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Há ódio demais, há terror e mísseis demais. Temos de parar esta guerra. Comecemos rezando?

Mas ainda haverá esperança para o mundo? Sim, sempre, mas não para eles, os inocentes que morrem, todos os dias, nos conflitos e guerras que ainda produzimos porque não conseguimos dimensionar a palavra PAZ.

Aprendemos a amar Israel, que soube consolidar-se como nação e como referência de respeito, solidariedade e convivência com os diferentes, mas, hoje, não a reconhecemos em sua obsessão por vingança. Há que se separar, no entanto, o povo judeu, sua história, seus exemplos, suas conquistas, dos seus atuais líderes políticos, para não incorrermos em julgamentos equivocados.

Como seria bom se fôssemos, TODOS, escolhidos por Deus! Qualquer povo. Somos, através das religiões monoteístas, vinculados e ligados ao patriarca maior, o profeta Abraão.

Jesus, também Messias para os cristãos, disse que somos escolhidos por crer, apenas crer, e o que nos torna parte desta caminhada de servos divinos é a nossa fé. Fé, simples assim, não necessariamente o nosso nome, sobrenome ou nacionalidade.

O sonho da terra prometida deve ser sustentável, mas a reação desmedida e injustificada a toda população da Faixa de Gaza, como pensam alguns, não suporta a tese do direito à proteção, tão defendido por Israel. Há Terra para todos, todos podem respirar,

há dias ensolarados para todos, mas há mísseis para todos, igualmente, sem a vontade de perseguir, obsessivamente, por PAZ duradoura.

Pelo histórico recente do conflito entre Israel e o grupo Hamas, a vida de um palestino vale muito menos, por volta de 10 por 1, no mínimo. Em breve, mais de uma dezena de milhares de palestinos estarão mortos e ainda centenas de judeus, todos inocentes.

Tudo leva a crer, que a revanche em curso não cessará até que a morte se estenda aos milhares em Gaza, porque, nota-se, há expressa vontade de extinguir não apenas o grupo terrorista, mas a todos, limpar a Faixa, destruir, dizimar. A morte das crianças parece justificar-se, para que não cresçam e propaguem o ódio à nação Israelita. Tudo, por um futuro seguro. Será?

Nunca houve tamanha desproporção antes, como se está vendo agora. Milhares de palestinos, na condição de crianças, mulheres, idosos, enfermos, morrerão por apenas serem palestinos, como vítimas do conflito. E para o espanto de todos, sob a complacência da ONU, aos olhos da mídia e das redes sociais, onde assistimos em tempo real, como a civilização pode dizimar-se a si mesma.

Partilhando do mesmo destino, ser palestino ou um andarilho verde e amarelo, hoje, é diariamente ter de escolher entre a sorte de viver mais um dia, mais uma noite, ou ser humilhado, apenas por tentar viver. Quem se importa?

De igual maneira, choram as famílias dos que foram capturados. Encarcerados em lugares lúgubres, com alimentação racionada, é quase impossível colocarmo-nos em seu lugar. Filhos e pais sequestrados pelas mãos do terror. Sem a certeza de sua volta. A bandeira da dor e do desespero humanos não tem cores. Há muito que se rezar por eles. É o mínimo que podemos fazer.

Mas ninguém quer negociar. Destruir é a ordem.

E muitas são as semelhanças nesta mesma desgraça, onde o mundo dos infelizes é sempre diferente do mundo dos felizes. Como estamos longe do palco do ódio, nossas impressões e conclusões geralmente estão erradas.

E assim que o desejo de morte cessar, em ambos os lados do Rio Jordão, o abandono seguirá o mesmo e o mundo os esquecerá, como os esqueceu até aqui.

Os inocentes que morrem diariamente, em conflitos, sequestros e guerras que produzimos, são sustentados pela incapacidade dos que se alimentam da guerra, em compreender que somente a paz pode alimentar a esperança e a vida, e que somente a VIDA, tem de se sobrepor aos interesses de todos. Mas pensar a paz é muito difícil para quem vende armas. A lógica da morte é a que prevalece.

Ainda haverá esperança para o mundo?

Sim, sempre, mas não para eles.

Autor: Nelceu Zanatta

Edição: A. R.

Por uma vida sem violência

Com este projeto, os/as estudantes, junto com a professora, realizaram atividades de aprofundamento da temática Violência contra as mulheres e fizeram uma intervenção  social em sua comunidade.

Foi este o nome do projeto realizado na Escola Estadual de Ensino Médio General Prestes Guimarães, coordenado pela professora Loreni de Farias Oliveira da Silva. Tinha por objetivo geral compreender e discutir com ações comunitárias  e  de  conscientização, de  situações  e  ambientes dentro do  entorno  escolar,  na  busca  de  situações de paz, sem violência e pela  vida.

Seus objetivos específicos eram: a) ter  ações  concretas,  dentro  do entorno  escolar,  em  que  a  escola está   localizada  de mobilização  para  que  se  tenha  dentro  das  disciplinas e  ações pedagógicas na  busca  de  mobilizar para  o  conhecimento da  Lei  Maria  da  Penha  e  sua  contribuição  para fortalecer na busca da Paz; b) debater  com a  turma a   leitura  e  interpretação  do  conteúdo  desta  lei,  no  caso  a  da  Maria da  Penha,  de  forma interdisciplinar, maneiras  de  melhor  conhecimento  e  aprimoramento  em  sala  de  aula  e  outras situações  de  ensino  aprendizagem.

Com este projeto, os/as estudantes, junto com a professora, realizaram atividades de aprofundamento da temática Violência contra as mulheres. Realizaram palestras, assistiram vídeos, tiveram dias de estudo, fizeram confecção de cartazes e informativos sobre a Lei Maria da Penha, distribuição de panfletos junto à comunidade.

Este projeto transcorreu por cerca de dois meses, entre os estudos, a confecção de materiais e a intervenção fora da escola, junto à comunidade da qual a escola é parte.

