Neste mês em que reverenciamos os pais, que eles, por amor aos seus filhos, amem-se também e procurem mais a medicina preventiva.
Vou partir da obviedade de que ninguém pode dar aquilo que não tem, e isso vale tanto para bens materiais quanto para valores morais, éticos, ou mesmo para atitudes. A lógica do título é a mesma: como um pai que não cuida de si próprio pode cuidar de seus filhos?
Um estudo realizado por pesquisadores da Fundação Osvaldo Cruz buscou entender sobre o porquê de os homens procurarem menos os serviços de saúde do que as mulheres. Este estudo, somado a um levantamento inédito da Sociedade Brasileira de Urologia (SBU) e a dados do Sistema de Informação Ambulatorial do Ministério da Saúde, aponta um levantamento de que até a metade deste ano (2022) foram atendidas em consultórios e ambulatórios cerca de 60 milhões de mulheres a mais do que homens. Se olharmos para especializações médicas, veremos que neste ano somente 200 mil homens procuraram atendimentos com urologistas, enquanto que mais de 1,2 milhão de mulheres foram atendidas por ginecologistas, seis vezes mais!
Vários motivos influenciam a isso, e o cultural pode ser um: “…à medida que o homem é visto como viril, invulnerável e forte, procurar o serviço de saúde, numa perspectiva preventiva, poderia associá-lo à fraqueza, medo e insegurança”, aponta o estudo da Fiocruz.
Por outro lado, o ditado popular que diz que “quem procura acha” é muito forte e é seguido por muita gente, o que faz do não ir às consultas médicas preventivas uma forma de autoproteção, uma negação à realidade. Também há, em muitos homens, a vergonha de tirar a roupa, de expor suas partes íntimas em uma consulta ou de permitir a um estranho (ainda que seja um médico) o toque para um exame de próstata.
Já, do ponto de vista de instalações de hospitais e ambulatórios, não há unidades específicas para atendimentos masculinos, o que também serve de alegações, desculpas. Outras tantas evasivas são argumentadas, mas ninguém duvida de que pesam também as dos altos custos para pagamento de consultas, exames e para a compra de medicamentos, ou ainda, de que é muito demorado o atendimento quando agendadas as consultas pelo SUS, o que pode levar meses ou passar de ano.
Muitos são os motivos que o homem pode alegar para justificar seu desleixo nos cuidados com sua saúde, porém, não passam de desculpas egoísticas.
Quantos filhos gostariam de estar comemorando mais um Dia dos Pais junto aos seus? Quantos pais perderam a vida por terem sido negligentes descuidando-se da prevenção e/ou do tratamento de sua saúde?
Neste mês em que reverenciamos os pais, que eles, por amor aos seus filhos, amem-se também e procurem mais a medicina preventiva. Saibam os pais que seus exemplos poderão, no futuro, alterar esta triste realidade fazendo com que seus filhos possam viver mais e com mais qualidade.
A análise desta lenda abre espaço importante para a discussão dos direitos e deveres da criança e do jovem que hoje tem a seu favor o Estatuto da Criança e do Adolescente que todos devem conhecer.
A narração ou a leitura da lenda “O Negrinho do Pastoreio” na aula do Ensino Religioso abre espaço para ampla reflexão em torno dos episódios que fazem parte deste texto literário e que envolve temas como: preconceito, discriminação, escravidão, autoritarismo, machismo, direitos humanos, respeito, injustiça, a fé, entre outros e que podem ser trabalhados de forma interdisciplinar, além de fortalecer a ideia de pertencimento uma vez que esta proposta pedagógica parte de uma lenda gaúcha.
A lenda tem raízes afro-cristã, surgida no Rio Grande do Sul no final do século XIX, ainda no período da escravidão no Brasil. Toda lenda resguarda um fundo de verdade, algo que realmente ocorreu, mas que foi sendo divulgado de forma oral e, no dizer popular: quem conta um conto aumenta um ponto. Posteriormente, ela foi escrita e existem várias versões.
A linguagem simbólica da literatura possibilita ao leitor ou ouvinte a sua identificação com os personagens, com as suas emoções básicas como o medo, a tristeza, a raiva, a alegria. Na análise dos fatos ocorridos com o escravo adolescente, o Negrinho tinha 14 anos, o professor, na roda de conversa com os alunos, pode questionar: – Que emoções o Negrinho sentia em relação a forma como era tratado pelo patrão? Como ele encontrou forças para enfrentar tanto sofrimento? Estas reflexões possibilitam amplo debate de ideias.
A lenda é muito rica na questão da fé que se expressa na simbologia da vela acesa. Provocar debate em torno da questão: qual o significado da chama, da vela, da luz na denominação religiosa de cada aluno.
Todos vão poder expressar suas emoções em relação aos acontecimentos da lenda, e lidar com elas, fazer relatos de suas experiências, criar vínculos com o professor e colegas. Trabalhar a devoção à Maria, mãe de Jesus, entidade feminina, maternal que acolhe quem sofre injustiça mas tem fé, esperança, e percebe o sentido profundo da vida, sempre de acordo com a crença de cada um.
Para enriquecer esta proposta educativa, os alunos poderão trazer representantes das suas denominações religiosas na sala de aula, em outro momento previamente planejado, para conversarem e responderem perguntas sobre as peculiaridades de cada religião ali representada.
É interessante proporcionar, na sala de aula, a audição da música que é uma página clássica do folclore gaúcho e a visualização de um dos clipes do youtube, sugerimos com a cantora Alana Moraes e com Renato Borghetti na gaita. O poema é de autoria de Barbosa Lessa e poderá ser lido no grupo.
Negrinho do Pastoreio Acendo esta vela para ti E peço que me devolvas A querência que eu perdi. Negrinho do Pastoreio, Traze a mim o meu rincão Eu te acendo esta velinha, Nela está meu coração. Quero ver meu lindo pago Coloreado de pitanga Quero ver a gauchinha A brincar n’água da sanga
Quero trotear pelas coxilhas Respirando a liberdade Que eu perdi naquele dia Que me embretei na cidade. Negrinho do Pastoreio Acendo esta vela para ti E peço que me devolvas A querência que eu perdi. Negrinho do Pastoreio, Traze a mim o meu rincão A velinha está queimando Aquecendo a tradição
A análise desta lenda também abre espaço importante para a discussão dos direitos e deveres da criança e do jovem que hoje tem a seu favor o Estatuto da Criança e do Adolescente que todos devem conhecer. Questões como: violência e abuso infantil, exploração de menores, negligência familiar, podem emergir merecendo tratamento adequado por parte do professor. Cabe à escola formar o cidadão consciente, crítico e responsável.
Enfoques com base em texto literário, como nesta lenda, proporciona a conclusão no grupo, em sala de aula, sobre a importância do respeito ao outro, o quanto o convívio saudável com os outros proporciona o desenvolvimento de aptidões adormecidas no âmago de cada um, tornando-o mais tolerante, compreensivo, bondoso e gentil.
Hans Christian Andersen, o grande escritor dinamarquês voltado para a infância, escreveu belo conto que trata de tema semelhante à lenda em foco, A Pequena Vendedora de Fósforos, em 1875, onde ele traz as cenas do impiedoso mundo da fome, da miséria, do abandono e da solidão que algumas crianças viviam naquela época do século XIX, na Europa.
Narrou Andersen: “Fazia um frio terrível, nevava e começava a escurecer. Era a última noite do ano, véspera do Ano Novo. Em meio à escuridão caminhava pela rua uma menina pobre” …. O belo e triste conto A pequena vendedora de fósforos – conto Clássico Fantástico de Hans Christian Andersen, está à disposição neste link: https://www.contosdeterror.site/2019/12/a-pequena-vendedora-de-fosforos-conto.html
A narração deste conto de origem dinamarquesa, oferece perceber situação semelhante entre o aconteceu com os dois personagens principais, a menina, na Dinamarca e o menino, no Rio Grande do Sul, na mesma época. Ambos sofrem sentimentos e emoções dramáticas que os educandos vão se identificando e educando suas próprias reações face aos desafios da vida cotidiana, dando-se conta que os adultos também se equivocam.
Os dois textos, na linguagem simbólica da literatura, uma lenda e um conto, representam situações emocionais simbolizando o que ocorre na fase infanto-juvenil e como a dimensão espiritual da inteligência, que nos remete às experiências transcendentes da vida, apresenta solução para situações extremas através da fé e da confiança na divindade referente à religiosidade básica que é inata no ser humano e que independe de qualquer religião convencional.
Nos dois textos, a luz da chama da vela e dos fósforos mostra o caminho transcendental que promove o autoconhecimento, amadurecimento e a habilidade de buscar solução para os problemas da vida individual e o controle de suas emoções e sentimentos.
A nossa sugestão representa uma trilha pedagógica, um caminho seguro que pode ser conduzido pelo professor, em sala de aula, utilizando a linguagem simbólica da Arte que vai proporcionar, além de conhecimento, aprendizado ao aluno de como lidar com as suas emoções, expressá-las, desenvolver a sua autoconfiança para a tomada de decisões, trazer à tona conflitos pessoais e busca de possíveis soluções, melhorar o raciocínio, a memória e a concentração.
Pretendemos construir respostas para a pergunta acima – o que temos a ver com isso? – ao longo deste VII Congresso dos Professores Municipais de Passo Fundo. Do mesmo modo, é nosso desafio refletir sobre o papel da escola numa Cidade Educadora.
O embrião do movimento “Cidades Educadoras” foi originalmente lançado em Barcelona, em novembro de 1990, no I Congresso das Cidades Educadoras. As cidades presentes pactuaram a luta em prol de um objetivo: trabalhar juntas em projetos e atividades para melhorar a qualidade de vida dos habitantes.
