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As crianças precisam voltar a brincar e aprender a descontrair

“O adulto que perde a criança interior envelhece rapidamente. O ser humano saudável é aquele que mantém sua capacidade de brincar. Nas relações afetivas isso é essencial” (Dr. Sérgio da Silva Lopes – in “O Código do Monte” – Ed. Fergs)

O período de infância, rico de possibilidades, de aprendizados espontâneos, de construção da identidade moral, do caráter, está sendo negligenciado pela família. As crianças precisam ser estimuladas a brincar, jogar, praticar o lúdico.  Etimologicamente, brincar significa criar vínculos, socializar-se, conviver com o outro de forma prazerosa, de trocas e formação de regras que surgem naturalmente e que ajudam a consolidar a personalidade a em formação de maneira positiva.

Brincar com os filhos, entrar na brincadeira deles, sem instituir regras, desenhar, pintar juntos, criar histórias, cantar, dançar, encorajar a curiosidade natural da criança, caminhar, passear lado a lado, num parque, correr, jogar bola, peteca, dar risada uns dos outros, tudo feito naturalmente, sem pressa e sem celular, são folguedos saudáveis   que promovem o sentimento de felicidade genuína para a criança. São momentos que a imunizam emocionalmente para o envolvimento com a drogadição e delinquência na adolescência.

Utilizando brinquedos simples, muitas vezes improvisados que se transformam, pela rica imaginação infantil, promovida pela plasticidade de seu pensamento, em navio, palácio, carro, casa, animal ou pessoa, e assim por diante, o infante vai se preparando para enfrentar os desafios da vida no futuro. Estas atividades lúdicas promovem a interação entre ele e outras crianças e também com os adultos que entram na brincadeira, e é atividade plena de sentido.

Nas cidades, existem poucos espaços para a atividade infantil. A criança é cercada dentro do lar, nos condomínios, pátios pequenos ou em escolas com locais naturais reduzidos. Ela precisa brincar com coisas simples como pauzinhos, pedrinhas, areia, água, folhas secas, pedaços de papel, lápis, giz, tinta, e assim vai deixando sua marca, seus desenhos nos lugares por onde passa, repetindo a história de seus antepassados. Nesta brincadeira, ela está se descobrindo e descobrindo seu espaço.

O período da infância, por equívoco da cultura atual, está diminuindo; crianças são estimuladas a queimar etapas importantes da infância e adolescerem mais cedo. A adolescência está invadindo o período da infância e da idade adulta, acompanhando outro fenômeno social que é o desaparecimento da adultez.

Devemos estimular a criança a ouvir, a criar e contar histórias. As histórias tornam-se um guia para o conhecimento da alma da criança. Podemos pedir às crianças que já estejam alfabetizadas que escrevam a história de sua vida, ou desenhem. Podemos ajudá-las a descobrir novos termos, enriquecer seu vocabulário, desta forma seu pensamento vai fluir através das palavras ou imagens. Elas gostam de receber mensagens escritas ou com desenhos, sempre se emocionam com estas manifestações. As palavras dos adultos devem brotar do coração, ser carregadas de sentimento e irão provocar momentos felizes para elas. Mesmo que tenhamos que corrigí-la.

Evitar depreciar com palavras a criança e o jovem porque as energias emitidas são a capturadas pelo psiquismo dos mesmos na forma negativa em que foram emitidas. Antes da corrigenda, o adulto deve se acalmar, respirar fundo e, de forma harmônica, analisar com infrator o equívoco e procurar corrigi-lo.

Tanto na fase infantil quanto na juvenil, a mente é repleta de sonhos, esperanças para o futuro, projetos de vida que irão se concretizar ou não.  Sonhar passa a ser tão natural quanto respirar.

Os adultos devem questionar, carinhosamente, sobre estas futuras projeções: O que você está fazendo hoje para conseguir realizar o que sonha? Como pensa que será sua vida daqui a dez anos? Ajudar a aliar o sonho com a realidade sem destruir a esperança em seus corações pois os desejos e a imaginação precisam ser estimulados para que possam ser expressados.

A criança desobediente e mal comportada revela uma alma atormentada e desajustada, que se considera, inconscientemente, rejeitada, não amada.  O desprezo pelos sentimentos expressos na infância e que são sufocados leva à dificuldade de comunicação na idade adulta. Quando o adulto silencia e se dispõe a escutar o infante, dar-lhe toda a atenção, acolher   e ouvir o que ele tem a dizer, de forma receptiva, ele vai externar livremente que está sentindo e se aliviar emocionalmente.

A inteligência, que se expressa através do cérebro, tem fases de maturação e evolui por   etapas. O senso moral vai se formando antes dos quinze anos. Se a criança ou adolescente apresentar um comportamento delituoso antes dos quinze anos e não for corrigido a   tempo e   reeducada, a chance de apresentar comportamentos e atitudes equivocadas e tornar-se adulto problemático é muito grande.

A criança tem muito entusiasmo por tudo que é normal, comum e natural.  O espírito infantil é essencialmente imaginativo, criativo, a princípio tudo tem vida para ela. Atualmente os pais, por comodismo, estão embotando essa tendência natural quando oferecem somente brinquedos eletrônicos, movidos à pilha, barulhentos ou programas televisivos, jogos de videogame, celulares e outros. Alguns desses aparelhos possuem programas ou jogos inadequados, indecentes, violentos, contaminando a tendência natural da criança ao que é bom, belo e verdadeiro.

Os estudos sobre este assunto apontam que o uso indevido, prolongado de assistência destes programas artificiais ofusca a capacidade criativa e imaginativa da criança, que se torna passiva, fria e, às vazes, violenta.

Muitas ficam condicionadas, viciadas, ao som e imagens de certos programas e a tela dos vídeos passa a comandar suas vidas; elas não têm mais vida própria, não sonham, não acalentam esperança, nem têm imaginação para colorir suas vidas. Ficam alienadas. Os professores enfrentam este problema em sala de aula com o celular dos alunos….

Interessante ressaltar que o espírito de caridade existe naturalmente na criança. Ela é altruísta por natureza. A medida que cresce, por causa da cultura, ela vai se distanciando desse sentimento. Ela pode ser despertada   para o valor de sua colaboração em um trabalho de grupo onde se sentirá útil dentro de um projeto coletivo. Se ela está emocionalmente educada apresenta maior capacidade de empatia e habilidade para resolver problemas de relacionamentos.

Os pais e professores podem estimular mais atividades ao ar livre e momentos descontraídos de arte, como: desenhar, pintar, ler, ouvir música, dançar, faze r escultura, dobradura, cantar, declamar, observar o tempo pela janela que é um quadro vivo e aproveitar todo o encanto e a magia que a infância oferece.

Uma questão importante é ensinar a criança a relaxar pois seus enrijecimentos musculares são comuns nesta fase, ela reclama de dor de cabeça, de barriga, cansaço, irritação, mau   humor.  Para atenuar estas tensões o adulto precisa orientá-la a descontrair pois o relaxamento   provoca repouso e calma interior, mais harmonia e equilíbrio diante das exigências da vida.  

A   respiração superficial reduz o equilíbrio do corpo e da mente. Ensiná-la a relaxar através da respiração, fazendo isto de forma consciente: inspirar profundamente   pelo nariz, encher os pulmões, alargar o diafragma, segurar a respiração, expirar, soltar o ar pela boca suavemente:  repetir o exercício várias vezes.  Esta ação inunda a criança de novas energias e de paz. Ao se exercitar dessa forma consciente ela vai se autoconhecendo, ajudando seu organismo a se harmonizar e se abrindo a novos aprendizados. Este exercício pode ser utilizado   como experiência   gostosa de encher balões e esvaziá-los, várias vezes, explicando que nosso pulmão é como o balão. A respiração é um aspecto importante da consciência corporal.

É normal que as crianças sofram de ansiedade sempre que tiverem de enfrentar situações novas.  Se estiverem treinadas, saberão respirar profundamente e expulsarão a ansiedade, sentirão bons pensamentos que irão proporcionar a sensação da segurança e   equilíbrio emocional e físico.

Conter a respiração é um mecanismo natural de defesa e expressa os estados emocionais que revelam ansiedade, temor de algum perigo, insegurança. A respiração deficiente gera sentimentos de derrota, impotência e medo. Respirar é oxigenar o cérebro. Ao respirar pouco, por expectativa de alguma coisa ou medo, o cérebro recebe pouca oxigenação, por consequência, vem apatia, desatenção e insegurança. Se a respiração ofertar grande quantidade de oxigênio ao cérebro somos induzidos a agir e reagir.

A raiva acelera a respiração, o medo paralisa, há bloqueio da ação, o corpo paralisa. Ao contrário, os estados de tranquilidade provocam uma respiração mais profunda, resultando em serenidade e paz.

Na escola, o exercício ritmado da respiração no grupo de alunos, em sala de aula, ajuda a estabelecer o contato emocional entre todos, de forma descontraída, despertando a criatividade e a camaradagem. Todos, a partir daí, vão se envolver na proposta de atividade do professor.

Nossa reflexão sobre a questão do valor do brincar e do ensinar a criança a descontrair tem por objetivo destacar a grande importância na vida do ser humano da fase infantil.  A criança de hoje que é amada, protegida, nutrida, orientada, respeitada nos seus direitos vai desenvolver os sentimentos da afetividade, da harmonia, da saúde e do discernimento que lhe tornarão uma pessoa emocionalmente equilibrada e feliz no futuro, sua vida será plena de sentido.  Que bom se tivermos contribuído para que isto aconteça.

Autora: Gládis Pedersen de Oliveira

O fundamentalismo e o moralismo religioso: sua inserção no espaço público-estatal

O Estado não pode se intrometer na vida privada das pessoas, mas deve, por outro lado, garantir que as escolhas pessoais da religiosidade possam ser livremente exercidas, sem a sua intervenção ou de outrem.

Nas democracias contemporâneas, consequentemente, nas sociedades liberais[1], tanto o Estado quanto as demais instituições a ele relacionadas têm um dever prestacional frente a obrigações a ele inerentes, como o atendimento às demandas sociais, que, constitucionalmente, são sua responsabilidade. Portanto, um dever positivo de ação e direção frente ao conjunto da sociedade.

