As crianças precisam de autonomia desde os primeiros momentos em que começam a despertar para o mundo, ou seja, desde cedo. Aos poucos os pais devem ir permitindo que elas façam algumas tarefas sozinhas, que se tornem independentes e façam escolhas ou tomem decisões.
Inicio este texto com um poema da querida poeta americana Emily Dickinson intitulado “O amor aprendemos inteiro” que diz nos seus belos versos “O Amor aprendemos Inteiro – / O Alfabeto – As Palavras – / Um Capítulo – e o Livro todo – / E da Revelação – o segredo – / Mas nos olhos Uma da Outra / Divisou-se a Ignorância – / Mais divina do que a Infância – / Uma e Outra, Crianças – / Buscando explicações – / Nenhuma entendeu – nada – / Ai! Como é largo o Saber – / E a Verdade – que complicada –”.
Buscar explicações é o que fazem as nossas crianças a todo instante nos seus pequenos mundos de incompreensões em que os adultos costumam depositar conhecimentos e darem ordens como verdadeiros tiranos fazendo delas súditas que não podem perguntar ou criticar, apenas aceitarem e dizerem sempre que sim. É preciso deixar a criança viver, experimentar, gerenciar e receber do mundo externo o necessário para o seu desenvolvimento interior.
Educar é uma tarefa difícil e complexa. Cada pai tem a sua maneira de educar a sua criança. Alguns preferem o cuidado exagerado, outros permitem que a criança desde cedo cresça sendo independente. Na verdade, a educação das nossas crianças é algo desafiador, mas que vale a pena ser conversado entre os pais, professores e responsáveis.
Cada pai tem uma opinião diferente em relação a criação do seu filho, cabe a nós respeitar. Assim é com a autonomia, alguns preferem não deixar que as crianças façam nada além de brincar outros permitem e até acham bom que elas aprendam desde cedo a terem responsabilidades.
Neste sentido que discutiremos a questão da autonomia na criança. A autonomia é o poder do ser humano em se governar de acordo com seus ideais e princípios. Logo, uma criança autônoma é aquela que, dentro dos seus próprios limites, ganha responsabilidade e autoconsciência sobre seus atos.
As crianças precisam de autonomia desde os primeiros momentos em que começam a despertar para o mundo, ou seja, desde cedo. Aos poucos, os pais devem ir permitindo que elas façam algumas tarefas sozinhas, que se tornem independentes e façam escolhas ou tomem decisões. Claro que sempre com os cuidados daqueles que cuidam delas.
Sueli Ghelen Frosi, da Escola de Pais do Brasil, afirma que pais e mães sempre são educadores e que devem ser parceiros da escola, para a humanização dos filhos. Os filhos são educados pela linguagem, pelas emoções, pelo respeito e pelos exemplos. Assista:https://youtu.be/LJTBoRNPkBU?t=103
A autonomia da criança é importante para a sua formação enquanto cidadã. É por meio dela que a criança se desenvolve e aprende a tomar decisões para a vida adulta. Adquire vivências e experiências, enrique o pensamento e amadurece o pequeno espírito. Toda criança quer aprender, quer fazer as coisas dos adultos, quer nos imitar naquilo que fazemos além de somente nos imitar nas palavras. Somos espelhos para elas.
Logo as tarefas que podemos atribuir às nossas crianças estimulam um crescimento favorável ao desenvolvimento do pensamento cognitivo, das responsabilidades, da memorização e da rapidez em tomar decisões. As crianças gostam de ajudar em casa. Elas se sentem felizes quando são convidadas a participarem junto com os pais de algumas tarefas como dobrar as próprias roupinhas, tomar banho sozinhas, escovar os dentes, poder alimentar-se sozinha ou vestir-se sozinha para ir à escola.
Há muitas tarefas que as crianças podem fazer dentro de uma casa e que lhes garante a autonomia, tendo-se o cuidado de respeitar a idade de cada uma delas. O desejo de serem autônomas já nasce com elas, mas ao longo da infância os pais por cuidados muitas vezes exagerados preferem evitar que elas façam determinadas tarefas e acabam as inibindo, fazendo com que se tornem dependentes.
Deixar que as crianças vivam as suas próprias experiências é uma tarefa importante e desafiadora para os pais e para elas próprias. Ainda que seja difícil permitir que as crianças sejam autônomas porque as vemos pequenas demais para fazerem tarefas que achamos ser só nossas devemos confiar nelas e aos poucos ir lhes atribuindo algumas delas, tais como: tirar a louça da mesa e levar para a pia, arrumar a cama ou guardar os brinquedos.
