Mesmo com a produção exponencial da Internet, com vídeos, cursos, artigos, sites etc. e tal, temos visto muita produção de livros. Qual a sua apreciação sobre o tema? Anda angustiado como eu ando?
Revirando anotações, encontro um dado de 2020, dizendo que “no Brasil, existem cerca de 100 milhões de leitores, que compõem 52% da população”.
É uma informação extraída da 5ª edição da pesquisa “Retratos da Leitura no Brasil”.
“Esses leitores são, em números absolutos, não estudantes (61,2 milhões), da classe C, D e E (70 milhões) e de renda familiar entre um e cinco salários mínimos (76,3 milhões).”
E tem mais, aqui peço maior atenção aos/às leitores/as:
“Enquanto cresce o número de leitores de 5 a 10 anos, esse percentual cai a partir dos 11 anos e entre leitores de nível superior e classe A.”
Pesquisas nunca são, de fato, um censo. São amostragens.
Há em mim um sentimento que temos mais crianças lendo, podendo ser real que aos 11 anos fissuradas no Tik Tok esqueçam os livros. Talvez, nestes últimos 4 ou 5 anos, tenha piorado o índice de leitores/as entre jovens.
Porém, estranhei e acho que você deve estranhar que diminua entre quem nível superior.
Esta é mais uma razão de minha insistência em debater, sem eu ter tido até aqui quaisquer retornos nas minhas redes e grupos, o que está me angustiando cada vez mais.
A pesquisa revelaria uma queda de cerca de 4,6 milhões de leitores, entre 2015 e 2019. Ainda a pesquisa: 82% gostariam de ler mais. A falta de tempo (47%) é o principal fator indicado pelos leitores pela não-leitura. Entre os não-leitores, as principais causas são a falta de tempo (34%) e o fato de não gostarem de ler (28%). Vamos lembrar que as megalojas da Saraiva e Cultura fecharam nos últimos anos.
Faltaria tempo, por que razão? Mais tempo ao celular e nas redes? Nos grupos de whastapp com brigas de família, fofocas do condomínio, do trabalho? Ou estamos fissurados como a gurizada (aquela do Tik tok) nas séries dos “streamings”?
Minha sensibilidade me diz que os jovens de 20 a 30 devoraram alguns livros com muitas páginas, como Harry Potter. E estes e outros não migraram para séries como Game of Thrones?
Vocês já ouviram falar de “literatura gótica” entre os jovens?
Estou fazendo uma série de entrevistas com pequenos editores daqui, tendo a impressão de que esta pesquisa tem coisas corretas, tendo apanhado algumas tendências, mas parece que mesmo com falta de tempo, com poucos recursos, há gente lendo.
Como explicar o crescimento destas pequenas editoras, de feiras por todos os lados, de saraus, de edição de coletâneas?
Mesmo com a produção exponencial da Internet, com vídeos, cursos, artigos, sites etc. e tal, temos visto muita produção de livros.
Qual a sua apreciação sobre o tema? Anda angustiado como eu ando?
Afinal, gostar de ler exige uma série de situações pelas quais é preciso passar: a primeira é a descoberta do valor da leitura; a segunda é a curiosidade pelas novidades que os livros trazem; a terceira é ter livros ou impressos ao alcance das mãos. Tais fatores aparecem, principalmente, quando as bibliotecas estão por perto e são facilmente visitáveis, fornecendo livros emprestados. (Autor: Padre César Moreira) Leia mais: https://www.neipies.com/ler-prazer-pouco-explorado/
“Desculpe tocar no assunto” é o título de uma crônica de Rubem Braga: “Nos piores momentos de minha vida sempre senti uma mão em minha cabeça; então fecho os olhos e me entrego a esse puro carinho, sem sequer me voltar para ver se é uma doce amiga ou apenas a leve brisa em meus cabelos”.
Quando jovem, perdi um colega e amigo – também jovem -, o Romeu: além da dor, senti constrangimento. Já a perda do colega e amigo Lori, faz pouco, trouxe-me sofrimento, mas não constrangimento.
Fazíamos, Romeu e eu, o estágio do sexto ano na Santa Casa de Porto Alegre, porém em enfermarias diferentes. Quase diariamente, num determinado horário da manhã, nos encontrávamos para um rápido cafezinho. Largando a xícara, Romeu mostrou-me a palma de sua mão: “Está azulada, não sei por quê. Já marquei consulta”.
Era um tumor inoperável no pulmão! O Romeu foi hospitalizado, fez quimioterapia e outros procedimentos.
Aquele encontro para o café foi o último em que nos sentimos bem à vontade um com o outro. Quando o visitava no hospital, além de olhares tristes, havia constrangimento entre nós. Era visível que seu estado não lhe permitiria viver muito. Ele não sabia o que dizer… Eu não sabia o que dizer…
Passaram quase cinquenta anos… Visitei o Lori, colega e amigo, no hospital, dias antes de ele falecer. Não tivemos nenhum constrangimento. Não falamos na doença grave que o afligia. Para que falar nela? Naquelas alturas, já havíamos internalizado que a vida é o que é. O melhor era recordar nossos bons momentos. Jogávamos futebol juntos. O Lori era muito bom! Rimos, inclusive.
