico, quanto pela sua rejeição ao pensamento religioso escolástico que impedia as pessoas de olharem para a natureza como algo que poderia ser dominado e utilizado a serviço da humanidade.

Embora não tenha sido cientista de formação, Bacon teve uma grande influência enquanto defensor do método científico que valorizava a experiência e a experimentação.

Bacon ocupou diversos cargos no governo britânico, chegando a ser chanceler (equivalente a ministro da Justiça) no reinado de Jaime I. Teve um grande prestígio intelectual em sua época e foi autor de obras importantes como Novum organon, o Progresso do saber e Nova Atlântida.

No plano filosófico, Bacon foi responsável por introduzir uma concepção interessante de pensamento crítico por meio de sua famosa teoria dos ídolos. Para ele, compreender a teoria dos ídolos possibilita os seres humanos formularem um método que seria capaz de evitar o erro e colocá-los no caminho do conhecimento correto.

Os ídolos são ilusões ou distorções que, segundo Bacon, bloqueiam a mente humana impedindo o verdadeiro conhecimento. Na sua formulação os ídolos podem ser classificados em quatro tipos: ídolos da tribo, da caverna, do foro e do teatro.

Os ídolos da tribo resultam da própria natureza humana, ou seja, o homem por natureza não tem nenhum privilégio no mundo em função de sua própria natureza e o “intelecto humano é semelhante a um espelho que reflete desigualmente os raios das coisas e, dessa forma, as distorce e corrompe. Por isso, temos dificuldade de conhecer as coisas como realmente são e temos uma propensão em criar fantasiosamente compreensões que não condizem com a realidade.

Os ídolos da caverna são consequências das características individuais de cada ser humano, da constituição física e mental que cada um sofreu de seu meio. Os ídolos do foro são resultado das relações entre os homens, da comunicação e do discurso, sendo que as palavras forçam o intelecto e o perturbam por completo. Por conta disso, as controvérsias ideológicas ou religiosas são decorrentes desta forma distorcida que impede as pessoas de verem como os coisas realmente são. Os ídolos do teatro, por sua vez, são derivadas das doutrinas filosóficas e científicas antigas ou novas, que “figuram mundos fictícios e teatrais”.

Bacon foi um defensor de que é necessário um novo método para a nova ciência que estava dando seus primeiros passos. Para que isso acontecesse, era necessário despir-se dos preconceitos, das ilusões, dos ídolos. Somente dessa forma seria possível conhecer a natureza, suas leis, seu funcionamento. “O homem”, diz Bacon, “ministro e intérprete da natureza, faz e entende quando constata, pela observação dos fatos ou pelo trabalho da mente, sobre a ordem da natureza”. Ele foi um pensador que acreditava no progresso, que é resultado do conhecimento que surge quando usamos um método adequado.

Mais de quatro séculos nos separam do tempo em que viveu Francis Bacon. Muitas transformações aconteceram e nos possibilitaram novas descobertas e novas formas de compreender o mundo da natureza e o próprio ser humano. No entanto, olhando os acontecimentos recentes parece que ainda não nos libertamos dos ídolos que ainda persistem na forma como lemos os fenômenos e interagimos socialmente.

Ainda estamos presos a preconceitos, ilusões, julgamentos precipitados. Falsos ídolos continuam sequestrando mentes e corações com a falsa promessa de afastar os perigos que rondam suas vidas. Talvez, por isso, ainda não conseguimos avançar mais na organização de uma vida social mais decente e propícia para o pleno desenvolvimento intelectual do ser humano.

Um desafio educacional ainda permanece. A escola laica, pública, republicana, enquanto casa de formação das novas gerações, pode se tornar por excelência um tempo e espaço de emancipação dos falsos ídolos.

Autor: Dr. Altair Alberto Fáveroaltairfavero@gmail.com

Professor e Pesquisador do Mestrado e Doutorado do PPGEDU/UPF. Autor da crônica “Quando o homem se torna o lobo do próprio homem”: https://www.neipies.com/quando-o-homem-se-torna-lobo-do-proprio-homem/

Edição: A.R.

Conflitos e mudanças

Conforme se revelam as dificuldades, são exigidas novas abordagens na constituição de novas formas sociais e afetivas. O desenho com que se fazia uma casa já pode não mais servir diante dos temporais, sem esquecer o principal: a vida em busca de seus caminhos.

Na vida são oferecidas muitas opções. E em cada opção existem ainda diversas dimensões.