O documento norteador para as cidades que fazem parte do projeto, a “Carta das Cidades Educadoras”, foi lançado nesse mesmo Congresso e contou como principais referências: a Declaração Universal dos Direitos do Homem (1948), o Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais (1966), a Declaração Mundial da Educação para Todos (1990) e a Declaração Universal sobre Diversidade Cultural (2001). Dentre os princípios da Carta, destacam-se:
Trabalhar a escola como espaço comunitário;
Trabalhar a cidade como grande espaço educador;
Aprender na cidade, com a cidade e com as pessoas;
Valorizar o aprendizado vivencial;
Priorizar a formação de valores.
Esse movimento cresceu e, atualmente, está presente em cerca de 479 cidades de 35 países, distribuídos em seis continentes, que formam a Associação Internacional das Cidades Educadoras (AICE). Na América Latina, aproximadamente 80 cidades de 10 países fazem parte do projeto. A Argentina é a nação com mais associados (32), cabendo a Rosário a supervisão da delegação desse continente. No Brasil, no ano 2000, surge a Rede Brasileira de Cidades Educadoras, que conta com gestão itinerante. Atualmente, cabe à cidade de Curitiba a presidência da Rede.
Em nosso país, 25 cidades aderiram ao projeto, sendo grande parte delas gaúchas: Camargo, Carazinho, Gramado, Guaporé, Marau, Nova Petrópolis, Passo Fundo, Porto Alegre, Santiago, São Gabriel, Sarandi e Soledade.
Desde o início, o debate sobre as cidades educadoras se fez presente na sociedade sul-rio-grandense, embora alterando momentos de maior recrudescimento com relativo ostracismo. A experiência inicial de Porto Alegre, nos anos 90, através de sua política do orçamento participativo, e de diferentes políticas sociais e educacionais cidadãs, deu consistência e referência ao tema.
Por volta de 2016, através da UPF, com o Programa UniverCidade Educadora e Inteligente, observou-se a irradiação desses princípios pela região, o que resultou na adesão de 4 cidades ao projeto. A partir de então, o movimento se amplificou, passando a contar com a participação de Passo Fundo recentemente. Diante do que está posto, fica um questionamento: o que temos a ver com isso?
A Diretoria Colegiada do CMP Sindicato buscou se apropriar do tema de diferentes maneiras: participamos do III Encontro das Cidades Educadoras, ocorrido em Marau; realizamos uma reunião com o Comitê Gestor do Programa UniverCidade Educadora, da UPF; fomos a Soledade conversar com a Secretária de Educação, Ádria Brum, e sua equipe.
Registros das iniciativas e participações:
A diretora Geniane Dutra e o Diretor Nei Alberto Pies participaram, também, do programa Educação e Debate na TV Câmara de Passo Fundo para discutir e divulgar a temática e a programação do VII Congresso dos Professores Municipais de Passo Fundo.
Longe de exaurir o tema Cidades Educadoras, essas conversas reafirmaram algumas percepções sobre o projeto das Cidades Educadoras:
Objetiva-se a melhoria da qualidade de vida dos cidadãos, jamais a disputa e/ou conquista de prêmios por parte de políticos.
Trata-se de políticas públicas articuladas, que demandam continuidade. Devem ser ações planejadas pelo Estado, durante um período de longa duração, não atividades feitas por governos esporadicamente.
A tolerância e o respeito às diferentes vozes devem acontecer para que nossas cidades sejam verdadeiramente espaços democráticos, nos quais o contraditório seja acolhido e não perseguido.
Cidades Educadoras não é um projeto que se vincula exclusivamente a uma Secretaria de Educação, mas a cidade não pode ignorar ou prescindir da participação efetiva e estratégica das escolas do seu território, especialmente as escolas da rede municipal, que participam dos contextos das diferentes comunidades da cidade.
Pretendemos construir a resposta para a pergunta acima – o que temos a ver com isso? -ao longo deste VII Congresso dos Professores Municipais de Passo Fundo. Do mesmo modo, é nosso desafio refletir sobre o papel da escola numa Cidade Educadora.
Bom congresso a todos(as)!
Registros do VI Congresso dos Professores Municipais 2019.
Quanto mais proximidade com outras crianças do mundo real tiver a criança melhor será para ela, afinal não se pode viver o tempo inteiro no mundo de fantasias.
Muitas vezes pegamos as crianças falando sozinhas, tipo: o que você quer fazer hoje? Por que você não quer comer? Por que você quebrou o vaso da sala? Caso escute a sua criança falando sozinha não se assuste, certamente ela estará conversando com o seu amiguinho imaginário que tende a chegar por volta dos três a quatro anos de idade. É uma companhia saudável às crianças e traz maturidade emocional.
Busque não se apropriar do amiguinho imaginário da sua criança, fazendo perguntas do tipo: seu amiguinho gostou do lanche? De que horas ele gosta de dormir? Lembre-se que só a criança deve conversar com o seu amiguinho imaginário, senão ela vai começar a pensar que você se apropriou do seu amiguinho e vai deixá-lo de lado. É uma forma de proteção da criança o amiguinho imaginário que deve ser só dela e de mais ninguém.
A criança tende a contar as suas ideias ao seu amiguinho imaginário, como também costuma colocar a culpa de algo errado nele. Isso tudo é normal. O amiguinho imaginário só existe no mundo de faz de conta da criança, ela o cria como busca de compreensão ao mundo real, por isso faz questionamentos a esse amiguinho.
Toda criança tem um amiguinho imaginário para com ele poder brincar e confiar os seus segredos, pode ser uma boneca, um urso, um soldadinho de chumbo. Lembrando que esse amiguinho é produto da imaginação fértil da sua criança, quanto mais fértil ela for mais peraltices fará o seu amiguinho.
Os pais não precisam se preocupar com o amiguinho imaginário dos filhos, pois eles desaparecerão com o passar dos anos, lá por volta dos sete ou oito anos ele vai embora assim como chegou, pois a criança percebe que já sabe lidar com a realidade e não precisa mais da ajuda do seu mundo de fantasias.
Porém, se a criança começar a evitar fazer amigos de verdade, brincar com outras crianças ou isolar-se em seu quarto, isso é motivo de preocupação e precisa da ajuda de um psicólogo. Geralmente, o amiguinho imaginário não faz mal nenhum à criança, ao contrário demonstra que seu mundo de fantasias é saudável e consegue produzir coisas bonitas.
Não é nada demais que a criança tire dúvidas com o seu amiguinho imaginário, pois com isso ela está buscando se autoconhecer. É preciso saber lidar com o amiguinho imaginário da criança respeitando-o e não entrando em sua intimidade nunca.
Na infância, toda criança inventa um amiguinho imaginário para com ele descobrir os porquês da vida, conhecer melhor as pessoas, interpretar as coisas que lhe dizem e ter a quem culpar quando quebrar um objeto ou fizer algo errado para que não o coloquem de castigo.
A criança com o amiguinho imaginário consegue aprender mais rapidamente a lidar com as dificuldades da vida, pois ao se conhecer também passa a conhecer o mundo ao seu redor e como se apresenta para ela. Muitas vezes, o amiguinho imaginário serve como um companheiro para brincadeiras em que não estão presentes os amigos de verdade. A criança combina fantasia com realidade, ela extrai do real aquilo que o seu pequeno mundo compreende.
O amiguinho imaginário é confiável, ajuda a tomar decisões e escolher roupas para vestir. Também aconselha à criança no que deve ou não fazer, sendo tudo isso fruto do seu próprio pensamento.
Os pais necessitam deixar os seus filhos à vontade com os seus amiguinhos imaginários, pois só assim poderão vivenciar os seus mundos de fantasias que na infância é um lugar seguro de se viver e povoado por personagens criados pela criança, assim como: dragões, bruxas, fadas, princesas, príncipes.
É nesse mundo onde mora o amiguinho imaginário que vem brincar com a sua criança sempre que não tem um amiguinho de verdade com quem brincar naquele instante. O amiguinho imaginário como o próprio nome já diz é aquele que está por perto sempre que for preciso e cuidará da criança, mesmo sendo fruto da sua imaginação.
Apesar de ser um amiguinho imaginário não esqueça de ficar atento ao tempo que a sua criança dedica a ele, pois é motivo de preocupação quando ela não quer mais ir à escola, esquece as suas atividades rotineiras e deixa de lado a convivência com crianças reais.
Busque investigar o que está fazendo com que a sua criança não queira largar o seu amiguinho imaginário e se for o caso procure ajuda de um especialista.
O convívio social com outras crianças não pode de forma alguma ser substituído, por isso é importante que a criança frequente a escola, participe de festinhas, vá a um circo, cinema, praia, faça uma festa de pijama na sua casa e convide os amiguinhos da sua criança a passarem uma noite divertida com ele, isso será muito bom.
Quanto mais proximidade com outras crianças do mundo real tiver a criança melhor será para ela, afinal não se pode viver o tempo inteiro no mundo de fantasias.
A técnica não é a mesma coisa que a essência da técnica. (…). Assim, pois, a essência da técnica também não é, de modo algum, algo técnico. Mas, de modo mais triste, estamos entregues à técnica quando a consideramos como algo neutro”. (Martin Heidegger – A questão da técnica)
A simplificação da formação técnica e qualificação profissional prevista como quinto itinerário da reforma do ensino médio é como a ideologia da meritocracia: não entregará o que propõe e promete aos jovens estudantes.
