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Os ritos na vida cotidiana

Dois desafios importantes: compreender os ritos religiosos dos quais participamos; viver de forma plena e não abandonar os ritos do nosso cotidiano que tornam mais leve e dão sentido à vida.

A vida humana é marcada por diferentes ritos e cada pessoa, desde o nascimento, participa, com maior ou menor consciência, desses momentos necessários e que dão um sentido diferenciado a sua vida. Os ritos estão disseminados no cotidiano pessoal, familiar ou comunitário. Eles vão se sucedendo desde que levanta até o repouso, no final da jornada. Desde que a pessoa nasce até o seu sono derradeiro.

As diferentes tradições religiosas também se embasam em rituais para operarem o contato com o Sagrado. No texto do Êxodo está o relato do encontro de Moisés com Javé, quando subia a montanha para dialogar com o libertador (Ex 19,3;8; 17). O povo de Deus participava a distância, mas era uma forma de ser presença no rito (Ex 19,21). Jesus também costumava se retirar para rezar. Era um rito individual (Mc 1,35; Lc 4,42; Lc 6,12) ou realizado na companhia dos discípulos (Mt 17 1-13; Mc 9, 2-13; Lc 9, 28-36), importante na vida do Filho de Deus.

Os povos tradicionais também fazem uso dos ritos nos cultos e alguns nem sempre são perceptíveis como ritos religiosos a quem não os conhece. São ritos que demarcam os momentos fundamentais na vida do grupo cultural e dão a eles a eles um caráter sagrado.

O cotidiano se reveste de sagrado.

 Uma criança quando chega à adolescência começa a passar por diferentes ritos que lhe dão as condições de adentrar no grupo dos adultos. As passagens de fase da vida é são ritualizadas e, muitas vezes, revestidas de um caráter sagrado pela importância para o grupo cultural.

A tradição cristã se embasa também em muitos ritos. Estes têm um acento maior ou menor, dependo da denominação cristã.

Na Igreja Católica, a celebração eucarística é um rito muito valioso, sustentado por outros ritos, também extremamente significativos. A boa participação requer a compreensão do rito realizado. E esta participação vai além da racionalidade. É um momento profundo de mística e espiritualidade que envolve a pessoa em sua integralidade.

Uma pessoa, quando se dispõe a assumir um serviço na sua comunidade, terá um processo de preparação para compreender a função que vai assumir. Depois de preparada vai passar por um rito que a colocará em condições de levar adiante a missão. Uma experiência muito bonita está sendo recuperada na catequese de iniciação à vida cristã. As quatro etapas da catequese são demarcadas por vários ritos que vão preparando o catecúmeno para acolher em sua vida o sacramento para o qual está sendo preparado. Tais ritos são vistos como muito importantes e exigem preparação para que se viva plenamente eles.

A boa experiência nos ritos dará ao cristão, em processo de iniciação, um novo ânimo na sua vida de fé. A vida humana no seu cotidiano também é marcada pelos ritos. Alguns têm grande importância. Outros nem tanto.

Neste verão, vê-se muitos casais, famílias, amigos que vão para as praças no final da tarde tomar chimarrão e conversar. A pandemia limitou bastante este rito, mas ele ainda acontece e por ele se cultiva o amor conjugal, o afeto familiar e a amizade.

A criança que aguarda ansiosamente o retorno dos pais do trabalho para pular no seu colo e contar o que fez. É um rito importante para aquela criança, mesmo que seus pais nem sempre percebam. Amigos de longa data costumam se encontrar eventualmente para conversar e confraternizar. Este momento, mesmo que espaçado, é necessário para fortalecer a relação de amizade.

Os ritos vão demarcando momentos importantes, seja na vida cotidiano seja nos eventos considerados sagrados. Em ambas experiências não existe a repetição, mas cada rito realizado é uma novidade, desde a sua constituição, como na sua efetivação.

De todos os ritos cotidianos, considero o mais importante sentar-se à mesa para partilhar a refeição com a família. Envolve várias dimensões: primeiro a oportunidade de ter alimento na mesa; também o valor de partilhar os alimentos com a família e amigos; compreende também o sentar-se juntos, e além de se alimentar, se conversar, fazer planos e renovar os laços familiares. Jesus fazia da mesa um momento forte de convivência e evangelização.

Dois desafios importantes: compreender os ritos religiosos dos quais participamos; viver de forma plena e não abandonar os ritos do nosso cotidiano que tornam mais leve e dão sentido à vida.

Convite para aprofundar conhecimentos:

Depois da leitura desta reflexão, liste ritos religiosos mais significativos que já fazem parte da sua vida. Liste também ritos cotidianos que você já experimentou ou experimenta, tornando sua vida mais leve e com mais sentido. Depois de listar, o convite é para dividir com seus colegas de turma na escola ou com seu grupo de jovens ou de conversas. Apostamos que você se surpreenderá com a quantidade de ritos e com a importância dos mesmos na vida de todos nós.

Autor: Pe. Ari Antônio dos Reis

Edição: Alex Rosset

2022: não percamos a fé, a esperança e o amor ao magistério

Vamos, dentro do possível, transformar a sala dos professores – de um muro de lamentações e críticas contra governos – em local onde reine a certeza de que estamos colaborando para grandes transformações.

A escola representa, na comunidade onde está inserida, um templo de luz e sabedoria que reúne, em seu corpo docente, pessoas portadoras de conhecimentos libertadores que podem ajudar a vencer a mais humilhante escravidão, representada pela ignorância. Elas trazem, em suas mãos, archotes de luz que vão iluminar as mentes dos alunos, mostrando-lhes o verdadeiro sentido da vida para lhes nortear os caminhos a serem percorridos a partir dos bancos escolares.

O projeto político pedagógico da escola precisa ir além da proposta obrigatória, prevista pela legislação oficial, e adentrar numa visão mais ampla de iluminação das mentes discentes.

Um desafio deve estar presente no planejamento coletivo desse projeto: qual a utilidade prática, para a vida cotidiana do aluno, que o conhecimento adquirido nas diversas áreas e disciplinas do currículo vai ajudá-lo a ser uma pessoa equilibrada, fraterna, solidária, útil para si e para os que a rodeiam e que possa ajudá-lo a construir uma vida que valha a pena ser vivida e que lhe traga felicidade?

O professor, ao construir seu projeto pedagógico, precisa refletir como o aluno vai enfrentar, reagir e se libertar das influências que a classe dominante lhe impõe, com mensagens como “o agro é pop, o agro é tudo” e outras afirmações que o fazem agir sem refletir.

Será que o aluno terá condições de se rebelar, de não se deixar levar pela ilusão da propaganda? Vai saber das consequências nefastas da produção de monoculturas com agrotóxicos em excesso, agressões ao meio ambiente? Vai procurar caminhar na direção contrária, com respeito à natureza como obra divina e buscar outras alternativas mais salutares?

A escola precisa tornar-se um local acolhedor, com dependências limpas e agradáveis.

A parte externa precisa ser ajardinada, cuidada, arborizada e isso poderá ser feito com a colaboração de toda a comunidade escolar. Atividades de manutenção do pátio, canteiros de flores, horta com hortaliças, que devem fazer parte da merenda escolar, podem ser desenvolvidas pelos alunos, com a supervisão dos professores.

Sempre propomos que haja uma parceria entre as Secretarias de Educação e de Meio ambiente dos municípios para que os alunos entendam a importância da prevenção e conservação ambiental, dentro de uma visão multidisciplinar.

Apesar de todas as dificuldades enfrentadas pelos educadores, emocionais, financeiras e sociais precisamos levantar a cabeça, respirar fundo e olhar para o futuro. 

