Muitas questões ajudam a definir nossos votos em eleições gerais ou em eleições municipais. O importante é basearmos a decisão pelos votos em critérios que nos ajudem em decisões mais assertivas, mais conscientes e mais cidadãs.
Começamos esta reflexão perguntando: como surgem os candidatos e candidatas que se apresentam, a cada dois ou a cada quatro anos, seja para as eleições gerais ou eleições municipais? Ou ainda: em que mundo vivem eles/elas? Quais são seus verdadeiros propósitos? Qual é o seu papel e a sua finalidade na representação política que exercem a partir de seus mandatos?
É importante destacar que os candidatos/as não “são anjos que caem do céu”.
Geralmente, eles ou elas são convocados a assumir uma missão de representação política de um determinado grupo ou de grupos de determinadas categorias ou classes sociais ou, ainda, eles mesmos se autoconvocam para esta representação.
Os candidatos ou candidatas surgem das lutas e das disputas sociais que envolvem os diferentes interesses coletivos. Podem representar uma categoria de trabalhadores/as, uma causa social, uma ideia de organização de sociedade, uma pauta com grandes e importantes impactos na sociedade.
Quanto maior for a diversidade das pautas sociais, políticas, culturais, econômicas e ambientais que os candidatos representam, maior será o exercício da democracia a partir das eleições.
Sempre é louvável termos pessoas dispostas, preparadas e disponíveis para o trabalho de representação política nas cidades, nos estados e na nação.
Um dos aspectos que devem nortear nossas escolhas é termos conhecimento das trajetórias de vida e de atuação social daqueles que se escalam para nos representar na vida pública. Cada um e cada uma de nós vai construindo a sua vida pessoal e social, alicerçada em valores, em propósitos, em engajamentos e envolvimentos que interessam à coletividade. Quando candidatos, esta trajetória é o grande aval para o trabalho coletivo. Afinal, a política é o exercício do bem-comum, voltada aos anseios e necessidades da coletividade.
Quem se apresenta para o exercício de um trabalho de representação na esfera pública deve comprovar uma trajetória onde já tenha vivenciado e/ou protagonizado ações políticas com benefícios para a coletividade.
É fato também que algumas pessoas que buscam votos numa eleição não tem comprovada inserção em atividades, eventos ou causas que realmente impactam coletivamente os interesses de uma coletividade. Estes, deveríamos evitar, pois na medida em que escondem seus interesses, estão ludibriando as nossas mentes e nos enganando como eleitores. Os interesses individuais nunca podem se sobrepor aos interesses da coletividade.
Outro aspecto que pode e deve orientar nossas escolhas é saber dos candidatos quais sãoseus méritos e seus métodos para alcançar o objetivo da representação. Por exemplo, pode ser que determinado candidato ou candidata tenha ótimas ideias, boa inserção social e representatividade, mas está usando meios ilícitos como compra de votos, como acordos com setores econômicos ou com segmentos políticos para perpetuar práticas políticas que ele mesmo condena.
Há que se considerar, ainda, se o pedido de votos para a representação política condiz com o cargo que irá exercer. Se o cargo é para o executivo, terá de apresentar propostas concretas para resolver questões de cidadania, políticas públicas, economia, mundo do trabalho. Se seu cargo for para o legislativo (vereador, deputado estadual, deputado federal ou senador), deverá dizer como levará as demandas e necessidades da comunidade para o executivo, como legislará para a comunidade e como fará a fiscalização do poder executivo.
Os candidatos não se fazem sozinhos. Para além dos grupos com os quais estão vinculados, fazem parte de organizações e partidos políticos que defendem diferentes ideologias. Neste sentido, cabe ao eleitor conhecer os partidos, saber o que eles defendem e votar em candidatos vinculados às ideologias que ele acredita sejam capazes de promover mudanças reais para a sua vida e para a vida em sociedade.
Por fim, cabe abordar a ideia da “falsa idealização dos agentes políticos”. Muitos, dentre nós, gostaria que os políticos fossem anjos. Se assim fosse, estariam imunizados contra todas as situações e oportunidades que não promovem o bem comum e as boas práticas da democracia. Mas os políticos, assim como cada um de nós, não são anjos e sim, seres humanos, ou seja, também não são perfeitos.
A política não é um espaço para a ação de anjos, mas é o espaço de disputa dos mais diferentes interesses que estão em jogo na sociedade. A disputa destes interesses é legítima, desde que os mesmos estejam sempre bem explicitados, para que todos saibam o que move os candidatos que se propõem a representar os interesses da população.
No pequeno mundo das crianças, tudo é grande demais, assim também são os monstros que nascem dentro delas quando não prestamos atenção as suas birras, ao invés de solucionarmos problemas fáceis, acabamos criando monstros imaginários para elas.
Uma criança não faz birra por ser mimada. Ela faz birra porque quer chamar a atenção, precisa de cuidados, sente-se sozinha e com medo, algo a incomoda, precisa de alguém para ajudar-lhe nas suas mais diversas ansiedades e desejos, não sabe o que escolher para si e fica perdida diante de tantas atribuições que lhe damos durante a sua pequena infância.
Uma criança birrenta precisa de cuidados especiais dos pais e responsáveis, necessita de um olhar atencioso e, muitas das vezes, de um psicólogo.
A birra da criança serve para extravasar as suas emoções e experienciar a raiva, o medo, a tristeza, a dor, a solidão, o desamparo e a orfandade do brincar. As crianças sentem-se órfãs das brincadeiras junto com outros amigos, pois a sociabilidade é muito importante para o seu crescimento.
Muitas vezes, os pais não permitem que desçam para brincar no parquinho do condomínio ou as impedem de sair à rua sem explicar o motivo pelo qual elas não podem fazer aquilo.
Uma criança birrenta procura por atenção desesperada dos adultos, principalmente, aquelas que têm pouca idade. A birra é uma forma de pedir ajuda aos adultos que a criança encontra, ainda mais aquelas que não falam ainda.
As crianças são submetidas todos os dias a tarefas e afazeres que muitas vezes fogem dos seus desejos, pois tudo o que mais querem é brincar e correr pela casa inteira. O não pode isso e não pode aquilo sem motivos aparentes faz com que a criança sinta raiva dos pais ou dos responsáveis tornando-se essa raiva uma birra, forma mais bem encontrada por ela para demonstrar a sua emoção mais profunda.
As birras das crianças não podem ser deixadas de lado, os adultos não devem fingir que não estão vendo, que isso não merece atenção, que nada está acontecendo, pois quando joga para fora as suas emoções mais profundas, a criança busca uma solução para elas, a sua pequena alma está cansada de lidar com um problema que não sabe como resolver.
Não devemos confundir as crianças birrentas com as mimadas, são duas coisas diferentes.
A birra é um pedido de ajuda que se desenvolve a partir de uma emoção.
A raiva é uma das emoções mais fortes na criança, pois no seu pequeno mundo não consegue compreender por que o mundo lhe diz tanto não, por que não pode fazer as coisas que deseja, por que não pode dormir até tarde, por que não pode levar o seu animal de estimação para a cama, porque os adultos não conseguem compreender as suas vontades e impõem limites para tudo.
Para muitas crianças, os pais proíbem que façam diversas coisas senão ficarão de castigo, mas nunca conversam sobre o motivo de tais proibições. A criança não entende o que lhe é negado e faz birra para notar que está aborrecida com aquele tipo de atitude ou gesto.
No pequeno mundo das crianças, tudo é grande demais, assim também são os monstros que nascem dentro delas quando não prestamos atenção as suas birras, ao invés de solucionarmos problemas fáceis, acabamos criando monstros imaginários para elas.
Quando atendemos as birras das crianças, elas ficam felizes não por serem mimadas, mas por termos ouvido os seus desejos, elas ficam contentes com a importância que damos para os seus anseios e vontades. Todo mundo quer sentir-se importante, não é diferente com a criança, ela tem emoções e precisa de amor, carinho, conselhos, segurança, aconchego e diálogo.