Estas atividades e este projeto fizeram parte do itinerário formativo Ética e Relações interpessoais, com uma turma de terceiro ano do Ensino Médio.

Ocorreu também uma palestra com Maria Cristina Andreolla, assistente social, professora, psicopedagoga e estudante de Direito. Ela também é Coordenadora do Centro de Referência e Atendimento à Mulher vítima de violência (CRAM).

Breve artigo, produzido pelos estudantes.

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Uma luta contra a violência doméstica e o feminicídio no Brasil

Maria da Penha Maia Fernandes é uma mulher brasileira que se tornou símbolo da luta contra a violência doméstica no país. Em 1983, ela foi vítima de uma tentativa de homicídio por parte de seu então marido, que a deixou paraplégica. Porém, mesmo com todas as evidências contra o agressor, a Justiça falhou em puni-lo, gerando uma longa batalha judicial que durou mais de duas décadas.

Em decorrência desse caso, Maria da Penha se tornou uma ativista incansável na luta pelos direitos das mulheres e pela prevenção da violência doméstica. Sua atuação foi fundamental para a criação da Lei Maria da Penha, sancionada em 2006, que busca garantir a proteção às mulheres vítimas de violência e combater a impunidade dos agressores.

Um dos principais crimes enfrentados pelas mulheres é o feminicídio consiste no assassinato de uma mulher por razões relacionadas ao seu gênero. Infelizmente, o Brasil é um dos países que mais registra casos desse tipo de violência, e a luta contra o feminicídio se tornou uma pauta urgente da sociedade.

O feminicídio está intrinsecamente ligado à cultura machista e patriarcal que perpetua a ideia de que as mulheres são propriedade dos homens e, por isso, têm o direito de controlá-las e subjugá-las. Além disso, essa violência é potencializada pela cultura do silenciamento e pela falta de denúncias e punições adequadas.

Nesse sentido, a Lei Maria da Penha trouxe avanços importantes no combate ao feminicídio, ao estabelecer medidas de proteção para as vítimas, como a concessão de medidas protetivas de urgência e a criação de juizados especializados em violência doméstica. No entanto, ainda há muito a ser feito para efetivamente combater esse crime.

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Os estudantes avaliaram esta atividade como bem proveitosa e positiva, proporcionando conhecimentos e possibilitando uma intervenção social fora das paredes da escola.

O estudante Patrick Feula dos Santos escreveu:

A metodologia do projeto foi bem sucedida, conseguimos alcançar nossos objetivos. Os recursos e estratégias que usamos foram adequados para o nosso propósito que era impactar a comunidade e a escola. O envolvimento dos estudantes e professores, nesse projeto, foi bastante alto, passamos dias e dias analisando, estudando, fazendo o projeto. Percebi que os estudantes adquiriram bastante conhecimento sobre a Lei Maria da Penha, mostrando interesse e participando das atividades propostas. O projeto contribuiu muito para a comunidade. Nos deparamos inclusive com o caso de uma senhora, que está sofrendo dentro de casa e só precisa de apoio para denunciar!

A professora Loreni de Farias Oliveira da Silva escreveu:

“Foi de muito proveito elaborar o projeto e pesquisar mais a fundo sobre este tema e sua importância. Acredito que trazer essa questão da violência de gênero, feminicídio e proteção a mulher para a sala de aula gera conscientização dos estudantes sobre esses problemas, demonstra formas de prevenir crimes, a forma como podemos denunciar, a quem as mulheres podem recorrer e qual a assistência que elas recebem das autoridades”.

Fotos e registros: (uso restrito) Divulgação/ arquivo pessoal professora Loreni de Farias Oliveira da Silva.

Edição: A. R.

Expansão da EaD no ensino superior prejudica a qualidade da formação

A educação sempre foi e continuará sendo essencial na formação humana e par ao desenvolvimento de uma coletividade ou nação. O Brasil praticou, historicamente, a dualidade estrutural na educação: formação acadêmica sólida para os filhos das elites e profissionalização de mão-de-obra barata para os filhos dos trabalhadores. A EaD reproduz está lógica, pois é precária e destinada a estes jovens trabalhadores.

O Censo do Ensino Superior (ES) de 2022, divulgado pelo Inep/MEC em outubro passado, revelou e confirmou um crescimento excessivo da Educação a Distância (EAD) no Brasil. Excessiva porque demonstra que o número de ingressantes no ensino superior na modalidade EAD foi o dobro dos ingressantes na modalidade presencial e, nesta perspectiva, deve superar os ingressos presenciais brevemente. Em nenhum outro país tamanha expansão existe.

Preocupado e pressionado, o MEC (Ministério da Educação) abriu Consulta Pública até 20 novembro 2023 para revisar os critérios de credenciamento de Instituições de Ensino Superior (IES) para a modalidade a distância e estabelecer limites à oferta de cursos da área de saúde na modalidade de educação a distância (EaD). A motivação para revisar a regulação da oferta foi intensificada após a publicação do relatório do GT EaD que analisou os cursos de Direito, Enfermagem, Odontologia e Psicologia nesta modalidade virtual.

O Sinpro/RS, com o apoio da Federação dos Trabalhadores em Estabelecimentos de Ensino (FeteeSul), Sinpro/Noroeste e Sinpro/Caxias, também promoveu o V Seminário Nacional Profissão Docente e debateu o crescimento dessa modalidade de ensino nas mãos das empresas de educação e os impactos dessa expansão na qualidade do ensino e nas condições de trabalho dos professores.

Desde 2004, quando se instituiu o Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior (Sinaes), por meio da Lei nº 10.861, as IES, os Cursos Superiores de Graduação e os Estudantes (Enade) são avaliados. Porém, o exercício das funções de regulação, supervisão e avaliação das instituições e dos cursos superiores de graduação e pós-graduação do sistema federal de ensino são fixadas por decreto presidencial.

