Você deve oferecer muitos acompanhamentos, e junto deles o famoso e nutritivo arroz com feijão. Ofereça até o ponto que não haja excessos e, sim, o equilíbrio!
Em tempos de insegurança alimentar, quando estamos diante do aumento desenfreado dos alimentos e temos nosso país novamente no mapa da fome, pensar num prato de feijão e arroz preparado no capricho pode dar água na boca. Isso se a pessoa que vai preparar a refeição estiver conseguindo custear o gás de cozinha, embora aqui no sul, devido às especificidades climáticas, muitos tenham a opção de cozinhar no fogão de lenha. Ultrapassadas as dificuldades do tipo de fogão, e tendo condições de cozinhar, é momento de dizer um sim para o arroz e feijão!
Porém, e ainda bem que o porém apareceu! Lembro de um relato feito por uma admirável colega de trabalho, que na função de gestora de uma escola, estava no refeitório quando observou que uma estudante não aceitou a merenda. Então, de forma afetuosa, uma grande virtude desta colega, perguntou o motivo pelo qual a menina não tinha provado a comida.
A resposta da criança, no primeiro momento, pode nos levar a um precipitado julgamento, mas calma! Ela disse que não queria comer porque era feijão e arroz. Ao escutar a resposta, minha colega perguntou se ela não gostava de feijão e arroz. Agora, a resposta nos faz compreender muita coisa! A estudante disse que na casa dela só tinha essa comida.
Pensem!
Como deve ser comer somente feijão e arroz, sendo que lhe eram ofertados no almoço, no jantar e no lanche escolar! Como deve se sentir uma pessoa que não tem a oportunidade de provar outros aromas e sabores, sabendo da infinidade de alimentos dispostos nas prateleiras de mercados, fruteiras, padarias? É justificável a sua recusa! É quase uma manifestação contra a desigualdade social. Assim como é triste a realidade atual, a qual milhares de pessoas não estão conseguindo variar a alimentação, ou pior, milhares nem conseguem comer o arroz com feijão e, se um prato surgisse diante de cada um, diriam sim!
Mas, não é a insegurança alimentar o cerne da minha reflexão, embora o arroz e feijão estejam nela. É que as expressões arroz e feijão são muito utilizadas no contexto educacional, e não é no refeitório, mas sim nas reuniões pedagógicas! E aí está o perigo! Arroz e feijão, NÃO! Vou tentar explicar.
É de conhecimento geral que o cenário pandêmico corroborou em sérios agravantes na educação. Com isso, também se acentua o movimento pedagógico que tenta incansavelmente recuperar a defasagem escolar. Até aqui, estamos de acordo!
O problema está no equívoco de se pensar que para a recuperação, devemos ter como cardápio principal o feijão com arroz, semelhante àquele que oferecem para a garota do relato nas diferentes refeições do dia, e ela acaba por rejeitar!
Ela não rejeita por querer, é por não aguentar! Quem aguenta essa pobreza de possibilidades, se os olhos estão diante de uma infinidade? Ressaltando: eu adoro feijão com arroz! E não estou dizendo, em hipótese alguma, que estes dois devem ser descartados do fazer pedagógico! Cuidado com a reduzida interpretação!
O que eu quero pontuar então?
Que muitas, mas muitas crianças só terão certas oportunidades na escola, que é um lugar das primeiras vezes do aprendiz. Que as primeiras vezes dos estudantes dependem da ação do professor. Este, por sua vez, não pode jamais, pensar que ensinar o básico, o “arroz com feijão” é suficiente! Neste caso, arroz com feijão, NÃO! Eles podem estar junto de outros elementos, nunca sozinhos. É muita pobreza ter somente eles!
Aqueles que desejam de fato alcançar propósitos vindouros, precisam imediatamente mexer no cardápio, começando pelo próprio! Pois chegar neste contexto histórico-social pensando que o mínimo é satisfatório, é sinal de excesso de feijão com arroz e carência de outros gostos e cheiros. Então, mesmo que isso custe mais caro, enriqueça o menu! Outra ressalva: Eu não estou dizendo para inserir mais do que já tem, pois temos que levar em conta que a sociedade é, por um lado de excessos e, por outro de carências!
Temos que cuidar/pesar tanto dos excessos quanto das carências. Usemos a balança!
Explicando de outro modo: Pense o que os estudantes têm em excesso. Agora pense no que lhes falta? Aqui você pensou feijão e arroz, garanto! Você deve oferecer muitos acompanhamentos, e junto deles o famoso e nutritivo arroz com feijão. Ofereça até o ponto que não haja excessos, e sim o equilíbrio! O risco está em você pender para um, ou para outro lado. A consequência será a recusa por parte do aprendiz; o sofrimento e o fracasso de ambos: educador e educando.
Em outras palavras: em meio restritivo (só com feijão e arroz), o aprendiz não se sente mobilizado, porque não é ativo de verdade; também não desenvolve autonomia e pensamento, uma vez que esses atributos dependem do que ele não tem: possibilidade de escolhas, de tomadas de decisões e elaboração de estratégias e pensamento a partir de oportunidades experienciais formativas. Aliás, será que estamos preparados para lidar com crianças ativas? Pensemos… Parece-me que é uma questão bastante instigante, merecedora de estudo, em momento oportuno.
O fato é que o educador precisa compreensão total sobre o seu menu. Ele deve ter um cardápio composto por variedades que vão além do feijão com arroz. Porque assim envolverá, mobilizará, motivará, sem apressar ou sufocar.
Já sabemos que os reflexos da pandemia não serão superados a curto prazo, mas sim a médio e longo. Assim, muita pressa pode atrapalhar! Eu gosto de escutar, de uma outra colega que admiro muito a seguinte colocação: Vamos com calma! Aqui não vamos fazer por fazer, vamos fazer bem feito. Quando assim o educador proceder, oferecendo cardápio amplo, rico de sabores e aromas, o aprendiz perceberá que está em companhia de alguém especial e se fartará com o banquete.
O aprendiz, ao receber como marca este tipo de educação, luta até certo ponto, para dar conta do que lhe é imposto, mas corre o risco da ruína. Como diz Dewey, metaforicamente, o aluno luta, mas acaba vencido diante do que a educação reivindica, pois morrem seus desejos, interesses e curiosidades. Leia mais: https://www.neipies.com/com-a-palavra-as-criancas/
A criança que não é ouvida termina se calando para o mundo. Deixar de opinar não é importante apenas para alegrar a criança, mas também para o desenvolvimento do seu pensamento cognitivo, a sua aprendizagem, o seu crescimento emocional.
O meu querido poeta Mario Quintana tem um poema belo intitulado “As falsas recordações” que nos diz “Se a gente pudesse escolher a infância que teria vivido, com enternecimento eu não recordaria agora aquele velho tio de perna de pau, que nunca existiu na família, e aquele arroio que nunca passou aos fundos do quintal, e onde íamos pescar e sestear nas tardes de verão, sob o zumbido inquietante dos besouros”.
Muitas crianças guardam dentro de si coisas falsas, ou seja, coisas que elas fingem se comportarem dos seus jeitos, do jeito que elas desejam para que os seus pequenos mundos se tornem melhores e com menos sofrimentos. Essas falsas coisas acabam se tornando companheiras das crianças e a gente nunca vai descobrir como elas são ou onde elas estão dentro da criança se não as ouvirmos, se não dermos atenção necessária às suas opiniões, aquilo que tentam nos dizer em tão poucas palavras.
Ser criança não é nada fácil. Cada vez mais vemos crianças sendo adultizadas cedo demais. Não sei se são as exigências do mundo contemporâneo ou se são os pais querendo se ver livres logo do mundo da infância que é considerado bobo demais por muitos. Tenho receio dessa adultização precoce.
Acho que a criança deve viver plenamente essa fase sendo criança de verdade e não se maquiando, pintando as unhas e até mesmo os cabelos ou usando sapatos de saltos altos. Penso que as culturas enlaçadas umas às outras propiciam esse amadurecimento precoce das crianças fazendo-as com que se tornem adultas antes mesmo de completarem nove ou doze anos de idade.
O que me intriga é que a criança pode pintar os cabelos e pode até mesmo arranjar um namoradinho, mas não pode opinar nos assuntos que lhe dizem respeito. São proibidas de tomarem decisões por si próprias e não podem fazer escolhas do que gostam ou não. Devem obedecer aos adultos sem questionamentos e muito menos fazerem birras porque não foram ouvidas.
Ser criança não é coisa fácil no mundo de hoje. São diversas as exigências da sociedade e das mídias, principalmente, o mercado econômico que aproveita essa adultização para oferecer cada vez mais produtos que ofertam promessas de belezas para os cabelos e para a proteção da pele ou até mesmo para ajuda do emagrecimento.
Ser criança em um mundo onde as pessoas não se ouvem mais está se tornando cada vez mais difícil.
No entanto, sempre foi assim com as crianças. Houve um tempo em que elas eram criadas longe dos adultos, largadas aos seus mestres que lhes ensinavam tudo o que precisavam saber sobre boas condutas e valores morais.