As birras despercebidas pelos pais ou responsáveis podem desencadear ansiedades e outros traumas que com o tempo prejudicarão as relações da criança com as pessoas ao seu redor, animais e a natureza. Muitas birras tornam-se tão graves que acabam necessitando de psicólogos.
Dar atenção à birra da criança é dizer para ela que você está ali, que a presença dela não está incomodando, que o não que lhe foi dado tem um motivo a ser dialogado assim que possível. É preciso cuidar bem da criança tratando-a com respeito e admiração. Mesmo que as suas birras roubem-nos a paciência, nunca é demais dá afeto e atenção.
Assim, a criança que faz birra é porque está sentindo algo a incomodar, logo, os pais devem tomar precauções e buscar conversar com ela para saberem do que está precisando.
As emoções das crianças são mais visíveis do que a dos adultos, porque elas ainda não têm os sentimentos de vergonha dentro de si, ainda não estão marcadas pelas regras e normas de alguns adultos de que chorar em público é feio.
Para uma criança chorar no supermercado ou na rua não tem problema nenhum, sentiu vontade de chorar porque ficou com raiva ou triste e abre o bocão diante de todos.
Se fôssemos iguais as crianças estaríamos menos doentes. A birra da criança é um sinal de alerta de que algo errado está a acontecer e, quanto antes a ajuda chegar, melhor será para todos.
A criança birrenta deve ser amada igual a todas as outras, pois ela está gritando ao mundo que precisa de ajuda.
O grande desafio atual é nos libertarmos da dependência do mundo virtual e ilusório das máquinas mágicas que, em alguns casos são úteis e indispensáveis, mas que nos distraem e nos desconectam do mundo real. É urgente voltar a viver o dia a dia de forma natural, real.
Somos todos, que compõem a humanidade, filhos da Terra, ela é a nossa mãe dadivosa e boa que nos oferece doações sem limites. Bem trabalhada e cuidada, ela transforma em alimento tudo que seus filhos precisam. É um laboratório divino.
O nosso convívio equilibrado com os outros seres vivos proporciona a manifestação e continuidade da vida plena. Ela sempre foi capaz de gerar alimento abundante para a manutenção de seus habitantes tanto do reino mineral, vegetal e animal. A Terra é naturalmente preservadora e mantenedora da vida.
A vida, sopro divino, é encontrada no ar, nas águas, nos raios do Sol, no solo, na relva, nas árvores, nas montanhas, nos animais, no nosso corpo físico. A Natureza está sempre presente em nossas vidas. A Terra é uma bateria gigantesca que se desloca no cosmos equilibradamente.
Nas páginas vivas do livro da Natureza, aberto à nossa frente, bastando acessá-lo com a visão, o olfato, a audição, o tato ou a gustação, observá-lo conscientemente, racionalmente, percebermos a grandiosidade da vida que temos a nossa volta e da qual somos parte integrante. Esta constatação vai nos proporcionar fonte de equilíbrio emocional e físico.
A observação dos fenômenos naturais como: nascer e pôr do Sol, as aves voando, as flores e seus perfumes, as árvores, as nuvens, o céu noturno estimula a elaboração de bons pensamentos, da razão ativa, da consciência participativa, da vontade de fazer boas coisas e de nos sentirmos plenos.
A comparação interativa entre nós e o meio natural em que vivemos ajuda a nos autoconhecer e proporciona processo de identificação com a divindade, promovendo o sentimento de pertencimento a esta criação transcendental e de inteireza e plenitude com tudo que nos cerca, dando sentido a nossa vida. O Sol, a fonte, a árvore, as pedras, as flores, a brisa, não falam, irradiam a luz, a harmonia, a beleza, o som, o perfume, comunicam-se silenciosamente, falando a nossa alma sobre as realidades sublimes que nos cercam.
Temos que parar, silenciar, respirar fundo, sentir a natureza que nos cerca. Observar atentamente os elementos que a compõem. Quanta lição vamos encontrar.
O ar atmosférico, indispensável à vida, quando seco e limpo, é composto de 21% de oxigênio, 78% de nitrogênio, 1% de argônio, 0,03% de carbono e vapor de água. Encontram-se, também, poluentes, poeiras, cinzas, microrganismos e pólen.
O oxigênio presente no ar atmosférico é de grande importância para a manutenção da vida no planeta, é o gás utilizado na respiração de todos os seres vivos. Ele sopra e viceja em torno da Terra. Nós começamos a respirá-lo ao nascer e essa assistência vai até o último dia de nossa vida na Terra, quando paramos de respirar.
O ar é a força renovadora, cheia de vitalidade que nos doa, ao respirarmos, a energia que necessitamos para nos manter vivos. O ar dá vida às plantas, pois elas também respiram e transformam, perante a luz do Sol, no processo de fotossíntese, o gás carbônico que expiramos em oxigênio, purificando o ar poluído pelos seres humanos.
A fragrância do vento que corre, tudo limpa, o sopro forte do ar empurra as nuvens carregadas de água que acabam desaguando sobre a terra árida, nutrindo-a. O corpo humano precisa respirar o ar da mãe Terra para sobreviver e o espírito precisa respirar o ar rarefeito transcendental que vem de Deus, que é o alimento da alma. Precisamos do pão que nutre o corpo, mas, também do alimento que nutre a alma.
A água é o sangue vivo que circula no planeta. Duas partes da Terra estão debaixo das águas. Nas águas dos mares está o marco do princípio da vida, elas são laboratórios imensuráveis de fenômenos surpreendentes para a Ciência. No contato com a água, o ser humano tem sensação de bem-estar, pois ela é doadora de energia e é imprescindível à vida dos seres vivos. Ao bebermos um copo de água fresca, estamos ingerindo o elixir da vida, a melhor bebida que existe na Terra, indispensável à manutenção da saúde física.
Mais de 70% do corpo humano é composto de água. Ela representa 60% do peso total do corpo. No período da gestação, o feto fica imerso do líquido amniótico dentro da placenta, até o nascimento. Não existe vida sem água. Das fontes divinas fluem as águas que saciam as fontes do planeta Terra que caem do céu como benditas gotas de chuva mantendo o vigor da vida no solo.
O solo do planeta é o resultado de paciente trabalho da natureza, partículas minerais e orgânicas vão sendo depositadas em camadas devido a ação da chuva, do vento, do calor, do frio e de organismos vivos como minhocas, formigas, cupins e outros micro-organismos. Ele é tão importante quanto o ar, a água, o sol e fundamental para o ecossistema terrestre, pois, além de fixar as plantas, como meio natural, ele oferece os nutrientes básicos para elas crescerem. Serve também de base para as construções humanas.
A mãe Terra, que nos acolhe na nossa atual experiência, nos fornece os elementos básicos para a formação do nosso corpo físico, disponibiliza os recursos naturais que precisamos para sobreviver e que, depois guarda no seu seio os restos mortais do mesmo quando nosso espírito se liberta, representa escola bendita que busca nos ensinar a aprender, conhecer, a conviver com os outros e interagir com a natureza, despertando nossa autoconsciência.
A natureza, da qual somos parte integrante, age em rede de entrelaçamento para manter a vida organizada com o sol, o ar, a água, o solo. O sol, fonte de luz, calor e energia; o ar atmosférico que promove o sopro renovador da vida; a água, fonte da vida; o solo, base da vida. De Deus recebemos a vida espiritual, o amor e a sabedoria.
O grande desafio atual é nos libertarmos da dependência do mundo virtual e ilusório das máquinas mágicas que, em alguns casos são úteis e indispensáveis, mas que nos distraem e nos desconectam do mundo real. É urgente voltar a viver o dia a dia de forma natural, real.