Em 2017, o então presidente Michel Temer, atendendo pressão e interesses das IES privadas sem fins lucrativos, emitiu o Decreto nº 9.057 flexibilizando a regulamentação, a supervisão e avaliação. Naquele momento, ao analisarmos o referido decreto, criticamos a nova regulação como sendo irresponsável.

Atualmente, não somente confirma-se tal irresponsabilidade, como o excesso de cursos e matrículas em EaD coloca em risco a qualidade do sistema federal de ensino superior brasileiro formando precariamente milhões de estudantes e profissionais. Logo após este decreto, o número de polos em EaD das IES expandiu-se 6.583 para 15.394, sem necessidade de supervisão e avaliação in loco nestas unidades.

Chegamos agora em 2022 a condição de que apenas cinco instituições privadas concentram 27% de todos os alunos do ensino superior no Brasil. Dos 9,4 milhões de matriculados nos cursos de graduação do país em 2022, mais de 2,5 milhões estudavam nestas cinco instituições, sendo 91% das matrículas na modalidade EaD. Tamanha concentração, com instituições que investem na bolsa de valores, é um risco aos estudantes e a qualidade do ensino superior brasileiro.

Juntas, a Universidade Pitágoras Unopar Anhanguera (do grupo Cogna), o Centro Leonardo da Vinci, a Universidade Cesumar, a Universidade Estácio de Sá e a Universidade Paulista detêm mais alunos que as 312 instituições públicas de ensino superior no Brasil, que possuem ao todo 2,07 milhões de estudantes

Esta concentração de matrículas em EaD em tão poucas Instituições de Ensino Superior (IES), privadas, com fins lucrativos, sem pesquisa e extensão, com pouca atividade formativa, sem articulação teórico-prática, com turmas de até 2 mil alunos, inviabiliza um trabalho de qualidade do professor. Nas IES pequenas, também, são atribuídas diversas disciplinas a um único tutor com baixo salário e formação específica.

O número de ingressos em cursos de graduação a distância tem aumentado substancialmente nos últimos anos, tendo ultrapassado a marca histórica de 3 milhões de novos estudantes em 2022. Por outro lado, o número de ingressantes em cursos presenciais vem diminuindo desde 2014. Em 2021, foi registrado o menor valor dos últimos 10 anos. Em 2022, foi registrado uma quebra da tendência e o número de ingressantes em cursos presenciais voltou a subir um pouco.

A taxa de desistência de estudantes matriculados nesta modalidade em IES com fins lucrativos chegou em 2019 a 58,19%, enquanto que nas IES sem fins lucrativos foi de 51,08. A avaliação de cursos em EAD e o desempenho de estudantes no ENADE é negativa, preponderam os conceitos 1 e 2, ou seja, reprovados. Porém, estas instituições permanecem funcionando mesmo não atendendo o mínimo de qualidade estipulado pelo Sinaes, ou seja, conceito 3, 4 ou 5.

Na contramão da expansão das matrículas e da EaD, o número de docentes em atuação na educação superior de graduação, na rede particular, vem diminuindo. Em 2015, a rede privada possuía 190.989 professores e, em 2022, baixou para 151.425 (quase 40 mil a menos). Enquanto isto, o número total de matrículas no ensino superior continua subindo e a participação das instituições particulares já absorve 78% do total de matrículas. Enquanto isto, o número de professores nas redes públicas continua crescendo e chega a 173.378, para atender um total de 22% matrículas, ofertando ensino, pesquisa e extensão com maior qualidade.

O que está em discussão não é somente o uso de tecnologias, a modalidade de EaD na educação superior e a possiblidade de “jovens trabalhadores” poderem cursar uma formação superior acessível, como alegam os defensores da modalidade EaD. O que precisa ser discutido e questionado é o excessivo uso em escala tão elevada no Brasil, considerando nossa breve tradição na educação, com enormes  desigualdades sociais, econômicas e tecnológicas, nos constituindo na maior rede  ofertante do mundo de ensino na modalidade de EaD. Deve-nos alertar, que esta oferta, dirige-se para jovens, majoritariamente, trabalhadores, pobres, sem tempo e espaço para a dedicação aos estudos, em instituições privadas mercantis. Não há país nas américas e nem no mundo com uma taxa  tão elevada de educação a distância como a brasileira.

A Unesco publicou, em julho de 2023, o Relatório Global de Monitoramento da Educação 2023 abordando o tema da Tecnologia na Educação: Uma ferramenta a serviço de quem? Trata-se de um alerta, principalmente, sobre o uso excessivo, intensivo e como as ferramentas tecnológicas estão fazendo parte do cotidiano das salas de aulas (sejam presenciais ou virtuais), bem como as plataformas digitais ameaçam o papel das universidades e representam desafios regulatórios e éticos.

O historiador, arqueólogo e professor da UFRGS, Francisco Marshall, diz que a cegueira brasileira funda-se na opção multissecular de não se reconhecer na educação um valor social fundamental. Houve e há esforços e resultados notáveis na luta pela educação, mas esses lutam contra forças hostis, causa de nossa permanente crise educacional.

Uma parte da sociedade é contra a educação, e disso decorrem salários vergonhosos do professorado, a degradação da escola pública e os recentes ataques a educadores e instituições de ensino. Ainda pior, há hoje políticas públicas decididas a acabar com o belo modelo da educação.

Já o professor e pesquisador Júlio C. G. Bertolin, autor do livro Qualidade em Educação Superior, alerta que esta EAD praticada no Brasil dilapida o que as políticas de democratização ajudaram a melhorar no sistema de ensino. Esse contexto coloca em pauta o importante debate sobre a qualidade em educação superior, uma vez que, na emergência da sociedade do conhecimento, os graduandos necessitam de uma formação integral – tal qual a antiga ideia da Paideia Grega –, com capacidade de proporcionar uma educação que forme indivíduos que, além de competentes, criativos e inovadores, sejam críticos, empoderados, com capacidade de agência, cosmopolitas e tolerantes.

