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Sem cursos de licenciatura, sem professores: a docência ameaçada

Defender a profissão docente é dar a cada criança, jovem e adulto as possibilidades de expandir suas potencialidades, no âmbito pessoal e profissional.

Há muito as universidades comunitárias gaúchas alertam para o “apagão de professores”. Das primeiras preocupações, passando pelas diferentes ações em defesa das licenciaturas já deflagradas por nossas instituições, chegamos ao tempo em que a carreira docente mostra visíveis sinais de alerta. Com poucos licenciandos e com cursos na iminência do encerramento de suas atividades, vemos ameaçado o processo formativo pleno e digno que as atuais e futuras gerações necessitam.

A profunda crise na educação fica evidente nos dados nacionais, que revelam que a falta de professores já é realidade para atender à demanda de educação básica no Brasil. Estudos indicam que docentes com 50 anos ou mais representam a maioria em exercício, enquanto que aqueles com até 24 correspondem a uma pequena parte, em declínio. Em sintonia, o último Censo da Educação Superior (2020) mostra que as licenciaturas receberam o menor ingresso de acadêmicos.

A reviravolta neste cenário, de modo a preservar a qualidade no processo de formação inicial e continuada dos professores, é um grande desafio, que implica a todos: poder público, universidades, sociedade civil, toda a rede de educação. Recuperar o interesse de nossos jovens pelas licenciaturas, seu apreço pelo ensino, pela pesquisa, pelo conhecimento, é imprescindível e inadiável.

Valorizar a profissão docente significa dar viabilidade a um projeto de grandeza maior, que envolve, diretamente, o processo formativo das pessoas e o desenvolvimento da nação.

Reconhecer a essência docente e o seu papel no desenho de um futuro digno, como indispensável ao fomento social, cultural e à construção de sociedades mais justas e solidárias, é fundamental para o pleno desenvolvimento das capacidades humanas. 

A humanidade se faz na convivência, na reflexão, na contraposição de ideias, no diálogo. A relação pedagógica, especialmente aquela entre professores e alunos, é a alavanca para a superação dos conflitos, para o acolhimento das diferenças, para o pensamento ético e crítico, para o bem-estar social, para a construção das soluções necessárias aos dilemas da vida contemporânea.

Defender a profissão docente é dar a cada criança, jovem e adulto as possibilidades de expandir suas potencialidades, no âmbito pessoal e profissional.

Quando o professor tem claro para si a função social de sua atividade, os motivos de sua opção e permanência no magistério, pode revelá-los aos alunos, ajudando-os a ressignificarem sua presença e trajetória na escola. (Celso Vasconcellos) Leia mais: https://www.neipies.com/sentido-da-docencia/

Autora: Bernadete Dalmolin

Reitora da UPF

Edição: Alexsandro Rosset

Brasil descumpre 86% das metas do Plano Nacional de Educação

Sendo a educação um direito de todos e responsabilidade do Estado, da sociedade e da família, cabe-nos exigir o cumprimento desse direito, responsabilizando legalmente aqueles que descumpriram esse direito, e como cidadãos, devemos exercer nossa cidadania nos manifestando e elegendo representantes políticos que estejam comprometidos com a educação, a ciência e a cultura.

O Brasil tem 50 milhões de jovens. Em um país com esse perfil, priorizar investimentos na formação é condição imprescindível para viabilizar o futuro das atuais e novas gerações em condições dignas de vida.

Porém, na contramão dessas demandas inadiáveis, no atual governo federal a execução orçamentária do Ministério da Educação (MEC) atingiu os menores valores da última década, R$ 147,56 bilhões em 2015 e R$ 119,96 em 2021, valores liquidados, corrigidos pelo IPCA para janeiro de 2022.

A Proposta de Lei Complementar (PLP) 18/2022, que estabelece teto para cobrança de ICMS dos combustíveis, gás natural, energia elétrica, comunicações e transporte coletivo reduziu, na prática, a alíquota do ICMS para 17%. Estudos apontam para uma redução de receitas de R$ 83,5 bilhões, o que implicaria uma perda mínima de R$ 21 bilhões para as despesas com Manutenção e Desenvolvimento do Ensino (MDE), que correspondem aos 25%.

Essa perda de recursos atingirá, principalmente, a educação básica, lembrando que o ICMS responde por 60% da receita do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb).

Por outra perspectiva, faltando menos de três anos para o final da vigência do Plano Nacional de Educação (PNE), a quase totalidade das suas diretrizes e metas (86%) são descumpridas e 45% são alvos de retrocessos e é enorme a falta de dados e de informações atualizadas.

É o que demonstra o 8º balanço anual da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, divulgado no dia 20 de junho. Nesse caso, é um evidente descumprimento da Lei nº 13.005/2014 que aprovou o PNE, inclusive, por unanimidade, no Congresso Nacional.

Quanto ao Plano Estadual de Educação (PEE-RS), em cumprimento ao PNE, instituído pela Lei estadual 14.705/2015, não temos relatórios de monitoramento nem informações públicas desde 2016.

No artigo 5º  da Lei do PEE-RS está expresso que o “cumprimento de suas metas serão objeto de monitoramento contínuo e de avaliações periódicas”, realizados pela Secretaria Estadual da Educação (Seduc), União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação, seção do Rio Grande do Sul (Undime/RS), Comissão de Educação, Cultura, Desporto, Ciência e Tecnologia da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul (CECDCT), Conselho Estadual de Educação (CEEd/RS), União Nacional dos Conselhos Municipais de Educação, seção do Rio Grande do Sul (Uncme/RS) e o Fórum Estadual de Educação (FEE/RS), que sequer teve funcionamento regular nos últimos quatro anos.

Enquanto o PNE descumpre e, inclusive, retrocede em algumas metas e, o PEE-RS segue sem monitoramento e avaliação, o MEC e as secretarias estaduais da Educação ocupam-se com programas específicos de governo sobre “passivos e impactos da pandemia, déficit na aprendizagem, reformas curriculares decorrentes da Base Nacional Comum Curricular (BNCC)”, em detrimento dos planos e políticas de Estado, amplamente discutidos pela sociedade e aprovados pelos parlamentos.

PNE: Retrocessos alarmantes

Entre agendas paralelas e exemplos desse atravessamento de prioridades estão a implementação da BNCC da educação básica (restrita à reforma curricular) e a reforma do novo ensino médio. Em detrimento das metas e estratégias estabelecidas nos planos, a BNCC tornou-se o epicentro das políticas educacionais a partir do governo Temer, em 2016.

A própria qualidade social da educação e o direito à aprendizagem dos estudantes foram descuidados, conforme já consta na meta 7 do PNE e PEE:  Fomentar a qualidade da educação básica em todas as etapas e modalidades, com melhoria do fluxo escolar e da aprendizagem de modo a atingir as médias nacionais para o Ideb.

Esta meta já era um mecanismo político-pedagógico preventivo ao que se sucedeu, seja com a pandemia ou mesmo com uma BNCC implementada virtualmente durante o período de distanciamento social entre 2020-2022.

No 8º balanço do PNE, as metas que tiveram retrocesso são justamente as vinculadas à expansão e universalização do ensino fundamental e do ensino médio (metas 2, 3, 6, 10 e 11); as metas de expansão do ensino superior (12 e 14); a meta de gestão democrática (meta 19) e, a meta 20 do financiamento da educação.

Entre as metas que apresentam retrocessos, é alarmante que a Universalização do ensino fundamental de 9 anos para toda a população de 6 a 14 anos (meta 2) evidencia que o número de crianças nessa faixa etária que não frequentam nem concluíram a etapa quase dobrou de 2020 para 2021, saltando de 540 mil para 1,072 milhão.

Como, também, houve queda no percentual de jovens concluindo o ensino fundamental na idade adequada.

Enquanto isso, a meta 3, que prevê universalizar, até 2016, o atendimento escolar para toda a população de 15 a 17 anos e elevar a taxa líquida de matrículas no Ensino Médio para 85% apresentou queda na taxa líquida de frequência ao ensino médio em 2020 e 2021, interrompendo uma sequência de altas que ainda não era suficiente para o cumprimento do dispositivo no prazo.

Enquanto a Lei 13.415/2017, que instituiu a reforma do ensino médio, se propõem a fomentar uma política de expansão da escola em tempo integral, a meta 6 do PNE, que prevê oferecer Educação em tempo integral em, no mínimo, 50% das escolas públicas, apresenta queda nos níveis entre 2014-2021.

Além de uma contradição e falácia, a reforma do novo ensino médio descumpre tanto a lei do PNE como seus propósitos, como já ocorre no estado do RS, que apresenta a terceira pior proporção de alunos em tempo integral matriculados na rede pública: somente 4,8%.

No ensino superior não é diferente. A meta 12 prevê elevar a taxa bruta de matrícula na Educação Superior para 50% e a taxa líquida para 33% da população de 18 a 24 anos, assegurada a qualidade da oferta e expansão para, pelo menos, 40% das novas matrículas, no segmento público.

