Quem já não ouviu falar de que tal história daria um livro! Pois é, as histórias que andavam de boca em boca e que poderiam ser liquefeitas, viraram livro. Parafraseando o livro mais lido do mundo, pode-se dizer que os verbos reunidos tornaram-se o livro Recordações Maristas.
Há muitos leitores que perguntam qual a melhor modalidade para se ler um livro, jornal ou revista. Respondo que cada leitor tem seu jeito de mergulhar num texto. Se for um livro de contos, ou crônicas, alguns preferem selecionar alguns títulos, começando pelo mais impactante, ou ir àquele que melhor atende suas expectativas.
Caso for a leitura de uma revista, a mesma regra, isto é, seleciona o artigo melhor ilustrado, sempre visando o tema de seu maior interesse. Já no que se refere ao jornal, há os que começam pelo final, onde consta a crônica do David Coimbra, ou o horóscopo. Outros ainda preferem a página policial, ou a parte esportiva. Vejo tanta gente lendo de trás pra frente!
Resumindo, cada leitor é único, selecionando o que mais lhe interessa. Pois lhe digo, ao ler o livro Recordações Maristas, há nele um misto de depoimentos, testemunhos, contos e crônicas, organizados pelos professores Agostinho Both e Eládio V. Weschenfelder.
Assista ao vídeo de lançamento da obra: Neste vídeo está registrado um entusiástico e significativo lançamento de Livro Recordações Maristas, organizado pelos professores Eládio Vilmar Weschenfelder e Agostinho Both. O lançamento do livro foi no dia 23 de outubro de 2021, às 18 horas. https://youtu.be/j4KuLWT5yZo?t=70
Como antologia, outros escritores participam ativamente falando sobre episódios vivenciados durante o processo de formação para serem religiosos Maristas, mas que, por razão de cunho pessoal, seguiram o rumo laico.
Na Parte I, Agostinho Both, Anilo Whatier e Rení G. Oleksinski tratam sobre três alterbiografias sobre os Irmãos Maristas Victor Rossetto, Pedro A. Weschenfelder e Taciano P. Rizzotto. Também tecem significativas informações sobre a importância da obra educativa Marista, desde sua origem até a contribuição à criação da Universidade Federal de Santa Maria e Universidade de Passo Fundo, inclusive da PUC/RS.
Aos leitores que preferem a leitura de textos mais breves e impactantes do ponto de vista do final imprevisível, como doses de humor e quebra de paradigmas, indicamos a Parte II, escrita pelos Ex-Irmãos Maristas que, por um longo tempo estiveram juntos, mas que agora se reúnem para contar histórias na forma de livro. Que ler, verá!
Quem já não ouviu falar de que tal história daria um livro! Pois é, as histórias que andavam de boca em boca e que poderiam ser liquefeitas, viraram livro. Parafraseando o livro mais lido do mundo, pode-se dizer que os verbos reunidos tornaram-se o livro Recordações Maristas.
Nossa proposta é provocativa. Quantas possibilidades nos aguardam no sentido de darmos novo direcionamento a nossa prática docente partindo da realidade, dando sentido profundo à vida do aluno e engajando-o em atividades significativas para ele, que lhe trarão, além de conhecimentos, a aplicação na realidade deles, a convivência com os outros e o autoconhecimento.
O que oferecer aos alunos? Qual será o papel dos professores? Como adequar, no Plano Político Pedagógico da Escola, a proposta da BNCC a ser gradualmente implementada, especialmente quanto ao desenvolvimento das habilidades socioemocionais? Estes são alguns questionamentos inquietantes que surgem agora na mente dos diretores, equipe técnica e professores das escolas de todas as redes em nosso Estado.
Deixando de lado a questão dolorida histórica de desvalorização financeira do educador e a falta de recursos básicos nas escolas, que provocam desânimo natural, ousamos refletir, como educadora, sobre os desafios deste novo tempo que, após a parada obrigatória exigida pela pandemia da Covid 19, na esperança de retorno da normalidade, com todos os cuidados necessários, como poderemos agir no ensino, nas escolas.
Estamos no raiar de uma nova época, novo momento histórico para a Humanidade, onde a família e a escola têm papel relevante na reintegração da vida cotidiana da criança e do jovem, na busca, até, de recuperar o tempo perdido.
Sueli Ghelen Frosi, da Escola de Pais do Brasil afirma que pais e mães sempre são educadores e que devem ser parceiros da escola, para a humanização dos filhos. Os filhos são educados pela linguagem, pelas emoções, pelo respeito e pelos exemplos. Assista!
Entendemos que todo projeto educativo deverá partir da ideia de PERTENCIMENTO do aluno nos diversos grupos sociais que ele está inserido, família, rua, bairro, município. Trabalhar a sua história pessoal, da família, da escola, do município, do Estado, da nação, do mundo.