Recuperar a curiosidade sadia da infância e saciá-la na busca de respostas sobre o significado mais profundo da vida, junto à natureza e no contato pessoal com o outro, sem a intermediação do aparelho celular, na convivência olho no olho, no ouvir a voz e olhar o rosto, apertar a mão, dar o abraço…. Voltar a explorar os recursos naturais a nossa disposição e sentir a vida estuante que nos cerca.
Precisamos nos libertar das atividades escolares exclusivamente dentro das quatro paredes da sala de aula. Quando possível, aula ao ar livre, embaixo da sombra de uma árvore, na horta da escola, embaixo dos raios solares, sentindo a brisa do vento, promovendo acurada observação, por parte dos alunos, de algum ângulo da natureza. É preciso aprender a olhar, descobrir, fixar a atenção.
O pensamento é valorizado pela observação e pela comparação entre duas ou mais constatações de fenômenos naturais. Aprender a sentir, a expressar as emoções que a observação da natureza oferece, valorizar tudo o que está a volta ajuda a ativar o campo perceptivo do aluno.
Este tipo de vivência representa ensaio para leitura do livro aberto da natureza associado às emoções e sentimentos. Sentir o calor do sol, a frescura da brisa, olhar o céu, as nuvens, ouvir o canto dos pássaros, tatear o troco de uma árvore, abraça-la, verbalizar no grupo as constatações pessoais feitas no laboratório vivo da natureza ajuda a desenvolver visão mais plena do sentido da vida.
Atividades planejadas adequadamente, de forma multidisciplinar e interdisciplinar, enriquecem o processo ensino aprendizagem na escola. Encontramos, na Base Nacional Curricular Comum, entre as competências do Ensino Religioso que o aluno deve: “Reconhecer e cuidar de si, do outro, da coletividade e da natureza enquanto expressão de valor da vida. ”
A escola, no nosso entendimento, templo do saber, deve buscar oferecer experiências de aprendizagem que contribuam para a formação de pessoas capazes de compreender o mundo e agir de forma consciente e crítica, que tenham a capacidade de ler e interpretar os saberes que estão à disposição no mundo complexo que vivemos, especialmente em relação à educação ambiental. O aluno deverá ser estimulado, provocado a “ler” seu ambiente natural e interpretar as relações e os conflitos que fazem parte deste contexto, formando uma cidadania ambiental e um sujeito ecológico.
A escola é o local onde a criança e o jovem vão desenvolver as habilidades socioemocionais com vistas a construir sua cidadania, percebendo-se como ser integrante pleno de um Estado, com seus direitos e deveres civis e políticos, como um membro ativo da Sociedade”. Leia mais: https://www.neipies.com/a-escola-templo-do-saber/
O educador, na escola é, por natureza do ofício que exerce, quem conduz o aluno a interpretar e compreender o mundo natural e social que o cerca, é o mediador e provocador de reflexões que provoquem novas leituras da vida, de visões e compreensões do mundo que no acolhe e da responsabilidade pessoal de ação sobre este mundo, como seres humanos, históricos e sociais.
A compreensão dos problemas socioambientais envolve múltiplas dimensões na escola: geográfica, biológica, histórica, social e espiritual.
A professora Alzira B.F. Amui, no livro Fundamentos Educacionais para a Escola do Espírito, da editora Esperança e Caridade, coloca, na página 138:
“Compreender a vida, a partir da natureza, estabelece, na intimidade do ser, outros parâmetros em relação a tudo que o envolve, especialmente, quando passa a sentir e perceber o valor inestimável de uma educação que lhe propicia o equilíbrio e a harmonia íntima. Valorizando, de forma diferente, tudo o que está a sua volta, o aluno torna-se um ser cada vez mais reflexivo e participativo da natureza em que está inserido. Com esta educação, tornar-se-á um jovem tranquilo e sereno, sequioso de saber e pleno de respeito pelas coisas divinas. ”
Percebam que Zé Leôncio não falou que buscaria uma professora habilitada, que pagaria um ótimo salário, que daria todas as condições de trabalho para que ela atendesse adequadamente as crianças. Não. Ele disse que elas deveriam fazer um sacrifício em nome da educação.
No capítulo da novela “O Pantanal” do dia 09 de setembro, tivemos uma cena que mostra exatamente o que a elite brasileira pensa da educação e principalmente do professor.
Zé Lucas e Zé Leôncio discutiam sobre a possibilidade de se ter uma escola chalana, onde as crianças pantaneiras teriam aulas nestas embarcações que cortam os rios pantaneiros. Lá pelas tantas, Zé Lucas questiona sobre quem estaria disposto a dar aulas para aquelas crianças em uma chalana no meio do pantanal. Eis que Zé Leôncio responde:
– Uai, nóis contrata uma professora. Elas tão acostumada a faze sacrifício.
A fala de Zé Leôncio é a expressão do pensamento da sociedade brasileira sobre o professor. Percebam que ele não falou que buscaria uma professora habilitada, que pagaria um ótimo salário, que daria todas as condições de trabalho para que ela atendesse adequadamente as crianças. Não. Ele disse que elas deveriam fazer um sacrifício em nome da educação.
Mas, justiça seja feita, não é somente o latifundiário Zé Leôncio que pensa assim. Nós ouvimos estas falas quase que diariamente de autoridades, políticos, e as vezes até mesmo de professores, em todo o Brasil.
Tento me convencer que talvez tenha sido uma crítica refinada à elite agrária brasileira. Mas, logo em seguida, Irma, a cunhada de Zé Leôncio, se prontifica a ser esta professora, me convencendo que não havia crítica alguma. Irma parece ter feito o curso de letras, o que não o habilita a alfabetizar, e parece também que ela nunca pisou em uma sala de aula, e pelo que entendi, nem salário ela vai querer.
Isso diz muito sobre o Brasil, a sua classe política, e a sua elite com suas raízes escravocratas, mostrando o longo caminho que precisamos percorrer, até que nos tornemos um país minimamente civilizado.
Neste período eleitoral, que se intensifica com a proximidade do dia 2 de outubro, os discursos e planos para a educação são muito bonitos no papel e nos discursos. Mas será que seu candidato realmente se importa com a educação e os educadores(as)?
Por mais de 30 dias o CPERS percorreu escolas dos 42 Núcleos do Sindicato para fazer esse questionamento aos professores(as) e funcionários(as) de escola – da ativa e aposentados – e debater sobre que projeto de futuro esperançamos para a educação pública do Rio Grande do Sul e do Brasil.
Assim como o explicado durante a #CaravanaPelaDemocracia, o Sindicato não tem a intenção de definir votos, mas é seu papel propiciar uma reflexão sobre as ações dos governos e parlamentos. Recordar o passado e analisar o presente é fundamental para se decidir o futuro!
>> Clique aqui para baixar o encarte de como votaram os deputados(as) e senadores(as) em projetos que retiraram direitos dos educadores(as).
Acesse os materiais e reflita você também sobre os cenários vivenciados e as possibilidades diante das eleições que se aproximam. O teu voto fará a diferença na eleição para assegurar um projeto a serviço do povo gaúcho(a) e brasileiro(a), bem como na defesa de uma escola pública laica, democrática, gratuita e de qualidade social.
As habilidades sociais desenvolvidas ao brincar de boneca também tornam as crianças mais maduras e responsáveis para cuidar de animais de estimação e das plantas ou árvores que tiverem em casa.
Trago hoje o poeta brasileiro Ferreira Gullar com o seu belo poema intitulado “Menina passarinho” para ilustrar o início do nosso texto que pode ganhar várias personalidades diferentes dependendo da imaginação e poder de criatividade da criança. Então, Gullar nos diz no seu poema “Menina passarinho, / que tão de mansinho / me pousas na mão / Donde é que vens? / De alguma floresta? / De alguma canção?”.
Que toda criança venha das profundezas do nosso benquerer e seja amada como se fosse uma floresta ou uma canção bonita, o que importa é que preencha as nossas lacunas de adultos superpoderosos que esquecem da infância antes de correr o lápis na folha de papel para desenhar uma casa torta ou uma bola de sol, arrisquemos a ser crianças no dia a dia para enchermos de belezura a vida que de tão doída está matando pessoas tão jovens!