O primeiro objetivo da meta já exigia um aumento do ritmo de avanço observado até 2020, o cenário ficou ainda pior com a diminuição de 1,5% em relação ao ano anterior.

A situação é similar para o segundo objetivo, que caiu de 26,9% para 25,8% entre 2020 e 2021, além da alta concentração de matrículas na rede privada.

A meta 20 é fundamental e estratégica para o cumprimento do Plano Nacional de Educação na sua totalidade.

Esta meta prevê: ampliar o investimento público em Educação pública de forma a atingir, no mínimo, o patamar de 7% do Produto Interno Bruto (PIB) do País no 5º ano de vigência desta Lei e, no mínimo, o equivalente a 10% do PIB ao final do decênio.

Para 2019, o PNE previa uma destinação de 7% do PIB para a educação, o que dificilmente terá sido atingido, já que os gastos estiveram em torno de 5% de 2015 a 2017, tendo uma queda ao invés de subir.

A austeridade fiscal que se aprofundou nesse período não saiu de cena desde a aprovação da PEC-95 do Teto de Gastos.

Cabe relembrar que o Brasil já investia em torno de 5.5% ou 6% do PIB (dependendo dos cálculos) quando o PNE foi aprovado por unanimidade pelo Congresso nacional em 2014.

Além de descumprir o que o PNE determina, o MEC encerrou o exercício de 2020 com a menor dotação desde 2011, R$ 143,3 bilhões.

A educação básica encerrou 2020 com R$ 42,8 bilhões de dotação, 10,2% menor em comparação ao ano anterior, marcado pela crise sanitária e calamidade pública.

As atuais avaliações de diagnóstico e desempenho de aprendizagem dos estudantes estão diretamente relacionadas às condições de estudo e ao investimento que o país realiza ou deixa de realizar.

Cabe destacar que o gasto por estudante da rede pública brasileira de educação básica representa cerca de um terço do valor das mensalidades de escolas privadas e a metade do gasto médio dos países da OCDE (US$ PPC 1.000/mês); a relação de estudantes/professores nos anos iniciais do ensino fundamental da rede pública é o dobro da média da OCDE (26 x 13) e o salário inicial dos docentes corresponde a 42% da média da OCDE (US$ PPC 13.983 x US$ PPC 33.016/ano).

Tais cifras e comparações indicam a distância entre o praticado no Brasil e o encontrado no conjunto dos países que têm servido de parâmetro para análises econômicas e educacionais realizadas pelo mainstream.

Considerando esses desafios que impactam diretamente na qualidade do ensino, acrescidos das demandas por ampliação do acesso na educação básica e superior – em especial das crianças e jovens das famílias mais pobres, da população do campo, dos negros e indígenas –, foi aprovado o Plano Nacional de Educação (Lei n. 13.005/2014).

O PNE estabeleceu a meta de ampliação dos gastos públicos em educação pública para 7% do PIB até 2019 e 10% do PIB até 2024.

Apesar disso, o último dado disponibilizado pelo INEP, para 2018, aponta um percentual inferior a 5% do PIB.

Uma avaliação séria evidenciará que a crise da educação básica e superior no Brasil e nas redes estaduais tem a pandemia como causa principal, mas o descumprimento das metas dos planos de educação nacional, estaduais e municipais.

Crise e revogação de políticas

A pandemia apenas acentuou e evidenciou uma crise existente na educação que se agravou por decisões políticas e econômicas que se materializaram na revogação das políticas públicas e dos programas de apoio as instituições de ensino e aos estudantes brasileiros.

Sendo a educação um direito de todos e responsabilidade do Estado, da sociedade e da família, cabe-nos exigir o cumprimento desse direito, responsabilizando legalmente aqueles que descumpriram esse direito, e como cidadãos, devemos exercer nossa cidadania nos manifestando e elegendo representantes políticos que estejam comprometidos com a educação, a ciência e a cultura.

Precisamos todos, enquanto educadores/as, estudantes e sociedade civil, exigir o cumprimento integral da Lei 13.005/2014, do Plano Nacional de Educação, e a construção, com ampla participação social, de um novo Plano Nacional 2024-2034, assim como os estaduais e municipais subsequentes.

Esta publicação foi originalmente publicada no site Extra-Classe: Brasil descumpre 86% das metas do Plano Nacional de Educação – Extra Classe

Autor: Gabriel Grabowski

Edição: Alexsandro Rosset

O desejo dos nossos filhos

Aprendi com a minha filha que ser pai é navegar pelo desejo dos filhos, ainda que eles vacilem, sem ter o objetivo de satisfazê-los como norte. Muitas vezes eles só desejam que nos interessemos pelos interesses deles.

Minha pequena, três anos, pediu durante seis meses um brinquedo de presente. Neguei, sem pestanejar, por ser caro e não ter tanto a ver com o que desejo para criação dela.

Nenhum argumento refreava o ímpeto consumista da Lua e eu não tinha um dia de paz. Passava por lojas de brinquedos e um quase barraco era armado. Quando sabia que as colegas e a prima tinham o tal presente era aquele escândalo.

O desejo obstinado era daqueles inabaláveis até que me dei por vencido: prometi dar o presente no dia das crianças. Deixei meu sintoma de não gostar de gastar com coisas desnecessárias e embarquei no sonho da minha filha.

Desde então, tive de fazer contagem regressiva para controlar a ansiedade dela. Ela fazia tudo na expectativa de ganhá-lo. Até doar a sua amada chupeta para fada do dente. A expectativa do presente ajudou a emprestar os brinquedos, a guardar os brinquedos e organizá-la nas birras.

Reservei a tarde de ontem e embarquei num shopping lotado para resolver a pendência. Sentindo que era um superpai por conseguir cumprir a minha palavra. Comprei o danado com dor no coração, dividindo em três vezes no cartão, mas já que era pela felicidade dela, mergulhei no desejo da criança e me afastei dos meus traumas infantis. Tive de esconder o pacote ao chegar em casa já que Lua pedia sem parar o presente e acordou de madrugada falando no objeto mágico.

Hoje, pela manhã, acordei cedinho e coloquei o presente embaixo da cama. Ansioso, conferia a cada cinco minutos se a pequenina havia acordado, mas ela permanecia “assistindo sonhos”, como bem diz. E eu queria realizar o dela como forma de me sentir um pai melhor, aguardando em algum lugar a alegria como retribuição.

Ela acordou e eu, efusivo, parti para a caça ao presente. Fiz toda aquela novela para dar a emoção que o momento pedia. Quando achamos, abri a embalagem e lá estava o presente que atendia a todas as especificações da pequena ditadora. Ela olhou para a caixa, não esboçou nenhum sorriso e começou a brincar com os embrulhos. Brincou por menos de dois minutos com o desejado brinquedo. Por fim, não deu um pingo de valor para o objeto pelo qual implorou durante meses.

Admito que fiquei chateado e demorei um tempo para aceitar que sentia aquilo. Senti-me ridículo, mas senti uma certa raiva. Uma frustração grande por não ter agradado.

Passamos a vida ouvindo que devemos dar a falta aos nossos filhos, que devemos frustrá-los. No entanto, pouco ouvimos que os filhos também servem para isso: frustrar os pais. Que eles devem escapar do nosso desejo para ter uma vida própria.

Aprendi com a minha filha que ser pai é navegar pelo desejo dos filhos, ainda que eles vacilem, sem ter o objetivo de satisfazê-los como norte. Muitas vezes eles só desejam que nos interessemos pelos interesses deles.

Que possamos sonhar juntos sem, necessariamente, precisar da realização.

Nossos filhos querem a viagem e o destino, muitas vezes, pouco importa. Mas, durante a viagem, eles desejam atenção, afeto e curiosidade, enquanto aprendemos juntos sobre os nossos desejos, traumas e sobre como devemos frustrar uns aos outros, como forma de sobrevivência e autonomia. A partir das frustrações mútuas nascem as possibilidades do novo, o limite e o respeito, nascendo também a possibilidade para os nossos filhos de uma vida própria e livre.

Autor: Fernando Tenório

Edição: Alexsandro Rosset

Arroz e feijão na escola: sim e não!

Você deve oferecer muitos acompanhamentos, e junto deles o famoso e nutritivo arroz com feijão. Ofereça até o ponto que não haja excessos e, sim, o equilíbrio!

Em tempos de insegurança alimentar, quando estamos diante do aumento desenfreado dos alimentos e temos nosso país novamente no mapa da fome, pensar num prato de feijão e arroz preparado no capricho pode dar água na boca. Isso se a pessoa que vai preparar a refeição estiver conseguindo custear o gás de cozinha, embora aqui no sul, devido às especificidades climáticas, muitos tenham a opção de cozinhar no fogão de lenha. Ultrapassadas as dificuldades do tipo de fogão, e tendo condições de cozinhar, é momento de dizer um sim para o arroz e feijão!