Com o Romeu, com todas as vivências que ele poderia ter perdidas, não tinha como não ficar constrangido. Não conseguíamos nem falar. Já com o Lori, falamos, falamos, e nos demos as mãos.
“Desculpe tocar no assunto” é o título de uma crônica de Rubem Braga: “Nos piores momentos de minha vida sempre senti uma mão em minha cabeça; então fecho os olhos e me entrego a esse puro carinho, sem sequer me voltar para ver se é uma doce amiga ou apenas a leve brisa em meus cabelos”.
É assim, “com puro carinho”, que o filme “A história de nós três e de nós quatro” toca no assunto. Com a direção de Jaime Lerner e com minha participação como roteirista e ator, trata do reencontro muito afetivo de uma família após a perda do familiar que os unia. As canções de Paulo Reichert ajudam a narrar a história. Filmado em Passo Fundo, RS, é um longa de 74 minutos.
Estará em exibição em uma das salas do CINELASER do Passo Fundo Shopping na próxima semana.
As primeiras sessões serão destinadas aos alunos de nossas faculdades de medicina e de outras profissões da saúde. Mas a sessão de sexta, dia 01 de setembro as 19:30 será aberta a todos os interessados com ingresso na bilheteria do cinema. E no dia seguinte, 2 de setembro, sábado, às 10h no anfiteatro da Atitus, no Campus Santa Terezinha, abordarei o tema em palestra dialogada. Todos estão convidados!
No Brasil atual, os demônios não estão nas favelas, mas nos palácios, nos condomínios de luxo e em suntuosas catedrais.
“Meu nome é legião”, respondeu o homem possesso à pergunta de Jesus. Conhecido como Gadareno, aquele homem vivia como um animal selvagem, perambulando pelas ruas e cemitérios de Decápolis, região dominada pelas legiões romanas. Aquela não era uma possessão comum. O Gadareno era habitado por um coletivo de demônios. Tratava-se dos demônios oriundos de outras terras, que vieram com as forças invasoras, com suas pretensões colonizadoras. Por isso, o demônio implora para não ser expulso daquela região.
Quando os europeus desembarcaram nas Américas, trouxeram na bagagem os seus próprios demônios e não apenas doenças para as quais os nativos não tinham imunidade.
Não são demônios os que vieram com os negros escravizados e seus cultos animistas, nem os que eram cultuados pelos povos originários. Os demônios vieram com os que devastaram as civilizações que aqui já estavam, pilhando impérios, aproveitando-se da ingenuidade dos que os consideravam deuses.
Os demônios que aportaram aqui tinham pele alva, sotaque ibérico e costumes estranhos. Outros demônios chegaram à Índia com os ingleses, na África do Sul com os holandeses, e em tantas outras terras com aqueles que pretendiam conquistá-las e reivindicá-las às coroas que representavam. Tais castas demoníacas se manifestam nos explorados, mas atuam através dos exploradores. Não habitam apenas corpos, mas estruturais sociais.
No Brasil atual, eles não estão nas favelas, mas nos palácios, nos condomínios de luxo e em suntuosas catedrais.
Não são como as legiões romanas, mas se organizam em quadrilhas que assaltam o erário público, que exploram os fiéis com promessas mentirosas, que promovem o ódio, o preconceito e a intolerância contra a população LGBTQIAPN+, as minorias étnicas e os fiéis de religiões de matriz africana, que desqualificam a luta feminista, que desdenham dos direitos da classe trabalhadora, que espalham fake news, que tratam seus rebanhos como currais eleitorais, que endossam políticas negacionistas e genocidas em nome da fé, etc.
Aqui seu nome não é legião, é religião.
Não me refiro à religião em seu sentido lato (do latim religare), que provê a religação entre os seres humanos, independentemente de distinções étnicas, sexistas, confessionais ou sociais, fazendo com que nos preocupemos em cuidar dos mais vulneráveis representados em Tiago pelos órfãos e viúvas. Refiro-me à religião como instrumento que visa legitimar o poder e os interesses de quem lucra com a exploração. Portanto, deveria ser chamada de reLEGIÃO.
Trata-se do que o livro de Apocalipse chama de “A Grande Babilônia” que tornou-se morada de todo tipo de demônios. São estes demônios que precisam ser exorcizados do cenário político brasileiro para que finalmente alcancemos a tão sonhada justiça social, tornando-nos, assim, um dos protagonistas na construção da civilização do amor.
Os pais podem transmitir mais do que seus genes aos filhos. Incluem-se valores morais. Banir a ideia de que algumas raças são, definitivamente, melhores e mais inteligentes do que outras, seria um bom começo.
