Novos e velhos desafios da educação em 2025

O ano de 2024 não terminou bem para a educação pública brasileira. Aliás, estamos percebendo que, especialmente, a partir de 2014, as escolas públicas brasileiras e os professores têm sido alvo de intensas ofensas. Esta última década foi um período de crescentes ataques à educação pública e democrática. E pior, em 2025, nada indica que será diferente.

Recente Dossiê da Revista Retratos da Escola (Brasília, v. 18, n. 42), que busca, por meio do olhar de diferentes pesquisadoras e pesquisadores, analisar, compreender e combater diferentes projetos, políticas, ações e formas de conservadorismo na educação básica, aponta que vivenciamos um cenário de desconfiança em relação ao trabalho de profissionais da educação, com políticas de controle do seu trabalho docente, avanço da militarização escolar, investidas visando a regulamentação da educação domiciliar e popularização do discurso antigênero na arena social.

Por outro lado, o Projeto de Lei (PL) do próximo Plano Nacional de Educação (PNE 2025-2035) precisa de melhorias estruturais. A PEC do corte de gastos atingiu o Fundeb ao permitir destinar até 20% da complementação da União ao fundo para fomentar exclusivamente a educação em tempo integral. Diversas regulações dos Conselhos de Educação (âmbito nacional, estaduais e municipais) impactam no direito à educação e colaboram com estes retrocessos.

Nesta perspectiva, em escala global, o Relatório de Monitoramento Global da Educação 2024 (GEM), lançado pela Unesco em 31 de outubro em Fortaleza (Ceará), aponta que “o nível de aprendizagem caiu, o número de estudantes fora da escola não está diminuindo e a prioridade dada à educação pelos governos também reduziu. Com tantos desafios para a educação, precisamos de mais líderes, não só dentro das escolas, mas em todos os setores da sociedade civil”, afirmou diretor do relatório GEM, Manos Antoninis.

As desigualdades regionais continuam acentuadas: 33% de crianças e jovens em idade escolar nos países de renda baixa estão fora da escola, em comparação a apenas 3% nos países de renda alta. Considerando o contexto mundial, mais da metade de todas as crianças e adolescentes fora da escola vivem na região da África Subsaariana. “A equidade e a inclusão na educação e por meio da educação são fundamentais para a visão de desenvolvimento social do Brasil”, disse Camilo Santana, ministro de Estado da Educação, durante o lançamento do referido relatório.

Muitos são os desafios educacionais para 2025 e próximos anos, entre os quais destacamos e reforçamos: o desafio do aumento do financiamento público, o desafio da valorização dos professores, o desafio do direito à aprendizagem, do acesso as tecnologias e os desafios das mudanças climáticas. Estes temas constam dos relatórios da Unesco e do relatório do G-20 tornados públicos em final outubro de 2024 aqui no Brasil.

Financiamento está diminuindo na educação

O investimento nacional e internacional na educação está diminuindo. Em âmbito mundial, entre 2015 e 2022, os gastos com educação pública caíram 0,4 ponto percentual do PIB: o nível mediano caiu de 4,4% para 4%. A participação da educação no total dos gastos públicos diminuiu 0,6 ponto percentual, de 13,2%, em 2015, para 12,6%, em 2022. O peso cada vez maior do serviço da dívida tem implicações para os gastos com educação.

Em 2022, os países da África Subsaariana gastaram quase o mesmo valor em serviço da dívida do que em educação. Quanto às duas metas referenciais internacionais de se gastar pelo menos 4% do PIB e pelo menos 15% das despesas públicas com educação, 59 de 171 países não alcançaram nenhuma delas.

Os gastos com educação por criança permanecem praticamente os mesmos desde 2010. A participação da ajuda internacional destinada à educação caiu de 9,3%, em 2019, para 7,6%, em 2022.

No Brasil, segundo a economista Maria Lucia Fattorelli, no ano de 2023, R$ 1,89 trilhão foi destinado ao gasto com juros e amortizações da dívida pública, correspondente a 43,23% de todos os gastos. Enquanto isso, a Educação recebeu apenas 2,97%, a Saúde 3,69%, Ciência e Tecnologia 0,29 %, Gestão Ambiental 0,0895%, Organização Agrária 0,0596%, e assim por diante.

Falta de professores

Nas condições profissionais dos professores evidencia-se que o número de professores é insuficiente nas salas de aula decorrente da escassez de candidatos ou da falta de vagas. O primeiro caso é mais comum em países de renda mais alta: apenas 4% dos adolescentes de 15 anos que vivem nos países de renda mais alta querem se tornar professores; o segundo caso é mais comum em países de renda mais baixa: no Senegal, houve um excedente de mais de mil professores qualificados apenas no ano de 2020.

Muitos professores, por diversas razões, não têm as qualificações mínimas exigidas. Na África Subsaariana, a proporção caiu de 70%, em 2012, para 64%, em 2022. Na Europa e na América do Norte, caiu de 98%, em 2010, para 93%, em 2023.

Os padrões variam entre as regiões. A maioria dos países exige que os professores tenham um diploma de bacharelado ou licenciatura para lecionar na educação primária, enquanto 17% dos países da África Subsaariana aceitam um certificado de conclusão do primeiro nível da educação secundária.

No cenário brasileiro, professores temporários atingiram, pela primeira vez, em 2022, as redes estaduais tinham mais professores temporários do que efetivos. Este cenário se manteve em 2023, com 51,6% de temporários e 46,5% de efetivos. Estudos recentes demonstram que em 15 estados há mais docentes temporários do que efetivos e, de 2020 a 2023, 67% dos estados aumentaram a quantidade de temporários e diminuíram a de efetivos.

“A cada eleição, a lenga-lenga se repete. A Educação está lá, entre as prioridades sempre citadas mas nunca realizadas. Os candidatos prometem melhor ensino público, melhor preparação dos estudantes, escolas mais bem equipadas e por aí vai. O que se vê, porém, é o oposto disso”. (Chico Alves, jornalista) Leia mais: www.neipies.com/governantes-querem-educacao-sem-professores/

Impactos nas aprendizagens

Os níveis dos resultados de aprendizagem continuam caindo. Antes mesmo da COVID-19 estavam em queda, mas a pandemia agravou essa tendênciaEvidências de 70 países de renda média-alta e alta que participaram do PISA de 2022 (no final do primeiro nível da educação secundária) mostram que, de 2012 a 2018, a proporção de estudantes proficientes em leitura caiu 9 pontos percentuais, e desceu ainda mais 3 pontos, reduzindo essa proporção para 47% em 2022.

De 2012 a 2018, a proporção de estudantes proficientes em matemática aumentou 2 pontos percentuais, mas caiu 8 pontos, para 36%, em 2022. Um declínio de longo prazo pode estar acontecendo desde 2009. A Covid-19 pode ter acelerado essa queda e mascarado outros fatores estruturais.

Tecnologias reproduzem desigualdades

A utilização de tecnologias apresenta grandes desigualdades entre os países em relação à familiaridade com atividades básicas realizadas em computadores: em países de alta renda, 8 em cada 10 adultos conseguem enviar um e-mail com um anexo, mas em países de renda média, apenas 3 em cada 10 adultos são capazes de fazer o mesmo.

