Estamos aqui na praça central de nossa cidade, não poderão destruir tudo. Há muita história por aqui. Venha, vamos dormir em um canto qualquer, um novo dia virá ao nosso encontro.
Um menino atravessa a rua, vem correndo ele, tentando cantar, tentando pular, tentando ser menino.
Sua Mãe o segura firme, entretanto, não o deixa ser o que apenas é. Ela o puxa de todas as maneiras, como que a dizer… não seja um menino, seja invisível, ou uma pedra, uma nuvem, nada há de humano em um menino nesta praça diz ela. A praça morreu.
Ele não entende, a praça é a mesma onde fora criado, somente lhe tiraram suas cores. Virou preta, branca e cinza, por que suas cores foram sugadas pelas bombas.
Por que não posso correr minha Mãe se não se vê nada, não há bombas, elas já foram embora. Até um esquilo, acho que vi a pouco. Vamos ficar aqui mais uns minutos. Entre as bombas que caem pode-se encontrar um fiozinho de vida.
-Venha meu filho, temos de nos abrigar, porque o céu e o seu escuro muitas mortes nos trará.
E o menino que vê e sente seus passos sobre a destruição parece entender o alerta de sua mãe, ela mesma um alvo vivo, tentando proteger seu alvo menor. Fecha-lhe os lados do rosto para que não veja mortos retorcidos pelas ruas e a paisagem de horrores, planejada em salões suntuosos que um dia fora do Ivã, o terrível.
– Por que as bombas minha Mãe? O que foi que vocês fizeram, que eu não possa saber. Por que tanto fogo, e as árvores da praça por que queimaram todas? O que todos vocês fizeram para que nosso irmão se voltasse a nós?
-Nada Pavlo, não precisou fazer nada, bastou existir. O ódio, por si mesmo, vai se alimentando de mais ódio, e basta uma noite para se jurar vingança, e mais bombas cairão. Sem nada a fazer ou pensar, basta tentar e viver. Mais rápido Pavlo, temos de nos abrigar, porque bombas e mísseis são como a sorte, desde que o mundo se fez mundo, caem a esmo, não escolhem onde explodir. São as armas do ódio as que nos caem sobre as cabeças. Basta existir para a morte espreitar. Somos o alvo do mundo de ódio, Pavlo, e nossas defesas estão tão frágeis como se fôssemos crisântemos em campo minado.
Enquanto corriam e quase alcançavam um portão de ferro gongórico para entrar, o som pavoroso e infernal de um míssil atravessa a praça, roçando as copas das árvores que teimavam em não tombar, e, quase os atinge. Não os matou, por ora. Mas os enterrou de poeira e pedras, ou o que restou delas, as mesmas que enquadradas em prédios, ordenadas em fileiras perfeitas que sustentavam casas enormes, vê-se agora caindo como centelhas em uma praça sem vida.
-Levanta-se meu filho Pavlo, ainda não chegou a hora. Vamos entrar neste porão escuro e frio por que é o que o ódio planejou a nós. Venha meu filho, pelo menos criemos um círculo de calor com o que nos resta. Vamos dormir abraçados, não importando se conosco fiquem abraçados os que já partiram.
Estaremos seguros aqui, pela manhã vamos pensar mais em nós mesmos e renovarmos nossa fé. Os homens que nos odeiam podem ter planos, mas é o Senhor quem cuida de nossos caminhos. Rezamos tantos séculos neste país, em nosso passado, que nada nos fará mal.
Estamos aqui na praça central de nossa cidade, não poderão destruir tudo. Há muita história por aqui. Venha, vamos dormir em um canto qualquer, um novo dia virá ao nosso encontro. Afinal estamos seguros neste prédio de Assuntos Exteriores e amanhã, alguém que não ouça pelas ogivas, amanhã alguém poderá nos resgatar.
Enquanto o deus da Ucrânia procura entender por que tantas crianças precisam morrer para satisfazer as metas de adultos adoecidos, no quartel general do grande irmão, soldados acéfalos e robôs confabulam, tentando traçar uma nova rota para mísseis de última geração. A geração da morte! De marte. De pedras somente, da desolação e do desamparo na nova Ucrânia.
– Camaradas, apontem este supersônico para o prédio no centro de Kiev, neste portentoso que já nos pertenceu um dia. É a casa dos Negócios Estrangeiros. Destruam tudo!
Mas vem do porão as palavras para uma última noite de paz. Nesta, pelo menos, Pavlo e sua Mãe dormirão até o amanhecer.
-Boa noite, meu pequeno filho! Vamos enfim dormir o sono dos que perambulam pelo mundo, o sono dos resgatados. Amanhã todos seremos esta praça.
Autor: Nelceu Alberto Zanatta, autor do recém-lançado livro “A planta, suas folhas e um sino”.
A responsabilização e a reparação servem, estas sim, para muita coisa. Já a culpa… A culpa não serve para nada.
No início do conto “Topsy”, do livro “1905”, Brian sente muita culpa pela morte de uma elefanta. Dono de um mercadinho “escondido” na Mulberry Street, em Nova Iorque, era quem a alimentava. Porém, um dia ela foi eletrocutada a mando de Thomas Alva Edson. O fundador da General Eletric queria provar que a corrente elétrica desenvolvida pelo seu concorrente, usada no ato, era perigosíssima.
Brian, um “ninguém” se comparado a Edson, não tinha como evitar a execução. Por que, como Brian, sentimos culpa em situações que, se examinarmos bem, estão além de nosso alcance? Em “Sentimento de culpa”, excelente livro escrito por Paulo Sérgio Rosa Guedes e Júlio Cesar Valz, encontramos a resposta: “O sentimento de culpa é o sentimento de onipotência”.
**
Em um dia de muita chuva, um homem dirigindo um caminhão na mão certa, na velocidade certa, viu, de repente, um automóvel mudar de pista e vir direto em sua direção. Ele chegou a ver os olhos arregalados da motorista antes da batida. Seu caminhão virou de lado. Com poucos ferimentos, tentou em vão salvar a mulher.
Aqueles olhos arregalados o faziam acordar à noite com um imenso sentimento de culpa. Revisou sua conduta: foi tudo muito rápido, não teve como desviar para o acostamento. Como, mesmo assim, a culpa não o abandonava, foi a sua igreja, rezou, fez penitência. Nada resolvendo, veio me procurar.
Ele saía a viajar, concluímos os dois, com a fantasia onipotente de que, fazendo tudo certinho como fazia, nunca se envolveria em acidentes. E, assim, trabalhava sem medo.
De certa forma, esse sentimento de onipotência o beneficiava. Porém, provocava um efeito colateral. Se estava “em suas mãos” não se ferir nem ferir alguém, como conviver com aquela morte sem se culpar?
Só havia uma maneira: reconhecer que não estava somente “em suas mãos”… E conviver com o medo, trocar a culpa pelo medo.
Vamos imaginar que ele tenha cometido algum erro: teria, por exemplo, havido tempo para tirar o caminhão para o acostamento. Não o fez por não estar tão focado na estrada, por sonolência, algo assim. Seria adequado se responsabilizar por isso. Inclusive, poderia, numa atitude reparatória, tornar-se mais e mais focado, mais “acordado” para possíveis acidentes na estrada.
No entanto, culpar-se? Quem consegue ficar sempre focado? Ninguém, é claro. Ninguém é, de fato, infalivelmente onipotente. Assumindo nossa limitação, não vamos esperar e exigir de nós mesmos o que não podemos.