O aluno precisa sentir-se parte integrante de toda esta rede vibrante de vida, como um ser social e histórico e, de que forma ele poderá ajudar a promover a mudança para melhor. O trabalho decente ocorrerá num processo interdisciplinar e transdisciplinar visando atingir este fim.
O aluno precisa sentir que pertence a este lugar (município) onde seu lar está inserido, onde ele nasceu ou mora. Para sentir-se integrado a este meio, precisa conhecer a sua História, aprender a reverenciar os antepassados, a cultura, as expressões religiosas, a base da economia, sua produção, a organização política e administrativa, a situação do meio ambiente, a sua preservação etc. Esta abordagem pedagógica feita pela escola abre amplo leque de atividades didáticas que devem ser planejadas com a colaboração da comunidade escolar.
O meio ambiente onde estamos inseridos deve ser o ponto de partida para esta reflexão. Nesta perspectiva temos que levar em conta a administração pública do município, suas diversas secretarias e seus objetivos entrelaçados umas com as outras. Por que? A Secretaria de Educação deverá estar em sintonia maior com a do Meio Ambiente e as demais secretarias.
Temas como: Reciclagem e coleta de lixo, poluição da água, ar e solo, produção de energia limpa, adubo orgânico, os agrotóxicos e outros que serão levantados pelos grupos, proporcionam motivação de mudança de comportamento que trará interesse para o aluno participar.
Estas atividades práticas que vão surgir, ajudam a desenvolver as habilidades socioemocionais como: horta na escola, de legumes e ervas medicinais, hortas comunitárias, ajardinamento da escola, plantio de árvores. Participação de recuperação de áreas verdes, de locais públicos, enfim, uma gama de atividades que poderão surgir em forma de projetos construídos coletivamente na escola.
Toda atividade deve ser embasada no estudo das áreas de ensino e das disciplinas que a escola proporciona. É um trabalho de rede, de integração, que atingirá individualmente o aluno, despertando nele a vontade de colaborar, cooperar, interagir, produzir de forma fraterna, superando os desafios dos conflitos naturais pois ele pertence a este espaço e pode melhorá-lo.
Os recursos da Natureza representam a maior fonte de equilíbrio para a pessoa. A observação e a interação com a mesma estimulam a elaboração de bons pensamentos, da consciência participativa e estimula a vontade de executar atividades boas, produtivas, que nos aproxima uns dos outros com alegria e fraternidade.
Aprender com a Natureza o processo de comparação de vários aspectos da vida, de seu verdadeiro significado e leva a nos identificarmos o transcendental, o divino. É surpreendente para o aluno verificar que a semente guarda dentro de si a vida, a árvore, a nova planta.
Nos aflige ver, pelas mídias, as queimadas e desmatamento da floresta amazônica. Quem de nós não gostaria de ir até lá ajudar a apagar o fogo e plantar novas árvores para recuperá-la? Precisamos perceber que o meio ambiente de nosso município também está degradado, poluído, não podemos ir à Amazônia, mas podemos, em ação conjunta, através de educação consciente, ajudar a recuperar o espaço em que estamos inseridos e que dele usufruímos.
Nas grandes cidades de países desenvolvidos, verdadeiras selvas de pedra, encontram-se parques naturais, como em Paris, Madrid, Lisboa, Coimbra, New York, onde as escolas levam seus alunos para aprender jardinagem, semear, fazer mudas de vegetais, em local especial para esta atividade. Cada cidade deveria ter seu horto florestal, seu jardim botânico, espaços que são verdadeiras salas de aula natural, ao ar livre. Qual é a arvore ou planta símbolo de seu município? Você conhece?
Um dos maiores ecologistas e ambientalistas do mundo, o agrônomo José Lutzenberger, era gaúcho, nos deixou um grande legado; já é falecido. Ele atuou na Área de Educação Ambiental e na promoção de tecnologias brandas socialmente compatíveis, tais como: Agricultura Regenerativa, Manejo Sustentável dos Recursos Naturais, a Medicina Natural. Nos deixou um grande legado na promoção da luta pela preservação ambiental. Criou o Rincão Gaia, em Rio Pardo, RS, numa área de 30 hectares, que estava totalmente degradada, devastada pela exploração de basalto e hoje é exemplo vivo de como podemos recuperar a natureza e torná-la útil ao ser humano.
Nossa proposta é provocativa. Quantas possibilidades nos aguardam no sentido de darmos novo direcionamento a nossa prática docente partindo da realidade, dando sentido profundo à vida do aluno e engajando-o em atividades significativas para ele, que lhe trarão, além de conhecimentos, a aplicação na realidade deles, a convivência com os outros e o autoconhecimento.
“Ser dialógico, para o humanismo verdadeiro, não é dizer-se descomprometidamente dialógico; é vivenciar o diálogo. Ser dialógico é não invadir, é não manipular, é não sloganizar. Ser dialógico é empenhar-se na transformação constante da realidade. Esta é a razão pela qual, sendo o diálogo o conteúdo da forma de ser própria à existência humana, está excluído de toda relação na qual alguns homens sejam transformados em “seres para outro” por homens que são falsos “seres para si”. É que o diálogo não pode travar-se numa relação antagônica” (FREIRE, 1983. p.43).