Porém, e ainda bem que o porém apareceu! Lembro de um relato feito por uma admirável colega de trabalho, que na função de gestora de uma escola, estava no refeitório quando observou que uma estudante não aceitou a merenda. Então, de forma afetuosa, uma grande virtude desta colega, perguntou o motivo pelo qual a menina não tinha provado a comida.

A resposta da criança, no primeiro momento, pode nos levar a um precipitado julgamento, mas calma! Ela disse que não queria comer porque era feijão e arroz. Ao escutar a resposta, minha colega perguntou se ela não gostava de feijão e arroz. Agora, a resposta nos faz compreender muita coisa! A estudante disse que na casa dela só tinha essa comida.

Pensem!

Como deve ser comer somente feijão e arroz, sendo que lhe eram ofertados no almoço, no jantar e no lanche escolar! Como deve se sentir uma pessoa que não tem a oportunidade de provar outros aromas e sabores, sabendo da infinidade de alimentos dispostos nas prateleiras de mercados, fruteiras, padarias? É justificável a sua recusa! É quase uma manifestação contra a desigualdade social. Assim como é triste a realidade atual, a qual milhares de pessoas não estão conseguindo variar a alimentação, ou pior, milhares nem conseguem comer o arroz com feijão e, se um prato surgisse diante de cada um, diriam sim!

Mas, não é a insegurança alimentar o cerne da minha reflexão, embora o arroz e feijão estejam nela. É que as expressões arroz e feijão são muito utilizadas no contexto educacional, e não é no refeitório, mas sim nas reuniões pedagógicas! E aí está o perigo! Arroz e feijão, NÃO! Vou tentar explicar.

É de conhecimento geral que o cenário pandêmico corroborou em sérios agravantes na educação. Com isso, também se acentua o movimento pedagógico que tenta incansavelmente recuperar a defasagem escolar. Até aqui, estamos de acordo!

O problema está no equívoco de se pensar que para a recuperação, devemos ter como cardápio principal o feijão com arroz, semelhante àquele que oferecem para a garota do relato nas diferentes refeições do dia, e ela acaba por rejeitar!

Ela não rejeita por querer, é por não aguentar! Quem aguenta essa pobreza de possibilidades, se os olhos estão diante de uma infinidade? Ressaltando: eu adoro feijão com arroz! E não estou dizendo, em hipótese alguma, que estes dois devem ser descartados do fazer pedagógico! Cuidado com a reduzida interpretação!

O que eu quero pontuar então?

Que muitas, mas muitas crianças só terão certas oportunidades na escola, que é um lugar das primeiras vezes do aprendiz. Que as primeiras vezes dos estudantes dependem da ação do professor. Este, por sua vez, não pode jamais, pensar que ensinar o básico, o “arroz com feijão” é suficiente! Neste caso, arroz com feijão, NÃO! Eles podem estar junto de outros elementos, nunca sozinhos. É muita pobreza ter somente eles!

Aqueles que desejam de fato alcançar propósitos vindouros, precisam imediatamente mexer no cardápio, começando pelo próprio! Pois chegar neste contexto histórico-social pensando que o mínimo é satisfatório, é sinal de excesso de feijão com arroz e carência de outros gostos e cheiros. Então, mesmo que isso custe mais caro, enriqueça o menu! Outra ressalva: Eu não estou dizendo para inserir mais do que já tem, pois temos que levar em conta que a sociedade é, por um lado de excessos e, por outro de carências!

 Temos que cuidar/pesar tanto dos excessos quanto das carências. Usemos a balança!

Explicando de outro modo: Pense o que os estudantes têm em excesso. Agora pense no que lhes falta? Aqui você pensou feijão e arroz, garanto! Você deve oferecer muitos acompanhamentos, e junto deles o famoso e nutritivo arroz com feijão. Ofereça até o ponto que não haja excessos, e sim o equilíbrio! O risco está em você pender para um, ou para outro lado. A consequência será a recusa por parte do aprendiz; o sofrimento e o fracasso de ambos: educador e educando.

Em outras palavras: em meio restritivo (só com feijão e arroz), o aprendiz não  se sente mobilizado, porque não é ativo de verdade; também não desenvolve autonomia e pensamento, uma vez que esses atributos dependem do que ele não tem: possibilidade de escolhas, de tomadas de decisões e elaboração de estratégias e pensamento a partir de oportunidades experienciais formativas. Aliás, será que estamos preparados para lidar com crianças ativas? Pensemos… Parece-me que é uma questão bastante instigante, merecedora de estudo, em momento oportuno.

O fato é que o educador precisa compreensão total sobre o seu menu. Ele deve ter um cardápio composto por variedades que vão além do feijão com arroz. Porque assim envolverá, mobilizará, motivará, sem apressar ou sufocar.

 Já sabemos que os reflexos da pandemia não serão superados a curto prazo, mas sim a médio e longo. Assim, muita pressa pode atrapalhar! Eu gosto de escutar, de uma outra colega que admiro muito a seguinte colocação: Vamos com calma! Aqui não vamos fazer por fazer, vamos fazer bem feito. Quando assim o educador proceder, oferecendo cardápio amplo, rico de sabores e aromas, o aprendiz perceberá que está em companhia de alguém especial e se fartará com o banquete.

O aprendiz, ao receber como marca este tipo de educação, luta até certo ponto, para dar conta do que lhe é imposto, mas corre o risco da ruína. Como diz Dewey, metaforicamente, o aluno luta, mas acaba vencido diante do que a educação reivindica, pois morrem seus desejos, interesses e curiosidades. Leia mais: https://www.neipies.com/com-a-palavra-as-criancas/

Autora: Ana Lúcia Vieira

Edição: Alexsandro Rosset

Você pergunta a opinião da sua criança?

A criança que não é ouvida termina se calando para o mundo. Deixar de opinar não é importante apenas para alegrar a criança, mas também para o desenvolvimento do seu pensamento cognitivo, a sua aprendizagem, o seu crescimento emocional.

O meu querido poeta Mario Quintana tem um poema belo intitulado “As falsas recordações” que nos diz “Se a gente pudesse escolher a infância que teria vivido, com enternecimento eu não recordaria agora aquele velho tio de perna de pau, que nunca existiu na família, e aquele arroio que nunca passou aos fundos do quintal, e onde íamos pescar e sestear nas tardes de verão, sob o zumbido inquietante dos besouros”.

Muitas crianças guardam dentro de si coisas falsas, ou seja, coisas que elas fingem se comportarem dos seus jeitos, do jeito que elas desejam para que os seus pequenos mundos se tornem melhores e com menos sofrimentos. Essas falsas coisas acabam se tornando companheiras das crianças e a gente nunca vai descobrir como elas são ou onde elas estão dentro da criança se não as ouvirmos, se não dermos atenção necessária às suas opiniões, aquilo que tentam nos dizer em tão poucas palavras.

Ser criança não é nada fácil. Cada vez mais vemos crianças sendo adultizadas cedo demais. Não sei se são as exigências do mundo contemporâneo ou se são os pais querendo se ver livres logo do mundo da infância que é considerado bobo demais por muitos. Tenho receio dessa adultização precoce.

Acho que a criança deve viver plenamente essa fase sendo criança de verdade e não se maquiando, pintando as unhas e até mesmo os cabelos ou usando sapatos de saltos altos. Penso que as culturas enlaçadas umas às outras propiciam esse amadurecimento precoce das crianças fazendo-as com que se tornem adultas antes mesmo de completarem nove ou doze anos de idade.

O que me intriga é que a criança pode pintar os cabelos e pode até mesmo arranjar um namoradinho, mas não pode opinar nos assuntos que lhe dizem respeito. São proibidas de tomarem decisões por si próprias e não podem fazer escolhas do que gostam ou não. Devem obedecer aos adultos sem questionamentos e muito menos fazerem birras porque não foram ouvidas.

Ser criança não é coisa fácil no mundo de hoje. São diversas as exigências da sociedade e das mídias, principalmente, o mercado econômico que aproveita essa adultização para oferecer cada vez mais produtos que ofertam promessas de belezas para os cabelos e para a proteção da pele ou até mesmo para ajuda do emagrecimento.

Ser criança em um mundo onde as pessoas não se ouvem mais está se tornando cada vez mais difícil.

No entanto, sempre foi assim com as crianças. Houve um tempo em que elas eram criadas longe dos adultos, largadas aos seus mestres que lhes ensinavam tudo o que precisavam saber sobre boas condutas e valores morais.

Na antiga Grécia, as crianças não podiam opinar. E se opinassem eram castigadas ou mesmo não eram ouvidas. Assim, em Platão na sua obra “A República” vemos que as crianças não têm vez, devem ser educadas para a arte das guerras e só entrarão em contato com a filosofia e demais artes na idade adulta.

Não costumamos perguntar às nossas crianças as suas opiniões sobre as coisas que fazemos, sobre uma decisão que precisamos tomar ou sobre um passeio que juntos faremos. Decidimos tudo como se fôssemos governos tiranos. As crianças, nossas súditas que só devem nos obedecer sem questões.

