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O revogaço ambiental que o Brasil precisa

O novo Brasil de Lula e Marina, e de todos os brasileiros que sustentaram a frente ampla pela democracia, volta a ter compromisso com a realidade, e, mais do que isso, volta a recuperar a imagem do país, especialmente para a luta de todos: o desmatamento zero na Amazônia.

Derrotar o projeto fascista de Jair Bolsonaro, o pior presidente brasileiro de todos os tempos, foi o primeiro – e decisivo – passo para salvar a democracia e o projeto de nação. Agora, a partir de janeiro de 2023, a etapa seguinte: reconstruir ponto a ponto o desmonte implantado em quatro anos de governo Bolsonaro, especialmente a política e a estrutura de governança ambiental brasileira, tema central de nossa discussão aqui.

Diríamos mais: é chegado o momento de reconstruir a política ambiental global, a partir da necessária recuperação da Floresta Amazônica (e seu imprescindível papel na manutenção de serviços ecológicos) e de práticas de desenvolvimento que dialoguem, protejam e respeitem o meio ambiente, com participação permanente com a sociedade.

Com efeito, talvez cada uma dessas ações interligadas – isto é, reconstrução e desenvolvimento social, humano, econômico – sejam, entre tantas outras, as que mais clamam urgência no futuro e tão desejado governo Lula 3.

No âmbito da questão ambiental, o compromisso-chave já está delineado: fazer um amplo “revogaço” ambiental logo de início. Quer dizer, novas regulações, ajustes e mesmo revogação (reversão total) imediata. A começar por resgatar o espaço da sociedade civil no Conselho Nacional de Meio Ambiente (CONAMA) – de 11 cadeiras existentes, a dupla Bolsonaro-Salles reduziu para apenas quatro.

E não é só isso. É preciso voltar a fortalecer os órgãos de proteção ambiental, escandalosamente enfraquecidos durante o desgoverno dos últimos anos. É igualmente importante suprimir de vez aquilo que os ambientalistas (vozes que foram abafadas nesses últimos tempos) vêm chamando de “legado tóxico” da política ambiental de Bolsonaro, o que inclui aumentar a proteção da biodiversidade e instituir uma nova relação com os povos originários e quilombolas. O outro nome disso, assim sabemos, é prosperidade inclusiva, e tem a ver com novos valores e comportamentos.

Na prática, isso não é um mero detalhe. Estamos falando da saúde do planeta, de manter a floresta em pé e de colocar em ação uma verdadeira e consistente política de sustentabilidade, valor capaz de devolver o equilíbrio planetário.

Nessa mesma direção, urge revogar pelo menos 80 medidas antiambientais conduzidas por um governo marcado pelo desapego à realidade socioambiental. Por exemplo: Adote um Parque, política vazia que deixou a cargo do setor privado a gestão de unidades de conservação, mas que, na prática, não aconteceu. Importa ainda revogar em caráter de urgência normas que dificultaram a aplicação e a cobrança de multas ambientais por parte do Ibama.

Outro exemplo é o Programa Lixão Zero, que, apesar de apoiar estados e municípios para a melhoria da gestão de resíduos sólidos, traz retrocessos imensos ao estimular a adoção de tecnologias obsoletas e poluentes, abandonadas na Europa e nos EUA, como a incineração dos resíduos para gerar energia.

De tal forma que esse “revogaço” ambiental marcará triunfalmente o início da nova gestão Lula e Marina Silva (detalhe importante: enquanto escrevemos essas linhas, a ex-Ministra ainda não foi oficialmente anunciada como titular da pasta que a consagrou como uma das principais lideranças internacionais em matéria de meio ambiente).

Ademais, no rol de mais ações esperadas, a atualização (leia-se, uma nova diretriz) do ICMbio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade) e do próprio Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e de Recursos Naturais Renováveis) contam com atenção especial.

Ainda assim, a ação/tarefa que mais exige pressa diz respeito, sobretudo, a organizar medidas de segurança humana, de combate às mudanças climáticas e de defesa da maior floresta tropical do mundo, cuja criminosa destruição (queimadas e desmatamentos que batem recordes ano após ano) está em crescimento desde 2017 — foi de 73% a taxa de desmatamento nos três primeiros anos do governo Bolsonaro.

Tema central, inútil dizer às claras que restaurar ecossistemas de alto carbono, como é o caso de florestas, é de fundamental importância como iniciativa internacional para mitigar as mudanças climáticas. 

Para que se eliminem dúvidas, o que estamos dizendo abertamente diz respeito à regeneração do planeta.

Sob esse nobre sentimento, recordemos a mensagem do Papa Francisco, anunciada em abril de 2021, mas sempre atual: “é preciso cuidar da natureza para que ela cuide de nós”.

Por isso, vale observar com cuidado, organizar uma força-tarefa envolvendo outros ministérios, notadamente o da Agricultura e da Segurança Pública, e olhar com mais atenção para os outros biomas do País (especialmente o Cerrado e o Pantanal), integra, de modo prático, um conjunto de ações que vise resgatar de vez o Brasil para a condição que sempre ocupou e que foi perdida diante da chegada desastrosa de Bolsonaro ao poder: protagonista da pauta ambiental global.

Está no radar das próximas ações propositivas retomar as negociações e “recuperar” o colegiado (comitê e grupo técnico) que faz a gestão do Fundo Amazônia, descongelando o montante de R$ 3,6 bilhões repassados por Noruega e Alemanha.

Não menos importante, é a questão urbana, das cidades, onde vivem mais de 80% da população brasileira. É nas cidades onde os efeitos negativos das mudanças climáticas serão mais sentidos – e, principalmente, pela população que já se encontra em situação de vulnerabilidade: quem vive nas regiões periféricas das grandes cidades.

Aliás, pelas mãos de Marina Silva, já foi encaminhado um pedido formal à John Kerry (enviado especial dos Estados Unidos para o clima) para que o país liderado por Joe Biden passe a contribuir com o Fundo. Dinamizar esse Fundo, bem sabemos, é tarefa-chave. De 102 projetos apoiados pelo Fundo Amazônia (criado em 2008), apenas 47 já
foram concluídos.

Há muito ainda por fazer e a hora é essa.

Por último, mas não por fim, superando desafios inéditos e sepultando de vez quatro “trágicos” anos de escuridão de governo Bolsonaro, alimentado por uma militância extremista que mais se assemelha a uma seita de lunáticos que ajudou a transformar a pauta ambiental doméstica em agenda ideológica, o novo Brasil de Lula e Marina, e de todos os brasileiros que sustentaram a frente ampla pela democracia, volta a ter compromisso com a realidade, e, mais do que isso, volta a recuperar a imagem do país, especialmente para a luta de todos: o desmatamento zero na Amazônia.

Justamente por isso, ao reinserir o Brasil na arena internacional, quem sabe sejamos recompensados com a COP30 (em 2025) aqui em nosso pedaço de chão, recebendo as nossas cores e o nosso jeito especial de organizar a questão ambiental.

FONTE: https://envolverde.com.br/o-revogaco-ambiental-que-o-brasil-precisa/

Autora e autor:

Marina Helou,deputada Estadual pela REDE SUSTENTABILIDADE (São Paulo). Eleita para o segundo mandato (2023-2026). Formada em Administração Pública pela Fundação Getúlio Vargas (FGV-SP), com especialização em negócios e sustentabilidade pela Fundação Dom Cabral / Cambridge University.