Somos os construtores de um futuro melhor, somos formadores de opinião e mesmo com imenso sacrifício pessoal não podemos abrir mão do grande valor que temos na formação da geração de alunos que passam por nossas mãos. A História vai reconhecer nosso valor. Não desanimemos! Precisamos vencer, com galhardia, esse momento atual e mostrar a importância de nosso trabalho na preparação de um mundo melhor.

Vamos, dentro do possível, transformar a sala dos professores – de um muro de lamentações e críticas contra governos – em local onde reine a certeza de que estamos colaborando para grandes transformações. Não percamos a fé, a esperança e o amor ao magistério, aprimorando nossos conhecimentos cada vez mais.

Neste ano de 2022 façamos dele a entrada para uma nova era na Educação, criando meios e projetos que favoreçam o crescimento efetivo de nossos alunos.

Autora: Gladis Pedersen de Oliveira

Edição: Alex Rosset

Mulheres, não esperem príncipes encantados

Só quero que você, mulher, pare de se iludir à espera do príncipe encantado porque ele não existe. É uma criatura inventada pelas nossas tias e avós há muitos anos quando essas não tinham outra coisa para fazer senão costurar as meias dos maridos.

Desde menininha, ainda buchuda e com chupeta na boca, querem nos dar príncipes encantados dizendo-nos que o amiguinho ou priminho combina conosco. Caímos nessa ilusão de que devemos crescer, casar e ter muitos filhos além de cuidar da casa e do marido preguiçoso, na maioria das vezes. Muitas de nós sequer têm tempo para namorar e acabam se casando com o primeiro que aparece. Ainda nos ocorre o medo de ficar no caritó, nos assustamos quando a irmã mais nova se casa ou engravida e nós continuamos à procura do nosso príncipe.

Quero fazer um pedido às mulheres que gostam de me ler: não esperem príncipes encantados.

Homens brancos, de olhos azuis, héteros e ricos não querem saber de casamento e muito menos de jurar amor fiel a apenas uma mulher. Eles são machistas vaidosos que só pensam em si próprios. Cultuam a beleza do corpo, se tatuam, usam maquiagem e têm a cabeça oca em relação as mulheres. Quando encontram uma mulher com mais dinheiro do que eles, logo são tomados pela inveja e arrogantes nas suas belezas físicas enganam as mulheres com as mais antigas cantadas de amor no intuito de tão somente tirarem o dinheiro delas. Acreditem em mim: homens não prestam e ainda mais se forem chorões. Só querem nos enganar.

Muitas mulheres cinquentonas reclamam de nunca terem encontrado seus príncipes encantados, têm um bom emprego, uma boa casa e amigas verdadeiras. Mas continuam a reclamar e esperar pelo tal príncipe. De tanto buscá-lo nas redes sociais acabam caindo em golpes e o príncipe torna-se num tormento se aproveitando e fazendo uso de toda a riqueza que a mulher construiu ao longo da sua vida. Isso quando não aparece uma falsa amiga para fazer par com o Dom Juan de mentirinha.

Precisamos estar atentas as ciladas do mundo globalizado. Os gringos podem ser homens lindos, mas não deixam de ser iguais aos outros, ou seja, preocupados com os seus umbigos. Os homens querem mulheres para cuidarem deles e só isso. Eles levam a vida inteira procurando uma mulher que substitua a sua mãe. Eles não são bonzinhos. E muito menos românticos. Tudo o que fazem tem um objetivo, algo em vista, uma necessidade.

Muitas mulheres se veem obrigadas a cuidarem dos seus maridos a vida inteira quando ficam acamados, deixando de viver as suas vidas para se dedicarem exclusivamente ao coitadinho. Será que ele faria o mesmo por você? Sem contar que a maioria dos homens são ingratos conosco. Nossa, gente, isso é horrível para a nossa autoestima e bem-estar.

Tantas de nós nos casamos com homens financeiramente mais pobres e os ajudamos a crescer profissionalmente, ensinando-lhes etiquetas, levando-os a reuniões de trabalho e lhes dando o melhor de nós.

Esses quando alcançam uma posição melhor na vida nos dão um grande chute na bunda nos trocando por uma mulher mais jovem e mais bonita que não pode imaginar será a próxima vítima, sim, porque os homens nunca param de fabricar armadilhas para nós. Eles acham pouco armar a armadilha, preferem fabricá-las dos seus jeitos e são muitas hoje em dia, cada uma mais sutil do que a outra nos aprisionando dentro das suas cavernas cheias de romantismo, mas sem portas e janelas para que vejamos a luz das nossas próprias ideias. Sim, porque uma mulher não pode pensar por si própria, todas as decisões partem do companheiro.

Essa coisa de príncipe encantado só existe nos contos de fadas de antigamente, nem nas histórias realistas eles existem mais.

Somos iludidas com falsas promessas por aqueles que juram nos amar até que a morte nos separe quando na verdade na primeira oportunidade nos traem com a nossa melhor amiga ou gastam todo o nosso dinheiro com bebidas e festas.

Este meu recado não vai apenas para as jovens mulheres que estão eufóricas na esperança de que seus companheiros lhes mandem flores ou façam um jantar romântico para elas no dia dos seus aniversários, mas para todas as mulheres que ainda vivem a ilusão de que só serão felizes se tiverem um homem ao seu lado, tolice, besteira, coisa de quem é insegura. A felicidade só depende de você.

Vejo muitas amigas reclamando nas redes sociais porque estão solteiras e outras todas felizes postando fotos dos seus momentos com o marmanjo do lado dizendo ser ele o motivo de tal felicidade. Não sei se há mulheres bobas demais ou se nos permitimos ser bobas, porque confiar a nossa felicidade num macho escroto que está ao nosso lado só porque podemos oferecer-lhe algo talvez seja de uma pequenez para as nossas almas que só nós sabemos quando deitamos a cabeça no travesseiro e vamos pensar em tudo o que nos aconteceu ao longo do dia.

Muitas mulheres levam anos para descobrir que foram o tempo inteiro usadas pelos seus machos, outras felizmente descobrem cedo demais e dizem que se desencantaram. Eu não vejo bem como desencanto, e sim como uma visão da realidade que só quem é capaz de identificar um homem machista e mesquinho pode descobrir quão mal ele pode fazer-lhe se continuar a relação de dependência, sim porque algumas mulheres adoram ser dependentes.

Tem mulher que acha bonito o marido trabalhar e ela ficar cuidando da casa e dos filhos, outras acham bonito quando ela paga o jantar e ainda têm aquelas que gostam de receber de presentes panos de pratos e toalhas de mesas. Cada uma com seu gosto, não vou entrar aqui nesse mérito. Só quero que você, mulher, pare de se iludir à espera do príncipe encantado porque ele não existe. É uma criatura inventada pelas nossas tias e avós há muitos anos quando essas não tinham outra coisa para fazer senão costurar as meias dos maridos.

Estamos em pleno século vinte e um e precisamos cuidar tão somente de nós. Não permitam que nenhum homem entre nas suas vidas prometendo céus e terra porque o que eles mais querem de nós é um lugar onde se apoiar quando chegar a velhice. Sim, os homens morrem de medo da velhice.

Conheço uma senhora que foi largada pelo marido durante vinte anos e depois de todo esse tempo ele voltou para dentro de casa sem dar explicações, sem dizer o motivo do seu desaparecimento por vinte longos anos. Eles acham que estaremos sempre esperando por eles, e o pior é que algumas de nós ficaremos de verdade à espera de que voltem para casa. Há mulheres que quando os maridos as trocam por outras nunca mais se abrem para outros homens na esperança de que um dia os maridos se arrependam e voltem para casa. É um absurdo o quanto nos deixamos iludir por esses machos que só sabem nos roubar de nós próprias.