A era da meritocracia contribuiu na deterioração da dignidade do trabalho enquanto criador de vida. Trabalho é tanto econômico quanto cultural. Ao induzirmos os jovens nesta lógica mercadológica estamos corrompendo os jovens e deseducando-os, além de induzir ao sofrimento emocional e material.
Seria um absurdo colocar em dúvida a importância da preparação profissional nos objetivos das escolas e das universidades. Mas a tarefa da educação, especialmente da educação básica, pode realmente ser reduzida à formação de técnica e qualificação profissional?
Priorizar exclusivamente a profissionalização dos estudantes, como a reforma do ensino médio está priorizando, significa perder de vista uma dimensão universal da função formativa da educação.
A dimensão que para o filósofo Nuccio Ordine (Universidade Calábria, Itália) concebe que nenhuma profissão poderia ser exercida de modo consciente se as competências técnicas que ela exige não estejam subordinadas a uma formação cultural mais ampla, capaz de encorajar os jovens a cultivarem autonomamente seu espírito e a possibilitar que expressem livremente sua curiositas.
Bolsa-formação
A técnica moderna somente entrou em curso quando ela pode apoiar-se sobre a ciência exata da natureza. O início da ciência moderna remonta ao século 17 enquanto a técnica das máquinas de força somente se desenvolve na segunda metade do século 18.
Para Martin Heidegger, a determinação somente instrumental da técnica se torna ilusória, gerando uma aparência enganadora de que a técnica moderna é uma ciência da natureza aplicada.
Um conjunto de atos regulatórios do MEC que entrou em vigor nos últimos meses amplia e reforça esta dissociação entre a formação e qualificação profissional das diversas ciências, fragmentando a oferta da educação profissional e configurando uma flexibilização irresponsável na formação dos estudantes brasileiros na educação básica, especialmente no ensino médio.
Sem uma política pública de Estado para a educação profissional e o descumprimento das metas do PNE 2014-2024 de “triplicar as matrículas da educação profissional” e ampliar a oferta integrada da EJA com essa modalidade de ensino, o MEC publica a Portaria nº 359/2022 em 1° junho e, que entrou em vigor em julho, autorizando o fomento de cursos de qualificação profissional via Bolsa-Formação, modalidade do Pronatec criado em 2011.
Durante o Pronatec, o Sistema S foi responsável por 88,6% das matrículas nesta modalidade de Cursos de Formação Inicial e Continuada (FIC) conforme comprovado na tese de Neila Drabach (IFRS).
Esta portaria permite, na prática, que a carga horária mínima de 1.200 horas prevista na lei 13.415/2017 que reformou o ensino médio seja cumprida através do quinto itinerário de formação técnica e qualificação profissional.
O objetivo central da portaria é justamente “autorizar o fomento, por meio da Bolsa-Formação, de cursos de qualificação profissional com certificações, a partir de saídas intermediárias que compõem itinerários formativos dos Cursos Técnicos do Catálogo Nacional de Cursos Técnicos (CNCT)”, ou seja, amarra os cursos às saídas intermediárias do Cadastro Nacional de Cursos Técnicos (CNCT) e não mais à Classificação Brasileira de Ocupações (CBO).
Flexibilização e negação
O mais grave é o que prevê No Art. 2º que “os cursos de que trata o art. 1º podem ser fomentados de forma desvinculada dos cursos técnicos correspondentes e caberá à instituição de ensino indicar o curso técnico correspondente ao curso de qualificação profissional, para fins de cálculo da carga horária mínima”.
Essa flexibilização permite que mantenedoras públicas e privadas desenvolvam 40% do currículo do novo ensino médio com cursos de qualificação sem comporem um Curso Técnico e, pior, os vincula a qualquer Curso Técnico, descaracterizando Planos de Cursos, Projetos Pedagógicos das Escolas e a própria CBO.
Qual a implicação desta flexibilização? Tanto os Cursos Técnicos podem ser descaracterizados como o ensino médio, através do quinto itinerário, tornando-se um Frankenstein sem identidade e unidade epistemológica, pedagógica e formativa.
Trata-se de institucionalizar uma concepção fragmentada de formação sem uma concepção homogênea de currículo. E, inclusive, trata-se de uma negação de um currículo escolar e acadêmico.
A outra normativa é uma Portaria de n° 314 publicada em 03 maio de 2022 que amplia critérios para Instituições Privadas de Ensino Superior (IPES) se habilitem para ofertar cursos técnicos de nível médio.
O que muda, segundo MEC, é que a portaria facilita especialmente a ampliação dos cursos técnicos à distância (EAD).
Enquanto a portaria anterior previa a necessidade de apresentação de um pedido para cada endereço e polo, agora basta um único pedido que será estendido aos demais campus e polos.
Esta medida, também, amplia para as IPES a oferta de qualificação profissional via bolsa-formação – incialmente autorizado somente para instituições públicas federais, estaduais e municipais e o sistema S – e, dialoga com a reforma do novo ensino médio que permitiu que 30% do currículo seja cumprido à distância.
Um exemplo concreto já em vigor é o Convênio no valor de R$ 38 milhões firmado entre o governo do Paraná e a Unicesumar, faculdade privada, para oferta de aulas a distância para estudantes da rede estadual que optaram pelo quinto itinerário.
O estado do Rio de Janeiro, também, já firmou cooperação com o Sistema S (Senai). No caso do Paraná os estudantes já protestam e denunciam da falta de qualidade do que lhes é propiciado por esta faculdade.
Cabe destacar que entre as IPES temos Universidades Públicas, Comunitárias e Particulares de qualificados serviços de ensino, pesquisa e extensão, com conceitos altos na avaliação do MEC.
Porém, a grande maioria das Instituições de Ensino Superior (IES) são faculdades, algumas com conceitos 3 (mínimo para funcionar) e tantas outras com conceitos insuficientes (1 e 2).
Isso se agrava quando, nos sistemas estaduais e municipais de ensino, não há avaliação da qualidade dos cursos técnicos e muito menos dos cursos de qualificação ofertados por instituições meramente com fins lucrativos e que poderão compor o novo ensino médio.
Cabe, ainda, destacar que a capacidade de uma IPES para oferta de ensino superior não se transpõe automaticamente para a oferta de cursos técnicos de nível médio.
Os cursos técnicos não se resumem a apenas estrutura física, laboratórios, sala de aula e professor qualificado. Requer-se um projeto político-pedagógico, Plano de Curso, metodologias e estratégias apropriadas para trabalhar com jovens-adolescentes (14 a 17 anos), condição diferente da formação com jovens e adultos que são desenvolvidas no ensino superior.
Neste vale-tudo, a Resolução CNE/CP Nº 1, de 06 de maio 2022, “entrando já em vigor em 1 de junho deste mês, ou seja, 22 dias após sua promulgação. Uma aceleração e pressa injustificável, inaplicável e suspeita.
Notório saber
A professora e pesquisadora da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV/Fiocruz) Marise Ramos, em entrevista concedida em maio, após a publicação da resolução (Revista Poli, nº 84, julho/agosto 2022), argumentou que o que as novas diretrizes fazem é “não deixar nada fora da lei”, prevendo todas as possibilidades de formação que já existem, como: cursos de graduação de licenciatura, cursos de especialização lato sensu em docência na educação profissional, programas especiais de formação, de caráter excepcional, e cursos destinados à formação pedagógica para licenciatura de graduados não licenciados, mais “outras formas, em consonância com a legislação”, incluindo uma formação em serviço a ser propiciada pela instituição a profissionais com o denominado “notório saber”.
Na verdade, para a pesquisadora, a partir desta resolução, todos os cursos de habilitação docente podem, até mesmo não existir, porque tudo pode ficar na base do reconhecimento do “notório saber”. Diga-se de passagem, notório saber não disciplinado, apenas exigindo que a instituição apresente um plano de habilitação ao órgão supervisor do respectivo sistema de ensino.
No artigo 2º, a resolução prevê que os cursos e programas devem ser organizados por Habilitação Profissional ou, de modo mais abrangente, por Eixo ou Área Tecnológica. “É uma restrição absurda. Então você vai se formar como um professor da sua habilitação específica, por exemplo, dentro da gerência em saúde, sem ter uma formação na área da saúde como um todo?”, critica Ramos.
Nesta perspectiva, o professor não é mais um sujeito formado em uma área que, em razão dessa formação, se torna habilitado a ensinar. Ele é alguém que se forma para somente para ensinar.
Formação científica e humanista
Muitas análises anteriores já destacaram que o quinto itinerário técnico e de qualificação profissional apresenta o mais grave risco de precarização na formação dos estudantes do ensino médio brasileiro.
Nele a formação técnica e profissional pode ser ofertada tanto a habilitação profissional técnica quanto a qualificação profissional, por meio de cursos básicos, incluindo-se o programa de aprendizagem profissional em ambas as ofertas, com possibilidade de concessão de certificados intermediários de qualificação profissional técnica; podem compreender a oferta de um ou mais cursos de qualificação profissional, desde que contemplem programa de aprendizagem profissional, desenvolvido em parceria com as empresas empregadoras, incluindo fase prática em ambiente real de trabalho no setor produtivo ou em ambientes simulados.
Na educação básica brasileira, as melhores experiências de formação técnica estão nos Institutos Federais (IFs), Escola Politécnica da Fiocruz do RJ, CEFETs, Fundação Escola Técnica Liberato de Novo Hamburgo/RS, Escolas Estaduais e Escolas Agrícolas com Ensino Médio Integrado, nos Cursos Técnicos do Sistema S, entre outras.