Marcus Eduardo de Oliveira, economista e ativista ambiental. Especialista em Política Internacional pela Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESP-SP). Mestre em Integração da América Latina (PROLAM) pela Universidade de São Paulo (USP). Foi professor do Departamento de Economia da Fundação Instituto Tecnológico de Osasco (FAC-FITO) e do UNIFIEO (Centro Universitário Fundação de Ensino para Osasco). Autor de Civilização em Desajuste com os Limites Planetário” (CRV, 2018), entre outros.

Uma cidade Encantadora!?

Há lugares do mundo onde tudo simplesmente nasce. De um dia para outro, surgem eventos, iniciativas, anúncios e ideias encantadoras. Ninguém viu antes e ninguém entende o porquê de tanta explosão de coisas que parecem ter o propósito de envolver os habitantes numa redoma que brilha, que encanta e que desperta os mais nobres sentimentos de felicidade. Uma cidade assim dura para sempre?

Uma cidade linda? Tudo nela brilha, tudo é tomado de cores, cheiros e sabores. A cidade tem luzes e alegrias para todos. Lá os bebês são tesouros. Há farmácias em todas as esquinas. Lá a educação transforma o mundo e se anuncia referência nacional. Obras e inovações não param de ser anunciadas! Como fogo de palha, tudo o que aparece, logo some deixando vácuos, os quais chamam mais novidades e mais eventos. Qualquer similaridade com a natureza dos foguetes é mera coincidência. Os foguetes não têm marcha a ré e sempre andam rápidos, para frente.

Uma cidade encantadora não é maravilhosa? Ninguém está triste e nem doente. Ninguém reclama mais saúde, educação, segurança e moradia. Todos os problemas de ontem parecem estar resolvidos hoje ou, no máximo, amanhã.

Porém, nem sempre foi assim. Passaram-se mais de 150 anos para esta cidade despertar!

Cidade encantadora agora possui líderes que brilham e falam maravilhas. Possuem boa oratória, tanto que a mídia gosta deles. Conseguem convencer, encantar, promover maravilhas, mesmo que rápidas e passageiras.

A cidade encantadora constrói shoppings e instala muitas farmácias. Abre cursos de medicina, entretanto, fecha livrarias, bares, cafés e cinemas.

A cidade encantadora não tem calçadão para sua gente descansar enquanto toma um café e curte uma boa música. Há poucos lugares para seus habitantes caminharem, andarem de bicicleta, fazerem piqueniques, admirarem a natureza e o murmúrio dos pássaros.

Por incrível que pareça, ciclistas e pedestres desta cidade já descobriram a maravilha de caminharem e andarem por ruas e passarelas. Contudo, o espaço para estes fins precisa ser compartilhado por ambos, mas as dimensões do mesmo nem sempre permitem uma boa convivência.

Nesta cidade encantadora realizam-se eventos culturais de literatura, folclore e shows musicais. Tudo o que é feito é para reforçar encantamento, mas não o pertencimento.

A cidade é apenas encantadora, mas muitos a pretendem mais cosmopolita. Com astúcia e sutileza, outros tentam disfarçar o jeito provinciano desta cidade ser.

Magias são criadas e impulsionadas pelo glamour do marketing: sempre lindas, coloridas, sofisticadas, mágicas. Este vende mundos que contrastam com a dureza e as lutas cotidianas das pessoas que escolheram esta cidade para viver e morar.

A magia rege um espetáculo de uma vida irreal. Tudo o que é anunciado na cidade fica como se já estivesse feito há muito tempo. Nela, os verdadeiros artistas do espetáculo cotidiano de vida e de trabalho tornaram-se sujeitos passivos e coadjuvantes.

Vamos embora, minha gente, porque a cidade precisa de espetáculos! Neste contexto singular de uma cidade encantadora, os problemas da vida real são manipulados, maquiados e esquecidos. É duro demais acordar, todas as manhãs, sem poções mágicas! Viva os espetáculos! A vida, que espere um pouco mais!

Legal mesmo é que ainda existem pessoas desta cidade que acreditam nos potenciais e na consistência de coisas que possam gerar realidades mais duradouras, mais perenes e mais eficazes. Que acreditam que mudanças verdadeiras exigem mais processos, mais participação, mais envolvimento e pertencimento; e menos eventos passageiros.

O tão propalado encantamento nesta cidade agora sugere que alguns poucos, representando os demais, façam pontes aéreas para conhecer cidades que tenham vocação de “Educadoras”. Para além do encanto, talvez por aqui não existam significativas coisas que mereçam ser conhecidas e reconhecidas. Ou, talvez, muito do que aqui existe, atrapalhe o próprio encantamento propalado.

Enfim, dúvidas pairam na cidade encantadora: até quando os habitantes dela suportarão as ilusões, os espetáculos, as magias e os encantos que não consideram a vida como ela é? Quando esta cidade olhará para si mesma e promoverá o pertencimento, reconhecendo e promovendo os potenciais desta gente que a escolheu como um bom lugar para conviver e ser feliz?

Autor: Nei Alberto Pies

Do cansaço

É preciso voltar a fazer uso do tempo para recuperar o lazer de qualidade e viver o ócio sem culpa. É necessário reservar tempo para a improdutividade, não é fazer pausas para armazenar energias para mais atividades, isto é, já pensando na tarefa do trabalho a ser realizada.

Há um sintoma que paira sobre grande parte das pessoas, que é a queixa de cansaço permanente. O que significa isso?

A resposta a esta pergunta está na revisão de como estamos vivendo na atualidade. Antes tivemos a sociedade da manufatura e de metas tangenciadas pela disciplina externa. Em certo sentido, está ocorrendo uma mudança da sociedade administrada para a sociedade de resultados. Isso atinge a nós todos, independente da função ou profissão.

A maioria das pessoas se torna empresárias de si mesmas, correndo o risco de se esgotar numa correria frenética em mil e uma atividades diárias. Isso é caminho aberto para depressão, para a tristeza e a doença característica do sec. XXI, o burnout que se torna a cada dia a marca do nosso tempo.

Estamos numa época em que não há mais o operário/a revolucionário/a reivindicador, mas pessoas fracassadas, deprimidas e sem ânimo para luta, porque se sente envergonhado pelo seu “não sucesso” de ser empreendedor de si mesmo. Na verdade, existe uma penalização interna do próprio indivíduo quando fracassa no empreendimento de si mesmo. Esses processos de mudanças, isto é, com o surgimento das novas tecnologias produz nas pessoas a aceleração do tempo, levando-as à uma fadiga incomensurável.

E o notável é que as pessoas se sentem culpadas pelo próprio cansaço, porque ficam com a sensação de um cansaço “sem terem feito nada”, apesar de estarem aceleradas 24 horas.

Essa sociedade do desempenho e das metas é caracterizada pelo excesso de positividade, onde tudo é possível, mas o sujeito operador se sente exausto. Assim, aceleração do tempo acarreta as doenças neuronais e de difícil diagnóstico. Isso, acarreta à pessoa impotência e pouca abertura para buscar ajuda do outro.