Acredite que o tal príncipe encantado pode vir vestido em seda ou sujo de lama, mas será sempre o mesmo homem bruto e dono de si pronto para questionar-lhe ao primeiro sinal de independência.

Os homens têm medo de mulheres que fazem as coisas sem os consultarem, que cortam os cabelos, compram roupas, trocam de carros ou engravidam sem combinar com eles. Como se o nosso dinheiro, corpo e alma fossem seus escravos. A maioria dos homens são uns babacas diante das mulheres trabalhadoras e que se esforçam para manter a casa e a família enquanto eles assistem o futebol na televisão comprada por elas, com as pernas abertas e gritando pra lá e pra cá. É assim, mas pode mudar, mulheres.

Autora: Rosângela Trajano

O bom e o importante

De nada adiantará se cada um/a não organizar sua escala de valores com base nos princípios éticos, humanitários e solidários. O importante é que o “bem” e o “bom” tenham sempre como foco principal o coletivo!

Dia desses conversei com uma pessoa sábia, que me falou coisas importantes. E percebi que o que é importante para uns pode não o ser para outros. Depende muito da visão de mundo, de sociedade, de ser humano, de princípios, de meios e de fins de cada um/a.

De todo modo, para efeitos de viabilizar a vida coletiva, definem-se padrões de pensamento, de comportamento social e de conduta ética. Não obstante, subsiste a pluridiversidade de pensar, de viver e de ser. Uma parcela da sociedade vê isso como riqueza; outra parte, como problema.

Entre as coisas que julguei importantes na conversa com a referida pessoa, está o desejo de mudar o mundo. Na verdade, a pretensão é muito audaciosa. Em primeiro lugar caberia identificar o que seria necessário mudar. Em segundo, o que seria mais importante. Em terceiro lugar, o que seria possível. Em quarto, por quê fazê-lo. Em quinto, quem o faria. Em sexto, quais as dificuldades a serem enfrentadas nessa missão. Em sétimo (para não ir ao infinito com as questões), com que meios, recursos e estratégias mudar aquilo que se julga mais importante, possível e urgente.

No meio da aludida e rara pretensão, emergem outras, com as quais a maioria das pessoas parece se ater. Entre elas, a preocupação de só mudar ou manter o ambiente à sua volta; mudar ou manter a sua própria condição social; mudar ou manter seus próprios interesses. A manutenção ou a mudança de atitudes e de padrões de conduta sempre estão assentadas em princípios e valores, tais como o bom e/ou o importante.

Não só desejar o bem estar individual, mas querer transformar a realidade para garantir o bem viver coletivo é uma questão de ética humanista.

Já faz tempo, o jornalista norte-americano Walter Winchell afirmou: “O bom não é ser importante, o importante é ser bom”. De novo prorrompe um conjunto de indagações: o que é ser importante? O que é ser bom? Por que ser ou deixar de ser importante? Por que alguns parecem importantes, mas não são bons? Por que outros até dizem ser bons e pessoas de bem, mas, na prática, utilizam armas de todas as espécies para agredir, violentar e destruir os outros? Acerca do tema, o beato José Allamano nos legou essa máxima: “Fazer o bem, bem feito, nas coisas simples de todo dia, com constância e sem barulho”.

O desejo de mudar o mundo é extremamente necessário, indispensável e salutar. Isso não isenta a necessidade de, muitas vezes, ter de mudar-se a si mesmo, empenhar-se na mudança de aspectos no âmbito familiar ou do pequeno grupo e comunidade. Porém, não é suficiente olhar só o ponto pequeno, conquanto vislumbrar o cenário abrangente.

Ao olharmos para o horizonte, vemos que o mundo é maior que nossas circunstâncias e circunferências.

De acordo com o escritor uruguaio Eduardo Galeano, é preciso alimentar a utopia: “A utopia está lá no horizonte. Me aproximo dois passos, ela se afasta dois passos. Caminho dez passos e o horizonte corre dez passos. Por mais que eu caminhe, jamais alcançarei. Para que serve a utopia? Serve para isso: para que eu não deixe de caminhar” (Las Palavras Andantes).

Entre as questões que [ainda] considero (u)tópicas está a construção de uma sociedade justa e solidária. Para tanto é de suma importância superar a indiferença diante da produção coletiva da morte e da exclusão em massa dos pobres. É igualmente importante fortalecer a posição crítica ante os mecanismos de dominação do sistema de mercado total. Urgente assumir com coragem atitudes propositivas de enfrentamento à cultura da mentira, do ódio e do falseamento da realidade que se generalizaram e se naturalizaram na sociedade.

Mais do que nunca, são essenciais e inadiáveis, em todos os níveis, ações concretas para evitar o caos socioambiental e tentar “adiar o fim do mundo” (Ailton Krenak).

Essas questões dependem, sim, de eficientes e qualificados processos de educação, bem como de políticas públicas que lhes garantam suporte.

De nada adiantará se cada um/a não organizar sua escala de valores com base nos princípios éticos, humanitários e solidários. O importante é que o “bem” e o “bom” tenham sempre como foco principal o coletivo!

Autor: Dirceu Benincá

Edição: Alex Rosset

Saberes da educação sob a ótica de professores e professoras

Enquanto educadores e educadoras se abstiverem de falar e registrar seus conhecimentos, suas percepções e suas práticas educativas, mais abrirão espaço para que quaisquer outros profissionais digam o que deve ser feito na educação.

Em dezembro de 2014, têm início o site www.neipies.com cujo objetivo principal é constituir-se numa referência de publicações autorais, construídas por sujeitos que se agregam para pensar o processo de humanização através dos conhecimentos críticos e colaborativos. A humanização, aqui, é entendida como um processo pelo qual nos tornamos melhores seres humanos através destes conhecimentos. Igualmente em 2014 foi o ano em que publicamos o livro “Conviver, educar e participar nos palcos da vida” pela Editora Ifibe de Passo Fundo.

A iniciativa da criação do site foi incentivada por amigos e amigas que lêem, escrevem e gostam de literatura é hoje, também, marcada por certo ineditismo entre professores e professoras da educação básica. Pretende-se falar e pensar de professor para professor, numa lógica de trocas e reciprocidades, num constante aprender-refletindo. Almeja-se, ainda, fortalecer convicção de que mudanças na educação, sobretudo mudanças de práticas docentes, também ocorrem quando educadores e educadoras fazem o exercício de reflexão de suas práticas cotidianas. Sistematizar práticas docentes é uma forma eficiente e prática de apropriar-se de novas posturas e compreensões acerca do nosso fazer pedagógico.

O público que se deseja atingir com esta plataforma digital são profissionais da educação, estudantes, lideranças sociais e quaisquer interessados nas temáticas Educação, Cidadania e Espiritualidade.

Os convidados/as do site são, quase sempre e preferencialmente, profissionais da educação que vivem a realidade cotidiana nas escolas.

Acesse aqui: https://www.neipies.com/autores_convidados/

Destacamos a importância dos profissionais da educação encontrarem o seu lugar de fala, terem a possibilidade de escrever e refletir sobre os desafios educacionais. Na medida em que estes escreverem sobre a realidade educacional, mais a educação será valorizada e haverá maior protagonismo por parte daqueles que são fundamentais na educação. Enquanto educadores e educadoras se abstiverem de falar e registrar seus conhecimentos, suas percepções e suas práticas educativas, mais abrirão espaço para que quaisquer outros profissionais digam o que deve ser feito na educação.

