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Não temos uma geração mimimi, mas uma geração incompreendida

Não cobremos demais das nossas crianças e jovens. Tudo tem um limite. Essa geração que nos acostumamos a chamar de mimimi é a que está se suicidando todos os dias, a que está matando pais e responsáveis porque não suporta mais as cobranças de um mundo que elas não pediram para viver nele. Um mundo que não perdoa erros e defeitos.

“Quando somos jovens, temos manhãs triunfantes.”, frase do escritor francês da obra prima “Os Miseráveis”. Sim, quando jovens temos manhãs triunfantes porque estamos cheios de sonhos e vontades de conquistar o mundo, achamos que podemos tudo, achamos que vamos salvar o meio ambiente do perigoso homem malvado que derruba árvores e destrói tudo. Fazemos manifestações em praças e nas ruas por melhorias nas nossas escolas públicas, pelo transporte escolar e pela merenda. Temos forças para lutar pelos nossos sonhos até que alguém chegue e nos roube os sonhos e o amanhã, o que está cada dia mais rotineiro.

Costumamos dizer que os nossos jovens vêm de uma geração mimimi, que, devido a falta de pulso firme dos pais e responsáveis eles acham que podem tudo. Quem pensa assim está completamente enganado e errado. Não estamos criando uma geração mimimi porque não castigamos as nossas crianças e jovens ou porque não as batemos mais com cinturões ou chinelos, como faziam os nossos pais antigamente.

A geração que nasceu no século XXI está completamente perdida. Ela não sabe para onde ir ou o que é melhor para si. São tantas as oportunidades, tantas as escolhas a serem feitas, tantas as responsabilidades logo cedo, muitas vezes ainda crianças, que elas acabam prejudicadas e tendo os seus desenvolvimentos cognitivos e emocionais sobrecarregados e como válvula de escape acabam fazendo coisas que os adultos não gostam.

A tecnologia batendo a toda hora na porta das nossas crianças e jovens com aparelhos eletrônicos modernos capazes de se conectarem com o mundo em milésimos de segundos, as redes sociais, os jogos eletrônicos e os amigos virtuais que eles conquistam no meio de todos esses algoritmos e inteligência artificial especialmente preparada para lidar com os cérebros ainda em formação, são um perigo para formarmos crianças e jovens que por tudo fazem uma confusão no supermercado ou no shopping envergonhando pais e responsáveis.

Não é porque eles querem fazer a birra ou por falta de palmadas, é porque eles não sabem como se comportar. As suas cabecinhas estão sobrecarregadas de informações desnecessárias. É a escola que tem disciplinas demais e exige da criança e do jovem que seja o melhor em todas elas, é o futebol ou a natação que exige que ele vença sempre, é o curso de idiomas ou de música que exige o melhor do aluno.

São muitas as cobranças. São diversas as exigências. Não há quem não se estresse com tantas coisas ao mesmo tempo.

Para se protegerem de tantas cobranças que nós, adultos, sem nos darmos conta preparamos para os nossos filhos matriculando eles em tudo quanto é curso que vemos ou nos informam a Internet, cobrando que eles tirem nota 1000 no ENEM e que sejam aprovados nos cursos de medicina ou direito das melhores universidades do país, esses reagem ao contrário do que esperávamos só para nos contrariar, só para nos afirmarem que as coisas não funcionam como queremos, que eles têm autonomia mesmo sendo tão jovens para decidirem sobre as suas vidas.

Assim, eles passam a ter comportamentos rebeldes. Coisas que muito desagrada os pais. Muitos começam a beberem bebidas alcóolicas muito jovens, outros começam a usar drogas cedo demais e ainda têm aqueles que abandonam os estudos e vão viver pelas ruas sem quererem saber de responsabilidades. Sem contar com o que dorme demais e perde a hora de ir à escola.

O maior de todos esses problemas são as diversas síndromes que estão acometendo as nossas crianças e jovens devido não saberem lidar com este mundo de cobranças que seus próprios pais os colocaram: ansiedade, crises de pânico, depressão, estresse ao limite. São tantas as síndromes que listo apenas as mais comuns. Isso é um pedido de ajuda, de socorro. Uma forma que as crianças e jovens encontram para dizerem que não aguentam mais essa vida doida e doída ao mesmo tempo.

Se para nós, adultos, as diversas cobranças do dia a dia no trabalho nos atormentam, imagine para crianças e jovens que só querem saber de brincar e se divertirem com os amigos. Como eles vão ter tempo para fazerem o que gostam se nós roubamos tudo o que lhes pertencem, fazendo deles nossas máquinas controladas por uma espécie de controle remoto que são as nossas ordens de faça isso e faça aquilo rápido.

A pressa que toma conta de nós, adultos, estamos levando para o mundo dos jovens. Queremos que eles pensem rapidamente e tomem decisões de imediato. Não lhes damos tempo para fazer escolhas.

Eles recebem as nossas ordens com medo de enfrentarem o futuro e desde cedo precisam ser responsáveis em muitas coisas que lhes desagradam, como: ter que escolher uma profissão, ter que se preparar para morar sozinho quando chegar a maior idade, ter que se tornar independente o mais rápido possível para não ser chamado de filho canguru ou coisa parecida. Para quem não sabe, filho canguru é aquele que chega aos vinte ou trinta anos e continua na casa dos pais.

Será que o mimimi não está sendo nosso? Será que não somos nós que estamos criando para os nossos filhos tantos mimimis que nem percebemos o mal que estamos lhes fazendo com as diversas cobranças e exigências para um mundo que cada vez mais recebe crianças e jovens vulneráveis nas suas emoções e se aproveitam deles para os viciarem em drogas ou coisa parecida?

Não é porque não batemos ou castigamos os nossos filhos como faziam antigamente conosco ou porque não lhes dizemos não a todo instante que eles estão se tornando rebeldes e se revoltando contra nós, adultos, pais, responsáveis, avós e professores.

A geração do mimimi que tanto costumamos chamá-la está dentro de um mundo que não aceita mais crianças e jovens que não sejam competitivos. O mundo tornou-se uma competição para os nossos filhos.

Os mais vulneráveis emocionalmente, aqueles que não têm com quem conversar sobre as suas aflições, medos, angústias e traumas, os que são acometidos por crises de ansiedade e estresse ao extremo tendem a cometerem atos de violência muitas vezes horríveis. Não foi falta de castigo ou palmada, não foi falta de pulso firme dos pais, não foi falta do que fazer, e sim, a bolha onde aquela criança ou jovem se protegia inchou tanto que chegou a explodir porque sozinha ela não deu conta de cumprir com os seus diversos deveres e obrigações desagradáveis ao seu bom viver.

Precisamos urgentemente buscar soluções para criarmos crianças e jovens que possam viver sem a pressa de crescerem, sem os deveres e responsabilidades que devem ser nossos, que possam ter respeitadas cada fase das suas vidas como assim nos ensina a psicologia infantil.

Não cobremos demais das nossas crianças e jovens. Tudo tem um limite. Essa geração que nos acostumamos a chamar de mimimi é a que está se suicidando todos os dias, a que está matando pais e responsáveis porque não suporta mais as cobranças de um mundo que elas não pediram para viver nele. Um mundo que não perdoa erros e defeitos.

As crianças e jovens muitas vezes já nascem com problemas genéticos de depressão, outras adquirem ansiedades ao longo dos anos e ainda têm aquelas que são as mais perigosas para a sociedade que são as que cometem crimes coletivos, as que logo cedo estão a roubarem bancos e a virarem traficantes.

É certo que muitas são vítimas das desigualdades sociais pelas quais o nosso país vive há dezenas de anos, outras caem no mundo das drogas porque não tiveram escolhas e acharam um caminho fácil para saírem da casa dos pais e abandonarem as suas obrigações. Isso não é mimimi, e sim falta de amor e compreensão das nossas partes.

Precisamos salvar os nossos filhos urgentemente dos mundos dos crimes, das guerras dos tráficos e das violências antes que um traficante ou assassino os resgatem primeiro do que nós. As nossas crianças e jovens precisam serem compreendidas.

Não é no primeiro deslize, no primeiro flagra com o cigarro de maconha ou com a bebida alcóolica que vamos castigá-los ou ameaçá-los das mais diversas formas cruéis que só nós adultos somos capazes de inventar nas nossas cabeças, parece que muitas vezes viramos monstros quando nos aborrecemos com as nossas crianças e jovens querendo engoli-las vivas de tanta raiva e decepção que vivemos com elas. Calma, não imitemos Cronos!

Porém, não é assim que se educa uma criança ou um jovem. É preciso cuidado. O mundo de hoje exige que os pais estejam o tempo todo próximos dos seus filhos, o que não acontece na verdade. Ao contrário, estamos cada vez mais distantes. Não temos sequer tempo para comparecer às reuniões da escola e enviamos o motorista ou a babá. Quando somos mais pobres mandamos um bilhete na agenda do aluno dizendo que estamos ocupados demais com os nossos trabalhos.

Não comparecemos mais as suas apresentações teatrais, esportivas e não estamos mais presentes nas suas conquistas. Não valorizamos mais as coisas belas que eles fazem com maquetes para a feira de ciências ou a escrita de um poema para a menininha por quem estão apaixonados.

Não ajudamos mais as nossas crianças e jovens a crescerem de forma espontânea e necessária para o bem viver com harmonia e autonomia para se tornarem pessoas competitivas em todas as esferas da sociedade.

Enquanto cobramos demais das nossas crianças e jovens, o mundo lá fora oferece oportunidades maravilhosas. E não é um mundo que esteja longe deles não. É o mundo da Internet que está ali pertinho, a todo instante fazendo promessas de uma vida sem responsabilidades e cobranças. Um mundo onde depois de entrar é quase impossível de sair. O mundo do crime. Seja ela qual for.