Este Brasil anti-paidéia, impõe, que a formação inicial e continuada de professores seja quase que exclusivamente em EAD. Os cursos superiores de formação de professores (as licenciaturas) já atingem 64% de suas matrículas em EAD e os ingressos nesta modalidade, em 2022, corresponderam a 81%. Isto ocorre só no Brasil. Nas IES privadas as matriculas em licenciaturas são 88% em EAD, enquanto nas IES públicas, inversamente, a maioria é presencial: 81,6%. Dentre os cursos de licenciatura, prevalece o curso de Pedagogia com quase a metade dos alunos matriculados (49,2%) ou pouco mais de 821 mil alunos matriculados. Destes, 650.164 estudantes cursam Pedagogia em EAD, sem formação teórico-prática, sem estágio em salas de aula, que irão trabalhar na educação infantil e alfabetizar nas séries iniciais do ensino fundamental.

O próprio ministro da educação Camilo Santana se posicionou no sentido de que “Precisamos garantir que os cursos de pedagogia e licenciatura devem ser focados no presencial. […] Um professor não pode ser formado sem a experiência prática de sala de aula, isso não existe.” Sabe-se que isso vai contra os interesses de grandes grupos educacionais, que tem uma fonte de lucro fácil e gigantesco, e quem perde é o país e o povo brasileiro.

O debate acadêmico sobre o cenário atual da Educação Superior no Brasil, segundo os pesquisadores Artur Jacubus, Rosangela Fritsch e Ricardo Vitelli (Unisinos), pode ser expresso pelas metamorfoses e processos de mercantilização da Educação Superior no mundo e no Brasil como consequências e reflexos do capitalismo global, do projeto neoliberal e do protagonismo do Estado; pelas influências das políticas educacionais mundiais protagonizadas por organismos internacionais e multilaterais e pelo panorama da expansão e das tendências da Educação Superior Brasileira marcado pela fragmentação, flexibilização, heterogeneidade e diversificação de conceitos, configurações e modelos institucionais no âmbito do projeto societário capitalista neoliberal global.

A educação sempre foi e continuará sendo essencial na formação humana e par ao desenvolvimento de uma coletividade ou nação. O Brasil praticou, historicamente, a dualidade estrutural na educação: formação acadêmica sólida para os filhos das elites e profissionalização de mão-de-obra barata para os filhos dos trabalhadores. A EaD reproduz está lógica, pois é precária e destinada a estes jovens trabalhadores.

A educação, seja básica ou superior, exige tempo e espaços organizados e estruturados, professores pesquisadores bem formados, com tempo integral presencial, mediados por tecnologias inclusivas, em espaços públicos comuns, para desenvolverem aprendizagens significativas dos estudantes para a vida de todos em sociedade justas.

FONTE: https://www.extraclasse.org.br/opiniao/2023/11/expansao-da-ead-no-ensino-superior-prejudica-a-qualidade-da-formacao/

Autor: Gabriel Grabowski

Edição: A. R.

Educação não pode ser reduzida a treinamento

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Será que a escola repleta de tecnologias e alunos adestrados para responder textos de avaliações externas são credenciadas a promover educação de qualidade?

Educação escolarizada, em todos os tempos, sempre foi uma assunto digno de atenção, de apreço e de investimento. Por muito tempo, a educação escolar era privilégio de poucos, geralmente das elites econômicas que tinham condições de contratar e pagar tutores ou preceptores para educar seus filhos para que pudessem acessar saberes e conhecimentos das ciências, das artes, das técnicas e da cultura em geral. Quando a educação escolar se tornou pública, resultante das conquistas do pensamento moderno que se deu conta que a inteligência humana não é definida pelo sangue ou pela genética, temos um salto gigantesco que possibilitou o desenvolvimento em todas as áreas do saber e que resultou o aprimoramento técnico e a prospecção das infinitas invenções que possibilitaram a circulação gigantesca de informações e saberes.

Chegamos ao século XXI com uma infinidade monstruosa de aparatos tecnológicos, invenções científicas e possibilidades infinitas de aprimorar os processos educacionais e as formas de convivência humana.

No entanto, se olharmos atentamente para os dias atuais, percebemos que ainda estamos distante de um tão sonhado mundo educacional onde todos indistintamente possam aprender e se desenvolver como seres humanos íntegros. A educação escolar continua sendo o calcanhar de Aquiles da grande maioria dos países, principalmente, os que continuam ostentando as maiores desigualdades.

Quanto maior a desigualdade, maiores as dificuldades de avançar numa escolarização decente que possibilite, principalmente aos mais pobres, terem acesso a uma educação que promova emancipação e autonomia.

No caso do Brasil, os tecnocratas que se apossaram dos espaços políticos de decisão, passaram a difundir a ideia que a educação de qualidade será conquistada quando houver um pleno acesso as tecnologias e quando os alunos tiverem bom desempenho das avaliações de larga escala. E assim, imensos recursos públicos são destinados para aparelhar tecnologicamente escolas e treinar os alunos para responderem avaliações em larga escala, como se educação fosse sinônimo de treinamento.

Mas será que a escola repleta de tecnologias e alunos adestrados para responder textos de avaliações externas são credenciadas a promover educação de qualidade?

Quando a educação descuida da formação ética, instrumentaliza as artes e encarcera o pensamento, poderá produzir os “bárbaros digitais” que promovem a violência virtual ou física, o discurso de ódio que fortalece e dissemina as diversas formas de racismo, xenofobia, misoginia, aporofobia e tantos outros preconceitos que assistimos cotidianamente? São questionamentos e problemáticas pautadas por muitos pensadores, dentre eles Immanuel Kant (1724-1804).