Por outro lado, há um dever de omissão, de afastamento, de não ingerência naqueles assuntos que não envolvem uma obrigação prestacional, mas que estão na esfera da individualidade de cada cidadão. Assim, uma responsabilidade negativa, incluída no rol do que, modernamente, se observa como a liberdade do cidadão frente ao Estado. Liberdades que são de livre exercício do cidadão, considerando a sua independência e liberdade ética pessoal.  

Essa distinção demonstra uma delimitação necessária entre o público e o privado. O espaço púbico[2] é a arena da coletividade política, das relações dos indivíduos ou de grupos com o Estado. E o espaço privado é aquele em que o Estado não deve ter interferência. Pertence ao mundo do indivíduo – na própria condição individual ou de determinado grupo a que pertence ou com quem convive, no âmbito privado. É neste cenário que se encontra a religiosidade.

O exercício de determinada crença religiosa pertence ao campo da vida privada do cidadão, sem qualquer possibilidade de intromissão do Estado. Essa é uma condição necessária e fundamental para o exercício independente e responsável da vida privada das pessoas, algo que fundamenta a ideia de autodeterminação pessoal. É base, inclusive, para a defesa da própria democracia. Pertence, portanto, ao campo da responsabilidade ética pessoal de cada um.

Assim, o Estado, que não pode se intrometer na vida privada das pessoas, deve, por outro lado, garantir que as escolhas pessoais possam ser livremente exercidas, sem a sua intervenção ou de outrem. Não é por outro motivo que, no Brasil, essa condição recebeu proteção constitucional, fazendo parte do rol dos direitos individuais e coletivos, garantidos pelo pacto republicano.

Assim, a liberdade de consciência e de crença, o livre exercício de cultos e a proteção aos seus locais de exercício, a prestação de assistência religiosa e a garantia de que ninguém será privado de seus direitos por motivos de crença religiosa constam de forma clara como garantia inviolável na Carta de 1988[3].

Entretanto, essa prescrição teórica liberal nem sempre se compatibiliza com a vida cotidiana, principalmente em democracias incipientes, como é a brasileira. Na prática, o Brasil tem em sua história uma profunda confusão entre o público e o privado. Basta ver a relação patrimonialista que uma casta social privilegiada tem mantido com o Estado desde os primórdios da colonização. Atualmente, porém, mais um ingrediente tem sido inserido nessa (con)fusão entre as coisas da vida privada e a coisa pública.

Com a estreita relação entre a igreja e a política, por meio do ingresso de líderes religiosos tanto na política quanto no Estado, principalmente os da atualmente chamada Bancada Evangélica[4], ocorre um fenômeno de desprivatização desse aspecto da vida, ou seja, da religiosidade de cada um.

Há uma espécie de sacralização do que antes era profano (ou profanação do que antes era sagrado), com o ingresso da política nos templos religiosos, cuja cisão poderia ser claramente identificada entre as coisas de Deus, de um lado, e as coisas do mundo, de outro.

A democracia é o melhor de todos os regimes políticos! Essa afirmação, com todas as variações possíveis, é encontrada na argumentação de qualquer um que a defenda. Uma variação, talvez não tão comum, mas importante para a nossa análise, é a de que a democracia promete ser a melhor forma de proporcionar uma vida boa para todos os membros de determinada comunidade política. Leia mais: https://www.neipies.com/a-democracia-no-espelho-como-os-predadores-fragilizam-a-democracia-expondo-a-ao-populismo/

Esta reflexão é parte do livro A democracia no espelho: como os predadores fragilizam a democracia expondo-a ao populismo, lançado em 2022.

Autor: Edson Luís Kosmann


[1] No sentido do liberalismo prescrito por Ronald Dworkin.

[2] Para evitar confusão, utiliza-se, aqui, a terminologia que distingue o espaço público do espaço privado como sendo o primeiro o público-estatal. Ou seja, o espaço público é o que está sob a responsabilidade do Estado. Já por espaço privado entende-se o conceito em seu sentido amplo: desde o espaço privado mais restrito, como a casa das pessoas, como, também, aqueles espaços privados que pode ser frequentado pelo público ou têm acesso ao público. Portanto, não se ignora que há espaços privados que são de uso público, como cinemas, museus, igrejas, shopping centers etc. Contudo, não são espaços públicos-estatais.

[3] BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm.  Acesso em: 20 set. 2021.

[4] A Bancada Evangélica foi constituída na Câmara dos Deputados com a principal finalidade de exercer influência moral conservadora nas políticas públicas. Foi denominada de “Frente Parlamentar Evangélica”, e atua como uma sociedade civil de caráter não governamental, com estatuto e regimento interno próprios. BAPTISTA, Saulo. Pentecostais e neopentecostais na política brasileira: um estudo sobre cultura política, Estado e atores coletivos religiosos no Brasil. São Paulo: Annablume, 2009. 

Ocupemos nosso lugar, mulheres!

Podemos mudar o rumo do estado com a nossa participação. #Vamosjuntas.

Precisamos de mais mulheres na política.

E elas precisam saber que são capazes de ser líderes!

Eu acredito que não existe qualificação da democracia e do debate público sem o fortalecimento do Poder Legislativo por meio da presença de mais mulheres na política.  Acredito que nós, mulheres, somos fortes, principalmente quando caminhamos juntas.

No entanto, Passo Fundo ainda é uma cidade extremamente machista.

Por tudo isso, coloquei meu nome a disposição do meu partido, o PT, para disputar uma vaga e ser a primeira mulher trabalhadora de Passo Fundo na Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul. A Assembleia gaúcha tem 187 anos e nosso município completou, em 2022, 165 anos de emancipação político-administrativa. Mesmo com quase dois séculos de história, até hoje, NUNCA elegemos uma mulher da nossa cidade como Deputada Estadual.

Foi pensando em disputar e modificar essa realidade que, junto com o coletivo de lideranças que me acompanha, eu aceitei o desafio e me candidatei à ALERGS em 2022. Fiz quase onze mil votos e, destes, cerca de sete mil foram aqui em Passo Fundo. Fui a única mulher entre os dez mais votados na cidade e a segunda mais votada entre os e as vereadoras candidatas da Câmara de Vereadores de Passo Fundo. Fui votada em mais de trezentos municípios gaúchos.

Ocorre que uma campanha feminina, muito mais do que as masculinas, para ser competitiva, demanda de um grupo de apoio forte, com voluntariado organizado, equipe de profissionais contratadas para a área jurídica, contábil, comunicação, mídias, panfleteação, infraestrutura, mobilização, material impresso, entre tantos outros fatores.

Segundo a pesquisa Gênero e Raça nas Eleições de 2022, realizada pelo Observatório Nacional da Mulher na Política (ONMP), da Universidade de Brasília, a campanha eleitoral é extremamente desigual entre os gêneros. As mulheres candidatas enfrentam muitas barreiras e precisam superar obstáculos que não estão no caminho dos candidatos homens.

Quando observamos apenas as candidaturas eleitas, ou seja, aquelas que foram muito competitivas e conquistaram uma cadeira, a média de recursos gastos é consideravelmente superior ao financiamento dos homens para viabilizar o seu sucesso eleitoral. A pesquisa apurou também, que para manter-se na carreira política elas precisam contar com maior qualificação e também renda.

No Rio Grande do Sul os números confirmam a pesquisa: o valor investido por voto pelas candidaturas à Assembleia Legislativa em 2022, por exemplo, é muito mais caro para as mulheres candidatas. Isso porque, enquanto os homens eleitos gastaram, em média, R$ 4,21 para cada voto conquistado, as mulheres eleitas precisaram investir em média R$ 11,37.

Ressalto, ainda, que a maioria dos partidos políticos não incentivam e nem apoiam a participação das mulheres nos espaços de organização e de comando partidário, não garantem recursos financeiros para as candidatas, não proporcionam o preparo político das mulheres para uma campanha eleitoral e muitas vezes acabam usando as mulheres como “laranjas”.

Outro fator que impacta diretamente na caminhada das mulheres rumo à conquista de uma cadeira é a violência política de gênero, que pode ser física, sexual, simbólica, psicológica e econômica.

Para além disso, a sobrecarga de trabalho assumida pelas mulheres com o casamento, em especial quando elas têm filhos, é um obstáculo adicional para a sua participação na política, sem que o mesmo aconteça para os homens. Códigos culturais de natureza patriarcal podem também se traduzir em maior apoio familiar para eles, quando decidem trilhar a carreira política.

Porém, mesmo com todos esses obstáculos que se colocam no caminho das mulheres que desejam disputar espaços na política institucional, nesse ano, no Rio Grande do Sul houve um aumento no número de representantes mulheres em cargos legislativos: a partir de 2023, serão 11 deputadas, distribuídas em oito siglas, duas a mais que na legislatura atual. Mas a diferença ainda é muito expressiva, uma vez que a ALERGS possui 55 cadeiras. Precisamos continuar sonhando com um outro cenário político, com mulheres que defendem a democracia, a igualdade e a justiça social.

Parafraseando Belchior

Presentemente eu posso me considerar uma “sujeita” de sorte
Porque apesar de muito “moça”, me sinto “sã e salva” e forte
E tenho comigo pensado, “as Deusas são brasileiras e andam” do meu lado
E assim já não posso sofrer no ano passado
Tenho sangrado demais, tenho chorado pra cachorro
Ano passado eu morri, mas esse ano eu não morro…

Nossa luta é coletiva e permanente. Encerramos a campanha e o primeiro turno, entre vitórias e derrotas. Com a certeza que o nosso trabalho continua.

Estamos de parabéns, pela trajetória que estamos trilhando.

Gratidão pelo apoio de cada uma e de cada um!

Autora: Eva Valéria Lorenzato
Vereadora pelo PT/Passo Fundo

Mente que nem sente

Mas como tudo o que semeamos, um dia colhemos, chega a um ponto em que o mentiroso é vítima de sua própria astúcia. Um dia ele acaba se entregando sem querer. É só prestar bastante atenção em seu discurso, para perceber sua incoerência.