Na verdade, a geração dita de mimimi só quer ser respeitada e aceita conforme se sente bem e sentir-se bem é ter seus direitos válidos por todos nós. É o direito de poder dormir até tarde nos fins de semana, de ficar na Internet conversando com os amigos, de ter a confiança de ir para a balada e ficar até mais tarde um pouco, de poder sair sem ser necessário de acompanhamento dos pais. Eles querem autonomia e precisamos confiar neles para que possam fazer o mínimo que exigimos.

Claro que não vamos deixar os nossos filhos passarem a noite inteira numa balada ou saírem para com amigos que nunca os vimos. Não é por aí. Tudo tem limites. Mas, se conhecemos bem os nossos filhos e estamos sempre perto deles observando com quem fazem amizades e com quem se relacionam não há o que temermos.

A geração mimimi só quer de nós um pouco de liberdade, respirar fora dos muros dos condomínios altos onde os protegemos, sair de dentro dos nossos carros com vidros elétricos.

Antes de acharmos que estamos criando jovens cheios de vontades e desejos, de acusarmos o filho do vizinho de fazer o que quer, antes de dizermos que esta geração faz tudo o que bem quer porque não é castigada e tem muitos direitos, pensemos no amor e na compreensão que toda pessoa deseja ter. Também é assim com as crianças e os jovens. Todo mundo precisa de atenção e cuidados especiais, principalmente quando estamos numa idade em que tudo é difícil de escolher e novo para gente.

Afinal, o novo ao mesmo tempo que assusta e causa pânico, também nos inspira a conhecê-lo e investigá-lo. Este novo é perigoso para as nossas crianças e jovens que podem se sentirem convidadas a explorá-lo apenas por curiosidade e depois por vício e necessidade para continuar a viver sob a ameaça de bandidos fortemente perigosos.

É preciso cuidar dessa geração que tem tudo a sua disposição a hora que desejar. Que como dizemos não sabe aceitar um não. Não é assim. Sabemos que uma das primeiras palavras que as nossas crianças aprendem é o não. E se elas aprendem que o não é uma negação, é algo que não se pode fazer, basta continuarmos do nosso jeito, com cuidados dizendo não para os nossos jovens.

Tudo é uma questão de bom senso e criticidade. A reflexão nos convida a criarmos uma geração com mentes e corpos sadios prontos para a competitividade de um mudo que exige cada vez mais pessoas com inteligência emocional de alto nível.

Para concluir este texto que eu gostaria de não o concluir, mas de poder conversar com você, leitor, nas redes sociais ou através de email sobre a sua opinião dessa geração “perdida” e que precisa ser salva dos perigos da globalização e da massificação das culturas onde tudo está misturado e se tornando uma coisa só, impossível de se separar.

A Internet está colonizando o pensamento das nossas crianças e jovens, e como todos sabemos o colonizador é opressor e quer a terra toda para si. Cuidemos disso!

Deixo vocês como os versos do meu cantor predileto Roberto Carlos que diz “Hoje lembro com saudade o tempo que ficou / O tempo passa tão depressa só que em mim ficou / Jovens tardes de domingo, tantas alegrias / Velhos tempos, velhos dias.”

Que as nossas crianças e jovens possam ser como as tardes de domingo de Roberto Carlos, ou seja, com tantas alegrias e tantos sonhos para crescerem cheios de esperança no amanhã.

Autora: Rosângela Trajano

Edição: Alex Rosset

Juju e o cantinho do pensamento

Será que os pensamentos são peraltas, também? Será que eles só fazem o que querem? Era uma coisa que Juju nem eu sei dizer para você, querido leitor. Vamos descobrir juntos, procurando conversar com os nossos pensamentos? Que tal a ideia?

Juju era uma menina feliz. Cheia de energia e saudável corria, pulava, brincava, subia em cima dos móveis da sala, jogava os brinquedos para cima, espalhava as suas roupas no chão do quarto, gritava só por gritar, às vezes achavam que ela queria chamar a atenção.

Ninguém gostava das coisas que Juju aprontava dentro de casa. Era um Deus nos acuda quando ela não ia à escola. O papai não conseguia se concentrar para trabalhar com ela mexendo nos seus papéis e desarrumando tudo e a mamãe nunca via a casa arrumada sempre tropeçando em um ou outro brinquedo que Juju largava por onde passava.

Aquela menina dava muito trabalho, diziam as pessoas. Merece umas palmadas, mas a mamãe não batia nela e nem o papai. Eles não aceitavam educar crianças daquele jeito. Até que um dia ensinaram para os pais de Juju um tal cantinho do pensamento que não dói, não machuca e disciplina criança igual a ela.

E na primeira teimosia de Juju ela foi enviada para o tal cantinho do pensamento que ficava no meio da cozinha entre o armário e o bebedouro. Não tinha nenhum conforto. Era um canto qualquer apenas. Sentada de frente para a parede branca, Juju ficava ali por horas até que seus pais achassem que ela tinha aprendido a lição.

No cantinho do pensamento, a raiva de Juju aumentava e ela ficava pensando em fazer coisa pior quando saísse dali só para se vingar dos pais por colocá-la naquela situação. Ela sofria naquele cantinho sentada em cima de um tapete de pano. Passava todo o tempo maquinando uma coisa terrível para fazer com todos os seus inimigos que a colocaram ali.

Quando saía do cantinho do pensamento, cabisbaixa, a mamãe cheia de orgulho por ter-lhe dado uma boa lição sem machucá-la e nem lhe causar dor física a Juju ia em busca da sua primeira vingança. E aprontava tudo de novo. Mais uma vez voltava para o cantinho do pensamento. Foi assim durante vários dias até seus pais perceberem que aquele tal cantinho estava atrapalhando o desenvolvimento intelectual e emocional de Juju.

Ela estava mais teimosa a cada dia, mais arengueira, mais gritalhona e na escola não conseguiu aprender mais nada apenas brincando e mexendo com as outras crianças. Os pais concluíram que os minutos que Juju passava no cantinho do pensamento não lhe traziam amadurecimento ou experiências boas, mas de certa forma, machucavam o seu pequeno espírito.

Então, eles acabaram com o cantinho do pensamento e Juju pôde finalmente voltar a brincar, gritar, correr, pular e espalhar os brinquedos pela sala. Afinal, era apenas uma criança de quatro anos de idade. Muita nova para ser castigada daquele jeito.

Juju ficou com marcas que levaria para o resto da sua vida, pois quando alguém a convidava para pensar em algo ela logo começava a chorar dizendo que não queria lembrando do tempo em que existia o cantinho do pensamento.

Para tirar aquele trauma foi preciso levar Juju ao psicólogo e conversarem sobre o que ela estava sentindo. Juju tinha medo de pensar, disse a mamãe chorando e o papai preocupado. A psicóloga boazinha conversou com Juju que confirmou que tinha medo de pensar.

Depois de muitas sessões de terapia com a psicóloga e a nova forma como seus pais passaram a educá-la, Juju sentiu-se melhor e começou a ficar um tempo sozinha pensando nas suas coisas, na sua vidinha, nos seus brinquedos. Ela aprendeu que pensar era uma coisa legal e para pensar podia ser em qualquer local. Não precisava de um cantinho de pensamento feio para pensar.

Os pais lhe pediram desculpas e ela ficou toda feliz ao descobrir que pensar era uma coisa maravilhosa! Quando chegava alguém na sua casa ela puxava a pessoa pela perna convidando-a para pensar junto com ela.

Juju gostava de pensar debruçada sobre a janela do seu quarto de dormir com o seu gato ao lado e um vaso de plantinha do outro. Às vezes o pensamento não vinha, ficava com raiva e ia dormir.

Será que os pensamentos são peraltas, também? Será que eles só fazem o que querem? Era uma coisa que Juju nem eu sei dizer para você, querido leitor. Vamos descobrir juntos, procurando conversar com os nossos pensamentos? Que tal a ideia?

FIM

É preciso acabar com todas as formas de castigo que traumatizam as crianças. Pai, mãe, professor, não criem cantinho do pensamento em casa ou na escola. Criem ambientes onde a sua criança possa se sentir segura e confortável. Leia mais: https://www.neipies.com/o-cantinho-do-pensamento-causa-dores-e-traumatiza-a-crianca/

Autora: Rosângela Trajano

Edição: Alex Rosset

Eleições atípicas

Cumpre a todos aqueles que não desistiram dos ideais utópicos da igualdade resgatar a força da política, dando novas energias e nova vitalidade ao processo democrático e às lutas pela igualdade.

Viktor Orban ganhou as eleições na Hungria. Aqui, Jair M. Bolsonaro firma um campo político que pode viabilizá-lo como um candidato forte num segundo turno, logo depois da vitória de Gabriel Boric no Chile. O processo eleitoral é um momento decisivo na disputa pela hegemonia na sociedade liberal-democrática, pois a informação visual instantânea – predominante nestes processos – se apresenta como uma espécie de “história em marcha”, dentro da qual, em cada episódio da disputa hegemônica, o “visual” é uma forma simplificada de explicação.

A partir da informação visual – com telegráficas mensagens de ódio em sequência –, o acontecimento pode ser apresentado como “único”, com ou sem conexões com o passado. Através dele, a história pode aparecer como pura cotidianidade: História fixa onde o espectador passivo pode frui-la sem qualquer compromisso com o conhecimento do presente.

A produção da informação em redes, desta forma, facilita a criação de mentes sem memória, como se a vida fosse um “presente perpétuo” instável, mas sempre acompanhada pelo olhar.