A afirmação de si mesmo coloca o outro em eclipse. É preciso fazer uso do tempo para recuperar o lazer de qualidade e viver o ócio sem culpa. É necessário reservar tempo para a improdutividade, não é fazer pausas para armazenar energias para mais atividades, isto é, já pensando na tarefa do trabalho a ser realizado.

A aceleração atual está diminuindo a capacidade do encontro gratuito. Precisamos de um tempo de festa, do kairós e do tempo místico. Mas não significa “reza nos lábios e trabalho nas mãos”.

Precisamos do tempo para nós, porque a maior de nossas atividades é só tempo gasto e não é tempo para nós.

O “tempo perdido” é o tempo não recuperado, que resulta em neuroses e angústias. Urge criar nas Igrejas, nas famílias, nas escolas, nos clubes e serviços, o sentimento altruísta para fazer frente aos medos, as frustrações que se encontram em atualização constante.

Em “Viver em paz com as árvores: por que as árvores incomodam?”, escrevemos:

 “temos direito de esperar o futuro para poder julgar, sabendo que estamos pondo em risco a vida dos nossos filhos e netos? O que iremos responder para eles, quando nos perguntarem por que não fizemos nada, apesar de termos sérias dúvidas quanto aos riscos, no presente? Como justificar a nossa violência contra as árvores?” Leia mais: https://www.neipies.com/viver-em-paz-com-as-arvores-por-que-as-arvores-incomodam/

Autor: José André da Costa, msf.

Liberdade religiosa: matéria da TV Globo é ótimo material pedagógico para aulas de Ensino Religioso

Matéria especial da TV Globo, exibida no dia 07/09/2022, é um interessante material que pode ser trabalhado com estudantes dos anos finais do Ensino Fundamental e estudantes do Ensino Médio em aulas do componente Curricular Ensino Religioso ou da área de Ciências Humanas.

Segue matéria:

“Na série especial de reportagens sobre a Constituição, o Jornal Nacional vai tratar nesta quarta-feira (7 de setembro) de mais um direito que ela assegura a todos os brasileiros: a liberdade religiosa.

Um dos grandes debates da Assembleia Constituinte foi sobre incluir – ou não – no texto uma referência ao nome de Deus. A discussão mobilizou ateus, seguidores de todas as religiões e partidos políticos.

Os representantes do Partido Comunista do Brasil não queriam que o nome de Deus fizesse parte do preâmbulo. Já os constituintes evangélicos queriam que Deus fosse a primeira referência no texto.

O resultado foi notícia no Jornal Nacional“Constituinte: mais de 90% dos parlamentares fecham o acordo e votam na mesma proposta. Eles aprovaram hoje o preâmbulo, que é a apresentação da Constituição.”

Antes mesmo do primeiro artigo, a nossa Constituição começa assim:

“Nós, representantes do povo brasileiro, reunidos em Assembleia Nacional Constituinte para instituir um Estado Democrático destinado a assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia social e comprometida, na ordem interna e internacional, com a solução pacífica das controvérsias, promulgamos, sob a proteção de Deus, a seguinte Constituição da República Federativa do Brasil.”

“A Constituição Federal de 1988 tem um valor extraordinário. Imagine uma constituição que, no seu preâmbulo, sob a proteção de Deus, promete a criação de uma sociedade justa, com erradicação das desigualdades. Uma sociedade que seja fraterna e que tem entre os fundamentos da república a dignidade da pessoa humana”, exalta o presidente do STFLuiz Fux.

Ao longo da nossa história, nem todas as Constituições garantiram a liberdade de culto. O Brasil já teve uma religião oficial e que até hoje é a maior do país: o catolicismo. Trazido pelos portugueses há mais de 500 anos, passou a conviver com outras crenças ao longo do tempo, principalmente com os diferentes ramos do cristianismo: os protestantes ou evangélicos tradicionais e pentecostais. A liberdade religiosa veio permitir e proteger a construção de todos os templos.

Assim, palavras e culturas foram se misturando. Doutrinas do Ocidente e do Oriente foram plantadas e deram frutos aqui. Um giro pelas religiões do Brasil parece um giro pelo mundo inteiro. Hoje em dia, a diversidade da fé é um patrimônio de todos e a liberdade de culto, uma realidade protegida pela Constituição.

Essa convivência pressupõe diálogo e respeito. A paz e a compaixão criam pontes, abrem portas e se unem à força da lei na proteção das minorias, garantindo o direito de crer e de não crer. No círculo da fé, a liberdade de um é a liberdade de todos.

“A religião é uma característica que não define as pessoas. O que define as pessoas é o seu caráter, é a sua integridade, é a sua competência. O caminho que cada um percorre é uma escolha individual. Tem gente que medita, tem gente que vai à igreja… A gente deve respeitar as opções de todos”, afirma o ministro do STF Luís Roberto Barroso.

Quem vive no Brasil tem o direito constitucional de não acreditar em nada que não veja diante dos olhos, mas a fé do povo brasileiro é visível em cada esquina.

As igrejas foram o grande símbolo das nossas riquezas e do nosso talento durante a maior parte da história, e não é preciso entrar em nenhuma delas para reconhecer esse brasileiríssimo nazareno naturalizado, com endereço permanente no topo da nossa autoestima: o Cristo Redentor. Símbolos de fé estão gravados na identidade brasileira”.

 Sugestões aos professores e professoras:

Este material pode ser utilizado com estudantes dos anos finais do Ensino Fundamental (em aulas de Ensino Religioso) ou com estudantes do Ensino Médio (área de Ciências Humanas ou componente curricular Ensino Religioso), destacando habilidades da BNCC e outras que foram construídas nos estados e municípios que convergem sobre a temática Liberdade Religiosa.

Assista a matéria com os estudantes e promova discussões e aprofundamentos do tema: https://g1.globo.com/jornal-nacional/brasil-em-constituicao/noticia/2022/09/07/brasil-em-constituicao-liberdade-religiosa-e-um-direito-garantido-a-todos-os-brasileiros.ghtml

Seguem algumas sugestões de habilidades:

(EF08ER06) Analisar práticas, projetos e políticas públicas que contribuem para a promoção da liberdade de pensamento, crenças e convicções.

(EF08ER06RS-02) Articular           práticas               que reconheçam a diversidade cultural e religiosa na promoção dos Direitos Humanos.

(EF09ER06RS-03) Reconhecer e apropriar-se de valores éticos, morais e religiosos que contribuem para a erradicação de discursos de ódio e práticas de violência.

(EF09ER02) Discutir as diferentes expressões de valorização e de desrespeito à vida, por meio da análise de matérias nas diferentes mídias.

A Ética a Nicômacos de Aristóteles

O ser humano feliz é aquele satisfeito consigo mesmo, que se ama e ama seus amigos de forma generosa e desinteressada. São estes e tantos outros aspectos que nos induzem a dizer que a Ética a Nicômacos, apesar de ter sido escrita há mais de 24 séculos, continua nos dando preciosas lições para pensar os dilemas do nosso tempo.

Aristóteles, discípulo de Platão, é considerado um dos maiores pensadores do ocidente e um dos filósofos mais completos da antiguidade grega clássica. Em sua época, nada ignorou de tudo o que se conhecia. Foi pesquisador, filósofo e fundador de diversas ciências. Sua obra gigantesca desafia até hoje a compreensão dos estudiosos e teve uma imensa repercussão sobre o desenvolvimento de toda a filosofia ocidental. Foi professor, fundador de uma escola (o Liceu) e preceptor de Alexandre, rei da Macedônia.