Assim como a Verdade é o Filho de Deus, a Mentira é a filha do Diabo (Jo.8:44), e como tal, é a cara do pai.

É mais fácil conviver com pessoas que tenham qualquer outra deficiência de caráter do que conviver com o mentiroso. Ninguém é mais perigoso que ele. E o pior que aos poucos ele vai se aprimorando na arte de mentir, até tornar-se num mentiroso compulsivo e contumaz, capaz de enganar a si mesmo e a todos ao seu redor.

Quando exposto à luz, fica logo nervoso, perde a linha, porque não suporta a verdade. Quer tirá-lo da linha, chame-o de mentiroso. Está mais preocupado com a sua imagem, a fim de manter a credibilidade e continuar enganando.

Nem todos os mentirosos mentem descaradamente. Alguns são mais sofisticados, e preferem usar meias-verdades, ou dissimulações. Sempre que usam tais artifícios, é para salvaguardar sua imagem ou levar alguma vantagem.

Todo mentiroso tem seus cúmplices. E o que ele não percebe é que eles são os primeiros a questionarem sua integridade quando suas mentiras lhes atingirem de alguma maneira. Por exemplo: o pai que mente a idade do filho para pagar meia-entrada no cinema. O dia que resolver mentir para o filho, este será o primeiro a contestá-lo. Se sua esposa lhe ajuda a mentir, ela será a primeira não acreditar em você.

Mas há os que mentem juntos até a morte. Vivem um casamento de mentira, um ministério de mentirinha, um embuste. O livro de Atos dos Apóstolos nos revela a história de um casal de mentirosos, Ananias e Safira. Um dava cobertura ao outro. Infelizmente, não se arrependeram de seu engodo e acabaram fulminados.

A vida do mentiroso não é fácil, pois cada mentira equivale a um remendo numa roupa velha. Quando o rasgo é exposto, tem que fazer um remendo maior para cobrir o anterior. E assim, ele vai vivendo, de mentira em mentira, até o dia do grande rombo, quando tudo vem à tona.

Deus detesta tais expedientes. Entre as coisas abomináveis aos Seus olhos está a “língua mentirosa”, juntamente com “o que semeia contendas entre irmãos” (Pv.6:17-19). Por isso se diz que o que usa de engano não ficará em Sua casa (Sl.101:7).

O mentiroso não consegue manter amizades por muito tempo. Seus amigos são sempre substituídos por novos, porque os relacionamentos sofrem desgastes por causa de suas mentiras. Mesmo familiares preferem manter certa distância. Não suportam vê-lo se gabar daquilo que não possui.

Sem dúvida, o maior mentiroso é aquele que consegue enganar a si mesmo. Paulo nos garante que “os homens maus e enganadores irão de mal a pior, enganando e sendo enganados” (2 Tm.3:13). Suas mentiras lhe soam como verdades. É o mentiroso sincero, mas não inocente aos olhos de Deus.

Paulo admoesta: “Ninguém se engane a si mesmo” (1 Co.3:18). Tal exortação é um eco das encontradas ao longo das Escrituras, como a que denuncia àqueles que “se deixaram enganar por suas próprias mentiras” (Amós 2:4). Para chegar a este ponto, a pessoa teve que passar por treinamento intenso, enganando a outros. Enganar a si mesmo é a última fronteira atravessada pelo mentiroso. Uma espécie de pós-graduação em mentirologia.

Mas como tudo o que semeamos, um dia colhemos, chega a um ponto em que o mentiroso é vítima de sua própria astúcia. Um dia ele acaba se entregando sem querer. É só prestar bastante atenção em seu discurso, para perceber sua incoerência.

Não se deixe conduzir por quem usa de engano. Você cairá no mesmo abismo que ele. “Oh! povo meu! os que te guiam te enganam, e destroem o caminho das tuas veredas” (Is.3:12b).

Se você ama a um mentiroso, trate de confrontá-lo para que se arrependa e não minta mais. Não tape o sol com a peneira. Não tente fingir que acredita em suas dissoluções. Enfrente-o! Seja ele seu cônjuge, seu filho, seu pastor, seu amigo, seu chefe.

Cuidado! Um dia você poderá ser vítima de sua peçonha. Se ele não poupou alguém que dizia amar, não poupará você quando se vir ameaçado.

Cuidado com o que você diz perto dele. Tudo poderá ser usado contra você de maneira distorcida. Afinal de contas, ele sabe jogar com as palavras, sabe dissimular, transformar verdades em mentiras e vice-versa.

O que foi dito em forma de brincadeira, será contado como se fosse dito de maneira séria. Comentários em off, serão lançados contra o ventilador para tentar sujar sua reputação. O que ele quer é que você fique mal na fita, enquanto sua própria imagem seja realçado, como se fosse um herói. Até palavras que ele mesmo disse, serão atribuídas a você… Portanto, cuidado! Peça que Deus ponha um guarda à porta de sua boca (Sl.141:3). Lembre-se que “o hipócrita com a boca danifica o seu próximo” (Pv.11:9).

Alguns perderam totalmente o temor de Deus, sendo capazes até de jurar por Ele para dar peso às suas mentiras (Sl.24:4). Sua consciência está cauterizada. Por isso se diz que tais pessoas “mentem que nem sentem”. Em vez de mentiras localizadas, suas vidas foram tomadas de mentiras generalizadas, como um câncer que se nega a retroceder.

E antes de difundir algo, procure ouvir as partes envolvidas para que você não corra o risco de ser injusto e cúmplice de uma mentira. Adotar a mentira dos outros é como adotar um filho do diabo, pois afinal, ele é o pai da mentira.

Autor: Hermes C. Fernandes

Matam os professores, aos poucos! Mas, re(existimos), por réstias de dignidade, pelo voto!

O luto pela educação no Brasil se manifesta em forma de luta, também pelo voto, nestas eleições gerais. Professores e professoras alimentam-se de esperanças, para resguardar réstias de dignidade.

Matam os professores e professoras aos poucos, é verdade, e já faz bom tempo.

Matam-nos tirando a dignidade da profissão, o reconhecimento social do nosso ofício e o pagamento justo por nosso trabalho (salários). Matam-nos tirando os direitos duramente conquistados e que davam a esta profissão uma perspectiva de carreira, de estabilidade e de serenidade, garantindo transformação humana, transformação do conhecimento e transformação social. Sim, pois cada momento histórico faz as suas transformações.

Fazem alguns anos que a educação deixou de ser pauta, com perspectivas mais concretas de contribuir, efetivamente, com o desenvolvimento humano, social, cultural e econômico do Brasil.

Será por que a educação perdeu importância ou por que é estrategicamente esquecida para dar lugar a outras pautas já tão debatidas, vencidas e que não resolvem problemas, mas criam mais embaraços para os desafios imensos do Brasil?

Diferente de outras eleições gerais, nesta eleição de 2022, o tema educação e seus desafios, sobretudo de valorização dos docentes, de reestruturação dos espaços educativos, de avanços na aprendizagem dos estudantes, ficou à margem dos debates e das discussões. Nem parece que saímos há pouco de uma pandemia que impactou incrivelmente todas as áreas da sociedade, e também a educação.

Aliás, o que mais vimos nestas eleições de 2022 foi a falta de educação, a falta de argumentos, os mais escabrosos ataques pessoais, a falta de ética, a divulgação de mentiras, a disseminação de ódio e de desprezo à maioria de nossa população. Este não é um problema dos professores e professoras e nem dos sistemas educacionais, sejam eles municipais, estaduais ou da rede privada, mas, mesmo assim, envergonha esta classe que tanto trabalha pela melhoria das condições humanas, culturais e sociais das nossas comunidades.

A deseducação é de uma parcela da sociedade que, de forma doentia e perversa, autoproclama os ideais da ignorância, do ódio e da imbecilidade.

“A ignorância não é uma virtude”, escreveu o professor e advogado Alcindo Batista da Silva Roque, em artigo publicado no site: https://www.neipies.com/a-ignorancia-nao-e-uma-virtude/. Assim se manifestou Roque:

“…se não sabemos quem somos, o que e como pensamos sobre as coisas do mundo; o que foi vivido, o que vivemos e como iremos viver, repudiando a importância da filosofia e do estudo histórico, não estamos empobrecendo a consciência individual e coletiva para manter e propagar modelos de dominação, que tem no obscurantismo e na desinformação as formas mais eficientes para não se submeter a análises críticas?

Na mesma linha de pensamento, jornalista Luiz Carlos Schneider escreve:

“Quando a ignorância bate à porta

Quando batem a porta para a racionalidade, então a ignorância bate à porta. Quando fecham a porta para o conhecimento, a pesquisa e o ensino, escancaram a porta para a ignorância. Quando as portas estão fechadas para o diálogo, a ignorância fardada pela truculência já se instalou. Quando não há mais portas para o contraditório, a razão evaporou pela janela. Quando não encontramos portas para a igualdade, a ignorância oprime vidas pelo ralo”. Leia mais: https://www.neipies.com/desinfeccao-da-ignorancia/

Por réstias de dignidade, resistimos, votando nestas eleições gerais de 2022.

Seja pelo necessário combate a esta verdadeira onda de ignorância que tomou conta de nossas comunidades, cidades, estados e país, os professores e professoras resistem por acreditarem na escola e no conhecimento como elementos propulsores da humanização. Humanização aqui entendida como tornar-se melhor ser humano, através de conhecimentos críticos e reflexivos.

Seja pela valorização docente, das diferentes práticas pedagógicas, da liberdade de cátedra, da autonomia das escolas, professores e professoras resistem por acreditar, como ensinou Paulo Freire que “a educação não muda o mundo, a educação muda das pessoas. E as pessoas, mudam o mundo”.

Seja pelo amor à humanidade, pela valorização da ciência, pelo respeito aos cientistas, pela esperança de dias melhores, por uma verdadeira valorização dos profissionais da educação, professores e professoras votam nestas eleições em candidatos que demonstram, por suas trajetórias e propostas, que podemos avançar no Brasil e no RS, a partir da educação, do conhecimento e da ciência.