Independente da “série” ou ano de estudo do estudante, é importante que eles sejam envolvidos nas aulas desde o início, para que essa ocorra como uma “comunidade de investigação[1]”, nesse caso, do fenômeno religioso. Para tanto, se faz necessário partir de uma concepção dialógica de educação, na qual o estudante e docente são sujeitos que se colocam em processo de aperfeiçoamento e construção de saberes.
Essa concepção requer uma antropologia segundo a qual estamos em formação permanente, nos educamos juntos mediatizados pelo mundo como dizia o educador, filósofos e sociólogo Paulo Freire. Sendo o diálogo a opção metodológica para o ensino religioso, já se cumpre um dos requisitos deste componente que é educar para a valorização da diversidade, da pluralidade, das alteridades.
Para ser fiel a essa concepção de educação e de metodologia, é importante conhecer a religião dos estudantes, as vivências que possuem e qual compreensão já trazem consigo no que tange o Ensino Religioso escolar. Tendo o conhecimento do contexto religioso dos estudantes é possível contemplá-lo e inseri-lo no campo da cultura religiosa, partir de vivências favorece para a adesão e envolvimento dos estudantes. Feito isso é necessário e urgente distinguir ensino de religião do Ensino Religioso, ideia que precisa ser lembrada com frequência e em diferentes momentos da caminhada letiva, visto que muitos ainda concebem as aulas deste componente como sendo de caráter doutrinário.
Uma vez dado esse passo significativo, é de grande relevância que o professor, a professora trabalhe, sempre que possível, a perspectiva interdisciplinar deste componente, cujo saber, nasce também de um olhar para a filosofia, as ciências da religião, a história e a sociologia.
O trabalho interdisciplinar pode favorecer a valorização da área de Ensino Religioso e das ciências humanas, o que significa também promover uma educação humana e humanizadora que se opõe a perspectivas tecnicistas e meramente empresariais. Em seguida, apresentamos o que pode ser uma estrutura, um dos caminhos para aulas de Ensino Religioso comprometidas com os fundamentos apresentados no segundo ensaio.
Para bem realizar esse intento de respeito as alteridades, valorização da vida e promoção da diversidade cultural e religiosa, dentro de uma perspectiva dialógica, é importante dar início às aulas com uma atividade prévia, ou seja, uma técnica ou dinâmica que mobiliza para o estudo/investigação que se deseja fazer de acordo com o objeto que se pretende abordar. Essa atividade previa pode ser prática, ou ainda consistir em um audiovisual, música, tirinha, discurso, notícia, análise de obra de arte.
Num segundo momento da aula, é importante problematizar fazendo a ligação do conteúdo com a história, a filosofia, a sociologia ou outro componente de acordo com as possibilidades do objeto que está sendo trabalhado. Suponhamos que se trate do conceito intolerância, a atividade prévia pode consistir numa notícia sobre intolerância, num audiovisual que conte essa situação, e a problematização pode ocorrer na análise de dados acera da intolerância religiosa no Brasil e ou no mundo.
Importante desenvolver nos estudantes as habilidades de problematização, visto que são as perguntas que movem as investigações e possibilitam a criação de hipóteses fazendo da sala de aula um espaço propício para valorização e produção cientifica.
No terceiro momento da aula de Ensino Religioso pode ocorrer a fundamentação a partir de um texto especifico, e ou audiovisual sobre; mantendo o exemplo anterior o texto pode tratar sobre a diversidade religiosa, a distinção entre ecumenismo e diálogo Inter religioso, a alteridade como princípio ético; as leis em torno da liberdade religiosa. A escolha do recurso vai depender do objeto que será trabalhado, do perfil da turma e da proposta didático pedagógica da instituição.
No quarto momento é muito importante sistematizar a aula visando ser fiel a proposta da habilidade que estiver em questão, é importante que nesse momento o estudante apresente os resultados do estudo no qual participou e interagiu como um sujeito ativo do processo de aprendizagem.
Essa sistematização final pode ocorrer a partir da produção de um texto, da confecção de mensagens, banner, cards, jogos educativos. Pensando no conceito de intolerância, por exemplo, o estudante pode produzir uma “peça publicitária” com a intenção de combater a intolerância religiosa; um jogo de tabuleiro e ou jogo digital sobre o tema, uma poesia, uma história em quadrinhos, um desenho. A escolha desse recurso dependerá do segmento, do perfil da turma. Nos quatro momentos sugeridos aqui, a sensibilidade docente para a escolha dos melhores caminhos é imprescindível.
Entendemos que uma prática que ocorre observando a fundamentação que apresentamos e esses passos metodológicos está em sintonia com as habilidades da área de Ensino Religioso propostas na BNCC, a saber:
Conhecer os aspectos estruturantes das diferentes tradições/movimentos religiosos e filosofias de vida, a partir de pressupostos científicos, filosóficos, estéticos e éticos.