A educação formal está ligada à maior aquisição de habilidades digitais. Quanto às atividades relacionadas a smartphones, em países de renda alta, 51% de jovens e adultos são capazes de configurar medidas de segurança para dispositivos digitais, em comparação com 9% em países de renda média.

Desastre planetário e climático  

A mudança climática impõe, também, desafios à infraestrutura e aos currículos. Em todo o mundo, quase 1 em cada 4 escolas primárias não tem acesso básico a água potável, saneamento e higiene. Porém, governos também devem realizar investimentos mais amplos para oferecer aos estudantes e às escolas mais proteção relativa ao aumento das temperaturas e dos desastres naturais. Entre tantas urgências e novas agendas que se apresentam no contexto atual é fundamental retomarmos a Educação Ambiental e Climática com a seriedade em todas as instituições de ensino.

No Brasil, segundo Censo Escolar de 2023, cerca de 1,4 milhão de estudantes estão matriculados em escolas públicas que não contam com fornecimento de água tratada, própria para o consumo. A maior parte desses alunos é negra. Em todo o país, cerca de 5,5, milhões de estudantes estão em escolas sem qualquer abastecimento de água pela rede pública. Desses, 2,4 milhões frequentam escolas predominantemente negras e 260 mil, escolas de maioria branca. Os 2,8 milhões estão em escolas mistas.

De acordo com o professor Marcelo Tragtenberg (UFSC), “Em geral, não se tem um olhar racializado sobre os indicadores sociais, mas, quando se racializa, o que acontece é que as escolas onde predominam estudantes negros são escolas com pior infraestrutura de água e saneamento. Onde predominam brancos, as escolas têm melhor infraestrutura.

A educação ambiental foi praticamente extinta

A Educação Ambiental foi praticamente extinta pelas recentes reformas educacionais nos currículos escolares. No seu espaço está sendo priorizada a educação financeira, empreendedora e inovadora. Precisamos, agora, retomar a educação ambiental formal e não formal, integral, crítica, comprometida com a justiça climática, com a ética socioambiental e proteção de todos os seres vivos da natureza.

Em outra publicação, já apontamos a necessidade urgente da volta da educação ambiental nos ambientes escolares: www.neipies.com/retomar-a-educacao-ambiental-e-climatica-e-tentar-superar-o-capitalismo/

A escritora, professora e ativista Bell Hooks aponta que os sistemas institucionalizados de dominação e, portanto, de produção e manutenção das desigualdades (econômicas, raciais, religiosas, gênero, sexualidade etc.) usam o ensino para reforçar valores dominadores e conservar a estrutura de sociedade pautada em valores patriarcais, machistas, racistas, classistas, imperialistas.

Para a autora, expor os fundamentos políticos conservadores que moldam o conteúdo do material utilizado nas escolas, bem como a maneira pela qual as ideologias de dominação estabeleceram a prática de ensino e a atuação de pensadores/as em sala de aula, permite a educadores e educadoras considerarem o ensino de um ponto de vista voltado a libertar a mente dos/das estudantes em vez de doutriná-los/las.

Já filósofo e pedagogo norte-americano John Dewey disse que a democracia deve renascer a cada geração, e a educação é sua parteira – logo, a democracia e o modo democrático de viver precisam ser ensinados e apreendidos. A democracia tem um vínculo visceral com a igualdade, pois sociedades democráticas pressupõem condições dignas de existência para todas as pessoas, e as instituições escolares e os processos educativos constituem-se espaços essenciais de construção e aprendizado do modo democrático de viver.

Autor: Gabriel Grabowski, professor e pesquisador. Também escreveu e publicou no site “A juventude não é preguiçosa; ela pensa o mundo diferente”: https://www.neipies.com/a-juventude-nao-e-preguicosa-ela-pensa-o-mundo-diferente/

Edição: A. R.

A tarefa de vizinho

Repercutimos, nesta coluna, uma interessante reflexão sobre a importância e a necessidade de bons vizinhos, especialmente em regiões ou localidades onde as distâncias exigem maior zelo, companheirismo e cuidado entre os habitantes. Esta crônica é de autoria de Guido Lang, que mantém página no Faceboock: https://www.facebook.com/guidolang.escritor

“As famílias, como moradoras das retiradas localidades/linhas (em especial), valem-se deveras da “tarefa de vizinho”.

O isolamento geográfico, em função das distâncias e do escasso número de residentes, cria o “espírito e hábito da boa vizinhança”.

As necessidades, de muitas e variadas formas, favorecem as aproximações e interações sociais: onde “um auxilia o outro nas ‘extremas emergências'”.

Os afazeres, num “especial co-irmão”, envolvem “atender estranhos (nas ausências), auxiliar em tarefas (nas doenças), ceder excepcionais ferramentas/utensílios, externar um bom cumprimento, prestar socorro nos percalços, intercambiar artigos coloniais, prestar solidariedade (nas ocasiões de luto), vigiar o afluxo de estranhos”…

Os empecilhos, para “denegrir ou subtrair uma amistosa relação”, consistem em: “alterar rumos das demarcadas áreas, complicar com esporádicas incursões (de animais soltos na propriedade), descartar inconvenientes na terra alheia, externar comentários impróprios, demonstrar egoísmo/inveja (sobre as conquistas alheias), proibir o acesso a água (de fontes e riachos naturais), inibir passagens esporádicas por estradas (de roça), subtrair bens alheios”…

O adágio popular, através das convivências, comprovou: “melhor um vizinho próximo do que um parente longe”.

A “política da boa vizinhança”, como recomendação, consiste em “ser amigo de todos e de ninguém (ser íntimo) por demais”.

A realidade evidencia: “Um bom vizinho possui ‘aspecto de irmão’, enquanto um péssimo vizinho detém feitio de ‘pedra no sapato'”.

“A esperteza, para ‘conquistar bons assistentes’, está em ser um ‘excelente próximo'”.

“Os bons vizinhos, mesmo não se falando diariamente (e se visitando esporadicamente), sabem que têm alguém para contar quando precisam numa emergência” 

(Crônicas das Colônias/Vivências)

Recomendamos também leitura de crônica “Vida na roça”: www.neipies.com/vida-na-roca-2/

Edição: A. R.


O dia a dia das crianças judias no holocausto

Para Nanette Blitz Konig, minha eterna criança.

Em “Valsa para uma menininha”, o poeta Vinícius de Moraes nos traz os seguintes
versos “Menininha do meu coração / Eu só quero você / A três palmos do chão /
Menininha, não cresça mais não / Fique pequenininha na minha canção / Senhorinha
levada / Batendo palminha / Fingindo assustada / Do bicho-papão…”. Gosto de ouvir
esta canção, mas também me lembro das dores de muitas crianças incompreendidas no
mundo inteiro e isso dói no meu coração.

Hitler, o bicho-papão, matou criancinhas e as que se salvaram tiveram roubadas as suas
infâncias cheias de bonitezas e sonhos, e diferente da canção de Vinícius de Moraes,
elas não fingiam estar assustadas, elas viviam assustadas nos guetos e onde se
escondiam para não serem pegas pela polícia nazista.

Tantas crianças foram vítimas do nazismo e perderam seus pais, seus familiares e
deixaram para trás memórias e histórias de vidas que antes do nazismo era bonitas e
cheias de risinhos verdadeiros. O medo tomou conta delas naqueles vagões de trens
fétidos e cheios de uma gente assustada clamando a Deus pela salvação, por algum
milagre, por piedade e orando em voz alta para que não fosse morta.