Resignados com a condição humana, nossas ações serão mais realistas. Não viveremos nas “alturas” dos poderes divinos, viveremos com os pés no chão e cientes de nossas responsabilidades e de, muitas vezes, termos de realizar atitudes reparatórias. A responsabilização e a reparação servem, estas sim, para muita coisa. Já a culpa… A culpa não serve para nada.
Se olharmos mais atentamente para nossa história, veremos que a própria composição do povo brasileiro moldou-se nessa direção, calcada, sobretudo, no não reconhecimento das diferenças, embora essas diferenças até sejam evidenciadas quando se quer menosprezar alguém!
Como o título anuncia, divido esse texto em duas partes. Segue a primeira.
Há, ainda, muitos problemas quanto a uma possível “democracia à brasileira” – aqui já adianto que não vou me ater a conceitos – que parecem inviabilizar a superação da desigualdade social e o enfrentamento da injustiça estrutural que compromete uma grande parte da vida de nossa gente. E nem preciso me afastar muito de meu cotidiano para constatar o que afirmo: minha ação na Pastoral Carcerária me mostra a todo momento esse fato.
Gostaria, porém, de me reportar a um desses problemas mais especificamente, pois que, a meu ver, ele engloba muitos outros: trata-se da desigualdade de oportunidades! Sem ela, os maiores esforços envidados pela possível boa vontade de muitas e muitos (na política partidária ou não) correm o risco de cair no vazio. Mas o que significa mesmo isso – desigualdade de oportunidades?
Se olharmos mais atentamente para nossa história, veremos que a própria composição do povo brasileiro moldou-se nessa direção, calcada, sobretudo, no não reconhecimento das diferenças, embora essas diferenças até sejam evidenciadas quando se quer menosprezar alguém!
É então que surge a ideia, equivocada, de que nós vivemos, no Brasil, uma “unidade nacional”. Mesmo idioma (“quem não sabe falar é burro”!), mesmo tipo humano (“brasileiro é tudo igual, sempre querendo levar vantagem em tudo”!), mesma história (“do Oiapoque ao Chuí, eita brasilzão”!), mesmo modelito curricular para as escolas, expedido na capital federal para todo o país (“criança é criança, igual em qualquer parte”!) etc.
Esta presumida unidade nacional se tornou igualmente constitutiva de uma imposição cultural, já que se pauta pelo preconceito, por um moralismo falseado, por um cristianismo deformado e excludente, por um absurdo dizer seletivo que, ao absolutizar o que se deve ser, fazer, dizer, acreditar, descarta tudo e todas e todos que não se enquandram nos seus modelos. De arrasto, “todos são iguais perante a lei” (Constituição Brasileira…) e então, está arquitetada oficialmente a “democracia, com igualdade de direitos e deveres” para todas e todos nós…
Mas, é mesmo assim?!
Vejamos um exemplo: sobre a questão do “idioma nacional”. A Linguística (Ciência da Linguagem) se ocupa também de ajudar a demolir as muralhas do preconceito linguístico instaurado a partir da pretensa unidade linguística nacional (falamos todos um único idioma – Língua Portuguesa!). Tal empreendimento, se constante dos programas de ensino, nas escolas, redundaria numa “democracia linguística nacional”, já que se buscaria diminuir a resistência em tratar os postulados daquela ciência na prática do cotidiano, reconhecendo os dialetos, as variações regionais, não como “língua errada”, passível de ser “corrigida”, mas como um jeito diferente de falar, como constituinte da língua viva!
E o mais interessante é o que já se conseguiu apurar a partir da Linguística: o preconceito não é contra “a fala” da pessoa, mas contra ela mesma, enquanto falante! Destarte, infelizmente, vemos que uma “democratização linguística” está longe de se consolidar, e nós sabemos por quê: os lugares sociais estão também determinados (e muito!) pelo modo de falar! Essa, me parece, é uma das facetas da “democracia à brasileira” que traz enrustidos os ranços perigosos do “eu sei, tu não sabe, vim te ensinar”.
Pois proponho uma análise de democracia a partir das diferenças, o que até pode parecer paradoxal, já que “todos são iguais blá, blá”…
Há quem diga, inclusive, que o reconhecimento, a aceitação e a manutenção das diferenças, com vistas à construção da igualdade de oportunidades, pode se constituir até como chave de desenvolvimento do país! Ora, vejam só! Dessa forma, o fundo abismo criado em nome de uma suposta igualdade constitucional, que acaba por se consumar partindo de injustiças estruturais graves, se torna de alguma forma menos fundo, já que haveria, evidentemente, um esforço reconhecível empreendido, com reais políticas públicas no rumo das oportunidades, o que concorreria para que muitos desses abismos, que “selecionam” as pessoas e barram as oportunidades, viessem a ser paulatinamente desfeitos.
Os olhares do filósofo Paulo Freire indicam exatamente esta trilha, quando vem falando desde há mais de 50 anos, sobre “educação libertadora”, encontrando-se, em determinado trecho, com a Teologia da Libertação, o que torna ambas as propostas muito atuais e nos colocam frente a frente com a possibilidade de uma nova forma de democracia!
…há grupos organizados que definem quem come e quem não come, quem pode ter casa para morar e quem não pode, já que a carência alimentar do corpo é cruel e seletiva e a moradia é um privilégio! Leia mais:https://www.neipies.com/fome/
Deixa o mato crescer em paz Deixa o mato crescer Deixa o mato
Não quero fogo, quero água (Deixa o mato crescer em paz) Não quero fogo, quero água (Deixa o mato crescer)
(…)
Deixa o tatu-bola no lugar Deixa a capivara atravessar Deixa a anta cruzar o ribeirão Deixa o índio vivo no sertão Deixa o índio vivo nu Deixa o índio vivo Deixa o índio
(…)
Deixa a onça viva na floresta Deixa o peixe n’água que é uma festa Deixa o índio vivo Deixa o índio Deixa (Deixa)
(Tom Jobim, Borzeguim)
Nosso antropocentrismo dominador, cada um sabe, tem um jeito próprio: o planeta já aqueceu 1,1°C desde a era pré-industrial (1850-1900), dos quais 0,2°C ocorreu no último quinquênio, entre 2011 e 2015 (Organização Meteorológica Mundial – OMM, 2019); desde 1990, aponta um amplo relatório da Organização das Nações Unidas (ONU), a Terra perdeu 28,7 milhões de hectares de florestas que ajudam a absorver as emissões nocivas de dióxido de carbono da atmosfera; e, agora mesmo, 1 milhão de espécies de plantas e animais estão em risco de extinção.
Claramente determinada pela ação antrópica, não há como negar: seguimos produzindo uma lista de riscos ecológicos já extensa e em avançado curso. E para começo de conversa, vale lembrar: extinção em massa de espécies, erosão de biodiversidade, fragmentação de habitats (especialmente em zonas tropicais), poluição químico-industrial1, aniquilação biológica, destruição da camada de ozônio, emissões de carbono, atmosfera poluída, ciclo de chuvas irregulares, crescimento do consumo e da descartabilidade, planeta plastificado2.
Num termo mais decisivo, sejamos francos: distante de tornar o nosso modo de vida sustentável, e com claras dificuldades de atingirmos uma vivência socioambiental segura, tentamos nos adaptar diante de um grave colapso sistêmico global. Mais concretamente, o agir humano sem compromisso ambiental, herança da modernidade, elimina qualquer dúvida consistente: em toda a nossa história, nunca havíamos provocado significativas alterações do ecossistema, tampouco havíamos agredido a natureza com agrotóxicos e com uma agricultura industrial poluidora.