O site aborda, principalmente, temas relacionados à educação, cidadania e espiritualidade. As abordagens são diversificadas, tanto na forma como no conteúdo; buscam reforçar a importância do espírito científico, do diálogo, da democracia e das diversidades humanas. Como não há temáticas pré-definidas, os temas escritos, problematizados e publicados emergem dos contextos e das realidades em que os convidados/as estão envolvidos/as. Por vezes, as temáticas também surgem de conversas, trocas ou iniciativa do Editor do site.

A organização dos conteúdos e sua publicação ocorrem no formato de crônicas publicadas pelos convidados/as em suas colunas, no formato de entrevistas dirigidas a pessoas dos temas preferenciais do site e na edição de pequenos vídeos, publicados no Youtube e divulgados no site.  As publicações são, também, organizadas e divididas, quando é o caso, em 04 Seções: Protagonistas da Educação, Reflexões e Atividades, Entrevistas e Excertos.

Confira aí: https://www.neipies.com/secoes-especiais/

Com o advento da pandemia, a partir de 2020, criamos a Seção Reflexões e Atividades, com objetivo de editar reflexões e textos com sugestões de práticas pedagógicas em cada uma delas, com a participação de professores das áreas do conhecimento que já aplicaram esta atividade em suas aulas, caso isso fosse possível ou apenas idealizado em um outro momento. Priorizamos os Componentes Curriculares Ensino Religioso e Filosofia, justamente por terem poucos subsídios pedagógicos para orientação de suas aulas, de muitos professores e professoras sem formação específica.

Acesse aqui: https://www.neipies.com/reflexoes-e-atividades/

Os Convidados/as escrevem e publicam conforme os seus ritmos, o seu engajamento com a escrita, a necessidade de problematização de temáticas, a sua motivação para comunicar. Desta forma, ocorre um grau diferenciado de envolvimento e participação dos Convidados/as.

Depois de recebidas, as reflexões dos Convidados passam pela análise e correção do editor e de revisores, respeitando as peculiaridades da escrita e respeito à autoria. Já participaram deste processo Diego Ecker e Elias Foschesatto. Atualmente, Alexsandro Rosset participa na edição, revisão e correção dos textos.

O site www.neipies.com já contou e conta atualmente com a colaboração de 75 pessoas Convidados/as. Edita semanalmente, aos finais de semana, de 04 a 06 publicações, 20 a 24 publicações mensais. O alcance médio das publicações é de 500 acessos, sem quaisquer “impulsionamentos” no Google ou em redes sociais. Já foram editadas mais de 1100 publicações. O número global de cliques/acessos já somam mais de 530 mil, sendo quase 200 mil cliques somente em 2021.

Gráfico de Evolução dos acessos:

A maior parte das leituras e acessos ocorre por divulgação em grupos nas diferentes redes sociais, pela newsletter da página e por leitores e leitoras que de forma orgânica ou permanente acessam o site.

Embora carregue o nome do seu idealizador, o site sempre congregou pessoas e ideias à serviço da humanização, através da disseminação dos conhecimentos críticos e colaborativos. Na medida em que passam os anos, renova-se para potencializar maior alcance e maior repercussão entre interessados no seu propósito fundante.

Nei Alberto Pies, Editor do site

Resistência: uma forma de viver

As humanidades ainda se impõem, apesar do sutil e sofisticado patrulhamento ideológico. A ideologização funciona porque a sociedade, as famílias e as escolas estamos deixando de estimular e incentivar pensantes mentes brilhantes.

Vivemos tempos onde ocorrem sucessivas avalanches políticas e sociais, eventos que destroem, sem pudor e sem piedade, tudo o que dignifica as humanidades e o que promove humanização. Por isso, urge que sejamos Resistência, sempre e em todo lugar, em toda e qualquer circunstância em que seja possível afirmar a dignidade, a criatividade e a liberdade humanas.

O sistema, o mundo, tenta destituir, ao máximo, a ideia de que todos somos Sujeitos. Sujeitos são aqueles que promovem ou organizam a sua ação. Por mais que os ambientes e contextos sejam hostis, carregados de arrogância, uivados de medos e de repressão, os sujeitos se insurgem, se impõem, mesmo que não apareçam, imediatamente, seus protagonismos. Os sujeitos agem, mesmo à margem dos caminhos traçados. Trata-se de uma teimosa e corajosa resiliência, que estes alimentam para não sucumbir e não morrer, a partir da negação da dignidade, liberdade, criatividade e criticidade.

Uma das estratégias mais bem elaborada que se vê por aí é transformar os sujeitos em manada, em bando, em seguidores, em meros reprodutores de informação. Nada de pensar, de organizar, de questionar, de perguntar.

Sujeitos precisam, então, ser evitados ou controlados, mas sem antes passarem pelo crivo do alijamento, anulação e desprezo.

Estes tais sujeitos não morrem, quando deveriam assumir condição de serem apenas consumidores, sem perturbar ou incomodar ninguém. Quem pensa mais, compra menos.

Sujeitos se tornam fortes e mais perigosos quando organizados, quando somam-se em diferentes lutas e causas, quando se juntam a outros para demonstrar o poder e a capacidade que têm as suas ideias. Mais do que nunca, as sucessivas avalanches sociais e culturais destituíram e deslegitimaram todas as formas de organização social.

Muita coisa é mera retórica, longe do necessário protagonismo que todo ser humano deveria exercer em sua existência. Agora se fala em protagonismo, autonomia, liberdade de escolhas, novos tempos, projetos de vida, futuro de aprendiz, flexibilização, reestruturação, aprendizagem significativas, metodologias que ativam, sujeitos aprendentes, …

Nada, ou muito pouco do que se anuncia por aí, tem essência libertadora. Tudo é muito manipulado, maquiado, pré-estabelecido.

As humanidades ainda se impõem, apesar do sutil e sofisticado patrulhamento ideológico. A ideologização funciona porque a sociedade, as famílias e as escolas estamos deixando de estimular e incentivar pensantes mentes brilhantes.

Por que resistem, os sujeitos têm sua existência sempre questionada. E são severamente temidos e combatidos.  Apesar de tudo, entretanto, muitos sujeitos agem nas sutilezas e brechas do sistema.

Até quando existirão sujeitos? Até quando os mais sensatos, sábios e destemidos lutarem por eles. Até quando eles próprios não cansarem de resistir e lutar pela sua existência.

Sabem em quem estou pensando agora? Estou pensando em mim, em ti, em muitos e muitas de nós que ainda alimentam sua centelhas de esperança numa humanidade livre, liberta e transformadora a partir da valorização dos diferentes protagonismos. Estou pensando que os sujeitos necessitam, por demais, de um encorajamento, de uma sacudida, de um terremoto ou de um tsunami que os acorde da dormência e do cansaço das recentes lutas.

O apelo “ninguém solte a mão de ninguém”, faz-se necessário entre os que acreditam no empoderamento dos sujeitos como mola propulsora das transformações sociais necessárias para o enfrentamento dos desafios do nosso tempo histórico.

O sistema é cruel e a resistência tornou-se uma nova forma de viver. Quem viver, verá!

DICAS DE APROFUNDAMENTO:

Um amigo, ao fazer leitura desta reflexão, sugeriu indicações de autores que poderiam ampliar o entendimento sobre a importância de sermos sujeitos. Vejam o que ele escreveu: Roland Barthes se encaixa no teu texto. Edgar Morin, Canguilhem, Bauman de A arte da vida… Paulo Freire, de Pedagogia da Solidariedade… Ulrich Beck, também pode ser visitado.