Nesta perspectiva, o viver não é uma sequência da história, logo com origens e consequências, mas um fluxo de momentos sem hierarquia e sem valores: a memória é sufocada pelas infinitas superposições de outros novos fatos, igualmente desconectados entre si, igualmente “descartáveis” e igualmente vinculados ao presente do mercado, onde se sucedem “estabilidade” e anarquia. Assim, o presente é tendencialmente apropriado como se futuro fosse e é, em consequência, a verdade aceitável.

O enigma neste início de século de destruição da sociedade burguesa clássica é se a mera demarcação (não a ausência de demarcação, mas a mera demarcação) é capaz de produzir políticas capacitadas para enfrentar os efeitos da emergência fascista. No Chile, isso ocorreu, mas por fora do sistema partidário da democracia liberal.

No imaginário das pessoas comuns, em regra, a destruição deste presente é sempre uma destruição em que os fatos perturbadores da vida comum são sempre “vistos” como contrários à (falsa) segurança e estabilidade que já temos. No Chile, mobilizado pelas mulheres em luta, os jovens, os de “fora” do mercado suntuário, os famintos de todas as ordens superaram esta contradição e fizeram vencer a indeterminação criadora.

A esquerda nascida dos movimentos no Chile passou a levar em conta que as fronteiras entre as classes também já não eram mais demarcadas como antigamente, logo a forma de apreensão da realidade social pelos indivíduos não era mais a mesma.

A exclusão e a precariedade – de um lado – e, de outro lado, também as classes empresariais, já não estavam (e não estão) mais alicerçadas na ideologia burguesa “clássica”. O seu manto fáustico-produtivista foi dissolvido e nelas restam só resíduos ideológicos da implantação da nação construída nos mercados locais, já desagregados pelo poder global do “capital-dinheiro”.

A ausência de fronteiras nítidas e definidas entre as classes, do ponto de vista cultural e existencial, não significa, todavia, uma maior proximidade entre elas. Significa uma maior fragmentação na totalidade social, que não só desconstituiu os valores tradicionais que as unificavam e as contrapunham, mas também determinou que, em vez delas se aproximarem pela contradição negociada, passassem a afastar-se na sua recíproca diluição.

A incerteza também confere uma instabilidade extraordinária aos setores privilegiados dentro do sistema, associados aos destinos do capital-dinheiro: a ironia é que, se eles têm força suficiente para criar as crises que eles mesmos fruem, eles também têm cada vez menos controle sobre o seu destino nacional.

Neste contexto, a demarcação exclusiva fixa campos políticos irremovíveis, no qual o fascismo se reproduz, mas a concepção que pauta a luta pela hegemonia cria “zonas de compromisso”, que obstruem o extremismo assassino do fascismo.

Os projetos do período “clássico” de democratização republicana pela demarcação tradicional apoiava-se em identidades hoje desorganizadas que, na sua relação social cotidiana, estão cada vez mais informadas pela violência (fora da política) ou por micro negociações corporativas.

A disputa pela hegemonia na sociedade, como consequência, secundariza as ações demarcatórias e torna predominantes as ações que orientem os indivíduos e os grupos sociais – mais além das ideologias – com projetos políticos que combatam a incerteza. O agrupamento em torno de determinadas ideias-força, que tenham mais caráter constitutivo e menos conteúdos demarcatórios, passa a ser fundamental para a produção de um novo imaginário emancipatório.

Gramsci, à sua época, já criticava o “denuncismo” – forma tradicional de “demarcação” –, cuja “atividade crítica reduzia-se a desvendar truques, a suscitar escândalos, a vasculhar a vida privada de homens representativos”, inclusive esquecendo uma outra proposição da filosofia da “práxis”, a saber, que as “crenças populares”, ou as crenças do tipo daquelas, têm a validade de forças materiais”.[1] 

Não é gratuito que a imprensa tradicional adote sempre um “denuncismo” generalizado e, ao mesmo tempo, recuse-se a reconhecer a existência de alternativas de fundo ao neoliberalismo.

Cumpre a todos aqueles que não desistiram dos ideais utópicos da igualdade resgatar a força da política, dando novas energias e nova vitalidade ao processo democrático e às lutas pela igualdade.

A renovação reacionária do liberalismo (Wallerstein)[2]na era digital-informática; a revolução microeletrônica; a revolução das comunicações e da informação; o surgimento de milhares de novas profissões de vanguarda; o novo lazer individualizado nos “games” e a quebra das identidades nacionais, são algumas das mudanças que produzem uma nova e diluída socialidade, no dizer de Frederic Jameson, com a sublimação histérica do presente.[3]

Os excluídos do conhecimento tecnológico revolucionário, os alienados da informação sem hierarquia quanto aos valores humanos, os “sem” perspectiva de pão, terra, afeto, teto e convívio, lançados à marginalização e ao desemprego, à horizontalização, intermitência e à precariedade, vêm dissolvendo os padrões éticos e a moral do trabalho que formava a identidade operária e o sentido da revolução. Isso mudou a vida política, mas pode impulsionar uma esquerda que afirme os valores da igualdade do velho sujeito revolucionário, junto com as práticas de radicalização democrática dos novos movimentos e das classes trabalhadoras tradicionais: as velhas classes estão definhando na nova genética do capital, assim como os valores iluministas estão se prostrando pela emergência do fascismo.

Nestas eleições tudo isso estará em disputa, como esteve no Chile de Pinochet e na Hungria de Viktor Orban. No Chile de Allende, ganhamos. Na Hungria de Lukács, perdemos. No Brasil, venceremos.[4]

Notas


[1] GRAMSCI, Antonio. Obras Escolhidas. Lisboa: Editorial Estampa, 1974, vol. I, p. 310.

[2] WALLERSTEIN, Immanuel. Após o Liberalismo – Em busca da reconstrução do mundo. Petrópolis: Vozes, 2002, p.23.

[3] ANDERSON, Perry. As Origens da Pós-Modernidade. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1999, p. 67-68.

[4] Este texto é inspirado no que foi publicado na revista Teoria e Debate nº. 53.

 *Esta publicação foi originalmente publicada em 06/04/2022 no site A terra é redonda. Segue link: https://aterraeredonda.com.br/eleicoes-atipicas/

Autor: Tarso Genro foi governador do estado do Rio Grande do Sul, prefeito de Porto Alegre, ministro da Justiça, ministro da Educação e ministro das Relações Institucionais do Brasil. Autor, entre outros livros, de Utopia possível (Artes & Ofícios).

Edição: Alex Rosset

Formação Geral Básica no Referencial Curricular Gaúcho

O professor e a professora são os mediadores dos processos de aprendizagem, como também os articuladores deste processo de conhecer, elaborar e organizar a complexidade do mundo contemporâneo, que é cada vez mais plural, visual e com uma gama imensa de informações que precisam ser compreendidas, debatidas e sintetizadas.

O Novo Ensino Médio vem sendo discutido desde o ano de 2016 e em 2022, depois de ser aprovado e amplamente discutido, passa a ser implantado em todo país. Uma das grandes e importantes mudanças do Ensino Médio é a divisão da formação dos estudantes que passam a ter 1800 horas de Formação Geral Básica e 1200 horas de formação através dos Itinerários Formativos. 

A Formação Geral Básica (FGB) contemplará 60% do Currículo e os Itinerários Formativos (IF) 40%. A FGB, dividida por áreas de conhecimento, busca relacionar os conhecimentos presentes nos componentes curriculares, que continuarão existindo, porém trabalhando agora de forma integrada, sendo complementados pelos IF, que serão de escolha dos estudantes, onde irão aprofundar conhecimentos específicos de uma área principal, ainda que relacionados com as demais.

Por que o Ensino Médio mudou?

O Novo Ensino Médio coloca o jovem no centro da vida escolar, para promover uma aprendizagem com maior profundidade, que estimule o seu desenvolvimento integral, a partir do protagonismo, da autonomia e da responsabilidade do estudante por suas escolhas e seu futuro. Deste modo, busca-se desenvolver a autonomia do estudante, acompanhada do senso de responsabilidade que as escolhas sobre o seu futuro exigem. 

A ideia é tornar o Ensino Médio mais atrativo e mais focado nas necessidades que as diferentes juventudes apresentam em seu momento histórico.

Além da Formação Geral Básica, ele poderá optar por Itinerários Formativos que mais se ajustam às suas aspirações e aptidões e ao seu projeto de vida.

O que é Formação Geral Básica?

A Formação Geral Básica é um dos eixos do Novo Ensino Médio. Ela consolida e aprofunda as aprendizagens essenciais, de acordo com a BNCC.

A Formação Geral Básica é o que será comum a todos os estudantes do Ensino Médio das escolas públicas e privadas. Serão as aprendizagens obrigatórias, alicerçadas na BNCC (Base Nacional Comum Curricular), a partir das quais se desenvolvem Competências e Habilidades.

Com esta nova configuração, os professores e professoras não terão mais, apenas, listas de conteúdos que devem ser trabalhados no Ensino Médio, mas terão de dar conta de competências e habilidades que estão na BNCC e de outras competências e habilidades que foram adaptadas e construídas em cada território (Estados) através dos seus Referenciais Curriculares, no caso do RS, o Referencial Curricular Gaúcho do Ensino Médio.

A Formação Geral Básica está organizada em 04 áreas do Conhecimento: Linguagem e suas tecnologias, Matemática e suas tecnologias, Ciências da Natureza e suas tecnologias e Ciências Humanas e Sociais Aplicadas.

Nenhuma disciplina ou Componente Curricular foi excluído. As treze disciplinas (denominadas componentes curriculares pela BNCC) que fazem parte do modelo anterior ao Novo Ensino Médio continuam, porém presentes nas áreas de conhecimento, dentro da FGB.