Currículos
Esses currículos, além de integrarem formação básica geral e técnica, se alicerçam numa concepção mais ampla de educação tecnológica, sob sólida formação científica e humanista, com projetos político-pedagógicos robusto, pesquisa e trabalho como princípios pedagógicos, com uma média de 4.500 horas-aula.
Agora, a BNCC, a reforma do ensino médio e o conjunto desses últimos atos do Conselho Nacional de Educação (CNE) e do MEC promovem um reducionismo curricular extremo de 1.800 horas de Formação Geral Básica (FGB), mais 1.200 horas de qualquer coisa de qualificação profissional, por qualquer profissional que tiver o tal de “notório saber” reconhecido, para jovens trabalhadores que necessitam de uma ampla e sólida formação em tempos tão complexos e exigentes.
Este “novo ensino médio”, para Gaudêncio Frigotto (UERJ), é uma traição à juventude que frequenta a escola pública, pois o que lhes oferece é “um pastel de vento” que acaba com o sentido de uma educação básica a qual supõe um equilíbrio entre as disciplinas que permitem entender as leis da natureza (química, física, biologia) e as que permitem entender e atuar nas relações sociais (história, sociologia, filosofia, literatura, arte, etc.).
O que se prioriza são conhecimentos instrumentais, mas que sem o que é básico instrumentaliza o “vento”. Liquida-se o esforço de décadas para superar, pelo ensino médio integrado, a dualidade estrutural: educação geral para a “elite” e adestramento profissional para o povo.
Fui convidada a participar do Cine Debate do CMP Sindicato para comentar o documentário “O corpo e a cidade modernista”, evento que faz parte do VII Congresso dos Professores e Professoras municipais com o tema: Cidades Educadoras: o que temos a ver com isso? Foi um prazer dividir os conhecimentos e reflexões que seguem.
Começamos a nossa reflexão, fazendo uma análise do Documentário “O corpo e a cidade modernista”, um documentário sobre a influência do urbanismo modernista de Brasília na relação afetiva de seus habitantes, seus espaços urbanos e relações interpessoais.
O narrador estreia o documentário com um simples, mas não raso, questionamento: o que constitui uma cidade? E eu voz pergunto: São as pessoas? Os edifícios? As ruas? Os carros? O conjunto de tudo isso?
Penso que cidade é uma daquelas palavras que o significado não comporta. A gente pode definir ela de inúmeros modos, mas a sua complexidade nos faz sentir que há mais no não dito que no descrito.
A Arquiteta & Urbanista Raquel Rolnik (1988), no livro O que é Cidade, trabalha o conceito por meio de uma metáfora: “a cidade é antes de mais nada um ímã, antes mesmo de se tornar local permanente de trabalho e moradia”. Shakespeare, em sua obra intitulada como Coriolano, questiona por meio do personagem Sicinius: O que é a cidade, se não as pessoas?
Pensando bem, fica evidente que a matéria-prima das cidades não é o concreto, mas as pessoas. E se a cidade é primordialmente feita por pessoas, é lógico supor que a forma que ela adquirir também vai dizer muito sobre pessoas, vocês não concordam?
Com Brasília, não foi diferente, começando pela própria localização, situada no centro do Brasil, pode querer significar um estado presente? Ou um estado vigilante? Ou um estado centralizado?
Ela é um caso bem peculiar no Brasil, particularmente é a única cidade que eu conheço por aqui que foi projetada para depois virar cidade. E tudo começou com um concurso Nacional do Plano Piloto da Nova Capital do Brasil. O vencedor, entregando, polemicamente, a proposta em uma folha branca desenhada a lápis no último do segundo tempo, foi o Lúcio Costa. Niemeyer era amigo dele e veio depois, atuando com maior ênfase na arquitetura monumental.
O Modernismo era a tendência da época, uma vertente estilística inovadora que veio com força após a Segunda Guerra Mundial. Utilizava da pré-fabricação, da tecnologia, da pureza dos elementos. Less is more, já ouviu essa frase por aí? Ou melhor, menos é mais? Pois, é, ela é a criação de um arquiteto modernista chamado de Mies van der rohe, que retratava bem o espírito da época, que talvez possa ser traduzido por otimização.
Mas, mais do que apenas um estilo, o Modernismo pode ser visto como uma busca por ruptura com um período excessivamente ornamental e também desigual. Representava a superação da dogmática vertente neoclássica da Alemanha Nazista, por exemplo. O não aceitar mais o estado das coisas, o querer fazer diferente.
E essa história aparentemente estranha de projetar cidades do zero ou reestrutura-las surgiu graças a uma necessidade de ordem em meio ao caos gerado em função da concentração de pessoas em cidades no Período Industrial.
O Brasil, assim como todo o ocidente, se abriu a essa nova vertente. As coisas começaram a dar as caras por aqui na semana da Arte Moderna, ainda 1922. O movimento antropofágico é um exemplo disso, um impulso quase que desesperador pela busca da nossa identidade.
Brasília veio depois, inaugurada em 1960, era a consolidação das ideias modernas. Se fundamentou na carta de Atenas que concebia a cidade em quatro funções básicas: habitação, trabalho, diversão e circulação. Uma cidade de oportunidades em que cada cidadão teria acesso ao bem-estar e a sua beleza pelo menos em ideal.
Estruturada em uma cruz, talvez com intenções religiosas, no final da história ela acabou virando um avião, visto de cima. Dizem que Lúcio Costa acabou priorizando as curvas de níveis e que não foi nada intencional o desenho de avião, inclusive ele até se incomodava com esse apelido carinhoso. Mas, cá entre nós, a parte planejada era justamente chamada de plano piloto, avião parecia combinar, não é mesmo?
Lúcio Costa previu Brasília em diferentes escalas ou em diferentes formas de sentir a cidade. A primeira que podemos citar principalmente em função de seu destaque é a Escala Monumental, de extremo carácter simbólico. Lúcio Costa que me perdoe, mas, para vocês compreenderem, seria o corpo do avião!
Lá estão situados a praça dos três poderes, a Esplanada dos Ministérios e também o Conjunto Cultural da República, dentre outras coisas semelhantes (é geralmente a parte de Brasília que mais aparece na TV). Segundo Lúcio Costa, é justamente nesta escala em que o homem adquire a dimensão do coletivo, do entendimento da grandiosidade e da concepção intrínseca de que ninguém faz aquilo sozinho. Ela também representa a pujança e a grandiosidade da nação brasileira.
Em um segundo momento, podemos citar a escala residencial, que seriam as superquadras, como vimos no documentário. Lá a escala é menor e se adapta ao indivíduo. As alturas máximas para construir são de 3 a 6 andares. E o térreo sobre pilotis, que seriam apenas pilares, livres para a circulação. E há uma proibição interessante, há uma proibição em instalar grades ou muros. A única cerca por lá são às árvores, ou seja, os edifícios são cercados de árvores. Existem também a previsão para o comércio de bairro, cinema, igreja e a localização da escola primária próxima ao clube de vizinhança.
Segundo o próprio Lúcio Costa, a cidade não seria dividida em bairros ricos e pobres, haveria integração ao invés de discriminação. Ele até teria orientado que os edifícios residências deveriam ter uma cota para a população mais baixa, visando a integração e socialização. Mas, como a gente viu no documentário, isso acabou não acontecendo.
E temos a escala gregária, que se situa no cruzamento dos dois eixos, que abriga os setores comercial, bancário, hospitalar e rodoviário. E que o documentário cita como a parte da cidade mais parecida com as outras.
E por fim, a escala bucólica, que como o próprio nome insinua são os parques, às áreas verdes, o lago, os gramados, os espaços “vazios” entre aspas.
Se não fosse o documentário para estragar tudo, talvez eu teria convencido vocês que Brasília é um lugar todo de bom de se viver, não é mesmo? Então, a gente pode se perguntar onde está o problema? E mais ainda, o que exatamente isso que eu estou falando tem a ver com cidade educadora?
Então, particularmente, avalio que o tendão de Aquiles de Brasília é a mobilidade. A forma como ela foi grandiosamente projetada, espraiou a cidade e criou grandes distâncias, sem o devido suporte de infraestrutura para transportar e conectar as pessoas.
Outro ato falho, vamos dizer assim, foi a aposta tanto de Juscelino Kubitschek na indústria automobilística, como de Lúcio Costa. Acredito que ambos foram seduzidos pela potência tecnológica e ideológica que representava e ainda representa o automóvel. É claro que isso gerou riqueza e desenvolvimento para o país, e essa é a parte boa. Mas, também está causando sérios problemas não só em Brasília, e que a gente tende a negligenciar.
Um ano depois da inauguração de Brasília, em 1961, Jane Jacobs, que nem urbanista era, era uma jornalista, escreveu uma obra fantástica de bom senso chamada Morte e Vida das Grandes cidades, criticando o sistema de caixinhas. Ela não usa esse termo, mas o porém de uma cidade modernista era justamente a fragmentação ou a setorização, para dar um nome mais bonito. Os setores bem definidos que enxergamos em Brasília.
Eu não sei o que vocês pensam a respeito, mas eu julgo que essa é uma visão ainda bem enraizada no ocidente. A gente costuma ter pouca compreensão holística, e é por isso que muitas vezes fica difícil compreender o que a cidade tem a ver com educação. Isso se aplica as cidades, as profissões, a nossa visão de mundo.
Exemplo do médico quando trata do fígado com um remédio que lhe causa outro problema, ai você vai em outro médico e ele lhe dá outro remédio, mas para tratar especificamente daquele outro problema, e assim segue… vocês já passaram por uma situação assim? E no final, como fica a nossa saúde? Percebem a importância de compreender o todo?