Difícil imaginar (ou nem tanto, pois deixou discípulos aplicados) como alguém que foi agraciado com um Prêmio Nobel pôde expressar ou defender ideias tão estapafúrdias ou indefensáveis como as professadas por William Bradford Shockley (1910-1989). Pois esse renomado cientista e empreendedor, que recebeu o Nobel de Física em 1956 pela coinvenção do transistor, e cujas empresas que ajudou a fundar para a exploração dos semicondutores formaram o núcleo básico do que se tonou o Vale do Silício, também se prestou, nos anos 1960 e 1970, a liderar uma cruzada para prevenir a redução da inteligência nacional americana, que ele via como ameaça iminente pela miscigenação racial nos EUA.
Shockley defendia teses eugênicas por natureza.
Naqueles tempos, a taxa de natalidade dos negros americanos era mais alta do que a dos brancos e, segundo ele, a persistência dessa tendência levaria à diminuição do QI médio dos EUA. Então, acreditando piamente nisso, ele imaginou que a solução seria oferecer um prêmio de cinco mil dólares às mulheres negras que concordassem em ser esterilizadas.
E para ajudar nesse tipo de absurdo, essas ideias foram encontrar eco num artigo publicado em 1969 na prestigiada revista Harvard Educational Review, por Arthur Jensen (1923-2012), professor da área de Educação em Berkeley. O que Jensen afirmava era que a inteligência padrão dos negros nos EUA, pelo teste de QI, era muito menor do que a dos brancos. E completava, por ser a hereditariedade do QI muita alta, essa diferença entre brancos e negros seria genética. Acrescentando, absurdo dos absurdos, pelo pressuposto do comportamento genético não ser mudado pelo meio, que a esperança de alteração nessa lamentável diferença seria praticamente nula.
Desnecessário dizer que Arthur Jensen e William Shockley foram (e são) ouvidos por muita gente nos EUA e mundo afora. Mas algumas vozes contrárias também se levantaram.
Luigi Luca Cavalli-Sforza (1922-2018), especialista em genética de populações e vinculado ao Departamento de Genética da Escola de Medicina da Universidade de Stanford, foi uma das mais destacadas.
Luca Cavalli-Sforza, sem muito esforço mas com dificuldade para convencer os mais sectários, demonstrou que a falta de compreensão genética de Jansen e Shockley e seus asseclas era gritante. E que essa fragilidade seria a responsável pelos erros graves cometidos por eles. Além disso, no início dos anos 1970, Richard Herrnstein (1930-1994), professor de psicologia em Harvard, publicou um estudo demonstrando que as diferenças de QI entre classes sociais eram de duas a três vezes maiores do que entre brancos e negros.
A discussão, aparentemente, amainou nos meios acadêmicos até retornar, em 1994, com a publicação do livro The bell curve (A curva normal), da lavra de Richard Herrnstein & Charles Murray, ressuscitando as velhas e surradas ideias racistas. Muitas das teses desse livro foram e ainda são adotadas e defendidas pelos conservadores extremistas nos EUA.
O livro é bem escrito, busca a persuasão do leitor e exagera no uso de correlações (associações que não são relações de causa e efeito) para demonstrar que o QI dos pais importa mais do que a condição socioeconômica. Mas Herrnstein & Murray não insistiram que a diferença de QI entre brancos e negros seria genética. Ainda que, sutilmente, tenham defendido a mesma tese, ao alegarem que, pelo fato do QI ser tão hereditário, é “provável” que a diferença seja genética.
Luca Cavalli-Sforza defendia que a hereditariedade do QI estaria mais próxima dos 30% e não dos 60%, como referido por Herrnstein & Murray. Há que se considerar, segundo ele, no tocante à inteligência pessoal, que, além da hereditariedade genética, há uma parcela relacionada com a hereditariedade cultural (transmissão ao longo de gerações) e outra ligada a fatores individuais.
Os pais podem transmitir mais do que seus genes aos filhos. Incluem-se valores morais. Banir a ideia de que algumas raças são, definitivamente, melhores e mais inteligentes do que outras, seria um bom começo.
(Do livro Ah! Essa estranha instituição chamada ciência, 2021.)
Os Homens são como os vinhos: “a idade azeda os maus e apura os bons”. Será que Cícero tem razão?
Eu acredito que todo ser humano pode passar por grandes transformações. Nesse sentido, eu discordaria de Cícero. Ao mesmo tempo, Cícero também tem razão.
Acredito na humanidade e por isso acredito na possibilidade de transformações, mas é preciso estar sempre vigilante, buscar sempre saber as reais motivações das pessoas por trás de suas ações para saber se é vinho bom ou vinho mau.
Do ponto de vista geral, nas relações da sociedade, o tempo mostra que aqueles que praticam o bem e se envolvem em projetos de desenvolvimento social, ambiental, cultural… cada vez mais vão se aprofundando em boas ações. É simples de observar, aqueles que ajudam nas comunidades permanecem ajudando até que uma intempérie ou a saúde lhe impossibilitar. De outro lado, têm aqueles que nunca ajudam em nada na sociedade e cada vez mais vão se tornando céticos em seu próprio egocentrismo.