Transformemos luto em luta! Nas nossas casas, nas escolas, nas ruas e nos círculos de convivência dos professores e das professoras das redes públicas do Brasil, militar é um verbo. Pela dignidade docente! Pela educação pública, de qualidade social.

Réstias de dignidade nos impulsionam a ainda esperançar nestas eleições! Para além da desvalorização de nossa dignidade docente (infelizmente em curso na sociedade brasileira), não suportaríamos mais a estupidez, o desdém, o deboche e o desprezo de quem se apresenta para dirigir o nosso Estado na mesma linha do que vem sendo governado o nosso amado Brasil.

Autor: Nei Alberto Pies

Dos perigos de confundir idolatria mundana com religiosidade

Que a crise humanitária que se abateu sobre o Brasil passa ser tomada a sério e que as palavras do Evangelho de Jesus não sejam levianamente distorcidas na direção de uma idolatria que destrói a religiosidade.

Quando vejo “cidadãos de bem”, autointitulados “cristãos conservadores” fazerem marcha para Jesus em apoio a eleição de um governante, tenho a clara compreensão que estão confundindo idolatria mundana com religiosidade.

O Jesus que estão falando não tem nada de semelhante com o Jesus de Nazaré, tão bem descrito pelos quatro Evangelhos do Novo Testamento (Mateus, Lucas, Marcos e João). Digo isso não por opinião, ou por crença, mas por conhecer de forma consistente a tradição religiosa cristão e por ler sistematicamente tudo o que está escrito nos referidos Evangelhos.

Tudo o que certo governante faz é o contrário do que Jesus pregou e ensinou.

Se Jesus estivesse novamente em nosso meio, certamente esses “cidadãos de bem” e “cristãos conservadores”, seriam os primeiros a pregá-lo na cruz. Marcha para Jesus “fazendo arminha”, debochando dos pobres, ameaçando com discurso de ódio os adversários, não tem absolutamente nada de cristão. Ao contrário, é a idolatria do mito em detrimento do sagrado.

Fico me perguntando como certos cristãos conservadores conseguem participar da celebração da missa, comungar, frequentar a Igreja se tudo que apoiam está em contradição com o Evangelho?

Não é de estranhar que alguns destes agora começaram a agredir sacerdotes, bispos e pastores que pregam a boa nova aos pobres e humildes e denunciam a fome como algo que vai contra o Evangelho.

Estas atrocidades não aconteceram no Império Romano nos primórdios da cristandade, onde os cristãos tinham que se esconder para não serem agredidos e condenados a morte. Essas atrocidades acontecem em 2022 em diversas partes do Brasil: na Basílica de Aparecida, no RS, no interior do Mato Grosso, em São Paulo, em Minhas Gerais, no Rio de Janeiro e em várias cidades do Norte.

Distribuição de material com teor político, mentiroso e associado à defesa de um candidato identificado com as cores da bandeira do Brasil, em Romaria, Passo Fundo, RS.

De uma casa de oração, espiritualidade e acolhida comunitária, a Igreja está se tornando casa de agressão (verbal, psicológica e física). A imprensa tem divulgado fotos e relatos de padres agredidos por estarem realizando seu trabalho de evangelização que consiste em ensinar o povo a Boa Nova de Cristo tão bem explicitada no Evangelho de João 10:10 – “Eu vim para que todos tenham vida e a tenham em abundância”.

Não é possível ter vida quando os pobres passam fome num dos países que mais produz alimento; não é possível ter vida em abundância, quando crianças são jogadas na miséria por falta de políticas de habitação; não é possível ter vida digna, se em pleno século XXI recursos da saúde e da educação são desviados para o orçamento secreto que teve como principal finalidade comprar as eleições de deputados e senadores.

Está escrito literalmente nos quatro Evangelhos que Deus é amor, bondade, compaixão, misericórdia. A prática de Jesus narrada nos Evangelhos mostra um Deus que se preocupa e acolhe os pobres, os excluídos, os marginalizados. Os diversos ensinamentos pregados por Jesus espalhadas nas inúmeras parábolas, mostram um Deus que se preocupa com os doentes, com os leprosos, com as mulheres, com os pecadores, com os impuros.

Quando os discípulos pedem quem entrará no Reino dos Céus, Jesus responde em Mateus 19:24 – “É mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha do que um rico entrar no Reino de Deus”. E quando a multidão fica faminta e os discípulos pedem para que sejam mandados embora, em Mateus 14:15 Jesus diz “Eles não precisam ir. Deem-lhes vocês algo para comer”. E neste momento acontece a multiplicação das pães, pois quando há necessidades urgentes, é necessário partilhar e não abandonar.

Quando vejo “cristãos conservadores” defendendo a eliminação dos pobres, divulgando fake news, promovendo a falsidade e distorcendo os fatos, negando a existência da fome ou dizendo que só tem fome quem é vagabundo, defendendo o armamento, a violência, o discurso de ódio, a proteção de milicianos, a deturpação do Evangelho, a hipocrisia, a falsa liberdade, a desonestidade, o mau caráter e tantas chagas que estão adoecendo coletivamente a sociedade brasileira, aí não tem mais religiosidade e, sim, idolatria, um dos pecados mais perigosos já denunciado pelos profetas do Antigo Testamento.

A idolatria acontece quando um falso deus é adorado: o deus do dinheiro, do poder e da crueldade. Ao fazer isso, atentam contra o segundo mandamento: “Não tomar seu Santo Nome em vão”.

Que a crise humanitária que se abateu sobre o Brasil passa ser tomada a sério e que as palavras do Evangelho de Jesus não sejam levianamente distorcidas na direção de uma idolatria que destrói a religiosidade. Nenhum governante está acima da vida e nenhum governante pode ser idolatrado como deus.

Autor: Dr. Altair Alberto Fávero

A Ilíada na Cultura Grega

Em nosso tempo, infelizmente, apesar de tantos recursos e facilidades, arquitetar maldosamente as estratégias da ganância e da mentira, substituíram o cultivo das virtudes resultantes da uma sólida formação.

Não se pode compreender as raízes da cultura ocidental sem falar da Grécia Antiga e do seu legado para a constituição do pensamento ocidental. Os livros de história mencionam com propriedade o papel que os gregos tiveram no desenvolvimento das distintas áreas do conhecimento: filosofia, artes, política, retórica, religião, economia, direito, dramaturgia, as ciências de modo geral.

Dentre as diversas obras que ainda estão associadas a Grécia Antigo estão a Ilíada de Homero. Não se sabe ao certo se Homero foi um historiador, poeta ou se de fato tenha existido. Seu próprio nome tem sido traduzido de várias formas: “aquele que não vê”, “aquele que põe ordem nas coisas”. O certo é que a Ilíada continuam sendo lida até os dias de hoje e possui uma qualidade literária marcante e profundamente expressiva.

A Ilíada é composta de 15.693 versos, onde cada verso é composto de seis sílabas longas e duas breves e narra a famosa guerra de Tróia. A cidade de Tróia, que estava localizada onde hoje é a Turquia, foi destruída por volta de 1.200 a.C.

Não se sabe ao certo se de fato essa guerra aconteceu, mas da forma como é narrada na Ilíada mostra os feitos heroicos dos gregos (também chamados de aqueus) que atacaram a cidade, buscando vingar o rapto de Helena, esposa de Menelau, irmão de Agamenom e rei de Esparta.

Homero utilizou-se dos mitos para construir a narrativa que passou a dar identidade ao povo grego. Tudo começa quando Tétis, a ninfa do mar que era desejada como esposa tanto por Zeus (deus supremo do Olímpo) quanto por seu irmão Posseidon (o deus do mar). Prometeu (o deus que entregou o fogo aos homens) fez uma profecia, dizendo que o filho da ninfa seria maior que seu pai.

Temendo que a profecia se cumprisse, os deuses pretendentes resolveram dar a ninfa como esposa para Peleu, um mortal já idoso, e com isso esperavam que seu filho seria fraco, um simples humano. O filho de Tétis e Peleu tornou-se Aquiles, o guerreiro que lutou na guerra de Tróia. Sua fortaleza se deu em função de que sua mãe, mergulhou quando ainda era bebê nas águas do mitológico rio Estige. As águas tornaram o herói invulnerável, exceto no calcanhar, por onde sua mãe o segurou para mergulhá-lo no rio. Desta narrativa mítica vem a expressão utilizada até hoje de “calcanhar de Aquiles”, significando, ponto vulnerável.

A mãe de Aquiles profetizou que ele poderia escolher dois destinos: ir para a guerra, alcançar a glória e morrer jovem; ou permanecer na sua terra natal, ter uma vida longa e ser logo esquecido. Aquiles optou pelo primeiro destino e seus feitos são lembrados até nossos dias.

A Ilíada constitui a base da educação grega na antiguidade. Os feitos de Aquiles e seus companheiros eram amplamente relembrados e recontados como processo formativo para as inúmeras gerações que compuseram a celebrada cultura grega. Lealdade, justiça, honra, coragem, honestidade, coletividade eram virtudes importantes extraídas da Ilíada para formar as novas gerações.

Em nosso tempo, infelizmente, apesar de tantos recursos e facilidades, arquitetar maldosamente as estratégias da ganância e da mentira, substituíram o cultivo das virtudes resultantes da uma sólida formação.

Flertar com boatos que se espalham pelas redes sociais e promover a difamação do outro se tornou mais importante do que incentivar e educar as novas gerações para que se sintam encorajados em construir uma sociedade decente ancorada na justiça, na verdade e no bem.

Ler os clássicos e aprender com a tradição se constitui um desafio educacional que vai para além da escola e que deveria germinar nas relações familiares para nossa existência pudesse ser digna de ser vivida.

Dr. Altair Alberto Fávero

O sentir é uma forma de saber das árvores

Vivemos num corre-corre desenfreado. Não temos tempo mais para conversarmos e sentirmos as árvores.