Kant certamente é um dos filósofos mais conhecidos da modernidade. Nasceu em uma Königsberg, na época, uma das principais cidades do império prussiano oriental, conhecida por ser um grande local portuário, onde eram trocadas mercadorias coloniais da região por manufaturas inglesas. Sua vida não registrou qualquer incidente particular, pois teve uma trajetória serena e laboriosa quanto tantos outros filósofos. Trabalhador incansável, consagrou sua vida ao estudo e produziu uma diversas obras filosóficas amplamente mencionadas e estudas na tradição filosófica da modernidade e ainda revisitadas e reinterpretadas na contemporaneidade. Pode-se até dizer que não se estuda a fundo filosofia sem passar por Kant.

Além de ser um dos mais respeitados e lidos filósofos modernos, Kant deixou também um ligado pedagógico, menos conhecido, mas igualmente importante para compreendermos a educação para além e aquém da vala comum.

Kant tem muito a nos dizer sobre educação, pois nos oferece um painel rico e denso sobre como deve ser a educação das crianças e dos adolescente. Em sua obra Sobre a Pedagogia, discute um conjunto de temáticas incrivelmente atuais e pertinentes para pensarmos a educação de nosso tempo. Já na introdução nos diz que “o homem é a única criatura que precisa ser educada” e que “por educação entende-se o cuidado de sua infância, a disciplina e a instrução com formação”. Diferente dos animais que já possui instintivamente os recursos para se defender, as crianças precisam ser cuidadas para que “não façam uso nocivo de suas forças”.

A disciplina faz parte da educação, pois é ela que “transforma a animalidade em humanidade”, possibilita que o ser humano faça uso da razão e, com isso consiga “formar a si mesmo”. É a disciplina “que impede ao homem desviar-se do seu destino, de desviar-se da humanidade, através das suas inclinações animais”. É a disciplina que submete o homem às leis da humanidade e começa a fazê-lo sentir a força das próprias leis.

Além de disciplina a educação também é “instrução com formação”, pois o homem não pode se tornar verdadeiro homem senão pela educação. Ele é aquilo que a educação fez dele”.

A educação é uma arte, cuja prática necessita ser aperfeiçoada por várias gerações. “Cada geração”, diz Kant, “de posse de conhecimentos das gerações precedentes, está sempre melhor aparelhada para exercer uma educação que desenvolva todas as disposições naturais na justa proporção e de conformidade com a finalidade daqueles”. Para ele, “uma boa educação é justamente a fonte de todo bem neste mundo”.

Uma boa educação do ser humano possui para Kant os seguintes elementos: a) “ser disciplinado”, ou seja, ser capaz de impedir que animalidade prejudique o caráter humano; b) “tornar-se culto”, pois a cultura consiste na criação da habilidade e esta é a posse de uma capacidade condizente com todos os fins que almejamos; c) “cuidar que o ser humano se torne prudente”, ou seja, possibilitar que cada indivíduo se torne cortês, gentil, saber conviver de forma civilizada; d) “cuidar da moralização”, ou seja, que o ser humano tenha condições e disposição de escolher bons fins, aprovados necessariamente por todos e que podem ser, ao mesmo tempo, os fins de cada um.

Educação para Kant não é treinamento ou exercício mecânico. Treinam-se cães e cavalos. Mas o ser humano precisa ser educado, pois “não é suficiente treinar as crianças; urge que aprendam a pensar”.

Talvez esse seja o principal desafio do nosso tempo: passados mais de 200 anos dos escritos de Kant sobre educação e ainda tem-se dificuldade de compreender seus escritos, pois para muitos “educação de qualidade é medida pelo treinamento das crianças e adolescentes para responder avaliações de larga escala”.

Ainda não foram dados passos seguros no caminho do “aprender a pensar”. Talvez precisamos estar mais atentos aos formatos educativos que estão sendo postos ou vendidos em nossas escolas, com a retórica que estamos preparando as crianças para o futuro quando sua efetivação poderá produzir os bárbaros digitais que ameaçam a própria humanidade.

De tempos em tempos, surge uma nova mania na educação. Uma febre sazonal. Toda vez promete-se muito e cumpre-se pouco. E dá-lhe estripulias para render matérias na imprensa, sites e redes sociais.. As salas makers, suspeito, são a moda da vez. Assim mesmo, em inglês, para dar pompa às circunstâncias, à espetacularização do momento. (Aleixo da Rosa)Leia mais: https://www.neipies.com/o-curioso-caso-dos-alunos-que-preferiram-os-livros/

Autor: Dr. Altair Alberto Fávero

Edição: A. R.

A morte lhe assusta? Então viva!

A morte é inexorável, e a lição que podemos aprender é a de que falar sobre a morte é falar sobre a vida, mais do que isso, é resignificar para melhor viver a vida!

Há 3,2 milhões de anos Lucy já andava sobre os dois pés, e, como bípede, caracterizava-se como um ancestral dos hominídeos, os quais, somente mais tarde, há 1,5 milhões de anos passaram a dominar o fogo e, com isso, utilizar da fogueira para aquecer-se, endurecer pontas de lanças e afugentar animais. Mas foi há cerca de 100 mil anos que o homem passou a compreender a morte e a elaborar rituais de despedidas (deixando objetos ao lado do corpo, p.ex.), conforme achados nas cavernas de Qafzeh, em Israel.

O tema Morte é universal e atemporal, e, desde que o homem passou a viver em grupos precisou descobrir uma forma de lidar com esta realidade. 

Vamos encontrar tantas formas de percepção sobre a morte quantas forem as diferentes culturas possíveis de relatá-las; Vestir-se de preto significa luto? Sim, e não… há sociedades onde o branco representa a cor da morte. Chorar, ficar em silêncio, praticar abstinências e jejuns é o correto? Sim, e não… há culturas (como a mexicana) onde o Dia dos Mortos é uma festa, um verdadeiro carnaval com direito a máscaras, música alta, desfiles e a apoteose em um festival de comes & bebes em pleno cemitério!