Ponto de partida, agora mesmo, diante de um meio ambiente empobrecido biologicamente falando e de ciclos ecológicos do planeta (o ciclo da água, do carbono, do oxigênio, do nitrogênio) cada vez mais afrontados pelo antropocentrismo dominador, estamos batendo no teto da capacidade biofísica do sistema terrestre, próximos de exceder os limites da natureza.
De toda forma, convém esclarecer: nunca, antes, estivemos tão perto de matar as zonas oceânicas por excesso de nitrogênio3. Com efeito, jamais havíamos abalado os alicerces de todo o sistema vida; e nem mesmo destruído espaços vitais da natureza, como estamos fazendo agora, a ponto de transformar boa parte da estrutura geológica (a face) da Terra. Nesse contexto, um terço das terras aráveis do mundo estão improdutivas. Foi constatado: três quartos do ambiente terrestre e 66% do ambiente marinho sofreram severas modificações, quer dizer, consolidou-se, na prática, enorme déficit ecológico global.
Serve de exemplo: de 1980 para cá, metade da vida selvagem4 já morreu. De forma ilegal e criminosa – e o caso da Amazônia, a maior fronteira de recursos naturais que o planeta concebeu, é altamente significativo -, mais de 80 mil quilômetros quadrados de floresta desaparecerem de nosso campo de visão.
Seja como for, isso nos ajuda a entender o momento atual. No ponto ecologicamente insustentável que nos encontramos, em meio às acirradas mudanças climáticas e a mais gritante perda de biodiversidade, “maldições gêmeas”, como gosta de dizer a consagrada primatologista britânica Jane Goodall, pesa-nos admitir que nunca derrubamos tantas árvores e queimamos tantas áreas florestais (onde vivem 80% de todos os animais, plantas e insetos, e a maior parte encontra-se ameaçada) como nesse momento.
Triste constatação, parece mesmo, de facto, que nos especializamos em invadir os hospedeiros naturais e em acumular destruição das coisas naturais. Nossos mares continuam sobreexplorados pela sobrepesca que, agora mesmo, comprometem agora mesmo 55% dos recifes do mundo. Também em estado crítico, os mananciais da Terra (superficiais e subterrâneas), num nível cada vez mais degradado, secam em velocidade assustadora. Desde os anos 1960, o número de áreas marinhas pobres em oxigênio, segundo o Programa da ONU para o Meio Ambiente (Unep, na sigla em inglês), vem dobrando a cada década5.
De modo próprio, fazendo breve resumo, seja no mundo das águas ou no ambiente terrestre, nenhuma área conhecida está a salvo das consequências de nossas ações produtoras de complexos problemas de degradação do planeta.
Resultado: pela primeira vez estamos nos limites da biosfera.
*
E tem mais: Nessa sociedade de dominação, a esta altura, estamos conscientes – ou ao menos deveríamos estar – de que o ar que respiramos6 (muito mais tóxico) e as nascentes, devido à falta de práticas agrícolas conservacionistas, continuam bastante poluídos e contaminadas. Especialmente no mundo das águas, não é segredo, diante de muitos outros problemas contemporâneos, formamos agora imensas ilhas de plástico. São enormes bolsões de lixo antropogênico no mar. A maior delas, e de longe a mais assustadora, é a Grande Ilha de Lixo do Pacífico, localizada na parte norte do Oceano Pacífico, aproximadamente uma área de 1,6 milhões de quilômetros quadrados.
Água poluída, resumindo em termos bastante óbvios, é reconhecido sinônimo de morte precoce. O Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) e a Organização Mundial de Saúde (OMS), apontam que 1 em cada 3 pessoas no mundo não tem acesso à água potável; na verdade, nem chegam perto da possibilidade de consumir água tratada.
Moral da história: nos países pobres, a ONU estima que o não acesso à água potável, notadamente em ambientes insalubres, responde por 80% das mortes.
Em todo caso, falamos aqui de modo direto sobre riscos e ameaças cada vez mais insustentáveis que abalam a saúde e a segurança humanas. Esses riscos e ameaças, cabe breve esclarecimento, não são de agora, vem de longe.
Desde 1970 para cá, os cientistas confirmam, dobramos nossa pegada ecológica. Isso quer dizer que a quantidade de natureza que a humanidade faz uso para manter seu próprio (e insustentável) estilo de vida já excede em 50% a capacidade de regeneração e absorção do planeta. Na esteira desse referenciado problema estrutural, asemissões de gases de efeito estufa saíram de 1,28 ppm (partes por milhão), em 1970, para 2,4 ppm, na última década.
Igualmente crítico, nunca havíamos emitido tantos gases de efeito estufa num ritmo tão declaradamente acelerado.7 Nunca, antes, havíamos gerado os mais variados problemas e descompassos socioambientais que indubitavelmente recaem sobre nós mesmos. A começar pela informação relevante do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, IPCC, destacando que, desde a metade do século passado, 1950, os eventos extremos (fenômenos climáticos e/ou meteorológicos fora dos níveis considerados normais) aumentaram de frequência na maioria das áreas terrestres conhecidas do planeta.
Essencialmente, a questão de fundo, para todos os efeitos, está cada vez mais clara: as marcas humanas, ou reflexos de nossas atividades econômicas produtivas, incluindo, é claro, o uso irresponsável de recursos hídricos e a agricultura insustentável dos últimos séculos, contadas desde o início da Revolução Industrial, 1750, até os dias de hoje, nos levam ao impasse, ao limiar do perigo, uma vez que impactam tanto no seio da vida moderna quanto no oikos (ambiente habitado)que nos abriga.
E isso tudo, a rigor, precisa ficar muito claro: pela ação antrópica, passamos a pressionar com muito mais intensidade os recursos naturais, afetando diretamente a vida de plantas, animais e vegetais. Razão pela qual, o que temos feito até aqui, em detrimento da biodiversidade, deixa em evidência a nossa completa falta de responsabilidade socioambiental, referência característica do antropocentrismo dominador.
Tempos sombrios em termos de futuro ecológico, a poluição do ar (quinto fator principal de risco de morte no mundo), sempre um problema global que tantas doenças lega à humanidade, responde atualmente por 16% das mortes no mundo todo. E para continuar falando aqui de outros tipos de poluição, vale saber que, desse momento atual até por volta de 2050, se não mudarmos nosso insustentável estilo de vida consumista, muito provavelmente haverá mais lixo plástico do que peixes em nossos oceanos.
Todavia, certo mesmo é que os oceanos, os maiores ecossistemas conhecidos, além de receberem todos os anos mais de 8 milhões de toneladas de plásticos, num nível de poluição marinha jamais visto antes, ainda seguem sobrecarregados de carbono, poluição bastante danosa que ameaça o equilíbrio trófico.
Estimativas indicam que todos os anos, em várias partes do mundo, geramos uma montanha de resíduos sólidos urbanos. Uma parte vai para o lixo e aterros, outra parte termina no mundo das águas. Em geral, fala-se em mais de 1,2 quilos per capita ao dia, em média, ou mais de 2 bilhões de toneladas de lixo por ano, em todo o mundo.
Em geral, enquanto a tríade petróleo-carvão-gás mantém de pé o atual e nocivo padrão energético e faz a economia global rodar sempre com mais força e dinamismo, ainda mais longe nos encontramos de equilibrar as três dimensões que andam juntas: ambiental, econômica, social.
Situação em clara evidência, agora mesmo está em avançado curso uma gravíssima crise de recursos hídricos – a crise da água no planeta, ou, didaticamente falando, o problema da escassez de água potável, um entre os dez maiores impactos que o planeta enfrenta.