Crianças foram arrancadas dos seus pais, outras foram colocadas para trabalhos
forçados e ainda tiveram aquelas que foram levadas para câmeras de gás ou fuziladas
sem a menor piedade. Uma maldade que chega a doer, a dar medo, a nos assustar
terrivelmente nas noites de insônia e quando lemos os vários depoimentos dos
sobreviventes hoje com mais de noventa anos de idade e poucos ainda vivos.

Já escrevi sobre esta temática em outra publicação neste site: www.neipies.com/as-
criancas-de-auschwitz/

Já escrevi sobre esta temática em outra publicação neste site: www.neipies.com/as-criancas-de-auschwitz/

Ainda há pouco completamos oitenta anos do holocausto e o mundo inteiro viveu de novo as memórias tristes contadas pelos seus sobreviventes. A história não pode ser repetida nunca mais. Eles ainda estão vivos para nos lembrarem dos seus sofrimentos e dores. Nós precisamos acordar para um futuro melhor e cheio de sonhos às nossas crianças sem discriminação ou preconceito.

Crianças não somente judias, mas filhas de ciganos ou aquelas que não eram consideradas de raça pura alemã foram brutalmente mortas ou castigadas pela polícia nazista. Algumas serviram para experimentos científicos horríveis. O medo corria pelos seus pequeninos olhos assustados daqueles soldados de cara fechada que as levavam para serem mortas sem a menor piedade ou misericórdia. Eles diziam seguir ordens. Matar criancinhas para eles não era mal nenhum, pois as ordens vinham de seus superiores e eles apenas as cumpriam.

Um raro soldado salvou uma criancinha da polícia nazista escondendo-a no galinheiro da sua casa. O professor dono de um orfanato de quem sou fã verdadeira Dr. Janusz Korczak que escreveu o livro “Como amar uma criança” não deixou as suas sozinhas e quando elas foram presas ele também foi junto e morreu ao lado delas. Talvez o amor exista, ele existiu no coração do Dr. Korczak. Ele existe nos corações de professores que dão as suas vidas pelas crianças em atos terroristas como a professora Heley de Abreu Silva Batista de Janaúba em Minas Gerais.

O dia a dia das crianças judias que viviam escondidas da polícia nazista não tinham o direito de ir à escola ou brincarem em parques e praças. Viviam escondidas como Anne Frank a desenharem e lerem alguns livros que seus protetores lhes traziam. Os esconderijos eram os mais diversos até mesmo dentro de barris de madeira.

I

Nos campos de concentração, as criancinhas guardavam os seus brinquedos com afeto e como se fossem algo a que podiam se apegar na hora de dormir para esquecer a dor e a saudade dos pais e demais familiares. Os nazistas castigavam as crianças mais fracas imprensando suas unhas contra alicates. Elas tinham as cabeças raspadas para não criarem piolhos e tomavam apenas uma sopa horrível que mal servia para nutrir seus corpinhos, por isso muitas morriam de desnutrição. 

As criancinhas tiveram que conhecer a morte de perto ao verem seus pais serem fuzilados nos campos de concentração. Nem quero lembrar do sofrimento do Primo Levi em depoimento no seu livro autobiográfico “É isto um homem?” sobrevivente do holocausto que já era um adulto, fico a imaginar uma criança vivendo os mais terríveis sofrimentos dentro de Auschwitz.

Aquelas criancinhas que eram presas pelas ruas da Polônia, Alemanha e outros países que viveram o holocausto de perto, não sabiam o motivo de tanto ódio e violência pela polícia nazista quando tinham seus brinquedos tomados abruptamente das suas mãos e quando era levadas embora de perto dos seus pais. Elas choravam e isso causava raiva nos soldados que só sabiam castigá-las e xingá-las como se fossem culpadas por serem especiais com problemas emocionais e físicos, judias e ciganas.

Escondidas em orfanatos, escolas e igrejas que tinham piedade delas, as criancinhas choravam assustadas e perguntavam a todo instante por que não podiam voltar para casa ou onde estavam seus pais. Assim conta a história, assim dizem os sobreviventes, assim lemos nos livros e graças a Deus nunca mais deixaremos existir outro Hitler.

Essas crianças judias que viveram na época do holocausto viviam assustadas andando pelos guetos escondidas dentro de caixas ou caixotes que as escondiam, quietas, tremendo de medo, cheias de interrogação e sem saberem o motivo de terem que viver o tempo todo presas dentro de um galinheiro ou chiqueiro. Quem chora é porque sente a dor, o medo, a saudade… eu já chorei por tudo isso, mas nunca estive lado a lado com um sobrevivente do holocausto porque se Deus me permitisse este encontro daria um forte abraço e um urso de pelúcia para esta pessoa. Tantas crianças brutalmente mortas com fuzis, com falta de ar, desnutridas, vítimas de castigos severos! Tantas infâncias levadas pelo tempo e deixadas de serem vividas no acaso de um tempo bruto e malvado! Hitler parece que nunca foi criança e se foi ele não experimentou o amor de um pai ou uma mãe que o cuidasse verdadeiramente e o ensinasse a respeitar o próximo.

No dia em que comemoramos os oitenta anos da Memória do Holocausto, 27 de janeiro, devemos lembrar também que essa história não pode ser repetida como nos diz o filósofo Alain Badiou e devemos ficar vigilantes a todo instante. As crianças que foram mortas pela polícia nazista inocentemente mereciam uma vida plena e cheia de sonhos com príncipes e princesas, todavia, sofreram as mais brutais violências que um ser humano pode viver. Sem brinquedos, sem bolas de futebol, ursinhos de pelúcia, sem bonecas e sem pijamas elas dormiam em camas duras e lugares escuros. Elas não tinham vida de criança e nem de bicho, elas não viviam simplesmente. Estavam ali porque existiam como gente contando os dias para o sofrimento acabar. E que dor! E que dor!

Em seus dias de sol lindo as crianças não podiam brincar nos pátios ou parques porque poderiam ser presas pela polícia nazista a qualquer descuido, e por isso viviam escondidas em lugares desumanos onde mal podiam se mexer para correrem atrás de uma bola, não podiam criar gatos ou cachorros para não chamarem atenção dos nazistas e não podiam ver seus amiguinhos costumeiramente e viviam sozinhas…sozinhas. 

Há dor estranha no meu peito quando falo de solidão e medo! Eu me sinto como uma criança assustada presa no escuro todas as noites quando apago as luzes e tento dormir… dormir enquanto criancinhas foram mortas brutalmente pelas mãos de soldados malvados… dormir… eu choro.

Anne Frank ainda pôde criar e ter a companhia do seu gatinho Mouschi, contudo muitas delas não podiam criar nenhum bichinho, pois eram escondidas por pessoas de bom coração que tinham medo de serem presas também e todo o cuidado era pouco para não deixar pistas à polícia nazista. 

Se o tempo nos conta bem a história, a cada dia os sobreviventes do holocausto estão morrendo e já são poucos no mundo inteiro. Eu quero mandar um abraço apertado para criança que mora dentro dos seus corações. Talvez se eu disser para esses velhinhos e velhinhas que escaparam de tanto sofrimento possa levar um pouco de carinho e afeto aos seus dias de memórias cruéis e malvadas.