Nas relações mais íntimas cuidado, muitas pessoas boas são enganadas em sua inocência por pessoas carregadas de malícias e sem nenhum compromisso.
Quando você mais precisar e menos espera, as pessoas que você acredita que gostavam de ti, podem te deixar de mãos abanando com uma mão na frente e outra atrás… na hora que eles precisarem vão te sorrir e lhe ludibriar, mas, quando você precisar, provavelmente terão desculpas…
Preste atenção nas suas relações, inclusive naquelas pessoas que parecem ser boas… na dúvida, pense sempre em primeiro lugar em você mesmo e depois em quem já provou no tempo que não te abandonaria por nada.
De nada adianta falar que jamais a esqueceremos uma vez que levou junto a si parte de nós, pois que a pertencia, desde sempre, desde o primeiro grito, e então um pedaço de nós arrancou.
Quando uma Mãe vai embora, não se engane, nunca fale que será melhor descansar, que assim… que partiu sem sofrer…
Quando morre uma Mãe, morre-se junto, não por completo, em seu todo. Morre-se sim, em parte, em partes, perde-se pelo menos o cordão, que foi seu, pela metade, e nosso, pela ponte da vida que nos tornou iguais.
Quando morre uma Mãe, a parte que tínhamos em seu ventre vai embora. Não seremos jamais como éramos. Não temos agora a quem pedir para voltar, porque de sua parte nascemos e quando pedíamos para voltar ao seu ventre, não nos ouvia, mas, ria.
Fechou-se finalmente nossa porta de entrada neste mundo e para o qual não temos mais saída. Palavras não consolam, porque uma pequena morte ocorreu em nós, nesta fugidia vida que um dia pertenceu a ela.
Quando morre uma Mãe, somos finalmente jogados ao exílio, agora somos expatriados porque nossa mensageira, que nos trouxe um dia, partiu para sempre. Exilados, começaremos na manhã seguinte a pensar quanto tempo nos falta para reencontrarmos, agora que ficamos sem sua proteção, sem a sua mão, sem seu útero por perto, nosso casulo que um dia pensamos retornar.
Nada mais importa, somos enfim jogados no mundo descalços para o frio, famintos de seios que nunca mais nos alimentarão. Abandonados na esteira do acaso, aguardando as sombras que caminham lado a lado em uma enfermaria qualquer, em nossa direção.
Quando morre uma Mãe, morre a razão de nossa chegada, por que nada mais vai nos aquecer, nada vai nos proteger, e o mundo que nos é apresentado, sem a sua presença, é um palco de gritos e choros incontidos.
Já que partiu, levou consigo o que lhe pertencia de fato, o elo que nos ligava no despertar para a luz. Apagou-se, foi-se embora quem nos deu a estrada, foi-se, igualmente, sem vida, quem nos defendeu da morte. Sempre soubemos que ela iria, um dia. Mas não queríamos pensar em ficarmos.
Quando morre uma Mãe, ficamos cúmplices de um mundo errante, nossos laços proibidos não os dividiremos com ninguém, agora em que ficou escuro novamente. Porque não aqueceu como o era, antes de nascermos. Agora está frio, está muito claro lá fora, será preciso comer sozinho, beber desilusões. Teremos de caminhar com nossas próprias pernas, agora e sempre, porque a imagem de carona no seu ventre protegido acabou e teremos de viver como estranhos neste mundo de lágrimas e banhos gelados.
De nada adianta falar que jamais a esqueceremos uma vez que levou junto a si parte de nós, pois que a pertencia, desde sempre, desde o primeiro grito, e então um pedaço de nós arrancou. Nem será preciso pedir a uma Mãe que fique, porque nosso desejo será o de partir. Agora teremos louças e panos pretos a secar.
Enfim, viveremos com o que resta de nós, até voltarmos à casa, sermos chamados por ela para que nos assentemos à mesa, impecável, onde o jantar será servido. Jantar para os que não esperam mais nada, então, em cadeiras vazias, em tapetes e gatos a encharcar-se de solidão.
Reafirmo o quanto é mais enriquecedor viver em sociedades plurais, nas quais surgem as mais diversas formas de pensar, e como são empobrecedoras as sociedades singulares, nas quais temos de nos enquadrar a um único e intolerante modelo.
Inúmeras vezes, na função de médico psiquiatra e de professor de medicina, fui perguntado se as religiões ajudavam ou desajudavam na saúde e na qualidade de vida das pessoas. Por isso, e já faz tempo, coloquei no papel sete fatores positivos e sete negativos.
Faço parte daqueles que acreditam que as religiões tolerantes ajudam, e que as religiões intolerantes desajudam.