Nesse pormenor, enquanto a ONU alerta que 25% da população mundial não tem condições mínimas de beber água potável, estudo publicado em Science Avances deixa claro que 71% da população mundial sofre por um mês a cada ano com a falta de acesso à água potável.
Triste constatação, lembremos que, no mundo todo, mais de 2 bilhões de indivíduos sequer consome água potável, faz higiene adequada ou ingere alimentos saudáveis, livres de agrotóxicos.
Em última análise, num levantamento global, 4,4 bilhões de pessoas não conseguem alcançar diariamente saneamento básico gerido de forma segura. Desses, seguindo dados apontados pelo Fundo de Emergência Internacional para Crianças das Nações Unidas (UNICEF), 892 milhões defecam ao ar livre. Em face de tais circunstâncias, a mesma Unicef, em conjunto com a Organização Mundial de Saúde (OMS), aponta que mais de 1 milhão de crianças menores de cinco anos morrem, todos os anos, devido a diarreia, a segunda doença que mais faz vítimas entre as crianças, perdendo apenas para a pneumonia.
De toda sorte, se estamos longe de pensar na desejada possibilidade de equilíbrio planetário, estamos perto, bem perto, de observar o agravamento das condições socioambientais do mundo que habitamos e que seguimos marcando a tragédia ecológica desses tempos de incertezas.
Em uma primeira aproximação, sempre a partir do agir humano, há quem afirme que, à luz do avanço do capitalismo moderno, o quadro de adversidades ambientais está bem definido. “No Antropoceno”, escreve John Bellamy Foster, “o capitalismo está criando fissuras antropogênicas nas espécies, nos ecossistemas e na atmosfera, gerando uma crise socioecológica”.
Realidade inquestionável, onde o homem consegue marcar presença, os ambientes físico, químico e biológico tem sido severamente modificados. De igual forma, ao justificar-se o desempenho da economia de produção em detrimento da preservação ecológica e da proteção ambiental, o resultado está à vista de todos: profunda alteração no âmbito do meio ambiente, seja no rico mundo das águas, seja no mundo das terras e solos conhecidos. Sendo curto na resposta final, isso implica dizer que estamos deixando às próximas gerações um planeta vulnerável do ponto de vista socioambiental.
Notas:
(1) Vale notar: especialmente a produção de produtos químicos, seguindo de perto à análise do Centro de Resiliência de Estocolmo, aumentou 50 vezes, desde a metade exata do século passado.
(2) Desde meados do século passado, estima-se que tenha sido produzido 8,9 bilhões de toneladas de plástico, sendo que dois terços desse total, 6,3 bilhões de toneladas, viraram lixo.
(3) Estima-se, para todos os efeitos, que em todo o mundo sejam usadas, a cada ano, 120 milhões de toneladas de nitrogênio.
(4) No detalhe: não se trata apenas dos animais não domesticados, mas também das plantas e de outros organismos que crescem e vivem em ambientes dito selvagens.
(5) Os especialistas falam em, pelo menos, 700 áreas em todo o mundo em que o oxigênio está em níveis declaradamente perigosos.
(6) O alerta da OMS causa perplexidade: cerca de 99% da população mundial respira ar de má qualidade. Foram observados 6 mil pontos ao redor do mundo. Regiões como leste do Mediterrâneo e do Sudeste asiático, seguidas pelo continente africano, apresentaram níveis da qualidade do ar mais comprometidos. Conforme voltaremos a mencionar, 7 milhões de mortes evitáveis, todos os anos, são devidos à poluição do ar.
(7) A saber: em nosso caso em particular, já no final da década de 1980, o Brasil aparece no ranking das nações que mais emitem gases de efeito estufa.
Autor: Marcus Eduardo de Oliveira
Autor de Civilização em Desajuste com os Limites Planetários, (CRV, 2018), entre outros.prof.marcuseduardo@bol.com.br
Nosso conhecimento científico, que nos permite usar informação de forma discriminada, é um conhecimento humano de mundo. Formatamos mentalmente um universo humanizado.
A cena emblemática é descrita pelo professor de psicologia da Universidade de Chicago, Eugene T. Gendlin, em artigo que assina no Journal of Consciousness Studies, v.6, n.2-3, 1999, p. 232-237: A new model. Um cientista chega à casa e olha nos olhos do filho pequeno, que lhe retribui o olhar. Não dizem nada. Imagino que, pelo menos interiormente, tenham sorrido um para o outro. E o cientista pensa: que triste que você é apenas uma máquina! (Isn’t it sad that you are really just a machine!)
O exemplo não faria tanto sentido, caso o modelo de prática científica mais bem sucedido, até agora, não fosse exatamente o de universo visto como uma máquina, tal qual preconizou René Descartes. Em que imaginamos ou admitimos conhecer algo apenas quando depois de separado em suas partes fundamentais (unidades componentes) conseguimos reconstruir o todo. É o reinado absoluto das disciplinas na ciência e das especializações nas áreas técnicas.
Não obstante todo o mérito e as contribuições deixadas pelo pensamento cartesiano na ciência, esse é apenas um método. Felizmente, há outros.
Muitas propriedades desaparecem (e outras surgem), quando um sistema é reduzido às suas partes componentes para depois ser reconstruído como se fosse uma máquina. O modelo ecológico tem uma visão oposta: tudo faz parte do todo. Por isso é ilusório pensar que é possível conhecer plenamente uma parte isolada do todo ao qual pertence.
O modelo ecológico (holístico) de ver as coisas não substitui o anterior; antes, interage com o método analítico, ampliando seu alcance. Todavia, também esse modelo tem suas limitações, especialmente quando precisamos incluir a nós, os seres humanos, no contexto. Assim, nem as unidades fundamentais e nem o todo parecem ser suficiente.
Um terceiro modelo, baseado em processos, tem sido visto como solução alternativa. Processos podem criar novos todos e, fundamentalmente, são processos que estão por trás da base de funcionamento de qualquer todo.
O uso do método científico, entendido como um conjunto de procedimentos que obedece a regras definidas, é que permite a formação de um corpo de conhecimento possível de ser partilhado entre indivíduos de uma mesma sociedade. Esse corpo de conhecimento é tanto objetivo quanto subjetivo. A subjetividade, nesse caso, reside no fato de depender de observações e experiências individuais. Portanto, na ciência, embora haja quem negue, a subjetividade está sempre implícita na chamada objetividade.
A perspectiva de uma ciência praticada essencialmente na terceira pessoa é falsa. E aqui não se trata de uma mera questão de pessoalidade no sentido gramatical (1ª e 3ª pessoas: Eu e Ele). São muitas as controvérsias filosóficas (e epistemológicas) que não nos permitem ignorar a importância da primeira pessoa (o Eu), especialmente com o sentido de consciência.
Não obstante, seja lugar-comum a crença na impessoalidade da ciência, há, no caso dos sistemas vivos, experiências que não podem ser derivadas meramente a partir da perspectiva da terceira pessoa (externa ao indivíduo). A visão interna é um componente ativo e manifesto na prática científica.
Lamentavelmente, a subjetividade na ciência tem sido deixada de fora ou, no mínimo, não adequadamente considerada. Também não pode ser ignorado que qualquer experiência científica envolve o risco de deformar a realidade simulada pelo método ou até mesmo de aquilo que está sendo objeto de experiência não passar de uma criação do próprio método. Esta é uma dimensão oculta, mas nunca totalmente ausente. Por isso, o que hoje é considerado aceito pela boa teoria, amanhã pode ser falso. A inclinação natural da ciência é testar teorias.