Na antiga Grécia, as crianças não podiam opinar. E se opinassem eram castigadas ou mesmo não eram ouvidas. Assim, em Platão na sua obra “A República” vemos que as crianças não têm vez, devem ser educadas para a arte das guerras e só entrarão em contato com a filosofia e demais artes na idade adulta.
Não costumamos perguntar às nossas crianças as suas opiniões sobre as coisas que fazemos, sobre uma decisão que precisamos tomar ou sobre um passeio que juntos faremos. Decidimos tudo como se fôssemos governos tiranos. As crianças, nossas súditas que só devem nos obedecer sem questões.
A opinião de uma criança deve ser respeitada em todos os sentidos, principalmente se importa a ela a decisão que será tomada por nós, adultos. Trocamos as crianças de escola, as afastamos dos seus amiguinhos, mudamos de endereço, compramos roupas para elas das cores que mais gostamos e dos modelos que mais achamos bonitos e nem procuramos saber as suas opiniões a respeito disso ou daquilo.
Silenciamos as nossas crianças, sem querermos. Não as permitimos que opinem, que falem, que gritem. Que digam o que desejam e mostrem através das suas palavras e gestos o que pensam sobre as suas vidas, os adultos, as coisas ao seu redor. Não deixamos que opinem sobre o que assistem na televisão ou veem nas redes sociais.
Para facilitar as nossas vidas na pressa do dia a dia simplesmente damos algo para a criança se distrair e esquecemos de colaborar com as suas opiniões. Deveríamos ouvir mais as crianças. Nos seus argumentos elas conseguem passar para nós como estão se sentindo diante das suas vivências e experiências, com elas descobrimos coisas maravilhosas que antes não conseguíamos enxergar que eram de outro jeito.
Por que não perguntamos a opinião das nossas crianças?
Temos medo de ouvi-las? Sim, muitas vezes as crianças são sinceras demais. Elas não usam máscaras ou dizem mentiras para não machucarem alguém. Quantas vezes a sua criança já lhe deixou em uma situação vexatória dizendo que a roupa do amigo era feia ou que o seu amigo estava ficando careca? Elas falam tudo o que pensam.
E nessa falar tudo o que pensam conseguem expressar as suas emoções e sentimentos. Através da opinião das crianças sabemos se estamos lhes dando a atenção necessária e os cuidados que precisam. Quando uma criança se sente ouvida ela sabe que pode confiar naquele adulto e passa a lhe contar tudo o que sente.
Se as crianças são levadas para fazerem as compras no supermercado elas devem poder opinar sobre alguns itens que a mamãe ou o papai não quer comprar, como também devem ter o direito de opinar sobre a roupinha que será comprada para ela. A criança tem o direito de dizer não e ser ouvida porque se recusa a aceitar tal coisa.
A opinião de uma criança é como uma caixinha de segredos que se abre quando a gente menos espera e toca uma canção que busca acolhimento e aprovação pelo seu comportamento. Aos pais cabe ouvir esta canção com os ouvidos bem atentos para que a criança continue opinando sem o risco de ser castigada ou receber críticas ao seu bom pensar que está se organizando no decorrer do seu crescimento.
Pode ser difícil para os pais permitirem que as crianças deem as suas opiniões nas diversas tarefas do dia a dia, mas é importante que elas cresçam sabendo das suas responsabilidades enquanto membros de uma sociedade com direitos e deveres. Elas precisam conhecer os seus limites, saberem os motivos de muitas coisas não poderem fazer, questionarem sobre o que as intrigam.
O ato de opinar ou argumentar com precisão desde a infância também ajuda a criança na sala de aula quando é convidada a responder sobre uma ou outra pergunta. Se em casa as suas opiniões são ouvidas, ela não temerá responder as questões da escola e nem a falar em público.
Muitas crianças se sentem tímidas e envergonhadas porque nunca foram ouvidas pelos seus pais, porque sempre que quiseram opinar foram silenciadas com “você é pequeno demais para saber disso” ou “quando você crescer eu explico”. Não! As crianças querem discutir, debater, conhecer agora, neste momento. Elas não têm tempo para esperar o crescer. Mais tarde terão outros questionamentos e novos posicionamentos.
Todo mundo tem o direito de opinar sobre alguma coisa que lhe incomoda. Não somos máquinas para aceitarmos tudo sem podermos dizer o que achamos. Assim são as crianças. Elas querem poder escolher o que vão comer, o que vão vestir, a escola onde vão estudar, a hora de fazer a lição de casa. Elas sempre vão ter argumentos para os seus quereres.
A criança que não é ouvida termina se calando para o mundo. Deixar de opinar não é importante apenas para alegrar a criança, mas também para o desenvolvimento do seu pensamento cognitivo, a sua aprendizagem, o seu crescimento emocional. Claro que muitos assuntos são apenas de adultos, mas se você permitiu que a criança ouvisse a sua conversa terá que aceitar a opinião dela.
Ignorar a opinião da criança pode ser traumático e influenciar bastante no seu amadurecimento emocional. Afinal, através das nossas opiniões passamos a ser conhecidos e aceitos nas rodas de conversas e nas redes sociais. É preciso que a criança saiba opinar em casa para depois ter coragem de opinar quando estiver com pessoas estranhas e não aceitar tudo o que querem lhe dizer como verdade.
A sua realidade pode ser diferente da que a criança pensa.
As opiniões podem divergir e, por isso, é bom que os pais sentem e conversem com as suas crianças sobre assuntos que elas trazem nas suas perguntas e as deixem opinar do jeito que pensarem abrindo caminhos para que cheguem a um bom pensar.
Toda opinião é válida mesmo a que você acha a mais bobinha. Aquela que para você não chega a lugar nenhum, é preciso ser validada. A criança não sabe o que é uma coisa boba ou tola. No seu pequeno mundo tudo o que lhe intriga merece ser discutido com quem entende para obter respostas satisfatórias.
Na nossa literatura está cheia de personagens que se comportam como alguns adultos, ou seja, não ouvem as opiniões das crianças porque são consideradas ingênuas. No lindo conto da escritora Ruth Rocha intitulado “O que os olhos não veem” o rei fica doente e não consegue ouvir a opinião de pessoas pequeninas e que falam baixinho, daí as pessoas usarem pernas de pau para ficarem grandes e poderem ser ouvidas pelo rei. Isso é o que acontece com as nossas crianças no mundo inteiro, parece que todos os adultos estão doentes iguais ao rei de Ruth Rocha.
Para conversar com uma criança, de igual para igual, você deve sentar-se ao seu lado ou se abaixar até o tamanho dela demonstrando sinal de respeito e educação. Assim, a criança se sentirá amada. Poderá com confiança e segurança dizer o que pensa a respeito de determinada coisa, falar à vontade com você, se expressar sem medo de ficar de castigo ou coisa parecida.
Ouvir com atenção e demonstrar interesse na opinião de uma criança faz todo o sentido para nós, adultos, que sabemos o respeito e cuidado que ela merece.
Não custa nada deixarmos os nossos afazeres de lado só um pouquinho para ouvirmos o que a criança pensa daquele vizinho que veio morar do lado há pouco tempo ou da roupa que vai vestir à noite para ir ao baile com os amiguinhos. Nessas conversas sempre descobrimos coisas que estavam lá nas profundezas do pequeno espírito da criança guardadas há algum tempo com receio de serem colocadas para foram e serem mal interpretadas.
Conhecemos os nossos amigos através das suas opiniões e, nos últimos tempos, com a chegada das redes sociais descobrimos que algumas pessoas que se diziam nossas amigas pensam completamente diferente de nós. Ficamos espantados com as suas opiniões publicadas para que todos possam ver. Não estão nem aí para o que os outros vão pensar. Querem é mais opinar. Falar. Como se opinar hoje em dia fosse a válvula de escape para tudo.
Neste segmento, estão as crianças preparadas para opinar sobre tudo o que lhes dizem respeito. Elas nunca param de pensar. Mesmo quando estão brincando sozinhas ficam ali buscando alguma forma de conversar com você sobre algo que não estão gostando ou até mesmo que gostariam que mudasse.
É necessário ouvir as opiniões das crianças para que elas cresçam com desenvoltura e sabendo que podem confiar em nós e em si mesmas não silenciando diante dos assuntos importantes que muitas vezes somos convidados a debater. O debate é uma ótima oportunidade para os professores ouvirem o que as crianças pensam sobre determinados temas.
Quando as opiniões das crianças forem respeitadas de verdade, tenho certeza de que muitas delas crescerão desinibidas e preparadas para enfrentar um mundo que exige cada vez mais criatividade e saberes que resolvam problemas rapidamente.
O raciocínio lógico precisa construir argumentos válidos, por isso o estudo da lógica é tão importante na sala de aula.
Se você passar a pedir mais a opinião da sua criança começará a perceber o quanto ela se sentirá confiante e feliz ao seu lado. Ela compensará essa atenção entregando-lhe os seus segredos, os seus medos e angústias diante do mundo e das coisas ao seu redor. A criança que é ouvida tende a ouvir também facilitando o seu ensino-aprendizagem.