Mas, voltando para Jacobs, o que ela defendia é que para uma cidade ter vitalidade ela vai precisar de diversidade, de conexões, de proximidade.
Utilizando palavras do nosso documentário: “uma cidade é amada quando ela é vivida”. E para a gente amar uma cidade a gente tem que se sentir parte dela.
E a certas formas de projetar que favorecem a união e a coletividade. Como, por exemplo, os espaços comunitários acessíveis, próximos da gente, que não são especificamente os shoppings centers, mas, por exemplo a praça da Gare. Que você vai para ter paz, para olhar um lago, se divertir com os cachorros correndo enlouquecidamente pela grama e roubado a sua pipoca e assim sucessivamente.
Parque da Gare de Passo Fundo, Passo Fundo, RS
Espaços que a gente aprende que pode conviver com os diferentes, pois eles também são iguais. Espaços tão belos que somos impelidos de jogar um lixo no chão. Espaços para trocar as drogas por música, apresentações, esporte e diversão. Espaço de mistura e também de respeito.
O ponto chave da educação em cidades é a coletividade, é essa troca. É como os espaços urbanos podem aproximar ou como vimos em certos lugares de Brasília, afastar. E agora a gente chega em mais um ponto importante e eu prometo que já estou acabando. A Coletividade é o oposto da individualidade. E há certos momentos em nossas vidas que precisamos usar de nossa individualidade, mas, o problema mesmo acontece quando há claramente uma falta de equilíbrio desse jogo.
Quando a individualidade toma proporções inadequadas, a gente começa a enxergar o espaço público como de ninguém ao invés de nosso, e aí não cuida. Quando um povo é muito individualista, a gente começa a perceber isso na forma em que o espaço urbano vem sendo projetado. Como por exemplo, nos investimentos em transporte individual ao invés do público. E aí de fato Lúcio Costa talvez tenha errado ou sido seduzido pela promessa do automóvel, pois ele pensou tanto na coletividade, mas esqueceu da coletividade na mobilidade, o que hoje é uma das principais raízes do problema de Brasília.
Nos referenciando pelo período atual, se a gente pensar que o importante é ter lugar pra eu passar com o meu carro e o outro que fique em casa, a gente nunca vai resolver o problema de mobilidade de uma cidade. Que se resume em transporte público de qualidade, a fim de reduzir a emissão de CO2 e números de carros circulantes, o que no final da história, fará bem a todos nós humanos e inclusive para o Planeta.
Tem outro exemplo que eu gosto de dar que é sobre os muros, proibidos em Brasília, inclusive. Quando você tem uma calçada estreita e muros altos, a sensação é de opressão, insegurança e de mal-estar. E aí quando a gente vai construir uma casa o que a gente faz? Reclama que tem o recuo obrigatório e na sequência fecha ela de preferência com muros altos para nos sentirmos protegidos. E aí, vocês lembram daquele exemplo do médico que eu dei anteriormente? Ou da falta de visão holística, do todo?
Se aplica aqui também, pois ao criar esse ambiente protegido interno, mas inseguro externo, você aumenta as chances de criminalidade na sua própria rua e isso também prejudica a você. Utilizando as frases do imperador Marco Aurélio, “o que faz bem para colmeia faz bem para abelha”! E o que faz mal para a comunidade….
Claro que teríamos muitas discussões, como por exemplo, o papel da prefeitura em uma cidade educadora, o papel das comunidades, das escolas e de cada um de nós. Mas quem sabe fica para uma próxima oportunidade.
Fotos do Evento Cine Debate, realizado no dia 03/08/2022, no Auditório da Biblioteca da UPF (Universidade de Passo Fundo). O Congresso dos Professores Municipais ocorrerá no dia 23/08/2022, com o tema: Cidade Educadora: o que temos a ver com isso?
Para quem desejar se aprofundar no assunto, tenho um vídeo no Youtube que aborda essas questões e se intitula: o que faz um urbanista? No canal diálogos da Ana. Se tiverem interesse em conferir, eu ficarei muito feliz em encontrar vocês também por lá.
Por hoje, a mensagem que eu desejei transmitir, foi o quanto ter consciência da coletividade é importante para todos nós. E o quanto a cidade atua como agente ou impeditivo dessa coletividade. O quanto a gente pode usar a cidade, os espaços públicos para fazer refletir sobre essas ideias e até mesmo ideais.
O quanto vocês professores devem buscar por ensinar a coletividade em um mundo cada vez mais individualista em que o melhor amigo de seus alunos por vezes é uma tela. Para finalizar, eu trago uma citação de Daniel Goleman, no livro foco:
“As crianças de hoje estão crescendo numa nova realidade, na qual estão conectados mais a máquinas e menos a pessoas de uma maneira que jamais aconteceu antes na história da humanidade. Isso é perturbador por diversos motivos. Por exemplo: o circuito social e emocional do cérebro de uma criança aprende através dos contatos e das conversas com todos que ela encontra durante um dia. Essas interações moldam o circuito cerebral. Menos horas passadas com gente – e mais horas olhando fixadamente para uma tela digitalizada – são o prenúncio de déficits.” (Goleman, p.13).
E são essas crianças que irão gerir as nossas cidades do futuro.
Arquiteta e urbanista, Mestre em Engenharia com ênfase nos estudos de Mobilidade urbana sustentável, estudante de Filosofia e escritora. Mantém um canal no Youtube sobre reflexões chamado de Diálogos de Ana:Diálogos da Ana – YouTube
Promover processos educativos que nos ajudem a pensar, a conviver de forma saudável com os outros, perceber o valor das pequenas coisas e, acima de tudo, cultivar as virtudes da prudência, temperança, gratidão, tolerância, simplicidade e amor podem se constituir estratégias educativas para vencer a sociedade do cansaço.
Li recentemente o livro Sociedade do cansaço do filósofo coreano Byung-Chul Han. Trata-se de um provocativo ensaio que aborda um dos complexos problemas da sociedade contemporânea. Segundo ele, cada época tem suas doenças paradigmáticas.
Assim como existiu a época bacteriana e viral que durou até a descoberta dos antibióticos, a entrada do século XXI caracteriza-se pela presença visível das doenças neuronais, tais como depressão, transtorno por déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) ou certas perturbações da personalidade.
Na época bacteriana e viral (imunológica), o grande inimigo era o corpo estranho (o outro) que precisava ser eliminado. Por isso, era necessário ter mecanismos imunológicos que pudessem expelir, jogar para fora a ameaça. Em termos biológicos, o sistema imunológico possibilita que o organismo produza mecanismos de defesa (anticorpos) podendo assim expelir qualquer corpo estranho ameaçador. Em termos sociais, a imunologia se faz sentir nas práticas de defesa contra os inimigos que representam uma ameaça a existência da ordem e do funcionamento normatizado de uma determinada comunidade ou grupo social.
Para o filósofo coreano, a dialética da negatividade é o princípio fundamental da imunidade. O outro imunológico é o negativo que se introduz sutilmente e passa a constituir uma ameaça. Por isso precisa ser eliminado. Em termos simples, a presença de um vírus gripal representa uma ameaça ao organismo que tenta de todas as formas se defender. A utilização de antibióticos representa a solução instantânea para auxiliar o organismo a realizar mais depressa a eliminação do intruso que constitui uma ameaça.
Para o filósofo coreano, as doenças neuronais seguem uma dialética da positividade, ou seja, o inimigo não é mais um corpo estranho, um estrangeiro que precisa ser eliminado, mas sim um idêntico que produz excesso e que gera o esgotamento, a fadiga e a sensação de sufoco.
As doenças neuronais produzem a sociedade do cansaço, do excesso, da fartura exagerada. Nosso tempo se caracteriza justamente por um excesso de tudo: de informação, de comida, de consumo, de atividades, de ocupação, de imagens, de produtos, de desejos, de trabalho, de produção.
Como diz o filósofo coreano, o aumento excessivo de produção leva ao enfarte da alma. O cansaço da sociedade de produção é um cansaço individual, um cansaço que separa e isola, um cansaço alienante. Este cansaço alienante provoca no indivíduo a incapacidade de ver, de perceber, de dar-se conta.
As reflexões de Byung-Chul Han em seu escrito Sociedade do cansaço, podem se apresentar a nós como um elemento educativo importante. Seja na escola ou na vida diária, seja na forma como conduzimos nossas atividades rotineiras ou como nos relacionamos com os outros, precisamos nos dar conta se não estamos absorvidos pela sociedade do cansaço, ou seja, uma condição de excesso que gera fadiga, depressão, sensação de sufoco.
O uso exagerado de antidepressivos, a medicalização precoce das crianças, os diagnósticos apressados de Transtorno por Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) ou certas perturbações da personalidade, atestam que a sociedade do cansaço se faz presente no nosso cotidiano.
Promover processos educativos que nos ajudem a pensar, a conviver de forma saudável com os outros, perceber o valor das pequenas coisas e, acima de tudo, cultivar as virtudes da prudência, temperança, gratidão, tolerância, simplicidade e amor podem se constituir estratégias educativas para vencer a sociedade do cansaço.
O futuro depende da forma como conduzimos nossas escolhas no presente. Viver a falsa esperança de que o universo conspirará para que no futuro as coisas estejam sintonizadas com o que gostaríamos de ter é alimentar um modo conformista de enfrentar a vida, é esperar que o destino se encarregue de ajustar os caminhos para termos uma vida melhor. Leia mais:https://www.neipies.com/filosofia-para-viver-intensamente-o-presente/
Que as nossas crianças possam se sentir vivas e que existam com um corpo e um espírito cheios de amor pelo mundo e do mundo por elas.