O que muda, na prática?

Mudam as estruturas, o currículo e o enfoque para que o estudante pesquise mais, busque mais e construa seu conhecimento. Mudam as horas de cada componente dentro da FGB, porém os IF complementam esta dinâmica. A BNCC traz o trabalho transdisciplinar, multidisciplinar, muito mais presente, neste sentido a educação não estará mais em caixinhas separadas, mas em diálogos que se complementam.

O foco no conteúdo dará lugar às competências e habilidades, já definidas na BNCC ou nos Referenciais Curriculares de cada estado. Através destas, serão escolhidos Objetos de Conhecimento (conteúdos) que darão conta de traduzir, para a prática e o cotidiano dos estudantes, o sentido do que se está aprendendo.

A escola muda o seu foco. Embora seja um espaço privilegiado de socialização e construção de conhecimentos, ela, nem de longe, é o único canal para o acesso do saber. A escola é este espaço insubstituível para o exercício das pluralidades de pensamento, seja entre os professores e professoras, estudantes e comunidade escolar.

Neste momento histórico, a escola cumpre com a função de sistematização das informações (para transformá-las em conhecimento) e da socialização (convivência saudável e respeitosa, mediada pelo conhecimento). Esta postura educativa auxiliará os estudantes para que sejam capazes de construir entendimentos de si mesmos, dos outros, da natureza e da sociedade.

O professor e a professora são os mediadores dos processos de aprendizagem, como também os articuladores deste processo de conhecer, elaborar e organizar a complexidade do mundo contemporâneo, que é cada vez mais plural, visual e com uma gama imensa de informações que precisam ser compreendidas, debatidas e sintetizadas. 

Neste sentido, a educação se transforma para atender novas demandas, mas continua sendo essencial, assim como a ação do professor em sala de aula.

Assista ao vídeo “O que há de novo no Ensino Médio” para relembrar as principais inovações propostas para o segmento, com a educadora Anna Penido: https://youtu.be/gEqmWNMBjn0?t=94

REFERÊNCIAS:

BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. Brasília, 2018.

BRASIL. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Diário Oficial da União, Brasília, 23 de dezembro de 1996.

PIES, Nei. A escola e sua função contemporânea de humanização. Disponível em: https://www.neipies.com/a-escola-e-sua-funcao-contemporanea-de-humanizacao/

Autores: Nei Alberto Pies e Giseli Veccheti, professores de Ensino Religioso e Sociologia na rede estadual de educação do RS.

Edição: Alex Rosset

 

A linguagem simbólica da literatura infanto-juvenil no contexto pedagógico do ensino religioso

A história que segue oferece possibilidades de reflexão por parte dos alunos, de acordo com as propostas gerais da BNCC (autoconhecimento e autocuidado, empatia e cooperação – competências gerais itens 8 e 9) bem como atende o objetivo da área do Ensino Religioso pois contribui para que os educandos construam seus sentidos pessoais de vida a partir de valores, princípios éticos e de cidadania.

O PATINHO FEIO

Era uma vez, numa região campestre, há muito tempo, o verão havia chegado e a temperatura estava muito agradável. Num recanto ensolarado ficava um antigo castelo muito bonito e aconchegante, às margens de um rio onde, nos jardins, viviam vários animais.

Próximo à margem do rio, uma pata repousava tranquila em seu ninho esperando chocar nova ninhada de patinhos. Após longa e paciente espera, os ovos se abriram, um após o outro, surgindo lindos patinhos amarelinhos para alegria da mamãe. Porém, o ovo maior, não se rompia e a pata já estava impaciente; aguardou mais um pouco e bicou o ovo, e surgiu um patinho cinzento, desajeitado e muito grande. Não se parecia em nada com os irmãozinhos.

Para ter certeza de que esse desajeitado era um patinho, e não um peru, a mãe pata levou todos os filhotes até o rio e observou que o patinho nadava mais desenvolto do que os demais. Ela ficou tranquila e pensou: é só um patinho feio, muito feio.

No dia seguinte, a pata levou seus filhotes para os jardins do castelo para conhecer os outros animais que viviam lá. Todos parabenizavam Dona Pata pelos lindos filhinhos, mas não achavam graça no patinho cinzento, por ser grande e feio. Os próprios irmãozinhos do patinho o perseguiam e ridicularizavam também.

Passado um tempo, a mãe passou a ter vergonha dele e o deixou de lado. Ele crescia isolado e triste. Até a menina que levava comida para os bichos no lago do castelo o enxotava.

Um dia, para se livrar dessa rejeição, tão triste no seu grupo, ele resolveu ir-se embora, para bem longe. Caminhou muito e chegou num pântano, onde foi recebido friamente pelos marrecos que ali viviam. Ficou por ali alguns dias e, numa manhã, acordou com barulho de tiros: eram os caçadores de marrecos. Muitos marrecos morreram, mas o patinho feio escondeu-se no meio da mata e se salvou.

Saiu novamente a caminhar. Ao entardecer, encontrou uma cabana velha; a porta estava entreaberta e ele entrou. Foi para um cantinho, pois estava com frio e cansado e adormeceu. Na cabana morava uma velha senhora que tinha um gato que caçava ratos e uma galinha que punha ovos. Quando a senhora viu o patinho, ficou feliz. – Que bom – disse ela, quem sabe é uma patinha! Daqui a algum tempo, passará a pôr ovos. Estou com muita sorte!

O tempo passou e nada de ovos. A senhora ficou impertinente e implicava com o patinho. O gato e a galinha também começaram a fazer chacota com ele.

Novamente o patinho feio vai embora, se aventurar pelo mundo. Encontrou um lindo lago e por ali ficou, ainda era verão, tinha água para nadar e não faltava alimento.

Chegou o outono, as folhas caiam das arvores, o céu se cobria de nuvens escuras e o vento soprava frio. Sozinho, com frio e fome, no entardecer viu surgir, voando nos céus, um bando de aves muito lindas; penas brancas, asas brancas. Eram cisnes que voavam em direção a locais mais quentes. O patinho feio ficou admirando, olhando aquelas aves que voavam bem alto, até desaparecerem no horizonte. Sentiu grande tristeza. Como gostaria de ser como aquelas belas aves! Então, entrou para o lago e nadou até o anoitecer, sentindo-se mais feio, sozinho e infeliz.

O inverno chegou rigoroso, frio e neve. Tudo ficou mais difícil. Um dia, de tanto frio, suas patas ficaram presas ao gelo e ele pensou: agora morrerei. Fechou os olhos e, lembrando as belas aves que havia visto há tanto tempo, adormeceu de cansaço e frio.

Na manhã seguinte, bem cedo, um camponês que por ali passava, viu o patinho já meio morto. Quebrou o gelo de suas patas e o levou para casa, junto a seu peito, para aquecê-lo. Lá foi cuidado e recuperou suas forças.

O bom camponês tinha três filhos pequenos, que eram muito ativos, queriam brincar com o patinho, o seguravam, o apertavam, o esfregavam; não era por mal. O patinho feio, acostumado a ser escorraçado, não entendia as brincadeiras, tomava-as por perseguição e resolveu fugir.

Refugiou-se num lago e, quando ficava muito frio, procurava a relva seca para se aquecer. Finalmente chegou a primavera, tudo ficou mais bonito e quente. O patinho observou que, lá no alto, voavam muitas aves e ele sentiu um desejo inexplicável e incontrolável de voar. Abriu suas asas, que tinham ficado grandes e robustas, e voou. Pairou no ar, vou longe e viu um belo jardim, cheio de árvores e flores, de onde belas aves saiam voando. Ele logo as reconheceu, já as vira antes, sentiu uma grande emoção e amor por elas.

Elas pousavam nas águas de um lago para nadar e ele pensou: quero me aproximar delas, talvez me humilhem, não me importo. Voou até o pequeno lago e pousou nas suas águas, expectante, bem onde as belas aves estavam nadando. Aproximou-se humildemente, aguardando ser desmoralizado, baixando a cabeça.

Quando se olhou no espelho das águas, o que viu refletido na água? Bela ave de penas brancas, grandes asas, pescoço longo e sinuoso. Era ele? Mal podia acreditar! Era um cisne, como as aves que tanto admirava! Seria um sonho? Não era; era verdade.

Nadava em companhia dos outros cisnes, que o olhavam com admiração e alegria. Um deles disse: – tem um cisne novo conosco, é o mais belo de todos nós! Os cisnes se encantaram com ele, deram-lhe as boas vindas, ofereceram-lhe alimento. O ex patinho feito, tímido diante de tantos elogios e agrados, escondeu a cabeça debaixo das asas.

Talvez um outro, em seu lugar, tivesse ficado envaidecido, mas não ele. O seu coração era muito bom, ele sofrera muito antes de alcançar a felicidade.

(Texto adaptado de Hans Christian Andersen por Gladis Pedersen de Oliveira)

Comentário pedagógico:

A história oferece possibilidades de reflexão por parte dos alunos, de acordo com as propostas gerais da BNCC (autoconhecimento e autocuidado, empatia e cooperação – competências gerais itens 8 e 9) bem como atende o objetivo da área do Ensino Religioso pois contribui para que os educandos construam seus sentidos pessoais de vida a partir de valores, princípios éticos e de cidadania.

Sugestão de atividades pedagógicas

PARA ALUNOS DE 6º O 9º ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL E 1º ANO DO ENSINO MÉDIO

A análise e reflexão sobre a linguagem simbólica da história proporciona a oportunidade de trabalhar conceitos sobre: o bullying, a discriminação, a alteridade, o preconceito, o autoconhecimento, a autoestima, o amor, a caridade, a fé e a esperança.