Deixo vocês com os versos do poeta Peter Handke que nos diz “Quando a criança era criança, / andava balançando os braços, / queria que o riacho fosse um rio, / que o rio fosse uma torrente / e que essa poça fosse o mar.” E se a criança desejava tudo isso certamente ela tinha a sua opinião sobre o seu desejo e quem sabe um dia possamos descobrir através do diálogo o que exatamente as crianças pensam sobre nós e o mundo ao seu redor.
Não sei para você, mas para mim é importante saber o que uma criança pensa sobre mim até mesmo para que eu possa melhorar a cada dia ou continuar sendo este adulto que se importa com ela e que ama bastante, pois sem amor não podemos ficar perto de uma criança, pois o amor é que a faz crescer com sabedoria.
Sabedoria essa, tão necessária à filosofia dos gregos que aprendemos nas escolas e nas academias universitárias. Esta filosofia que eu tanto luto para chegar às escolas da educação infantil e fundamental porque se faz precisa e urgente uma vez que só se aprende a ler e a escrever bem quem tem argumentos e sabe opinar com respeito e segurança.
A cidade de Soledade, RS, faz sua adesão ao Movimento Cidades Educadoras em 2018. Desde então, e desde antes, vinha e vem consolidando uma abordagem, uma pedagogia que vai tornando a cidade um melhor lugar para se viver, a partir do reconhecimento dos diferentes sujeitos que a constituem e a partir de ações que promovem a inclusão, a cidadania, a cultura e o protagonismo dos cidadãos e cidadãs.
Soledade vem fazendo a experiência da Cidade Educadora com protagonismo da Secretaria Municipal de Educação, mas também buscando o envolvimento de outros setores e secretarias da Administração, pelo princípio da intersetorialidade.Nesta entrevista, Adria Brum de Azambuja, secretária de Educação, relata e exemplifica os desafios da adesão a este movimento e as estratégias diárias e cotidianas que permitem as vivências de cidadania e participação numa cidade educadora.
SITE NEIPIES: Em que contexto educacional a cidade de Soledade fez a sua adesão ao Movimento Cidades Educadoras?
Ádria Brum de Azambuja: Esse trabalho teve seu caminho iniciado com uma gestão municipal mais participativa e ações com o Programa Municipal de Formação Permanente dos Trabalhadores da Educação – PROFORMA, propondo reflexões sobre os anseios das escolas, bairros e da própria cidade. Salas temáticas reuniram professores e a comunidade escolar para pensar e promover ações práticas. Portanto, o ingresso da cidade na AICE, correu pela mobilização do SME em torno da práxis como núcleo fundante do oficio dos educadores, possibilitando a ressignificação da formação continuada dos professores alicerçada no diálogo problematizador, para pinçar do cotidiano da escola os elementos fundamentais implicados na construção de um currículo significativo que envolve os sujeitos enquanto agentes de transformação da realidade a sua volta. Esse processo estabeleceu novas formas de poder entre as escolas municipais e a comunidade local e global. A partir disso, os projetos educacionais construídos coletivamente passaram a discutir as possibilidades educadoras da cidade, seguindo os princípios da Carta das Cidades Educadoras.
Soledade foi a 16ª cidade brasileira e a 5ª no estado do Rio Grande do Sul a ingressar na Associação Internacional de Cidades Educadoras – AICE.
Por intermédio do Programa UniverCidade Educadora e Inteligente: Circulando Cidadania, desenvolvido pela Universidade de Passo Fundo – UPF, com o objetivo de aproximar a universidade das experiências das cidades educadoras e assessorar a difusão de práticas educativas inspiradas nos princípios da Carta de Barcelona, foi possível discutir as ações de gestão, potencializar e redefinir intervenções que congregam para a promoção do direito humano à cidade a todos os cidadãos e cidadãs.
SITE NEIPIES: O que, na sua visão, é essencial para que uma Cidade expresse e vivencie as intencionalidades e os princípios da Carta das Cidades Educadoras?
Ádria Brum de Azambuja: Uma Cidade Educadora não se limita a vivenciar os recursos pedagógicos somente nas escolas, mas se estende como agente educativo por todo seu território e a todos os seus cidadãos, é uma cidade que se relaciona com todo seu potencial estético, ambiental, de comunicação e criação, mediante o diálogo intersetorial com e para a cidade.
SITE NEIPIES: Como a secretaria Municipal de Educação participa e se mobiliza na concretização de ações educativas da Cidade Educadora?
Ádria Brum de Azambuja: O processo de gestão democrática participativo vivido no Sistema Municipal vem extrapolando os limites das escolas e da própria Secretaria de Educação, desafiando os sujeitos a entrelaçarem-se com a cidade e a participarem, responsavelmente, da gestão em outros setores da administração pública municipal. A participação intersetorial tem contribuído para a realização de projetos que favorecem o exercício da cidadania.
O projeto educacional vertente das ações de cidade educadora, traz na sua gênese a decisão política de materializar a gestão democrática assentada na participação dos diferentes atores sociais na elaboração e concretização de objetivos, metas e estratégias que desafiam os envolvidos a pensar a cidade na cidade, para a cidade e coma cidade.
Pensar a cidade na perspectiva educadora supera a ideia de mais um projeto coletivo ou uma temática participativa, mas configura-se numa intencionalidade política que demanda ações planejadas e articuladas a partir do processo educativo. Não é algo dado, não está pronto, não é tarefa fácil nem uma tarefa individual.
Conselho da Cidade Educadora de Soledade
SITE NEIPIES: Quais os critérios para definir se determinada ação ou projeto realizado pela Secretaria de Educação esteja associado e vinculado ao Projeto de Cidade Educadora?
Ádria Brum de Azambuja: A questão principal está relacionada a como esses projetos irão promover o desenvolvimento humano e social conferindo centralidade à educação como elemento norteador das ações e políticas de todas as áreas.
SITE NEIPIES: Como a administração municipal vem fazendo a discussão e implementação do Projeto Cidade Educadora envolvendo diferentes setores da administração e grupos sociais com representação na cidade?
Ádria Brum de Azambuja: Ainda em 2013 quando os ideais de uma gestão mais democrática foram assumidos pela administração municipal, teve início em Soledade uma nova configuração de cidade.
Uma das decisões da gestão, no ano de 2016, foi a aprovação da Lei Nº 3.812 de 03 de agosto, que dispões sobre a Gestão Democrática do Ensino Público Municipal, que expandiu o caminho à participação da comunidade escolar as decisões da escola.
Na busca por uma educação pública e de qualidade a gestão priorizou pela formação continuada dos trabalhadores da educação municipal, é necessário salientar que, esta ação foi o que tornou possível a ascensão de Soledade ao rol de cidades educadoras.
Neste sentido, os profissionais de educação tiveram a oportunidade de ampliar suas reflexões, dialogando a partir das contradições dialéticas do cotidiano escolar, sendo possível ampliar o olhar para outros segmentos da comunidade, iniciando assim um movimento que teve como princípio os ideais de justiça social e em trabalhar a cidade enquanto um espaço educador, valorizando o aprendizado vivencial e priorizando a formação de valores.
Nesse movimento, foram realizadas inúmeras práticas educativas e culturais difundidas e efetivadas em diferentes espaços, contribuindo para que, os ideais de cidade educadora fossem se corporificando e disseminando.
Desde o início do processo contou-se sempre com o apoio da Universidade de Passo Fundo – UPF, com a assessoria do Centro Regional de Educação – CRE, que estendeu a sua interlocução que já acontecia com a Secretaria Municipal de Educação e com os profissionais de educação, para os gestores municipais através da participação em eventos promovidos pelo Programa de extensão “UniverCidade Educadora”, que abordaram a temática de Cidades Educadoras e Inteligentes e com reuniões na prefeitura municipal com o objetivo de propiciar o desenvolvimento do município de Soledade.
A partir de janeiro de 2020, Soledade conta com a assessoria da professora Doutora Eliara Zavieruka Levinski. Essa assessoria envolve todos os gestores municipais, que reúnem-se mensalmente para reflexão e planejamento de práticas intersetoriais.
A partir do estudo processual envolvendo os gestores municipais, estamos constituindo uma gestão intersetorial com o objetivo de compreender e gestar Soledade em visão integrada das potencialidades, problemas e de suas soluções.
Ancorados no programa denominado “Viver bem, Viver em Soledade” efetivamos ações associadas a quatro projetos: Das decisões às ações, Viva a Cidade, Desenvolvimento integrado do campo, Soledade com o protagonismo dos jovens e das crianças. A organização das linhas de trabalho tendo como premissa a melhoria da qualidade de vida, com base no Plano de Governo, nos Princípios da carta de Cidade Educadora e na escuta dos sujeitos, possibilita uma postura interrogativa a respeito do projeto de cidade que queremos construir. Ao que vamos dizer sim e ao que vamos dizer não para garantir, coletivamente, o bem viver?
A gestão de uma cidade educadora deve, especialmente, corresponder aos verdadeiros interesses de seus cidadãos para que isso ocorra, é imprescindível que os processos de gestão sejam articulados de maneira participativa, o que só faz sentido quando esta participação ultrapassa os limites do monitoramento, da avaliação, da concordância ou da discordância, com meros “sim ou não” e é concretizada na justificativa consciente destes sujeitos.