A opinião de uma criança deve ser respeitada em todos os sentidos, principalmente se importa a ela a decisão que será tomada por nós, adultos. Trocamos as crianças de escola, as afastamos dos seus amiguinhos, mudamos de endereço, compramos roupas para elas das cores que mais gostamos e dos modelos que mais achamos bonitos e nem procuramos saber as suas opiniões a respeito disso ou daquilo.

Silenciamos as nossas crianças, sem querermos. Não as permitimos que opinem, que falem, que gritem. Que digam o que desejam e mostrem através das suas palavras e gestos o que pensam sobre as suas vidas, os adultos, as coisas ao seu redor. Não deixamos que opinem sobre o que assistem na televisão ou veem nas redes sociais.

Para facilitar as nossas vidas na pressa do dia a dia simplesmente damos algo para a criança se distrair e esquecemos de colaborar com as suas opiniões. Deveríamos ouvir mais as crianças. Nos seus argumentos elas conseguem passar para nós como estão se sentindo diante das suas vivências e experiências, com elas descobrimos coisas maravilhosas que antes não conseguíamos enxergar que eram de outro jeito.

Por que não perguntamos a opinião das nossas crianças?

Temos medo de ouvi-las? Sim, muitas vezes as crianças são sinceras demais. Elas não usam máscaras ou dizem mentiras para não machucarem alguém. Quantas vezes a sua criança já lhe deixou em uma situação vexatória dizendo que a roupa do amigo era feia ou que o seu amigo estava ficando careca? Elas falam tudo o que pensam.

E nessa falar tudo o que pensam conseguem expressar as suas emoções e sentimentos. Através da opinião das crianças sabemos se estamos lhes dando a atenção necessária e os cuidados que precisam. Quando uma criança se sente ouvida ela sabe que pode confiar naquele adulto e passa a lhe contar tudo o que sente.

Se as crianças são levadas para fazerem as compras no supermercado elas devem poder opinar sobre alguns itens que a mamãe ou o papai não quer comprar, como também devem ter o direito de opinar sobre a roupinha que será comprada para ela. A criança tem o direito de dizer não e ser ouvida porque se recusa a aceitar tal coisa.

A opinião de uma criança é como uma caixinha de segredos que se abre quando a gente menos espera e toca uma canção que busca acolhimento e aprovação pelo seu comportamento. Aos pais cabe ouvir esta canção com os ouvidos bem atentos para que a criança continue opinando sem o risco de ser castigada ou receber críticas ao seu bom pensar que está se organizando no decorrer do seu crescimento.

Como aprimorar a escuta dos filhos? https://youtu.be/EmTpu7X4tJU?t=35

Pode ser difícil para os pais permitirem que as crianças deem as suas opiniões nas diversas tarefas do dia a dia, mas é importante que elas cresçam sabendo das suas responsabilidades enquanto membros de uma sociedade com direitos e deveres. Elas precisam conhecer os seus limites, saberem os motivos de muitas coisas não poderem fazer, questionarem sobre o que as intrigam.

O ato de opinar ou argumentar com precisão desde a infância também ajuda a criança na sala de aula quando é convidada a responder sobre uma ou outra pergunta. Se em casa as suas opiniões são ouvidas, ela não temerá responder as questões da escola e nem a falar em público.

Muitas crianças se sentem tímidas e envergonhadas porque nunca foram ouvidas pelos seus pais, porque sempre que quiseram opinar foram silenciadas com “você é pequeno demais para saber disso” ou “quando você crescer eu explico”. Não! As crianças querem discutir, debater, conhecer agora, neste momento. Elas não têm tempo para esperar o crescer. Mais tarde terão outros questionamentos e novos posicionamentos.

Todo mundo tem o direito de opinar sobre alguma coisa que lhe incomoda. Não somos máquinas para aceitarmos tudo sem podermos dizer o que achamos. Assim são as crianças. Elas querem poder escolher o que vão comer, o que vão vestir, a escola onde vão estudar, a hora de fazer a lição de casa. Elas sempre vão ter argumentos para os seus quereres.

A criança que não é ouvida termina se calando para o mundo. Deixar de opinar não é importante apenas para alegrar a criança, mas também para o desenvolvimento do seu pensamento cognitivo, a sua aprendizagem, o seu crescimento emocional. Claro que muitos assuntos são apenas de adultos, mas se você permitiu que a criança ouvisse a sua conversa terá que aceitar a opinião dela.

Ignorar a opinião da criança pode ser traumático e influenciar bastante no seu amadurecimento emocional. Afinal, através das nossas opiniões passamos a ser conhecidos e aceitos nas rodas de conversas e nas redes sociais. É preciso que a criança saiba opinar em casa para depois ter coragem de opinar quando estiver com pessoas estranhas e não aceitar tudo o que querem lhe dizer como verdade.

A sua realidade pode ser diferente da que a criança pensa.

As opiniões podem divergir e, por isso, é bom que os pais sentem e conversem com as suas crianças sobre assuntos que elas trazem nas suas perguntas e as deixem opinar do jeito que pensarem abrindo caminhos para que cheguem a um bom pensar.

Toda opinião é válida mesmo a que você acha a mais bobinha. Aquela que para você não chega a lugar nenhum, é preciso ser validada. A criança não sabe o que é uma coisa boba ou tola. No seu pequeno mundo tudo o que lhe intriga merece ser discutido com quem entende para obter respostas satisfatórias.

Na nossa literatura está cheia de personagens que se comportam como alguns adultos, ou seja, não ouvem as opiniões das crianças porque são consideradas ingênuas. No lindo conto da escritora Ruth Rocha intitulado “O que os olhos não veem” o rei fica doente e não consegue ouvir a opinião de pessoas pequeninas e que falam baixinho, daí as pessoas usarem pernas de pau para ficarem grandes e poderem ser ouvidas pelo rei. Isso é o que acontece com as nossas crianças no mundo inteiro, parece que todos os adultos estão doentes iguais ao rei de Ruth Rocha.

Para conversar com uma criança, de igual para igual, você deve sentar-se ao seu lado ou se abaixar até o tamanho dela demonstrando sinal de respeito e educação. Assim, a criança se sentirá amada. Poderá com confiança e segurança dizer o que pensa a respeito de determinada coisa, falar à vontade com você, se expressar sem medo de ficar de castigo ou coisa parecida.

Ouvir com atenção e demonstrar interesse na opinião de uma criança faz todo o sentido para nós, adultos, que sabemos o respeito e cuidado que ela merece.

Não custa nada deixarmos os nossos afazeres de lado só um pouquinho para ouvirmos o que a criança pensa daquele vizinho que veio morar do lado há pouco tempo ou da roupa que vai vestir à noite para ir ao baile com os amiguinhos. Nessas conversas sempre descobrimos coisas que estavam lá nas profundezas do pequeno espírito da criança guardadas há algum tempo com receio de serem colocadas para foram e serem mal interpretadas.

Conhecemos os nossos amigos através das suas opiniões e, nos últimos tempos, com a chegada das redes sociais descobrimos que algumas pessoas que se diziam nossas amigas pensam completamente diferente de nós. Ficamos espantados com as suas opiniões publicadas para que todos possam ver. Não estão nem aí para o que os outros vão pensar. Querem é mais opinar. Falar. Como se opinar hoje em dia fosse a válvula de escape para tudo.

Neste segmento, estão as crianças preparadas para opinar sobre tudo o que lhes dizem respeito. Elas nunca param de pensar. Mesmo quando estão brincando sozinhas ficam ali buscando alguma forma de conversar com você sobre algo que não estão gostando ou até mesmo que gostariam que mudasse.

É necessário ouvir as opiniões das crianças para que elas cresçam com desenvoltura e sabendo que podem confiar em nós e em si mesmas não silenciando diante dos assuntos importantes que muitas vezes somos convidados a debater. O debate é uma ótima oportunidade para os professores ouvirem o que as crianças pensam sobre determinados temas.

Quando as opiniões das crianças forem respeitadas de verdade, tenho certeza de que muitas delas crescerão desinibidas e preparadas para enfrentar um mundo que exige cada vez mais criatividade e saberes que resolvam problemas rapidamente.

O raciocínio lógico precisa construir argumentos válidos, por isso o estudo da lógica é tão importante na sala de aula.

Se você passar a pedir mais a opinião da sua criança começará a perceber o quanto ela se sentirá confiante e feliz ao seu lado. Ela compensará essa atenção entregando-lhe os seus segredos, os seus medos e angústias diante do mundo e das coisas ao seu redor. A criança que é ouvida tende a ouvir também facilitando o seu ensino-aprendizagem.

Deixo vocês com os versos do poeta Peter Handke que nos diz “Quando a criança era criança, / andava balançando os braços, / queria que o riacho fosse um rio, / que o rio fosse uma torrente / e que essa poça fosse o mar.” E se a criança desejava tudo isso certamente ela tinha a sua opinião sobre o seu desejo e quem sabe um dia possamos descobrir através do diálogo o que exatamente as crianças pensam sobre nós e o mundo ao seu redor.