Toda criança durante a tenra idade deveria preocupar-se apenas com o brincar, pois ele desenvolve o raciocínio lógico e outras habilidades que servirão para a idade adulta. Assim, também pensam estudiosos e terapeutas da infância, ou seja, o brincar é fundamental para o bem-estar, o desenvolvimento e o amadurecimento social da criança.
O brincar é o melhor que podemos oferecer às nossas crianças, pois brincando elas aprendem e descobrem coisas por si próprias que não saberiam como nos perguntar.
No meu tempo da infância tive muitas bonecas de pano e de plástico. Eram as minhas melhores amigas. Muitas vezes fui professora, médica, advogada, juíza, dona de casa, cozinheira, costureira, enfermeira e tantas outras profissões cuidando das minhas bonecas. Com elas aprendi muitas coisas, dente essas a empatia, o carinho pelos meus amigos e desenvolvi muitas habilidades sociais que me ajudam a viver neste mundo egoísta e cheio de ódio.
Estudiosos indicam que as bonecas são alguns dos brinquedos mais antigos do mundo, com registros de uso na Grécia e Antigo Egito, por volta de 100 D.C. Nessa época, algumas crianças já brincavam com bonecas, sendo esta uma atividade milenar que auxilia na educação e no desenvolvimento dos pequenos.
A boneca possui um papel fundamental na formação das crianças, pois estimula habilidades e funções desenvolvidas por elas. Mais do que um simples brinquedo, é a própria representação das pessoas e do convívio social e familiar.
Brincar de boneca é brincar de se relacionar, pois as crianças falam com elas como se fossem outras pessoas. Essas relações sociais que estão tão fora de moda atualmente e que quase já não as alimentamos mais, pois estamos presos no trabalho e até mesmo na vida pessoal. As crianças também estão trocando as suas bonecas pelos tablets ou aparelhos celulares, o que está dificultando as relações sociais entre elas e os seus amiguinhos.
É preciso estabelecer limites nessas brincadeiras com produtos eletrônicos e oferecer para as crianças a oportunidade de experimentarem brincar com outros brinquedos que possam despertá-las para novos conhecimentos, novas aprendizagens e experiências.
Enquanto falam com as bonecas, as crianças compartilham as suas dúvidas e medos para elas e as escutam. Na verdade, escutam a própria voz interior, levando-a a maior pergunta da filosofia antiga quer seja “Quem sou eu?” que tanto intrigava os filósofos gregos. É uma troca entre o eu físico e o eu emocional. Ambos se relacionam e passam assim a se identificarem com situações reais vividas por outras crianças ou até mesmo com adultos que estão perto delas.
As bonecas nos ensinam que cuidar do outro é uma tarefa de responsabilidade e de extrema importância.
Este eu do existencialismo de Sartre que se coloca frente a frente com a existência da criança que precede a sua essência, o que significa dizer que o ser humano se determina, se constrói, se inventa enquanto age no mundo e esse agir pressupõe o brincar da criança com o seu brinquedo querido que está sempre inventando um mundo novo e agindo no seu mundo de diversas maneiras com as quais as bonecas são colocadas para enfrentarem desafios e poderem viver em meio a multidão de elementos da sua criatividade no mundo real e imaginário.
As crianças projetam nas bonecas aquilo que estão vivendo, e muitas vezes situações conflituosas que elas não conseguem resolver sozinhas, contando para as suas bonecas acabam descobrindo uma solução. Com isso, as representações internas são enriquecidas e a criança passa a sentir mais confiança para enfrentar o mundo que exige tanto dela.
Também promove a empatia, ou seja, enquanto se preocupa com as suas bonecas e os problemas criados para elas no mundo da imaginação as crianças precisam resolvê-los sozinhas e com isso passam a se colocar no lugar das bonecas como se elas existissem e tivessem sentimentos verdadeiros.
Os pais, responsáveis e professores devem saber que não existe essa história de brincadeira de menino e de menina. Meninos também podem brincar de bonecas sem nenhum problema. Não é porque ele brinca de boneca que perderá a sua masculinidade. Os meninos também aprendem brincando com bonecas e ursinhos de pelúcia, assim como as meninas também aprendem brincando com carrinhos.
Se as crianças que fazem bullying com os meninos que vestem a cor rosa trazem esse conhecimento de casa é porque algum adulto as ensinou. E isso deve ser combatido pela escola porque nela só há lugar para um mundo diverso onde as crianças possam se apresentar do jeito que quiserem e serem livres para mostrarem as suas orientações sexuais desde cedo. Leia mais: https://www.neipies.com/nem-azul-nem-rosa-crianca-veste-qualquer-cor/
É preciso saber que, quando um menino brinca com uma boneca bebê, ele pode estar encenando diversas situações que vive no cotidiano, como um pai cuidando de uma filha, um professor ensinando a uma aluna, um médico cuidando de um paciente ou até mesmo um barbeiro, quem sabe? São cenas que fazem parte da vida dele. Aos pais, cabe incentivar as brincadeiras nos filhos. Isso também os ajudará a serem pais mais presentes no futuro, ou seja, a se tornarem mais participativos na criação quando eles tiverem filhos.
Com certeza, não é um brinquedo que irá definir a sexualidade de uma criança e este debate precisa ocorrer nos lares e escolas, para quebrar esse preconceito. O importante é que a criança tenha pelo menos um boneco em sua infância para poder brincar com ele e viver todas as etapas do desenvolvimento.
Há sempre uma troca de vivências com esses brinquedos entre as crianças, pois elas transmitem para eles as suas dores, dúvidas e sentimentos tão incompreendidos pelos adultos. Incompreensão essa que se coloca dentro de casa quando a criança costuma fazer perguntas sobre as mudanças do seu próprio corpo ou como chegou até aqui e os pais ou mentem ou não sabem como explicar a verdade, mudando de assunto e fazendo a criança sentir-se sozinha com a sua dúvida. O que não é bom.
A boneca pode ser de pano, de plástico ou de silicone seja qual for o material fabricado, elas sempre serão ótimas companheiras para as crianças. As bonecas são costumeiramente os primeiros presentes que as crianças recebem. O que importa é a relação afetiva que a criança cria com elas, esta relação que ajuda no desenvolvimento de outras habilidades sociais como a perda de timidez de falar em público, a empatia, a confiança em si própria e a coragem de realizar tarefas que antes pareciam impossíveis.
Sem contar que as bonecas estão sempre juntas nas atividades do cotidiano, na escola, no parque ou na praça. Para onde vai a criança costuma levar a sua boneca como companheira das horas de alegria e tristeza.
É simplesmente uma coisa maravilhosa brincar de boneca e conheço muitos adultos que brincam com elas até hoje participando de grupos em redes sociais para compra das mesmas só para poder lembrar do tempo da infância. Eu mesma participo de muitos grupos de bonecas que me fazem voltar aos meus tempos de criança quando no meu pequeno mundo as minhas bonecas me aceitavam como eu realmente sou e me ouviam sem que eu precisasse ficar pedindo atenção a todo instante, pois elas sempre estavam ali para mim e para ouvirem as minhas mais tolas histórias inventadas na hora só para afastar uma dor ou um medo que vinha, de repente. Foi assim que desenvolvi a habilidade de contar histórias inventadas na hora para meninos e meninas.
São elas que contribuem para as lembranças mais lindas que nos enchem de saudades quando nos tornamos adultos. Não é verdade que bate uma nostalgia quando você se lembra das suas bonecas da infância? Mamãe costurava vestidos para bonecas e segundo ela as suas bonecas de pano e de sabugo de milho eram as mais bem-vestidas entre as suas amigas, foi com o dinheiro das vendas dos vestidos das bonecas que ela conseguiu se alimentar e alimentar os seus irmãos. Ao lembrar disso, mamãe fica nostálgica e começa a falar do seu tempo de criança como se quisesse voltar a brincar de bonecas novamente.