Para que não soframos com as suas melancolias e tristezas em relação às nossas ingratidões é que as árvores fingem, assim como diz o poeta português Fernando Pessoa: “O poeta é um fingidor. / Finge tão completamente / Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.” O resto é madeira e folhas secas que só servem para lenha e sujarem as ruas, respectivamente, como pensam muitos “humanos” não humanos demais.

Mesmo sentindo as lágrimas caírem pelo tronco e pelos galhos, as árvores se balançam e continuam dando frutos como se nada tivesse acontecido enquanto nós, homens e mulheres, apenas passamos por elas, apenas passamos e passamos ausentes até mesmo de nós.

O nosso sentir é algo estranho à natureza e lúcido apenas para os ímpios e ignorantes. Sim, a ignorãça, para fazer uso de um neologismo do poeta Manoel de Barros, é uma coisa não efêmera e cara às almas dos não virtuosos.

O filósofo grego Platão diz que a alma traz consigo desde o seu nascimento um conhecimento prévio, a priori, que lhe permite a identificação do objeto, o chamado conhecimento inato. Tais conhecimentos são as ideias ou formas, que residem no mundo inteligível, fora do tempo e do espaço.

Não poderia ser diferente com as árvores. Elas também trazem conhecimento desde o momento em que nascem e vão aprimorando esse conhecimento através das suas vivências e experiências quando se relacionam com os homens e se auto relacionam.

O saber das árvores diferentemente do dos homens não é empírico, ou seja, não é o das academias onde se ensinam as diversas ciências, mas um saber do senso comum. O que não descarta a sua utilidade e a sua capacidade de se tornar sábia.

Há quem diga que o conhecimento do senso comum é ingênuo, porém as árvores são dotadas de uma inteligência que ainda necessita de investigação e são capazes de identificar pessoas dos mais diversos conhecimentos e com elas conversarem. Os homens sérios acham que as árvores não vão lhes compreender se falarem com elas sobre negócios, bolsas de valores, mercados imobiliários ou até mesmo globalização.

As árvores podem ser as nossas mestras se assim as aceitarmos. Elas conhecem coisas mais profundas do que a gente. Elas sabem das estrelas, do sol, da lua, do Universo por completo. Estão sempre atentas aos mais diversos acontecimentos do mundo e prontas para nos ajudar naquilo que necessitarmos. Assim como nós cada uma delas tem a sua área de atuação.

Não se admire se uma árvore lhe der uma ideia de como realizar um cálculo de uma raiz quadrada. A forma como transmitem os seus conhecimentos se concebe na energia cósmica que vem das profundezas das suas raízes e são transmitidas para nós quando por elas passamos. Existe uma troca de saberes entre as árvores e os homens inteligentes que não se identifica apenas numa realidade supérflua, mas numa metafísica que se constrói entre raízes e cérebro, expandida no pensar autônomo desses seres.

Não é à toa que uma árvore derrubou uma maçã na cabeça de Isaac Newton. Muitas das descobertas científicas não aconteceram por acaso, mas são sustentadas por histórias incríveis. A teoria da gravidade, por exemplo, foi formulada depois que uma maçã caiu sobre a cabeça de Isaac Newton, em 1666. A árvore que deixou a maçã cair na cabeça de Isaac Newton já tinha este conhecimento e encontrou uma forma prática de passar para ele o que já sabia.

Nós temos a mania de acharmos que somos as únicas criaturas inteligentes no Universo. Não somos nada humildes. Somos orgulhosos e ambiciosos. Esquecemos que perto da gente há animais e florestas capazes de aprenderem e nos ensinarem muitas coisas para as quais ainda não despertamos.

Ficamos presos nos nossos laboratórios, escritórios ou até mesmo nos observando, quando na verdade as árvores poderiam ser usadas como fontes de transmissão e apreensão de conhecimentos.

Os poetas são inspirados pelas árvores junto com os pintores. Esses sabem valorizar os conhecimentos que as árvores lhes oferecem. E assim como no mundo, existem milhares de poetas nas florestas e também existem milhares de árvores que sabem fazer da poesia a sua mais bela arte.

Não há coisa melhor do que sentar-se embaixo da sombra de uma árvore para ler um livro ou simplesmente para descansar fechando os olhos e imaginando outro mundo. Neste momento, as árvores se conectam conosco e nos passam informações valiosas sobre os seus mundos e sobre o que pensam em relação a nós.

Sentir as coisas de todas as formas e intensamente, sentir como se fosse sempre a primeira vez, e como dizia o poeta português Fernando Pessoa “sentir é criar. Sentir é pensar sem ideias, e por isso sentir é compreender, visto que o Universo não tem ideias.”

Vejam só que coisa bonita nos diz o poeta sobre o Universo. Sem as ideias no mundo, as árvores costumam criá-las e nos doam como se fossem presentes para o nosso bem-viver.

Façamos todos uma pausa nos nossos dias corridos para sentir as ideias que as árvores nos dão, para sentir todas as formas de amar que elas nos proporcionam com os seus galhos acariciando os nossos corpos, com os seus frutos matando as nossas fomes e com as suas sombras aliviando o estresse e o cansaço da vida moderna e líquida na qual vivemos. Sim, a relação de afeto que estabelecemos com as árvores não é líquida, como dizia o sociólogo Zygmunt Bauman.

As árvores assim como podem viver por séculos também amam demasiadamente os homens que cuidam delas. Se na passagem famosa d’O banquete os deuses castigaram os seres humanos dividindo-os e misturando-os para que passassem a vida em carência e falta, tentando encontrar a sua outra metade que lhes faltava, para Nietzsche o amor depende primeiro de uma capacidade de autocompletude e autoafirmação: apenas indivíduos plenos de si podem amar.

O amor não é outra coisa que um derramamento, uma espécie de luxo e de dádiva daquilo que cada indivíduo conquistou por e para si mesmo e quer partilhar, alegremente, com um outro. Nesse caso, não há nada de carência, mas muito pelo contrário, de plenitude.

Quanto mais pleno de si, mais capaz de amar será um indivíduo. Por essa razão, é que as árvores nas suas plenitudes sabem sentir o amor e amam cheias de saber e vontade. O amor das árvores é presente divino que o Universo ou os seres metafísicos que constituem tudo isso onde vivemos sabem como nos oferecer.

Diz o poeta Camões que o amor é um contentamento descontente. Sim, as árvores não sorriem ou esboçam alegrias do jeito dos homens apenas porque amam, elas simplesmente amam como se vivessem para encher o mundo de paz e de alegrias necessárias para a compreensão das virtudes e do despojamento de todas as necessidades materiais sejam deixadas de lado. A vida é curta para tanto apetrecho. Deixe o seu coração despido e aberto para receber o amor das árvores.

Ao sentir as coisas como elas realmente são e não como os homens querem que elas sejam cobrindo-as, falsificando-as ou criando ilusões, as árvores passam a conhecer as nossas necessidades mais difíceis para podermos continuar vivendo bem e conectados com a natureza, sempre a respeitando e aproveitando dela o que de melhor pode nos oferecer.

O melhor jeito de viver que podemos encontrar é ao lado de uma árvore. Não se vive em mundos de concreto e cimento sozinhos. Os homens precisam da natureza, por isso temos as plantas e as flores em casa para não morrermos de solidão.

Na leta da música de Claudinho e Buchecha “Fico assim sem você” eles nos dizem “Eu não existo longe de você / E a solidão é o meu pior castigo / Eu conto as horas pra poder te ver / Mas o relógio tá de mal comigo.” Este mesmo sentimento tem as árvores pelas pessoas queridas que cuidam delas e as amam quando precisam se afastar por uns tempos de casa ou morrem. As árvores também sofrem com as nossas ausências físicas e são capazes de morrerem de solidão quando ficamos longe delas por muito tempo.

A solidão é o um dos males da sociedade contemporânea. Ninguém liga mais para ninguém. Qual foi a última vez que você recebeu uma ligação de algum amigo preocupado com o seu bem-estar? Eu não lembro a vez que isso aconteceu comigo.

Vivemos num corre-corre desenfreado. Não temos tempo mais para conversarmos e sentirmos as árvores.

Sem saber que elas precisam tanto de nós. Fazemos com elas o mesmo que fazemos com os nossos amigos, ou seja, as abandonamos preocupados em ganharmos dinheiro e ficarmos ricos. Para que significa a riqueza sem um grande amor?

O melhor dessa vida é sentir as coisas de forma intensa e com a alma, assim como os poetas se largam dentro dos seus versos e fazem chorar até os mais desalmados. A árvore não pode ser julgada pelos seus frutos que amadureceram rápidos demais, pois se ela estiver doente de solidão não terá como cuidar de si mesma.

A solidão também mata a natureza. A solidão por mais que não queiramos se aloja na gente de forma intensa e a sua complexidade vai nos consumindo assim como os cupins consomem as árvores.

É preciso saber viver, como diz a canção do grupo musical Titãs. Para saber viver precisamos sentir não somente os batimentos dos nossos corações, mas a voz da natureza, os sons dos galhos das árvores e mais precisamente o amor que elas nos oferecem sem pedirem nada em troca. Não deixemos para amar as árvores quando as guerras começarem. As amemos porque elas precisam do nosso amor para continuarem com copas exuberantes e frutos gostosos.

Não existe no mundo um sentir maior do que os das árvores quando sofrem machadadas ou podas de forma errada. Elas sangram iguais as mulheres, mas um sangue de cor branca ou incolor. Elas também têm os seus dias de TPM e engravidam do solo para parir outras que logo se tornarão adultas também. É o ciclo da vida. Tudo que existe sabe amar e sabe sentir de forma intensa.

As árvores podem ser consideradas seres sensitivos, pela sua capacidade de sentir quando e como as coisas vão acontecer conosco. Elas sabem exatamente quando estamos tristes e o que queremos para o amanhã. Elas são capazes de ler os nossos pensamentos e adentrarem nas nossas almas para descobrirem as nossas dores e medos. Claro que isso elas só fazem se as dermos autorizações. Se pedirmos ajuda para elas, através de um abraço em seus troncos, de uma lágrima em frente de uma delas, de um silêncio embaixo de suas sombras.

As árvores sentem as coisas parecidas conosco, quando estão tristes seus galhos caem e as suas folhas secam rapidamente.