Para iniciar este ensaio que trata de um tema tão importante às nossas sociedades eu trago o poeta Vinicius de Moraes com o seu poema “O ar (o vento)” nos seus belos versos que dizem “Estou vivo mas não tenho corpo / Por isso é que não tenho forma / Peso eu também não tenho / Não tenho cor.”
Nós, adultos, nos comportamos muitas vezes de forma tão feia, vexatória e escandalosa e ainda assim temos sempre alguém que diz nos amar. O pior é que quando quem nos ama nos larga fazemos o maior escândalo, e somos tão egoístas que muitas vezes matamos a pessoa que dizia nos amar, como acontece nos feminicídios. Eu pergunto, isso é realmente amor?
Nos embriagamos e brigamos com a pessoa que dizia nos amar causando vexame em público. Também perdemos a cabeça e acabamos fazendo coisas horríveis em nome do amor.
Quantas crianças você já viu ficar de birra implorando o seu amor?
As crianças imploram amor através das suas emoções que podem ser expressas no choro demasiado sem causa, no xixi na cama quando já grandinha, na febre ou na dor de cabeça. Elas dizem que precisam de amor quando ficam sempre junto de você querendo o seu abraço ou aconchego porque criança não sabe ser violenta, ela aprenda com os pais a ficar com raiva, xingar e bater nos amiguinhos ou adultos próximos.
Qual o problema das crianças tirarem notas baixas na escola ou ficarem de birra o tempo todo? Só por isso elas vão ser menos amadas? O amor não escolhe comportamentos, tanta gente educada ama outras grosseiras e ridículas, ele nasce apenas pela existência daquela pessoa, e assim deve ser com as crianças, amor à primeira vista desde o nascimento até que ela não precise mais de você, se é que vai existir esse dia.
Que as nossas crianças possam se sentir vivas e que existam com um corpo e um espírito cheios de amor pelo mundo e do mundo por elas. Que nas suas levezas sejam as cores que pintarem nos seus espíritos em formação quando se sentirem amadas porque deverão sempre sentir o amor tão grande amor.
Amar uma criança parece fácil para alguns, mas quando surgem as necessidades do dia a dia, os desafios, os medos, as tempestades de raiva e impulsividade e as famosas birras que hoje estão tão em moda nas redes sociais muitos percebem que não é tão fácil assim. Deixar de ir ao baile com os amigos para ficar em casa com a criança que não tem com quem ficar, deixar de comprar aquela bolsa bonita para comprar o brinquedo que a criança deseja.
Em toda relação de afeto precisamos saber fazer renúncias muitas vezes em nome do amor. Tantas vezes já me peguei pensando se realmente sabemos amar as nossas crianças. Uma vez uma amiga me questionou dizendo que todo mundo sabe amar uma criança. Eu não acho que seja tão fácil assim. Primeiro que criança dá trabalho e nos rouba a paciência. Elas são seres pequeninos e, geralmente, irresponsáveis porque ainda não sabem lidar direito com normas e horários e que precisam de cuidados e atenção a todo tempo, coisa que não podemos mais lhes oferecer nos dias de hoje.
Na verdade, não sabemos nem mesmo como nos amar, imagine a amar uma criança que vem cheia de dúvidas intrigantes para as nossas vidas e toma todo o espaço que antes era só nosso e agora temos que dividir com elas. Rouba o coração do nosso parceiro, desarruma a casa e a vida da gente. Quantos de nós não já saímos à meia-noite para irmos à procura de uma farmácia por que a criança estava com febre? Chateados, reclamões, abusados somos nós diante do nosso conforto e comodismo.
Diz o filósofo grego Sócrates “conhece-te a ti mesmo” isso para que possamos aprender a nos amar de verdade. Se no primeiro sinal de que algo deu errado perdemos a cabeça e não sabemos o que fazer, logo percebemos que não nos conhecemos como deveríamos. Como podemos nos amar se não nos conhecemos necessariamente? E além, como podemos amar uma criança se nãos sabemos nem nos amar de verdade?
Parece que as pessoas estão esquecendo como se ama verdadeiramente um outro ser e isso é um problema sério às nossas sociedades.
Para amar não é somente cobrir a pessoa de mimos e carinho. É uma renúncia de quase tudo o que fazíamos antes para aprendermos a lidar com a subjetividade daquele ser com quem passamos a compartilhar os nossos dias. É um sentimento que sai das profundezas da nossa alma e toma conta de toda a nossa existência.
Amamos simplesmente por amar sem exigir nada de ninguém é por isso que devemos amar as nossas crianças sem cobranças de comportamentos ditos adequados na presença de visitas ou em meio ao público. A criança vai se comportar do jeito que ela se sentir confortável ao lado de quem quer que seja e nem por isso será menos amada. É assim porque tem que ser assim quando se ama uma criança.
Sem contar que criança em casa além de desarrumar tudo faz uma bagunça na vida da gente. Muda o nosso ritmo de dormir, de se alimentar e de até mesmo assistir televisão. Tem gente que adora criança, mas só as das suas visitas e nem sempre elas são bem-vindas porque mexem em tudo o que é alheio.
Costumamos gostar das crianças comportadas.
Aquelas que ficam sentadas quietinhas no sofá enquanto beliscamos carinhosamente as suas bochechas e elas sorriem, felizes. Por essas, logo criamos afeto e costumamos dizer que são lindas e meigas como se toda criança não fosse linda. Esquecemos que muitas vezes as crianças quietinhas e tímidas carregam problemas emocionais assim como as que fazem muita birra e xixi na cama até certa idade.
Toda criança deve gostar de brincar, correr, se sujar, pular, subir em árvores e gritar. Esta é a verdadeira criança feliz. E para que ela cresça mais feliz ainda nós adultos devemos dedicar-lhes parte das nossas vidas. Estamos preparados para isso? Vejo mulheres jovens hoje em dia sendo mães. Deixando os seus filhos aos cuidados dos avós porque precisam estudar e trabalhar.
Nas minhas andanças pelas ruas da minha cidade costumo me deparar com crianças nos semáforos limpando carros, outras sentadas nos canteiros levando sol e vento o dia inteiro sendo usadas pelos pais para comoverem a quem passa para doar qualquer coisa que alivie as suas fomes. Essas crianças não são paparicadas, não são chamadas de lindas e meigas. Por quê? Elas não são crianças iguais as comportadinhas?
É preciso que aprendamos a amar as crianças não pela forma como elas se comportam, mas tão somente pelo fato de existirem. As crianças tornam o mundo mais belo, conviver com uma criança nos faz ver onde estamos errando no nosso dia a dia ou que coisas passavam despercebidas quando elas nos fazem perguntas sobre nós e as coisas que fazemos ou voltarmos ao nosso mundo infantil, elas nos desafiam e nos imitam em quase tudo.
A vida de uma criança deve ser pautada no amor demasiado amor como dizia Nietzsche. Aquele amor que é doado não pelo seu jeito de ser, isso não importa, mas pela sua existência, pelo seu estar aqui, pelo ser vestido de corpo e alma que chega cético ao nosso mundo e vai descobrindo conosco as coisas reais e imaginárias, vai criando as suas próprias crenças e definindo conceitos para as coisas ao seu redor.
Tendemos a amar as crianças que não nos contradizem e nos ouvem em silêncio. Aquelas que nunca se intrigam com o que lhes dizemos ou não aceitam as nossas opiniões de tiranos porque achamos sempre que as crianças são nossas súditas e devem nos respeitar em todos os sentidos. Somos os sabe tudo. Detemos o conhecimento do mundo e elas devem aprender tão somente conosco as coisas que são boas para o seu viver bem. Como somos chatos, minha gente, e nem nos damos conta disso.
É preciso aprender a amar as crianças pobres ou ricas, feias ou bonitas, sujas ou limpas, quietas ou barulhentas. Elas não têm culpa de serem do jeito que são, elas só estão querendo uma oportunidade para se tornarem cada vez melhor. Elas estão aqui porque alguém as trouxe. Elas não têm culpa de fazerem parte da sua vida. De certa forma você a aceitou, agora o importante é aprender a amá-la sem reclamações, puxões de orelhas ou gritos.
Eu fico vendo algumas mães que xingam os seus filhos, colocam de castigo, batem com força, gritam e lhes dizem coisas desagradáveis deixando a criança triste num canto da casa e até mesmo as proibindo de chorar porque senão vai ser castigada novamente. Essas mesmas mães que fazem isso costumam vir para as redes sociais postando fotos das suas crianças e dizendo que as amam.
Que tipo de amor é esse? Um amor que machuca, faz chorar e ao mesmo tempo quer ser apresentado ao mundo como sendo a melhor mãe do mundo.
Fico aborrecida quando vejo adultos se afastando de crianças sujas e moradoras de ruas que se aproximam deles pedindo um pouco de comida ou uma moedinha. Nunca vi um adulto fazer um carinho numa criança moradora de rua. Apenas dar uma moeda ou um prato de comida não significa amar. Amar vai muito além disso. Amar a criança é amar tudo aquilo que está vazio de conceitos pré-estabelecidos pela sociedade.
A criança que anda pelas ruas sujas não é vista, ninguém se importa com os seus sentimentos e as suas dores. Ela vive por viver. Nem sabe o seu nome, muitas vezes e nem quantos anos tem. Quando recebe um carinho ou um afeto acha estranho. Agradece e segue o seu caminho porque sabe que não pode ficar. Ficar é proibido para a maioria das crianças de ruas. Elas têm que perambular por aí atrás de comida ou de um lugar para se abrigar do sol e da chuva.