Nosso conhecimento científico, que nos permite usar informação de forma discriminada, é um conhecimento humano de mundo. Formatamos mentalmente um universo humanizado.
Não sabemos como pensa e que é ser um sapo ou um ipê amarelo. E, mesmo assim, a ciência busca (e parece ter) poder para redesenhar plantas, animais e até nós mesmos.
A longevidade humana (uma espécie de imortalidade) pode ser substancialmente elevada, caso sejam silenciados os genes responsáveis pelo envelhecimento. A grande questão é: alcançado esse fim, em que nos transformaremos? Há dúvida se devemos ir adiante nessa empreitada, antes de nos redescobrimos como seres humanos.
O único acesso epistêmico que temos ao mundo é por meio de nossa consciência. Difícil mesmo é saber que é um homem consciente.
Revelamos e promovemos, com alegria e muita satisfação, histórias de vida que estão imbricadas com a humanização, seja através da arte ou da educação.
O entrevistado desta matéria é professor e ilustrador Lucas Chaves. Ele já viveu várias experiências com a arte mas, atualmente, foca mais nos desenhos e nas ilustrações que complementam obras como livros, apostilas, dentre outros.
Chaves é destes profissionais da arte empenhados e envolvidos com muita intensidade, interesse e responsabilidade. Conviver com ele, conhecer sua história e reconhecer o seu trabalho é uma missão e uma tarefa que apreciamos muito neste site.
Conheça Lucas Chaves por ele mesmo.
Como, quando e porque surgiu teu envolvimento com a arte?
Meu envolvimento com a arte surgiu desde criança, sempre estive neste ambiente. Meu pai e mãe são pessoas que trabalharam muito com a criatividade e gostavam de músicas e leituras diversas. Tudo isso foi também uma herança de meus avós. Por parte de meu pai, meu avô era poeta e minha avó pintora. Já minha mãe cresceu em uma família de mulheres que produziam muitas costuras.
Então, minha conexão com a arte sempre existiu. Meu irmão e irmã mais velhos consumiam diversas linguagens artísticas e, claro, me influenciaram também.
Com tudo isso, fui uma criança que desenhava e pintava muito. Consumia desde histórias em quadrinhos, animes, desenhos animados até jogos de computadores e videogames.
Na adolescência, participei de bandas de rock na cidade como baterista; cerca de cinco anos envolvido mais com a música. Porém, mais tarde, percebi que me interessava mais pela criação de imagens, elas me permitiam ter uma expressão mais legítima de minhas ideias. Assim, no momento de escolher uma faculdade, revisitei meus desenhos de quando era criança e percebi que deveria estudar Artes Visuais. Por sorte, na época só existia faculdade de licenciatura, isso me abriu a possibilidade de produzir e ensinar através da arte.
Além de professor do componente curricular Arte, és ilustrador. Existe alguma relação entre ser professor e ser ilustrador?
Existe sim. Uma das coisas que mais me mostram essa relação é quando alguns estudantes não conseguem resolver suas produções. Como tenho essa prática com a ilustração, consigo auxiliar melhor na solução de seus problemas nos trabalhos artísticos. Isso estimula bastante a criatividade. Quanto mais criativos, melhor solucionamos problemas e melhor nos expressamos. Acredito que na vida vale muito aprendermos sobre arte, seja qual for, nossa auto expressão contribui para nos conhecermos nesse mundo.
Outro aspecto é a influência da educação na ilustração, já percebi que minhas ideias como ilustrador algumas vezes mudaram a partir de aulas com exercícios criativos ou experimentação de materiais diversos. É uma relação mútua, as duas áreas podem se complementar de diversas formas.
Vês alguma relação entre a arte e a humanização?
Com certeza. A criatividade é o que nos torna humanos. Não lembro de ouvir falar tanto em saúde mental quanto no período da pandemia. Uma das coisas que contribuiu para isso foi o fato de algumas pessoas passarem a dedicar certo tempo para alguma criação artística.
Outra questão é nossa imersão no mundo digital. Ela apresenta muitos benefícios, porém ainda vejo que o excesso nos tira ainda mais a vivência no tempo presente. Em relação a isso, produzir algo artístico nos reconecta com nossa natureza e nos afasta um pouco da enchente de informações que chegam no celular, trazendo ao menos um pouco de fruição na vida.
Existe ainda o fato da apreciação de arte, ressaltando que visualizar muitas imagens e vídeos em uma tela pode ser bom, porém não podemos esquecer de apreciar a paisagem fora de nossa janela, aquela que está presente naquele momento.
Falo isso porque acredito que nossa humanização se faz muito sabendo equilibrar nossa vida presente com sistemas frenéticos de trabalho e de consumo de entretenimento.
Quais são suas maiores realizações e também seus maiores desafios no trabalho com arte?
Dentre as maiores realizações estão as publicações que pude fazer. Minha esposa escreveu dois livros infantis e um e-book dos quais ilustrei, são eles: A Mamãe que Pintava o Mundo, Contando a História da Arte e A História Acabou?
Com isso, pude produzir ilustrações para outros livros de autores independentes da cidade e da região, sendo: Poesias de Cantar História (Giancarlo Camargo) apostila ArqueoLogando / ArqueoLógicas (André M. Piasson – Ed. Acervus), dentre outros projetos em andamento.
Além do trabalho como ilustrador, sou professor no Habemus Ateliê, uma iniciativa da Cris, minha esposa, onde podemos ensinar arte para crianças, livres de muitas amarras do sistema de ensino regular nas escolas.
Dentre os desafios, acredito que o principal na ilustração é trabalhar com toda a parte burocrática e organizacional, afinal esta profissão não consiste em apenas desenhar. As etapas do trabalho para além da criação artística são pouco faladas e tão importantes quanto fazer uma boa arte.
Em relação ao ensino da arte poderia listar muitos desafios, mas penso que o maior de todos é o embate contra essa vida agitada e extremamente rápida que as crianças e jovens estão inseridos, muitas vezes sem nenhuma orientação.
Como o pessoal pode conhecer o teu trabalho como ilustrador?
Atualmente tenho dois portfólios, um de ilustração infantil, outro ainda em construção para o mercado da arte editorial e publicitária, aqui os links respectivamente:
Também tenho um Instagram onde posto alguns trabalhos em andamento ou fragmentos de projetos maiores: @lucas_chaves_ilustra. Além do Instagram do Habemus Ateliê: @habemusatelie.
Uma frase, um pensamento que diga algo sobre você.
“[…]apenas na liberdade pode haver criatividade. E só pode haver criatividade por meio do autoconhecimento.” (Jiddu Krishnamurti, em O Livro da Vida)
“Viva suas amizades mais improváveis. Ao final, ninguém sabe onde começa ou termina um ato de amor”. (N. A. Zanatta)
Nelceu Alberto Zanatta é formado em Pedagogia pela UPF, possui um curso de Teologia, SP, Faculdade Teológica Batista de SP e MBA pela Fundação Getúlio Vargas, em gestão de equipes.
Publicou e lançou, em Passo Fundo, neste dia 22 de junho de 2023, no espaço da Livraria Delta, Shopping Passo Fundo, o livro A planta, suas folhas e um sino.
Zanatta também é autor de várias crônicas, uma peça para teatro, um livro de poesias e crônicas em processo de impressão e um romance em fase inicial.