Não sei para você, mas para mim é importante saber o que uma criança pensa sobre mim até mesmo para que eu possa melhorar a cada dia ou continuar sendo este adulto que se importa com ela e que ama bastante, pois sem amor não podemos ficar perto de uma criança, pois o amor é que a faz crescer com sabedoria.

Sabedoria essa, tão necessária à filosofia dos gregos que aprendemos nas escolas e nas academias universitárias. Esta filosofia que eu tanto luto para chegar às escolas da educação infantil e fundamental porque se faz precisa e urgente uma vez que só se aprende a ler e a escrever bem quem tem argumentos e sabe opinar com respeito e segurança.

Autora: Rosângela Trajano

Edição: Alexsandro Rosset

Cidade educadora e pedagogias dialógicas e humanizadoras

A cidade de Soledade, RS, faz sua adesão ao Movimento Cidades Educadoras em 2018. Desde então, e desde antes, vinha e vem consolidando uma abordagem, uma pedagogia que vai tornando a cidade um melhor lugar para se viver, a partir do reconhecimento dos diferentes sujeitos que a constituem e a partir de ações que promovem a inclusão, a cidadania, a cultura e o protagonismo dos cidadãos e cidadãs.

Soledade vem fazendo a experiência da Cidade Educadora com protagonismo da Secretaria Municipal de Educação, mas também buscando o envolvimento de outros setores e secretarias da Administração, pelo princípio da intersetorialidade.Nesta entrevista, Adria Brum de Azambuja, secretária de Educação, relata e exemplifica os desafios da adesão a este movimento e as estratégias diárias e cotidianas que permitem as vivências de cidadania e participação numa cidade educadora.

SITE NEIPIES: Em que contexto educacional a cidade de Soledade fez a sua adesão ao Movimento Cidades Educadoras?

Ádria Brum de Azambuja: Esse trabalho teve seu caminho iniciado com uma gestão municipal mais participativa e ações com o Programa Municipal de Formação Permanente dos Trabalhadores da Educação – PROFORMA, propondo reflexões sobre os anseios das escolas, bairros e da própria cidade. Salas temáticas reuniram professores e a comunidade escolar para pensar e promover ações práticas. Portanto, o ingresso da cidade na AICE, correu pela mobilização do SME em torno da práxis como núcleo fundante do oficio dos educadores, possibilitando a ressignificação da formação continuada dos professores alicerçada no diálogo problematizador, para pinçar do cotidiano da escola os elementos fundamentais implicados na construção de um currículo significativo  que  envolve  os  sujeitos  enquanto  agentes  de  transformação da  realidade a sua volta. Esse processo estabeleceu novas formas de poder entre as escolas municipais e a comunidade local e global. A partir disso, os projetos educacionais construídos coletivamente passaram a discutir as possibilidades educadoras da cidade, seguindo os princípios da Carta das Cidades Educadoras. 

Para saber mais: https://www.edcities.org/pt/carta-das-cidades-educadoras/

Soledade foi a 16ª cidade brasileira e a 5ª no estado do Rio Grande do Sul a ingressar na Associação Internacional de Cidades Educadoras – AICE.

Por intermédio do Programa UniverCidade Educadora e Inteligente: Circulando Cidadania, desenvolvido  pela Universidade de Passo  Fundo – UPF,  com o objetivo de aproximar a universidade  das  experiências  das  cidades  educadoras e assessorar a difusão de práticas educativas  inspiradas nos princípios da Carta  de  Barcelona, foi possível  discutir  as  ações  de  gestão,  potencializar e redefinir intervenções que congregam para a promoção do direito humano à cidade a todos os cidadãos e cidadãs.

SITE NEIPIES: O que, na sua visão, é essencial para que uma Cidade expresse e vivencie as intencionalidades e os princípios da Carta das Cidades Educadoras?

Ádria Brum de AzambujaUma Cidade Educadora não se limita a vivenciar os recursos pedagógicos somente nas escolas, mas se estende como agente educativo por todo seu território e a todos os seus cidadãos, é uma cidade que se relaciona com todo seu potencial estético, ambiental, de comunicação e criação, mediante o diálogo intersetorial com e para a cidade.

SITE NEIPIES: Como a secretaria Municipal de Educação participa e se mobiliza na concretização de ações educativas da Cidade Educadora?

Ádria Brum de Azambuja: O processo de gestão democrática participativo vivido no Sistema Municipal vem extrapolando os limites das escolas e da própria Secretaria de Educação, desafiando os sujeitos a entrelaçarem-se com a cidade e a participarem, responsavelmente, da gestão em outros setores da administração pública municipal. A participação intersetorial tem contribuído para a realização de projetos que favorecem o exercício da cidadania.

O projeto educacional vertente das ações de cidade educadora, traz na sua gênese a decisão política de materializar a gestão democrática assentada na participação dos diferentes atores sociais na elaboração e concretização de objetivos, metas e estratégias que desafiam os envolvidos a pensar a cidade na cidade, para a cidade e coma cidade.

Pensar a cidade na perspectiva educadora supera a ideia de mais um projeto coletivo ou uma temática participativa, mas configura-se numa intencionalidade política que demanda ações planejadas e articuladas a partir do processo educativo. Não é algo dado, não está pronto, não é tarefa fácil nem uma tarefa individual.

Conselho da Cidade Educadora de Soledade

SITE NEIPIES: Quais os critérios para definir se determinada ação ou projeto realizado pela Secretaria de Educação esteja associado e vinculado ao Projeto de Cidade Educadora?

Ádria Brum de Azambuja: A questão principal está relacionada a como esses projetos irão promover o desenvolvimento humano e social conferindo centralidade à educação como elemento norteador das ações e políticas de todas as áreas.

SITE NEIPIES: Como a administração municipal vem fazendo a discussão e implementação do Projeto Cidade Educadora envolvendo diferentes setores da administração e grupos sociais com representação na cidade?

Ádria Brum de Azambuja: Ainda em 2013 quando os ideais de uma gestão mais democrática foram assumidos pela administração municipal, teve início em Soledade uma nova configuração de cidade.

Uma das decisões da gestão, no ano de 2016, foi a aprovação da Lei Nº 3.812 de 03 de agosto, que dispões sobre a Gestão Democrática do Ensino Público Municipal, que expandiu o caminho à participação da comunidade escolar as decisões da escola.

Na busca por uma educação pública e de qualidade a gestão priorizou pela formação continuada dos trabalhadores da educação municipal, é necessário salientar que, esta ação foi o que tornou possível a ascensão de Soledade ao rol de cidades educadoras.

Neste sentido, os profissionais de educação tiveram a oportunidade de ampliar suas reflexões, dialogando a partir das contradições dialéticas do cotidiano escolar, sendo possível ampliar o olhar para outros segmentos da comunidade, iniciando assim  um  movimento  que  teve  como  princípio  os  ideais de justiça social e em trabalhar a cidade enquanto um espaço educador, valorizando o aprendizado vivencial e priorizando a formação de valores. 

Nesse movimento, foram realizadas inúmeras práticas educativas e culturais difundidas e efetivadas em diferentes espaços, contribuindo para que, os ideais de cidade educadora fossem se corporificando e disseminando. 

Desde o início  do processo  contou-se  sempre  com  o  apoio da  Universidade  de  Passo Fundo – UPF, com a assessoria do Centro Regional de Educação – CRE, que estendeu a sua interlocução que já acontecia com a Secretaria Municipal de Educação e com os profissionais de educação, para os gestores municipais através da participação em eventos promovidos pelo Programa de extensão “UniverCidade  Educadora”,  que  abordaram  a  temática de Cidades Educadoras e Inteligentes e com reuniões na prefeitura municipal com o  objetivo de propiciar  o  desenvolvimento do município de Soledade.

A partir de janeiro de 2020, Soledade conta com a assessoria da professora Doutora Eliara Zavieruka Levinski. Essa assessoria envolve todos os gestores municipais, que reúnem-se mensalmente para reflexão e planejamento de práticas intersetoriais.

A partir do estudo processual envolvendo os gestores municipais, estamos constituindo uma gestão intersetorial com o objetivo de compreender e gestar Soledade em visão integrada das potencialidades, problemas e de suas soluções.

Ancorados no programa denominado “Viver bem, Viver em Soledade” efetivamos ações associadas a quatro projetos: Das decisões às ações, Viva a Cidade, Desenvolvimento integrado do campo, Soledade com o protagonismo dos jovens e das crianças. A organização das linhas de trabalho tendo como premissa a melhoria da qualidade de vida, com base no Plano de Governo, nos Princípios da carta de Cidade Educadora e na escuta dos sujeitos, possibilita uma postura interrogativa a respeito do projeto de cidade que queremos construir. Ao que vamos dizer sim e ao que vamos dizer não para garantir, coletivamente, o bem viver?