Assim sendo, pensemos: Pode-se optar pelo tamanho da solidão ou viver com a liberdade de retirar o máximo que a vida nos oferece ou ainda pela liberdade que temos de provocar além daquilo que a vida nos provoca.

Podemos nos contentar com a dependência das oportunidades ou estender nossas redes de apoio, o que nem sempre é fácil.

Podemos substituir a morte ou distância de nossos familiares por novas formas de vínculos. Podemos limitar nossos vínculos sociais ou redimensionar nossa solidariedade.

Podemos substituir a independência dos filhos por novas formas de filiação social ou ainda redimensionar nossas relações afetivas atraindo ainda mais o benefício de nos corresponder com a gente de nosso sangue. Se ainda os filhos se distanciam em razão das preocupações das novas famílias, por novas formas de comunicação ou relativizar o distanciamento por novas relações afetivas.

Se nossas falas estão defasadas ou já não servem para muita prosa em razão de novas formas de comunicação, é urgente renovar nossa cabedal comunicativo: urge renovar nosso potencial de conversas por novas redes sociais ou aderir a novos meios comunicativos: urge, muitas vezes, renovar as formas de nos comunicar.

Muitas vezes estamos cristalizados em conceitos e nas formas de amar e nos comunicar e ficando defasados até no jeito de ser. Volta e meia é bom rever nosso maniqueísmo afetivo limitando o poder de amar enquanto presos em velhos conceitos, tornando-nos preconceituosos. Se os netos ou até os filhos andam de pouca expressão é bom que nós os mais velhos renovemos as formas de chegar e bater nas portas do amor.

Muitas vezes acontece que privamos de uma autonomia de pequenos conceitos e, possivelmente, tenha chegado o tempo de pensar em novas leis ou costumes mais livres pensando numa nova ecologia. Por vezes, é bom rever nossa banalidade do bem e do mal e nos renovar em conceitos e atitudes. Faz bem sair da banalidade costumeira da velhice renovando o que nos foi imposto. 

 E muito mais se pode dizer tendo com novos chamamentos da existência:

* a solidão na velhice X criação de liberdade;

* na precipitação da dependência X redes de apoio;

* na distância das gerações X novas formas de vínculos;

* ver o egoísmo social X solidariedade;

* ver as relações com filhos X autonomia dos pais;

* cristalização de conceitos x relativismo;

* maniqueísmo afetivo x liberdade afetiva

*ajudar os Netos em baixa proteção X presença dos avós.

* a sacralidade familiar X naturalização de rompimentos;

*uniões sem filhos X egocentrismo afetivo;

*autonomia X heteronomia;

*conjugalidade bissexual X conjugalidade unissexual;

*além de velhos princípios x busca afetiva;

* a complexidade da velhice X cuidados;

* cuidados novos X família reduzida;

* identidade  X banalidade da velhice;

*abandono X prevenção. 

Isso nos mostra: 

Em muitos casos, os filhos carecem de novas proteções assim como os pais estão diante de possíveis fragilidades. Isso significa que a velhice, com novas características demográficas, pede novas intervenções conceituais, políticas, sociais, educacionais, familiares e pessoais.

Conforme se revelam as dificuldades, são exigidas novas abordagens na constituição de novas formas sociais e afetivas. O desenho com que se fazia uma casa já pode não mais servir diante dos temporais, sem esquecer o principal: a vida em busca de seus caminhos.

Autor: Agostinho Both

Edição: A.R.

Praia do cassino, RS

A Praia do Cassino, a maior do mundo em extensão, fica na cidade de Rio Grande, no extremo sul do Rio Grande do Sul. São 240 quilômetros, desde o município do Rio Grande até o Chuí/Uruguai, descrita como a mais extensa faixa de areia pelo Guiness Book de 1994.

A história do Balneário Cassino remonta ao final do século XIX, quando ainda não existiam balneários na costa brasileira.

Cada vez mais o balneário foi ganhando adeptos e em 1885, aproveitando uma linha férrea que ligava Bagé a Rio Grande, através da Lei 1551, o poder público outorgou à Companhia Carris do Rio Grande o direito de explorar o balneário.

Inaugurado oficialmente em 1890, o Balneário Cassino abrangia 3 quilômetros da costa e possuía um hotel com 136 quartos, salões para concertos e bailes, salas de jogos e leitura e tudo mais que fosse necessário para receber os visitantes. Além do hotel, o balneário tinha também chalés de estilo suíço que tornavam o lugar ainda mais charmoso. Os visitantes eram transportados até a praia através de bondes puxados por burros que percorriam a avenida principal.