Desde adolescente, a escrita é um convite que se apresenta a ele de forma contundente e apaixonante. Sua vida tomou outros rumos, mas sua formação humanística o habilitou a retornar ao mundo dos livros, da criatividade e da imaginação literária.
Esta obra A planta, suas folhas e um sino trata de empatia e amizade, como também do descaso com a natureza, com as coisas da vida, com sua essência e propósito. Trata-se de um conto infanto-juvenil que tem por objetivo estimular a leitura, a interpretação de texto, provocar o debate em sala de aula, promover empatia…
***
As mudas que trazemos em nós, da infância ou de outros tempos, nem sempre são bem compreendidas.
Se, para uma plantinha que não se conteve em um vaso, ser aceita em jardim estranho somou sorte e oportunidade, para uma criança, nem sempre rejeição pode resultar em crescimento.
Há um propósito em tudo, ouvimos, mas dependemos de olhos que nos observem, de mãos que nos acolham e nos ajudam a crescer.
Há sinos abandonados e mudos em todos os lugares neste mundo de rejeições e solidões. Precisamos fazê-los tocar.
Da exclusão para um ato de amizade ou amor, a estrada não precisa ser longa. Basta crescer. Mas, cuidado com as rejeições em seu jardim, porque um grande amor inesperado pode nascer em sua sombra, sem que você perceba.
Boa leitura!
Contato do autor: 55 41 9984-0057
***
Registros do evento e do encontro amistoso com autor em Passo Fundo, RS.
Se Erasmo de Rotterdam vivesse nos dias de hoje e visitasse nosso país, certamente iria escrever Elogio da Loucura II para satirizar a forma como estão sendo conduzidas as decisões fundamentais da vida de todos nós.
Reli recentemente algumas partes do livro Elogio da Loucura do humanista Erasmo de Rotterdam. Destaquei como emblemático para essa reflexão o seguinte trecho: “É a loucura que forma as cidades; graças a ela é que subsistem os governos, a religião, os conselhos, os tribunais; e é mesmo lícito asseverar que a vida humana não passa, afinal, de uma espécie de divertimento da Loucura”.
Erasmo de Rotterdam (1469-1536) foi um dos grandes renascentistas dos Países Baixos (atual Holanda) e ficou conhecido como o príncipe dos humanistas europeus. Em sua obra Elogio da Loucura, escrita em latim, Erasmo fez uma crítica satírica da sociedade da época, atacando principalmente as deformações da Igreja Católica. Ao propor a renovação da Igreja e a volta aos ideais simples e nobres dos primeiros cristãos, tornou-se um representante do humanismo cristão e um dos grandes autores que promoveram o renascimento cultural na Europa do século XVI.
O termo humanismo é derivado do termo latino humanitas, que designa a educação do homem enquanto considerado em sua condição propriamente humana. A autonomia do ser humano é buscada pelos humanistas da Renascença por meio de uma volta à Antiguidade, a seus modelos e a suas diretrizes pedagógicas.
As chamadas “humanidades” (poética, retórica, história, ética e política) passam desse modo a constituir, sob a inspiração dos antigos, a base de uma educação destinada a preparar o homem para o exercício de sua liberdade. A liberdade, a tolerância religiosa, a capacidade humana de atuar sobre o mundo, a convicção de que o mundo natural é o reino do homem, são os fundamentos principais do humanismo renascentista.
A vida de Erasmo foi marcada por muitos percalços: apesar de ter convivido num ambiente onde se respirava a atmosfera humanística que imperava na Renascença, depois da morte dos pais foi enviado para receber uma formação religiosa que cerceava sua liberdade. Mesmo quando mudou-se para Paris, no Colégio Montaigu, para obter o título de doutor em Teologia, não conseguiu suportar a “prisão espiritual” que o afligia ao ponto de adoecer. Ao libertar-se das amarras eclesiais, passou a condição de escritor e mestre, viajando para muitas cidades e atraindo diversos alunos ricos que tinham condições de pagar por seus ensinamentos.
Na obra Elogio da Loucura, Erasmo faz a Loucura subir ao púlpito e de lá pronunciar uma crítica impiedosa aos juristas, aos filósofos escolásticos, aos nobres arrogantes, aos bispos luxuriosos, aos negociantes sórdidos e estúpidos, aos militares que julgavam ser suficiente atirar uma moeda numa bandeja para adquirir a indulgência que os deixaria puros e limpos como quando nasceram.
Elogio da Loucura foi uma das obras que mais abalaram seu tempo, funcionando como um verdadeiro panfleto revolucionário. Em pouco tempo tornou-se uma das obras mais consumidas por aqueles que voltavam de Roma indignados com os desregramentos dos papas e cardeais que viviam uma vida luxuosa numa visível contradição com os preceitos do cristianismo original.
Se Erasmo de Rotterdam vivesse nos dias de hoje e visitasse nosso país, certamente iria escrever Elogio da Loucura II para satirizar a forma como estão sendo conduzidas as decisões fundamentais da vida de todos nós. Não faltariam elementos para denunciar a forma perversa com que “os representantes do povo” articulam para se autobeneficiar de maneira sórdida do dinheiro público.
A sátira se tornaria uma contundente denúncia a forma como certas religiões se apoderaram da ingenuidade do povo para promover o enriquecimento ilícito de “falsos pregadores”. Juízes, ministros, governadores, deputados, senadores, prefeitos, vereadores, empresários, policiais, professores, médicos, jogadores de futebol, celebridades e tantos outros estariam retratados nas distintas cenas que compõem as loucuras de nossa tempo.
Escrever é uma arte, que pode ser aperfeiçoada para nos comunicarmos mais e melhor com os outros. Exige paciência, ambiente e concentração. Escrever é um trabalho e uma inspiração.
No dia 13 de julho de 2023, numa tarde de muito frio, num casarão que abriga as Letras, como acadêmico, realizei uma oficina com a temática Por que escrevemos? O que nos torna escritores? Comigo estavam 15 adolescentes/jovens, de diferentes escolas da rede pública municipal e a coordenadora do Projeto Identificando talentos, Dilse Corteze, confreira da Academia Passo-Fundense de Letras.
Foi uma alegria encontrar neste ambiente estudantes da rede municipal ávidos por conhecimento envolvendo leitura, escrita e literatura. É sempre uma grande motivação para um professor encontrar jovens leitores e escritores dispostos a encarar os desafios das letras e das palavras.
Como a metodologia proposta foi uma oficina, houve momentos de conversa e diálogo, intercalando as experiências do proponente com as experiências dos participantes. Houve registros e construção textual dos estudantes, conforme roteiro que segue. Houve também um combinado com eles, no sentido de que esta atividade resultaria na escrita de uma crônica (no caso, esta que você está lendo!)
Seguem reflexões que nortearam as provocações que fizeram a oficina acontecer, abordando o gênero literário crônica.
Por que escrevemos?
Acredito que escrevemos para nos humanizar, para nos tornarmos melhores seres humanos através da literatura. Mas a escrita também é prática social, quando reflete o cotidiano das nossas ações e nossas vidas; nos permite desvelar e revelar a realidade como ela é. Pode ser terapia, possibilitando que sentimentos e sofrimentos sejam melhor elaborados.
Escrever é uma arte, que pode ser aperfeiçoada para nos comunicarmos mais e melhor com os outros. Exige paciência, ambiente e concentração. Escrever é um trabalho e uma inspiração.
Quem escreve, pensa melhor, comunica com mais clareza e intensidade.
Escrevemos para mostrar aos outros que existimos, que estamos nos fazendo, nos construindo, nos conhecendo como seres humanos.