Todo mundo tem uma boneca para lembrar da época da criancice. Elas deixam lembranças bonitas dentro da gente de um tempo em que a gente ouvia mais as pessoas e cuidava delas com carinho. Hoje já não sabemos nem como nos ajudar. Vivemos em consultórios psicanalíticos fazendo terapia para descobrirmos quem somos, de onde viemos e o que queremos aqui. Eram questões como essas que fazíamos às nossas bonecas e elas nos respondiam depois de momentos de reflexão.
Os estímulos que a criança recebe influenciam no seu desenvolvimento, comportamento e saúde mental. As bonecas podem ajudar nesses estímulos. Ao brincar de boneca a criança usa a comunicação. Ela pensa ou verbaliza em voz alta o que está fazendo, conversa, usa vocabulário e vivencia algum papel social como já foi dito acima. Na verdade, ela personifica a boneca, ou seja, dá uma personalidade e vida real colocando qualidades e defeitos que são comportamentos de humanos.
Ao brincar de boneca a criança estimula a imaginação, pois ela precisa inventar uma cena, um mundo à parte para a brincadeira. Pensar nos comportamos e sentimentos da boneca. O pensamento não tem limites e é um grande incentivo agir dessa maneira. O mundo imaginário é infinito. A criança pode mudar a brincadeira na hora que quiser, de repente, pode inventar outros sentimentos para a sua boneca ou outras situações. Ela vai experimentar vários sentimentos no tempo em que estiver brincando com a sua boneca.
Vai também poder esquecer o mundo real que é tão sofrido e incompreensivo para com as crianças, deixando-se embalar pelo mundo da imaginação onde tudo é possível e onde ela pode cuidar da boneca como gostaria de ser cuidada e amada. A boneca proporciona que a criança saia da realidade difícil e entre no seu imaginário personificando aquilo que gostaria de ser, mas tem medo ou é impedida por algum adulto.
A brincadeira com a boneca também desenvolve a inteligência emocional. Como a criança personifica a boneca, simbolizando um ser humano real, que interage e sente, ela acaba exercitando suas próprias emoções. Ao reviver ou criar situações, ela vai se expressando e pensa sobre os sentimentos e as vontades da boneca. Ela cria uma relação e desenvolve mais empatia.
As bonecas também ensinam sobre a maternidade e a paternidade, quando normalmente as crianças cuidam das suas bonecas como se fossem bebês. É uma forma da criança criar responsabilidade como pai ou mãe: alimentar, trocar a fralda, dá banho, colocar para dormir. É um treino para a vida adulta, caso ela queira ter filhos. É um exercício para os meninos também que compreendem ter atribuições importantes no dia a dia.
As ideias de brincadeiras de bonecas são infinitas, depende da imaginação da criança: tarde na escolinha, um dia no spa, almoço no restaurante, manhã na piscina, café com amigas, passeio no shopping, fazer compras, festa de aniversário, consulta médica, visita a algum amigo doente. São várias as ideias que a criança pode experimentar e os pais também devem entrar na brincadeira incentivando a criança a brincar cada vez mais com as suas bonecas.
A boneca permite, também, uma melhor interação, socialização e compreensão das coisas ao redor da criança. Por esse motivo é uma das principais brincadeiras que fazem parte de algumas práticas pedagógicas e educacional das crianças. Ao brincar de boneca as crianças aprendem a socializar com outras, incentiva a criatividade além de estimular e compartilhar fatos comuns do seu cotidiano. Além disso, a criança passa a imaginar um mundo subjetivo, do jeito que ela o enxerga com toda magia e fantasia que pode criar.
Assim é que no conto de Jordi Sierra i Fabra intitulado “Kafka e a boneca viajante” narra que o escritor Kafka encontrou uma menininha chorando numa praça por ter perdido a sua boneca e inventa para ela uma história de que a boneca não estava perdida, mas viajando e ele um carteiro de bonecas escreve várias cartas para a menina sobre as peripécias da boneca na sua viagem. Dessa forma ele consegue acalmar a menina.
Na verdade, supõe-se que Kafka realmente escreveu estas cartas, mas elas nunca foram encontradas e a sua esposa contou para Jordi Fabra esta história bonita e intrigante. O que vale é a imaginação, seja ela de adultos ou crianças e que os adultos possam acalmar as aflições das crianças e os seus anseios inventando histórias bonitas e acalentadoras.
Brincar de boneca é importante para a criança, porque é nessa atividade que ela aprende a compartilhar, socializar e a se comunicar. Se você é mãe, sabe o quão chateado seu filho pode ficar se alguém tirar o brinquedo dele. Ainda mais quando for uma boneca ou bichinho de pelúcia, pois esses brinquedos são especialmente importantes para as crianças, pois representam sentimentos de cuidado e afeto.
É exatamente o fato de ser tão importante, e mesmo assim a criança dividir seu brinquedo com outra criança, que torna tudo tão valioso! Quando seu pequeno compartilha uma boneca ou pelúcia com seu coleguinha ou irmão, é uma ótima maneira de quebrar barreiras.
A responsabilidade da criança para com a sua boneca é tamanha que são elas as mais difíceis de se quebrarem de todos os demais brinquedos. Esse é o resulto de um vínculo entre elas, que passam a ter responsabilidade e a se comportar com seus pertences pessoais. Desde cedo a criança precisa aprender e ser colocada diante de responsabilidades para desenvolver um comportamento de organização e seriedade para com os desafios da vida. Essa é também uma ótima maneira das crianças aprenderem a cuidar dos irmãos mais novos.
As habilidades sociais desenvolvidas ao brincar de boneca também tornam as crianças mais maduras e responsáveis para cuidar de animais de estimação e das plantas ou árvores que tiverem em casa.
Assim como os outros brinquedos, as bonecas também têm um impacto nas habilidades motoras, pois ajuda nas funções básicas da criança que envolvem a motricidade. Um bom exemplo prático é pedir para as crianças colocarem em ordem ou em sequência suas bonecas desde a menor até a maior ou da maior até a menor, por exemplo. Assim, além da coordenação motora, estimula o raciocínio lógico e a capacidade de organização dos pequenos.
Com o desenvolvimento da tecnologia é muito importante que as crianças tenham contato com esses brinquedos antigos e lúdicos e que os pais mantenham o controle e o limite com brincadeiras em aparelhos eletrônicos, pois muitas vezes acabam prejudicando o desenvolvimento emocional e físico da criança. Afinal, ela precisa se socializar e interagir com o mundo real e com o seu mundo imaginário, coisa que as bonecas proporcionam de uma forma tão encantadora e prazerosa!
Para finalizar este texto belo sobre bonecas que me fez voltar à infância tantas vezes e trazer a minha boneca para junto de mim quero deixar vocês com a nossa poeta maravilhosa brasileira Ruth Rocha que escreveu o poema “Pessoas são diferentes” e nos diz nos seus lindos versos “São duas crianças lindas / Mas são muito diferentes! / Uma é toda desdentada, / A outra é cheia de dentes…”
Que cada boneca seja diferente para as crianças no mundo da imaginação apresentando comportamentos e sentimentos diferentes, mas que possam encher o mundo real de bonitezas e encantos para enfrentarem a grande incompreensão de nós adultos que queremos muitas vezes colocar goela adentro tudo o que sabemos sem termos a paciência para ensinar, cuidar, amar e esperar o tempo certo da aprendizagem.
O certo é que, contar histórias, produz efeitos positivos para todas as idades. Quem sabe não se encontra nessa formação de novos narradores um nicho de estímulo à leitura?
Na cidade de Passo Fundo, norte do Rio Grande do Sul, considerada a capital nacional da literatura, há uma jovem casa de cultura, pioneira em eventos e projetos culturais: a Casa Drum Música e Arte.