Aristóteles escreveu sobre lógica, física, biologia, metafísica, política, arte e ética. Seu pensamento é tão importante na história da filosofia que podemos dizer com certa segurança que não é possível realizar um curso de filosofia sem estudar Aristóteles.

A obra Ética a Nicômacos figura como sendo um dos escritos mais amadurecidos do pensamento de Aristóteles. Dividida em dez livros, possivelmente se trata de apontamentos de aulas dadas ao seu filho Nicômacos, a obra trata sobre a excelência moral e a excelência intelectual e busca definir quais são as coisas boas para o homem e determina o sentido do Bem Supremo.

Em outros termos, Aristóteles fala dos princípios da educação do cidadão e a sua maneira, contribui de modo considerável para contemplar a imagem da finalidade da educação da Antiguidade Clássica. Assim, para ele, o objetivo fundamental de sua teoria política e ética consiste em concretizar a noção de felicidade.

Analisando os diversos sentidos em que a felicidade é compreendida, uma vez que, segundo a opinião unânime, todos buscam alcançá-la, Aristóteles acaba por concluir que ela coincide com o prazer decorrente da plena realização das virtudes inerentes à natureza humana. Quando o ser humano consegue afinar os desejos e as ações com seu pensamento, agindo em plena consciência com a própria natureza e realizando os fins que lhes são próprios, ele atinge a plena felicidade que não se limita a honra, o poder, o sucesso ou o prazer. A felicidade plena reside na vida virtuosa.

No entanto, o conhecimento da virtude, por si só, não suficiente para determinar o comportamento do ser humano. A virtude não nasce com o ser humano e também não adquirida definitivamente. É preciso exercício e esforço constante para se aprimorar a virtude. Assim, a virtude, associada às noções do fazer e do agir, torna-se uma das noções mais fundamentais da educação no âmbito de uma pedagogia ativa, que ainda hoje constitui o objetivo principal da reflexão pedagógica moderna.

A virtude, na perspectiva de Aristóteles, reside na capacidade humana de encontrar o equilíbrio, a justa medida. As virtudes morais, portanto, têm como condição a temperança, ou seja a capacidade de dominar a esfera do desejo e das emoções sem se deixar dominar por ela. Enquanto o vício é resultado do excesso ou da falta, a virtude constitui a capacidade de buscar a justa medida, o meio-termo. Assim, enquanto as ações virtuosas geram disposição para a virtude e esta, por sua vez, será causa de atos virtuosas; de outro lado, as ação que resultam numa desmesura ou descontrole dos afetos e dos desejos são a origem dos vícios e que, por sua vez, levam os seres humanos a cometerem atos inadequados, porque reforçam os vícios.

Para Aristóteles, a amizade é uma forma de coroamento da vida virtuosa e a maior fonte de felicidade para o ser humano. A felicidade nessa perspectiva não pode ser comprada em supermercado, nem vir por encomenda por transportadora; também não reside no acúmulo de riqueza e poder; também não está nos títulos honrosos ou no sucesso efêmero divulgado nos meios de comunicação.

O ser humano feliz é aquele satisfeito consigo mesmo, que se ama e ama seus amigos de forma generosa e desinteressada. São estes e tantos outros aspectos que nos induzem a dizer que a Ética a Nicômacos, apesar de ter sido escrita a mais de 24 séculos, continua nos dando preciosas lições para pensar os dilemas do nosso tempo.

Autor: Dr. Altair Alberto Fávero

Salvem a leitura

Pennac diria: “é preciso dar de farejar a uma orgia de leitura”. Monteiro afirmou: “um país se faz com homens e livros”. E eu vos digo: “salvem o prazer de ler!”

Adentro ansioso o portão do local. Situada dentro de uma escola, a biblioteca municipal está resplandecente. Tudo fora preparado com muito zelo naquele espaço diminuto, mas cheio de vida, para que eu, o contador de histórias, pudesse realizar meu trabalho. Cada detalhe devidamente pensado por minha amiga Nilva.

Nilva, de sobrenome Belo, de vocação docente, cuja missão é contar histórias, é uma companheira que conheci em um festival. Ela, do interior goiano; eu, do planalto gaúcho. Uma verdadeira vencedora em sua vida, dizia-se salva pelos livros. Ultrapassara as condições adversas nas quais havia nascido e, por meio do estudo e da dedicação constante, tornara-se professora e, àquela época, coordenava o programa municipal de livro e leitura da cidade de Alexânia, em Goiás. Foi essa a mulher de trajetória intensa que me acolheu naquele lugar.

Um dos grandes feitos de minha amiga foi ter provocado, em seu município, uma mudança de paradigma. Sabedora da importância da leitura, começou a se questionar como poderia fazer de suas aulas mais atrativas. Foi o ponto de partida para a carreira de contadora de histórias, desenvolvida em um carinhoso projeto chamado Leiturégua – Carroça da leitura, que levava em uma carroça a magia dos livros a diversos cantos. Sua figura irreverente e questionadora conseguiu um feito e tanto: a abertura de duas bibliotecas públicas em âmbito municipal. Uma grande vitória.

Sob esse contexto de um lugar extremamente atencioso com a causa da leitura que me inseri. Meu segundo livro nascera lá, no coração do Brasil, terra de Cora Coralina, e por intermédio de Nilva fui pela primeira vez ao estado para contar histórias. Estava ansioso não apenas para partilhar as narrativas que conhecia e as que eu já havia escrito, como também para reverenciar a movimentação corajosa dos defensores da leitura.

Ao entrar em contato com eles, senti-me em casa. Todos nós, ali, já havíamos viajado muitas vezes para os mesmos lugares, pelas páginas de um livro. Tratava-se, portanto, de uma conexão entre velhos companheiros.

A escrita acima é mais retórica do que qualquer outra coisa, reconheço. O foco da reflexão vem agora.

Era o meu dever, porém, falar dessa experiência, de minha amiga, dessa gente. Principalmente para fazer entender algo de grande relevância: a leitura e sua defesa podem brotar de qualquer lugar. E pessoas comprometidas podem, por conta própria, dar vida a esse apelo, encamparem projetos, moverem iniciativas, fazerem a diferença. Afinal de contas, há um cenário bastante preocupante no que diz respeito ao Brasil leitor.

Segundo informações do Instituto Pró-Livro, em seu tradicional estudo Retratos da Leitura no Brasil, a média de livros lidos pelos brasileiros, em 2019, foi de aproximadamente 5 obras, sendo apenas 2,5 lidas inteiramente. Na média geral, averiguada pelo instituto com os entrevistados, apenas 8% das pessoas leem todos os dias, 12% leem ao menos uma vez por semana e 54%, por exemplo, simplesmente não leem. Entre os leitores de literatura, apenas 38% leram o último livro por gosto.

Se não quisermos nos aprofundar nos números, basta olharmos a realidade próxima. Em meu trabalho como artista da palavra, estando em contato com inúmeras escolas de toda parte, não raro encontro locais com bibliotecas abandonadas, onde falta efetivo de profissionais para cuidar desses espaços, fora o descaso com o material riquíssimos que muitas delas possuem. Ora, se no espaço dedicado à educação e ao conhecimento não há esse estímulo, é sinal de um desvio muito grande na condução daquilo que se almeja como sendo uma formação humana e social de qualidade.