A gestão de uma cidade educadora deve, especialmente, corresponder aos verdadeiros interesses de seus cidadãos  para  que  isso  ocorra, é imprescindível que os  processos  de gestão sejam  articulados  de  maneira  participativa, o  que só  faz  sentido  quando  esta  participação  ultrapassa os limites do monitoramento,  da avaliação, da  concordância ou da discordância, com meros “sim ou não” e é concretizada na justificativa consciente destes sujeitos.

SITE NEIPIES: Que metodologias participativas e que ações são utilizadas pela administração com vistas ao diálogo, ao reconhecimento dos sujeitos e ao protagonismo cidadão dos sujeitos e dos atores sociais?

Ádria Brum de AzambujaEm Soledade, inúmeras práticas são efetivadas no cotidiano das relações entre os gestores municipais e seus cidadãos, comprometidos em estender e legitimar por meio da mediação e do diálogo a participação e todos no processo de formação das decisões políticas.  Para isso, somam-se aos Conselhos, às ouvidorias, às consultas  públicas, às  pesquisas de  opinião, mecanismos tradicionalmente  já  utilizados  no  fortalecimento da gestão participativa, outros, como; o Projeto Prefeitura  no  Bairro/Prefeitura no  Interior, Café com a Prefeita, Rodas de Conversas. São projetos com ênfase na escuta ativa das demandas emergentes das necessidades das comunidades, sem intermediários, estabelecendo um diálogo  franco entre os gestores municipais e seus cidadãos.

Prefeita de Soledade em atividades participativas com a população.

Para os sujeitos do processo participativo, romper com o silenciamento e anunciar a sua palavra, significa emancipar-se.

A gestão municipal ao criar condições de efetiva participação, estabelece um clima favorável a fala e a escuta, construindo  uma relação de  cumplicidade e pertencimento  fundamental para o protagonismo dos sujeitos alicerçado na responsabilidade   em   dinamizar o que foi decidido.

A palavra diálogo significa falar de lugares diferentes, endereço de contradições, respeito e humildade. Não é um bate – papo, nem ocorre no espontaneísmo.

Outras práticas participativas foram gestadas e experienciadas nas escolas municipais de Soledade como a aprovação da Lei Nº 3.812, pensada e intencionada sob a interlocução e mediação da UPF, através da reflexão e na formação ativa dos profissionais do Sistema Municipal de Ensino. Estas práticas ultrapassaram os limites da formalidade, fomentando processos não só pedagógicos e culturais ancorados na construção do conhecimento e expandidos nas relações sociais mais amplas, mas com foco nos saberes comunitários, no território do vir a ser com e na cidade. Esta prática pode ser vivenciada fortemente na Feira do Livro de Soledade que acontece anualmente, no largo da matriz, instaurada  na  apropriação  das  diversas linguagens. É campo efervescente de conhecimento e de troca entre os diferentes sujeitos, arraigados não só dos saberes científicos, mas também de saberes construído na práxis cotidiana dos indivíduos.

SITE NEIPIES: Qual é a importância das perguntas: O que temos? O que queremos? O que precisamos? Para a definição e encaminhamento das demandas da comunidade?

Ádria Brum de Azambuja: Quando refletimos sobre essas questões, somos indiretamente conduzidos a reconhecer nossas potencialidades, para a partir daí admitirmos que nem sempre o que queremos é o que realmente precisamos. Reafirma o pertencimento e o reconhecimento dos sujeitos do território e descortina suas relações com o local onde vivem.

SITE NEIPIES: Na sua percepção, como os habitantes da cidade já reconhecem e vivem sob a regência das pedagogias dialógicas e humanizadoras?

Ádria Brum de Azambuja: Quando a gestão municipal cria condições de efetiva participação, e estabelece um clima favorável de fala e de escuta, constrói uma  relação  de  cumplicidade  e pertencimento. Nesse sentido, os cidadãos são envolvidos de tal forma nesse processo participativo que rompem com o silenciamento ao anunciar a sua palavra, enquanto protagonistas das decisões com e para a cidade. Reconhecemos nesse movimento formativo do próprio processo que o mesmo ainda é embrionário e que preferimos ações consistentes, densa e com tendências de longevidade.

Pelo diálogo e participação os sujeitos desenham um projeto coletivo de cidade que vem se reconhecendo educadora, porque ao educar se, educa!

SITE NEIPIES: Uma mensagem final aos que acreditam nos ideais das Cidades Educadoras.

Ádria Brum de Azambuja: As experiências locais mostram o quanto é possível experienciar os processos democráticos e participativos mesmo diante de cenários nacionais e internacionais que negam e confundem o sentido dos processos democráticos. Estamos aprendendo o quanto é possível viver princípios éticos e morais alicerçados no diálogo e na participação dos sujeitos. Os desafios são grandes e as possibilidades também.

Dirigentes do CMP Sindicato de Passo Fundo visitaram a Secretária Ádria Brum de Azambuja durante o mês de junho 2022. Além de conhecer a experiência da Cidade Educadora Soledade, convidaram a Secretária para relatar a experiência desta cidade no VII Congresso Municipal dos Professores e Professoras, que ocorrerá no dia 23/08/2022.

Fotos: Divulgação/Arquivo pessoal

Edição: Alexsandro Rosset

Xô depressão!!!

O aumento expressivo na procura por medicamentos ou por psicoterapias também caracterizaram este período recente, uma vez que crises de ansiedade, stress, depressão atingiram a muito mais pessoas e obrigando-as a que buscassem ajuda.

“Já perdi a fome, a vontade de viver
Já perdi o mundo e um motivo pra morrer
Não é a tristeza que me mata
Nem a alegria que me faz viver
É apenas um vazio… (Um vazio)
que me deixa assim.
Longe de todos e até de mim.” (Mary Rowsten)

Quando o tema é depressão, tem sido uma constante nos resultados de pesquisas na área da saúde a constatação do aumento da incidência de casos: a cada levantamento os dados apontam que mais e mais pessoas são acometidas por este mal. Só que, desta vez, chama a atenção o fato de que o aumento se deu em todas as faixas etárias; depressão não é só mais uma doença típica de adultos mais velhos ou de idosos, há também uma expressiva elevação de casos na faixa etária dos 18 aos 34 anos de idade.

A Pesquisa Nacional de Saúde traz dados antes e pós pandemia, e, muito embora a depressão tenha sua origem multifatorial, não há dúvidas de que o Covid-19 contribuiu para o aumento do número de casos.

Durante a pandemia, inicialmente, havia o medo de morte ante a indisponibilidade de atendimento médico a quem necessitasse, depois, vieram as ocorrências das mortes de familiares e de amigos, as perdas econômicas com o desemprego e/ou diminuição da renda e outras tantas mazelas.

O aumento expressivo na procura por medicamentos ou por psicoterapias também caracterizaram este período, uma vez que crises de ansiedade, stress, depressão atingiram a muito mais pessoas e obrigando-as a que buscassem ajuda.

A luz no fim do túnel é a esperança de que, assim como as grandes recessões econômicas ou as guerras que já assolaram a humanidade, o quadro pandêmico vá passar em breve.

Suas marcas deixarão em algumas pessoas cicatrizes profundas pelas perdas que causaram, e, nem mesmo os que passaram incólumes ao vírus estarão livres de suas consequências sociais e econômicas. O que precisamos é ter disposição para seguirmos em frente.

Tenhamos em mente – em contraponto à citação no subtítulo – que o vazio existencial que poderia nos levar a um quadro depressivo pode ser evitado mediante alguns esforços, pois, se preenchermos nossas vidas com atitudes amorosas, de atenção, de escuta, de colaboração, não estaremos sozinhos nesta caminhada. Alie-se a isso uma reflexão sobre os erros que cometemos e o que poderíamos fazer para repará-los e teremos ótimos ingredientes para superarmos esta reta final de pandemia.

Assista: A médica psiquiatra Dra Ana Beatriz Barbosa Silva fala sobre depressão no programa Sem Censura. Depressão é tema do livro “Mentes Depressivas: as três dimensões da doença do século”, de sua autoria. Programa: Sem Censura – TV Brasil. https://youtu.be/xxzY1CrgjGU?t=458

Autor: César A R de Oliveira

Psicólogo: whats app (54) 99981 6455. https://homemnapsicologia.com.br/

Edição: Alexsandro Rosset

Israel Kujawa: evolução humana e social por meio da educação

Israel Kujawa pauta sua trajetória e inserção social a partir do seu trabalho na educação, como professor da educação básica e do ensino superior, mas sempre associando as mesmas com as preocupações da realidade social na qual toda a sociedade está inserida.

Declara-se um humanista, pregando a necessidade de uma evolução humana e social, através da educação. Como mesmo afirma, “sou um defensor convicto da educação de qualidade, mas não existe educação de qualidade separada do social e do funcionamento institucional”.

Mais recentemente, por acreditar que a solução dos problemas sociais é complexa e precisa de ações políticas e de políticas públicas, Kujawa também desafiou-se a participar mais ativamente da política partidária, concorrendo a uma vaga de vereador na cidade de Passo Fundo, obtendo mais de 500 votos. Através de um sistema de rodízio do seu partido, o PT (Partido dos Trabalhadores), junto aos três suplentes de maior representatividade e votação, o PT (Partido dos Trabalhadores), assumiu a vereança por um mês, em junho de 2022. A vereadora eleita pelo PT na cidade é Eva Valéria Lorenzato.