SITE NEIPIES: Que metodologias participativas e que ações são utilizadas pela administração com vistas ao diálogo, ao reconhecimento dos sujeitos e ao protagonismo cidadão dos sujeitos e dos atores sociais?
Ádria Brum de Azambuja: Em Soledade, inúmeras práticas são efetivadas no cotidiano das relações entre os gestores municipais e seus cidadãos, comprometidos em estender e legitimar por meio da mediação e do diálogo a participação e todos no processo de formação das decisões políticas. Para isso, somam-se aos Conselhos, às ouvidorias, às consultas públicas, às pesquisas de opinião, mecanismos tradicionalmente já utilizados no fortalecimento da gestão participativa, outros, como; o Projeto Prefeitura no Bairro/Prefeitura no Interior, Café com a Prefeita, Rodas de Conversas. São projetos com ênfase na escuta ativa das demandas emergentes das necessidades das comunidades, sem intermediários, estabelecendo um diálogo franco entre os gestores municipais e seus cidadãos.
Prefeita de Soledade em atividades participativas com a população.
Para os sujeitos do processo participativo, romper com o silenciamento e anunciar a sua palavra, significa emancipar-se.
A gestão municipal ao criar condições de efetiva participação, estabelece um clima favorável a fala e a escuta, construindo uma relação de cumplicidade e pertencimento fundamental para o protagonismo dos sujeitos alicerçado na responsabilidade em dinamizar o que foi decidido.
A palavra diálogo significa falar de lugares diferentes, endereço de contradições, respeito e humildade. Não é um bate – papo, nem ocorre no espontaneísmo.
Outras práticas participativas foram gestadas e experienciadas nas escolas municipais de Soledade como a aprovação da Lei Nº 3.812, pensada e intencionada sob a interlocução e mediação da UPF, através da reflexão e na formação ativa dos profissionais do Sistema Municipal de Ensino. Estas práticas ultrapassaram os limites da formalidade, fomentando processos não só pedagógicos e culturais ancorados na construção do conhecimento e expandidos nas relações sociais mais amplas, mas com foco nos saberes comunitários, no território do vir a ser com e na cidade. Esta prática pode ser vivenciada fortemente na Feira do Livro de Soledade que acontece anualmente, no largo da matriz, instaurada na apropriação das diversas linguagens. É campo efervescente de conhecimento e de troca entre os diferentes sujeitos, arraigados não só dos saberes científicos, mas também de saberes construído na práxis cotidiana dos indivíduos.
SITE NEIPIES: Qual é a importância das perguntas: O que temos? O que queremos? O que precisamos? Para a definição e encaminhamento das demandas da comunidade?
Ádria Brum de Azambuja: Quando refletimos sobre essas questões, somos indiretamente conduzidos a reconhecer nossas potencialidades, para a partir daí admitirmos que nem sempre o que queremos é o que realmente precisamos. Reafirma o pertencimento e o reconhecimento dos sujeitos do território e descortina suas relações com o local onde vivem.
SITE NEIPIES: Na sua percepção, como os habitantes da cidade já reconhecem e vivem sob a regência das pedagogias dialógicas e humanizadoras?
Ádria Brum de Azambuja: Quando a gestão municipal cria condições de efetiva participação, e estabelece um clima favorável de fala e de escuta, constrói uma relação de cumplicidade e pertencimento. Nesse sentido, os cidadãos são envolvidos de tal forma nesse processo participativo que rompem com o silenciamento ao anunciar a sua palavra, enquanto protagonistas das decisões com e para a cidade. Reconhecemos nesse movimento formativo do próprio processo que o mesmo ainda é embrionário e que preferimos ações consistentes, densa e com tendências de longevidade.
Pelo diálogo e participação os sujeitos desenham um projeto coletivo de cidade que vem se reconhecendo educadora, porque ao educar se, educa!
SITE NEIPIES: Uma mensagem final aos que acreditam nos ideais das Cidades Educadoras.
Ádria Brum de Azambuja: As experiências locais mostram o quanto é possível experienciar os processos democráticos e participativos mesmo diante de cenários nacionais e internacionais que negam e confundem o sentido dos processos democráticos. Estamos aprendendo o quanto é possível viver princípios éticos e morais alicerçados no diálogo e na participação dos sujeitos. Os desafios são grandes e as possibilidades também.
Dirigentes do CMP Sindicato de Passo Fundo visitaram a Secretária Ádria Brum de Azambuja durante o mês de junho 2022. Além de conhecer a experiência da Cidade Educadora Soledade, convidaram a Secretária para relatar a experiência desta cidade no VII Congresso Municipal dos Professores e Professoras, que ocorrerá no dia 23/08/2022.
O aumento expressivo na procura por medicamentos ou por psicoterapias também caracterizaram este período recente, uma vez que crises de ansiedade, stress, depressão atingiram a muito mais pessoas e obrigando-as a que buscassem ajuda.
“Já perdi a fome, a vontade de viver Já perdi o mundo e um motivo pra morrer Não é a tristeza que me mata Nem a alegria que me faz viver É apenas um vazio… (Um vazio) que me deixa assim. Longe de todos e até de mim.” (Mary Rowsten)
Quando o tema é depressão, tem sido uma constante nos resultados de pesquisas na área da saúde a constatação do aumento da incidência de casos: a cada levantamento os dados apontam que mais e mais pessoas são acometidas por este mal. Só que, desta vez, chama a atenção o fato de que o aumento se deu em todas as faixas etárias; depressão não é só mais uma doença típica de adultos mais velhos ou de idosos, há também uma expressiva elevação de casos na faixa etária dos 18 aos 34 anos de idade.
A Pesquisa Nacional de Saúde traz dados antes e pós pandemia, e, muito embora a depressão tenha sua origem multifatorial, não há dúvidas de que o Covid-19 contribuiu para o aumento do número de casos.
Durante a pandemia, inicialmente, havia o medo de morte ante a indisponibilidade de atendimento médico a quem necessitasse, depois, vieram as ocorrências das mortes de familiares e de amigos, as perdas econômicas com o desemprego e/ou diminuição da renda e outras tantas mazelas.
O aumento expressivo na procura por medicamentos ou por psicoterapias também caracterizaram este período, uma vez que crises de ansiedade, stress, depressão atingiram a muito mais pessoas e obrigando-as a que buscassem ajuda.
A luz no fim do túnel é a esperança de que, assim como as grandes recessões econômicas ou as guerras que já assolaram a humanidade, o quadro pandêmico vá passar em breve.
Suas marcas deixarão em algumas pessoas cicatrizes profundas pelas perdas que causaram, e, nem mesmo os que passaram incólumes ao vírus estarão livres de suas consequências sociais e econômicas. O que precisamos é ter disposição para seguirmos em frente.
Tenhamos em mente – em contraponto à citação no subtítulo – que o vazio existencial que poderia nos levar a um quadro depressivo pode ser evitado mediante alguns esforços, pois, se preenchermos nossas vidas com atitudes amorosas, de atenção, de escuta, de colaboração, não estaremos sozinhos nesta caminhada. Alie-se a isso uma reflexão sobre os erros que cometemos e o que poderíamos fazer para repará-los e teremos ótimos ingredientes para superarmos esta reta final de pandemia.
Assista: A médica psiquiatra Dra Ana Beatriz Barbosa Silva fala sobre depressão no programa Sem Censura. Depressão é tema do livro “Mentes Depressivas: as três dimensões da doença do século”, de sua autoria. Programa: Sem Censura – TV Brasil. https://youtu.be/xxzY1CrgjGU?t=458
Israel Kujawa pauta sua trajetória e inserção social a partir do seu trabalho na educação, como professor da educação básica e do ensino superior, mas sempre associando as mesmas com as preocupações da realidade social na qual toda a sociedade está inserida.
Declara-se um humanista, pregando a necessidade de uma evolução humana e social, através da educação. Como mesmo afirma, “sou um defensor convicto da educação de qualidade, mas não existe educação de qualidade separada do social e do funcionamento institucional”.
Mais recentemente, por acreditar que a solução dos problemas sociais é complexa e precisa de ações políticas e de políticas públicas, Kujawa também desafiou-se a participar mais ativamente da política partidária, concorrendo a uma vaga de vereador na cidade de Passo Fundo, obtendo mais de 500 votos. Através de um sistema de rodízio do seu partido, o PT (Partido dos Trabalhadores), junto aos três suplentes de maior representatividade e votação, o PT (Partido dos Trabalhadores), assumiu a vereança por um mês, em junho de 2022. A vereadora eleita pelo PT na cidade é Eva Valéria Lorenzato.
Durante este breve período na Câmara de Vereadores de Passo Fundo, Israel Kujawa fez a sua experiência como parlamentar. Nesta entrevista, conheça um pouco mais sobre ele e sobre sua trajetória por ele mesmo.
SITE NEIPIES: Conte-nos, brevemente, um pouco mais de tua trajetória de professor sempre ligada com as questões da realidade social em Passo Fundo.