Outro dia estava lendo a biografia do poeta português Fernando Pessoa e não sei por que me veio a lembrança das crianças vítimas do nazismo, talvez por ele também não ter tido amiguinhos na infância, ter levado uma infância solitária ao lado da sua mãe sem a presença do seu pai. Penso que Pessoa reescreveu a frase famosa dos antigos navegantes para nos deixar uma mensagem “tudo vale a pena se alma não é pequena”. Que Deus salve as vítimas do holocausto que ainda estão vivas e que as nossas crianças sejam amadas sempre! Eu choro e as minhas lágrimas caem em cima do meu gato deitado aos meus pés. Deus nos abençoe!

Autora: Rosângela Trajano. Também escreveu e publicou no site “As crianças das guerras”: www.neipies.com/as-criancas-das-guerras/

Quais os limites da nossa empatia? Sentir o desamparo do outro ou viver a sua dor?

“Traziam contra ele algumas questões referentes à sua própria religião e, particularmente, a certo morto, chamado Jesus, a quem Paulo afirmava estar vivo” (Declaração de Festo ao Rei Agripa em Atos 25:19)

Todos os tempos são tristes, mas o nosso parece ser o mais triste de todos porque nele vivemos. ¹

 A noite estava muito quente, como todas as noites de um verão que se atrasou. E parece que para compensar seu tempo, subiu a pressão.

Terminando a minha caminhada arrastada, resolvi passar em um mercado para compra do pão de todos os dias.  Não é propriamente pelo pão a razão de vermos tanta fila; é porque ele está quentinho.  O que é uma ilusão, pois assim que os seus consumidores o compram, entram em seus carros e, ao chegar em casa, ele já estará frio.

Tenho por hábito ir ao mercado pelo final das tardes e comprar uns 5. Mas a graça está em tirar o pão quentinho da sacola e o comer pelo caminho.  Aí sim! Por dois motivos: um deles, o de caminhar e comer. Uma delícia! A outra razão é pelos curiosos pelas calçadas. Caminhar pela rua com um pedaço de pão nas mãos é quebrar protocolos e torcer olhares.  E como é bom quebrá-los! Os outros receiam ver alguém se deliciando.

Já subindo a rampa do mercado, uma surpresa!

Duas mulheres e uma criança sentadas à beira da calçada. Quase que as desvio. Mas voltei. E para o seu espanto, falei a elas:

_Estou entrando no mercado para comprar pães.  Posso comprá-los pra vocês?

Uma delas, um pouco receosa, olhou pra mim carregada de medo e disparou: 

_Você pode comprar também uma Coca-cola?

Que franqueza, que sinceridade! Adorei.

Ambas as mulheres, de estatura pequena, sentadas ao chão, com uma criança de colo, no momento fora do seu colo, como as jovens índias que vemos pelas calçadas, com seus bebês, forçados que são a ‘engatinhar’, prematuramente.

Povos de alguma aldeia próxima, decerto. Mas aí a outra mulher acrescentou:

_Você pode comprar também um pouco de mortadela?

Hahaha! Achei corajosa a sua pergunta, pois estamos sempre acostumados a dar sempre o mínimo.

É porque somos tentados a achar que quando alguém nos pede algo, temos de dar o diminuto para aliviar a sua dor, mas não o seu prazer, como quem não tem direito de sorver, no seu desespero, um alívio com quaisquer prazeres que diminuam seu desamparo. Para quem pede, fica proibido. Ao pedinte, que se contente com o básico!

Entrei no mercado e comprei: pão, mortadela, queijo, água e uma coca, muito gelada.

Quando fui entregar as sacolas é que percebi que não eram apenas duas, três, mas uma família completa. A noite me tisnou o olhar.

Bem, eles não pediram nada. Eu os provoquei.  Mas como não provocar as duas senhorinhas, que me olhavam como que pedindo socorro?  Bastava ver em seus olhos o desconsolo!  Sua imensa tristeza ao sentir fome e abandono, agora que saíram de sua aldeia e não param de se admirar pela riqueza aparente que as cerca. Tanta riqueza e tanta pobreza, na mesma quadra, na mesma noite, em um mesmo verão.

Os nossos tempos são tristes demais! Nem foi possível comer o pãozinho de costume que exibia pelas ruas.  E quer saber?  Tomara que aquela índia sincera tenha tomado a coca toda, em goles feios, para a sua sede abandoná-la. Ainda dentro da hipocrisia em que contraía, pedi a elas que não dessem coca para o menininho. E concordaram. Que diferença isso faria, meu Deus.

O que eu poderia fazer mais? O que faltou nessa cena?

Pensei um pouco mais no caso e imaginei se Jesus estivesse andando por aí, em uma noite de verão qualquer; o que ele faria? É uma pergunta obrigatória!

Falamos de boca cheia que somos todos cristãos, mas a maioria dos que passavam pela frente das senhoras não davam a mínima.  Bem, ninguém é obrigado a dar nada, assim como ninguém é obrigado a ser cristão.

Mas as Igrejas estão cheias das mesmas pessoas que não paravam na frente das duas indiazinhas, mães ainda jovens, e tomadas por uma sede própria das madrugadas de verão mal dormidas. Mas Deus é invocado nas mesmas Igrejas, todas as semanas, como ele fosse um deus à sua maneira e segundo o interesse de cada um.

Muitas vezes perco a paciência comigo mesmo por não ajudar mais, não sentir toda a dor alheia pelas calçadas nesses tempos de tantos deuses, igualmente solitários. E penso, em muitas ocasiões, que andamos pelas ruas como seguidores de um Cristo morto.  Isso tudo, depois do Apóstolo Paulo nos alertar que dar é melhor que receber e que é mister socorrer aos necessitados. ²

Sabe de uma coisa:  acho que Jesus, no lugar do meu pobre andar por um verão de tantas solidões, isso mesmo, o Jesus que lemos e ouvimos, retornasse a elas. E penso que Ele se sentaria ao seu lado, na calçada, talvez com o indiozinho em seu colo e pediria até que contassem sobre a sua vida na aldeia e as razões de terem abandonado tão grande dádiva, para sentir vontade de comer e beber coisas estranhas, neste exílio permanente em sua própria terra. E nós, de certa forma, exilados de nossa própria empatia.

Quem sabe ele não permanecesse ao seu lado, até o amanhecer, eles todos, índios, indiozinhos e até o próprio Jesus, acostumados que estão com a nossa indiferença. Sim, nós, seus seguidores de ocasião.

Todos os tempos são tristes, como falou o poeta, mas nunca tivemos tantos recursos para que nossas noites fossem amenizadas com um mínimo de piedade.

Mas é dar com a mão esquerda sem que a mão direita o veja, ³ de modo que não haja tentação de que uma delas poste nas redes sociais… um simples pão dividido.

Referências:

1) Mauro Santayana/

2) Atos 20:35/

3) Mateus 6:3

Autor: Nelceu A. Zanatta. Também escreveu e publicou no site a crônica “O dia em que Deus se arrependeu de nós. Será que somos o erro de Deus”?: www.neipies.com/o-dia-em-que-deus-se-arrependeu-de-nos-sera-que-somos-o-erro-de-deus/

Edição: A. R.