Como lembra Eduardo Galeano, “em realidade, a gente escreve para as pessoas com cuja sorte ou má sorte se sente identificado: os que comem mal, os que dormem pouco, os rebeldes e humilhados desta terra: que em geral nem saber ler”.
FRAGMENTOS DE ESCRITOS DOS ESTUDANTES:
“Depende de quem escreve, é algo bem pessoal: por amor, dinheiro ou fama. O meu motivo é terapia, no caos da minha vida, a escrita foi a solução”. (Estudante L. C., EMEF Georgina Rosado)
**
“Eu escrevo para expressar e mostrar meus sentimentos, pois sem as poesias eu me sentia sozinha, sem utilidade, eu não me conhecia, não me entendia, não sentia nada”. (Estudante A. M., EMEF Arlindo Luís Osório)
**
“Na minha opinião, queremos reconhecimento, precisamos mostrar que temos habilidades para os outros verem que somos capazes. Quando alguém não consegue expor sua ideia ou opinião por insegurança, ele costuma escrever para se libertar daquilo, seja um assunto crítico ou social ou pessoal”. (Estudante I. de M., EMEF Georgina Rosado)
**
‘Escrevo por raiva, minha vontade de escrever vem pela raiva que a injustiça me causa. Eu quero que as pessoas entendam a minha raiva e eu faço isso escrevendo”. (Estudante T. L., EMEF Eloy Pinheiro Machado)
**
“Escrevemos para contar algo, para julgar algo ou alguém, para falar o que sentimos, falar sobre sentimentos. Escrevemos para soltar a mente e expressar o que pensamos”. (Estudante N., EMEF Antonino Xavier)
**
“Eu escrevo para organizar meus pensamentos. Escrever é meu universo pessoal, de conforto. Escrevo para ser feliz”. (Estudante L. B. R., EMEF Daniel Dipp)
**
“Escrevo para transmitir amor para as pessoas, para aliviar minha mente das preocupações. Para as pessoas se identificar e ver que não é somente elas que sentem determinadas coisas”. (Estudante A. B., EMEF Santo Agostinho)
**
“Escrevo para o leitor se emocionar, julgar, para as pessoas criarem sentimentos sobre o que estou escrevendo e para falar com todos”. (Estudante G., EMEF Padre José de Anchieta)
**
“Para poder me encontrar na vida e para pôr o que sinto para fora sem ter que falar com outras pessoas. Para contar o que sinto, sem ser julgada e criticada por isso”. (Estudante I. T., EMEF EMEF Georgina Rosado)
As histórias dos escritores e escritoras
Cada participante escreveu, em breve texto, as motivações que o fizeram despertar e aperfeiçoar a escrita.
FRAGMENTOS DE ESCRITOS DOS ESTUDANTES:
“Eu iniciei no mundo da escrita produzindo histórias fictícias, partindo para a poesia logo em seguida, abordando temas sociais que já aconteceram ou estão acontecendo. Comecei a escrever para conhecer o mundo e descobrir até onde eu posso chegar e tudo o que eu posso conhecer, desde pequenas até grandes coisas”. (Estudante N. M. Z., EMEF EMEF Georgina Rosado)
**
“Meu interesse pela escrita começou porque eu ia bem na escola, sobretudo em Língua Portuguesa, o que me trouxe a oportunidade de vir até a Academia Passo-Fundense de Letras. Aqui estou, tendo ótimas aulas e aprendendo cada vez mais. Espero ter um futuro digno de uma escritora’’. (Estudante L. G. C., EMEF Eloy Pinheiro Machado)
**
“Iniciei minha escrita quando tinha nove anos. Foi um período complicado na minha vida, com muitas mudanças. No meio daquela confusão, comecei a escrever textos informativos, sobre o corpo humano, histórias, lendas e mitos. Depois, escrevi histórias de romance e fantasia. Hoje, gosto de histórias de fantasia, filosofia e poemas”. (Estudante B. F. L, EMEF Georgina Rosado)
**
“Minha história como escritor começa quando eu era criança, quando pequeno escrevia pequenas histórias e fábulas também. Hoje em dia não escrevo muito, seria pela falta de criatividade ou não sei mais escrever? Acho que para escrever, precisaria de inspiração, precisaria ler mais”. (Estudante P. S. R., EMEF Arlindo Luis Osório)
**
“Eu comecei a escrever para me expressar, já que muitas vezes eu não tive coragem de falar sobre meus sentimentos, medos e problemas. Então, escrever se tornou meu refúgio, meu modo de botar para fora tudo que sinto com lindas palavras”. (Estudante E. R. da S., EMEF Daniel Dipp)
**
“Ano passado me descobri de várias maneiras e uma dessas descobertas foi a paixão de escrever. Desde então, escrever tem sido para mim o melhor meio de me expressar”. (Estudante L. B., EMEF Santo Agostinho)
**
“Minha história começa em 2020 quando passei a ficar mais tempo sozinha. Logo, comecei a pensar mais também. Com a vinda de novos sentimentos, sentia que precisava conversar com alguém. Porém, me sentia deslocada e, então, comecei a escrever. A escrita me fez bem e comecei a pegar gosto por ela e hoje escrevo por hobby”. (Estudante L. C., EMEF Georgina Rosado)
O que nos torna escritores?
Um escritor ou uma escritora é, antes de mais nada, um grande leitor ou leitora.
Quando alguém decide ser escritor ou escritora, é preciso que tenha muita persistência, crença no ofício da escrita e dedicação. É preciso também manter uma mente aberta à pluralidade dos mundos e das ideias que nos cercam. É preciso suportar críticas dos leitores e leitoras, sempre valorizando aquelas que vem para nos desafiar ao invés daquelas que vem nos desacreditar.
Um escritor ou escritora relaciona-se de forma direta com seus potenciais leitores ou leitoras, sempre oferecendo-lhes a melhor escrita, o melhor texto que puder construir (mesmo sabendo de que nunca somos, sempre estamos sendo).
Não existimos como escritores ou escritoras se não tivermos “lugar” ou “espaço” para publicar. Por isso mesmo, precisamos viabilizar parcerias para fazer publicações, participar de eventos literários, conhecer bibliotecas, conversar com escritores, procurar aprender sobre o que as pessoas mais gostam de ler.
Somos reconhecidos escritores ou escritoras na medida em que nossas publicações revelam uma identidade, um jeito nosso e genuíno de escrever. Este reconhecimento pode ser consolidado através do lançamento de um livro, da estruturação de um site próprio (personalizado) ou através da escrita e publicação sobre temas sobre os quais adquirimos credibilidade, notoriedade, admiração, seguidores e críticos.
Vale a pena escrever para a gente se tornar um ser humano melhor, apostando que nossos escritos podem contribuir para que vivamos uma sociedade mais humanizada, mais igualitária e mais fraterna. Eu creio que as palavras e as letras tenham este poder.
Autor: Nei Alberto Pies, professor, escritor e editor site www.neipies.com
BNCC explicita dois aspectos importantes e interligados que são o reconhecimento das alteridades e o respeito a diversidade cultural e religiosa que configura a relação com o sagrado no Brasil.
O Ensino Religioso na educação brasileira passou por significativas mudanças teórico-metodológicas ao longo das últimas quatro décadas. A transformação mais significativa veio com a BNCC (Base Nacional Comum Curricular) que referendou o Ensino Religioso como área do conhecimento e, ao mesmo tempo, sistematizou-o como um componente curricular.