Professor Israel Kujawa: Minha trajetória como professor tem várias etapas. Quando me formei em filosofia no ano 1992, tive uma certa dificuldade em me seguir na atividade profissional. Em 1995 entrei, via concurso, na rede pública estadual. Antes disso já tive uma experiência nos anos de 1993 e 1994, como professor num curso de graduação em filosofia.
Desde que comecei minha carreira profissional sempre priorizei espaços de estudo, fiz uma primeira especialização em filosofia, uma segunda especialização em linguística aplicada ao ensino da língua estrangeira.
Uma segunda etapa, está associada com experiências de gestão e gestão pedagógica na Educação de Adultos (extinto NEEJA) e uma atividade de assessoria pedagógica em educação popular. O mestrado em educação e a vinculação no ensino superior, como professor num curso de psicologia, representam uma outra etapa importante que me proporcionaram o doutorado e pós doutorado em um ciclo acadêmico que agregou muito na minha trajetória. Paralelamente, no final da década passada e início dessa, acumulei algumas experiências de gestão em secretarias municipais da habitação e do planejamento. Em todas as etapas orientei minha prática pedagógica aproximando e relacionando o individual ou social e o institucional.
SITE NEIPIES: Como e porque a política te cativa e te motiva para as ações cotidianas e de representação social e em defesa da própria educação?
Professor Israel Kujawa: A realização do doutorado em Psicologia Social Institucional me proporcionou um bom entendimento sobre o funcionamento das instituições. Nas minhas experiências e leituras sobre as relações entre os indivíduos e as instituições, aprendi que as instituições funcionam mais para auto perpetuação do que para atender as pessoas. Avalio que essa percepção me deu condições de atuação mais consciente e eficaz nos espaços institucionais. Sou um defensor convicto da educação de qualidade, mas não existe educação de qualidade separada do social e do funcionamento institucional.
SITE NEIPIES: Que importância teve o rodízio que o PT realizou em 2022 com os três suplentes de vereadores assumindo um mês de mandato parlamentar na Câmara de Vereadores de Passo?
Professor Israel Kujawa: O conceito de democracia, construído pelos gregos passou por experiências de evolução significativa. Por outro lado, experimentamos no século 20, amargos retrocessos com as ditaduras, impulsionadas pelo fascismo e materializadas no nazismo e no stalinismo.
A vida nos ensina que não somos nada sozinhos.A ocupação de espaços institucionais decorre de movimentos e atuações coletivas, por isto é justo que os espaços sejam democraticamente compartilhados. Nenhum vereador se elege apenas com seus votos individuais mas com a soma dos votos dos candidatos do seu partido. Deste modo, considero extremamente adequado a rotatividade entre os candidatos mais representativos.
SITE NEIPIES: O seu slogan como candidato à vereador foi: “quem é da educação, sabe seu papel. Esta é a razão pra votar no Israel”. Como traduziu esta ideia na atuação parlamentar neste mês de junho de 2022?
Professor Israel Kujawa: Gosto de me apresentar como um professor que decidiu ocupar os espaços institucionais da política para defender a educação. Ao sermos informados da oportunidade de ocupar a função de vereador por um mês, procuramos nos preparar com uma imersão na rotina regimental e no funcionamento da Câmara de Vereadores. O estudo do funcionamento da Câmara de Vereadores nos apresentou as atuações possíveis, as ações e os espaços prioritários a serem ocupados.
Em sintonia com a nossa trajetória e proposta do movimento iniciado em 2020 orientamos a nossa atuação pela narrativa que associa educação com o básico material como alimentação com habitação e com saúde. Um recorte central foi a cultura e o comportamento dos passofundenses em relação aos resíduos que individualmente produzimos. Os resíduos são fontes de renda e podem contribuir para a melhoria da qualidade de vida e no atendimento das necessidades básicas de milhares de moradores do nosso município. Esta constatação informando que 150 toneladas de resíduos são produzidos e não reciclados, significa renda desperdiçada.
Conversamos ainda com as lideranças sociais e as instituições ambientais que têm trajetória na educação ambiental. Dialogamos com diversos secretários, educação, habitação, obras e meio ambiente apresentando indicativos concretos para darmos alguns passos na superação dos desperdícios e no atendimento do básico para as pessoas que passam por necessidades.
SITE NEIPIES: Qual foi a importância do reconhecimento ao trabalho social da Cáritas Arquidiocesana de Passo Fundo em Sessão Solene realizada no dia 21 de junho de 2022?
Professor Israel Kujawa: Ao dialogarmos com as cooperativas de recicladores, que fazem um trabalho digno e extremamente significativo do ponto de vista pedagógico e material, percebemos que a Cáritas foi uma das grandes propulsoras destas iniciativas. Como professor, como pai e liderança social, me sinto desafiado a pensar e propor caminhos para a melhoria da qualidade de vida. Com 60 anos de atuação, a Cáritas se apresenta como a principal instituição que atua nesse recorte e apontar caminhos para que os cidadãos conquistem o básico e construam de forma comunitária a melhoria da sua das suas condições de vida.
SITE NEIPIES: Quais foram as prioridades e iniciativas neste mandato parlamentar de um mês?
Professor Israel Kujawa: Revisitamos as ocupações e conversamos com lideranças, intermediando demandas das mesmas com o poder público municipal. Revisitamos e intermediamos as demandas das cooperativas de recicladores. Escutamos e nos apropriamos da trajetória de atuação das entidades ambientais e assistenciais do município. Dialogamos com os principais secretários municipais intermediando as demandas recebidas. Apresentamos e aprovamos na Câmara de Vereadores indicativos para que o executivo atualize o Plano Municipal de Gestão dos resíduos sólidos e o Plano Municipal de Educação.
SITE NEIPIES: Na sua visão, por que é importante votarmos em representantes dos professores e professoras no legislativo (Câmaras de Vereadores, Assembléia Legislativa e Câmara dos Deputados)?
Professor Israel Kujawa: Nosso país está afetado por retrocessos no conjunto das políticas públicas voltadas para as camadas sociais com mais necessidade material. Nosso país está afetado por retrocessos nas políticas públicas de educação e na desvalorização dos seus profissionais, as instituições educacionais sofreram um processo de desqualificação. O melhor caminho para nos recuperarmos deste retrocesso passa pela participação na política com ação dos sujeitos, diretamente envolvidos com a temática, não apenas de atores políticos que não tem qualificação nem vivência na educação.
SITE NEIPIES: Qual é a importância de tua pré-candidatura a deputado federal para a cidade de Passo Fundo e para toda a nossa região?
Professor Israel Kujawa: A democracia do nosso país está fragilizada. O aperfeiçoamento da mesma passa por uma evolução na representatividade. A crise de lideranças qualificadas, com vínculo social regional compromete a representatividade e a democracia. A nossa trajetória com mais de três décadas de atuação social e educacional, em dezenas de escolas de educação básica e ensino superior nos credencia como uma opção para qualificar a representatividade regional.
SITE NEIPIES: Que mensagem deixas a todos os cidadãos e cidadãs da cidade de Passo Fundo e de toda região?
Professor Israel Kujawa: Me apresento como uma pessoa orientada pela esperança, pelo otimismo e pelo entusiasmo. Estou certo que nosso poder individual de mudança das condições materiais é pequeno. Estou certo, também, que o social não é natural, mas construído pela ação humana. Disponibilizo, para o conjunto da comunidade regional, uma trajetória que protagonizou movimentos com construções sociais, institucionais e comunitárias. Aproveito o espaço para sugerir que você, leitor ou leitora desta matéria, se engaje em nosso movimento ou em movimento para qualificar a representatividade política, contribuindo para a evolução humana e social por meio da educação.
Baseada na cultura dos povos nativos e envolvendo aspectos históricos, ambientais e até mesmo místicos, a história narra a saga de uma mãe desconsolada pela fuga de seu filho e de como a sua dor se transforma em vida, gerando uma fonte de água.
Resgatar, recontar, relembrar. É com esse intento que nasceu o projeto A lenda da mãe preta: resgate de uma Passo Fundo viva, pelo escritor e contador de histórias Gabito. A ideia surgiu de um outro projeto, intitulado Conta Gaúcho, que está levando a escolas municipais contações de histórias e exposição de artes visuais com temática regionalista. Como a lenda da mãe preta está no repertório dessas apresentações, vislumbrou-se a possibilidade de publicá-la em livro. Desafio proposto, desafio cumprido.
Considerada a narrativa popular mais conhecida e significativa de Passo Fundo, a lenda da mãe preta é considerada um patrimônio local. Baseada na cultura dos povos nativos e envolvendo aspectos históricos, ambientais e até mesmo místicos, a história narra a saga de uma mãe desconsolada pela fuga de seu filho e de como a sua dor se transforma em vida, gerando uma fonte de água. Tão significativa é a sua presença no folclore passo-fundense, que foi edificada uma praça em sua homenagem.
Nesse sentido, no ano de 2021, o projeto de Gabito foi contemplado com recursos do 6º Prêmio Funcultura, promovido pela Secretaria Municipal de Cultura, tornando possível a publicação do livro.