Ansiedade: a palavra síntese eleita de 2024

A palavra que simboliza o sentimento dos brasileiros em 2024 foi revelada pela pesquisa ‘Palavra do Ano’, conduzida pela CAUSE em parceria com o Instituto de Pesquisa IDEIA e o PiniOn app. Em sua nona edição, o termo ‘Ansiedade’ liderou com 22% das menções, seguido por ‘Resiliência’ (21%), ‘Inteligência Artificial’ (20%), ‘Incerteza’ (20%) e ‘Extremismo’ (4%). Leia mais:https://roraimaemtempo.com.br/cidades/ansiedade-e-eleita-a-palavra-do-ano-no-brasil-mostra-pesquisa/)

O encerramento de um ano é tradicionalmente marcado por balanços e projeções. Revemos os planos traçados, avaliamos os resultados alcançados e elegemos a direção para o próximo ciclo.

Mas e quando a palavra que define o espírito do ano é “Ansiedade”? Como projetar o futuro sob a influência de uma sensação que, em sua essência, é caracterizada pela inquietude, pela pressa e pela dificuldade em lidar com a espera?

A ansiedade não é apenas cansaço mental ou emocional. Ela é uma perturbação que afeta profundamente a nossa relação com o tempo.

Quando estamos ansiosos, não preparamos o futuro com calma; ao contrário, colidimos com ele, muitas vezes sem planejamento, deixando-nos vulneráveis a frustrações e desilusões. Esse “choque com o futuro”, como bem pode ser descrito, reflete não apenas nossas tensões internas, mas também ameaças externas significativas: as mudanças climáticas, as desigualdades sociais crescentes, a perda de biodiversidade e as crises geopolíticas que redefinem constantemente o cenário global.

Esses desafios coletivos demandam respostas que transcendam a ansiedade individual e exigem colaboração, solidariedade e a “pressa de fazer caridade”. Essa pressa, diferentemente da ansiedade paralisante, é movida por um senso de urgência positiva, pela busca de soluções que não apenas remendam o presente, mas plantem sementes de esperança para o futuro.

No entanto, a esperança é um ato paradoxal.

Ela exige que reconheçamos os desafios com clareza, sem negá-los, mas também que acreditemos em nossa capacidade coletiva de superá-los. Como construir um futuro sustentável, socialmente equitativo e com isonomia cidadã diante de um mundo em turbulência? A resposta pode residir na diferença entre ansiedade e pressa de esperançar.

Enquanto a ansiedade atropela as vibrações retroativas de vida, desorganizando a continuidade das nossas experiências, a pressa de esperançar é proativa. Ela nos impulsiona a agir com intencionalidade, equilibrando urgência e planejamento. Essa abordagem demanda uma reavaliação dos valores que nos guiam. É necessário cultivar a paciência ativa, aquela que nos permite agir no presente com a consciência de que cada pequeno gesto tem impacto no futuro.

Enfrentar a ansiedade significa aceitar que a incerteza é parte da vida.

Isso envolve criar espaços para reflexão e diálogo, onde medos possam ser compartilhados e ressignificados coletivamente. Nenhum futuro é sustentável se construído de forma individualista. A colaboração entre diferentes setores da sociedade é crucial para resolver problemas globais e garantir justiça social. Em tempos de crises sistêmicas, manter a esperança é, em si, um ato revolucionário. A esperança nos convida a olhar além das dificuldades imediatas e imaginar o que pode ser alcançado com esforço e determinação.

O ano de 2024, com a ansiedade sendo a palavra síntese, nos desafia a ressignificar o conceito de tempo e de planejamento. Mais do que um estado mental ou emocional, a ansiedade pode se tornar um catalisador para a mudança, desde que não nos rendamos a ela. A transição da ansiedade paralisante para a pressa de esperançar exige coragem, organização e uma consciência ampliada de que somos todos coautores do futuro.

Assim, que possamos encerrar o ano 2024 com a compreensão de que o verdadeiro desafio não está apenas em enfrentar nossas inquietudes, mas em transformá-las em energia criativa e construtiva. Afinal, a ansiosa espera pelo futuro pode ser substituída por uma esperança ativa e coletiva, na qual cada passo à frente seja guiado por valores que promovam uma vida digna e harmoniosa para todos.

Autor: José André da Costa, msf. Também escreveu e publicou no site em 2024 “Tapera: espaço das lembranças vividas”: www.neipies.com/tapera-espaco-das-lembrancas-vividas/

Edição: A. R.

Prefaciando Amor: encantos e desencontros, de Laercio Fernandes dos Santos

Uma das mais instigantes características humanas é a busca pelo encontro. No caminho pelo qual cada um se conduz para essa busca, há o amor. E não só. Há de se saber que a perda se esconde nesse caminho, que é parte dele, que está tão presente como qualquer outro acontecimento, mesmo sendo difícil de percebê-la.  É essa uma primeira ideia que surge na leitura de Amor: encantos e desencontros, de Laércio Fernandes dos Santos, uma história sobre o ato de viver a aproximação amorosa entre adolescentes e jovens. Nesse romance, despertando questionamentos e entendimentos interessantes, a perda, imperceptível por um tempo, aparece em todos os encontros das personagens, tornando-se singular em seus efeitos. 

Da companhia dos pensamentos, dos sentimentos, das experiências e até mesmo de outros escritos, o livro surge daquelas coisas que, de algumas ideias, viram muitas e se organizam pela linguagem, querendo do autor um lugar de abrigo. Então, leitor, é bem possível que você, ao ler a história narrada nas páginas que seguem, encontre a ficção que faz pensar enquanto evoca memórias e lembranças e perceba que há uma imensa variedade de coisas na vida que escapam à compreensão.

Afinal, você vai viver imaginariamente uma vida que não é sua, mas que, atingido pelos efeitos de identificação, passa a ser um pouco sua também.

Recebemos do autor uma literatura que, sonhada por ele há muito tempo, toma forma concreta de uma obra em prosa longa. Em seu espaço de criação, estruturado em capítulos, a narrativa flui, envolvendo o leitor nas vivências das personagens e nos episódios que dão forma ao drama que vivem. Tudo isso é possível pela linguagem, que, instauradora da realidade ficcional, nos chega repleta de significado. Por certo, foi por mergulhar com coragem e habilidade no universo da escrita que o autor conseguiu acolher alguns fenômenos da complexidade das relações humanas permeadas pelos sentimentos.

O espaço de criação do texto também demonstra que o autor sabe transitar entre as formas literárias. Observe, leitor, que a história é contada numa estrutura narrativa que se transporta para o lugar do poético, com alguns versos que iniciam capítulos e outros que compõem o discurso da personagem, permitindo, assim, que a imaginação de quem lê se amplie. Há uma riqueza de linguagem nas palavras que se juntam pela finalidade estética e produzem, assim, o efeito de sentido.

Nessa construção de linguagem, encontramos a transposição do drama amoroso no qual as personagens mergulham, criam suas memórias e refazem o que ela fez, hesitando entre o lugar da felicidade individual e a dois e, por vezes, esquecendo-se em si. Isso leva a pensar se tudo o que passar da vida para a alma é inesperado ou é eterno. E não esquecer, leitor, que a imaginação sempre desequilibra.

Reflexões surgem com os encontros e desencontros, no eterno embate da vida a dois.