Autor: Nei Alberto Pies

Edição: Alex Rosset

O valor da água para as nossas vidas

O Governador do estado quer privatizar, entregar para os interesses do mercado, a gestão e o fornecimento da água. A maioria dos deputados atenderam e foram coniventes com os compromissos do governador, com os interesses especulativos de acúmulo financeiro ilimitados do mercado. 

A água é considerada um bem natural e um direito humano básico, devendo ser acessível para todas as pessoas. Costumamos perceber a importância da água quando ela falta. Mas os gestores, os políticos e as lideranças sociais têm o dever de planejar e fazer a gestão para que todos tenham acesso a este bem tão precioso.

Em sintonia com esse conteúdo, sugiro o conteúdo do link:

O fornecimento, o tratamento e a distribuição da água para 417 dos 497 municípios gaúchos é feito por uma empresa pública que é a Corsan. Em 2021, o Governador conseguiu retirar da Constituição Estadual o artigo que exigia o plebiscito para privatizar e vender empresas públicas.

A propósito, você lembra em qual candidato de deputado estadual você votou? Você sabe como ele votou no projeto que liberou o governador de ouvir a população antes de entregar nossas reservas de água para os interesses do mercado?

O Governador do estado quer privatizar, entregar para os interesses do mercado, a gestão e o fornecimento da água. A maioria dos deputados atenderam e foram coniventes com os compromissos do governador, com os interesses especulativos de acúmulo financeiro ilimitados do mercado.  Alguns prefeitos, como é o caso do prefeito de Santa Maria e de Passo Fundo, já assinaram um aditivo concordando com a privatização. O município de Passo Fundo tinha um dos melhores contratos do estado com a Corsan.

O prefeito de Passo Fundo assinou a alteração do atual contrato entre o Município e a Corsan, sem ouvir a Câmara de Vereadores, divulgando um significativo valor será investido no município durante os próximos, mas no contrato atual o município já recebe um valor aproximado de dez milhões anuais. 

Sabemos que a Corsan realizou uma obra que viabilizou uma grande reserva de água, assegurando o fornecimento em nosso município. Mas como serão os compromissos com o saneamento básico e com o valor das tarifas caso a Corsan seja entregue para o mercado?

Nós cidadãos informados, as lideranças sociais e, especialmente os vereadores, temos o dever de saber como será, a política de preços, os compromissos com o saneamento básico. O que se vê, pelos valores ofertados aos municípios pelo governador do estado, é que o compromisso é entregar o patrimônio público ao capital privado e não a universalização do saneamento. Foram ofertados valores equivalentes a 50% dos custos das obras de universalização do saneamento, para comprar a assinatura do aditivo de 74 municípios.

Juntos podemos construir uma sociedade justa, solidária e humana.  Eu acredito!

Quer saber mais sobre este e outros conteúdos, que apontam caminhos para a evolução humana, acesse nosso canal do youtube: https://www.youtube.com/channel/UCMQoomGetU04CXmolQjkjvA/videos

Autor: Israel Kujawa

Edição: Alex Rosset

Inglês como sua segunda língua

Quando eu cheguei nos EUA, eu aprendi inglês por imersão com uma metodologia chamada aqui como ESL- “English as a Second Language”. Quero ajudar você a ter maior domínio do inglês.

Nos últimos dois anos nossas vidas foram significantemente alteradas. Nossa maneira de fazer as coisas, de escolher prioridades, de vermos a nós mesmos.

Muitos de vocês a conhecem a minha história publicada nesse site anteriormente. Cresci em uma família humilde no interior do Brasil, minha mãe era professora e meu pai pedreiro, estudei em escolas públicas e em 2007 recebi uma oportunidade de fazer um projeto nos EUA.

Uma oportunidade inimaginável, pois não tinha fluência em inglês, nem dinheiro reservado. Aceitei e me tornei professora- doutora e pesquisadora em várias universidades dos estados de Washington e de Nova York. Em 2011 fui co-fundadora de um centro de imersão cultural e linguística no estado de Washington, chamado “Thaines and Bodah Center for Education and Development”.

A pandemia nos tirou o chão, tenho três filhas pequenas que foram para o ensino online e depois para o ensino de casa “homeschooling”, também publicado anteriormente nesse site. Meu marido era o responsável pela casa e crianças para que eu pudesse continuar meu trabalho no mundo coorporativo, aqui pois, afinal, “time is money”.  

Leia matéria: https://www.neipies.com/relato-de-uma-familia-na-pandemia-crise-e-homeschooling/

A gente estava conseguindo navegar nesse novo mundo de restrições, perdas de amigos para o covid-19 e incertezas até que durante o outubro rosa de 2020, descobri um câncer estágio III. Tive, então, que abandonar a vida profissional para controlar o estresse físico e mental. Fiz dois ciclos de quimioterapia, mastectomia dupla, quatro cirurgias incluindo uma abdominal e atualmente estou em recesso do tratamento que deveria durar cerca de 5 ou 10 anos.

Fiz uma viagem de retorno as origens, visitei amigos, colegas e familiares, me fortaleci e tentei reencontrar meu propósito na vida. O carinho recebido e amor de todos, apesar das dificuldades deles mesmos foi a minha cura.

Antes da pandemia, nosso Centro recebeu vários estudantes, estagiários e turmas para imersão do Brasil para o estado de Nova York, especialmente. Contudo, as fronteiras fecharam várias vezes e viagens ficaram mais complicadas para o treinamento em pessoa.

Resolvi me fazer a seguinte pergunta – qual o meu talento, algo que possa ajudar as pessoas a resolverem o problema delas nesse novo mundo online… A primeira coisa que veio à minha cabeça foi que quando eu cheguei nos EUA, eu aprendi inglês por imersão com uma metodologia chamada aqui como ESL- “English as a Second Language”.

Como nos últimos dois anos quase o mundo todo, de uma forma ou de outra, teve que experimentar aulas online ou trabalho virtual, senti o desejo de adaptar a metodologia ESL para um clube de conversação com encontros semanais visando proporcionar a fluência da língua de uma maneira muito mais rápida e interativa.

Acesse canal do Yotube: https://www.youtube.com/channel/UCUKQUOREGdFS1sUDg0WENKQ

O investimento é muito menor que um curso tradicional de inglês, as turmas são pequenas com certificação internacional e o aluno recebe ainda tutoria individual. Temos turmas kids- crianças, reimagine – adulto iniciante e success – avançado. Você quer aprender inglês e mudar de vida? Manda um e-mail pra gente bodaheliane@gmail.com

SAIBA MAIS SOBRE ELIANE BODAH:

Dra. Eliane Bodah nasceu no interior do Brasil e estudou em escolas públicas. Trabalhou como professora, bióloga e escritora até que queria conhecer o mundo e imediatamente as portas se abriram para uma oportunidade única em 2007 onde veio realizar um projeto em Minnesota, EUA. Aprendeu conversação em inglês por imersão num método ESL. Eliane é Mestre em educação, fez doutorado e pós-doutorado no Estado de Washington, EUA. Em 2011 fundou o centro Thaines and Bodah for Education and Development para ajudar em trocas de experiências educacionais, culturais e linguística nas Américas. Com a pandemia, a incerteza das fronteiras abertas e o novo mundo online, Eliane decidiu oferecer o ESL direto por vídeo e ajudar muitos a apreenderem inglês e mudarem de vida através dos clubes de conversação: Kids, Reimagine- adulto iniciante e Success- avançado. Let’s speak English?