Religiões tolerantes ajudam ao oferecer às pessoas:
1. Rede de apoio social.
2. Alívio da sensação de solidão pelo pertencimento a um grupo.
3. Reforço, para aqueles que assim desejam, da sensação de estar protegido por um ser superior.
4. Comportamentos saudáveis em relação ao uso de álcool e outras drogas.
5. Um sentido para o sofrimento e para a morte.
6. Rituais para superar lutos por perdas vitais de familiares e amigos.
7. Ideias de solidariedade, amor ao próximo e tolerância.
Religiões intolerantes desajudam ao incentivar:
1. Ideias sectárias de superioridade do próprio grupo e de inferioridade dos demais.
2. Preconceitos e discriminações que dividem a sociedade de forma maniqueísta entre bons/certos e maus/errados.
3. A rejeição a pessoas homoafetivas, mesmo se desejosos de participar da vida religiosa.
4. O acobertamento de práticas criminosas produzidas por seus membros, como o caso da pedofilia e da exploração financeira.
5. Práticas rituais emocionalmente muito fortes que podem desencadear surtos psicóticos.
6. Condutas morais inatingíveis, que geram comportamentos hipócritas.
7. O combate à laicidade, que assegura a separação entre o Estado e a Igreja, garantindo a proteção de se crer em outras religiões, no agnosticismo e no ateísmo.
Finalizo reafirmando o quanto é mais enriquecedor viver em sociedades plurais, nas quais surgem as mais diversas formas de pensar, e como são empobrecedoras as sociedades singulares, nas quais temos de nos enquadrar a um único e intolerante modelo.
Recado do secretário-geral das Nações Unidas, depois de o serviço meteorológico europeu ter registrado, nas três primeiras semanas de julho, as temperaturas mais quentes da história
do Velho Mundo: “As mudanças climáticas estão aqui. É aterrorizante. E é apenas o começo”. O planeta entrou na era da “fervura global”.
Nesse momento de mudança climática, num mundo cada vez mais quente e cheio de riscos, dada a carga pesada que impomos ao planeta, consta no Relatório da Plataforma Intergovernamental Sobre a Biodiversidade e os Serviços Ecossistêmicos, IPBES, que “os ecossistemas, as espécies, a população selvagem, as variedades locais e as raças de plantas e animais domésticos estão se reduzindo, deteriorando ou desaparecendo. A essencial e interconectada rede de vida na Terra se retrai e está cada vez mais desgastada”.1
Ponto delicado, “os ecossistemas do mundo enfrentam ameaças sem precedentes”, sentenciou Antonio Gutierrez, secretário-Geral da ONU, em mensagem datada de maio de 2019. Decerto, as consequências são de longo alcance, prejudicando, entre outros, e de forma severa, a segurança alimentar. Não por acaso, a mudança climática das últimas décadas já causou uma queda de 4% a 5% na produção mundial de trigo e milho em relação a 1980.2
Seja como for, na base de significativo declínio da natureza, uma série de impasses (da crescente emissão de dióxido de carbono à mais avassaladora produção de plásticos; da invasão de habitats selvagens à constante poluição do ar, da água, do solo; da mortalidade ininterrupta de árvores ao aumento do nível do mar) atravessa nossa realidade cotidiana, e traz a certeza de que a nossa espécie, de um jeito ou de outro, e pouco importa o jeito, se especializou em gerar saldo ecológico negativo.
Sob esse sentimento, exploração do globo – fruto dos danos do industrialismo -, consolidando o modo capitalista de produção, talvez seja, à primeira vista, o nome mais adequado para isso. Pelo sim, pelo não, somente a degradação da terra, cabe reparar, afeta 40% da população mundial.
No entanto, a coisa toda é bem mais séria. De acordo com o Relatório de Riscos Globais 20233, tudo leva a crer que todos (vale aqui o grifo) os riscos planetários mais importantes são ambientais, e muitas das mudanças climáticas, nessa mesma sequência, são irreversíveis. Ainda assim, a crítica é pertinente: por conta de nossos excessos, chegamos até aqui afetando a biodiversidade (nosso suporte vital), a preservação dos biomas, os habitats e o ciclo de nutrientes.
Não obstante a isso, cada vez mais, pelo modo de vida ocidental, fazemos o planeta arder. Conceito amplo, “não estamos indo ao encontro do aquecimento global e da mudança de regime climático. Já estamos dentro”,4 assinala Leonardo Boff. De forma semelhante, Alberto Acosta, economista equatoriano, chama-nos a atenção ao dizer que “não é mudança climática, é colapso climático”.5
Em palavras realistas, enquanto os tecnocratas debatem se o crescimento verde (fisicamente impossível) nos legará um mundo ecologicamente sustentável, e se com mais tecnologia é possível acelerar a produção e levantar uma economia sem limites, os homens e suas ações, longe de qualquer sinal de pausa e voltados a justificar a concepção moderna de mundo desenvolvido, seguem dando provas contundentes de como afrontar os ciclos ecológicos do planeta – o ciclo da água, do carbono, do oxigênio, do nitrogênio.