Compreender, valorizar e respeitar as manifestações religiosas e filosofias de vida, suas experiências e saberes, em diferentes tempos, espaços e territórios.
Reconhecer e cuidar de si, do outro, da coletividade e da natureza, enquanto expressão de valor da vida.
Conviver com a diversidade de crenças, pensamentos, convicções, modos de ser e viver.
Analisar as relações entre as tradições religiosas e os campos da cultura, da política, da economia, da saúde, da ciência, da tecnologia e do meio ambiente.
Debater, problematizar e posicionar-se frente aos discursos e práticas de intolerância, discriminação e violência de cunho religioso, de modo a assegurar os direitos humanos no constante exercício da cidadania e da cultura de paz. (BNCC, 2018)
Tendo apresentado sugestões metodológicas para aulas de ensino religioso, entendemos que a realização de feiras ecumênicas e inter-religiosas envolvendo outros componentes curriculares potencializam a construção de um ensino comprometido com a valorização da alteridade, com a pesquisa e produções capazes de fomentar a cultura da paz.
Ainda, neste aspecto, entendemos que colocar os estudantes em diálogo com líderes de diversas religiões e filosofias de vida potencializa o estudo dos objetos do conhecimento de cada segmento da educação básica, essa proposta pode ser elaborada em consonância com a proposta pedagógica das diferentes instituições, em espírito de diálogo e valorização da legislação em vigor.
Muito mais do que ensinar no sentido de transmitir o que propomos, especialmente neste último ensaio, foi a construção conjunta de saberes, o que significa também produção de ciência.
O Ensino Religioso, área de conhecimento e componente curricular, possibilita acesso ao amplo conhecimento religioso já presente na história e nos habilita para a ampliação e construção de cultura, que se deseja de paz, de respeito a vida e de efetivação dos Direitos Humanos. À você que nos acompanhou nessa trajetória fica o convite: partilhe de sua experiência, com ela podes enriquecer essa reflexão que segue em construção.
Para refletir (individualmente ou em grupo de professores):
1. Qual metodologia você utiliza para as aulas de Ensino Religioso?
2. De que aulas de Ensino Religioso você lembra? Explique.
3. Partilhe vivências que te marcaram na escola (palestras, feiras, encontros, passeios). Como a pluralidade, a diversidade, as alteridades foram contempladas nesses acontecimentos?
REFERÊNCIAS:
BENINCÁ, Elli. Religião, Saúde e o Popular. Passo Fundo. Editora Berthier 2010.
BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. Brasília, 2018.
SOUZA, Tania Silva. O ensino de Filosofia para crianças: uma nova perspectiva a partir de Matthew Lipman. Polymatheia, v. 8, n. 13, p. 58-75, 2015. Acesso em: 25 jun. 2020.
FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. 18 ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1983.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra. 1996.
Autor: Marciano Pereira.
Edição: Alex Rosset
[1] Conceito emprestado do pensador Matthew Lipman, que tratando sobre filosofia pra crianças sugere que as aulas sejam espaços de investigação de problemas, proposição de hipóteses, fazer que ocorre entre sujeitos envolvidos numa proposta dialógica capaz de fomentar a cidadania, a democracia e pôr consequência os direitos humanos.
A obra Topologia da Violência do filósofo Byung-Chul Han (2016) constitui um preciso escrito para analisar o tema da violência em suas múltiplas faces. A leitura dessa obra constitui uma aprendizagem e uma reflexão ímpar. Não havia ainda lido algo com essa compreensão da violência.
Apesar de ser uma prática tão antiga quanto a espécie humana, a violência com certeza continuará sendo um tema instigante sobre o qual precisamos pensar, estudar, investigar, refletir e escrever. Dentre as coisas que nunca desaparecem, a violência certamente pode ser incluída e por isso constitui assunto/tema/problema da antropologia, filosofia, política, psicologia, história, sociologia, economia, literatura, educação. Sua forma de aparição varia segundo a constelação social.
Na atualidade, ela tem se modificado de visível para invisível, de frontal para viral, de direta para mediata, de real para virtual, de física para psíquica, de negativa para positiva e, sutilmente, se retira para os espaços subcomunicativos e neuronais, de tal maneira que pode dar a impressão de que desapareceu. Porém, um olhar mais apurado possibilita perceber que ela se mantem constante, presente, invisível.
A obra Topologia da Violência do filósofo Byung-Chul Han (2016) constitui um preciso escrito para analisar o tema da violência em suas múltiplas faces. A leitura dessa obra constitui uma aprendizagem e uma reflexão ímpar. Não havia ainda lido algo com essa compreensão da violência.