Há milhares de religiões no mundo; segundo o google – onde  há informações imprecisas de que existem no mundo todo algo entre 10 mil ou 60 mil delas – estas religiões tratam a morte conforme seus dogmas: sono profundo, céu & inferno, reencarnações, levar ou não velas e flores a cemitérios, enfim, buscam uma maneira de confortar aqueles que ficam em luto.

Ao abordar o tema morte em uma sessão de psicoterapia, o psicólogo deve respeitar a crença de cada um (segundo o Instituto Datafolha/2022 cerca de 14% dos brasileiros se diz sem religião), pois estão nas religiões os lugares onde mais se fala sobre o ato de morrer. Então, deve este ater-se à saúde mental de quem o procura, sobre o quanto possam estar sendo afetadas suas funções laborais ou de relacionamentos sociais e de convívio familiar.

Estar enlutado não significa estar doente, é um processo de reação à uma perda e, nas palavras de Freud em seu texto Luto e Melancolia, trata-se de um processo lento e doloroso caracterizado por uma tristeza profunda.

Poder dispor de um ambiente seguro, sem que venha a ser censurado por sua fala, é o primeiro passo para o trabalho de assimilação/superação ao acontecido.

Na mitologia greco-romana, Sísifo, considerado o mais astuto dos mortais enganou a morte, mas não por muito tempo, pois, tão logo descoberto, veio o seu castigo. 

A morte é inexorável, e a lição que podemos aprender é a de que falar sobre a morte é falar sobre a vida, mais do que isso, é resignificar para melhor viver a vida!Então, converse com aqueles que você ama, reaproxime-se de quem esteja distante por algum mal entendido ou por bobagens…

Pare de inventar desculpas e de adiar o que precisa ser feito. Viva o hoje e agradeça o dom da vida a cada dia que acordar. Menos lamúrias e mais atitudes farão a diferença em seu dia.

Autor: César Augusto de Oliveira

Edição: A. R.

Cem anos de 1923

O que para mim fica mais uma vez evidente são os estragos causados pelas nossas guerras, sim foram guerras, os autores usam tanto o termo “revolução” como “guerra”.

Revolução ou Guerra Civil? Pouco importa. O que importa é que se estude este fato, que haja pesquisa, que se escreva. Diante de tanto silêncio do Centenário deste episódio, finalmente podemos ler “Cem anos da Revolução de 1923 – História, mídia e cultura”,  editado agora pela Sulina o livro organizado por Álvaro Nunes Larangeira e Juremir Machado da Silva.

Além dos organizadores, temos textos de Larissa Caldeira de Fraga, Pâmela Chiorotti Becker. Taila Lopes Quadros, Beatriz Dornelles e o posfácio de Marcos Juliano Borges de Azevedo.

Pode ser falha minha, mas vasculho e pouco acho escrito até aqui. Dos atores, de então, temos a biografia de Zeca Neto, “A campanha de 1923”, do General Flores da Cunha. Dos historiadores daqueles tempos um livro citado pelos autores que é do Arthur Ferreira Filho, a “Revolução de 1923” é um escrito sério, porém sabemos que o autor era castilhista.

Poucos estudos mais sérios, de fundo, de pesquisa foram feitos que eu conheça.

Agora, em boa hora, cem anos depois, temos a busca do que se escreveu nos jornais daqueles tempos, como agiram os periódicos de fora daqui, como o Correio da Manhã, do Rio de Janeiro, o Correio Paulistano de São Paulo, até mesmo a revista Time, dos EUA. Pouco sobrou do jornal Gazeta do Alegrete, porém a Beatriz Dornelles consegue recompor boa parte dele e do pensamento de seus donos.

Temos uma lúcida análise de como o imaginário da revolução de 1923 aparece na parte III do seu clássico O tempo e o vento, de Érico Veríssimo.

Não cabe aqui entrar num relato de cada capítulo, mas de instigar a leitura deste livro, louvando a atitude de Álvaro e Juremir, professores e jornalistas que tiveram o tino e capacidade de explorar o tema pelo viés tanto da história, como da mídia e da cultura.

O que para mim fica mais uma vez evidente são os estragos causados pelas nossas guerras, sim foram guerras, os autores usam tanto o termo “revolução” como “guerra”.

A Guerra dos Farrapos é cantada em prosa e verso, de forma ufanista, chegando criar um mito em torno das lutas nas coxilhas. Mesmo com alguns estudos sérios da Guerra Civil de 1893-95, tenta-se de todas as formas apagar as matanças e as degolas. Como também em 1923 se tenta passar a ideia de que foi “mais amena”. Comparativamente, foi menos dolorosa, mas no livro há passagens que mostram o ódio que reinava no Rio Grande do Sul.

Ainda se pede um estudo sobre como estes três episódios puderam contribuir para o  atraso do nosso estado em relação a outros estados da federação.

Neste livro temos uma ideia que não havia “santos” de nenhum lado. Mas fica evidente, mais uma vez, o autoritarismo do castilhismo e os roubos de eleições, feitas pelo borgismo.

Autor: Adeli Sell

Edição: A. R.

Os jovens ainda gostam de religiões

Deus é amor. Para nos ensinar a amar, Ele inspirou o aparecimento das religiões. Deus mesmo não tem religião e Ele pode ser encontrado através de todas elas. (Frei Betto, em Religião é motivo de briga?)

Fui convidado pelo IHR (Instituto Histórico Regional) para uma conversa na arena principal da Feira do Livro de Passo Fundo em 20 de outubro de 2023, dentro da programação oficial. Era uma sexta-feira à noite e a atividade começou às 20 horas (detalhe que a feira fechava às 21 horas). Preparei-me para uma pequena/grande conversa sobre o tema “Religiosidades nas diferentes culturas”.

O assunto da fala, que chamei bate-papo, foi extremamente relevante; afinal, a diversidade religiosa no Brasil é parte da riqueza cultural e constitui nossa brasilidade e identidade. Pensando nas diferentes formas de expressão e em saudações religiosas, expressei-me dizendo Axé, Hare Krishna, Shalom, A Paz de Cristo, Salaam Aleikum/ Aalaikum As-Salaam, Namastê, Aleluia, irmão, Saravá.