Mesmo quando perdemos a vontade de fazer as coisas ou quando elas se tornam entediantes e não sentimos desejo de fazer aquilo que antes tanto gostávamos, parece que o mundo perdeu a alegria, então as árvores conhecem essas nossas ausências de ânimo e tentam se aproximar de nós transmitindo a energia das suas raízes para os nossos corações sofridos.

Quando perdemos um amigo ou nos decepcionamos com alguém, quando somos demitidos de um emprego de muitos anos e ficamos sem entender nada é com elas, as árvores, que podemos contar as nossas dores e aflições e também lhes perguntarmos o que fazer daqui para frente. É no momento de dor que os amigos mais se afastam da gente, no entanto as árvores nunca se vão, nunca nos deixam. Eis o amor eterno amor.

As suas respostas não são dadas de imediato. Às vezes elas respondem de forma indireta para que possamos analisar os fatos e os problemas e compreendermos que há sempre uma solução para aquilo que nos levou ao fundo do poço. O poço também pode ser o dos desejos e aí lá no fundo dele você pode se encontrar com a raiz de uma árvore que vai lhe abraçar e dizer que não tenha medo, pois elas estão cuidando de você mesmo sem nada dizerem.

Ah, se as árvores pudessem dizer para você o quanto elas o amam, se elas pudessem falar a mesma língua que a sua. Mas, assim como quem fala com os anjos também é possível falar com as árvores sem ser chamado de louco. Você não precisa dizer nada para elas, pois apenas o fato de estar ali de frente para uma delas conseguirá transmitir o seu pensamento perturbado e cheio de dúvidas. Logo ou em algum tempo elas darão uma resposta.

Eu fui criticada por sentir a vida intensamente, outro dia, mas não me importei. Esse meu jeito de conviver com as árvores por muito tempo fez de mim quase uma delas. Sinto as suas dores e sofrimentos quando as vejo serem podadas nos canteiros da minha cidade e já briguei por várias delas quando quiseram as cortar para construírem prédios. Eu já chorei por uma árvore e fiquei dias doente. E acho que uma árvore também já chorou por mim. Elas sempre choram por nós.

O verdadeiro sentir estar na coragem de se expor, de deixar à mostra as suas dores e angústias. As árvores jamais nos criticarão por sermos medrosos ou fracos. Elas nunca nos chamarão de covardes porque assim como a gente elas também têm os seus medos e fraquezas. No chão, onde se escondem as suas raízes estão guardados os conhecimentos necessários para o bom combate com os homens malvados.

Se pudessem viver num mundo de paz, as árvores seriam mais felizes.

Devemos nos considerar sortudos pelo Criador nos colocar árvores para que possam limpar o ar que respiramos, nos dar frutos e sombras e nos amar mesmo sem merecermos, pois não cuidamos delas como deveríamos. Tantos de nós passamos pelas árvores sem nos darmos conta das suas grandiosidades à humanidade.

Muitos de nós temos uma árvore na rua onde moramos e nunca prestamos atenção nela. Elas ficam ali, plantadas, à espera de um riso ou de uma palavra qualquer. As crianças é quem sabem conversar e brincar com elas subindo e descendo dos seus galhos.

Se ao menos conseguíssemos sentir as coisas de uma forma que aprendêssemos a lição de cada uma delas para que não repetíssemos os nossos erros seria tão maravilhoso! Se pudéssemos assim como as árvores sentir em descontentamento que não quer dizer falta de alegria, mas despojo de toda expectativa a uma felicidade inútil e temporal que se acaba quando o outro parte e nunca nos tornamos plenos na nossa essência certamente que seríamos pessoas mais agradecidas ao Universo e mais caridosas para com as pessoas ao nosso redor.

O que fazemos aqui na Terra será levado para algum lugar depois da morte. E as árvores sabem disso porque elas também vão para algum lugar depois que morrem ou são mortas pelas mãos dos homens. Quem criou o machado e a serra elétrica? Por que os homens derrubam árvores? Que comércio clandestino é este que precisa derrubar centenas de árvores por dia para enriquecer homens solitários em suas mansões com malas cheias de dinheiro? Esses homens não são homens, mas pedaços de sabão em pedra que nada sentem nem mesmo quando a lágrima da água bate em suas costas.

A vida é uma difícil arte. Talvez a mais difícil. E as árvores têm medo dos homens assim como eles têm medo uns dos outros.

A necessidade de sentir se faz presente nas árvores para que possam oferecer não somente sombras e frutos, mas amor e conhecimento aos homens de bons corações. Aqueles que estão sozinhos em seus apartamentos distantes do chão onde elas se localizam, mas podem vê-las das suas janelas. Antes ver com o coração do que com os olhos, já dizia a raposa do “Pequeno Príncipe”.

Por isso digo hoje e repetirei amanhã mil vezes o que disse o meu grande poeta Fernando Pessoa “Sentir tudo de todas as maneiras, / Viver tudo de todos os lados, / Ser a mesma coisa de todos os modos possíveis ao mesmo tempo, / Realizar em si toda a humanidade de todos os momentos / Num só momento difuso, profuso, completo e longínquo.”

Que as árvores possam, além de sentir tudo, melhorar a vida de cada um de nós, principalmente dos mais necessitados que armam os seus barracos de papelão ou lona embaixo delas para pedirem vida com dignidade. Ser sempre do mesmo modo possível o amor de uma árvore, e amado por uma delas.

Autora: Rosângela Trajano

Dívida ecológica

Enquanto potencializamos a dívida ecológica em todos os sentidos, fingimos não acreditar que “nosso problema é o crescimento físico em um mundo finito”, como escreveu Dennis Meadows.

Nesses tempos dolorosos que vivemos, os fatos objetivos falam por si. Do ponto de vista ambiental, já atingimos um ponto crítico: a capacidade biofísica do mundo natural está comprometida devido a nossas ações (quase sempre, insustentáveis); quer dizer, o jeito como nos apoiamos nesse mundo e o modo econômico que assumimos para dar resposta aos nossos anseios de prosperidade. E como tudo tem consequência direta e imediata, não percamos a visão do todo: as mudanças ecológicas e climáticas que estamos passando refletem no desequilíbrio da cadeia ecológica que rege a vida na Terra, impactando severamente a sustentabilidade do planeta.

Dura realidade, sobram exemplos de como estamos perdendo o controle do mundo, em meio ao desmonte ambiental, na Era do Antropoceno. Segundo os glaciólogos, o gelo está derretendo a uma velocidade três vezes maior do que eles temiam apenas dez anos atrás; na Antártica, o derretimento é seis vezes mais rápido do que há 40 anos.1

Não é exagerado dizer que danos causados por enchentes vão aumentar de cem a mil vezes até o final deste século. E não custa lembrar aqui, para todos os efeitos, que dois terços das maiores cidades do mundo estão a centímetros do nível do mar.

Até 2030, de acordo com pertinentes denúncias dos oceanógrafos, o aquecimento e a acidificação dos oceanos ameaçarão 90% de todos os corais que sustentam pelo menos um quarto de toda a vida marinha.2 E tem mais: de acordo com os especialistas em gestão pública, quase metade da população mundial, em 2025, passará pelo menos um dia da semana por falta d´água. Nos dias de hoje, informa o Programa Conjunto de Monitorização da OMS/UNICEF para o Abastecimento de Água e Saneamento, pelo menos 1,8 milhão de pessoas em todo o mundo continuam bebendo água que não está protegida contra a contaminação das fezes.3Tão trágico quanto esse específico drama de saúde pública, até 2050 o mundo conhecerá 200 milhões de refugiados do clima, informa o relatório do Internal Displacement Monitoring Centre.4

E a lista de “desajustes” continua. Desde o surgimento do Homo sapiens, nada menos que 83% dos mamíferos selvagens desapareceram da face do planeta, assim como 80% dos mamíferos marinhos, 50% de plantas e 15% de peixes.5

A velocidade com que acontece a perda de biodiversidade é assustadora. Se antes de os humanos entrarem em cena e ocuparem o centro das atenções o ritmo de extinção era de uma espécie a cada 10 milhões, hoje em dia já se sabe que a ação humana (antropocentrismo dominador, chamemos assim) acelerou em mil vezes a taxa de extinção das espécies de plantas e animais do planeta, em comparação com a taxa natural.

Os números conhecidos causam estarrecimento: nada menos que 30% das espécies poderão desaparecer até a metade do corrente século. Quem se dispuser ao trabalho e consultar a Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas (Red List ou Red Data List) notará, por exemplo, que 40% de anfíbios, 34% de coníferas, 33% de recifes de coral, 31% de tubarões e raias, 27% de crustáceos selecionados (incluindo lagostas, camarões, lagostins e caranguejos de água doce), 25% de mamíferos e 14% de pássaros correm risco de desapareceram de nossas vistas. O cenário diante de nós é de tragédia. De modo perturbador, Edward Wilson (1929-2021) chamou a nossa atenção para um ponto devastador: “a cada 13 minutos uma espécie da biodiversidade desaparece de nossas vistas devido a nosso estilo de vida depredador e consumista”.

Fora isso, não é segredo algum que produtos químicos têm afetado extensas áreas agrícolas, tirando com facilidade a fertilidade da terra em diferentes pontos do planeta. Nos dias atuais, mais de 30% dos solos do mundo já estão degradados e já se sabe que a desertificação, devido a climas secos e quentes e a ação antrópica, afeta quatro bilhões de hectares no mundo, ou 25% da massa terrestre.

Traço preocupante, enquanto continuamos pensando apenas no plano meramente econômico (sempre com vistas ao aumento de produção e consumo), estamos indo além da civilização,colocando em risco as fundações ecológicas da sociedade. O desmatamento da Amazônia, para tocar em um de nossos pontos mais sensíveis, apresenta forte impacto climático. O detalhe realmente apavorante aí, principalmente em termos de possíveis novas pandemias, como não cansam de dizer os cientistas, é que isso pode liberar outros vírus e bactérias que hoje vivem em equilíbrio no ecossistema da Amazônia.