Colaborador desde a sua fundação, fui desafiado a ministrar, no início do estrepitoso ano de 2020, uma oficina de contação de histórias para crianças, dentro das atividades da colônia de férias oferecida pelo espaço. Uma responsabilidade e tanto!
A minha jornada pessoal se confunde com a história do próprio espaço. Crescemos juntos, sendo lá o lugar onde pude expressar as inúmeras ideias e iniciativas na arte da narração oral.
Quando ocorreu a proposta de inserir a contação de histórias aos pequenos, não apenas como um espetáculo “engessado”, com o protagonismo exclusivo nosso, os organizadores, e sim como uma oficina onde os participantes pudessem experimentar a sensação de narra histórias, vislumbrei uma oportunidade única de fazer algo novo. A Casa e eu, mais uma vez, inovaríamos.
Contar histórias é, como expressa Ana Luísa Lacombe, um ato de importância atemporal, válida para qualquer época e situação. As narrativas são essenciais para que se possa compreender o mundo e também a nós mesmos. As histórias são elementos que nos contextualizam, oferecendo significado às coisas e dando sentido para estarmos no mundo[1]. Compreendendo essa ideia, recebemos mais de uma dezena de crianças para três encontros no mês de janeiro de 2020, ávidos para fazer despertar neles a ânsia por se descobrirem por meio do encanto narrativo.
O trabalho não foi fácil de imediato. Agrupar crianças com idades entre cinco e doze anos num mesmo espaço e as sintonizar na mesma direção é uma tarefa de alta exigência. Comandante dessa missão, comecei a oficina fazendo aquilo que mais gosto e melhor faço: contando histórias.
Escolhi a narrativa A macaca que perdeu a banana, conto popular cumulativo que envolve os espectadores em um divertido jogo de repetição. Extasiados com a narrativa, pediram outras. Segui narrando as histórias mais pertinentes, na minha visão, à abrangência do público.
Acalmados os ânimos partimos para um trabalho minucioso: a virada de olho[2]. Essa metáfora, desenvolvida pela professora contadora de histórias Regina Machado é um brilhante exercício para percebermos onde se escondem as múltiplas possibilidades narradoras no nosso cotidiano.
Pegamos objetos múltiplos e passamos a observá-los sob outra ótica. A imaginação fluiu de modo tão vigoroso, a tal ponto que aqueles inanimados utensílios se tornaram, para nós, reis, rainhas, chapéus, brinquedos, cavalos. Percebemos que tudo poderia ganhar vida, com outra roupagem, outras atribuições, desde que deixássemos seguir o curso natural da nossa vivência criadora. Para as crianças aquilo era normal; mal sabiam elas o que estava por vir.
Resolvi, então, dividir a turma em três grupos. Cada um teria como tarefa a criação de uma própria história, seguindo a exposição teórico-prática realizada naquele momento. Havia, portanto, uma clara intenção de inversão do jogo estabelecido até então. Retirava-me do papel de narrador e passava essa incumbência a eles. O protagonismo mudava de mãos; era agora dos pequeninos que, ansiosos, reuniram-se para decidir qual a narrativa trariam ao público. Uma centelha se acendia em seus olhos.
A posterior apresentação das histórias ao “grande público” foi divertida e reveladora. A imaginação fértil de cada grupo era tamanha que criaram narrativas com um sentido tipicamente infantil, baseadas em mistérios, aventuras, quase se aproximando ao contos de fadas e, ainda assim, profundas, com um embasamento crível, etapas bem definidas e finais criativamente elaborados.
O desempenho narrativo, com voz, gestos e olhares tinha certa densidade, ainda que necessitado de retoques. Uma missão, portanto, cumprida com êxito e que deixou tarefas para a aula seguinte: indagar, em casa, acerca das narrativas ouvidas pelos pais, avós, tios, padrinhos ou mesmo uma pesquisa nas histórias que mais chamavam a atenção de cada um. Era o prenúncio de uma semana plena.
As crianças, conforme a incumbência que lhes fora dada, imergiram no fantasioso mundo literário, atuando como coletoras de histórias e leitoras vorazes e curiosas. A partilha das narrativas, no momento adequado, teve dois pontos distintos: em um primeiro plano trabalhamos com o emaranhado de palavras trazido por elas e fomos formando uma rede ampla de histórias, cada qual com seus momentos especiais. Posteriormente colocamos a “mão na massa” e nos encaminhamos para o ato principal: narrar.
Os novos narradores orais, tão pequeninos fisicamente, mas tão grandes em postura e vivência imaginativa, foram expondo, individualmente ou em grupos, os seus modos de narrar. Juntos delineamos os melhores caminhos a serem seguidos, descobrimos novos meios de impactar o público, treinamos corpo e voz, superamos os próprios obstáculos. Um exercício verdadeiramente coletivo, plural, onde não havia mais professor e nem alunos, e sim aprendizes dispostos a partilhar e a aprender. Assim seguimos nesse e no derradeiro encontro, onde a centelha já havia se tornado fogueira incandescente, sempre contando e ansiando por novas e boas histórias.
O término da oficina produziu em mim um efeito melancólico; separar-me das crianças e suas criações não era fácil. Três semanas vivenciando novas experiências juntos era um tempo demasiado grande, com uma entrega tão profunda. Entretanto, ricas foram as considerações captadas por esse trabalho, e tão logo foi possível pensar racionalmente em tudo o que havíamos realizado, tornaram-se nítidas as ideias.
Em primeiro lugar é preciso considerar o caráter inovador desse processo. Normalmente as ações de formação de contadores de histórias são voltadas ao público adulto, não ao infantil. Pela primeira vez naquele espaço, portanto, buscava-se quebrar essa sequência, permitindo que as crianças também vivenciassem a experiência de serem narradores orais e pudessem demonstrar suas habilidades. Em segundo plano, a oficina permitiu constatar que os canais de imaginação e criação das crianças constituem uma fonte infinita de ideias, dotados de uma sensível verdade poética. Um cabedal de ricas possibilidades de trabalho educativo e lúdico não devidamente explorado.
Contudo, o que de mais impactante se pôde depreender desse trabalho foi a capacidade que a proposta teve de induzir as crianças à leitura literária.
Ao colocá-los como protagonistas da própria formação, ou seja, agentes cuja responsabilidade seria, a partir dali, a de trazer e narrar histórias próprias, produziu-se um efeito de aguçamento da curiosidade de conhecer mais, adentrar nos livros (quando já alfabetizados) e descobrir histórias boas para se contar, ou mesmo ouvir narrativas que poderiam ser interessantes perante os colegas. Mais que narradores, tornaram-se pesquisadores, leitores por excelência.
Quais são as lições a serem tiradas dessa experiência? São tantas e conduzem, na verdade, a ainda mais questionamentos. O certo é que, contar histórias, produz efeitos positivos para todas as idades. Quem sabe não se encontra nessa formação de novos narradores um nicho de estímulo à leitura? As possibilidades servem a essa função: instigar.
Autor: Gabriel Cavalheiro Tonin
[1] LACOMBE, Ana Luísa. Quanta história numa história: relato das experiências de uma contadora de histórias. São Paulo: É Realizações, 2015 – p. 23.
[2] “O olhar que se dirige apenas para a utilidade das coisas é característico da nossa civilização ocidental. Precisamos nos lembrar da percepção flexível que tínhamos quando crianças porque, como adultos, nos habituamos a nos valer apenas desse tipo de olhar funcional, como se fosse o único de que dispomos. (…) Trata-se de uma posição que permite a experiência viva da conversa imaginativa porque não está presa a nenhuma visão preconcebida, fixa, na qual o que estou vendo apenas confirma o que já sei a respeito de determinado objeto. Ao contrário, a posição de flexibilidade imaginativa é antes uma disposição interna para encontrar algo que poderá ser o resultado de uma conversa que revelará qualidades presentes na interação dos elementos presentes naquele instante. Tais elementos são dados pelo objeto, pela minha pessoa e pela trama do jogo proposto nessa interação (MACHADO, 2004, p. 88).