Han consegue nos fazer participar de sua reflexão devido a clareza com que aborda o tema. Se compreendermos o modo como a experimentamos e as múltiplas faces pela qual ela se constitui ao nosso redor talvez possamos não somente fazer dela nosso objeto de estudos, mas mudar os contornos da vida e de nosso modo de viver.
Byung-Chul Han, nascido na Correia do Sul em 1959, estudou Literatura alemã e teologia na Universidade de Munique (Alemanha) e Filosofia na Universidade de Friburgo/Alemanha, onde também se doutorou em 1994 com uma tese sobre Martin Heidegger. Na atualidade é professor de Filosofia e Estudos Culturais da Universidade de Artes de Berlim. É autor de mais de uma dezena de qualificados Ensaios dentro os quais está Topología de la Violência, objeto da presente reflexão. O Ensaio é composto de 13 capítulos, divididos em duas partes: a primeira, intitulada Macrofísica da Vilência, é composta de 5 capítulos; a segunda, intitulada Microfísica da Violência, é composta de 8 capítulos.
Para Han é possível adquirir o poder por meio da violência, mas é um poder frágil. “É um erro pensar que o poder remete à violência. A violência tem uma intencionalidade completamente distinta do poder”. Tanto a macrofísica da violência quanto o poder “do soberano” são fenômenos da negatividade.
Na atualidade o “poder e a violência” não representam um meio fundamental para a política. “Com a positivização da sociedade, também o poder, como meio socioimunológico, perde cada vez mais significação”. Não significa o fim da “violência”, mas um novo tipo de violência, porque esta não se manifesta somente na negatividade do outro, mas também na positividade.
Da macrofísica para a microfísica. “A violência macrofísica destrói toda a possibilidade de ação e atividade. Suas vítimas são jogadas em uma passividade radical. A destrutividade da violência microfísica, ao contrário, tem sua origem no excesso de atividade que se manifesta como hiperatividade”. O outro não é mais o inimigo, mas o competidor. Este não gera nenhuma reação imune. A micrológica da violência que será explorada na segunda parte deste livro, é uma lógica do igual. “E o terror do igual”
As reflexões de Han em Topologia da violência certamente constitui um rico arsenal para pensar os dilemas e conflitos vivenciados na sociedade contemporânea. Além de dialogar com diversos autores de distintas áreas, Han apresenta uma amplo e complexo panorama do lugar da violência no cenário da sociedade atual.
Uma boa leitura para educadores, pesquisadores, profissionais de distintas áreas e principalmente para todos aqueles que buscam compreender as novas e distintas patologias provocadas pela violência que se faz sentir nos micro e nos macros espaços da globalização.
A cidade, outrora local de convivência, de contatos freqüentes, de vida social intensa, está se tornando espaço de segregação onde os muros estão cada vez mais altos ao redor das casas, dos condomínios, dos parques, das praças, das escolas, dos escritórios. Leia mais: https://www.neipies.com/a-mixofobia-da-cidade/
A evasão escolar é um problema real, agravado durante a pandemia. No entanto, é necessário destacar que o descaso do Governo do Estado com a educação e com as políticas de inclusão social e de transferência de renda é uma das causas para esta realidade.
Com o programa Avançar Educação, o governador Eduardo Leite (PSDB) prioriza o marketing vazio e sua campanha presidencial, ao invés de dialogar com a comunidade escolar, valorizar educadores e garantir de fato uma ação concreta para diminuir a desigualdade social.
Durante toda a sua gestão, Leite tirou a educação pública da sua lista de prioridades. Desde antes da pandemia só fez retirar direitos, fechar escolas e diminuir investimentos na pasta.
O mesmo acontece com as políticas de inclusão social, tão necessárias para garantir o direito à educação. Leite tardou em lançar o auxílio emergencial gaúcho e não conseguiu executar nem 11% do previsto, novamente quem mais precisa na mão.
Em um cenário de sucateamento total, nas escolas do Rio Grande do Sul falta tudo: professores, funcionários, infraestrutura e segurança. Até 11 de março de 2020, em apenas 9 meses, Leite (PSDB) já havia fechado 61 escolas da rede estadual e 1.889 turmas.
Com a pandemia, o cenário só se agravou. Novamente o executivo gaúcho lavou as mãos, não garantindo nenhum plano de melhoria neste período. Pesquisa do CPERS Sindicato, que ouviu 695 escolas gaúchas, apontou a falta de 1149 profissionais e 85,1% dos participantes consideram que os EPIs recebidos não foram adequados.
A falta de valorização dos educadores também é gritante. Há sete anos a categoria não recebe reajuste. Servidores da SEDUC estão desde novembro de 2014 com salários congelados, mesmo com o fato de que não conceder a inflação fere a previsão constitucional de irredutibilidade salarial. Negar este repasse tem o mesmo efeito prático de uma redução.
Desta forma, apresentar projetos após 3 anos de inércia e ataques, sem garantir a reposição salarial dos trabalhadores e nem a conexão com uma política permanente de transferência de renda para a população, é pura maquiagem eleitoreira.