Uma delas, inerente à temática da relação amorosa de contornos juvenis, é sobre a gravidez de mulheres jovens e os dilemas que advêm do abandono. E é certo que “De muitos amores temos os encantos, mas também os desencontros.” E pensar que tudo, para todas as personagens, vem do coração. A progredir na formação dos casais que amam, as fases do amadurecimento surgem, trazendo com elas o desejo que cala no corpo e nele fica, tornando intensa a entrega na própria carne, como a criar marcas para dizer que “Aquilo era a plenitude humana.”

E os mistérios que rondam o amor? O que acontece no íntimo de cada um? Como se resolve a volubilidade? Entre outras perguntas que a narrativa suscita, essas dão uma ideia do humano que perpassa a construção das personagens. O que há, também, é uma pergunta sobre o significado de amor. Outra, forte demais, é sobre a existência do amor.

Caros leitores! Recomendar-lhes Amor: encantos e desencontros, de Laercio Fernandes dos Santos, é uma responsabilidade que assumo com tranquilidade, sentindo-me honrada, haja vista a qualidade da narrativa. E seu autor? É um aluno que se tornou meu amigo. Conheci-o quando ele fazia o curso de Letras na Universidade de Passo Fundo. Como aluno de graduação já reunia condições extremamente caras e necessárias ao desenvolvimento da formação intelectual, as quais se ampliaram na pós-graduação. Hoje, cursando o doutorado, desafia-se à escrita literária, dando os devidos traços de real ao que foi imaginação.

Como o Laercio diz, “A escrita é uma forma de organizar o discurso de quem a gente é”. Ocorre aqui, querido amigo, uma bela e instigante organização sua.

Passo Fundo, abril de 2022.

Fotos: Divulgação/arquivo pessoal Laércio Fernandes dos Santos

Autora: Ivânia Campigotto Aquino. Pós-Doutora em Letras – Estudos de Literatura. Professora do curso de Letras e do Programa de Pós-Graduação em Letras da Universidade de Passo Fundo

Edição: A. R.

O maior desejo do mundo

O que há de melhor no Ano Novo é o exercício da esperança. De minha parte, acho esta festa melhor do que o Natal.

– Papai, onde é a piscina?

Foi o que disse a menina, quatro ou cinco anos, enquanto a família tirava do carro cadeira e guarda-sol, e a tia lhe passava protetor solar, e a vó teimando em ir de calça comprida. A trinta metros estava o mar da Praia de Ingleses.

O que há de melhor no Ano Novo é o exercício da esperança. De minha parte, acho esta festa melhor do que o Natal.

O Natal tem um clima propício para a falsidade, obrigação de dar presentes para familiares de quem não gostamos, ou fazer caridade para o porteiro do prédio e a empregada doméstica. Ninguém consegue fugir do constrangimento de colaborar com o Natal dos papeleiros ou dos garis, ou arrecadar dinheiro para uma creche. Mesmo quem nunca foi solidário se vê obrigado, de uma hora para outra, passa a ter bom coração. Nada pior que coação à bondade.

O Ano Novo, por ser uma festa mais pagã, nos libera de obrigações da consciência. È uma festa da vida por si mesma, da passagem natural das estações. Mais amigos e menos parentes chatos, a praia ao invés das igrejas. Ademais, contrário de um “Feliz Natal” que serve apenas para um dia, desejamos “Feliz Ano Novo” com a obrigação de ajudarmos a tornar feliz doze meses. Ou seja, os desejos de Ano Novo devem ser, no mínimo, trezentos e sessenta e cinco vezes mais intensos que os de Natal. Isso se o ano não for bissexto, caso em que será preciso uma intensidade maior ainda.

Outra vantagem do Ano Novo é que os desejos são mais realistas, “paz e dinheiro no bolso, saúde pra dar e vender”. Embora a paz venha em primeiro lugar no pedido, coisa que no mundo nunca acontece, segue o dinheiro no bolso, e saúde, pra dar e “vender”. Combina muito mais com o espírito do capitalismo. E vêm lá os desejos reais: um automóvel, um emprego, a casa nova, concluir a faculdade, um parceiro para sexo e… amor.

Por fim, Ano Novo é menos ridículo. Não aparece um personagem gordo num tempo de dietas, nem há árvores de Natal com algodão ou bolinhas de isopor num calor de quarenta graus.

Como tudo, o Ano Novo tem lá seus inconvenientes. Será preciso imaginar formas de ganhar dinheiro de modo mais rápido e eficiente, além de precisarmos dos porteiros, das faxineiras, dos catadores de papel. Quem se preocupa com em ganhar dinheiro não pode cuidar da portaria do prédio, lavar a roupa, ou gastar tempo com faxina da casa ou da cidade. Assim, mesmo não querendo, seremos conduzidos a dezembro do próximo ano, com o castigo de sermos solidários e benevolentes outra vez.

A menina da Praia de Ingleses toma seu baldinho, pega na mão do pai, e segue para a beira-mar pela primeira vez. Segui atrás, cheio de expectativas para a colheita de alguma frase desconcertante quando ela visse o oceano. Mas a criança, sem deslumbramentos, quase como eu ante tantas esperanças de Ano Novo, olha para o pai e lhe conta:

– Eu já sonhei com uma piscina muito maior que essa!

Autor: Pablo Morenno. Também escreveu e publicou no site “Receita para amar gente e bichos”: www.neipies.com/receita-para-amar-gente-e-bichos/

Edição: A. R.

Religião self service

Entra em cena o que chamamos de religião do self service: cada pessoa, como livre passagem pelos corredores desse imenso “centro comercial”, pode escolher o próprio credo, com seus valores, orientações, luzes, palavras – temperando dessa forma o próprio prato religioso.

O processo de urbanização no Brasil e na América Latina, acelerado e desordenado nas últimas décadas do século XX, vem acompanhado de algumas características singulares, de modo particular no que diz respeito à vivência da fé.

No mundo rural, como sabemos, a Igreja Católica, com o templo e respectiva torre situados no centro dos municípios, figurava como uma referência não somente religiosa, mas também sociocultural e mesmo política.

Enquanto no seu interior proferiam-se as orações, novenas, sacramentos e celebrações, em suas dependências ocorriam os leilões, as quermesses, as festas do padroeiro e até mesmo os discursos dos candidatos em vista das eleições. Por outro lado, à sobra do templo e torre, ocorriam encontros de natureza vária, tais como negócios, “jornalismo” boca a boca, contratações diárias para distintos serviços sazonais e, claro, os namoros que depois vinham a ser abençoados no interior da igreja.

No universo urbano, além do cinema e teatro e de uma série de lugares de passeio e lazer, surgem dezenas e centenas de “instituições” que oferecem a mesma “mercadoria” de ordem religiosa.

A religião vai deixando de ser uma herança familiar para tornar-se uma escolha individual. Debaixo do mesmo teto podem abrigar-se familiares de diferentes credos. O pertencimento a determinada confissão religiosa ou paroquial, o qual, no campo, adquiria um imperativo praticamente obrigatório, cede o lugar à busca livre de interesses próprios que dependerão daquilo que cada instituição coloca à “venda”.