Propor aos alunos a leitura individual e depois a leitura no grande grupo, por parágrafos.

Dividir a turma em pequenos grupos para que destaquem as ideias mais importantes, debatam sobre elas e cheguem a conclusões sobre essas questões da vida diária.

Apresentação das conclusões de cada grupo, ao grande grupo, e construção de uma conclusão geral sobre as mensagens da história e sua aplicação na vida diária.

PARA ALUNOS DO 1º AO 5º ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL

1 . Responder individualmente

         Por que o Patinho Feio era rejeitado?

         Essa conduta é correta? Por quê?

         O que o Patinho Feio procurava em suas fugas?

         Por que ele se preocupava tanto com o que os outros pensavam dele?

         Qual foi a parte mais importante da história para você?

         Coloque-se no lugar do Patinho Feio, quando ele se reconheceu um lindo cisne.

         O que ele sentiu?

2 . Fazer, em forma de painel, um jogo de trilha da caminhada que o patinho fez desde a fuga da família até se reconhecer como cisne, destacando cada local em que ele chegou.

Autora: Gládis Pedersen de Oliveira

Edição: Alex Rosset

Não zombe de quem reza

As armas e estratégias de pressão pela paz parece não instigarem a força soberba dos exércitos. Eles já ingressaram conhecendo o terror das bombas. Mas não conhecem a profunda força do sentimento humano e da oração de todos os credos. Por favor, não zombem de quem reza!

Parece-nos impossível a todo o ser humano imaginar que a guerra seja inofensiva ou que se enquadre num espectro virtual. As comunicações céleres e visíveis em detalhes sobre os confrontos em vários pontos do mundo mostram que a violência esmaga o ser humano.

Acredita-se que o as atrocidades cometidas contra povos pobres, miseráveis, ou ricos fere a essência da humanidade. A consciência dos homens, ainda que não mostre comoção aparente, vem recebendo a carga de sentimento pelo direito de viver.

Se a ninguém é negado o sagrado direito de existir, viver em paz é sua primeira consequência inarredável. Desde que se tem notícia da existência de seres humanos sobre a terra, mesmo nos moldes tribais mais remotos, a disputa pela vida digna tem estabelecido convenções para conviver.

Os animais irracionais guardam a genética deste equilíbrio, como vemos na natureza.

Entre os humanos, os tratados e toda a forma de diálogo é o meio de evitar a autodestruição. Então é o diálogo, espécie de poder anônimo que, ainda carente e afetado pelos desatinos de uma disputa absurda, consegue salvar o quanto possível.

Neste aspecto que se impõe a retomada da crença no ser criador para conter os seres destruidores. Fala-se na oração, que cada religião ou crença adotou desde os primórdios. Assim, vemos a dedicação do Papa Francisco e de tantas outras lideranças religiosas, insistindo e rogando pela paz.

No contexto de existência somos todos pecadores, mesmo que seja pela omissão. O Papa e tantos outros líderes de diferentes religiões, clamam angustiados pela paz que destrói vidas e obras materiais das pessoas. Este clamor em oração é o derradeiro brado de misericórdia que o cidadão insere como bandeira de luta.

No momento, a guerra da Ucrânia expõe a atrocidade de tais confrontos. As armas e estratégias de pressão pela paz parece não instigarem a força soberba dos exércitos. Eles já ingressaram conhecendo o terror das bombas. Mas não conhecem a profunda força do sentimento humano e da oração de todos os credos. Por favor, não zombem de quem reza!

A Cruz

É difícil sabermos o quanto cada um crê nas revelações religiosas, nas escrituras sagradas e tradições místicas que nos atrevemos a interpretar do jeito que somos. E somos humanos.

São muitas as narrativas sobre existência da ação divina nos acontecimentos milenares do mundo em que vivemos. Nesta semana da Páscoa buscamos entender o comportamento humano na vida e morte de Cristo.

A forma como cada um entende a ligação com Deus envolve grande mistério íntimo. Mesmo entre os que escolhem negar a existência divina e qualquer relação existencial, há elo inerte que pode surgir a qualquer momento. Neste sentido a persistência da história de Jesus Cristo, que nasceu entre nós, viveu e morreu, é o relato mais sério que se conhece.

De qualquer forma, sabemos de muitos mártires políticos, guias sociais, orientadores, vidas inteiras dedicadas à justiça social, como Martin Luther King ou Mandela, que abdicaram das eventuais vantagens materiais para si e se entregaram de corpo e alma à paz social do semelhante.

Cristo, no horto das oliveiras prenunciava seu destino. Ia ser imolado pelas causas de justiça social, não aceitas pelo poder farisaico.

No domingo de Ramos, ao ser proclamado pela multidão de pessoas mais pobres, preferiu andar montado num jumento, sabendo que a modalidade era desfilar num cavalo triunfante. A mensagem concreta que Jesus transmitiu sobre sua missão de socorrer os mais humildes.

Após a última ceia, no lugar chamado Getsémani revelou sua angústia humana, na véspera da morte, mas persistiu na missão divina: “Tristis est ánima mea, usque ad mortem: sustinete hic. Vigilate mecum” (“Minha alma está triste até a morte; ficai aqui e vigiai comigo”). E a mais angustiante expressão de um ser humano, foi Cristo que proclamou: “Eli,Eli, lamma sabactháni” (“ meu Deus, meu Deus! Por que me abandonaste”, em hebraico).

Ora, quem morre conscientemente pela causa alheia, mirando a salvação dos irmãos, é o maior motivo para uma reflexão, a qualquer momento da história. Ele morreu na cruz.

As mulheres, crianças, velhos, doentes e homens guerreiros, que morrem ou são lançados na dor da violência, reduzem-se a uma explicação genérica, de que a guerra sempre existiu. Esse é o sentimento que se pulveriza na consciência humana. Abandonamos a utopia da paz. Será? Leia mais: https://www.neipies.com/a-utopia-da-paz/

Autor: Celestino Meneghini

Edição: Alex Rosset

Só uma aldeia inteira pode educar uma criança

“É preciso uma aldeia inteira para se educar uma criança” (provérbio africano)

As crianças são o centro da educação. As crianças, no mundo inteiro, em diferentes culturas, países, nacionalidades e crenças, precisam da atuação direta de vários sujeitos sociais que colaboram diretamente na sua formação humana pessoal e profissional. Em grupos sociais de cultura indígena e africana, há uma compreensão mais ampliada de educação, quando se entende que todos os sujeitos da comunidade tem o direito e o dever de educar as crianças, em todos os momentos, aspectos e circunstâncias. Nestes grupos, a educação das crianças é compartilhada como responsabilidade conjunta, de todos os membros.

A aprendizagem na primeira fase da infância ocorre pela imitação. A criança aprende a andar, falar e reagir a uma provocação imitando o adulto presente na sua vida: pai, mãe, irmãos e demais pessoas a sua volta. Até por volta dos três anos é o período que mais acontecem sinapses no cérebro infantil pois a criança, com sua natural curiosidade, quer explorar e conhecer o mundo que a cerca e interagir com ele. O lar e a escola infantil exercem muita influência na formação emocional, psicológica, física e mental do infante.

É mais complexo do que se parece educar uma criança. Toda criança é envolvida desde sua tenra idade, por mãos, mentes e sabedorias de muita gente. Muita gente põe a mão na massa na vida de uma criança, mas a responsabilidade maior sempre será das famílias, que são a primeira e a maior referência educativa.

Ideal que os pais ou responsáveis se preocupem não só no desenvolvimento da dimensão intelectual da inteligência da criança, mas também da educação das dimensões emocionais, espirituais e morais, pois, é nesta fase que começa a se construir a identidade moral que estará concretizada até a adolescência. As regras devem ser simples, claras. Saber falar, no momento certo, de maneira afetuosa: Sim, sim. Não, não. Desde pequena ela já pode entender que para tudo há limites, que sofrer frustrações faz parte da vida.

SUJEITOS FAMÍLIAS: as famílias têm papel fundamental na construção do caráter e da personalidade de um indivíduo. No seio das famílias que as crianças têm o primeiro contato com a existência do outro e é onde elas desenvolvem noções de afeto e de solidariedade.  As famílias são, também, lugar de onde as crianças extraem relevantes princípios e valores éticos. Famílias acompanham a educação das crianças de forma permanente, nos diferentes estágios de desenvolvimento (crianças, adolescentes, jovens e adultos).

SUJEITOS AMIGOS E VIZINHOS DAS FAMÍLIAS: A convivência com amigos e vizinhos das famílias permite que as crianças desenvolvam a socialização, cultivem amizades, façam pequenas trocas, desenvolvam o espírito de colaboração e entendam a importância de outras pessoas na sua formação. Muitas famílias convivem com outras famílias de forma intensa, onde ocorre a colaboração e a ajuda no cuidado e na educação dos filhos e filhas. Neste caso, uma família é quase como que uma extensão de outra família, favorecendo uma educação mais ampliada e socializada das crianças.

SUJEITOS ESCOLAS:  As escolas têm destaque no processo de aprendizagem das crianças, sendo responsáveis por proporcionar conhecimentos científicos e sistematizados e permitir a convivência em coletividade, estimulando, assim, o respeito ao outro. As escolas e as famílias, nos primeiros anos de vida escolar, devem ser muito parceiras e próximas, uma vez que atuam fortemente na formação humana das crianças. Nos anos finais do Ensino Fundamental, as escolas exigem de seus estudantes uma maior autonomia e responsabilidades, tendo as famílias como alicerces da aprendizagem escolar.