A educação não pode mais esperar! Dinheiro, o governo tem! Basta priorizar o que importa!
Infelizmente, gurus modernos e livros de autoajuda barata não se cansam de afirmar que devemos focar apenas em nossos pontos positivos.
É difícil, para qualquer um, aprender a conviver com seu lado obscuro. Todos nós deveríamos adquirir consciência do mal que carregamos. Infelizmente, gurus modernos e livros de autoajuda barata não se cansam de afirmar que devemos focar apenas em nossos pontos positivos.
Outras vertentes do pensamento, como a Psicanálise, focam mais naquilo que nos incomoda e, quer desejemos ou não, faz parte de nós. Não está no outro, no vizinho. No colega de trabalho, no partido político, no sistema. Sendo parte de nossa natureza em termos de espécie, está em todos.
Outra linha da psicologia a trabalhar muito bem com esse “eu nefasto” é a Psicologia Analítica. Fundada por Carl Gustav Jung na primeira metade do século passado, ela tem um conceito específico para se referir a isso: sombra.
A sombra é, segundo Jung, parte de nossa estrutura psíquica. É aquele aspecto rejeitado de nós mesmos que, muitas vezes, nem ousamos admitir, repleto de egoísmo e violência. A sombra não deseja nada além de satisfazer seus próprios desejos, pouco se importando com questões morais.
Quando não conseguimos suportar nossos piores defeitos, os projetamos nos outros.
Não devemos nos surpreender, assim, com notícias sobre pessoas que, gritando contra a corrupção, acabam elas próprias sendo presas por cometerem tal delito ou crimes piores.
Pelo mesmo motivo, é bom desconfiar de alguém muito esforçado em passar uma boa imagem de si mesmo, em parecer dócil e correto. Pode ser alguém que, tendo dificuldade em suportar sua própria sombra, a projeta nos outros e, ao mesmo tempo, faz um esforço hercúleo para a esconder de si.
Ninguém é “bonzinho”. O santo e o sábio são idealizações, objetivos inatingíveis. Servem para nos auxiliar em nossa busca pela perfeição.
Precisamos, no entanto, ter consciência de que jamais seremos perfeitos.
Você já parou para pensar quais são os aspectos mais sombrios da sua personalidade? A Sombra é um assunto que muitas pessoas não gostam e evitam falar sobre. Assista: https://youtu.be/YohTU-38s00?t=99
Sugestão de uma prática pedagógica– (Aulas de Filosofia ou Ensino Religioso –Anos Finais do Ensino Fundamental
Agora que você já leu o texto, responda:
1) Quais são seus três defeitos mais aparentes?
2) “Quando não conseguimos suportar nossos piores defeitos, os projetamos nos outros.” Explique, com suas palavras, esse trecho.
3) Usamos as palavras sem parar para pensar em seu real significado. O que é um defeito?
4) Se, conforme afirma o texto, jamais seremos perfeitos, de que adianta, então, buscar a perfeição?
4) Depois de assistir ao vídeo Como limpar sua sombra (https://youtu.be/YohTU-38s00?t=99 ), faça um breve resumo do que você entendeu.
Há 31 anos trabalhando como educadora, Ana Delise leva consigo o amor por ensinar, muitas histórias e agora o título de Professora Emérita 2021
(Matéria Jornalista Andressa Wentz)
“Deixa a gente voltar pra cá, Ana”, é o que dizem os alunos para a diretora Ana Delise quando saem da Escola Municipal de Ensino Fundamental Daniel Dipp para cursar o Ensino Médio. Ana Delise Cassol, a menina que entrou para o magistério com 15 anos por conta de um desejo da mãe – que sempre quis a sua independência –, hoje carrega consigo 31 anos na educação, o título de Professora Emérita de 2021, e a pedagogia freireana.
A mãe do Marcelo e do Gabriel, e esposa do Jaime, é natural de Entre-Ijuís, graduada em Estudos Sociais, pós-graduada em Geografia e especialista em Gestão Escolar. Foi em um primeiro de março que Ana chegou à Passo Fundo, no ano de 2004, após ter sido aprovada em um concurso da Prefeitura. Antes de encontrar a Daniel Dipp, a professora havia passado pelas EMEFs Professor Arno Otto Kiehl e Antonino Xavier. Embora fossem escolas diferentes, seu objetivo sempre o mesmo: fazer com que os alunos construíssem seu próprio espaço. “Olhar nos olhos, não de cima”.
Seu envolvimento com a equipe diretiva da Daniel Dipp começou quando foi convidada pela professora Leonise Cola para ser sua vice-diretora, mas havia uma condição: Ana só aceitaria se pudesse trabalhar diretamente com os alunos. O que sempre quis foi fazer parte de suas histórias. “Foi um trabalho constante para que os estudantes gostassem da escola, sentissem que ela é a casa deles, e que é da comunidade”.