 Autora: Eliane Thaines Bodah

Edição: Alex Rosset

Educação contemporânea: compasso de mudanças e manutenção de desigualdades

Há mais de dez anos atrás, conhecemos o professor Eduardo Albuquerque, na rede municipal de Passo Fundo, onde fomos colegas de escola. Naquele período, Eduardo já tinha um diferencial em suas aulas de língua inglesa, pois portava um projetor e um notebook. Este seu estilo de ministrar aulas era verdadeiro encantamento para os estudantes daquele lugar de periferia em nossa cidade. Ao mesmo tempo em que projetava suas aulas, passava pequenos vídeos, enriquecendo os seus conteúdos.

Mais tarde, conhecemos e reconhecemos sua atuação como dirigente do CMP Sindicato em Passo Fundo, RS. Ao mesmo tempo, fomos acompanhando seus passos de aperfeiçoamento pessoal e professional, através da realização de seu mestrado na área da educação e agora o seu Doutorado.

Acompanhamos também sua longa trajetória como professor de Língua Inglesa em diferentes escolas particulares de nossa cidade e região.

Eduardo Albuquerque também é escritor. Editou o livro É para copiar, lançado pela Editora IFIBE, em 2016.

Em razão de seus estudos, de sua experiência na educação, de seu compromisso incansável pela qualidade na educação, decidimos conversar sobre as problemáticas do exercício docente a partir de sua trajetória e, num contexto mais amplo, a partir da pandemia.

Conheçamos um pouco mais de Albuquerque por ele mesmo.

***

SITE NEIPIES: Como, quando e porquê a educação entra na sua vida?

Professor Eduardo Albuquerque: Desde sempre. Ainda no ensino médio, sabia que seria professor, mas não sabia do que exatamente. A língua inglesa surgiu pela facilidade que tive com o idioma e por entender a importância de se aprender um ou mais idiomas não só como elemento de cultura, mas também como aprimoramento mental e cognitivo.

SITE NEIPIES: Em 2016, lançaste o livro É para copiar? Qual foi o objetivo desta obra e como foi esta tua experiência de escrita?

Professor Eduardo Albuquerque: O livro tinha o propósito de incialmente ser uma experiência de escrita. Me desafiar na difícil arte de escrever. Gosto muito de contos e crônicas, por isso decidi contar um pouco do que era a escola que eu via nos anos 70, 80, 90 e atualmente, usando pequenos contos e algumas crônicas. Nunca foi meu objetivo fazer reflexões profundas acerca da educação, apenas contar um pouco sobre a escola que eu e muitos outros da minha geração conheceram, tentando usar um texto mais leve e por vezes tentando ser engraçado.

SITE NEIPIES: O uso de tecnologias de informática nas suas aulas já é realidade há bom tempo. Qual é a importância das tecnologias na educação?

Professor Eduardo Albuquerque: Primeiro é preciso conceituar ou lembrar um pouco o que é tecnologia. Sempre que se usa esta palavra, pensamos em uma complexa rede de maquinas e equipamentos com instruções e comandos ainda mais complexos. Na verdade não é isso. Tecnologia é um produto da ciência, do estudo, da observação sendo colocados em prática.

Se voltarmos ao passado, tivemos tecnologias que revolucionaram o mundo todo e cito duas delas: o fogo e a roda. Na educação, tivemos algo que foi igualmente revolucionário e que se chama giz e apagador. Portanto, lidamos com tecnologia todos os dias, todas as horas. Não estaríamos aqui conversando se não fossem elas, você não tocaria o seu violão, não comeríamos o que comemos, não seriamos o que somos. É errado pensar em tecnologia como se fosse algo alheio à educação, pois tecnologia é que nos move e nos trouxe até este estágio evolutivo e vai nos levar a lugares que não sabemos, inclusive na educação.

SITE NEIPIES: Por alguns anos, tiveste ativa participação nas lutas sindicais do magistério público municipal. Qual foi tua maior aprendizagem deste período?

Professor Eduardo Albuquerque: Aprendi muitas coisas. Aprendi que nos falta consciência de classe. Saber reconhecer quem somos e de onde viemos e que papel nos foi imposto pelo “stablishment”, e saber enfrentar estas forças que nos dominam.

Aprendi que sindicato é feito tão somente pelos seus filiados, pela categoria em geral. As decisões tem que partir do coletivo que é a instância máxima de um sindicato. Diretores estão de passagem e a instituição é maior que qualquer um diretor. Se este processo não for obedecido, criamos os sindicatos pelegos, com diretores pelegos e interessados apenas em ascender financeiramente, politicamente, socialmente ou apenas se acomodar mesmo e ficar por ali meio que para sempre se possível. É só olhar no nosso universo próximo e vemos isso acontecer.

Outra coisa que aprendi é que quando o sindicato vira patrão ele perde sua força e aos poucos vai se terminando. No Brasil, os sindicatos se tornaram patrões com a ascensão do PT ao poder e sindicalistas atuantes e combativos, passaram a apoiar as decisões de governo. Isso não é uma crítica ao PT. Aconteceu com Getulismo, na ditadura, com o neoliberalismo e com o governo do Partido dos Trabalhadores e acontece em nível de municípios também hoje em dia.  

SITE NEIPIES: Conheces a realidade educacional da rede privada e das redes públicas. Na sua visão, o que difere, em termos educacionais, estas duas realidades?

Professor Eduardo Albuquerque: As diferenças são evidentes. A primeira delas é a estrutura. Escolas particulares são muito bem equipadas e estruturadas. Os pais não matriculam seus filhos em escolas com estrutura inadequada, com boas salas de aulas, internet, equipamentos, bons banheiros, espaço de lazer, de esportes, de artes e outros. A segunda é a questão do material humano. Não se trata de dizer que os as escolas particulares têm melhores professores que as escolas públicas, porque na sua maioria são os mesmos que atuam nas duas redes.

A questão é que na escola pública falta material humano. Veja, uma escola particular tem um ou mais psicólogos, psicopedagogas, orientadores, coordenadores, diretoras, professores, assistentes, funcionários treinados e qualificados para atender os alunos. Na escola pública, nem sempre é assim.

Outra diferença é o tempo de estudo. Alunos de escolas particulares estudam em media seis horas por dia ou mais enquanto alunos da escola pública estudam 3 a 4 horas no máximo.

Outra questão importante é o currículo. As escolas particulares tem um currículo e uma proposta pedagógica que é seguida. E veja que não estou defendendo a escola A ou a escola B ou esta ou aquela proposta. Estou defendendo que se tenha uma proposta e que seja seguida enquanto rede, o que não acontece na maioria das escolas públicas que conheço.

Não falei em salário, pois tanto a escola pública como a escola privada pagam muito mal e salário não pode ser o balizador para se ter uma boa aula. Pagar bons salários é obrigação do patrão, seja ele público ou privado, não para que ministremos melhores aulas, mas porque bons salários pagam nossas contas, podemos tirar férias, comprar um carro, construir uma casa, colocar filhos na universidade, apenas isso.

SITE NEIPIES: O que é ser professor de Língua Inglesa? O que os conhecimentos desta língua acrescentam na vida dos estudantes?

Professor Eduardo Albuquerque: A ciência já provou que dominar outro idioma abre uma série de possibilidades em termos de conexões mentais. Aprender uma outra língua mexe com partes específicas do cérebro, tornando-o mais ativo. Fora isso, existe a comunicação em si. Sem entrar no mérito do colonialismo e todo este discurso que de fato é real, hoje, dominar uma outra língua e em especial o inglês abre portas na área profissional e pessoal pois rompemos barreiras da comunicação e da cultura. Uma pena que no Brasil estejamos tão atrasados neste processo de aprendizagem de uma outra língua.

SITE NEIPIES: Por que decidiste fazer Mestrado e depois Doutorado? Qual é a importância desta qualificação para as suas práticas docentes?