O Balneário Cassino recebeu esse nome devido aos jogos de roleta que eram realizados no Hotel Cassino (que atualmente faz parte do Hotel Atlântico) mas que foram proibidos em 1946. Em 1966, a Praia do Cassino foi palco do lançamento de foguetes da NASA durante um eclipse total do sol. Esse evento atraiu a presença de vários cientistas vindos dos Estados Unidos, do Japão e de países da Europa, além de vários curiosos. Isso fez com que Rio Grande fosse a primeira cidade brasileira usada como base para o lançamento de foguetes espaciais pela NASA.

Vagonetas

Ao chegar ao início dos molhes da barra, logo se avistam vagonetas e vagoneteiros prontos para conduzir os visitantes ao encontro das belezas da vida marinha que se pode observar na praia do Cassino.

E Cassino tem história: é considerado o balneário marítimo mais antigo do Brasil, com 133 anos.

A visão do encontro do Oceano Atlântico com a Lagoa dos Patos, a maior lagoa costeira da América do Sul, faz do passeio (4 km) de vagoneta realizado no balneário Cassino um dos mais procurados, já que é possível visualizar navios entrando no canal de acesso ao Porto do Rio Grande, aves da fauna local, como gaivotas e andorinhas do mar e principalmente a área de descanso e alimentação de leões e lobos marinhos.

Navio

O navio Altair, embarcação encalhada desde junho de 1976 no Cassino, sofre com a ação do tempo e da maresia e lentamente vai desaparecendo na areia. Quem passa pelo local, 12 quilômetros ao sul da estátua de Iemanjá, enxerga um esboço do que ele foi um dia, já que seus destroços exibem os efeitos da corrosão à beira-mar. Na praia, virou costume tirar foto junto aos mastros enferrujados e cada vez menos reconhecíveis. O local também é muito procurado para a pescaria esportiva, já que buracos no entorno facilitam a concentração de peixes O

Abismo horizontal

A praia do Cassino, na sua extensão até o Chuí é conhecida pelos aventureiros como “abismo horizontal” por ser uma grande extensão costeira, praticamente, sem habitantes. Esta gleba de terras localiza-se dentro do que foi chamado de “Campos Neutrais” pelo Tratado de Santo Ildefonso (1777), a uma faixa de terra desabitada no Sul do Estado do Rio Grande do Sul cuja posse não seria de nenhuma das partes em conflito, (Portugal e Espanha). A Espanha também teve posse das terras do sul do RS.

A cidade de Rio Grande ficou 13 anos sob a posse dos Espanhóis. Alguns lugares sinalizam muito bem esse fato histórico. No distrito do Taim, que pertence a Rio Grande e que margeia a Lagoa Mirim, tem uma praia chamada de “praia da Capilla” em alusão a capela construída pelos espanhóis e que hoje encontra-se totalmente restaurada.

Algumas imagens da praia do Cassino podem ser vistas nestes dois vídeos: https://www.youtube.com/watch?v=tYBOZ9Dqubo

 (Pesquisa feita por Rubens M S Franken, em 06/06/2023)

Mudança para o Cassino…

Foram dois fatores que levaram-me a mudar para a Praia do Cassino.

O primeiro foi o fato de querer viver, após a aposentadoria, em um lugar com mais qualidade de vida, no litoral.

O segundo motivo foi o resultado de uma pesquisa por imóveis, feitas no litoral de SC e do RS. Na época Rio Grande passava por uma baixa nos preços de imóveis, em função do fechamento do Polo Naval, (efeito devastador da Lava Jato), quando 27 mil pessoas perderam o emprego.

Muitas pessoas que tinham a sua profissão ligada a indústria naval, mudaram-se da cidade. A lei da oferta e da procura fez o resto: imóveis desocupados no Cassino baixaram de preços. Depois que mudei, veio o encantamento ao conhecer as riquezas da região das águas.

Rio Grande é uma península dentro da Laguna dos Patos, além disso, tem a Ilhas dos Marinheiros, do Machadinho e a do Torotama, formando um arquipélago lacustre Riograndino. A 20 km do centro da cidade fica a Praia do Casino. A maior praia em extensão do mundo, segundo o Guiness Boock. Tem ainda algumas outras pequenas lagoas. Também pertence ao município de Rio Grande a reserva do Taim, que abriga a bela Praia da Capilla, na Lagoa Mirim.