Apresentei-me como professor de Ensino Religioso das redes públicas municipal e estadual e como estudioso das religiões. Com orgulho adotei este componente curricular como preferencial, apesar da minha formação ser da Filosofia.

Mais de 30 pessoas que sentaram na arquibancada ouviam-me atentamente. Falei que sigo a religião Católica Apostólica Romana. Contei, também, da minha relação e convivência de quase 20 anos com pessoas de diferentes credos em nossa cidade, através de formação e encontros de professores e de uma entidade que congrega religiões chamada CONER (Conselho do Ensino Religioso Seccional Passo Fundo).  Disse, ainda, que conhecimentos das diferentes religiões não afetaram em nada minha fé pessoal. Falei, brevemente, das diferenças entre fé, religião e espiritualidade.

Com bastante ênfase, ponderei sobre a importância de estarmos, naquele momento, falando sobre religiosidades, sobretudo em tempos em que o mundo convive com diversos radicalismos e guerras. Disse, também, que era extremamente importante uma Feira do Livro estar trazendo as temáticas da religiosidade e da espiritualidade para o debate público, na perspectiva do Estado laico. Afinal, uma Feira do Livro é realizada em espaço público, promovendo a diversidade dos gêneros literários e dos conhecimentos que nos constituem humanos, inclusive, os conhecimentos religiosos. Sugeri, então, que as edições das próximas feiras dialoguem mais com os atores e sujeitos da cidade que queiram promover, com maior fôlego, conversas e debates sobre os conhecimentos religiosos e a necessidade da tolerância religiosa e cultura de paz.

Destaquei, ainda, a importância da formação dos professores e professoras que atuam no Ensino Religioso das escolas da rede pública municipal e estadual. Reafirmei que estes devem ser bem preparados e devem contar com o apoio que precisam para tratarem os conhecimentos religiosos na pluralidade e no diálogo, sem proselitismos e/ou ensino de moralismos. Afirmei, como aprendi há bom tempo, que conhecer diferentes religiões tem o propósito de aprender a respeitá-las.

Disse também que nossa cidade Passo Fundo possui importantes referências religiosas, templos e diferentes atividades públicas de manifestação das principais religiões mas que, também, ainda convivemos com bastante preconceito e discriminação, especialmente para com as religiões de matriz africana e matriz indígena.

Casos de intolerância religiosa causam preocupação em Passo Fundo. 16/03/2023. Município tem registrado ataques contra religiosos. Religiões de matriz africana são o principal alvo dos criminosos. Assista: https://globoplay.globo.com/v/11454744/

Chamou-me atenção que na plateia que me assistia haviam professoras e alguns estudantes. Estavam bem atentos e acompanhavam todas as minhas falas.

Quando abri o microfone para o diálogo, oito pessoas perguntaram e interrogaram sobre diversos aspectos do que eu havia dito. Dentre estes, dois jovens estudantes perguntaram se eu acreditava no meu trabalho e se o ensino das religiões contribuía para a construção de uma sociedade mais humana e fraterna?

Respondi a todos os questionamentos, alguns até um pouco embaraçosos e complexos. Há sempre que se entender a complexidade do universo das religiões e dos seus conhecimentos e práticas. Minha formação, estudos e convivência com diferentes religiosidades recomendam evitar, sempre que puder, o proselitismo e as comparações.

Por fim, depois desta breve atividade de 45 minutos, despedi-me da Feira mas, sem antes perguntar ao senhor que cuidava do som da arena, sobre a atividade transcorrida. Ele me respondeu:

-O senhor foi bem, mas deixa eu lhe dizer uma coisa: eu gostei mesmo foi dos dois jovens que lhe pediram sobre religião. Eu achei que os jovens não tinham mais interesse em religião.

Jovens não desperdiçam oportunidades para manifestar seu interesse pelas religiões, pois estão em busca de respostas e de vivências de espiritualidade. Os jovens não vivem sem fé e nem estão perdidos como muita gente supõe; eles estão em busca, abertos e ávidos por diálogos que valorizem as suas dúvidas, os seus argumentos e as suas inquietações. Vale ainda lembrar que nossos jovens são a primeira geração que tem condições históricas, à luz de informações e conhecimentos, para escolher suas religiões (mesmo que seja a mesma de seus pais) ou mesmo escolher viver sem.

Autor: Nei Alberto Pies

Edição: A. R.

As mulheres vão embora

Cute family in a autumn park. Happy mother with two children. Family in the courtyard near the house.

Toda mulher tem um homem que se foi”. Assim começa um poema que escrevi cerca de 20 anos atrás, reforçando a ideia de que eles saem para comprar cigarro e esquecem de voltar.

A sociedade sempre aceitou como natural a figura do homem que um dia se enrabicha por outra e abandona a família, ou, dizendo de forma menos cafajeste, a do homem que deixa de amar a esposa e reconstrói sua vida. Pertencia só a eles a liberdade de ir e vir. Tinham dinheiro no bolso e eram donos de seus narizes: às mulheres restavam as lágrimas e uma pensão para os filhos, tivessem um bom advogado.

Hoje, as mulheres também vão embora. Não precisam alegar que irão comprar cigarro na esquina, a sinceridade é mais saudável: elas se vão porque a relação se desgastou, se vão para escapar de um parceiro agressivo, se vão porque se apaixonaram por outro, se vão porque evoluíram profissionalmente e novas oportunidades surgiram. Se vão porque assim decidiram.

Diante da secular hegemonia masculina, nossa independência ainda é uma novidade, nem todos se acostumaram. Mas homens esclarecidos e sagazes nos respeitam. Sofrem, como nós sofremos com a partida deles. Choram. A dor da perda é a mesma.

Vez que outra, os mais inconsoláveis rogam praga: “você vai ficar sozinha para o resto da vida!”. Cuidado.