“… desbarbarizar tornou-se a questão mais urgente da educação hoje em dia” (Adorno, 1971/2003).
No contexto atual, precisamos redobrar nossos compromissos com os elementos da educação que mantêm a vitalidade da democracia.
A democracia precisa da educação e a educação precisa da democracia, pois ambas possuem uma grande capacidade libertadora, humanizadora e racional.
Já a educação baseada, fundamentalmente, na lógica dos mercados cria uma estupidez gananciosa que põe em risco a própria existência da democracia e, certamente, impede a criação de uma cultura de cidadania.
Pensar a educação para uma cidadania democrática implica pensar sobre as nações democráticas, pelo que lutam, qual projeto de desenvolvimento se comprometem.
Defensores de antigos modelos desenvolvimentistas geralmente afirmam que a adoção do desenvolvimento econômico trará, por si só, mais saúde, mais educação, redução da desigualdade social e econômica. Na verdade, uma análise profunda revela que esse modelo não entrega o que promete.
Vários pensadores contemporâneos, como Martha Nussbaum (Universidade Chicago), advertem que estamos em meio a uma crise de enormes proporções e de grave significado global: “a crise mundial da educação”.
Edgar Morin, referenda que “não é unicamente uma crise econômica, aquela que começou em 2008, mas é uma crise de civilização, das relações humanas. É uma crise de mentalidades, uma crise da humanidade”.
E o papel da educação, segundo Morin, é de ajudar os estudantes a enfrentar problemas da vida, especialmente nestes momentos de crise.
Ainda neste contexto de crise, o professor António Nóvoa (Universidade de Lisboa) adverte que o “mercado global da educação” quer tirar o máximo de proveito da crise atual. Este mercado da educação ancora-se na lógica do “solucionismo tecnológico” e do “consumismo pedagógico”.
Esta indústria aposta no digital, com ofertas privadas, com produção de conteúdos, materiais e instrumentos de gestão para a educação pública e privada. Empresas educacionais mercantis pressionam, inclusive, para professores tornarem-se investidores no mercado de ações dos próprios grupos que trabalham enquanto educadores.
A barbárie é contagiosa
Este contexto de crises, associada à produção da ignorância e de diversos negacionismos, pavimenta o caminho para a barbárie.
E, evitar a barbárie ou mesmo desbarbarizar, tornou-se a questão mais urgente da educação hoje em dia, afirmava o filósofo Theodor W. Adorno, na obra A educação contra a barbárie, já em 1968.
E ele entendia a barbárie como “algo muito simples, ou seja, estando a civilização no mais alto desenvolvimento tecnológico, as pessoas se encontram atrasadas de um modo particularmente disforme em relação a sua própria civilização – e não apenas por não terem em sua arrasadora maioria experimentado a formação nos termos correspondentes ao conceito de civilização, mas também por se encontrarem tomadas por […] um impulso de destruição, que contribui para aumentar ainda mais o perigo de que toda esta civilização venha a explodir […]”.
Bernard Charlot, professor emérito da Universidade Paris-8 e atualmente professor da Universidade Federal de Sergipe (UFS), pertencente à “geração de 1968”, pois participou daquele movimento estudantil, lançou recentemente um livro questionador: Educação ou barbárie? Uma escolha para a sociedade contemporânea.
Já nas primeiras páginas enfatiza que se realmente queremos transformar a escola, não será com algumas ilhas de sobrevivência e algumas pessoas admiráveis, mas com os professores “normais”, presos nas múltiplas contradições da sociedade contemporânea.
Critica a falta de importantes debates sobre a educação nesta sociedade contemporânea e o deslocamento das discussões sobre temas secundários, como: o desempenho em ranking internacionais (Pisa), a neuroeducação, o transhumanismo, as técnicas digitais de comunicação e de cibercultura, implementação de chip no cérebro que permitirá ao pós-humano escapar do processo de aprendizagem, entre outros.
O educador francês alerta que, enquanto os discursos que dominam o cenário da educação estão focados na eficácia e no desempenho, outros, mais ou menos fanáticos, inspirados por convicções religiosas, nacionalistas, racistas, procuram impor uma hierarquia do ser humano – a parir de critérios tradicionais de dominação, ou como uma contra hierarquia produzida por aqueles que foram vítimas de discriminação.
Para o professor, sejam presidentes de países ricos, sejam doutrinadores de países pobres, esses novos bárbaros, senhores da definição de quem merece viver, tem um profundo ódio para com a educação.
E adverte: a barbárie é contagiosa.
A fraqueza da moral
Nesta obra, Bernard Charlot, propõe a ideia de que devemos reintroduzir a questão do homem (do ser humano) no debate na educação e propõe uma antropopedagogia contemporânea.
Com base em pesquisas, de forma crítica, defende a ideia de que o “próprio do homem” não é uma especificidade individual, mas a própria existência de um mundo humano, só é possível pelo acúmulo, de geração em geração, que, por sua vez, permite a educação.
Nesta perspectiva do ser humano, em recente entrevista, o filósofo Luc Ferry, ao ser questionado sobre sua afirmação de que o “ódio é talvez maior do que o amor no ser humano” e de que o “século 20 foi genocídio atrás de genocídio”, esclareceu que não acredita na existência do diabo, mas, sim, na existência do diabólico ou demoníaco.
“Sempre me impressionei com a fraqueza da moral baseada na convicção de que o homem é bom por natureza. Os animais ferem uns aos outros, mas não tomam o mal como um projeto. Entre os humanos, pelo contrário, o mal radical ligado ao ódio não consiste em “fazer o mal”, mas em tomar o mal como um projeto – o que é bem diferente”, pontuou.
O filósofo francês cita, como exemplo, que o mundo animal parece ignorar amplamente a tortura.
Por outro lado, há um museu em Ghent, na Bélgica, que nos deixa pensativos: o museu, justamente, da tortura.
Lá você pode contemplar os surpreendentes produtos da imaginação humana nessa área: tesouras, facas, alicates, queimadores, esmagadores de cabeça, puxadores de língua, trituradores de dedos.
O ódio é inútil
Para Ferry, o ódio demoníaco, por ser de outra ordem que não a da natureza, escapa à lógica do utilitarismo. Ele é inútil e até contraproducente.
É essa disposição antinatural que lemos no olho humano: ao contrário da lagosta ou do pássaro, o olho humano não é um espelho que reflete a exterioridade, mas a interioridade. Podemos ler tanto o pior como o melhor, tanto o ódio e como o amor e a generosidade.
Portanto, ao nos questionarmos, para que serve a educação na sociedade contemporânea, lembremos da resposta do literário e ensaísta russo-americano Mikhail Epstein: a educação serve “para educar humanos, por humanos, para o bem da humanidade”.
Teoricamente, ele apelava à humanidade dos estudantes e dos professores, mas precisamos estender a todos os nós, seres humanos.
No Brasil atual, a educação para a cidadania implica compromisso com a efetiva participação e com a democracia. O poder deve não só emanar do povo, mas ser exercido pelos cidadãos diretamente e através de seus reais representantes nas estruturas do Estado.
Portanto, a democracia nos compromete com o bem comum e com a formação de uma nação, de um país, de cidades, comunidades e um Estado onde todos sejam sujeitos e protagonistas.
A educação é para gente, para pessoas, enquanto espécie humana, ou mais precisamente, enquanto gênero humano (homo).
E a educação não ocorre só nas escolas e nas universidades. Ela ocorre na cidade, na polis e em todos os ambientes públicos, nos diversos espaços e coletivos de convivência, como: nas famílias, nos condomínios, comunidades, empresas e organizações diversas.
E é justamente no espaço público comum da escola que a democracia precisa estar presente, sendo praticada, vivenciada, respeitando o outro, o diferente, o adversário.