Professor Eduardo Albuquerque: Mestrado e doutorado para mim é uma obrigação. Não busco títulos e nem reconhecimento social. Apenas desejo preencher lacunas na minha formação enquanto professor e tentar fazer com que isso reverbere na qualidade das minhas aulas.

SITE NEIPIES: Como pesquisador e doutorando em educação, como avalias os impactos da pandemia na vida de professores e de estudantes?

Professor Eduardo Albuquerque: Acho que já foi muito falado sobre isso. A pandemia escancarou uma realidade que já sabíamos que existia, mas não queríamos ver ou reconhecer de que existe sim a escola do rico e a escola do pobre. A escola do rico em questão de dias ou semanas conseguiu se adaptar e os prejuízos foram bem menores. A escola do pobre ainda não se encontrou neste processo e os prejuízos são gigantescos para os alunos, para os professores e para a educação pública, lembrando que escola pública= escola do pobre, escola particular= escola do rico e do que tenta ser rico.

SITE NEIPIES: As recentes mudanças, através da BNCC e da Reforma do Ensino Médio, por exemplo, são suficientes para elevar a qualidade social da educação no Brasil? O que falta, na sua visão, para o Brasil fazer uma verdadeira revolução na educação?

Professor Eduardo Albuquerque: A reforma do ensino médio e a nova BNCC são a prova do que acabei de falar quando me refiro e a escola do rico e do pobre (também conhecida como a escola dualista).

Vou te fazer uma pergunta que é retórica, mas que vai exemplificar perfeitamente o que digo: você acha que o pai rico ou da classe média, seja ele empresário, latifundiário, professor, medico, juiz, promotor vai topar matricular seu filho em uma escola que oferece itinerários e que seu filho ou filha frequente apenas aulas de linguagens deixando as ciências exatas de lado, ou ainda que seu filho ou filha faça um curso técnico? Todos sabemos que a resposta é não.

Esta nova proposta serve apenas para manter as diferenças da escola dualista, onde o filho do trabalhador pobre vai ser matriculado em itinerários ou em algum curso técnico pois é o seu treinamento para ali na frente ser aquele que vai receber ordens do filho do trabalhador rico que não frequentou os tais “itinerários”.

Quero lembrar que isso não é novo no Brasil. Eu mesmo fiz um curso técnico aqui mesmo em Passo Fundo chamado redator auxiliar na Escola Cecy Leite Costa, ainda nos anos 70. Planos como este servem para escamotear a falta de investimentos na educação, que é marca do atual governo.

SITE NEIPIES: Na sua opinião, como será o retorno às aulas em 2022, apesar da insistente permanência do Covid entre a gente? Quais são os desafios da educação no pós-pandemia?

Professor Eduardo Albuquerque: Não vai mudar muita coisa. Dá para perceber que a grande maioria aprendeu nada com esta pandemia, com exceção das crianças que parecem ter assimilado lições importantes de saúde e socialização.

A escola pública vai continuar sendo de baixa qualidade, com um ou outro projeto isolado de qualidade, uma vez que nem estados, nem municípios e muito menos governo federal querem investir de verdade na educação.

Os desafios serão basicamente os mesmos, acrescentados do fato que deveríamos tentar recuperar estes dois anos de lapso na educação pública, o que, ao que parece, não vai acontecer. Repito o que já disse, educação precisa de muito investimento, senão ficamos por aí com estes projetos estapafúrdios como escola Cívico Militar, mães crecheiras, homeschooling e outras aberrações.

SITE NEIPIES: Uma inspiração, um pequeno poema, um pensamento que diga algo relevante sobre você e/ou sobre a educação.

Professor Eduardo Albuquerque: Minhas inspirações são a minha família, meu filho, meu neto, meus pais que são pessoas simples e honestas, com pouca instrução formal, mas de uma capacidade intelectual gigantesca e com quem tenho o prazer de debater todos dias temas como educação, política, economia, e com quem aprendo todos os dias…mas, em respeito ao pedido, vou citar uma frase que tem na casa de uma tia querida que mora em Porto Alegre e que diz assim e que eu acho que é do Pablo Neruda, mas não tenho certeza: “ … Algum dia, em qualquer parte, em qualquer lugar indefectivelmente te encontrarás a ti mesmo, e essa, só essa, pode ser a mais feliz ou a mais amarga de tuas horas”.

Fotos: Arquivo pessoal/Divulgação

Edição: Alex Rosset

A boniteza da reinvenção docente

Tomamos conhecimento, através de rede social, de uma iniciativa interessante de uma professora de educação básica e de ensino superior cujo tema envolve algo pelo qual sempre tivemos grande apreço, estima e consideração: a sistematização de práticas pedagógicas.

A professora Daniela Pedra Mattos teve a iniciativa de coletar, sistematizar, problematizar, relacionar e publicar depoimentos e falas de educadores e educadoras durante o período da pandemia. Sua obra chama-se “A boniteza da reinvenção: práticas docentes em meio à pandemia.

Vamos conversar com ela para que ela mesma detalhe os aspectos que julgar relevantes desta sua iniciativa.

Registramos, ainda, que a sua iniciativa fortalece convicção de que mudanças na educação, sobretudo mudanças de práticas docentes, ocorrem quando educadores e educadoras fazem o exercício de reflexão de suas práticas cotidianas. Sistematizar práticas docentes é uma forma eficiente e eficaz de apropriar-se de novas posturas e novas compreensões do nosso fazer pedagógico.

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SITE NEIPIES: Quando, como e porquê acreditas no potencial da escrita, sobretudo na escrita dos educadores e educadoras?

Professora Daniela Pedra Mattos: Acredito que o nosso papel de “Professor” é potencial e visceral. Edificamos vidas e isso é divino. E o registro do que fizemos e fizemos muito bem, que é educação com maestria, é fundamental para compartilharmos nossas práticas com outros e outras, porque além do registro, servimos de inspiração não somente para nossos alunos, como também para nossos colegas professores. A sala de aula muda o mundo.

SITE NEIPIES: Na sua compreensão, qual é a importância de sistematizar práticas docentes?

Professora Daniela Pedra Mattos: Acredito que a sala de aula muda o mundo e, por isso, a sistematização do que fizemos é imprescindível. São as práticas docentes no dia a dia da sala de aula, enfeitadas de amorosidade e desassossego docente, que edificam vidas, que possibilitam a ampliação e potencialização do conhecimento. Esse é o nosso legado para as futuras gerações.  

SITE NEIPIES: Como surgiu a iniciativa de sistematizar, em forma de livro impresso, os grandes desafios da reinvenção à qual estavam e estão submetidos os professores e professoras das diferentes redes de ensino?

Professora Daniela Pedra Mattos: Como formadora de formadores, acompanhei e acompanho o trabalho docente de professores de escolas públicas e privadas. Nesse período de pandemia ouvi e assisti críticas duras à escola, de diversas pessoas, inclusive de alguns meios de comunicação, como “Quando os professores vão voltar a trabalhar?” e “Os alunos vão ficar com déficit de aprendizagem irreversível…”. Isso me incomodou demais.

A escola nunca parou, os profissionais docentes continuaram trabalhando incansavelmente para conseguir levar a educação até a casa dos seus alunos. A pandemia chegou de susto em uma escola que já sofria com inúmeras fragilidades: as condições salariais dos docentes, principalmente de redes públicas, a desvalorização do governo, a falta de recursos e incentivo para formação de professores, a infraestrutura das escolas que é deixada de lado. E mesmo assim, com as dificuldades já existentes e as que chegaram com a pandemia, os professores não esmoreceram, pelo contrário, encontraram forças e inspiração para fazer a diferença na vida dos alunos apesar dos obstáculos.