SUJEITOS RELIGIÕES: Geralmente, a partir das famílias que se decide pela educação e vivência religiosa. Muitas crianças, seguindo o exemplo de seus pais, participam de vivências religiosas em templos e igrejas. As religiões, por sua vez, organizam momentos e espaços de aprendizagem e vivência da fé das crianças, seja através da catequese, de escolas dominicais, escolas de evangelização e de encontros específicos com as crianças. As religiões cuidam da educação da fé e da espiritualidade, cuja função consiste no entendimento da doutrina e dos ensinamentos religiosos seguidos por cada igreja ou cada religião.

SUJEITOS INTERNET E REDES SOCIAIS: Num mundo marcado pela tecnologia e pelo acesso livre e permanente das redes sociais, as crianças recebem influências na sua formação humana pessoal e profissional do mundo digital. Desde muito cedo, as crianças desenvolvem capacidades cognitivas importantes através dos jogos eletrônicos. Usam as tecnologias para se comunicar, fortalecem os laços de amizade através de conversas virtuais, recebem atividades educativas através de plataformas educativas.

A internet e as redes sociais são hoje importantes ferramentas na educação de crianças, sendo um dever dos adultos ensiná-las e orientá-las para seu uso de forma ética e responsável. Entretanto a comunicação virtual deve ser usada com critério e sob a orientação dos responsáveis. Ela não deve substituir a interação pessoal, olho no olho, o encontro presencial, o ouvir a voz do outro, conversar frente a frente, juntos, o aperto de mãos, o sorriso, a gargalhada, o brincar com o outro ou outros, criar vínculos fraternos.

SUJEITOS AMIZADES DE PREFERÊNCIA: As crianças e adolescentes vão aprofundando suas amizades, desde cedo, escolhendo-as por afinidade ou preferência. Destas amizades de preferência surgem os grupos específicos de convivência e de socialização das crianças e adolescentes, fundamentais para o reforço de suas identidades e suas decisões pessoais e coletivas. Surgem daí os grupos para encontros na praça, o lazer do final de semana, o grupo de amigos para festas ou saídas para diversão.

Como podemos perceber, os diferentes sujeitos sociais cumprem diferentes finalidades na complexa função de educar crianças e adolescentes. Todos estes sujeitos são importantes na formação humana integral e cumprem, junto com a família, função de ampliar os conhecimentos e vivências necessárias para o desenvolvimento cognitivo, emocional e social das crianças e adolescentes. Deste modo, parece-nos consistente e importante a ideia de que é preciso uma aldeia inteira para educar uma criança. Todos, de uma forma ou de outra, educamos e somos educados.

JESUS – uma referência de educação

Jesus é uma referência importante na educação. Sua pedagogia (seu jeito de ensinar e aprender) revela-se uma prática que contempla a liberdade e a responsabilidade como pilares da boa educação.

Quando criança, dos poucos registros que se tem, sabe-se que crescia em sabedoria e graça, com a participação, envolvimento e suporte de sua família. Maria, sua mãe, o educou com sua amorosidade e bondade. Seu pai, José, homem austero e digno, ensinou ao filho a sua profissão, a carpintaria, e o jovem menino, desde cedo, colaborava na manutenção e harmonia do lar. Seus pais não se descuidaram de lhe dar a orientação religiosa que abraçavam, o judaísmo. Eles frequentavam a sinagoga de Nazaré todos os sábados e o menino ouvia as explicações sobre a Torá, tanto que, aos doze anos, já discutia as questões religiosas com os Doutores da Lei, no Templo em Jerusalém.

Na fase adulta, Jesus, como mestre, utilizava a cátedra da Natureza para ensinar os preceitos da boa nova, sempre com naturalidade, muitas vezes utilizando-se do recurso da contação de parábolas para passar seus ensinamentos, o que facilitava a compreensão do assunto. Ele ensinava ricas lições a respeito da ética e do comportamento humano. Nestas histórias ele usava imagens singelas com coisas que eram habituais para aquelas pessoas e que, muitas vezes, não são valorizadas para despertar a atenção e a curiosidade.

Jesus nos alerta, como educador, que a Natureza é a maior fonte de equilíbrio para o ser humano, que estimula a elaboração de bons pensamentos, da razão ativa, da consciência participativa e da vontade de mudar, melhorar. Ele nos indica que aprender com a Natureza é o mais rico processo comparativo e de identificação divina.

A linguagem simbólica da parábola, que contava com os elementos que o povo conhecia na época – rede de pescar, a moeda de circulação, as sementes, os grãos, as pérolas, as figueiras, o fermento, os peixes, os pães – permanece até hoje, rica de conteúdo moral, orientando e salvando vidas.

Jesus ensinava e exemplificava, passava a sua mensagem impregnada de ternura, com alegria e era respeitado e ouvido. Falava sempre com palavras exatas, com significados profundos. Era paciente, instigava seus seguidores a observar a Natureza: “Olhai os lírios dos campo…” “Olhai as aves dos céu… “para que pudessem comparar essas situações com as preocupações da vida cotidiana, perceber os detalhes. Jesus, como educador, evitava discursos longos, abstrações filosóficas que exigissem muito da compreensão do ouvinte. 

O mestre Jesus “fala com sabedoria e ensina com amor”. Quando ensinava (ou fazia reuniões de pregação), sempre observava se não havia ninguém que estava sendo esquecido ou ignorado no meio da multidão. Nas suas abordagens, evitava o julgamento, mas levava as pessoas a pensarem sobre seus atos, como no caso da mulher adúltera (os sumo sacerdotes e os senhores da lei queriam colocá-lo à prova por conta da lei judaica). Sempre sugeriu que quem quisesse conhecer ao Pai, o seguisse, mas nunca impôs esta condição a ninguém.

Jesus teve a prática de incluir, de aproximar-se das pessoas para compreender seus sofrimentos, mas sempre propondo soluções que partissem da realidade de cada um e cada uma.

Podemos concluir que a prática educativa de Jesus era democrática, que respeitava as individualidades e o contexto de cada pessoa. Jesus acreditava no poder e na superação de cada pessoa e se colocava ao lado das pessoas que o procuravam (nunca acima e nunca como salvador da pátria).

Autores: Gladis Pedersen e Nei Alberto Pies

Edição: Alex Rosset

Educar para o Esclarecimento

A ideia de esclarecimento está associada diretamente a ideia de autonomia. É esclarecida e autônoma a pessoa que é capaz de tomar as própria decisões, assumir a responsabilidade de suas escolhas e não culpar os outros pelas consequências provocadas pela sua decisão.

A palavra “esclarecido” tem uma certa nobreza na nossa língua portuguesa. Se formos aos dicionários encontramos que o adjetivo “esclarecido” significa iluminado, elucidado, dotado de ilustração, saber, cultura. Quem é esclarecido é portado de uma certa “lucidez” e, portanto, sabe e compreende melhor as coisas. Talvez essa deveria ser a função mais importante da educação: tornar as pessoas mais esclarecidas.

Historicamente, a filosofia tem se ocupado em realizar a tarefa de tornar as pessoas mais esclarecidas. Talvez por isso, para alguns, a filosofia deve ser evitada. Ela pode se tornar perigosa, pois pode esclarecer as pessoas sobre a forma como funciona o poder, a corrupção, a exploração de uns sobre os outros; alguém esclarecido pode se dar conta dos processos de alienação que escravizam os trabalhadores, perceber as falsas promessas dos políticos, entender como funciona o sistema econômico, o jogo do poder, a propaganda enganosa, os males sociais, a destruição ambiental, o fanatismo religioso, os preconceitos raciais, a xenofobia, a mixofobia e tantas outras formas de patologias que ameaçam e destroem a convivência humana.

Em seu ensaio “O que é o esclarecimento?”, escrito ainda no século XIX, Immanuel Kant, um dos mais importantes filósofos da modernidade, diz que “o esclarecimento é a saída do homem de sua menoridade da qual ele próprio é culpado. A menoridade é a incapacidade de se servir de seu próprio entendimento sem orientação de outrem. Tal menoridade é por culpa própria se a causa não reside na falta de entendimento, mas na falta de decisão e de coragem em se servir de si mesmo sem a orientação de outrem”. O esclarecimento, portanto, segundo Kant, é ter coragem de te servires do teu próprio entendimento.

Apesar de ser um texto escrito há tanto tempo e em outro contexto, percebemos claramente sua atualidade. De fato, estamos muito distantes de vivenciar o esclarecimento.

Nossos estabelecimentos educativos pouco fazem para construir processos de esclarecimento. A menoridade denunciada por Kant se faz sentir de todas as formas. Percebemos com frequência a dificuldade que crianças, adolescente e adultos tem de fazer uso do próprio entendimento.

A grande maioria das pessoas preferem não pensar por si mesmo e, sim, tomam emprestado o pensamento de outros. Trata-se de um processo de submissão ao já estabelecido, as circunstâncias do momento. Assim, temos dificuldade de enfrentar os problemas que nos cercam porque acreditamos que alguém fará por nós.

O culto aos ídolos, a cegueira moral, o fanatismo político e religioso, a crença cega em qualquer informação que chega pelas redes sociais, a dificuldade de compreender as razões pelas quais temos a pobreza, a ignorância, a mortalidade infantil, o analfabetismo, a violência doméstica, a destruição do meio ambiente, a precarização e ataque à escola pública, a invenção de certos fantasmas como o comunismo são expressões materiais da vida cotidiana que ainda vivemos uma menoridade.

A ideia de esclarecimento está associada diretamente a ideia de autonomia. É esclarecida e autônoma a pessoa que é capaz de tomar as própria decisões, assumir a responsabilidade de suas escolhas e não culpar os outros pelas consequências provocadas pela sua decisão.