Não podemos dar às crianças tarefas difíceis ou que possam prejudicá-las de alguma forma, mas também não podemos fazer tudo por elas. Vivemos num mundo em que a competitividade e o mercado de trabalho exigem que os adultos saibam de tudo um pouco e sejam espertos e criativos. Se educamos as nossas crianças com excesso de cuidados não permitindo que elas façam nada dentro de casa, tendemos a prejudicar os seus desenvolvimentos podendo fazer com que elas se tornem adultos frágeis e inseguros.
O estímulo da autonomia deve começar de muito cedo. Quanto antes a criança conseguir enfrentar os desafios que a cerca melhor será para ela. A questão da cidadania, da solidariedade, da caridade e as diversas funções sociais que regem as nossas vidas em sociedade são importantes para o amadurecimento do espírito e o desenvolvimento da autonomia. Uma sociedade, que se diga de passagem, faz cobranças e exigências ao passar dos anos e que espera encontrar crianças preparadas para enfrentarem a vida desde muito cedo.
Não podemos ter excesso de cuidados, mas estarmos junto com as crianças as ensinando a fazerem algumas atividades que podem vir a ser muito boas para elas na vida adulta.
A capacidade de pensar por conta própria e tomar decisões, de realizar atividades do dia a dia e de ser independente fisicamente são benefícios ligados ao desenvolvimento da autonomia. Só para ilustrar o que estamos dizendo aqui citaremos alguns outros benefícios do estímulo a autonomia da criança: psicomotricidade, autoestima, inteligência emocional, autoconfiança, persistência, habilidade social e desenvolvimento cognitivo. Tudo isso colabora com um crescimento saudável e mais autônomo para a criança.
O importante é que os pais saibam valorizar o desejo da criança querer participar de alguma atividade dentro de casa, que ela possa de alguma forma ajudar, dar a sua colaboração, sentir-se útil e responsável. Todos nós gostamos de fazer alguma coisa pelas pessoas ao nosso redor ou pelo mundo. Incentivar a criança a levar o lixo para fora, a dar banho no cachorro, a aguar as plantinhas também são tarefas maravilhosas.
A autonomia não surge do nada, nem do dia para a noite, para uma criança tornar-se autônoma ela precisa do estímulo e motivação dos pais. Quando uma criança recebe esse estímulo desde os primeiros anos ela costuma ter também: boa memória, rapidez no raciocínio, senso de responsabilidade, poder de achar soluções rápidas, criatividade e habilidades especiais.
São vários os benefícios que a autonomia traz à criança. O mais importante de todos é que ela se sinta feliz sendo útil dentro de casa e para os seus pais. Que faça o que lhe pedirem com felicidade e vontade. Sem que nada lhe seja forçado ou obrigado. Tudo precisa ser espontâneo e gratificante para ela. A tarefa de apanhar as folhas secas da árvore do quintal de casa todas as tardes e a checagem da caixa de Correios todos os dias. O bom é que sejam tarefas rotineiras e que tenham horários para serem feitas, pois isso desperta o lado responsável da criança.
Essa independência vai ajudar a criança a ser um adulto mais preparado para o futuro, pois com o passar dos anos as responsabilidades vão chegando e nem sempre os pais estarão por perto para ajudar. Precisamos educar as nossas crianças não para a gente, mas para o mundo, pois logo elas crescerão e não mais nos terão por perto a todo instante.
Ademais, é bom ver a criança exercendo a autonomia sentindo-se livre para fazer as tarefas da casa que lhe foram atribuídas. O processo de autonomia deve ser gradual e visto pelos pais porque cada idade tem seus limites a serem respeitados. Desse modo, é bom não sobrecarregar a criança e nem esperar que ela faça tarefas das quais ainda não consegue fazer sozinha.
As tarefas dadas às crianças devem seguir as suas idades para que não se sintam sobrecarregadas ou até mesmo não consigam fazer com destreza o que lhes pediram e acabem se sentindo desencorajadas e frustradas. Os pais devem ter o cuidado de saberem quais tarefas os seus filhos estão prontos para fazerem sozinhos.
Na escola, ocorre a mesma coisa que em casa. Os professores devem ter cuidados quando derem tarefas para os seus alunos incentivando a autonomia como já dizia o nosso amado e respeitado educador Paulo Freire em seu livro “Pedagogia da autonomia” como podemos ver nas suas seguintes palavras “Ninguém é sujeito da autonomia de ninguém. Por outro lado, ninguém amadurece de repente, aos vinte e cinco anos. A gente vai amadurecendo todo dia, ou não. A autonomia enquanto amadurecimento do ser para si, é processo, é vir a ser.” Que este vir a ser seja apresentado à criança desde a tenra idade, para que possa ser desenvolvido e experimentado enquanto se pode errar sem sofrer desafetos e frustrações prejudiciais ao emocional.