De resto, no ponto ecologicamente insustentável de agora, próximos dos limites planetários, aumentam os perigos que a natureza enfrenta devido as mudanças do clima, seja pelo nosso comportamento antropocêntrico dominador, pelas crescentes práticas de produção ou mesmo, e isso está longe de ser assunto comum, por conta das 36,6 bilhões de toneladas de CO² (GtCO²) que mandamos para a atmosfera.
Dolorosa consciência, não há mais como esconder: somos agora mesmo ameaçados pelas consequências globais do agir humano sem compromisso com a causa ambiental.
Mais concretamente, pensando o modelo de modernidade conhecido, isto é, o atual “capitalismo de desastre” (expressão empregada pelo filósofo francês Mark Alizart), pesa-nos reconhecer que, enquanto respiramos a cultura de crescimento econômico (baseado no extrativismo de recursos e na expansão dos mercados, vale dizer, na maneira como temos medido a civilização), nenhuma área conhecida está a salvo das consequências de nossas ações produtoras de complexos problemas de degradação do planeta.
Ora, degradação do planeta, insistindo com o assunto, é a expressão mais forte de nossa negligência com a Natureza, eixo da vida, matriz de tudo. A partir dessa perspectiva, falamos aqui de ações que, sobretudo, geram distúrbios no meio ambiente. Ou impactos ecológicos (sempre numa escala global) decorrente da política de abundância material (cuja destruição dos recursos naturais, cada um sabe, faz parte dessa lógica) em tempos de modernidade industrial.
E no caso ainda de refinar-se a análise, tudo indica que não há mais como contestar a guerra do homem contra a natureza, expressa sobretudo na destruição ininterrupta dos ecossistemas do globo, empurrada, é claro, pela dinâmica capitalista.
Nesse mesmo tom, não é a primeira vez que os teóricos da ecologia afirmam com clareza suficiente que, na era dos humanos (na nossa condição!), há anos queimando carvão e petróleo e fazendo a economia girar com mais velocidade, seguimos marcando conflituoso relacionamento com o planeta vivo, a ponto de afetar os suportes à vida (solos, chuvas, aquíferos, rios, lagos, oceanos, polinizadores, perda do gelo marinho, diversidade biológica). Assim sendo, fica bem claro que o que estamos fazendo com – e contra – o planeta, nos condena.
De toda forma, sustentado pela ideologia neoliberal, não é de hoje que nosso poder de perturbar à biosfera se mescla à nossa irresponsabilidade ambiental. Que o digam os mais variados elementos de descompasso ambiental e climático.
Nessa direção, longe de esgotar o assunto, temperaturas em partes do Ártico estão até 20ºC mais altas que a média, como mostra o Arctic Resilience Report, relatório conduzido peloInstituto de Pesquisas Ambientais de Estocolmo. Já os oceanos, que desempenham papel crucial na regulação do clima, continuam com muito mais ácidos (redução de seu pH), alterando o equilíbrio nos mares e ameaçando os ecossistemas de recifes e a biodiversidade marinha. No sentido tradicional, para fechar aqui esse conteúdo, somos lembrados pelo conhecimento científico que 18 dos 31 ´sinais vitais´ do planeta, incluindo as emissões de gás com efeito estufa, a espessura das geleiras e o desmatamento, já alcançaram níveis recordes preocupantes.
Na origem dos fatos, importa muito notar com redobrada atenção, o Antropocentrismo dominador compromete de imediato duas realidades: o sistema- vida e o sistema-mundo.
De forma resumida, nessa tragédia ambiental nossa de cada dia, o que está em jogo, de fato, é o futuro da nossa própria existência e do nosso planeta. É esse o ponto mais delicado diante de nós.
A crise ambiental global é, antes de tudo, uma crise de valores que afeta sobremaneira a forma de pensar, agir e sentir da humanidade. Qualquer um com um mínimo de inteligência precisa perceber isso. Leia mais: https://www.neipies.com/terra-adoecida-humanidade-a-deriva/
2. LOBELL, D. B. et al. Climate trends and global crop production since 1980 [Tendências climáticas e produção agrícola global desde 1980]. Science, n. 333, p. 616-620, 2011.
É preciso dizer que a imigração alemã trouxe muito progresso, com a sua arte, cultura e saberes técnicos, para os locais em que os alemães se fixaram. Eles são os fundadores de várias cidades importantes, nos estados do sul do Brasil.
Dias desses participei de uma discussão, em um site chamado “Blumenau Mil Grau”, sobre uma enquete feita no “Reddit”, cujo tema era: o que os alemães pensam sobre os descendentes sul-americanos? Para quem já teve a oportunidade de conhecer e vivenciar a Alemanha e a sua cultura na atualidade, nada de novo. Mas para quem vive no Brasil, se achando alemão, pelo fato de ter um sobrenome germânico, a discussão poderá propiciar uma interessante reflexão.