Algo aparentemente simples, mas muito difícil de ser concretizado. É mais fácil deixar que os outros decidam por nós e assim não precisamos ter a responsabilidade de arcar com as consequências. É por isso que o próprio Kant diz que a menoridade é resultado da preguiça mental e da covardia pessoal de fazer uso do próprio entendimento.

Talvez aqui resida um dos mais importantes desafios e compromissos educacionais: construir processos formativos que ajudem as crianças, os jovens e os adultos a saírem da menoridade e serem mais esclarecidas.

Convido a todos os leitores a acompanharem algumas reflexões sobre essa forma espontânea de pensar a filosofia. Num mundo marcado pelo descontrole e pela irracionalidade, talvez um pouco de filosofia seja apropriado para pensarmos sobre a forma de vida que estamos vivendo e talvez concordar com Sócrates que “uma vida não examinada, não merece ser vivida”. Leia mais: https://www.neipies.com/filosofia-para-que/

Autor: Dr. Altair Alberto Fávero

Edição: Alex Rosset

A criança pode ir ao banheiro na hora que ela quiser

A escola ainda é aquele lugar bonito, de afeto, carinho e cuidado onde a criança pode ficar com segurança, pois terá os seus direitos respeitados, aprenderá coisas novas para o seu desenvolvimento, fará amizades, compartilhará conhecimentos e será sempre ouvida pelos seus professores com atenção.

“Sufoca-se o espírito da criança com conhecimentos inúteis.”, já dizia o escritor inglês Voltaire. Que nós, professores e professoras, possamos ensinar o que será útil para as nossas crianças, não o que está no material didático somente, pois muitas vezes quem o redigiu não conhece as necessidades dos nossos alunos.

Ao invés de mandar o aluno abrir o livro didático na página de número tal, converse com ele antes perguntando sobre o seu dia de ontem, os seus sonhos, as suas conquistas, as suas dores e angústias. Depois de iniciar criticando os produtores de materiais didáticos para a educação básica, entro no assunto que quero falar hoje e sei que vai dar uma boa discussão.

Nenhuma criança deve ser impedida de ir ao banheiro no meio da aula. É um grave problema o professor que não permite os seus alunos irem ao banheiro alegando que eles vão bagunçar no corredor ou passear na quadra de esportes. Ninguém sabe o que o outro está sentindo e nem pode adivinhar quando é mentira ou verdade.

Os alunos trazem de casa alguns vícios. Muitos deles estão acostumados a irem ao banheiro de vez em quando só para mexer na torneira ou na descarga. Outros querem mesmo é ficar andando pra cima e pra baixo como faziam dentro de casa, livres para passearem por todos os compartimentos. São esses vícios que devem ser tirados aos poucos dos alunos logo nos primeiros dias de aulas.

Talvez este seja um dos maiores problemas enfrentados pelos professores do ensino fundamental II, mais precisamente no sexto ano letivo. O pior é quando todos, de uma vez só, pedem para ir ao banheiro, de repente. O que fazer? Como reagir diante de uma situação que pode parecer comum, mas que não nos ensinam nos cursos de licenciaturas?

Primeiro quero começar pelo professor autoritário e não venham me criticar dizendo que isso é mais um dos meus mimimis porque não é. Todo mundo sabe que existe professor chato e autoritário em toda escola que só trabalha para garantir o seu salário no final do mês. Não estou acusando ninguém, mas estou falando uma verdade que vejo quando visito escolas e dou cursos pelos diversos estados e cidades brasileiras.

Tem professor que usa da sua autoridade para amedrontar os alunos ameaçando-os de diversas formas. Uma delas é a perda de pontos na nota final do bimestre letivo, a outra é mandar para diretoria e a que questiono hoje que é impedir o aluno, principalmente, aquele que é mais bagunceiro de ir ao banheiro. O professor se vale da sua autoridade para fazer medo aos alunos e os acalmarem. Assim, ele tem certeza que poderá dar a sua aula para uma turma de trinta e cinco ou quarenta alunos pré-adolescentes que acham aquela aula cansativa por demais.

Também não venham me criticar dizendo que eu falo isso porque nunca vivi na prática o que é dar aulas para uma turma de quarenta alunos do sexto ano letivo em um bairro de periferia porque isso não é verdade. Eu vivi essa experiência, sim, e por isso tenho autoridade para falar aqui sobre o problema da ida ao banheiro pelos alunos.

As crianças quando estão na escola recebem os nossos cuidados. Existe o regimento escolar. Mas, antes do regimento vem o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), vem a Constituição Federal e vem um monte de leis que nem são necessárias citar aqui porque vocês as conhecem todas. Na verdade, é que a criança assim como todo adulto tem garantido por lei o direito de ir e vir quando quiser.

Este direito deve ser garantido em todos os lugares onde a criança estiver, principalmente na escola, pois nela os pais depositam toda confiança.

E como é bacana saber que os pais confiam na gente para cuidarmos dos seus pequenos, num mundo onde confiança está cada vez mais desvalorizada porque tememos deixar as nossas crianças com qualquer um, esse qualquer um, pode ser até a babá com uma lista enorme de qualificações, mas eles não a conhecem direito e será sempre uma estranha até que prove o contrário.

A escola ainda é aquele lugar bonito, de afeto, carinho e cuidado onde a criança pode ficar com segurança, pois terá os seus direitos respeitados, aprenderá coisas novas para o seu desenvolvimento, fará amizades, compartilhará conhecimentos e será sempre ouvida pelos seus professores com atenção.

Pois bem, é assim que os pais vêem a escola e é assim que deve ser, pois nós professores damos o nosso melhor para que as crianças aprendam a ler e a escrever com amor e carinho. Planejamos aulas, elaboramos trabalhos e avaliações com todo o cuidado sempre pensando no desenvolvimento cognitivo e emocional dos nossos alunos. Fazemos o melhor possível. Se é que não fazemos mais do que esse tal possível.

Se a aula está chata e cansativa, se na classe faz calor e se o seu aluno é hiperativo e precisa correr, pular, brincar o tempo todo ele não vai ficar quieto e prestar atenção nunca. Os alunos do sexto ano letivo precisam de aulas dinâmicas que os façam parar por um tempo e pensarem criticamente a respeito daquele assunto. As aulas que o professor passa a matéria na lousa e o aluno escreve no caderno são cansativas.

Ninguém suporta mais ser depósito de conhecimento. As crianças estão cada vez mais cheias de energia. A escola é o local ideal onde elas encontram outras parecidas consigo para brincarem e correrem o tempo todo.

É preciso mostrar aos seus alunos que a escola é uma instituição que eles vão para aprender a ler e a escrever, que nela há normas, que o senhor professor ou professora está se esforçando para fazer da sua aula um momento prazeroso para os seus alunos e que vai depender deles que esse momento se torne algo inesquecível no fim do dia.

Sempre que um aluno meu pedia para ir ao banheiro logo em seguida o outro fazia o mesmo pedido e com mais um tempinho vinha outro e mais outro. Muitas vezes fui surpreendida pelo coordenador pedagógico a me perguntar por que estava com tantos alunos fora da sala de aula e sempre respondia que eles tinham pedido para ir ao banheiro. Este era o meu momento mais difícil do meu trabalho como professora.

O meu coordenador trazia os alunos para sala de aula e olhava para mim com a cara de quem não gostou nada do que viu, mas eu não podia impedir de que os alunos fossem ao banheiro. Como eu ia adivinhar quem estava apertado ou não? Muitas vezes a criança comeu algo que lhe fez mal, tomou água demais no intervalo ou está com algum problema de saúde que precisa ir ao banheiro várias vezes e não quer me dizer. Eu não posso impedir os meus alunos de irem ao banheiro.

Contudo, posso fazer um combinado com a turma de que permitirei que todos possam ir ao banheiro, primeiro os mais apertados e depois os demais. A gente não precisa ser autoritário neste momento. É no diálogo que conquistamos as coisas. As crianças gostam de serem ouvidas e de opinarem. O combinado é a melhor ferramenta para mostrar aos alunos que nós, professores, estamos do lado deles, que só queremos o bem de todos eles e que aceitamos como eles são sem questionamentos.

Todo o mundo tem o direito de ir ao banheiro, mas primeiro os que estão mais apertados e depois os que estão com vontade, mas podem esperar um pouco. E quem for ao banheiro deve saber que o coleguinha está esperando o seu retorno para chegar a sua vez.

Este foi o meu combinado no primeiro dia de aula numa determinada escola num bairro de periferia da minha cidade. Não deu certo! Nunca que daria certo, gente! Os alunos mais bagunceiros quebraram o combinado e pediram todos os seis para irem ao banheiro de uma vez só alegando que estavam muito apertados. Eu permiti porque não sabia se estavam falando a verdade ou não. Na verdade, eles estavam morrendo de calor dentro daquela sala quente e abafada onde até eu estava quase desmaiando de tanto transpirar.

Então, professor e professora, esta questão de ir ao banheiro é algo difícil de lidar. Acho que cada um de vocês sabe como resolver esse problema da sua forma. O meu eu nunca resolvi. Sempre deixei os meus alunos irem ao banheiro quando eles diziam que estavam apertados porque vi na turma vizinha a minha, certo dia uma criança que era considerada a mais bagunceira da sala fazer xixi nas calças porque foi impedida de ir ao banheiro. Foi terrível ver a cena da criança chorando e o professor se lamentando por achar que ela estava mentindo.

Os alunos do sexto ano letivo das escolas de periferias vivem muitas vezes certos problemas fora da escola que não sabemos e quando estão lá dentro eles só querem saber de bagunçar e interromper a aula a todo instante. Pedem para ir ao banheiro  pra ficarem passeando pelos corredores da escola ou frequentarem a quadra esportiva. Certa vez o coordenador pedagógico pegou um deles se drogando dentro do banheiro da escola, e fiquei muito triste com isso. Fazia mais de vinte minutos que ele tinha me pedido para ir ao banheiro.