A Lagoa Mirim, fica uma parte no Brasil e outra dentro do território uruguaio, onde denomina-se Lago Merín. Quem conhece as belezas arquitetônicas, históricas e naturais da região fica encantado. Além disso, a proximidade com o Uruguai nos proporciona ir lá e voltar, no mesmo dia, para compras ou passeios.

Fotos: arquivo pessoal Rubens Franken

Autor: Rubens Mário dos Santos Franken, autor da crônica 1824- 2024: duzentos anos de imigração alemã no Brasil: https://www.neipies.com/1824-2024-duzentos-anos-da-imigracao-alema-no-brasil/

Edição: A.R.

A banalidade do mal

A humanidade não está livre do fascismo/nazismo e de toda e qualquer violência cometida contra a vida, a integridade e a liberdade humanas não porque são forças que transcendem nossas escolhas e nossa habilidade para freá-las, mesmo que envolvam sofrimento e injustiças, mas porque somos capazes de nos somar com relativa naturalidade aos indivíduos e situações comprometidos com a desumanidade.

O conceito de banalidade do mal foi introduzido, na história do pensamento (político/moral), pela filósofa Hannah Arendt, a partir da sua obra Eichmann em Jerusalém (1963). Enquanto muitos esperavam que a pensadora, após acompanhar o julgamento de Eichmann, o descrevesse como um monstro, alguém persuadido por forças malignas, é apresentado como uma espécie de servidor que seguia ordens. Um funcionário que realiza o que a ele cabia, na sua falta, segundo seu entendimento, outros fariam o mesmo. Tratava-se, portanto, de um indivíduo desprovido de pensamento, de criticidade e de amparo ético.

A força do conceito de banalidade do mal nos remete a uma dura e inegável condição: o ser humano, dadas certas circunstâncias e, principalmente, na ausência e ou recusa da sua capacidade/habilidade de pensar, é capaz de cometer as maiores atrocidades.

A manifestação do ato de pensar, nos dirá a filósofa, não é, em um primeiro plano, o conhecimento, mas a habilidade de distinguir o bem do mal. É a capacidade de pensar que permite que o ser humano possa fazer juízos morais e não recusar a própria humanidade.

Claro que podemos reconhecer o empenho dos afetos políticos que acompanham e atravessam os desdobramentos históricos nos quais os indivíduos pautam suas existências, mas, no caso do pensamento em questão, o ponto é o colapso moral e a mediocridade humana que se seguem da inabilidade ou recusa de se pensar, inclusive, do colocar-se em jogo, inscrevendo o processo autoformativo no diálogo ético e estético consigo mesmo.

Outro ponto que merece destaque, a meu ver, é a tênue relação (ou diz respeito ao âmbito) entre resistência e cooperação.

Já temos experiências suficientes para saber que nem sempre encontramos, em determinados contextos, condições de resistir, até que novos elementos engendrem possibilidades reais de se enfrentar a força da violência e a catástrofe fascista. Contudo, a dificuldade de se construir instrumentos de resistência quando da explicitação ardida da barbárie, não deve ladrilhar o caminho para se justificar posturas que pactuam (também silenciosamente) com o que pode parecer inevitável. Quantos de nós já não consideramos natural seguir, mesmo sabendo que muitos não estarão conosco.

Todos os dias continuamos vivendo nossas vidas, talvez muitos incomodados com a situação em que a humanidade está enfiada, mas quantos são capazes de resistir e enfrentar a mediocridade cotidiana, a atrofia moral e o embestamento ético e estético?

Freud tematizou o narcisismo das pequenas diferenças, ou seja, sempre temos e ou consideramos (julgamos) outras pessoas inferiores a nós, pessoas que podemos pisar, maltratar.  Somos subservientes aos “fortes” e “superiores” e desejamos submeter quem julgamos inferiores.

A humanidade não está livre do fascismo/nazismo e de toda e qualquer violência cometida contra a vida, a integridade e a liberdade humanas não porque são forças que transcendem nossas escolhas e nossa habilidade para freá-las, mesmo que envolvam sofrimento e injustiças, mas porque somos capazes de nos somar com relativa naturalidade aos indivíduos e situações comprometidos com a desumanidade.

Autora: Marli Silveira

Filósofa, Poeta e Acadêmica da Academia Rio-Grandense de Letras, autora da crônica: “Se perdermos, sequer os mortos estarão a salvo”: https://www.neipies.com/se-perdermos-sequer-os-mortos-estarao-a-salvo/

Edição. A.R.

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