Agora, é preciso tomar parte desse desafio no cotidiano. É preciso ler e compartilhar livros, independente do lugar. Falar de leituras, espalhar obras pela cidade, formar clubes de leitura e debates. Começar de baixo; primeiro em casa, depois em comunidade, dentro do próprio bairro. É preciso que os pais leiam, mas que os professores também o façam. Somente na chamada orgia de leitura, propagada por Pennac, é que se poderá encontrar um caminho para que comecemos a modificar as nossas vidas.

Os livros mudaram Nilva. Nilva, empenhada, ajudou a transformar uma comunidade. O Bartolomeu Campos de Queirós, famoso escritor infanto-juvenil já falecido, criou o Movimento por um Brasil Literário. Diversas pessoas, famosas ou anônimas, estão se movimentando.

Acreditam na palavra. Acreditam no potencial do ser humano. É nessa gente que devemos nos espelhar. Como diz a sabedoria popular, uma andorinha só não faz verão. E também, ainda parafraseando o povo, é junto dos bão que nós fica mió.

Falando nisso, estou mergulhado na leitura de Ortodoxia, de Chesterton. E você? Quais são as tuas novidades literárias?

Autor: Gabriel Cavalheiro Tonin (Gabito)

REFERÊNCIAS

Retratos da Leitura no Brasil. In:  www.prolivro.org.br

Código Florestal: dez anos depois, poucos avanços na área ambiental

Nesses dez anos em que ainda se discute a falta de obediência ao Código Florestal, não cessou o registro de números horrorosos de destruição de florestas.

Nos dias de hoje, fica cada vez mais claro – ao menos para os atores sociais que conseguem perceber com suficiente clareza o nível de desajuste planetário (crise civilizatória) que atingimos – que agregar valores de sustentabilidade é absolutamente central na tomada de decisão das empresas e na elaboração de acordos comerciais, por exemplo.

No cenário internacional, é dado como certo que o País que consegue implementar uma legislação ambiental mais rigorosa logo se destaca e sai na frente na sempre necessária transformação da sociedade em suas dimensões políticas e ambientais. Franca e abertamente, há razões de sobra para dizer aqui que essa é a pauta que define as coisas no mundo dos negócios. E é justamente nessa direção que precisamos avançar.

Criado para estabelecer as áreas de proteção em imóveis rurais, Áreas de Preservação Permanente (APPs), de Reservas Legais (RL – na Amazônia, p. ex., é preciso conservar 80% da vegetação) e de Áreas de Uso Restrito (AUR), o Código Florestal, CF – na verdade, a Lei de Proteção da Vegetação Nativa 12.651, de 25 de maio de 2012 -, uma década depois de aprovado pelo Congresso Nacional, ainda não foi cumprido e há muito por fazer.

Balanço feito, dez anos depois, num cenário desfavorável à agenda ambiental, resta pouca coisa para comemorar. A fiscalização é morosa e os passos (na direção de consolidar as regras de proteção da vegetação em áreas particulares, reconhecendo as áreas consolidadas para regularização dos imóveis rurais, objetivo-chave do CF) são demasiadamente lentos. Falta vontade política, tanto quanto falta mobilização social.

Em outras palavras e em termos gerais, a perceptiva lentidão na implementação do Novo Código Florestal – a nosso ver quase que de forma deliberada – pelo Governo Federal em conluio com a Bancada Ruralista no Congresso Nacional, agravada pela falta de transparência (vide a capacidade de verificação daquilo que está cadastrado, atrapalhando o Programa de Regularização Ambiental, PRA), ajuda a criar um cenário de elevado risco e muita insegurança para o investidor, dois fatores contrários ao razoável equilíbrio socioambiental de qualquer sociedade.

Dito isso, vamos aos fatos. A Comissão de Meio Ambiente (CMA) do Senado aprovou o relatório de avaliação de política pública de Regularização Fundiária no último dia 2 de novembro, com foco nos impactos ambientais gerados pela grilagem na Amazônia Legal. Ali avaliou-se a Implementação do CAR, apontando que tem sido utilizado como um corta caminho para legitimar a grilagem em terras públicas em todo país, com destaque para o arco do desmatamento nas franjas da Amazônia; e mesmo sendo um instrumento muito utilizado pelos Governos do Pará e Mato Grosso, não lograram sucesso com esse instrumento de monitoramento e regularização ambiental dos imóveis rurais. “Por isso, a ligação entre a grilagem marcada pelo CAR e a retirada da floresta como meio de comprovar a posse sobre a terra, sem nenhum interesse imediato na produção ou no aproveitamento adequado da área, é um dos principais impulsionadores do desmatamento. Cerca de 66% dos casos ocorreram dentro do perímetro declarado ilegalmente como particular, segundo o Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia”, assim destaca o documento lido na ocasião pelo presidente da Comissão de Meio ambiente.

Decorrido todo esse tempo desde sua criação, de acordo com o relatório da CMA, denúncias apontam que o Sistema Nacional de Cadastro Ambiental Rural tem recebido registros sobrepostos de propriedades ilegais em terras públicas destinadas e não destinadas. Trata-se, no mais das vezes, de registros sobrepostos a Florestas Públicas Não-Destinadas (FPND), Terras Indígenas (TI) e Unidades de Conservação (UC) que não poderiam ser aceitos no sistema como propriedade privada ou mesmo posse legítima; portanto, com direito de registro no CAR.

Indo direto ao ponto crítico: não avançar na regularização ambiental das propriedades rurais (por conta de travas de gestão) resulta favorecer o desmatamento ilegal, um de nossos reconhecidos dramas. Da mesma forma, não avançar na remuneração pelos serviços ambientais, outro ponto bastante vulnerável, dificulta manter os benefícios (recuperação da cobertura vegetal, combate à fragmentação de habitats e assim por diante) que os ecossistemas desempenham para os seres humanos.

Colocado às claras, vamos aos números com mais detalhes: do total de 6 milhões de imóveis cadastrados, apenas 29 mil – ou 0,4%, (2% da área) – foram analisados com sucesso, informa o Sistema Nacional de Cadastro Ambiental Rural. Todavia, até agora, nenhum estado brasileiro superou a marca de 4% dos cadastros validados. Logo, não é exagerado afirmar pontualmente que o sistema funciona de forma irregular.

Se, de um lado, São Paulo, Pará e Mato Grosso avançam no método e na forma de análise, Alagoas e Sergipe, do outro, sequer regulamentaram o Programa de Regularização Ambiental. Por conseguinte, esses números escandalosamente baixos não permitem qualquer sinal de comemoração. Sendo rigoroso na análise, foram poucos os avanços, ainda que, hoje em dia, se saiba como o meio rural brasileiro está ocupado, qual o seu tamanho, onde estão as áreas degradadas e as que ainda estão conservadas.

Mas parece mesmo que o Sistema está sendo usado para garantir que as questões fundiárias tornem o problema ambiental brasileiro maior ainda, uma vez que não deixa de garantir, guardadas as proporções, as mesmas regras das oligarquias rurais e, quem sabe, capitanias hereditárias e sesmarias, com concentração de terras e exclusão social, senão vejam: grosso modo, mais de 80% das propriedades rurais detém 20% das terras, enquanto 20% das propriedades rurais tem o inverso, com grande concentração de terras.