Em vez de inibi-la, a ameaça poderá entusiasmá-la: o que não falta é mulher sonhando em sair de uma relação para viver só para seus livros, filmes e amigos, livre como o vento soprando nas montanhas. Pena que não há poesia na ignorância.

Uma mulher que se vai, para muitos, é uma afronta. Homens mal preparados para a igualdade não sabem lidar com a rejeição.

Em vez de buscarem uma terapia para ajudar, eles buscam a arma que escondem em cima do armário, buscam uma faca na gaveta da cozinha e aumentam os índices de feminicídio. É só ler os jornais, acompanhar as estatísticas. É sempre a mesma razão banal: matou porque ela teve a audácia de largá-lo.

Extra, extra! As mulheres vão embora. Ganham o próprio salário e vão embora. Leem, se informam, se unem, se reconhecem em outras mulheres, e se for necessário, vão embora. São mães e vão embora sem fugir de suas responsabilidades: estão protegendo os filhos de um ambiente hostil. Amaram seus homens, foram felizes com eles, e quando deixaram de ser, foram embora.

Nada de novo, é o que os homens sempre fizeram. Novidade seria se eles fossem assassinados por causa disso. Eduquemos bem nossos meninos de 8, de 10, de 15 anos: mulheres não são propriedade alheia, elas vão embora. Cientes dessa realidade, quando adultos eles se tornarão os melhores companheiros, os mais inteligentes, os mais amorosos, aqueles que darão a suas parceiras todos os motivos para ficar.

Uma mesma pessoa pode aparentar grandeza ou miudeza dentro de um relacionamento, pode crescer ou decrescer num espaço de poucas semanas. Uma decepção pode diminuir o tamanho de um amor que parecia ser grande. Uma ausência pode aumentar o tamanho de um amor que parecia ser ínfimo. Leia mais: https://www.neipies.com/o-tamanho-das-pessoas/

FONTE: https://www.nsctotal.com.br/colunistas/martha-medeiros/as-mulheres-vao-embora

Autora: Martha Medeiros, autora da crônica “O mundo não é maternal”: https://www.neipies.com/o-mundo-nao-e-maternal/

Edição: A. R.

Cartas Pedagógicas como prática de ensino e pesquisa

Por estas Cartas queremos nos comunicar com educadores/as, estudantes, militantes e todos os leitores, desejosos por conhecer um pouco mais a caminhada que fizemos para assegurar e recriar o legado de Paulo Freire em nossas lutas concretas.

Cartas Pedagógicas como prática de ensino e pesquisa é uma obra coletiva, produzida em tempo real, no processo do curso com o mesmo nome, ministrado em 12 aulas, online. Com o alcance da tecnologia, chegamos em 16 estados da Federação.

As Cartas Pedagógicas aqui encontradas resultaram de muito estudo, pesquisas e escrevivências desde as realidades vividas pelos educadores/as participantes do curso. 

Todas as Cartas foram lidas nas aulas, avaliadas e aprovados pelos educadores/as, visando o conjunto deste livro. Elas constroem fio a fio a história de uma experiência educativa em diferentes espaços de lutas por uma educação humana, emancipatória e libertadora.

Por estas Cartas queremos nos comunicar com educadores/as, estudantes, militantes e todos os leitores, desejosos por conhecer um pouco mais a caminhada que fizemos para assegurar e recriar o legado de Paulo Freire em nossas lutas concretas.

Escrever e bordar, são duas tarefas espetaculares, terapêuticas. Cada uma guarda segredos próprios, revelados às mulheres e homens, que souberem desvelar esse segredo. Não se mede, de forma alguma, o trabalho que gratifica e realiza quem o faz, aparentemente oculto ao olhar sem lentes. Leia mais: https://www.neipies.com/entre-a-pena-e-a-agulha/

Contatos para adquirir o livro: Isabela Camini – whatsapp: 51-99281-5114

Autora: Isabela Camini, autora da crônica “Qualidades necessárias ao educador revolucionário”: https://www.neipies.com/qualidades-necessarias-ao-educador-revolucionario/

Edição: A. R.

MARIA PEQUENA

(Homenagem a Maria Meirelles Trindade, a Maria Pequena, morta em 28/11/1894, durante a Revolução Federalista, em Passo Fundo/RS)

Para e contempla

o que se apresenta:

é o vulto de uma santa?

A imagem de uma besta?

Não, é o espírito da Maria Pequena

que a tradição

chamou de santa

que outros

difamaram-na de puta.

Sina da mulher

da mãe

da esposa

que nos idos da Revolução Federalista

em 1894

teve a vida degolada

da maneira mais torta

da forma mais bruta:

como uma ovelha.

E tal como uma

aquela índia se portou

na defesa do filho e do marido

pica-pau

quando o piquete maragato

lhe assediou

às margens do Arroio Raquel:

não deu um pio

do que eles queriam ouvir.

E nem depois de morta

a deixaram descansar

pois seus restos mortais

foram removidos

pelo temor

do que pudessem representar:

a imagem de uma santa

– do cordeiro imolado –

na defesa dos seus.

E, assim, seus ossos

do cemitério dos anjinhos

onde as mães enterravam seus pequeninhos

junto à sepultura azul

foram removidos

de lá para cá.

Até uma alma “piedosa”

a emparedar

sob o altar

da catedral

de forma que culto

só pudessem dar

depois de o autorizar

o clero local.

Mas não puderam apagar

da memória do povo

aquela que até hoje

é considerada

a primeira santa popular

de Passo Fundo.

Quer conhecer mais, acesse: https://www.upf.br/ahr/memorias-do-ahr/2019/28-de-novembro-dias-das-milagreiras

Foto: Arquivo Histórico Regional (AHR)

Autor: Julio Perez, Do livro Agreste Avena/www.julioperezescritor.com Autor da poesia “Ser poeta”: https://www.neipies.com/ser-poeta/

Edição: A. R.

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