No interior do catolicismo, por exemplo, as fronteiras entre uma paróquia e outra, entre uma diocese e outra, borram-se completamente. Primeiro o carro, depois o telefone e agora a Internet e celular permitem participação à distância, sem falar da formação do que poderíamos chamar de “comunidades virtuais”.

Nesse contexto predominantemente urbano da modernidade tardia ou pós-modernidade, três características sobressaem: proliferação e pluralidade dos centros religiosos, trânsito mais ou menos fluído entre eles e a opção livre de temperar o próprio alimento religioso.

Na primeira característica, multiplicam-se por toda a cidade, capitais ou grandes metrópoles, as paróquias católicas, as igrejas protestantes históricas, os templos pentecostais, os centros religiosos de origem africana, o espiritismo, o budismo e o islamismo, com suas mesquitas – sem falar das iniciativas particulares das bênçãos e pregações.

No centro ou na periferia, nos bairros e condomínios nas ruas e avenidas, surgem lado a lado as mais diferentes denominações religiosas. Não é incomum encontrar três, cinco ou mais centros ou templos, enfileirados, cada qual com seus valores, sua visão de mundo e suas orientações específicas.

A segunda característica decorre da anterior. Em lugar de “fiéis” diários ou semanais, como era comum no mundo urbano, as distintas igrejas passam a contar com “consumidores” de serviços. E aqui vale a máxima de que “quem paga escolhe o cardápio”. A estrita pertença a esta ou àquela religião tende a pulverizar-se em um trânsito frequente por várias delas simultaneamente.

Os consumidores do sagrado tendem a buscar aquilo que cada uma pode oferecer: cura, bênção, conforto, consolo, sacramento, prosperidade, auxílio alimentício, organização em vista de melhorias e dos direitos humanos, segurança, sentido de vida, encontros para driblar a solidão urbana, celebrações, cultos, comemorações, oração pelos falecidos, proteção pessoal e/ou familiar, o santo da própria devoção e tantas outras expressões religiosas. Mesmo no interior do catolicismo, os “fiéis” o são não necessariamente com referência a uma determinada paróquia, e sim à busca daquilo do que estão necessitados no momento.

Daí que os movimentos religiosos de diversos matizes, ou até mesmo as pastorais sociais, respondem melhor às suas necessidades imediatas.

A terceira e última característica decorre igualmente das anteriores. Com trânsito livre e frequente entre as denominações e centros religiosos à disposição, os “consumidores” de seus diferenciados serviços passam a escolher naturalmente aquilo que lhes interessa. Isso mesmo, mais uma vez, os interesses pessoais ganham preferência sobre o sentido estrito de pertencimento.

Quase se poderia afirmar que a religião, no universo urbano, constitui um gigantesco shopping center, não concentrado, mas com uma rede capilar por todo o território da cidade, em cujas lojas podemos encontrar tudo o que é necessário desde um ponto de vista do sagrado. Entra em cena o que chamamos de religião do self service: cada pessoa, como livre passagem pelos corredores desse imenso “centro comercial”, pode escolher o próprio credo, com seus valores, orientações, luzes, palavras – temperando dessa forma o próprio prato religioso.

FONTE: www.revistamissoes.org.br/2024/08/religiao-self-service/

Autor: Alfredo J. Gonçalves, cs, assessor do SPM – São Paulo. Também escreveu e publicou no site “Barcos à deriva”: www.neipies.com/barcos-a-deriva/

Edição: A. R.

O que é, afinal, um intelectual?

Nos interessamos em descrever o que é um intelectual e qual o seu papel na sociedade contemporânea. Quando produzimos e editamos conhecimentos, fazemos com intencionalidades, a favor da criticidade e da humanização.

Em entrevista, Umberto Eco foi questionado e esta foi a sua resposta:

“Como definiria o termo intelectual?

“Se por intelectual entendermos aqueles que trabalham com a cabeça e não com as mãos, um bancário seria um intelectual, e Miguel Ângelo, que esculpiu com as próprias mãos, não seria. Nesse sentido, com a chegada dos computadores, qualquer um poderia se considerar intelectual. Mas será que isso faz sentido? Não para mim.”

Para Eco, o verdadeiro intelectual não é definido por uma profissão ou classe social. Ele é aquele que “produz novos conhecimentos através da criatividade.”

O exemplo é brilhante:

Um camponês que descobre um novo enxerto capaz de criar uma nova classe de maçãs está, de fato, realizando uma atividade intelectual. Enquanto isso, um professor de filosofia que repete, ano após ano, a mesma aula sobre Heidegger pode não estar sendo um intelectual de verdade.

A chave, então, é a criatividade crítica: a habilidade de questionar, analisar e reinventar aquilo que fazemos.

“É a única régua capaz de medir a atividade intelectual”, conclui Eco.

Seu pensamento desafia qualquer definição simplista e nos lembra que ser intelectual não é um título — é um compromisso com a originalidade e com o pensamento crítico.

Trecho inspirado na entrevista com Umberto Eco (1932-2016).

Leia mais: Em reflexão publicada no site, professor universitário Altair Fávero analisa a importância da filosofia como antídoto aos idiotas, principalmente os das redes sociais, como já apontava Umberto Eco: www.neipies.com/filosofia-para-nao-ser-idiota/

Autor: Nei Alberto Pies, professor, escritor e editor do site

Edição: A. R.

 Que mundo é este?!

Como textos também dialogam, promovemos aqui uma “conversa” entre dois gêneros discursivos, de dois escritores: a crônica, de Eládio Weschenfelder; e os microcontos, de Roseméri Lorenz. Afinal, se até os textos dialogam, por que todos não podem fazer o mesmo?

Em um mundo cada vez mais polarizado, a experiência dialogal torna-se artigo raro. Entretanto, sua prática é pilar fundamental na busca por uma sociedade democrática, mais justa e fraterna. Sendo assim, em uma época do ano em que a reflexão faz-se mais presente, optamos não só por apontar os problemas que nos rodeiam, mas por “esperançar” dias melhores, em que as soluções nasçam a partir de diálogos que respeitem os múltiplos pontos de vista.

Como textos também dialogam, promovemos aqui uma “conversa” entre dois gêneros discursivos, de dois escritores: a crônica, de Eládio Weschenfelder; e os microcontos, de Roseméri Lorenz. Afinal, se até os textos dialogam, por que todos não podem fazer o mesmo?

 Que mundo é este?!

Por: Eládio Vilmar Weschenfelder

Mundo mundo vasto mundo, se eu me chamasse Raimundo seria uma rima, não seria uma solução. Mundo mundo vasto mundo mais vasto é meu coração. (Drummond)

O mundo da mitologia grega era dividido por três reinos e deuses correspondentes: Zeus, que dominava o céu; Poseidon, os mares; e Hades, o inferno, isto é, o submundo da vida e da morte. Lá havia o julgamento das almas em dois grupos: os justos e os ímpios. Os primeiros iam para os Campos Ilísios, mas os ímpios, ao Tártaro, onde eram terrivelmente atormentados.  

Por outro lado, o mundo ocidental moderno parece estar livre dos domínios dos deuses gregos, já que se encontra nas mãos dos humanos.  Quer dizer, saímos do mundo dos deuses – teocentrismo – e entramos no mundo onde o domínio parece estar sob o controle das criaturas humanas, isto é, nos trilhos do antropocentrismo.