O processo de edição da obra contou com um competente time, tendo a artista Gabrielly Paz nas ilustrações, a professora Daniela Bettin na revisão, a designer Aline Fochi na diagramação e a impressão dos livros ficou a cargo da Editora Berthier. A tiragem terá sua distribuição dividida em duas partes: metade dos livros será entregue gratuitamente em escolas municipais, a fim de fomentar o conhecimento sobre a própria identidade cultural nos espaços educacionais e a outra metade está sendo comercializada ao público em geral.
No último dia 25/06 ocorreu o lançamento do livro A lenda da mãe preta, na Delta Livraria do Passo Fundo Shopping. Reunindo amigos e outros leitores, o escritor Gabito conversou com o público sobre o processo de criação da obra, contou histórias e deu autógrafos.
Contando com a participação da ilustradora Gabrielly Paz e da musicista Luiza S. Gomide, que abrilhantou o evento com uma apresentação ao violino, o lançamento proporcionou uma tarde de emoção e confraternização entre apaixonados pela literatura. O evento foi a primeira iniciativa de divulgação do livro e do projeto.
Durante o ano de 2022 serão realizadas outras ações desse cunho, em parceria com as mais variadas instituições, com o objetivo de tornar possível o resgate e a valorização do folclore de Passo Fundo.
Quem deseja adquirir exemplares do livro pode entrar diretamente em contato com o autor Gabito, pelo número (54) 9 8127 2895 ou @gabito.prof (Instagram), ou comprá-lo diretamente na Delta Livraria do Passo Fundo Shopping.
Com a proximidade das eleições, candidatos desprovidos de qualquer programa de governo que vise o bem-estar da população recorrem a expedientes nada louváveis para atrair votos.
Dentre os expedientes utilizados, estão as pautas de costume que abordam desde assuntos relativos à sexualidade, passando pelo aborto e pelas drogas. Sem dúvida, o mais usado para aterrorizar as pessoas e convencê-las a confiar-lhes seus votos está a tal “ideologia de gênero.”
Pastores transformados em cabos eleitorais vociferam de seus púlpitos, anunciando a sórdida tentativa dos partidos de esquerda em sexualizar nossas crianças, com a intenção de transforma-las em gays, e assim, destruir as famílias, impedindo-as de se perpetuar. Por mais absurda que seja esta argumentação estapafúrdia, ela tem sido a locomotiva de boa parte da propaganda de candidaturas comprometidas com políticas que visam a supressão de direitos da classe trabalhadora e de direitos civis de minorias historicamente oprimidas.
Não existe esta tal “ideologia de gênero”, e sim uma educação que aborda questões relativas à sexualidade com o objetivo de prevenir o abuso infantil e a disseminação de preconceitos.
Longe de ser uma doutrinação visando converter as crianças à homossexualidade (como se isso fosse possível!), a educação para a diversidade tem como objetivo criar condições favoráveis no ambiente escolar para que professores e alunos possam aprender e ensinar o convívio com as diferenças, combatendo assim a discriminação, o preconceito, a violência de gênero (contra a mulher, o homossexual e o transexual).
A escola deve prover um espaço aberto à reflexão e ao acolhimento dos alunos em sua individualidade, garantindo-lhes a liberdade de expressão. Para tal, deve-se fomentar debates mais aprofundados sobre as questões de gênero e sexualidade, com disciplinas que tratem especificamente do tema.
Os pais devem ficar despreocupados. Nenhum filho hétero vai voltar para casa homossexual. Mas certamente vai enxergar seus colegas homossexuais sem as lentes do preconceito que, infelizmente, muitas vezes receberam na educação provida em seu próprio lar.
O ambiente escolar costuma ser cruel com os diferentes. Por isso, acredito que cabe aos professores trabalhar para atenuar este tipo de comportamento.
Tempos atrás, um menino de apenas doze anos, colega de algumas crianças que frequentavam nossa igreja, suicidou-se tomando chumbinho e sufocando-se com um saco plástico, por não suportar o bullying sofrido na escola. Não se trata de um caso isolado, mas de um fato cada vez mais frequente, apesar de nem sempre ter a devida cobertura midiática.
Raramente os pais tomam conhecimento do que acontece na escola. E às vezes, mesmo sabendo, não tomam qualquer providência, seja por sentirem-se impotentes, ou simplesmente por não se importarem. Por estas e outras, sou 100% a favor da proposta da educação para a diversidade. Não se trata de ‘ideologia de gênero’, mas de educação, e, portanto, deve ser discutido no ambiente escolar.
Outra razão para que as escolas ofereçam educação sexual é a prevenção de abusos sexuais. O abuso sexual de crianças e adolescentes geralmente é cometido por uma pessoa de confiança da vítima, como um parente próximo. Há abuso mesmo quando não se tem o ato sexual consumado. Expor a criança a carícias impróprias ou a pornografia, ou se exibir para ela, também é considerado abuso sexual.
Uma educação sexual escolar que respeite o desenvolvimento físico, psicológico, afetivo, cognitivo e, sobretudo, sexual de uma criança oferece ferramentas para diagnosticar possíveis abusos, incentivando a denúncia com o objetivo de interrompê-los.
A recusa por parte de algumas instituições em abordar o tema que ainda é visto como tabu, ou de denunciar às autoridades casos de violência sexual, tem sido um fator facilitador para os abusadores. Estes deveriam ser os únicos a se sentirem incomodados com a educação sexual das crianças na escola. Está comprovado que a educação promove o adiamento da iniciação sexual, e, consequentemente, previne DST, gravidez indesejada e, por conseguinte, coíbe o aborto.
Os que se opõem a educação sexual nas escolas deveriam considerar que seus filhos estão sendo bombardeados por informações erradas sobre sexo, seja através da televisão, da internet ou de propagandas.
Uma das formas de prevenção é ensinar as crianças com abordagens apropriadas para cada faixa etária, conceitos de autoproteção, consentimento, integridade corporal, sentimentos e a diferença entre toques agradáveis e carinhosos, e toques invasivos, erotizados e desconfortáveis, aumentando as chances de proteger crianças e adolescentes de possíveis violações.
É importante falar, por exemplo, em quais partes do corpo da criança qualquer pessoa pode tocar e em quais partes não podem, mesmo por outras crianças. Por exemplo, tocar na cabeça, no ombro, no braço geralmente não oferece qualquer ameaça. Mas elas precisam entender que outra pessoa não pode tocar em suas partes íntimas, seja adulta ou criança.
É imprescindível que se ensine às crianças a não permitir maior intimidade com determinadas pessoas. E assim, elas se percebem empoderadas, aptas a dizer não e a fugir da situação. Geralmente, abusadores sabem como conquistar as crianças paulatinamente. Em sua ingenuidade, a criança pode permitir o abuso por receio, medo ou por engano.
Os paladinos da moral e dos bons costumes atacam mais uma vez. Segundo eles, é a família tradicional que está sob um acirrado ataque daqueles que almejam destruí-la, impondo à sociedade sua nefasta agenda, cujo objetivo principal seria a implantação de uma espécie de ditadura gay. O que seria, então, uma família ideal? De onde buscaríamos um modelo perfeito? Leia mais: https://www.neipies.com/em-favor-da-familia-qual-a-humana-pode-ser/
Mais do que ter respostas prontas às crianças precisamos saber como lidar com as suas perguntas. Muitas vezes elas são tão difíceis de serem respondidas por nós que não sabemos nem como orientá-las a procurarem as suas próprias respostas.
No seu belo poema “Cantiga quase de roda” Thiago de Mello nos diz: “na roda do mundo /lá vai o menino. O mundo é tão grande /e os homens tão sós. / De pena, o menino começa a cantar. / (Cantigas afastam as coisas escuras.)”.
Que as nossas crianças nunca se sintam sozinhas no mundo ou mesmo em si próprias, pois com a companhia dos pais e das pessoas que as amam se sentirão seguras para fazerem perguntas e descobrirem os caminhos das respostas através de um mundo imaginário povoado por elementos que lhes sejam conhecidos ou criados a partir da realidade experienciada.
Toda criança gosta de fazer perguntas, de saber das coisas ao seu redor e até mesmo de si.
As crianças são cheias de dúvidas porque os seus pequenos mundos são muitas vezes incompreensivos e povoados por elementos que elas ainda não conhecem, que foram colocados lá por nós, adultos, que temos a mania de darmos ordens a elas. Sim, parece que as crianças são submissas aos adultos. Têm que fazer tudo o que mandamos, nos obedecer, não questionar as nossas ordens e muito menos reclamar senão se torna chata e birrenta como vemos muitas pessoas grandes dizerem por aí. Criança que pergunta demais incomoda, assusta, espanta, perturba o adulto que não pode perder tempo com bobagens.
Deixamos as nossas crianças a mercê de estranhos nas redes sociais, aos cuidados de pessoas que contratamos para ficarem com elas enquanto trabalhamos ou entregues aos seus professores. Não dedicamos mais tempo para os nossos filhos porque estamos abarrotados de trabalho e precisamos cada vez mais trabalhar e trabalhar.