Em números gerais, o Brasil tem 860 milhões de km2, sendo 60 milhões km2 para agricultura e 200 milhões km2 para a pecuária, e declarados mais de 560 milhões km2 em áreas com propriedades privadas, sendo 300 milhões km2 sem produção declarada, apenas para ocupação e especulação, base para os crimes fundiários. Decerto, isso torna a situação ainda mais perversa, afinal, grandes proprietários são irrigados pelo crédito agrícola como justificativa para garantir o agroexportador e superávit primário.

Nessa mesma direção, não podemos deixar de destacar ainda as agressões do grupo de ruralistas que ajudou a promover esse Código Florestal com o claro desejo de se desobrigar dos compromissos com a proteção do meio ambiente, como se não tivesse obrigação constitucional com a presente e às futuras gerações, e nem mesmo com o equilíbrio essencial à qualidade de vida e bem-estar das populações, deixando de lado o principal, a Função Social da Terra.

De qualquer maneira, que fique claro: todos temos obrigações nas propriedades urbanas, com áreas institucionais e proteção nos loteamentos, recuos nas construções urbanas, calçadas, arruamentos e etc. E uma vez apontado isso, fica a pergunta: nesse particular, como poderiam os proprietários rurais se desobrigarem desses importantes instrumentos da Reserva Legal e APP´s na proteção do nosso grande patrimônio natural Brasileiro?

Para todos os efeitos, esclareçamos algo mais: ainda sobram “consequências” marcadas pelo inaceitável retrocesso na preservação das florestas devido à anistia (perdão) concedida (especialmente a ruralistas, é claro) a infrações ambientais (leia-se desmatamentos) cometidas até julho de 2008 (com base de valores da época, a estimativa era de até 8 bilhões de reais), o que também faz aumentar – e muito – a sensação de impunidade.

Seja como for, queremos enfatizar o seguinte: nesses dez anos em que ainda se discute a falta de obediência ao CF, não cessou o registro de números horrorosos de destruição de florestas. Serve de exemplo: de 2012 a 2020, 32 mil quilômetros quadrados foram destruídos, o que prontamente exige um modelo de economia de restauração.

E tem mais: não bastasse a lentidão já mencionada, é lugar-comum a forte pressão para alterar radicalmente o conteúdo do CF que, se implantado 100%, tem potencial de conservar mais de 150 milhões de hectares de vegetação nativa. De acordo com pesquisadores do Climate Policy Initiative / Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (CPI/ PUC-Rio), há, atualmente, 56 projetos de lei em tramitação no Congresso Nacional que pretendem alterar o Código Florestal. Um deles, num total desapego à realidade, defende a retirada do estado de Mato Grosso da Amazônia Legal, o que eliminaria de imediato a necessidade de restauração de 3 milhões de hectares apenas nesse estado.

Resistir e enfrentar esse específico tipo de pressão, bem sabemos, é a ordem do dia. Disso não podemos fugir. Inútil dizer, no entanto, que, o que mais chama a atenção, foi o tempo perdido, dada a justificativa da urgência de se corrigir a insegurança jurídica do Código Florestal de 1965, mesmo sabendo que a Bancada Ruralista queria a todo custo anistia às multas e embargos de áreas referentes ao período final dos anos 1990 e início dos anos 2000, quando o desmatamento estava em níveis estratosféricos.

De qualquer maneira, oportunidades foram perdidas. Por exemplo: agregar valores à produção agropecuária brasileira, agregar a biodiversidade contida na Reserva Legal, da proteção das águas e corredores de conexão florestal, e ainda em relação às áreas de Preservação Permanente, valiosos instrumentos de gestão territorial e ambiental que os outros países agroexportadores não possuem e sequer poderiam ter.

Detalhe: mesmo que em um primeiro momento não tivesse maior valor de prêmio pela agregação desses citados valores, ao longo do tempo, certamente, poderíamos “marcar” a produção agropecuária brasileira como sustentável. Falando em marcas, vale lembrar o outrora Café do Brasil – produto que faz parte da nossa história.

Por fim, traduzindo outros valores essenciais que ajudam a entender o mundo de hoje, estamos convictos que o futuro (ainda a ser escrito) nos perguntará que tipo de atitude fomos capazes de ter diante das causas maiores da Humanidade: a preservação do meio ambiente e a conservação da floresta e da natureza, parceiras inseparáveis da vida.

Autores:

(*) Marcus Eduardo de Oliveira, economista e ativista ambiental. Especialista em Política Internacional pela Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESP, 1995) e mestre em Integração da América Latina pela Universidade de São Paulo (USP, 2005). Autor de Civilização em Desajuste com os Limites Planetários, (ed. CRV, 2018), entre outros. prof.marcuseduardo@bol.com.br

(**) Mário Mantovani, geógrafo, especialista em recursos hídricos e ambientalista. Um dos responsáveis pela criação da Associação Nacional de Municípios e Meio Ambiente e pela implementação de Consórcios Intermunicipais de Meio Ambiente.
Atualmente exerce a presidência da Fundação para a Conservação e a Produção Florestal do Estado de São Paulo (Fundação Florestal)

FONTE: https://www.ecodebate.com.br/2022/11/11/codigo-florestal-dez-anos-depois-poucos-avancos-na-area-ambiental/

A magia da arte de contar histórias

A história, a lenda, a fábula, o mito, a parábola são métodos pedagógicos excelentes e desempenham papel relevante para o esclarecimento e o aprendizado de crianças e jovens por ajudar a desenvolver a dimensão emocional, moral, espiritual e intelectual da inteligência deles.

A história, entre os gêneros literários, é a forma mais rica e de mais fácil compreensão tanto para crianças, jovens e adultos. A criança tem grande interesse pelo mundo encantado do faz-de-conta, da imaginação, da fantasia que explore a emoção e o sentimento.

A história, a lenda, a fábula, o mito, a parábola são métodos pedagógicos excelentes e desempenham papel relevante para o esclarecimento e o aprendizado de crianças e jovens por ajudar a desenvolver a dimensão emocional, moral, espiritual e intelectual da inteligência deles.   

A boa história instrui e edifica o leitor ou ouvinte, além de recrear, desvia os maus pensamentos e prepara-os para atividades sadias. Situações comovedoras, surpresas, curiosidades sadias apresentam atração, interesse e estimulam a inteligência, provocam reflexão, cultivam a memória, atingem a sensibilidade, a imaginação e o interesse pela leitura.

Ao longo da caminhada evolutiva da humanidade, encontramos importantes contadores de histórias, entre os quais destacamos Jesus, com suas parábolas fugindo da linguagem convencional, rebuscada, filosófica ou excessivamente racional.

A pessoa que se propõe a contar uma história deve conhecê-la bem, saber todos os detalhes e levar em conta os seus elementos essenciais: a introdução do assunto, o enredo, o clímax e a conclusão.