Inicialmente, para quebrar aquele paradigma dos “imigrantes agricultores”, que emigravam aos milhões da Europa fugindo das guerras ou da fome, para cultivar terras no Brasil. Comprovei em pesquisas feitas por mim, e por outros autores, que muitos alemães não eram agricultores. Alguns eram ferreiros, sapateiros, marceneiros, construtores, padeiros, alfaiates, tipógrafos, ou de outras diversas profissões da época.
Família Franken: histórias em dois continentes: As curiosidades do autor, transformaram-se em pesquisa e depois em um livro. Com o intuito de pesquisar sobre o sobrenome alemão Franken, a imigração alemã no Brasil e a vinda de sua família da Alemanha para o Brasil, levou o autor a pesquisar no Brasil e na Alemanha em diversas fontes. Leia mais: https://www.neipies.com/passo-fundense-divulga-dois-importantes-livros/
Meu bisavô Heinrich Franken, por exemplo, veio para o Brasil, a pedido do II Império, como mestre fundidor, (Stahlgusmeister). E tivemos até imigrantes alemães que se tornaram soldados mercenários e ajudaram a defender as divisas do Brasil, dos frequentes ataques espanhóis. Não sei por que se desenvolveu a ideia de que os imigrantes alemães, eram todos agricultores. E, também, por que os brasileiros acreditam que aquelas bandinhas da Baviera (Blasmusik) e seus trajes típicos, representam as músicas e vestimentas alemãs? Ledo engano!
A imigração alemã foi um projeto em larga escala e de longo prazo, patrocinado pelo governo brasileiro para povoação das terras. Em 1824, chegaram os primeiros 39 colonos alemães. Em 1850, com a proibição do tráfico de escravos, os programas para atrair imigrantes floresceram. Além do que, a vinda de imigrantes europeus brancos corroborava com a ideia racista da elite dominante, de que era preciso “clarear” a população brasileira, formada em parte por índios e negros. Nessa mistura de vontades, interesses, disposições e necessidades, de dois povos distintos e distantes, muitas coisas aconteceram e uniram brasileiros e alemães.
É preciso dizer que a imigração alemã trouxe muito progresso, com a sua arte, cultura e saberes técnicos, para os locais em que os alemães se fixaram. Eles são os fundadores de várias cidades importantes, nos estados do sul do Brasil.
Vários de seus descendentes transformaram-se em políticos, cientistas, industriais, comerciantes e intelectuais de renome. Eles também fundaram por aqui inúmeras associações, educandários, clubes sociais, esportivos e recreativos, empresas e jornais. É inegável a influência positiva da imigração alemã na formação do povo brasileiro.
Porém, acho instigante voltar aos dias atuais, para nos olharmos como descendentes de alemães e perguntar: o que sabemos dos alemães e da Alemanha atual? Então voltarei a enquete que participei, sobre as respostas dos alemães no “Reddit”. A pergunta era se os alemães sabiam da existência de uma cultura alemã no Brasil.
Muitos alemães que já visitaram o Brasil se manifestaram dizendo que sim. Blumenau foi a cidade mais citada por eles, mencionando-a positivamente pela “Oktoberfest” e pela sua arquitetura. Entretanto, todos os alemães participantes que tiveram contato com a cultura alemã no Brasil, afirmam que existem muitos estereótipos, variando entre “isso é muito engraçado” e “isso é bem racista”.
Eles acreditam que alguns descendentes mantiveram aspectos negativos da cultura alemã como, por exemplo, achar que apenas pessoas loiras são alemãs. Faz tempo que comentários desse tipo são altamente reprováveis por lá. Ficam indignados ao ver brasileiros com ascendência alemã, sentindo-se superiores aos das outras etnias. E acreditam que essas pessoas estão culturalmente distantes do que a Alemanha realmente representa atualmente. Devido à desconexão com a Alemanha atual, não enxergam os brasileiros de origem alemã, como parte do povo germânico.
Em conclusão, os alemães acreditam que esses brasileiros possuem uma concepção da Alemanha e do seu povo, baseada em línguas e estereótipos antigos. Pois eles têm orgulho de sua cultura atual, com aspectos muito diferentes daqueles do passado e gostariam de compartilhá-la com os brasileiros.
Em cem, duzentos anos, dá muito tempo para construir e desconstruir ideias, costumes, tradições e até mesmo a língua, que se transforma, junto aos avanços tecnológicos. Para além do “Jus Sanguinis”, ficou um legado importante da vinda dos imigrantes alemães: a amizade, a cooperação e a fraternidade, que de longa data os dois países e seus povos cultivam. E assim, comemoraremos os 200 anos da imigração alemã. Pois, a riqueza do nosso povo é ter recebido a influência de tantas culturas, para nos tornarmos um povo singular e multifacetado, que ainda hoje forja a sua própria identidade.
Meu bisavô: Heinrich Franken, nascido em 1841, em Düsseldorf/Alemanha.
Minha neta: Isadora Loss Franken, nascida em 2013, em Passo Fundo.