Não podemos sucumbir à ignorância e ao medo. Educação e democracia são a melhor escolha para nossa sociedade. E é necessário fazer esta escolha com consciência e humanidade no processo eleitoral. Ditadura e tortura NUNCA MAIS! “Democracia tem que nascer de novo a cada geração, e a educação é a sua parteira” (John Dewey)
O desapego pela Constituição e pela lei que Bolsonaro demonstrou neste réquiem de Sete de Setembro, não pode deixar nenhum trabalhador, nenhum democrata, nenhum defensor dos direitos humanos, desatento mesmo com a vitória popular nas eleições.
As manifestações bolsonaristas neste Sete de Setembro foram do tamanho correspondente ao apoio eleitoral de Bolsonaro. A principal dessas manifestações no Rio de Janeiro, organizada com apoio disfarçado das Forças Armadas e do erário público, restringiu-se aos setores abertamente fiéis ao Bolsonarismo. Setores médios, em bairro de setores médios, pautados por bandeiras golpistas e antidemocráticas, eram a quase totalidade dos presentes.
Bolsonaro e suas pautas reacionárias não iludem mais aos trabalhadores pobres do país.
As mulheres pobres, as negras, que vivem o desemprego, a fome e a violência contra seus filhos, não se mostram dispostas sequer a ouvir os argumentos de Bolsonaro. Essa impermeabilidade parece estar assentada no reconhecimento de que durante mais de ¾ de seu governo, Bolsonaro não ajudou a combater a pobreza, a violência e a fome.
As medidas do tipo “Auxílio Brasil” não repercutem eleitoralmente. A mais recente pesquisa de intenção de voto, realizada pelo IPESP e divulgada pela Globonews, demonstra a sólida e ampla rejeição de Bolsonaro entre as pessoas que ganham até dois salários mínimos e entre mulheres.
Este quadro político refletiu-se no desfile institucional, oficial, das comemorações do ducentenário da independência do Brasil. A redução política de Bolsonaro aos seus apoiadores foi expressa pelas gritantes ausências dos presidentes dos demais poderes da República: presidentes da Câmara dos Deputados, Arthur Lira/Progressistas, do Senado Federal, Rodrigo Pacheco/PSD e do Supremo Tribunal Federal, Luis Fux. A República começa a consolidar o isolamento e confinamento político de Bolsonaro.
As razões das ausências são diferentes, evidentemente, mas confluem para o mesmo sentido. O fato da maioria da população rejeitar Bolsonaro repercutiu nos setores e partidos de centro que começam a separar sua imagem do candidato reacionário, ainda que tenham compartilhado o governo e as políticas econômicas até aqui.
O mergulho que Bolsonaro faz no sentido da extrema direita afastou setores da elite e do centro liberal, que passaram a temer por seu próprio futuro político, empurra várias destas lideranças, como a maioria do STF, no sentido de defender a Constituição e a democracia.
Muito possivelmente este Sete de Setembro marque um ponto sem retorno na derrota política e eleitoral de Bolsonaro. O que para muitos da extrema direita deveria ser um ponto de inflexão, quase desesperado, para reverter o quadro das intenções de voto solidamente favoráveis à candidatura de Lula, se tornou um bloqueio insuperável para Bolsonaro.
O candidato reacionário mostrou-se incapaz de ampliar para além de determinadas frações dos setores médios, setores da cultura militar e das lideranças e organizações da própria direita e do fundamentalismo cristão. Seus discursos foram incapazes de se dirigir ao que não era o próprio espelho de sua política e de seus valores.
Contudo, um terço do eleitorado não é desprezível. Ainda mais sendo um campo político não subordinado às leis e à democracia. O mundo já pagou, e continua pagando, um preço demasiado por desprezar a extrema direita organizada, liderada por psicopatas. O desprezo pela vida, pela lei, faz deste campo político um bando que pode chegar a longínquos pontos uma vez que desapegados de freios ético-morais em relação a vida em comum.
A democracia brasileira, inconclusa e distante da maioria da população em função de que em nome dela muito se lhe tirou, precisa não só derrotar o bolsonarismo como vigiar para que este não venha a lhe golpear adiante.
O desapego pela Constituição e pela lei que Bolsonaro demonstrou neste réquiem de Sete de Setembro, não pode deixar nenhum trabalhador, nenhum democrata, nenhum defensor dos direitos humanos, desatento mesmo com a vitória popular nas eleições.
Talvez seja prudente, enquanto educadores, reavaliarmos nossas convicções e prestarmos atenção aos “tímidos” e “introvertidos” que se “escondem” no anonimato das aulas e assim, criativamente, encontrarmos estratégias pedagógicas para aproveitarmos o potencial que se encontra escondido nestes alunos.
Num mundo onde saber falar em público é altamente valorizado, onde a extroversão é algo privilegiado e onde o “aparecer” é a “bola da vez”, dizer que a timidez, a introversão e o anonimato são também características importantes de serem elogiadas, pode soar estranho para a grande maioria das pessoas.
Quem defenderia a timidez como uma virtude? Quem faria um elogio para pessoas que gostam mais de ouvir do que falar? Em que aspectos o ficar quieto e a introspecção poderiam ser mais apreciados do que a exposição e a fala espalhafatosa?
No entanto, num mundo marcado pela excesso de informação, de fala e de exposição, a sabedoria do silêncio aliada com o aprendizado da timidez pode ser altamente importante para viver uma vida prudente e bem conduzida.
A escola, de modo geral, supervaloriza aqueles que possuem um alto grau de inteligência linguística, os que participam ativamente nas aulas, enquanto considera os tímidos e os introvertidos como alunos apáticos, problemáticos e pouco valorizados no acontecer pedagógico.
Num processo de escolarização em que os trabalhos de grupo e a participação ativa dos estudantes são altamente considerados, os “quietos” e “calados” dificilmente poderão ter status de destaque no universo escolar.
No entanto, num estudo recente da escritora e consultora empresarial Susan Cain, formada em direito pelas universidades de Princeton e Harvard, cuja síntese está publicada no livro O poder dos quietos, traduzido recentemente no Brasil (Editora Agir, 2012), defende que a introversão e a timidez podem ser altamente produtivas e de que pessoas com essas características podem ser altamente criativas e importantes no atual cenário social, empresarial e acadêmico.
Em seu estudo, baseado em outras pesquisas de antropólogos, sociólogos, psicólogos, filósofos, biólogos evolucionistas, estudiosos da administração e principalmente em biografias de grandes personalidades, Susan Cain mostra que “é um grande equívoco considerar que os introvertidos não podem ser bons líderes”. Na sua avaliação, “líderes introvertidos produzem melhores resultados que os extrovertidos por serem mais propensos a deixar funcionários talentosos discorrerem sobre suas ideias, em vez de tentar colocar seu próprio carimbo sobre elas”. Com isso Susan combate a falácia do “trabalho em grupo” e argumenta que, em muitos casos, incentivar ou até forçar as pessoas a trabalhar juntas pode reduzir a capacidade de criação e a própria produtividade.
Conforme está expresso em uma bela e instigante reportagem sobre o assunto publicada na Revista Mente Cérebro do mês de junho de 2012, “introvertidos não são necessariamente tímidos, embora traços de personalidade de pessoas com essas características frequentemente se sobreponham.
Os primeiros são, basicamente, atormentados pelo medo da desaprovação social e da humilhação, enquanto que os segundos são marcados pelo desconforto em ambientes excessivamente estimulantes”.
Na minha percepção, acredito que estudos como os de Susan Cain são oportunos para repensarmos o modo como projetamos ou organizamos nosso trabalho pedagógico nas escolas e universidades.
Talvez seja prudente, enquanto educadores, reavaliarmos nossas convicções e prestarmos atenção aos “tímidos” e “introvertidos” que se “escondem” no anonimato das aulas e assim, criativamente, encontrarmos estratégias pedagógicas para aproveitarmos o potencial que se encontra escondido nestes alunos.