Com o status de área, o Ensino Religioso tem definido como objeto o conhecimento religioso produzido pelas áreas das ciências humanas e sociais, principalmente as Ciências da Religião que se ocupa em investigar os fenômenos religiosos que se manifestam em todas as culturas e povos. Assim, o Ensino Religioso migra de uma concepção catequética/confessional para uma configuração de unidade plural, como um componente que se detém em estudar os aspectos comuns a todas as tradições religiosas, a saber, os símbolos, os ritos, os mitos, as crenças, os textos, os princípios éticos e outros.
Pela primeira vez está posta uma base curricular comum para o Ensino Religioso em qualquer escola do nosso país, uma espinha dorsal composta por unidades temáticas e objetos de conhecimento que ajudam a desenvolver habilidades e competências específicas nas crianças e nos jovens.
Essa mudança proposta na BNCC para o Ensino Religioso tem um grande impacto nas metodologias, nas práticas pedagógicas, no planejamento anual, no plano de aula, nos projetos, na formação de professores. Algumas reflexões, conexões e possibilidades.
Reconhecimento das alteridades e respeito a diversidade
Ao colocar as diretrizes para o Ensino Religioso, a BNCC explicita dois aspectos importantes e interligados que são o reconhecimento das alteridades e o respeito a diversidade cultural e religiosa que configura a relação com o sagrado no Brasil. Nosso país é um verdadeiro mosaico composto por uma diversidade de tradições religiosas e filosofias de vida. Uma cultura mesclada e marcada pelas crenças de povos originários e pela fé religiosa dos imigrantes que aqui se fixaram.
Nesse contexto, o Ensino Religioso assume o papel de ser instrumento na educação de crianças e jovens para o conhecimento e a vivência da “ética da alteridade” cujos princípios norteiam a convivência acolhedora e dialógica com pessoas que cultivam ideias, visões de mundo e crenças diferentes.
Ao contrário do que muitos pensam, reconhecer as alteridades e respeitar a diversidade existente na sociedade é uma atitude que contribui para valorizar e aprofundar a própria identidade. Hans Kung, teólogo suíço, deixa claro em seus escritos que abrir os ouvidos e os corações para conhecer a diversidade de experiências espirituais e tradições religiosas não exclui o conhecimento e o envolvimento com a própria religião, suas crenças ou sua filosofia de vida.
Aquele que tem como propósito dialogar e entrar em comunhão com os outros sem conhecer suas próprias convicções e crenças, com seus limites e possibilidades, constrói mais muros do que pontes, aumenta mais a distância entre as pessoas do que as aproxima.
Conhecer-se com profundidade é o princípio fundamental para o conhecimento dos outros. Quem não se conhece e não tem clareza de seus limites e de suas convicções e crenças, assenta sua vida nas incertezas e inseguranças e assim é movido pelo medo de abrir-se aos outros nas suas diferenças. A identidade não exclui a alteridade e vice-versa. Elas se complementam.
Uma perspectiva interdisciplinar
Assim como não há espaço para fechar-se numa identidade, o Ensino Religioso não pode isolar-se de outras áreas do conhecimento, mas, tendo clareza de seu fundamento, de seu objeto, de sua epistemologia e de seu escopo, precisa abrir-se ao diálogo e à comunhão com outros saberes, práticas pedagógicas e componentes curriculares com a consciência de que nenhum saber por si só é suficiente para apreender a realidade que o ser humano busca compreender.
Assim sendo, um Ensino Religioso que pretende formar pessoas em todas as suas dimensões, deve propiciar um processo de ensino e aprendizagem interdisciplinar, sabendo que o sagrado está presente na natureza, na música, na dança, na literatura, na história, no tempo, no espaço, enfim em tudo o que nasce da razão, da intuição, do encantamento com a riqueza da vida, do indizível que de alguma maneira se concretiza na obra humana. Assim torna-se possível dar mais profundidade e sentido ao conhecimento religioso que, conectado com outras áreas e saberes, possibilitará a formação integral de crianças e jovens nas escolas do Brasil.
O Ensino Religioso e sua interrelação com os ODS
Na mesma linha da interdisciplinaridade, está a importante conexão do Ensino Religioso com iniciativas e projetos propostos por pessoas, países, instituições e organismos locais e globais. Uma dessas iniciativas são os “Objetivos de Desenvolvimento Sustentável” (ODS) da Agenda 2030, da ONU. Alguns desses objetivos podem ser trabalhados numa interrelação com os objetos de conhecimento, habilidades e competências no Ensino Religioso.
Como proposto na BNCC, o Ensino Religioso oferece aos estudantes a possibilidade de refletir sobre temas atuais e agir como pessoas e cidadãos para a transformação das realidades sociais, econômicas, políticas e ambientais, tais como os explicitados nos seguintes ODS:
“Objetivo 1. Acabar com a pobreza em todas as suas formas, em todos os lugares; (…) Objetivo 3. Assegurar uma vida saudável e promover o bem-estar para todos, em todas as idades; Objetivo 4. Assegurar a educação inclusiva e equitativa e de qualidade, e promover oportunidades de aprendizagem ao longo da vida para todos; (…) Objetivo 11. Tornar as cidades e os assentamentos humanos inclusivos, seguros, resilientes e sustentáveis; (…) Objetivo 15. Proteger, recuperar e promover o uso sustentável dos ecossistemas terrestres, gerir de forma sustentável as florestas, combater a desertificação, deter e reverter a degradação da terra e deter a perda de biodiversidade; Objetivo 16. Promover sociedades pacíficas e inclusivas para o desenvolvimento sustentável, proporcionar o acesso à justiça para todos e construir instituições eficazes, responsáveis e inclusivas em todos os níveis.(…)”.
Ensino Religioso e Pacto Educativo Global
Assim como as ODS, o Ensino Religioso proposto e sistematizado na BNCC, pode contribuir com o Pacto Educativo Global, proposto pelo Papa Francisco em 2020.
Tanto um quanto outro têm como objetivo formar e convocar pessoas, tradições religiosas e instituições educativas a se unirem num compromisso pelo desenvolvimento integral de crianças e jovens para que se engajem no projeto de construção de um novo mundo cujos principais fundamentos são: o serviço gratuito e desinteressado às pessoas, principalmente as mais vulneráveis como os pobres, as crianças e os idosos que estão imersos na cultura do descarte da sociedade atual; o cuidado e responsabilidade com o meio ambiente e toda a sua biodiversidade através de atitudes simples e sustentáveis; o desenvolvimento de uma cultura do encontro, do diálogo e da convivência harmoniosa com os outros; a adoção de gestos mais humanos, inclusivos, fraternos, justos e pacíficos; o discernimento diante das possibilidades e dos desafios que a internet e as relações virtuais apresentam às novas gerações; a atenção e o cultivo da interioridade nas crianças e nos jovens para que possam parar, silenciar, refletir, ouvir, escutar-se e “sentir” a transcendência; o desejo e a esperança das crianças e dos jovens de que o mundo pode mudar para melhor através de uma revolução da ternura que destrua a globalização da indiferença, da discriminação, do preconceito e da intolerância religiosa.
Autor: Renan Nascimento
Licenciado em Filosofia pela Fundação Educacional de Brusque (1995) e em Pedagogia pela Faculdade Claretiano (2016); bacharel em Teologia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (2001), pós-graduado em Psicopedagogia pela Universidade Estadual de Minas Gerais (1997) e em Ensino Religioso pela Universidade Católica de Brasília (2008); músico; leitor técnico e elaborador de conteúdo para livros didáticos; orientador educacional e coordenador da área de Ensino Religioso do Colégio São Luís, em São Paulo, desde 2002.