Essa mentalidade obscurantista é perversa e doentia, pois quanto mais as pessoas desacreditarem na ciência e na organização racional da vida em sociedade, mais estarão propensas a se tornarem subservientes ao poder autoritário e às formas cruéis de dominação que geram medo e desespero na coletividade.
Em tempos de Fake News, de certos bípedes que se autoproclamam “cidadãos de bem”, que defendem o indefensável, que elegem como mito um personagem patético genocida, que destilam ódio pelas redes sociais e que atacam perversamente quem pensa diferente, torna-se sensato pensar defender a ciência e sua importância para evitar a barbárie e salvaguardar a civilidade. Digo isso porque estes mesmos bípedes que durante a pandemia foram contra a vacina e as evidências científicas, se colocaram contra os avanços da ciência e chegaram a proclamar o absurdo do terraplanismo.
Na minha avaliação tais manifestações, além de serem absurdas e criminosas, são espelhamento de uma mentalidade obscurantista que enganou e continua enganando os ingênuos, confunde os indecisos e instaura o caos da irracionalidade que só beneficia os poderosos, os donos do poder, os truculentos, os oportunistas e detentores do capital.
Essa mentalidade obscurantista é perversa e doentia, pois quanto mais as pessoas desacreditarem na ciência e na organização racional da vida em sociedade, mais estarão propensas a se tornarem subservientes ao poder autoritário e às formas cruéis de dominação que geram medo e desespero na coletividade.
Historicamente, um dos grandes pensadores que lutou contra essa mentalidade obscurantista foi o italiano Galileu Galilei (1564-1642). Seu nome certamente é lembrado quando se fala em Ciência Moderna: tornou-se o criador da física moderna, quando anunciou as leis fundamentais do movimento; foi considerado um dos maiores astrônomos de todos os tempos, pelas observações que fez com o telescópio que ele mesmo criou; e tornou-se um dos mais importantes inventores do método científico moderno pela forma como passou a abordar os fenômenos da natureza. Por tudo o que representou em termos de ciência e de filosofia, de forma justa, Galileu Galilei é considerado um dos pais da Ciência Moderna.
Galileu Galilei nasceu na cidade de Pisa/Itália, num período de profundas e importantes transformações. Depois de fazer seus estudos iniciais, frequentou durante um tempo um monastério como noviço. Depois de sair do monastério, dedicou-se por um tempo aos estudos de medicina, mas logo foi atraído pela matemática, a partir dos estudos de Euclides e Arquimedes, dedicando-se principalmente ao estudo de problemas de balística, hidráulica e mecânica. Seu zelo pela investigação e suas descobertas no campo das matemáticas possibilitaram que em 1592 fosse nomeado catedrático de Matemática na Universidade de Pádua, onde continuou seus estudos em física, desenvolvendo suas concepções sobre geometrização desta área de investigação.
O zelo pelo método científico fez com Galileu estabelecesse alguns princípios que continuam válidos até hoje.
O primeiro princípio do método é a observação dos fenômenos, tais como eles ocorrem, sem que o cientista se deixe perturbar por preconceitos extra-científicos, de natureza religiosa ou filosófica.
O segundo princípio consiste na experimentação, ou seja, nenhuma afirmação sobre fenômenos naturais pode ser aceita sem que haja uma verificação de sua legitimidade através da produção do fenômeno em determinadas circunstâncias.
O terceiro princípio estabelece que o correto conhecimento da natureza exige que se descubra sua regularidade matemática e com isso é possível prever certos fenômenos que ocorrem na natureza. Com tais princípios, Galileu possibilitou uma nova visão da natureza e dos fenômenos naturais, pois para ele “o livro da natureza está escrito em caracteres matemáticos” e sem o conhecimento de tais caracteres, “os homens não poderão compreendê-lo”.
Galileu foi um defensor da teoria de Copérnico de que a terra está em movimento e gira ao redor do sol. Tal teoria havia levado Nicolau Copérnico a fogueira. Galileu também foi denunciado, julgado e condenado por defender tal teoria. Para não ser queimado na fogueira, em junho de 1633, aos 70 anos, foi obrigado a ajoelhar-se diante do Tribunal da Inquisição, em Roma, e a abjurar a teoria copernicana.
Em 1992, passados 360 anos do julgamento de Galileu, com profunda humildade o Papa João Paulo II revogou oficialmente sua condenação, dizendo que era necessário “remover as barreiras, ainda incitadas em muitas mentes pelo episódio Galileu, que possam obstruir uma relação frutífera entre ciência e fé”.
O gesto do Papa sobre o caso Galileu certamente deveria servir de inspiração para que possamos pensar e olhar para os acontecimentos do presente com menos preconceitos, ódio, rancor e cegueira moral. É a capacidade de pensar que nos possibilita uma convivência mais amigável e produtiva com o conhecimento científico e que este nos ajude a sermos seres humanos melhores, livres de notícias falsas (Fake News) que circulam irresponsavelmente pelas redes sociais e que ameaçam o surgimento de um novo obscurantismo em pleno século XXI.