E foi vendo todo esse empenho, de professores que semeavam conhecimento mesmo em um tempo de muita dificuldade, que nasceu a ideia de formar esse relicário. Que mostra e afirma o quanto a sala de aula e o professor faz a diferença, em tempos bons e, principalmente, em momentos ruins.

SITE NEIPIES: Quais foram os pontos positivos e os maiores desafios de organizar esta publicação?

Escrever essa obra e ter a generosidade de colegas professores de diversas regiões brasileiras foi de uma “boniteza” desmedida. Muito aprendizado e valorização pelo “Ser Docente”. Foi um caminho lindo. Desafios? Não lembro.SITE NEIPIES: Sua obra é apresentada como relicário. Fale-nos sobre esta ideia.

Professora Daniela Pedra Mattos: A ideia de colocar as práticas docentes em um relicário nasce da força dessa GENTE, da nossa GENTE em fazer a diferença na sala de aula desde sempre, para além da pandemia. Professores brasileiros, encharcados de amorosidade, escancararam suas aulas, não somente através das telas, mas através da reinvenção- enviando aulas em sacolinhas, explicando por telefone, cartinhas- porque nem todos os lugares havia acesso à internet- então para guardar o registro de tanta “boniteza” o jeito foi colocar esses relatos em um belo relicário, denominado “ A Boniteza da Reinvenção”.

SITE NEIPIES: Quais são suas expectativas e quais já foram as primeiras repercussões desta obra lançada no final de 2021?

Professora Daniela Pedra Mattos: A expectativa é que essa obra chegue nas mãos dos professores de todas as regiões brasileiras e quem sabe, fora do país também.

A repercussão tem sido fantástica. E isso é de uma alegria imensa, porque é a voz docente que edifica vidas que esse relicário anuncia. Professores e professoras encharcados de esperança e que fazem a educação brasileira acontecer desde sempre.

SITE NEIPIES: Como sua obra pode ser adquirida para leitura, críticas e repercussões no meio escolar?

Professora Daniela Pedra Mattos: Estamos nas redes sociais e temos um WhatsApp comercial que recebe os pedidos dos exemplares e considerações.

Instagram: dani_pmattos

Facebook: Daniela Pedra Mattos

WhatsApp: (54) 99799716

SITE NEIPIES: Na sua percepção, por que tão poucos professores e professoras escrevem? Qual é a importância para a educação dos escritos feitos por aqueles que realmente fazem a educação?

Professora Daniela Pedra Mattos: Acredito que um dos fatores é a falta de tempo. Os professores precisam trabalhar muito. Na maioria das vezes, trabalham 40 horas, em mais de uma escola. Muitas vezes, dependendo do componente curricular que ministram, o trabalho que levam para casa dobra sua jornada.

Considerando o tempo de planejamento, reuniões pedagógicas e que têm família, há de se convir que não há esse tempo para escrever. Num contexto ideal, todo professor devia ter tempo e condições de registrar o seu legado. Afinal, a escola e a educação são feitas de pessoas fortes, guerreiras e encharcadas de sentimentos. O que acontece em sala de aula é o que dita a evolução das concepções educacionais, sendo assim, só quem vive lá sabe realmente as belezas e delicadezas da educação. É o registro do nosso legado, como já coloquei.

SITE NEIPIES: Na sua opinião, como será o retorno às aulas em 2022, apesar da insistente permanência do Covid entre a gente? Quais são os desafios da educação no pós-pandemia?

Professora Daniela Pedra Mattos: O COVID está perdendo força, graças à ciência. Mas não podemos deixar de nos proteger. Acredito que seguiremos com os cuidados por um bom tempo. O retorno das aulas, pelo que podemos observar vai ser menos desafiador em 2021. As escolas brasileiras, na sua maioria, já estão organizadas para tal, afinal, dois anos de pandemia…

Os desafios sempre fizeram parte da docência. Durante a pandemia, o maior desafio foi ministrar aulas sem os nossos alunos presencialmente, foi saber que no outro dia não estaríamos olhando em seus olhos… O desafio foi saber que os alunos do campo, ribeirinhos, das aldeias indígenas, das periferias, não estavam na escola e tampouco tinham acesso à tecnologia, à merenda escolar… O desafio foi perder pais, mães, familiares e muitos colegas professores para o vírus… Foi assistir os telejornais e saber que a violência doméstica e a violência contra crianças tomou patamares alarmantes… Foi ver pais e mães desempregados…

Trazer todos de volta para a escola ajudará muito na retomada da grandiosa ajuda que os professores fazem na vida e trajetória de seus alunos. Os professores saberão o que fazer e como fazer, como sempre fizeram. Os alunos estarão no lugar certo, com seus professores, especialistas, coordenadores, supervisores escolares e gestores, gente que faz à diferença na educação brasileira, apesar de tudo. A escola fará seu papel, que vai além de ensinar, formando pessoas capazes de fazerem suas próprias escolhas.

SITE NEIPIES: Uma inspiração, um pequeno poema, um pensamento que diga algo relevante sobre você e/ou sobre a educação.

Professora Daniela Pedra Mattos: Agradeço a oportunidade dessa troca de afeto e reflexões e deixo aqui, para encerrar minha contribuição nessa entrevista, um poema que faz parte da obra que estamos aqui comentando. O poema intitulado “Depois da Pandemia”, de minha autoria, fala um pouco sobre o que senti e vivi no isolamento e sobre esperança no futuro.

Depois da Pandemia

Depois da pandemia quero estar encharcada de vida viva, vivida, quero contar histórias dos dias que mais andei de pantufas em toda minha vida.

Dos vídeos que não deram certo, das gravações que não consegui fazer…

Das gargalhadas que dei de mim mesma, afinal…usar gola de pele e chinelos havaianas com meias…

É…

Depois da pandemia…

Quero contar que me reinventei no trabalho, que dei as mais belas aulas e que descobri que eu sabia muito mais do que imaginava.

Quero contar que senti falta dos amigos, da família…

Que teve dias que chorei de saudade e de medo também.

É… depois da pandemia…

Quero me enfeitar de afeto para recuperar a falta dos abraços, dos risos, dos amores…e nesse dia…

Quero a alegria singela, descalça, sem vaidades para apreciar a singeleza dos amigos, da família, dos colegas dos trabalho.

Quero esse porvir que não sei quando chegará… mas quando chegar… haa… quando esse dia chegar…quero estar de alma leve, talvez marcada por dores, por desafios, mas vou estar mais forte como nunca estive, porque tudo, mas tudo mesmo, tem um propósito… e o meu propósito, haja o que houver é viver.

Viver para saborear os amanheceres orvalhados e desafiadores, porque… tudo, mas tudo mesmo é exatamente do tamanho que eu posso suportar.

É… depois da pandemia.

Mas hoje, hoje enfeito minha alma com o perfume das flores que se abrem no sorrir da primavera, que singelamente, anuncia sua chegada.

O inverno, não tarda ir embora… e hoje posso dizer que foram nos dias cinzas e frios que saboreei a esperança.

Hoje em meio a pandemia visto-me da singeleza de todos os sabores da vida, afago-me na fé que me fortalece, na fé que me move, que me anima, dizendo-me: – Vai filha! Caminhe! Estou contigo!

É nessa fortaleza que me ancoro e bailo numa esperança alegre, que se veste de sonhos, de risos, de gente, de luta…de uma fortaleza que não se cansa, que não desiste, que persiste, que insiste em dizer: Vai passar.

É… depois da primavera…depois da pandemia.

Autora: Daniela Pedra Mattos

Fotos: Divulgação/arquivo pessoal

Edição: Alex Rosset

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