A introdução da história deve ser curta e despertar o interesse do ouvinte; neste momento será apresentado o foco da narrativa, situando o assunto no tempo e espaço e apresentando os principais personagens. O enredo é a ação que se segue, o desenrolar dos fatos, a ação dos personagens, os eventos devem seguir-se em sequência lógica, cada um deve ter uma significação cada vez mais intensa até atingir o clímax da história e chegar à conclusão, o ponto culminante, com expectativa máxima do ouvinte, momento rápido e chegar e dar uma satisfação à expectativa do ouvinte sobre o que acontece com os personagens principais.

A introdução da história é curta, o enredo mais longo e movimentado com os fatos que devem ter unidade entre si e que prendam a atenção. A linguagem utilizada pelo narrador precisa ser simples, correta e adequada às condições do ouvinte.

Há condições prévias a serem observadas pelo contador de histórias, como a análise cuidadosa da história, levando em consideração o assunto que ela trata e a parte técnica. Ele necessita conhecê-la bem, saber a sequência dos episódios que ela contém e emocionar-se com o enredo. Para tal, fará a narrativa para si, primeiro em silêncio, depois em voz alta, ao exercitar-se colocar-se, usando a imaginação, empaticamente no lugar do ouvinte e emocionar-se como o enredo.

Preparar-se para provocar no expectador a surpresa, o riso, as lágrimas, o medo, a admiração, a alegria e a reflexão sobre as peripécias narradas. Questionar-se: O que eu vou fazer na performance para despertar estas emoções nos outros?

Narrar os eventos da história com naturalidade, com segurança demonstrando o domínio dos pormenores do texto com voz agradável, modulando-a de acordo com o que está sendo narrado. Dispensar atenção a todos, dirigindo o olhar aos presentes.

O olhar expressa uma linguagem inarticulada analisando a reação fisionômica da plateia, de forma individual e coletiva, simultaneamente. Olho nos olhos. A sequência rítmica vai se alterando conforme o clima emocional que o texto exija, sem este artifício a narrativa fica monótona, sem vida. Há pontos psicológicos na história que vale a pena fazer pequena pausa, que vai provocar atitude de ansiedade pelo que segue. É recurso ótimo de arte pois permite o descanso entre uma emoção e outra, estabelecendo equilíbrio entre elas.

As pausas no momento certo são instigantes, o ouvinte também prende o fôlego e o narrador dá um tempo para ele respirar e pensar no que está acontecendo, construir a imagem mental da cena descrita, rica de imaginação e de emoção vibrante.

O narrador e o ouvinte precisam envolver-se emocionalmente com a história demonstrar as emoções básicas: alegria, tristeza, medo, afeto e raiva, conforme as situações vividas pelos personagens. Quem conta, precisa fazer o outro acreditar no que ele está contando como se ele fosse testemunha ocular do acontecimento narrado. Ele não fala impávido, o corpo deve acompanhar a voz no que está sendo contado, todo corpo fala junto, o tronco, os braços, as mãos, os dedos, a postura dos ombros, o movimento da cabeça, a expressão facial e dos olhos com gestos leves, comedidos e apropriados.

A voz é um prolongamento do corpo, com ela se pode envolver o ouvinte, tocá-lo, tatear, abraçar, afagar, retrair. O timbre, a altura, o ritmo e a intensidade da voz é que vão dar luz e fazer brilhar a história.    

As histórias podem ser lidas ou contadas. O narrador pode utilizar o recurso da leitura da história, de grande valor educativo pois enriquece a linguagem e estimula à leitura, mas ela de ser bem lida, com gestos e olhar adequados. Para tal é necessária uma acurada preparação prévia.

O livro de onde é extraída a leitura representa para o ouvinte infantil um baú mágico, com aventuras e surpresas. A história contada pelo narrador é a forma de apresentação preferida pois é acessível a qualquer auditório e proporciona maior aproximação entre o narrador e o ouvinte. O narrador tem mais facilidade de observar as reações dos ouvintes e utilizar mais recursos de expressão.

Ao escolher a história a ser contada, o narrador deve considerar o interesse e a capacidade de compreensão do público a que se destina. Levar sempre em consideração que é preciso muito exercício e esforço para aprender todos os desafios que envolvem uma contação de histórias.

A contação de história ou a sua leitura para crianças e jovens proporciona ao adulto uma sensação muito agradável pois ajuda-o a equilibrar-se, desenvolvendo a criatividade, a linguagem, o raciocínio e a memória, descarregando emoções e sentimentos do inconsciente desde a fase fetal ou infanto-juvenil abrindo canais de extravasamento destas energias. Ele pode reencontrar a criança perdida dentro de si.

O momento da contação de história é sublime, os sentimentos e emoções falam mais alto do que a razão e a lógica e propicia a semeadura de valores morais. O contador de boas histórias é o semeador que saiu a lançar a semente do bem no solo fértil da mente infanto-juvenil. Estas sementes se multiplicarão dando algumas “cem por uma, outras sessenta e outras trinta.” (Mateus, 13: 1 a 9).

Autora:  Gladis Pedersen de Oliveira – autora do livro: A Literatura e a Magia da Arte de Contar Histórias   – Olsen Editora – Porto Alegre – 2013

    

A emergência da pós-humanidade

No princípio dos tempos havia harmonia, paz e felicidade. Tudo parecia concorrer para o bem viver de todos. Agora, porém, as coisas já não são assim. Saímos da antiguidade para a modernidade e depois para a pós-modernidade. Daí seguimos para a pós-verdade e a pós-humanidade, o que mudou quase todo projeto original. Passamos pela floresta, pela caverna e pelo asfalto; cruzamos os oceanos, sobrevoamos as nuvens, fomos à lua e agora decaímos. Parece mesmo que estamos em queda livre.

Adveio o sociólogo e filósofo polonês Zygmunt Bauman (1925 – 2017) e afirmou que o fim da modernidade foi brusco. Disse que a pós-modernidade iniciou no exato momento em que os acontecimentos que deveriam ficar dentro de quatro paredes foram publicizados em cadeia nacional.

O que era de foro íntimo foi se tornando sempre mais público e vulgarizado. E, em contrapartida, muitas coisas que deveriam ser coletivas e públicas foram mais e mais sendo privatizadas. Assim, emergiu o que alguns chamam de alta modernidade e, outros, simplesmente, pós-modernidade.

A entrada na fase da pós-verdade está relacionada às consequências mais desastrosas da pós-modernidade. Nesse contexto, a verdade sofreu abalos não só porque emergiram muitas incertezas e pluralidade de opiniões, mas principalmente porque a mentira passou a fazer mais sucesso. E, assim, as relações sociais e políticas foram se impregnando de fake news, meias verdades e meias mentiras. O terreno se mostrou propício para o retorno do estado de natureza (pré-social), em  uma espécie de “guerra de todos contra todos”, como descreveu o filósofo Thomas Hobbes no livro Leviatã.

A perspectiva da pós-humanidade veio por acréscimo. Desde que se sentiu a necessidade, brotada do desejo, de dar vazão e fazer circular o ódio que estava camuflado ou controlado no recôndito da alma humana, inauguramos a fase nebulosa da pós-humanidade. Ela tem se aprofundado de forma célere nos últimos tempos. Alguns estão denominando esta fase doentia de epidemia do neonazismo. De certo modo, todos somos afetados por esta onda epidemiológica. Muitos se tornam transmissores em alto grau e alastram a doença. Dessa afetação resultam muitos desafetos e outros tantos indiferentes a qualquer sofrimento alheio.  