Há pouco tempo atrás, construiu também seu canal no Yotube (https://www.youtube.com/channel/UCMQoomGetU04CXmolQjkjvA) para produzir conhecimentos que promovam a evolução humana e social, através da educação.

Durante este breve período na Câmara de Vereadores de Passo Fundo, Israel Kujawa fez a sua experiência como parlamentar. Nesta entrevista, conheça um pouco mais sobre ele e sobre sua trajetória por ele mesmo.

SITE NEIPIES: Conte-nos, brevemente, um pouco mais de tua trajetória de professor sempre ligada com as questões da realidade social em Passo Fundo.

Professor Israel Kujawa: Minha trajetória como professor tem várias etapas. Quando me formei em filosofia no ano 1992, tive uma certa dificuldade em me seguir na atividade profissional. Em 1995 entrei, via concurso, na rede pública estadual. Antes disso já tive uma experiência nos anos de 1993 e 1994, como professor num curso de graduação em filosofia.

Desde que comecei minha carreira profissional sempre priorizei espaços de estudo, fiz uma primeira especialização em filosofia, uma segunda especialização em linguística aplicada ao ensino da língua estrangeira.

Uma segunda etapa, está associada com experiências de gestão e gestão pedagógica na Educação de Adultos (extinto NEEJA) e uma atividade de assessoria pedagógica em educação popular. O mestrado em educação e a vinculação no ensino superior, como professor num curso de psicologia, representam uma outra etapa importante que me proporcionaram o doutorado e pós doutorado em um ciclo acadêmico que agregou muito na minha trajetória. Paralelamente, no final da década passada e início dessa, acumulei algumas experiências de gestão em secretarias municipais da habitação e do planejamento. Em todas as etapas orientei minha prática pedagógica aproximando e relacionando o individual ou social e o institucional.

SITE NEIPIES: Como e porque a política te cativa e te motiva para as ações cotidianas e de representação social e em defesa da própria educação?

Professor Israel Kujawa: A realização do doutorado em Psicologia Social Institucional me proporcionou um bom entendimento sobre o funcionamento das instituições. Nas minhas experiências e leituras sobre as relações entre os indivíduos e as instituições, aprendi que as instituições funcionam mais para auto perpetuação do que para atender as pessoas. Avalio que essa percepção me deu condições de atuação mais consciente e eficaz nos espaços institucionais. Sou um defensor convicto da educação de qualidade, mas não existe educação de qualidade separada do social e do funcionamento institucional.

SITE NEIPIES: Que importância teve o rodízio que o PT realizou em 2022 com os três suplentes de vereadores assumindo um mês de mandato parlamentar na Câmara de Vereadores de Passo?

Professor Israel Kujawa: O conceito de democracia, construído pelos gregos passou por experiências de evolução significativa. Por outro lado, experimentamos no século 20, amargos retrocessos com as ditaduras, impulsionadas pelo fascismo e materializadas no nazismo e no stalinismo.

A vida nos ensina que não somos nada sozinhos.A ocupação de espaços institucionais decorre de movimentos e atuações coletivas, por isto é justo que os espaços sejam democraticamente compartilhados. Nenhum vereador se elege apenas com seus votos individuais mas com a soma dos votos dos candidatos do seu partido. Deste modo, considero extremamente adequado a rotatividade entre os candidatos mais representativos.

SITE NEIPIES: O seu slogan como candidato à vereador foi: “quem é da educação, sabe seu papel. Esta é a razão pra votar no Israel”. Como traduziu esta ideia na atuação parlamentar neste mês de junho de 2022?

Professor Israel Kujawa: Gosto de me apresentar como um professor que decidiu ocupar os espaços institucionais da política para defender a educação. Ao sermos informados da oportunidade de ocupar a função de vereador por um mês, procuramos nos preparar com uma imersão na rotina regimental e no funcionamento da Câmara de Vereadores. O estudo do funcionamento da Câmara de Vereadores nos apresentou as atuações possíveis, as ações e os espaços prioritários a serem ocupados.

Em sintonia com a nossa trajetória e proposta do movimento iniciado em 2020 orientamos a nossa atuação pela narrativa que associa educação com o básico material como alimentação com habitação e com saúde. Um recorte central foi a cultura e o comportamento dos passofundenses em relação aos resíduos que individualmente produzimos. Os resíduos são fontes de renda e podem contribuir para a melhoria da qualidade de vida e no atendimento das necessidades básicas de milhares de moradores do nosso município. Esta constatação informando que 150 toneladas de resíduos são produzidos e não reciclados, significa renda desperdiçada.

Conversamos ainda com as lideranças sociais e as instituições ambientais que têm trajetória na educação ambiental. Dialogamos com diversos secretários, educação, habitação, obras e meio ambiente apresentando indicativos concretos para darmos alguns passos na superação dos desperdícios e no atendimento do básico para as pessoas que passam por necessidades.

SITE NEIPIES: Qual foi a importância do reconhecimento ao trabalho social da Cáritas Arquidiocesana de Passo Fundo em Sessão Solene realizada no dia 21 de junho de 2022?

Professor Israel Kujawa: Ao dialogarmos com as cooperativas de recicladores, que fazem um trabalho digno e extremamente significativo do ponto de vista pedagógico e material, percebemos que a Cáritas foi uma das grandes propulsoras destas iniciativas. Como professor, como pai e liderança social, me sinto desafiado a pensar e propor caminhos para a melhoria da qualidade de vida. Com 60 anos de atuação, a Cáritas se apresenta como a principal instituição que atua nesse recorte e apontar caminhos para que os cidadãos conquistem o básico e construam de forma comunitária a melhoria da sua das suas condições de vida.

Confira matéria já publicada no site: https://www.neipies.com/caritas-60-anos-de-trabalho-resistencia-esperanca-e-profecia/

SITE NEIPIES: Quais foram as prioridades e iniciativas neste mandato parlamentar de um mês?

Professor Israel Kujawa: Revisitamos as ocupações e conversamos com lideranças, intermediando demandas das mesmas com o poder público municipal. Revisitamos e intermediamos as demandas das cooperativas de recicladores. Escutamos e nos apropriamos da trajetória de atuação das entidades ambientais e assistenciais do município. Dialogamos com os principais secretários municipais intermediando as demandas recebidas. Apresentamos e aprovamos na Câmara de Vereadores indicativos para que o executivo atualize o Plano Municipal de Gestão dos resíduos sólidos e o Plano Municipal de Educação.

SITE NEIPIES: Na sua visão, por que é importante votarmos em representantes dos professores e professoras no legislativo (Câmaras de Vereadores, Assembléia Legislativa e Câmara dos Deputados)?

Professor Israel Kujawa: Nosso país está afetado por retrocessos no conjunto das políticas públicas voltadas para as camadas sociais com mais necessidade material. Nosso país está afetado por retrocessos nas políticas públicas de educação e na desvalorização dos seus profissionais, as instituições educacionais sofreram um processo de desqualificação. O melhor caminho para nos recuperarmos deste retrocesso passa pela participação na política com ação dos sujeitos, diretamente envolvidos com a temática, não apenas de atores políticos que não tem qualificação nem vivência na educação.

SITE NEIPIES: Qual é a importância de tua pré-candidatura a deputado federal para a cidade de Passo Fundo e para toda a nossa região?

Professor Israel Kujawa: A democracia do nosso país está fragilizada. O aperfeiçoamento da mesma passa por uma evolução na representatividade. A crise de lideranças qualificadas, com vínculo social regional compromete a representatividade e a democracia. A nossa trajetória com mais de três décadas de atuação social e educacional, em dezenas de escolas de educação básica e ensino superior nos credencia como uma opção para qualificar a representatividade regional.

SITE NEIPIES: Que mensagem deixas a todos os cidadãos e cidadãs da cidade de Passo Fundo e de toda região?

Professor Israel Kujawa: Me apresento como uma pessoa orientada pela esperança, pelo otimismo e pelo entusiasmo. Estou certo que nosso poder individual de mudança das condições materiais é pequeno. Estou certo, também, que o social não é natural, mas construído pela ação humana. Disponibilizo, para o conjunto da comunidade regional, uma trajetória que protagonizou movimentos com construções sociais, institucionais e comunitárias. Aproveito o espaço para sugerir que você, leitor ou leitora desta matéria, se engaje em nosso movimento ou em movimento para qualificar a representatividade política, contribuindo para a evolução humana e social por meio da educação.

Edição: Alexsandro Rosset

A lenda da mãe preta: resgate de uma Passo Fundo viva

Baseada na cultura dos povos nativos e envolvendo aspectos históricos, ambientais e até mesmo místicos, a história narra a saga de uma mãe desconsolada pela fuga de seu filho e de como a sua dor se transforma em vida, gerando uma fonte de água.