Acredito que as crianças não devem agradecer o amor que recebem. O amor é o sentimento que Jesus Cristo nos ensinou. Precisamos aprender a amar as criancinhas assim como ele amou. Ele que gostava tanto de contar histórias aos seus apóstolos e que os tratava como crianças grandes que precisavam de metáforas para entenderem melhor as coisas que lhes dizia.
Para quem é cristão e gosta de ler a Bíblia Sagrada, em Mateus capítulo 19, versículo 14, Jesus Cristo nos diz “Deixem vir a mim as crianças e não as impeçam; pois o Reino dos céus pertence aos que são semelhantes a elas”. Então, seguindo as palavras de Cristo devemos ser semelhantes as crianças para que possamos entrar no seu reino e essa semelhança começa quando aprendemos a amá-las do jeito que são e não do jeito que desejamos. Ser igual a uma criança é manter viva a inocência e a ingenuidade de um jeito especial para com as pessoas ao nosso redor e não sermos egoístas e invejosos como nos apresentamos diante dos amigos de trabalho e negócios, muitas vezes.
Quando amamos uma criança nos tornamos pessoas melhores, não é à toa que muitos poetas, escritores e ilustradores preferem fazer trabalhos para crianças. Não é que seja mais fácil. Ao contrário, fazer um trabalho para uma criança exige dedicação, conhecimento da infância, entrar no mundo imaginário dela, senti-la e envolvê-la nos braços, amá-la profundamente. É ser criança em corpo de adulto.
Toda criança precisa ser amada para continuar a desenvolver o seu corpo e o seu espírito. É em casa que a criança recebe os primeiros afetos, os primeiros carinhos que vêm em forma de abraços e beijos. Depois este afeto passa também para a escola. Aquela que só é amada por ser boa aluna na escola sente-se feliz e quer cada vez mais ser a melhor em tudo o que fizer para continuar sendo amada, é como se ela precisasse oferecer algo para receber amor da parte de quem tanto ama.
Já a criança que não se sai bem na escola e tem dificuldades de aprendizagem, fica no canto da sala à espera de que a professora lhe dê um pouco de atenção ou no quarto da casa trancada estudando a lição enfadonha que nada informa e nada lhe diz. Ela não entende por que não é amada apenas por existir para os seus pais. Ela sabe que eles querem que ela seja a melhor na escola, mas ela não consegue. Com isso, começam os medos e os problemas emocionais.
Todos nós enfrentamos desafios e passamos por cima das pedras quando sabemos que somos amados. O amor nos encoraja a corrermos riscos e nos aventurarmos. Assim ocorre com as crianças. Quando se sentem amadas elas não temem a competição. Sabem que se ganhar ou perder seus pais estarão ali com elas de qualquer jeito. É assim que deve ser. É assim que desejo para toda criança.
Gosto muito do personagem Sísifo da mitologia grega que depois de enganar a morte foi castigado pelos deuses para carregar uma pedra montanha acima, mas ele nunca conseguiu chegar até o topo da montanha porque cansa, para e volta para o início. Sísifo não é visto como um bom exemplo porque brigou com os deuses do Olimpo, mas para mim ele é uma criança peralta daquelas que mexem em tudo e nunca desistem dos seus sonhos. É como se ele fosse uma criança que sabe, um dia, vai conseguir vencer o seu castigo.
E não existe castigo maior para uma criança do que a rejeição, assim como se sente Sísifo rejeitado pelos deuses e castigado pela morte. Alguns pais deviam seguir o exemplo dos seus pais e cuidar da criança como eles foram cuidados, ou seja, com amor. Aquela hora de dormir e que a criança pede para contar uma história mais de uma vez, aquele boneco de pano costurado à mão com tanto carinho, aquele carrinho de madeira, aquela bola de meia.
Os pais de hoje em dia, da sociedade do consumo, compram tudo pronto. Eles têm pressa que as suas crianças cresçam rapidamente e parem de perturbar os seus sonos e as suas vidas no trabalho.
Penso que amar uma criança talvez seja uma das coisas mais difíceis da vida, e por isso devíamos aprender com os nossos avós e bisavós como eles fizeram para nos amar tanto e que fórmula mágica eles têm para aturar as crianças com tanto carinho e amor porque elas são chamadas de “pestinhas” muitas vezes por nós quando fazem coisas que não deviam.
Amamos as crianças que nos obedecem.
As que na escola são depósitos de conhecimento. Aquelas que perguntam, criticam, fazem reflexões acerca do que lhes é ensinado são chamadas de chatas e abusadas. Não aprendemos ainda que as crianças chegam ao mundo como uma tábula rasa, segundo dizia o filósofo John Locke, ou seja, uma folha de papel em branco que seria marcada por impressões obtidas por meio das experiências e, a partir daí, surgiria o entendimento, a inteligência. Essas impressões não devem ser engolidas pelas crianças, mas processadas em seus pensamentos reflexivos e críticos.
Mas, amar não é aceitar que a criança faça tudo.
Ela tem que ter limites. Ela precisa saber respeitar os adultos e os horários determinados pelos pais para se alimentar e fazer as lições da escola. É preciso criar uma rotina para a criança. Como também ensiná-la a ser organizada e comprometida. Desde a tenra idade ter o seu próprio espaço para brincar, estudar e sempre fazer as alimentações na mesa de preferência junto com a família. Nada de comer baganas fora da hora.
O amor deve ser como disse o filósofo grego Platão “algo essencialmente puro e desprovido de paixões, ao passo em que estas são essencialmente cegas, materiais, efêmeras e falsas. O amor seria um agente de transformação e ordenação do mundo.” Eis o amor que deve ser dedicado às crianças, desprovido de paixões que nada dizem e um agente de transformação que possa ordenar o mundo às suas necessidades. Não é a criança que tem que mudar para chegar até a realidade, mas a realidade que deve chegar até a criança do jeito que ela possa compreender e aceitar.
É fácil amar uma criança quando ela não está doente e apresenta saúde para brincar, correr e pular. O difícil é quando ela adoece e necessita dos nossos cuidados dia e noite. Quando precisamos largar tudo, ou seja, trabalho e compromissos com amigos, para ficarmos do seu lado. Muitos pais entregam esses cuidados a enfermeiros e babás, quando deveriam ser eles ali presentes. Talvez a criança se curasse mais rapidamente.
Quando amamos verdadeiramente alguém queremos colocá-lo dentro de uma redoma para protegê-lo do frio, da fome e da sede. Ficamos ali do seu lado, apenas observando seu jeitinho de ser e de viver. Não devemos colocar as crianças dentro de redomas ou superprotegê-las como fazem alguns pais. Elas sabem se cuidar. Claro que não devem ficar expostas a perigos, mas elas precisam desde cedo aprenderem a se defender dos perigos do mundo. Deixemos que corram riscos e se aventurem sempre com um adulto por perto.
Os pais de crianças com necessidades especiais sabem que o amor é o único sentimento que não precisa de fisioterapeutas, fonoaudiólogos ou pediatras para que elas cresçam felizes. Nas dificuldades que muitas vezes essas crianças precisam enfrentar para continuarem vivendo o amor dos pais é de fundamental importância, é como se fosse o alimento da alma. Poder confiar nos pais é essencial para o crescimento espiritual e corpóreo.
Os médicos pediatras deveriam amar também todas as crianças mesmo que elas sejam suas pacientes ou não. A gente ama um pouquinho quando para e dá atenção, quando escuta, quando cuida de certa forma, quando se preocupa e quando acolhe. O acolhimento é essencial para que a criança sinta confiança na gente. Alguns médicos pediatras amam tão somente os seus pacientes. Eles nunca visitaram abrigos para crianças ou conversaram com crianças de ruas. Eles nunca pararam para ouvir o coração de uma criança desconhecida.
Nem sempre escutamos o coração ou os pulmões de uma criança com um estetoscópio, muitas vezes se lhes dermos a oportunidade de poderem entrar nos nossos consultórios médicos e contarem as suas histórias de vida tenho a certeza de que escutaremos intensamente os seus corações e saberemos como estão os seus pulmões através da respiração ofegante ao nos abraçar timidamente.
Também sei de professores que nunca saíram das suas salas de aulas para ensinarem a uma criança de rua a ler e a escrever. Ninguém quer saber de criança moradora de rua. Tristemente muitas delas recebem o nome de “trombadinhas” porque precisam roubar para sobreviver. Temos medo das nossas próprias crianças.
Elas são fruto do que lhes oferecemos todos os dias.
Se praticam pequenos furtos ou delitos foi porque a sociedade não soube de fato como amá-las entregando-as ao Deus dará. Elas não fazem isso porque querem ou por vícios. Fazem isso porque não têm quem cuide delas, quem alimente os seus espíritos com bonitezas como um abraço, um beijo, um carinho.
Lembre-se sempre de amar a sua criança não pela forma como se comporta, mas porque ela existe. E é neste existir que ela precisa de você, dos seus cuidados, da sua atenção e das suas palavras de carinho. Ela só vai começar a pensar de verdade quando descobrir que é amada, como dizia o filósofo francês René Descartes “penso, logo existo.” Para a criança aprender a pensar ela precisa existir no mundo de um adulto, ela precisa fazer parte de um mundo. E que este mundo possa amá-la com toda intensidade e grandeza que tanto merece.
Para finalizar trago o poeta da infância Vinicius de Morais com os versos do seu poema intitulado “O elefantinho” que nos diz “Onde vais, elefantinho / Correndo pelo caminho / Assim tão desconsolado? / Andas perdido, bichinho / Espetaste o pé no espinho / Que sentes, pobre coitado? / — Estou com um medo danado / Encontrei um passarinho.”