Até então, não se percebia por parte dos alunos um amor pelo local… Quem buscou construir esses afetos foi a direção. A aproximação foi acontecendo aos poucos, por meio do diálogo e da confiança, criando um espaço onde quem estudasse na Daniel Dipp pudesse sentir que lá existe um lugar para chamar de seu. Um lugar para voltar e dizer que sente saudades – e é o que acontece. “Que escola você quer deixar para o seu filho? Eu e Nadia – sua vice-diretora e companheira – dizemos a eles quando não tomam o devido cuidado com o ambiente escolar. Mas a mão que puxa a orelha, também é a mão que afaga.”
Uma escola colorida
No Dipp, não há sala da diretora. A direção é um espaço amplo, onde todos podem estar. Fazer com que os alunos sentissem medo da equipe diretiva nunca foi a intenção de Ana Delise, pelo contrário, ela acredita em conversas abertas e em dar chances. Embora seja firme – uma ‘tigra’ – quando é preciso. “Quando o aluno tem medo da diretora é porque a única metodologia utilizada é a da ameaça. Nesses casos, não existe liberdade para o estudante”.
Quanto à inclusão, essa também é uma de suas bandeiras. Não só de Ana Dê – como é chamada pelos amigos –, mas de toda a Daniel Dipp. Para a diretora, o essencial está no olhar com carinho, na socialização em sala de aula – sem separações –, e em permitir que os alunos evoluam dentro de seu próprio tempo. Afinal, no Dipp tem lugar para todos. E todas.
Sala de aula construída pelos alunos, escadaria literária, reformas no ginásio, ambiente acolhedor para professoras e professores… Muitos foram os projetos desenvolvidos pela atual gestão. A Escola Colorida foi um deles, onde a proposta se baseava em colorir paredes e espaços físicos para que ficassem com a cara dos estudantes e dos educadores, captando aquilo que mais gostassem. Colorir por fora aquilo que já estava sendo pintado por dentro.
Para Ana Delise, mudar o mundo físico dá trabalho, mas transformar a mente das pessoas dá mais ainda. É aí que entra o papel da educação. “Tem uma frase do Piaget que eu gosto muito, é a seguinte: “O principal objetivo da educação é criar pessoas capazes de fazer coisas novas, e não simplesmente repetir o que outras gerações fizeram””. No fim das contas, pode-se dizer que educar e transformar são sinônimos.
Mas nenhuma mudança teria conseguido realizar sem sua equipe diretiva, ela conta. Foi em conjunto da vice-diretora Nadia Bolzan, das coordenadoras Angela Santos, Camila Santos e Vera Lucia Mazuco e da orientadora Maria Andreia Reginato que construiu o Daniel Dipp de afetos que existe hoje.
Porém, não é só com o carinho dos alunos, da gestão e dos professores com o qual Ana pode contar. E também não são só os alunos que sentem falta do Dipp. O professor Tiago Machado sente a mesma saudade. Para o professor de História e atual diretor administrativo do CMP Sindicato, nos dois anos em que esteve na escola encontrou um dos melhores ambientes para desenvolver sua ação docente. Um privilégio. E, em grande parte, o local tão receptivo se deu pelo trabalho do grupo da direção. “Quem conhece a professora ‘Ana Delícia’ sabe que a mesma é uma grande educadora, administradora e defensora do ensino público de qualidade”.
A verdade é que o que Ana Dê sempre quis foi deixar um legado. Deixar marcas nos estudantes. Hoje, sempre que um deles entra em sua sala carregando uma florzinha amarela – dessas do campo – para dar a ela de presente, pensa que não há algo mais precioso que seu trabalho.
Eu fico me questionando como se sentem os bebês e as criancinhas. Se nós, adultos, nos sentimos perturbados com o barulho de uma música horrível, imagine esses seres tão pequeninos e que tanto precisam de cuidados.
Para começarmos bem um texto, que também pode ser lido como um poema às crianças, precisamos iniciar com alguns versos que introduzam o nosso pensamento e aqui eu trago Pedro Diniz, poeta português nascido em 1839, que diz “Palram pega e papagaio / E cacareja a galinha; / Os ternos pombos arrulham; / Geme a rola inocentinha.”
Pelos versos do nosso nobre poeta já deu para perceber que vamos falar de sons, mais precisamente desses sons do século XXI que muitas vezes nos nina e noutras nos incomoda a ponto de gritarmos por silêncio. E por falarmos em silêncio, sentimos que está cada vez mais difícil um lugar tranquilo e sereno para podermos refletir ouvindo apenas o canto dos pássaros, ou seja, o som da natureza. Cada vez esse lugar tornar-se mais raro, principalmente para quem mora na cidade grande.
Ouvimos tantos sons o dia inteiro que muitas vezes acabamos acostumados com essa barulheira toda sem darmos conta do grande mal que ela nos faz. É disso que vamos tentar falar neste texto que parece mais um poema com versos tocando cantigas de ninar aos ouvidos de vocês.