Não existe uma receita pronta para controlar a ida dos nossos alunos ao banheiro. O que podemos tentar fazer é uma aula dinâmica onde eles possam se concentrar com tarefas dos seus cotidianos. Nas minhas turmas de sexto ano eu sempre mantenho o diálogo na maior parte do tempo. Procuro saber como eles estão e os deixo falarem até se cansarem. Este diálogo é sempre baseado no assunto da aula.

Os alunos do sexto ano adoram falar das suas vidas fora da escola, das suas primeiras paixões pelas menininhas, dos seus bichos de estimação e dos seus esportes prediletos. Eu puxo conversa com o mais bagunceiro da turma sempre. É para ele que vai a minha atenção perguntando coisas sobre o seu dia a dia. Conforme ele vai explanando as suas ideias eu vou entrando no assunto da aula. Tem dias que ele não está a fim de falar, então fica mais difícil pra mim. Tento outro aluno com um assunto que sei vai despertar a sua atenção. E assim consigo dar a minha aula.

Fazer com que as crianças fiquem umas de frente para as outras também é uma boa ideia, pois elas passam a interagirem melhor. Sei que tem escolas com regras rígidas para os professores e infelizmente muitas coisas do que gostaríamos de fazer em sala de aula não é possível. Mas, professor apresente o seu plano de aulas ao coordenador pedagógico. Tente convencê-lo que dessa forma é possível que as suas aulas fiquem mais interessantes e possam reduzir a ida dos alunos ao banheiro sem necessidade verdadeira.

Quase esqueço de falar da forma como os pais defendem os seus filhos quando essa confiança por parte deles com a escola é quebrada. Geralmente, eles chegam gritando com o professor que não deixou a criança ir ao banheiro e causou-lhe vergonha diante das demais, xingamentos e ameaças de processos à escola. Neste momento em que a criança fez xixi na sua roupinha, o professor não teve ninguém para lhe acolher. Todos acusaram-no e xingá-lo de tirano ou coisa parecida.

Para evitar que a criança faça xixi em sala de aula e sofra vergonha dos risinhos e piadas dos coleguinhas o melhor é sempre permitir que ela vá ao banheiro mesmo já tendo três ou quatro lá fora. Deixe que o coordenador pedagógico se encarregue de trazê-las de volta para sala de aula mesmo dizendo que é preciso mostrar para seus alunos autoridade. A autoridade não lhe dá o direito de ser autoritário. São coisas diferentes.

A autoridade lhe convida a dizer aos seus alunos que é você quem administra a sala de aula e sabe o que é bom ou não para elas. É você quem vai decidir quais as tarefas serão feitas em um determinado horário, mas que você nunca vai impor a força nos seus alunos para eles serem obrigados a fazerem o que não querem. A autoridade é o poder de convencimento e gerenciamento de uma situação difícil de lidar. Os seus alunos precisam dela para continuarem aprendendo com eficiência.

Por isso, antes de impedir que os alunos bagunceiros possam ir ao banheiro mais de uma vez na sua aula, tente conversar com eles explicando que o senhor quer o melhor pra todos e que este melhor é a turma junto com o senhor se comprometendo a ensinar e aprender o que eles necessitam para o bom desenvolvimento. Não é balela o que eu digo aqui e muito menos teoria, é experiência de mais de trinta anos de sala de aula. Sei que é preciso um mimimi para escrever um texto como este.

Não conheço a sua turma, professor, porém sei que a sua luta deve ser árdua. Afinal, uma sala de aula com trinta a quarenta alunos debaixo de um calor de quase quarenta graus com cadeiras desconfortáveis não é todo profissional que sabe manter a ordem e nem como gerenciar uma turma onde não se consegue colocar disciplina com alunos que trazem para dentro da escola os seus mais diversos problemas do mundo lá de fora.

No entanto, antes de impedir o aluno bagunceiro de ir ao banheiro mais de uma vez na sua aula procure conversar com ele e saber se está precisando de uma coisa. Muitas vezes ele só deseja ser ouvido. Pergunte o que ele acha da sua aula e se ele gosta do seu jeito de ensinar. Peça para ele falar no que o senhor pode melhorar para que ele aprenda e explique para ele como se sente triste quando ele bagunça na sua aula. Talvez isso o leve a um pensamento reflexivo e mudança de atitude.

E para finalizar este texto cheio de xixi deixo vocês com uma frase de Victor Hugo que nos diz “Nunca ninguém conseguirá ir ao fundo de um riso de criança.” Para tentar chegar nesse local lindo, é preciso amar e respeitar a criança interior e exterior da sua vida, é preciso dar voz a criança que está ao seu redor mostrando para ela que a compreende e que em você pode confiar seus medos e angústias. Nenhuma criança deve ser impedida de sorrir.

Para amedrontar as crianças inventaram um tal cantinho do castigo em casa e na escola. A criança desobediente ia direto para esse cantinho que era um lugar estranho e doído para ela. Quem ia para o cantinho do castigo ficava estigmatizada pelas outras. Era vista como perturbadora da ordem. As demais crianças morriam de medo de passarem pelo cantinho do castigo. Leia mais: https://www.neipies.com/o-cantinho-do-pensamento-causa-dores-e-traumatiza-a-crianca/

Autora: Rosângela Trajano

Edição: Alex Rosset

Uma experiência associativa de horta domiciliar na cidade

A implantação de pequenas hortas na cidade pode ser importante alternativa econômica numa época em que há uma alta de preços dos alimentos, em especial, verduras e hortaliças.

Matéria da UPF TV apresenta uma experiência associativa de dois vizinhos da cidade de Passo Fundo, RS, que resolveram empreender uma horta de 30 metros quadrados para produzir alimentos saudáveis, com variedades de verduras e hortaliças, conforme ciclos e períodos específicos.

Assista a matéria: https://fb.watch/cbYR4JLGbn/

Os entrevistados destacam, para além das questões econômicas, a relação saudável e respeitosa com a terra que retribui na medida dos cuidados e da preservação que para com ela temos. Trabalhar com a terra energiza a vida das pessoas e é também um fator que permite uma vida menos estressante e de maior harmonia e equilíbrio entre o ser humano e a natureza.

Para Iltomar Siviero, “a iniciativa da horta é uma experiência ímpar de estabelecer outras formas de relações e (pre)ocupações em nossa vida. Primeiro aspecto a considerar é que isso nasce de uma parceria associada de vizinhos que decidem gastar seu tempo e trabalhar conjuntamente.

Em tempos de individualismos, com lógicas de empreendendorismo calcada em talentos que exaltam personalidades isoladas, estar entre e com alguém, é uma forma criativa de pensar novos modelos societários e de produção. Segundo aspecto tem a ver com o contato e relação com a terra, organismo vivo e cheio de energia, capaz de dar novos sentidos à vida. Terceiro aspecto, tem a ver com a decisão de independente do lugar, do espaço e do parco tempo no mundo urbano, não abrir mão de produzir alimentos saudáveis, orgânicos, livres de agrotóxicos, prontos para ir à mesa, gerando mais saúde e qualidade de vida.

Por fim, importante destacar que o contexto do século XXI urge e espera da humanidade respostas inteligentes e capazes de mostrar que a relação com a natureza e a terra não pode seguir em com atitudes predatórias, pensando nos recursos materiais como acessos infinitos. Precisamos reverter lógicas lineares de produção e introduzir formas sustentáveis, economicamente viáveis e ambientalmente necessárias, em defesa e promoção da saúde dos ecossistemas do qual somos parte .”, destacou Siviero.

Para Nei Alberto Pies, viver uma experiência coletiva de produção de alimentos significa potencializar a força da cooperação, ao invés da competição. Significa colocar a terra a serviço do ser humano, dividindo os frutos que a mesma dá, a partir do trabalho que gera vida e dignidade.

Há mais de 20 anos deixei a roça, mas os cuidados com a produção de alimentos saudáveis e produzidos em escala familiar, não. Manter uma horta em sociedade com um vizinho permite também vivenciar a experiência de tantos agricultores e agricultoras familiares que faziam, e ainda fazem, experiência de trocas de trabalho, de maquinário compartilhado, de ajuda mútua em períodos de maior necessidade de mão de obra para a colheita de alguns produtos.

Por fim, Pies afirma ainda o prazer de dividir com outros vizinhos e amigos, as sobras da produção, como fazem até hoje muitos agricultores e agricultoras familiares.

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Outro aspecto abordado é a implantação de um minhocário para a produção de húmus, a partir de restos de vegetais e frutas. A horta utiliza também água coletada das chuvas, utilizada para molhar as plantas por sistema de gotejamento, via gravidade natural.

Por fim, como mostra a matéria, a implantação de pequenas hortas na cidade pode ser importante alternativa econômica numa época em que há uma alta de preços dos alimentos, em especial, verduras e hortaliças. A matéria destaca ainda a importância dos conhecimentos e do planejamento para que as hortas se tornem viáveis.

Assista a matéria: https://fb.watch/cbYR4JLGbn/

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“Quantos, como eu, matam saudades de sua terra visitando propriedades que ainda resistem em levar adiante um estilo de vida interiorano! Colhem, no inverno abundante das frutas, o sabor de suas saudades e recordações. Visitam, no verão, matas, riachos, casas, salões comunitários, em busca de algo que um dia deixaram para trás: a simplicidade e a compaixão pela terra”. https://www.neipies.com/vida-na-roca-2/

Edição: Alex Rosset

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