Quando se fala de mundo, nos referimos primeiramente ao planeta Terra e a todas as coisas que existem nele, incluindo, é claro, os seres humanos, os animais, as plantas, os ecossistemas em geral, os múltiplos países e suas culturas. É um conceito amplo e abrangente que engloba tudo o que está no entorno. Nesse sentido, por enquanto, a referência é o Planeta Terra, querendo-se dizer que estamos no foco do geocentrismo, tanto que continuamos a nos referir ao sistema solar e ao universo em que vivemos. É o lugar onde ocorrem os fenômenos naturais, como o ciclo das estações, os movimentos dos astros e a existência da vida neste útero denominado Terra.  

Se existe vida tão diversificada noutros lugares, cabe aos cientistas provarem.

O problema é que os homens se julgam muito poderosos, tanto que podem acabar com a vida nesse pequeno lugar em que nascemos e vivemos. Basta que os dirigentes dessa meia dúzia de países apertem os botões do juízo final, tal é o poder de destruição das bombas atômicas e outras ainda mais letais. Dizem por aí que, se uma Terceira Guerra nuclear e mundial houver, talvez sobrem algumas baratas cegas a vagar entre os entulhos. Que barbaridade! 

Poderá haver outra forma mais discreta de destruição do Planeta Terra, também causada pelas mãos do Homo que se diz Sapiens. É por meio do aquecimento global. Basta observar as oscilações de temperaturas extremas, as secas inclementes (inclusive as que atingem os rios da Bacia Amazônica), devido às derrubadas das florestas, aos incêndios devastadores verificados em todos os continentes, as enchentes diluvianas, os tornados, tufões e furacões mundo afora. Isso sem considerar o derretimento das calotas polares e do gelo das cordilheiras. Mesmo assim, dê-lhe consumir combustíveis fósseis, aumentando a quantidade de gás carbônico no ar que respiramos.

Acesse também: O homem (MAN by Steve Cutts) https://youtu.be/RbpL5xGCXx8?t=137

Soma-se a isso tudo, a poluição dos mares, rios e lagos com lixo de todas as espécies, a aplicação de herbicidas e fungicidas nas lavouras, que produzem alimentos também contaminados. Os alimentos orgânicos estão cada vez mais raros e caros, aumentando, por efeito, as doenças, a fome e a pobreza de grande parte da população mundial já tão desassistida.

Quando se imaginava que a maneira de resolver as coisas entre as nações, a volta das guerras, da fome, do genocídio contra mulheres e crianças, vemos o absurdo das guerras entre Israel contra a Palestina, entre Ucrânia e Rússia, tendo-se a impressão de que estamos voltando ao tempo da barbárie em pleno início do Terceiro Milênio.

Quando criança, saudosamente lembro meus pais e professores, médicos e autoridades incentivando a vacina aos filhos, alunos e à população em geral, a favor da saúde e da alegria. Hoje muita gente desacredita do efeito benéfico das vacinas, acreditando nas pajelanças apregoadas e reproduzidas pelas fake news. Assim, velhas e erradicadas doenças voltaram a ceifar vidas de inocentes e incautos. Dá a impressão de que voltamos à Idade da Pedra, acreditando mais em falsos profetas do que nos cientistas e pesquisadores.

Colocando os pés no chão, os modernos meios de comunicação e entretenimento, por mais imparciais que desejem ser, não conseguem ocultar esse mundo contraditório dos conflitos militares com milhares de vítimas inocentes em pleno berço do Cristianismo, a derrubada das florestas, o aquecimento global e a destruição do Planeta Terra, que é a casa dos Homo Sapiens e das demais formas de vida.

Com certeza, isso não é um plano dos deuses. É um desatino dos Homo Sapiens inconsequentes.

Mas nem tudo está perdido, caros leitores, pois há movimentos como a COP20: Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, que foi realizada em Baku (Azerbaijão) em novembro de 2024. Se a COP não alcançar os objetivos propostos, isso colocará ainda mais pressão sobre a próxima conferência, a COP30, que ocorrerá no Brasil. Após anos de discussões difíceis e tímidos avanços, será necessário um compromisso mais firme, com metas claras e uma implementação mais efetiva em defesa da natureza e, por efeito, da vida humana no Planeta Terra.

Lamentavelmente, o resultado da Rio+20 não foi o esperado. Os impasses, principalmente entre os interesses dos países desenvolvidos e em desenvolvimento, acabaram por frustrar as expectativas para o desenvolvimento sustentável do planeta. O documento final apresentou várias intenções e jogou para os próximos anos a definição de medidas práticas para garantir a proteção do meio ambiente.

Belém, capital do Pará, sediará a 30ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP 30), em 2025. A COP é uma conferência global com representantes de centenas de países. O evento tem como principal objetivo conter as consequências da crise climática causada pelo ser humano.

Enfim, a COP constitui mais uma oportunidade valiosa de colocar a Amazônia como ponto de debate, bem como uma janela aberta para mudar a perspectiva conjunta de salvar os homens do planeta Terra da fome e da insensatez. Quem sabe, pensando e agindo assim, estaremos enveredando mais pelo caminho do antropocentrismo panteísta, pois em tudo está a obra de Deus, especialmente naquele que é feito à sua imagem e semelhança.

Acesse também: Panteísmo Como é?: https://youtu.be/79hdRfQnCjo?t=570

Autor: Eládio Vilmar Weschenfelder. Também escreveu e publicou no site “Da caverna à primavera”: www.neipies.com/da-caverna-a-primavera/

MICROCONTOS

Por: Roseméri Lorenz

Equívoco monoteísta

– Pai, onde está Deus?

– Deus mora no céu, neste imenso vale, no rio, nas árvores, em cada pedra desta montanha!

O menino cresce, derruba as árvores, aterra o vale, polui o rio, implode a montanha e, com a madeira e as pedras, constrói, no centro do vale, um imenso templo, tão alto que quase toca o céu. Tudo para honrar a Deus.

Cena natalina 1

Na Terra Santa, um casal foge. Uma criança nasce. Uma luz brilha no céu. Não, míssil não é estrela-guia!

Cena natalina 2

Na Amazônia brasileira, um casal Yanomani foge de garimpeiros armados. O demasiado esforço antecipa o parto. A criança chora. A mãe também, mas de fome. Estrela-guia?

Como seria possível vê-la em um céu coberto de fumaça?

Cena natalina 3

No subúrbio de uma grande metrópole, a chuva cai torrencialmente e a água vai levando tudo morro abaixo. Nos escombros da casa, um bebê nasce. Três homens aproximam-se.

Reis magos? Não, bombeiros.                       

A defesa de Pandora

– Se não me quisessem curiosa, por que me dotaram de tal dom? Em vez de me proibirem de abrir a caixa, tivessem me informado o que nela havia! – bradava Pandora, furiosa.

– Mas, pensando bem, isso será até benéfico à humanidade. Afinal, a busca por soluções para os males levará os homens à evolução. E ainda lhes restará sempre a esperança!

Autora: Roseméri Lorenz. Mestre e doutora em Letras pela UPF-RS. Atua como professora de Língua Portuguesa e Literatura nos ensinos médio e superior. Também já escreveu e publicou no site outras quatro publicações. Segue link de uma publicação sua no site: www.neipies.com/um-desafio-ao-escritor-e-ao-leitor/

Edição: A. R.

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