Já não temos mais tempo para um lazer com as nossas crianças, para escutarmos as suas conversas que são tão bonitas e encantadoras. Estamos apressados para tudo. Temos pressa para o amanhã e estamos sempre atrás de um novo amanhã. Corremos como se fôssemos animais em busca de uma presa que não pode ser perdida, o trabalho.
Como consequência dessa nossa pressa, não podemos perder tempo com as perguntas das nossas crianças e respondemos para elas qualquer coisa que vem às nossas cabeças. Não! Não façamos isso nunca mais!
Deixemos que as nossas crianças descubram as suas próprias respostas.
Façamos como Sócrates fazia com os seus jovens alunos nas praças públicas de Atenas na antiga Grécia, ou seja, deixemos que as crianças descubram novas questões em cima das que elas nos perguntarem. A descoberta de uma resposta por si mesma incentiva a criança na prática da investigação e do pensamento crítico e reflexivo.
Quando a criança descobre as suas próprias respostas ela amadurece no seu pensar, povoa o seu mundo com elementos que serão escolhidos a partir das suas experiências e sente-se à vontade para opinar e fazer escolhas, mesmo as mais difíceis.
A criança que aprende a buscar as suas próprias respostas está sempre pronta para conversar sobre as suas emoções e falar do que sente e do que precisa quando é interrogada ou quando lhe acontece algo do qual não gostou.
Não seja o pai ou a mãe sabe tudo. Espere a criança processar a sua pergunta, experienciar o momento da sua questão consigo mesma, fazer-se silêncio por fora enquanto por dentro uma outra grita e busca a sua própria resposta seja nos seus livros paradidáticos seja nos seus brinquedos ou com o coleguinha.
Você sabe o quanto é maravilhoso descobrir algo com os nossos próprios esforços. Assim também se sente a criança que descobre uma resposta para algo que lhe intrigava.
Mais do que ter respostas prontas às crianças precisamos saber como lidar com as suas perguntas. Muitas vezes elas são tão difíceis de serem respondidas por nós que não sabemos nem como orientá-las a procurarem as suas próprias respostas. Ficamos intrigados, aborrecidos e decepcionados conosco quando não sabemos ajudar as nossas crianças. Mas, isso é o importante no processo que envolve pais, professores, crianças e o mundo de possibilidades das questões que elas trazem dentro de si.
Conforme a psicanalista Elisabeth Roudinesco, a curiosidade deve ser abraçada pelos adultos, pois respondendo às perguntas das crianças, se cria uma relação de transparência e honestidade, e também se estimula a sede por conhecimento. Assista:https://youtu.be/7L2GYaEk83k?t=66
Quando não soubermos dizer as respostas, pelo menos abrirmos caminhos junto com a criança para que possamos descobrir a resposta através de um diálogo intrigante, curioso e lúdico. Que a criança possa descobrir a resposta junto conosco através do seu bem viver consigo e com o mundo ao seu redor brincando e fazendo o que gosta o que sempre virá a ser bom para ela e que possa decidir o que é ser bom para si.
A criança curiosa está sempre atenta a tudo ao seu redor.
Não é que ela esteja se envolvendo com assuntos de adultos, ou esteja crescendo rápido demais. Ela está na sua idade ideal. Tudo nela está em ordem. Ela só apresenta mais curiosidade diante das outras e isso também é normal. Essa criança é mais observadora, mais criteriosa nas suas decisões e escolhas, mais crítica e mais reflexiva quando se trata de tomadas de decisões que vão modificar o seu viver.
Muitos pais e professores pensam que as crianças são bobinhas e tolas. As crianças do mundo contemporâneo não se iludem mais com lobos maus ou branca de neve. Elas com poucos meses de idade estão assistindo televisão e descobrindo que podem gritar além de chorar. São crianças que logo vão começar a crescer e ir atrás de um mundo onde o consumo e as mídias estão cada vez mais sendo atrativos para elas. Os diversos jogos eletrônicos educativos disponíveis nos celulares despertam a criança para questões que antes deles não eram possíveis pensarmos.
Vivemos uma era em que a tecnologia da informação é a terceira pessoa mais próxima da criança depois dos pais.
Não podemos deixar as nossas crianças sozinhas em lugar nenhum. Além de correrem o risco de se machucarem, ainda podem sofrer violências com estranhos. Precisamos ensinar as nossas crianças a darem respostas para esses estranhos que aparecem nas redes sociais, no caminho da escola ou como pessoas boazinhas, muitas vezes, no seio da própria família.
A criança deve sempre saber a verdade sobre as coisas.
Claro que numa linguagem de fácil acesso, mas nunca sem mentiras. Toda mentira quando é descoberta machuca e pode criar traumas. Ainda existem pais que contam para os seus filhos a história da cegonha e isso é uma mentira que acaba prejudicando a aprendizagem da criança.
Toda história pode ser contada a uma criança desde que se saiba contá-la. Não contaremos é claro histórias de violência ou de crimes bárbaros. Só se ela nos perguntar. Ainda assim trataremos da questão com cuidado e carinho. É no saber falar com a criança que ela descobre as suas próprias respostas. Não precisamos fazer com que parem de nos perguntar dizendo que estamos cansados. Um pouco de atenção é tão bom para quem precisa de uma orientação nossa. Lembre-se de que você também já foi criança e teve as suas questões.
Nenhuma pergunta é boba que não tenha resposta.
A criança muitas vezes que tem uma pergunta simples pode estar começando a amadurecer o seu pensamento, despertando para o mundo, aprendendo a lidar com as coisas ao seu redor. Ela precisa obter respostas que a ajude a crescer emocionalmente dando-lhe a possibilidade de desenvolver o seu lado cognitivo muito mais rapidamente.
No benquerer da criança cabe todo mundo que lhe acolhe e cuida dela. Se você é pai ou mãe e não oferece esse acolhimento ou cuidado pode estar dando a oportunidade de um estranho fazer isso por você. A resposta que o seu filho precisa não é um “porque é assim” ou “porque é o certo”.
Quando a criança faz uma pergunta, na verdade, ela quer entender como começar uma conversa com você e saber da sua opinião a respeito daquilo que ela não compreende o motivo de estar ali ou ser aquilo ali.
Para a criança criada com cuidado e amor o verbo “ser” ainda é mais presente do que o “ter”. Ela sabe mais do que ninguém que é amada, é feliz, é linda e é o que de mais belo existe para nós A ela não importa ter brinquedos caros, roupas de grife, morar em bairros de classe alta. Nas suas perguntas sempre o “ser” está presente muito mais do que o “ter”. Observe a sua criancinha e perceberá como ela se comporta diante destes dois verbos.
O ser deve vir antes de tudo na vida da criança para que cresça sempre pensando no autocuidado e no cuidado com o outro. Para que as suas respostas ao mundo e as pessoas ao seu redor sejam cuidadosas e tenham respeito pela opinião alheia. Que seja conhecida pelos seus feitos e pelos seus esforços. Sim, crianças também fazem coisas excepcionais.
As respostas das crianças surpreendem muitas vezes pais e professores demonstrando um amadurecimento muito maior do que o esperado para a sua pequena idade. Essas crianças precisam de mais atenção e cuidados pois nas suas respostas já percebemos que estão conectadas com o mundo e com as coisas que acontecem ao seu redor, assim tendem a se envolverem mais emocionalmente com os problemas dos adultos e a criarem para si dificuldades que não saberão como resolver.
Não é bom respondermos as perguntas das crianças nunca, assim sem darmos um tempo para pensarmos o que aquela ou essa pergunta quer mesmo nos dizer, sim porque por trás de toda pergunta existe um acontecimento, um desabrochar, uma esperança, uma curiosidade que não se cala, principalmente quando estamos cansados, aborrecidos ou com raiva de alguma coisa. Deixemos que elas descubram por si próprias, mesmo que a pergunta seja intrigante e necessite de uma resposta saiba como conduzir a sua busca de uma forma que a reflexão e a criticidade estejam sempre presentes.
Se você ama a sua criança, cuide dela com amor e atenção.
Respeite os seus momentos de querer ficar sozinha, ela também precisa muitas vezes de silêncios, pois neles ocorre o movimento do pensamento que está sempre a observar a realidade e a querer conhecer um pouco mais do que ocorre consigo.
Se a sua criança não é muito de fazer perguntas não ache isso estranho. Ela não é diferente das outras. Só está curtindo o seu momento de silêncio diante de você. Um dia, quando se sentir pronta para perguntar ela se aproximará de você e vai fazer com grande naturalidade a sua questão. Há crianças que preferem apenas observar e nada falam, nada comentam. Elas ficam quietas nos seus pequenos mundos preenchendo-os com as suas grandes experiências, uma vez que tudo se torna gigante no descobrir de coisas essenciais ao seu bom viver, para mais tarde nos apresentarem o que aprenderam dentro e fora da escola.
A criança que não pergunta não é menos inteligente do que a que vive a perguntar. Nem é boba. E nem por isso precisa de tratamento especial. Ela está curtindo a sua vida como qualquer outra: brincando, correndo, pulando e se divertindo. Não sentiu a necessidade ainda de fazer perguntas, mas chegará o dia de fazer. É só uma questão de tempo. O ser humano é movido pelas perguntas. Todos nós temos dúvidas.