Se é verdade que o ambiente tange, tinge e configura comportamentos e o caráter das pessoas, isso não é a verdade absoluta.

Richard Sennett, sociólogo e historiador norte-americano, autor do livro “A corrosão do caráter: consequências pessoais do trabalho no novo capitalismo” (1998) oferece uma significativa reflexão sobre o contexto político e social do mundo pré e pós-globalizado. Segundo ele, embora haja aspectos positivos advindos com o chamado novo capitalismo, por outro lado são notáveis os fatores que contribuem para a corrosão do caráter humano, da integridade e da confiança mútua.

O ódio que dorme no coração humano não é novidade, como já indicava e advertia Jesus Cristo: “Uma nação lutará contra outra, um reino contra outro reino […]. E vocês serão entregues até mesmo pelos próprios pais, irmãos, parentes e amigos. E eles matarão alguns de vocês. Vocês serão odiados por todos, por causa do meu nome. Mas não perderão um só fio de cabelo. É permanecendo firmes que vocês irão ganhar a vida!” (Lc 21, 10;16 -19).

Por mais difícil que seja, é possível permanecer firmes no que de fato importa. É possível estabelecer limites e parâmetros subjetivos e objetivos aos avanços da barbárie e da decadência humana. É possível (ou haverá de ser) modificar, transformar e ressignificar as relações interpessoais e sociais.

É necessário continuamente produzir uma metamorfose civilizatória e humanitária baseada na busca da verdade, da ética, da democracia, da solidariedade, da convivência fraterna e da ajuda mútua. Oxalá consigamos dar esse salto de qualidade a tempo e garantir vida sustentável, saudável, fraterna, digna e feliz para todos e todas!

Autor: Dirceu Benincá

Combate ao racismo: da acomodação para a reação

O Papa afirmou, por ocasião da morte de George Floyd nos Estados Unidos: “não podemos tolerar nem fechar os olhos diante de nenhuma forma de racismo ou de exclusão e pretender defender o caráter sagrado de toda vida humana”. Para os cristãos enfrentar o racismo é compromisso de fé e de fidelidade ao Filho de Deus.

No próximo domingo deste mês de novembro, se assinala no calendário civil o Dia Nacional da Consciência Negra. Costuma-se dizer que é um dia de celebração e também de reafirmação das lutas do povo negro pela tão sonhada igualdade racial e social.

Celebrar a data é importante justamente porque a marca do calendário comemorativo não surgiu gratuitamente ou fruto do acaso. Foi consequência de muita luta de homens e mulheres negros.  Muitos que já não estão entre nós, mas deixaram este legado valioso. Celebrar também porque é alimento e força para continuar lutando para que verdadeiramente se viva em um país com condições de igualdade racial. Tornar célebre uma data implica em imprimir nos corações e na memória lembranças que não se perderão, justamente porque foram feitas célebres. Então é também reavivar a memória.

O dia 20 de novembro é uma data propícia para reafirmação de algumas pautas muito caras ao povo negro. Entre elas, e com muita urgência, a superação do racismo. 

O último pleito eleitoral, marcado pelo acirramento político, revelou situações explícitas de racismo. Sem reservas, muitos cidadãos disseram com palavras ou manifestam com gestos que se compreendem melhores devido à cor da pele. Não só se compreendem melhores, como se recusam a ver um cidadão negro como sujeito dos mesmos direitos.

 Algumas notícias, e não foram poucas, de fatos do cotidiano, revelam que esta forma de pensar não é algo incomum. Muitas pessoas realmente pensam assim e agem a partir dessa concepção de mundo.

Felizmente o uso das redes sociais e o trabalho da imprensa têm funcionado como canais de denúncia dessa forma de pensar e agir desumana e ilegal. É necessário continuar denunciando porque apesar de alcance limitado, temos leis que coíbem tais práticas. 

O Papa afirmou, por ocasião da morte de George Floyd nos Estados Unidos: “não podemos tolerar nem fechar os olhos diante de nenhuma forma de racismo ou de exclusão e pretender defender o caráter sagrado de toda vida humana”. Para os cristãos enfrentar o racismo é compromisso de fé e de fidelidade ao Filho de Deus. Não é possível ignorar uma realidade tão negadora da dignidade humana.

Todavia, é necessário avançar para além da denúncia e punição.  É importante um reposicionamento cultural. No passado, o racismo e as atitudes correlatas foram naturalizados, ou seja, enraizados na sociedade como se fossem normais e ajudaram a sustentar o projeto escravagista.

Essa forma de conceber as relações penetrou na índole da maioria dos brasileiros, somada a uma visão elitista e patrimonialista da sociedade. Resulta a falsa concepção de que, pelo fato da pessoa não ser negra ela seja melhor, como dito acima, e também o fato de que por pertencer a uma classe e ter bens, também a faz melhor, inclusive acima da lei.

Por outro, lado se difundiu-se fartamente o “mito da democracia racial”, segundo o qual o Brasil era uma grande democracia de raças e culturas, onde todos viviam de forma harmônica articulando as diferenças sem maiores conflitos. Os fatos da história, sobretudo a desigualdade econômica mostrada em dados que coloca os negros entre os mais pobres desconstrói tal mito. 

Cabe insistir que racismo é muito mais pernicioso que uma simples ofensa moral à pessoa devido a sua pertença étnico-cultural. Isto está tipificado no código de lei como racismo ou injúria racial passível de punição.

O racismo, que sustentou o modelo de produção escravagista no passado, hoje sustenta a desigualdade econômica. Deve certamente inquietar um olhar crítico os dados sociais e econômicos que colocam a população negra, maioria segundo IBGE, em percentuais e também em situação de vulnerabilidade social. Frisa-se que racismo é um grande impeditivo para que os negros e negras ascendam socialmente (DAp 533).

Um jovem negro ou uma jovem negra pode ter todos os méritos e dons, virtudes e potencialidades, contudo o fato de serem negros torna a sua jornada mais árida e isso é experimentado no cotidiano.

É ingênua a leitura de que a meritocracia é fator de ascensão para um jovem. Infelizmente esse discurso ainda tem muitos adeptos.  Muito mais forte e potente que a meritocracia está o racismo espalhado na sociedade e em nossas instituições.

Contudo, a face mais perversa do racismo não está nos impeditivos para os homens e mulheres negros colocarem seus dons a serviço da sociedade.

Ela está na ameaça à vida, ao direito de completar o ciclo vital. No Brasil o racismo, matou, mata e continua matando. E as formas de morte são variadas. Por isso, é tão perverso.

Tal condição exige da população negra não só a celebração do dia 20 de novembro, que tem um caráter simbólico imenso, mas também reforçar a luta contra o racismo. E, no caso, o grande desafio, diante do recrudescimento visível das relações, está em ampliar o leque de apoios para além dos grupos afeitos.

Hoje é pautada a necessidade de não apenas não se compreender como racista, mas ser antirracista.

De um posicionamento de acomodação migra-se para uma atitude de reação. Os fatos do cotidiano cobram tal atitude.  O dia 20 de novembro cobra dos brasileiros de boa vontade essa convicção.

Autor: Pe. Ari Antonio dos Reis

Grupo de Pesquisa Negritude e Teologia – Itepa Faculdades

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