E ainda assim a sociedade humana segue sua jornada de desleixo em relação ao planeta. No fundo, achamos que tudo em matéria de recursos é inesgotável, ou que o problema ambiental é de fácil resolução. De todo carbono estocado na atmosfera, 75% foram emitidos apenas nas últimas sete décadas. O uso mundial de água triplicou nos últimos 50 anos. Entre 1940 e 1990, o consumo saltou de 400 para 800 metros cúbicos por pessoa por ano. Conta simples de entender: hoje em dia os 7,7 bilhões de habitantes do planeta já consomem 80% dos recursos de água doce natural. No detalhe: “Só restam 8 mil metros cúbicos de água potável por habitante e por ano, contra 15 mil metros cúbicos de 1990”.6

Definição representativa, na era contemporânea seguimos deteriorando os reservatórios de água subterrânea; da mesma forma como comprometemos a biodiversidade dos leitos marítimos polares. Em menos de duas décadas, três milhões de quilômetros cúbicos de gelo dos oito que existiam no Pólo Norte simplesmente desapareceram. As geleiras da Groenlândia, segunda fonte de água doce do planeta, diminuem muito rápido.7

Esquema definido, no que tange a expansão da economia global, seguimos firmes na crença de que a produção material é tudo o que nos resta. O mundo inteiro já usa hoje em dia cerca de 150 toneladas por segundo de cimento, um dos termômetros da atividade econômica e, de longe, o material mais consumido no planeta.

A produção mundial de aço bruto, somente em 2021, de acordo com dados da World Steel Association, alcançou 1,95 bilhão de toneladas. O número de veículos, leves e pesados, que hoje circulam em todas as cidades do mundo já alcança a impactante marca de 1 bilhão de unidades; em 1950, eram apenas 50 milhões de unidades em todo o mundo. Em 2019, o mundo produziu 460 milhões de toneladas de plásticos, produto que responde por 3,4% das emissões globais. Acontece que cerca de 22% desse produto são deixados em aterros ilegais ou abandonados na natureza, enquanto 13 milhões de toneladas chegam aos oceanos todos os anos, levando 100 mil animais marinhos à morte.

Situação emergencial, para continuar fazendo aqui rápida síntese, faz tempo que entramos numa preocupante zona de perigo, com sérias ameaças ao jogo da sobrevivência da nossa própria vida.

Agravada pela baixa preocupação ambiental, toda a humanidade se vê diante do maior desafio de todos os tempos: organizar o esforço comum e vencer as mudanças climáticas, cada vez mais tangíveis. Para tanto, é preciso uma radical mudança de hábitos e costumes, até mesmo porque um rápido balanço mostra o seguinte: se nos dias de hoje a humanidade está usando 1,4 planeta, ou seja, faz uso de 140% da terra disponível, ultrapassando assim a capacidade da Terra, tudo indica que em 2030 estará operando o equivalente a dois planetas, algo inimaginável dentro dessa atual sociedade da mercadoria.

Em um desdobramento dessa perspectiva, pode-se pensar, como ideia central, que a noção de colapso ambiental tem tudo a ver com a racionalidade produtiva, já impregnada na cultura moderna que reiteradamente desdenha dos limites físicos (limites de sustentabilidade) do planeta.

Todavia, levando as consequências ao extremo, o fato é: para bancar o crescimento, a abundância exagerada (transformada em política de vários governos) e a reprodução do modo de vida dominante, chegamos num estágio em que “estamos vivendo do capital da Terra”, como esclarece Pavan Sukdev. Em outros termos, agimos como se o planeta não tivesse limites ecológicos e fosse realmente capaz de suportar todo tipo de lixo e rejeito que a produção excessiva e a acumulação sem fim do capital acarretam.

De toda sorte, diante da extrema necessidade de se reconhecer os Direitos da Natureza (em letras maiúsculas para assim expressar sua relevância), estamos sendo constantemente induzidos a prestar menos atenção na reprodução da vida, e muito mais na do capital e de seu discurso sedutor, o crescimento econômico ininterrupto. Isso significa dizer abertamente que, enquanto potencializamos a dívida ecológica em todos os sentidos, fingimos não acreditar que “nosso problema é o crescimento físico em um mundo finito”, como escreveu Dennis Meadows.

À parte isso, a história vai nos deixando uma lição cara: “(…) com base na melhor informação científica disponível, mantida a via atual, a qualidade da vida humana sofrerá substancial degradação por volta de 2050”.8

Autores:

Gilberto Natalini (*)
Marcus Eduardo de Oliveira (**)
 (*) Médico cirurgião, vereador por cinco mandatos na Câmara Municipal de São Paulo. Foi Secretário Municipal do Verde e do Meio Ambiente (2017), e candidato à Governador do Estado de São Paulo, pelo Partido Verde, em 2014. gtnatalini@gmail.com
 (**) Economista (1994), pós-graduado em Política Internacional pela Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (1995) e ativista ambiental. Mestre em Integração da América Latina pela Universidade de São Paulo (USP). Autor de Civilização em Desajuste com os Limites Planetários (CRV, 2018), entre outros. prof.marcuseduardo@bol.com.br
 Notas:
1.      Disponível em < http://pbmc.coppe.ufrj.br/index.php/en/news/1078-gelo-da-antartica-esta-derretendo-seis-vezes-mais-rapido-do-que-ha-40-anos-diz-estudo>
2.      Disponível em < https://allatlanticocean.org/view/events/ocean-sciences-meeting-2020>
3.      Disponível em < https://www.unicef.org/brazil/comunicados-de-imprensa/1-em-cada-3-pessoas-no-mundo-nao-tem-acesso-agua-potavel-dizem-unicef-oms>
4.      Consultar https://www.internal-displacement.org/
5.      Disponível em < https://www.pensarcontemporaneo.com/a-humanidade-matou-83-de-todos-os-mamiferos-selvagens/>
6. Cf. ATTALI, J. Uma breve história do futuro. Osasco/SP: Novo Século, 2008, p.123.
7.      Idem, p.122.
8.      Disponível em https://consensusforaction.stanford.edu/see-scientific-consensus/consensus_english.pdf

 

EDUCAR – ação transformadora que começa na infância

Para educar, precisamos compreender as características de cada faixa etária da criança a partir da gestação, do nascimento e da fase infantil para compreender qual a ação educativa a ser adotada para ajudá-la a construir uma vida que valha a pena ser vivida e que lhe proporcione plenitude e felicidade no futuro, na busca do que é belo, bom e verdadeiro.

A palavra educar é originária do Latim – educere – e significa “puxar dos fundamentos para fora, levantar, extrair de dentro”. Esta ação, em nosso entendimento, significa extrair do educando todo o potencial divino que ele possui no âmago de seu ser e que precisa ser estimulado para desabrochar.

Para educar, precisamos compreender as características de cada faixa etária da criança a partir da gestação, do nascimento e da fase infantil para compreender qual a ação educativa a ser adotada para ajudá-la a construir uma vida que valha a pena ser vivida e que lhe proporcione plenitude e felicidade no futuro, na busca do que é belo, bom e verdadeiro.

Nos primeiros meses do recém-nascido ele dorme bastante pois está se adaptando ao desafio da vida. Desde os primeiros dias de vida os pais devem ajudar o nenê a perceber que nem sempre ele será atendido imediatamente quando chora, conversar carinhosamente, acalmá-lo, assim ele estará começando a compreender a dinâmica da vida e ir aprendendo a conviver com pequenas frustrações e superá-las.

No primeiro ano de vida o bebê crescerá mais rapidamente e se modificará mais do que em qualquer outra idade.

Até os três meses o sentido do tato na criança é bastante desenvolvido. Ela aprende sendo tocada e tocando pessoas e objetos. O saber agarrar é um reflexo inato e não uma ação consciente.

O olhar da mãe é muito importante. Ela vai se “ver” refletida nos olhos da mãe, especialmente durante a amamentação. A mamãe deve deixar o celular fora do seu alcance e curtir estes momentos, interagindo neste intercâmbio com o seu rebento de maneira intensa e feliz.

O bebê, quando está acordado, gosta de companhia. O contato com a mãe e demais pessoas se dá pela vista, audição e tato. Ele é muito sensível ao som. Faz bem para ele ouvir a voz humana que pode se expressar por uma canção suave, como de ninar, o sussurro carinhoso, assovio, a contação de histórias.

Por volta dos quatro a cinco meses elas apreendem a alcançar e segurar os objetos, que estão próximos. Eles gostam de chocalhos e brinquedos de superfície lisa e grandes coisas coloridas para apertar, brinquedos estofados, em forma de bichinhos ou de rosca, que é fácil de ser agarrado.

O sentido da audição é bem desenvolvido desde antes do nascimento. Proporcionar à criança a audição de música suave (Mozart, Beethoven, Vivaldi, Brahms, por exemplo), cantigas de ninar, canções do folclore. Contar pequenas histórias demonstrando na voz, na expressão facial a emoção dos personagens.

Elas gostam de se olhar no espelho e se autoconhecerem no colo do adulto. Elas aprendem a falar, caminhar e agir imitando as pessoas que estão interagindo no meio onde elas estão inseridas. O adulto é o modelo.

A partir dos seis meses dormem menos e já conseguem brincar sozinhas. Derrubam e atiram coisas e repetem esses atos várias vezes o que lhes dá prazer. A criança adora brincar com as pessoas que já conhece e acena quando o adulto se despede. Por volta dos sete meses começa a engatinhar e logo em seguida, a levantar-se apoiada em algo e ensaia os primeiros passos estimulada e amparada pelos adultos.  Consegue juntar os dedos polegar e indicador para catar objetos pequenos, demonstrando novas habilidades cerebrais adquiridas.

Quando o bebê vai consolidando o senso de mobilidade se tornará um grande explorador do mundo que o cerca sem qualquer noção de perigo. Ele não entende o significado da linguagem abstrata que quer ensiná-lo sobre o perigo.  Vai aprendendo pelo erro e acerto.

Elas gostam de “casinhas” improvisadas, caixas de papelão, embaixo da mesa, lugares para se esconderem e serem achados. Estão descobrindo todos os cantos do seu mundo.            Brincar ao ar livre com terra, areia e água é muito gostoso e elas podem sujar-se à vontade, por algum tempo.