Que as nossas crianças não tenham medo igual ao elefantinho do poeta mencionado acima, mas sejam seguras e confiantes nos adultos ao seu redor que as amarão nas suas birras e alegrias, nas suas dificuldades e vitórias.
Toda criança será amada não pelas suas qualidades, mas porque existe além dos muros que levantamos para elas sem espinhos e sem medos, com pais passarinhos que alegrarão os seus viveres e nunca lhes causarão temores.
Amigo é coisa pra se guardar do lado esquerdo do peito (Milton Nascimento)
Dia 20 de julho é conhecido no Brasil como o dia do amigo. Em nível internacional a data é comemorada no dia 30 de julho.
As comemorações teriam iniciado na Argentina a partir da iniciativa do professor de psicologia e filósofo argentino, Enrique Ernesto Febbraro. Ele teria se inspirado na chegada do homem à lua, em 20 de julho de 1969. O fato foi considerado por ele não apenas uma vitória científica, como também uma oportunidade de se fazer amigos em outra parte do universo. Da iniciativa utópica de Enrique Febbraro, nasceu o dia do amigo.
Pe. Elli Benincá, de saudosa memória, nascido justamente no dia 20 de julho, escreve que a amizade pode nascer de uma simples saudação. Migra para outros estágios mediada pelo diálogo. O diálogo permite a troca de dons e também a auto entrega. Pelo diálogo recebo o outro e me dou ao outro. E isto faz bem para o ser humano. Jamais será peso, sim graça e satisfação.
A amizade exige cultivo, responsabilidade e compromisso com a pessoa, como explica o Papa Francisco: um amigo não é um conhecido, com quem se passa um bom bocado na conversa. A amizade é algo profundo. É necessária a paciência para forjar uma boa amizade entre duas pessoas. Muito tempo de conversa, de estarem juntos, de se conhecerem, e aí forja-se a amizade. Essa paciência na qual uma amizade é real, sólida.
Além desses elementos valiosos acima descritos ouso partilhar outros.
A amizade é marcada pela gratuidade que, por sua vez, nasce da empatia e da simpatia. São atitudes que se complementam e geram uma ponte sólida em direção ao outro. A gratuidade não deixa que a presença do outro seja um peso, uma dificuldade, algo difícil. É uma relação leve, porque os laços que ligam ao outro não são medidos ou pesados, são vivenciados, temperados pela gratuidade.
Junto à gratuidade está a alteridade, capacidade de colocar-se no lugar do outro. Não é um exercício fácil, entretanto, é necessário. Permite que a pessoa saia do seu mundo e migre para o mundo e os sentimentos do outro. Não perderá a sua identidade, mas se compreenderá mais aberta e sensível à presença do outro. Jesus explicitou o princípio da alteridade ao dizer: façam com as pessoas o mesmo que vocês desejam que elas façam a vocês (Mt 7,12).
As relações de amizade se estruturam sobre a verdade. É a base sólida da amizade e esta desmorona na falta da verdade. Nenhuma amizade pode crescer fundamentada em mentiras. O tempo e os fatos da vida acabarão por desvelar situações de mentira e a presença do outro se tornará pesada e difícil, porque falta o sustentáculo da verdade. Ser verdadeiro e exigir a verdade por mais difícil que seja baliza uma relação de amizade emancipadora.
O caminho de amizade se ampara na responsabilidade pelo outro. Saint Exupéry descrevia o diálogo entre o pequeno príncipe e a raposa: se me cativas torna-se responsável por mim.
Ser responsável pelo outro em mundo marcado por relações de irresponsabilidade e relacionamentos fluídos (Baumam) é um alento profético. E a responsabilidade compreende o cuidado do outro, o saber do outro, não como posse, mas como atenção, respeito e carinho. A responsabilidade no caso não é peso, mas uma condição que assumimos com leveza pelo valor que damos à pessoa do outro.
A amizade é compromisso. É uma aliança de palavras, afetos e carinho que não precisa ser explicitada a todo momento como se dependesse dessa visibilidade para continuar a existir. É algo precioso que não exige propaganda como se pensa hoje de forma equivocada, sobretudo pelo advento das redes sociais. O compromisso envolve partes e estas têm ciência da sua importância.
Façamos de nossas amizades algo libertador. Cuidemos de nossos amigos. E não esqueçamos de rezar pelos nossos amigos, um gesto simples, mas profundamente cristão.
Existem algumas características exclusivas daqueles que são nossos amigos verdadeiros. Você sabe reconhecê-los? E quem já não foi surpreendido por uma falsa amizade? Assista: https://youtu.be/QfznbhRTV6Q?t=91
A pesquisa nacional Educação, Valores e Direitos revelou que a maioria dos brasileiros é favorável às cotas raciais.
Coordenada pelas organizações Ação Educativa e Cenpec, a pesquisa inédita foi realizada pelo Centro de Estudos em Opinião Pública (Cesop/Unicamp) e Instituto Datafolha, no marco da articulação de organizações da sociedade civil em defesa do direito à educação e contra a censura nas escolas.
Foram ouvidas 2.090 pessoas em todo o país sobre questões consideradas polêmicas relativas à política educacional. A realização da pesquisa contou com recursos do Fundo Malala.
Quando perguntados sobre a adoção de cotas raciais, 50% dos entrevistados se mostraram a favor e 34% disseram contra. A Lei nº 12.711/12, que estabelece a reserva de vagas nas instituições federais de ensino superior e técnico para estudantes de escolas públicas e, dentre esse público, para pretos, pardos e indígenas, completa 10 anos em 2022, quando é prevista uma avaliação da política.
Em 2016, a lei 13.409 alterou a Lei de Cotas estabelecendo uma sub-cota para estudantes com deficiências. “O apoio às cotas raciais demonstra que a população avança no entendimento de que ela é um instrumento fundamental para acelerar o enfrentamento das imensas desigualdades raciais no país”, afirma Anna Helena Altenfelder, presidente do Conselho de Administração do Cenpec.
Balanço da Lei de Cotas
Nesse marco dos debates sobre a avaliação da Lei de Cotas, a Ação Educativa e o Laboratório de Estudos e Pesquisas em Educação Superior da UFRJ realizaram uma outra pesquisa que trata do balanço da implementação da Lei de Cotas, considerando a diversificação promovida no perfil de estudantes das instituições de ensino superior, mudanças no currículo e a maior presença de iniciativas antirracistas nas universidades.
“As cotas nas universidades públicas constituem políticas de sucesso, que têm gerado transformações fundamentais no sentido de democratizar as instituições de ensino superior, historicamente brancas e elitistas.
Para avançar, precisamos aprofundar a institucionalização dessas políticas e retomar os investimentos no ensino superior e, em especial, em políticas de permanência estudantil que foram drasticamente cortados a partir da aprovação da Emenda Constitucional 95 em 2016”, avalia Denise Carreira, uma das coordenadoras da pesquisa, e integrante da coordenação da Ação Educativa e da Rede de Ativistas pela Educação do Fundo Malala.
“Nossa pesquisa revela que a resistência às cotas diminuiu nas universidades e que mesmo nos cursos mais seletivos elas têm contribuído para a mudança do perfil do alunado. Elas têm gerado não somente a inclusão de população negra, indígena e de pessoas com deficiência, mas mudanças na agenda da pesquisa e do currículo dos cursos do ensino superior”, afirma Rosana Heringer, coordenadora do LEPES/UFRJ e uma das coordenadoras da pesquisa.
A discussão sobre discriminação racial na escolas
A pesquisa do DataFolha mostrou ainda que a presença de temáticas raciais nas escolas tem um apoio massivo entre a população. De cada dez entrevistados, nove concordam que a discriminação racial deve ser debatida pelos professores nas escolas.
Um índice ainda maior defende a tolerância religiosa: 93% concordam que a escola pública deve respeitar todas as crenças religiosas, inclusive o candomblé, a umbanda e as pessoas que não têm religião.
“Esses dados demonstram que a população entende que a educação é um espaço fundamental para o combate ao racismo no Brasil. Temos a necessidade de implementar efetivamente programas que tratem das relações raciais, que enfrentem o racismo dentro das salas de aula e que valorizem a história e a cultura afro-brasileiras e indígenas”, afirma a socióloga Suelaine Carneiro, coordenadora de Educação e Pesquisa do Geledés – Instituto da Mulher Negra.
Sobre a Ação Educativa
Criada em 1994, é uma organização de direitos humanos, sem fins lucrativos, com uma trajetória dedicada à luta por direitos educativos, culturais e da juventude.
Desde a sua fundação, integra um campo político de organizações e movimentos que atuam pela ampliação da democracia com justiça social e sustentabilidade socioambiental, pelo fortalecimento do Estado democrático de direito e pela construção de políticas públicas que superem as profundas desigualdades brasileiras, bem como pela garantia dos direitos humanos para todas as pessoas. Desde 2018, a Ação Educativa é apoiada pelo Fundo Malala. Saiba mais aqui.
Sobre o Cenpec
Cenpec é uma organização da sociedade civil, sem fins lucrativos, que há mais de 30 anos trabalha pela promoção da equidade e qualidade na educação básica pública brasileira. Por meio da produção de pesquisas e de tecnologias educacionais, contribui no desenvolvimento integral de crianças, adolescentes e jovens, na formação de profissionais de educação, na ampliação e diversificação do letramento e no fortalecimento da gestão educacional e escolar.
Em parceria com redes de ensino, espaços educativos e outras instituições de caráter público e privado, atua dentro e fora das escolas públicas para diminuir as desigualdades e garantir uma educação de qualidade a todos e todas. Saiba mais aqui.