Aprendamos a respeitar as perguntas das nossas crianças deixando-as que descubram as suas próprias respostas abrindo um caminho propício e acolhedor para isso. Não que as deixemos ao deus dará. Nunca. Mas, que elas possam se inquietar e se intrigar diante das bonitezas e feiuras do mundo ao seu redor. A alegria de descobrir uma resposta por si mesma vale a pena quando aparece o sorriso no rosto e o brilho no olhar de quem tem apenas a idade de brincar.
Fiquemos com a frase do nosso querido poeta do Pantanal brasileiro Manoel de Barros que nos diz “As coisas que não têm nome são mais pronunciadas por crianças.”
Que as crianças encontrem respostas para essas coisas sem nome e para aquelas com nomes também; o que importa é que possam pensar livremente como se estivessem brincando ou correndo por um parque sem preocupação se as respostas estão certas ou não, afinal o tempo tratará de as informar tão logo estejam preparadas para a realidade.
Em meio a um cenário caótico na educação estadual, no último dia 03 de junho, a Secretaria Estadual de Educação (Seduc) foi uma das promotoras do evento “Crie o Impossível”, organizado pela ONG Embaixadores da Educação, que visa “inspirar” alunos(as) de Ensino Médio da rede pública.
Amplamente divulgado pela grande mídia gaúcha como “a maior aula aberta” do Brasil, o evento esconde em seu escopo uma propaganda descabida do novo Ensino Médio e seus ideais de empreendedorismo.
Durante a ação, onze palestrantes contaram suas trajetórias e como ao empreender, “venceram” na vida. O empreendedorismo, caminho para um mercado precarizado e sem garantias, consta nas competências gerais da reforma do Ensino Médio.
Com uma formação básica ainda mais esvaziada – História do Brasil, por exemplo, não aparece no currículo que é repleto de menções ao marketing – o que percebe-se é um ensino cada vez mais voltado para a vontade dos empresários e a criação de mão de obra barata. Os egressos do novo Ensino Médio formarão uma massa trabalhadora acrítica e apática, que não questionará a sua condição social.
Além da ONG Embaixadores da Educação e do Sebrae, diversas entidades representantes de movimentos que mascaram intenções privatistas, com ideais de filantropia e empreendedorismo social, estão por trás do “Crie o Impossível”.
O evento deixa claro o objetivo da gestão atual: repassar funções e responsabilidades que seriam do governo para instituições do terceiro setor. As próprias formações dos professores(as) que ministram o novo currículo já são promovidas pelo Sebrae, em um cenário onde o Sistema S ganha cada vez mais espaço na educação que deveria ser pública.
Até o momento, o CPERS tem conhecimento de um gasto em torno de R$ 171 mil de verba pública com o evento. Dinheiro esse que poderia estar sendo investido em alguma obra emergencial, dentre as várias necessárias na rede pública.
O que percebe-se é que o evento serviu para mostrar aos alunos(as) das escolas estaduais que um futuro empreendendo é mais valioso que o investimento em uma universidade.
Em recente reportagem publicada pelo Sindicato, conversamos com estudantes e educadores(as) das escolas piloto do projeto e a conclusão é somente uma: o Novo Ensino Médio se trata de uma reforma inadequada, apartada do contexto social e da realidade das instituições de ensino estaduais e coloca em risco o futuro dos estudantes.
“Na minha turma, alunos que estudavam desde o Ensino Fundamental pediram transferência para outra escola que ainda não implantou esse novo Ensino Médio. O principal motivo foi pela retirada de algumas disciplinas que são consideradas importantes para quem visa fazer um vestibular como o Enem”, explica a aluna do 3° ano do Ensino Médio do CE São Patrício, escola-piloto de Itaqui, Larissa Serres Espinosa.
O CPERS defende a revogação do novo Ensino Médio e a construção de uma nova proposta com ampla discussão do tema com a sociedade através da instalação de Conferências Municipais, Estaduais e Federais para a construção de uma proposta educacional nacional.
É urgente envolver toda a comunidade escolar, incluindo pais e alunos(as), na defesa de uma educação pública, gratuita e de qualidade, com gestão democrática e comprometida com a formação integral do cidadão.
Para criar o impossível, é preciso uma política real de redução das desigualdades, com investimentos constantes na manutenção e qualificação dos equipamentos públicos que compõem a rede, bem como na valorização dos educadores(as).
Como enfrentar a idiotice e ajudar os idiotas a superarem sua condição de imbecilidade? Confira algumas pistas.
A palavra idiota frequentemente é pronunciada no cotidiano. Quando queremos xingar alguém ou depreciar alguma atitude dizemos que fulano é um “verdadeiro idiota” ou de que tal “atitude foi idiota”, ou ainda “agir de tal maneira é idiotice”. Se formos ao dicionário veremos que idiota significa “pouco inteligente, estúpido, ignorante, imbecil”.
Na Psiquiatria, o idiota é aquele que sofre de “idiotia”, que é o diagnóstico atribuído ao indivíduo mentalmente deficiente, pois possui um avançado atraso mental devido a lesões cerebrais. Na condição de “estado de idiotia profunda”, o portador dessa patologia tem suas capacidades vitais reduzidas e, portanto, não é capaz de tomar as próprias decisões.
Ninguém gosta ou quer ser chamado de idiota. Pior ainda é ser considerado ou ser tratado como idiota. Ser idiota é ser considerado inferior, tolo, estupido, desprovido de bom senso e de inteligência. A pessoa idiota é desprezada, inferiorizada, excluída.
Ter atitude de idiota significa ignorar ou conhecer os fatos, ficar alienado diante dos acontecimentos, não saber o porquê das coisas, fazer julgamentos preconceituosos e “agir de forma cega” diante de certas situações.
Nos comportamos como idiotas todas as vezes que somos enganados por quem quer que seja. Mas o pior de tudo é que geralmente os piores idiotas não tem consciência de sua própria condição e acreditam que são inteligentes, espertos, “cidadãos exemplares”; os idiotas são “os outros”.
Se prestarmos atenção, com cuidado, veremos que a idiotice tomou conta do cotidiano.
Em tempos difíceis como os que estamos vivendo, em que a ordem das coisas foi assaltada por uma crise generalizada de seguira moral, a atitude de idiota se faz sentir em todos os lugares. Não é necessário fazer grandes esforços para perceber os idiotas de plantão.
As redes sociais, por exemplo, é um dos lugares onde mais se faz sentir a idiotice em ação.
Sobre isso tem razão o grande pensador e escritor italiano Umberto Eco quando diz que “as redes sociais dão o direito à palavra a uma legião de imbecis, que antes falavam apenas em um bar e depois de uma taça de vinho, sem prejudicar a coletividade. Normalmente, eles [os imbecis] eram imediatamente calados, mas agora eles têm o mesmo direito à palavra do que um Prêmio Nobel”.
Vejo, com frequência, idiotas postando ou compartilhando nas redes sociais idiotices de todos os tipos e recebendo curtidas imediatas de uma legião de outros idiotas. Atitudes de preconceito, racismo, injúrias, fake News, mentiras e tantas outras formas de manifestações idiotas que nos causam a sensação de que a idiotice tomou conta da vida.
Existem diversos tipos de idiotas e diversas formas de expressar a idiotice. Faltaria espaço neste escrito para realizar uma lista completa. A título de exemplo gostaria apenas de distinguir dois tipos: o idiota inocente e o idiota destrutivo.
Penso que o primeiro, como o próprio nome diz, é inofensivo e talvez o remédio para este tipo seja a educação, a instrução, a leitura, a informação adequada, o bom senso; quanto ao segundo, penso que temos que tomar cuidado, pois como o próprio nome diz, ele é destrutivo, violento, agressivo, mal intencionado, ardiloso, prepotente, machão, imbecil no mais alto grau. Geralmente esse tipo de idiota acredita que é dono da verdade e quer impor suas idiotices aos outros.
Mas como enfrentar a idiotice e ajudar os idiotas a superarem sua condição de imbecilidade?
Penso que a formação e o pensamento crítico seja uma das mais importantes e promissoras terapias para enfrentar a idiotice. A escola de qualidade pode se tornar a melhor ferramenta para construirmos uma sociedade com menos idiotas e menos idiotices.
Se hoje somos governados por idiotas e se a idiotice está tomando conta do cotidiano, talvez seja urgente promovermos processos formativos que nos ajudem na batalha para não sermos dominados e escravizados pelos idiotas que se apossaram do poder e ditam as regras para toda a sociedade.
Quando um idiota age no âmbito restrito, seus estragos podem ser inofensivos; mas quando um idiota está no poder de uma instituição, quando é eleito para cargos legislativos e executivos, seus estragos podem ser desastrosos e destrutivos. Exemplos não faltam no tempo presente.
O pensamento racional filosófico, cuidadoso, abrangente e crítico nos ajuda a enfrentar o medo e construir espaços de socialização condizentes com uma vida saudável e de qualidade. Leia mais: https://www.neipies.com/filosofia-para-enfrentar-os-medos/