Resgatar, recontar, relembrar. É com esse intento que nasceu o projeto A lenda da mãe preta: resgate de uma Passo Fundo viva, pelo escritor e contador de histórias Gabito. A ideia surgiu de um outro projeto, intitulado Conta Gaúcho, que está levando a escolas municipais contações de histórias e exposição de artes visuais com temática regionalista. Como a lenda da mãe preta está no repertório dessas apresentações, vislumbrou-se a possibilidade de publicá-la em livro. Desafio proposto, desafio cumprido.

Considerada a narrativa popular mais conhecida e significativa de Passo Fundo, a lenda da mãe preta é considerada um patrimônio local. Baseada na cultura dos povos nativos e envolvendo aspectos históricos, ambientais e até mesmo místicos, a história narra a saga de uma mãe desconsolada pela fuga de seu filho e de como a sua dor se transforma em vida, gerando uma fonte de água. Tão significativa é a sua presença no folclore passo-fundense, que foi edificada uma praça em sua homenagem.

Nesse sentido, no ano de 2021, o projeto de Gabito foi contemplado com recursos do 6º Prêmio Funcultura, promovido pela Secretaria Municipal de Cultura, tornando possível a publicação do livro.

O processo de edição da obra contou com um competente time, tendo a artista Gabrielly Paz nas ilustrações, a professora Daniela Bettin na revisão, a designer Aline Fochi na diagramação e a impressão dos livros ficou a cargo da Editora Berthier. A tiragem terá sua distribuição dividida em duas partes: metade dos livros será entregue gratuitamente em escolas municipais, a fim de fomentar o conhecimento sobre a própria identidade cultural nos espaços educacionais e a outra metade está sendo comercializada ao público em geral.

No último dia 25/06 ocorreu o lançamento do livro A lenda da mãe preta, na Delta Livraria do Passo Fundo Shopping. Reunindo amigos e outros leitores, o escritor Gabito conversou com o público sobre o processo de criação da obra, contou histórias e deu autógrafos.

Contando com a participação da ilustradora Gabrielly Paz e da musicista Luiza S. Gomide, que abrilhantou o evento com uma apresentação ao violino, o lançamento proporcionou uma tarde de emoção e confraternização entre apaixonados pela literatura. O evento foi a primeira iniciativa de divulgação do livro e do projeto.

Durante o ano de 2022 serão realizadas outras ações desse cunho, em parceria com as mais variadas instituições, com o objetivo de tornar possível o resgate e a valorização do folclore de Passo Fundo.

Quem deseja adquirir exemplares do livro pode entrar diretamente em contato com o autor Gabito, pelo número (54) 9 8127 2895 ou @gabito.prof (Instagram), ou comprá-lo diretamente na Delta Livraria do Passo Fundo Shopping.

Curiosidades sobre os monumentos das duas mães de Passo Fundo: Assista: https://youtu.be/O7m4FSBp_sw?t=108

Fotos da Praça da Mãe Preta: obtidas do vídeo Nexjor UPF: https://youtu.be/O7m4FSBp_sw?t=91

Imagens lançamento do Livro: Divulgação/ Arquivo pessoal do autor

Edição: Alexsandro Rosset

Ideologia de gênero: ameaça ou falácia?

Com a proximidade das eleições, candidatos desprovidos de qualquer programa de governo que vise o bem-estar da população recorrem a expedientes nada louváveis para atrair votos.

Dentre os expedientes utilizados, estão as pautas de costume que abordam desde assuntos relativos à sexualidade, passando pelo aborto e pelas drogas. Sem dúvida, o mais usado para aterrorizar as pessoas e convencê-las a confiar-lhes seus votos está a tal “ideologia de gênero.”

Pastores transformados em cabos eleitorais vociferam de seus púlpitos, anunciando a sórdida tentativa dos partidos de esquerda em sexualizar nossas crianças, com a intenção de transforma-las em gays, e assim, destruir as famílias, impedindo-as de se perpetuar. Por mais absurda que seja esta argumentação estapafúrdia, ela tem sido a locomotiva de boa parte da propaganda de candidaturas comprometidas com políticas que visam a supressão de direitos da classe trabalhadora e de direitos civis de minorias historicamente oprimidas.

Não existe esta tal “ideologia de gênero”, e sim uma educação que aborda questões relativas à sexualidade com o objetivo de prevenir o abuso infantil e a disseminação de preconceitos.

Longe de ser uma doutrinação visando converter as crianças à homossexualidade (como se isso fosse possível!), a educação para a diversidade tem como objetivo criar condições favoráveis no ambiente escolar para que professores e alunos possam aprender e ensinar o convívio com as diferenças, combatendo assim a discriminação, o preconceito, a violência de gênero (contra a mulher, o homossexual e o transexual).

A escola deve prover um espaço aberto à reflexão e ao acolhimento dos alunos em sua individualidade, garantindo-lhes a liberdade de expressão. Para tal, deve-se fomentar debates mais aprofundados sobre as questões de gênero e sexualidade, com disciplinas que tratem especificamente do tema.

Os pais devem ficar despreocupados. Nenhum filho hétero vai voltar para casa homossexual. Mas certamente vai enxergar seus colegas homossexuais sem as lentes do preconceito que, infelizmente, muitas vezes receberam na educação provida em seu próprio lar.

O ambiente escolar costuma ser cruel com os diferentes. Por isso, acredito que cabe aos professores trabalhar para atenuar este tipo de comportamento.

Tempos atrás, um menino de apenas doze anos, colega de algumas crianças que frequentavam nossa igreja, suicidou-se tomando chumbinho e sufocando-se com um saco plástico, por não suportar o bullying sofrido na escola. Não se trata de um caso isolado, mas de um fato cada vez mais frequente, apesar de nem sempre ter a devida cobertura midiática.

Raramente os pais tomam conhecimento do que acontece na escola. E às vezes, mesmo sabendo, não tomam qualquer providência, seja por sentirem-se impotentes, ou simplesmente por não se importarem. Por estas e outras, sou 100% a favor da proposta da educação para a diversidade. Não se trata de ‘ideologia de gênero’, mas de educação, e, portanto, deve ser discutido no ambiente escolar.

Outra razão para que as escolas ofereçam educação sexual é a prevenção de abusos sexuais. O abuso sexual de crianças e adolescentes geralmente é cometido por uma pessoa de confiança da vítima, como um parente próximo. Há abuso mesmo quando não se tem o ato sexual consumado. Expor a criança a carícias impróprias ou a pornografia, ou se exibir para ela, também é considerado abuso sexual.

Uma educação sexual escolar que respeite o desenvolvimento físico, psicológico, afetivo, cognitivo e, sobretudo, sexual de uma criança oferece ferramentas para diagnosticar possíveis abusos, incentivando a denúncia com o objetivo de interrompê-los.

A recusa por parte de algumas instituições em abordar o tema que ainda é visto como tabu, ou de denunciar às autoridades casos de violência sexual, tem sido um fator facilitador para os abusadores. Estes deveriam ser os únicos a se sentirem incomodados com a educação sexual das crianças na escola. Está comprovado que a educação promove o adiamento da iniciação sexual, e, consequentemente, previne DST, gravidez indesejada e, por conseguinte, coíbe o aborto.

Os que se opõem a educação sexual nas escolas deveriam considerar que seus filhos estão sendo bombardeados por informações erradas sobre sexo, seja através da televisão, da internet ou de propagandas.

Uma das formas de prevenção é ensinar as crianças com abordagens apropriadas para cada faixa etária, conceitos de autoproteção, consentimento, integridade corporal, sentimentos e a diferença entre toques agradáveis e carinhosos, e toques invasivos, erotizados e desconfortáveis, aumentando as chances de proteger crianças e adolescentes de possíveis violações.

É importante falar, por exemplo, em quais partes do corpo da criança qualquer pessoa pode tocar e em quais partes não podem, mesmo por outras crianças. Por exemplo, tocar na cabeça, no ombro, no braço geralmente não oferece qualquer ameaça. Mas elas precisam entender que outra pessoa não pode tocar em suas partes íntimas, seja adulta ou criança.

É imprescindível que se ensine às crianças a não permitir maior intimidade com determinadas pessoas. E assim, elas se percebem empoderadas, aptas a dizer não e a fugir da situação. Geralmente, abusadores sabem como conquistar as crianças paulatinamente. Em sua ingenuidade, a criança pode permitir o abuso por receio, medo ou por engano.

Os paladinos da moral e dos bons costumes atacam mais uma vez. Segundo eles, é a família tradicional que está sob um acirrado ataque daqueles que almejam destruí-la, impondo à sociedade sua nefasta agenda, cujo objetivo principal seria a implantação de uma espécie de ditadura gay. O que seria, então, uma família ideal? De onde buscaríamos um modelo perfeito? Leia mais: https://www.neipies.com/em-favor-da-familia-qual-a-humana-pode-ser/

Autor: Hermes C. Fernandes

Edição: Alexsandro Rosset

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