As crianças gostam de ouvir música suave ou alegre e movimentada e dançar, se sacudir no ritmo da música. Para acalmar e induzi-la a um sono reconfortante nada melhor que uma canção suave e uma prece ao “Papai do céu”.

As quadrinhas rimadas, versinhos e leituras curtas são apreciados pelas crianças. Elas gostam de folhear livros coloridos e revistas ou tocar as páginas dos tablets e telefones celulares. A partir dos três anos elas vão se tornando mais sociáveis, curtem muito seus brinquedos prediletos, que para elas tem vida.

A palavra predileta de grande número de crianças de dois anos é NÃO. É o início da autoafirmação, elas estão testando a própria vontade e a dos pais. De vez em quando elas necessitam ser obstinadas, isso faz parte do desenvolvimento. Não se deve fazer disso um problema. O melhor a fazer é distraí-las com outra coisa interessante, desviar sua atenção do foco da irritação ou da frustração.

A duração do interesse da criança por alguma atividade é muito curta. Ela só brincará por longo tempo se lhe derem uma bacia com água e areia ou barro.  Descer e subir em escadas ou coisas ajuda no desenvolvimento dos seus músculos maiores dos braços, pernas e tórax e do senso de equilíbrio.  Proporcionar passeios a pé, ao ar livre, junto à natureza, escalar árvores, ouvir o canto dos pássaros, ver voarem as borboletas e aves, observar o movimento das nuvens no céu, olhar o sol e, à noite, as estrelas e a lua, sentir a brisa do vento, as gotas da chuva, caminhar descalça na beira da praia, mar, rio ou córrego ou na grama orvalhada são experiências ricas de emoção.

Elas gostam de ouvir uma história que as fascina, várias vezes, até esgotarem a vontade, pois elas estão educando as emoções básicas, sentindo o que os personagens estão vivendo: surpresa, medo, tristeza, alegria, raiva, etc. O mesmo acontece com a audição e canto de cantigas  infantis e folclóricas.

Nesta fase brincar ou trabalhar com a mãe e o pai, aprender coisas com eles é fascinante. A curiosidade de conhecer o mundo é insaciável. Gostam de experimentar e fazer coisas novas, de rasgar, despedaçar e esmurrar e perguntar: porque isso, aquilo. Elas querem entender o mundo.

É o momento de ajuda-las a desenvolver a fé sincera, pura, orando com elas desde a mais tenra infância, falando em Deus, o “Papai do Céu”, em Jesus, no Anjo da Guarda.  Isto vai ajuda-las, no futuro, a não ter aflição exagerada, a depressão profunda, a provocarem autolesão, e a cultivarem a ideação suicida… A fé equipa e ilumina a mente com energia e força que a ajudarão a superar as situações difíceis que advirão.

O poeta João de Deus, no livro Antologia da Criança psicografado por Francisco Cândido Xavier, nos oferta a poesia Resposta de Mãe, que ilustra essa fase.

– Minha mãe, onde está Deus?

– Ora esta, minha filha,

Deus está na luz que brilha

Sobre a Terra, pelos Céus.

Permanece na alvorada,

No vento que embala os ninhos,

No canto dos passarinhos,

Na meiga rosa orvalhada.

Respira na água cantante

Da fonte que se desata,

No luar de leite e prata,

Está na estrela distante…

Vive no vale e na serra,

Onde mais? Como explicar-te?

Deus existe em toda a parte,

Em todo lugar da Terra…

– Ó mamãe! Como senti-lo,

Bondoso, sublime e forte?

Será preciso que a morte

Nos conduza ao céu tranquilo?

– Não, filhinha! Ouve a lição,

Guarda a fé com que te falo,

Só podemos encontrá-lo

No templo do coração.

As crianças de três a seis anos gostam de dramatizar, fingindo que são bichos ou coisas, e que já são adultas: motorista, professor, bombeiro, mamãe, papai, etc. e devem ser estimuladas para tal, tanto no lar como na escola infantil. Os fantoches são excelentes para as crianças representarem, elas também gostam de encenar as histórias ouvidas.

A linguagem simbólica da arte agiliza a sua imaginação, amplia seus limites intelectuais, ajuda a descambar para o sonho, a fantasia, para um outro mundo possível, apresentando novas possibilidades de ser e sentir.

A linguagem sensível ajuda a integrar as áreas do conhecimento, do intelecto, da motricidade e das emoções básicas. O contato com as emoções e o sentimento ofertam a possibilidade de autoconhecimento e conhecimento do outro. A atividade artística não é só um passatempo, uma fruição, é um tempo em que a criança passa consigo mesma, interage com o outro e com o mundo, contribuindo no seu desenvolvimento e oferecendo novas formas de significado para sua vida.

Quando a criança tem a oportunidade de ouvir histórias, desenhar, pintar, esculpir, dramatizar, cantar, dançar ou brincar espontaneamente e estar em contato com a natureza, ela está encontrando um sentido para sua vida, percebendo-se um ser integrado consigo, relacionado com o seu ambiente e os outros e com Deus.

Os pais e educadores precisam estar atentos às emoções das crianças. Ideal que elas sejam expressas e trabalhadas pelos adultos. A frustração e a raiva são inevitáveis quando a criança está se desenvolvendo. Ela necessita aprender a desabafar, externando a energia de sua raiva, agredindo e mordendo coisas e não pessoas.

Nas escolas infantis temos os “sacos de pancada”, os bonecos “João Bobo” ou “bode expiatório” sobre quem elas descarregam a raiva. Com eles a criança poderá desabafar sentimentos que devem ser externados sem prejudicar irmãos e colegas. Os sentimentos recalcados são causas de futuras perturbações emotivas.  

Sugestão de brincadeira, nesta linha, é a “Guerrinha de Jornais”: orientar que as crianças façam bolinhas de jornal amarrotados, imitando munição e construir trincheiras de papelão para brincarem de jogar as bolotas uns nos outros. Ninguém se machucará e muita agressividade será aliviada de forma alegre.

Outra atividade desestressante é jogar, com a criança, pedras dentro de um lago, rio, à beira mar ou acertar num alvo previamente colocado em um lugar para ser atingido, jogando para fora o que elas identificam com o medo, a raiva ou a tristeza.

O brinquedo é a mais alta fase do desenvolvimento infantil, cheio de pureza e espiritualidade. Proporciona alegria, liberdade, satisfação e paz com o mundo. A criança que brinca espontaneamente será um adulto harmonizado.

Nos primeiros sete anos de vida a criança fisicamente sofre grandes alterações e crescimento. O corpo vital da criança ainda é dependente da vitalidade da mãe. Época de predominância das doenças febris e infecciosas comuns da infância, que estimulam o amadurecimento do sistema imunológico e a individualização das proteínas da criança. A criança, por isso, precisa se sentir aninhada, querida, amada.  Vai aprender a falar, expressar suas emoções e sentimentos, pensar, brincar, imitar e deve acreditar que o mundo é bom. Que o bem sempre vence o mal, como nos contos de fada.

Pelos seis anos, o pensamento já está mais desenvolvido inicia-se a alfabetização e a socialização melhora. Ela já está apta a ler as informações do mundo que a cerca e decodificar o código do alfabeto.

Dos sete aos oitos anos as crianças manifestam muita energia são sensíveis às emoções e aos sentimentos alheios. Desenvolvem a conduta ética, usam regras. Já sabem obedecer quando reconhecem e aceitam a autoridade do adulto. Querem entender o mundo dos adultos e gostam de novos desafios.

A construção da identidade moral da personalidade e do caráter se dá, preferencialmente, até por volta dos oito anos, consolidando-se na adolescência, por isso a educação moral e emocional deve ser enfatizada por pais e educadores nestes anos iniciais da vida que vão deixarão suas marcas para sempre.

Dos nove aos dez anos elas têm consciência do que é certo ou errado e um elevado sentimento de ética. São automotivadas. Nessa fase ocorre rápido crescimento físico. Gostam de atividades físicas ao ar livre. São sensíveis emocionalmente e, se estimuladas, apresentam atitudes de altruísmo engajando-se em projetos sociais e ambientais edificantes.

Nós adultos, pais e educadores, encontramos em Jesus, o maior pedagogo da Humanidade, o modelo excelente de educador.    

Como Jesus educava?

– Conversando, dando atenção, abençoando, esclarecendo, nos informando que Deus é nosso Pai amoroso, que todos somos irmãos, sintetizando a Lei Divina em: “Amar a Deus sobre Todas as coisas e ao próximo como a si mesmo”. 

Jesus utilizava a linguagem simbólica da parábola para ilustrar e perpetuar seus ensinamentos. Tinha sempre com um relacionamento edificante, dando sentido à vida dos que o rodeavam, enunciando seus conceitos com amor energia como: “Seja o teu falar sim, sim; não, não”.  

A sua sala de aula era a Natureza: nos campos, caminhos, praças, no lar de Pedro, na praia, no monte, nos mostrando que a Natureza representa o livro aberto da sabedoria divina. Precisamos ensinar a criança a ler este livro, pois, em tudo que há vida, está escrita a lei de Deus e se pode perceber o verdadeiro sentido da mesma. Ensiná-la a se perceber como filha de Deus, integrante da Sua criação, sentir intensamente a vida que a rodeia, no lar, na escola, na natureza, na Sociedade, mas também sentir a sua transcendência, perceber a sua dimensão espiritual.  

Para educar temos que levar em consideração todas as dimensões da inteligência do educando: a intelectual, as inteligências múltiplas, a emocional, a moral e a espiritual.

No lar, na família, pela educação e princípios morais formamos o ser humano, o caráter da nossa criança; na escola, pela instrução, formamos o cidadão ecológico que irá contribuir na Sociedade, para melhorar a qualidade de vida pessoal dos demais grupos sociais em que se irá inserir e a conservar e preservar a natureza ajudando a tornar este mundo melhor.    

A ação transformadora da educação de nossas crianças é desafiadora.                  

Autora: Gladis Pedersen de Oliveira  

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