O estímulo em casa ajudará a criança a se adaptar mais facilmente no ambiente escolar. Na escola, os desafios são ainda maiores para os adultos e pequenos. É preciso saber quais tarefas a criança está preparada para fazer sozinha baseando-se na sua individualidade, amadurecimento e habilidades. Por isso, estes dois ambientes devem trabalhar em conjunto para que a criança alcance sucesso no seu desenvolvimento autônomo. Assim, os professores precisam criar um ambiente favorável ao desenvolvimento da autonomia, realizar as atividades no tempo adequado para cada aluno, proporcionar liberdade de escolhas e de atividades, trocar ideias e informações, ouvir a opinião das crianças.
Professor, use as brincadeiras para desenvolver a autonomia dos seus alunos. Elas são excelentes para que as crianças se identifiquem com aquilo que poderão fazer com prazer. É por meio delas que as crianças mais aprendem. Você pode criar brincadeiras ou usar as que a criança já está acostumada.
Possibilite a tomada de decisão entre as crianças, pois com isso elas se sentirão responsáveis e poderão escolher tarefas que sabem desenvolver. Crie situações que as crianças possam resolver sozinhas. Assim, elas se sentirão parte de um todo, terão suas autoestimas elevadas e a autoconfiança mais desenvolvida.
Encorajar a criança também é um dos passos para o seu desenvolvimento autônomo. Afinal, o medo é um mecanismo de defesa do ser humano. Mas, o medo também é um grande limitador que nos impede de seguirmos em frente. Isso acontece porque estamos acostumados a parar diante do medo. Quando os pais são superprotetores essa paralisação diante do medo é ainda maior, por isso você, professor, deve ouvir as questões pessoais dos seus alunos, respeitar as suas escolhas e acolhê-los sempre que for possível.
Despertar a independência difere de deixar que a criança tome decisões e faça escolhas por conta própria. O dever dos pais é motivar os filhos todos os dias, orientando, estando ao lado deles, propondo desafios e dando espaço para que eles errem dentro de um ambiente seguro. Um dos maiores entraves é que muitos pais acabam interferindo, pois não conseguem ver os filhos frustrados ou tristes.
Evite dar broncas frequentes na sua criança quando ela errar uma ou outra atividade. O ideal é sentar-se com ela e conversar, perguntar se está tudo bem ou o que está se passando. Ouvir a criança é fundamental para o desenvolvimento da autonomia. A bronca só paralisa, desestimula, desencoraja.
Sempre que possível incentive a sua criança a lidar com as frustrações, afinal na vida todos temos que saber lidar com as perdas e erros. Não proteja demais a sua criança para que ela não viva essa emoção, pois ela é necessária. Tome cuidado para que ela não se sinta machucada por demais com alguma perde ou um erro que cometeu. Mas, a deixe viver o seu momento.
Com efeito, muitos pais cometem o erro da superproteção e acabam criando filhos inseguros, imaturos e desobedientes, que não sabem lidar com as perdas. Uma boa forma para a criança aprender isso são os jogos e as práticas esportivas em que haverá um vencedor e um participante.
Na verdade, ao longo da vida a criança precisará enfrentar muitos obstáculos, desafios e pedras no seu caminho e nada melhor do que ela esteja preparada para tomar decisões sozinha e sinta-se confiante e pronta para fazer escolhas sábias que poderão decidir o rumo da sua vida. Mesmo que os pais tentem tardar essa liberdade em algum momento da vida a criança terá que fazer as suas escolhas, logo é importante que desde cedo aprenda a ser autônoma.
Finalizo este texto com um poema do meu poeta português predileto e com quem aprendi a escrever não somente poemas para crianças, mas tudo o que me vem ao pensamento transcrevo para o papel, Fernando Pessoa que nos seus versos lindos nos diz “Quando as crianças brincam / E eu as ouço brincar, / Qualquer coisa em minha alma / Começa a se alegrar. / E toda aquela infância / Que não tive me vem, / Numa onda de alegria / Que não foi de ninguém. / Se quem fui é enigma, / E quem serei visão, / Quem sou ao menos sinta / Isto no coração.”
Que toda criança possa viver a sua infância do seu jeito e com a sua individualidade sendo respeitada a sua vontade de desenvolver a autonomia quando quiser ajudar em casa ou na escola com aquilo que saber fazer e sente-se bem ajudando.
O vir a ser é necessário para o crescer emocional e físico. Que Fernando Pessoa, junto a Paulo Freire, conquistem pais e professores que permitam as crianças a serem autônomas e a desenvolverem as suas habilidades físicas e espirituais.
Autora: Rosângela Trajano