Antes de entrar no assunto propriamente mencionado no título, gostaríamos de falar um pouco sobre esse silêncio que é tão bonito e saudável à nossa saúde emocional e física. Estamos esquecendo de ouvir o som da natureza que se traduz no canto dos pássaros, nas ondas do mar, no vento nas folhas das nossas árvores e etc. Vamos caminhando para um barulho ensurdecedor de máquinas de todos os tipos ao nosso redor maltratando os nossos ouvidos e os nossos espíritos.
Há algumas tardes perto da minha casa onde o silêncio paira no ar e conseguimos ouvir a natureza cantar e falar conosco. Ainda acontece essas coisas por aqui. Mas, também tem dias que o barulho do som da casa de espetáculo que tem próxima da nossa rua só falta explodir os nossos ouvidos.
Eu fico me questionando como se sentem os bebês e as criancinhas. Se nós, adultos, nos sentimos perturbados com o barulho de uma música horrível, imagine esses seres tão pequeninos e que tanto precisam de cuidados.
Já não temos mais silêncio nas cidades grandes. Tudo é barulho demasiado. São aparelhos de som ligados em volumes altos, buzinas de carros, máquinas de fábricas, pessoas falando alto de madrugada e construções com as suas máquinas pesadas. O mundo perdeu a sua tranquilidade e ganhou uma porção de sons barulhentos que nada nos diz a não ser de que o homem contemporâneo está trabalhando por demais para conquistar o pão de cada dia para a sua família. Operários em construção são os que mais fazem barulho nas cidades grandes. Não posso reclamar deles. Estão fazendo os seus trabalhos.
Quem dera que as máquinas fossem mais silenciosas. Quem dera que as pessoas aprendessem a arte de ouvir e não tagarelassem tanto umas às outras. Dentro das nossas próprias casas, precisamos saber lidar com o barulho do liquidificador, da televisão em som alto, do irmão que toca bateria e da vizinha que grita o tempo todo com os seus filhos. Esses sons entram pelas janelas, pelas frestas das portas e vão direto para os nossos ouvidos nos afligindo. Nada podemos fazer. As crianças são as que mais sofrem com toda essa barulheira, principalmente as que ainda não sabem falar.
A poluição sonora nas cidades grandes é a segunda maior do meio ambiente, perdendo apenas para atmosférica. Sim, temos barulho por todos os lugares aonde chegamos. É gente falando, é carro buzinando, é vendedor gritando, é campainha tocando e tantos outros barulhos que possamos lembrar quando estamos sentados à espera de sermos atendidos em algum órgão público ou privado.
O barulho vem de todos os lugares. Lembramos do tempo em que éramos telefonistas e fazíamos de três em três meses exames de audição para saber como estava a nossa. O barulho daquelas vozes nos nossos ouvidos durante seis horas todos os dias era incômodo e doía em nós. Muitas amigas perderam a audição ou ficaram doentes. O atendente de telemarketing deve atentar para esse tipo de problema de saúde e se cuidar. Na empresa em que trabalhávamos, havia o cuidado sério com as telefonistas. Nem todas as empresas se preocupam com os seus profissionais, por isso o próprio indivíduo deve procurar cuidados.
Quando criancinhas, perto das nossas casas podíamos ouvir o som da natureza às cinco da manhã. Era a coisa mais linda do mundo. Talvez isso nunca mais volte a ser ouvido. O jumento lá longe dava o seu recado de que já estava acordado, os passarinhos faziam as suas festas nas árvores que se espalhavam pelos nossos quintais, as galinhas cacarejavam nos terreiros, os gatos e cachorros avisavam que o dia nascera e todos esses sons vinham numa sinfonia coletiva. Parece que a natureza combinava de fazer esses sons junto com todos os animais. Nós costumávamos ir ver o rio que passava perto das nossas casas. A água limpinha fazia barulho ao correr da cacimbinha e descer a ladeira. Parece até que estamos ouvindo esse som da nossa infância. A verdade é que o rio não existe mais e nem a cacimbinha. Foi tudo aterrado para a construção de casas e empresas.
O homem que destrói tudo, destruiu o nosso rio. Enquanto escrevemos este texto, escutamos uma cigarra cantar lá longe. As cigarras que são uma das coisas mais bonitas da natureza. Elas anunciam a chegada da noite na nossa cidade.
Temos muito barulho e muitos animais. Os animais além das criancinhas também sofrem muito com o barulho, principalmente os dos fogos de artifícios. Todo final de ano é a mesma coisa nas nossas casas, precisamos abraçar os nossos cachorrinhos para que não morram de medo do barulho desses fogos. Em seus pequenos ouvidos eles tornam-se um barulho enorme, várias vezes maior do que nos ouvidos dos humanos podendo chegar até a matar o animalzinho de infarto. Se fosse apenas um dia no ano ainda estaria bom, mas agora as pessoas resolveram soltar fogos de artifícios nos jogos de futebol e nas campanhas políticas. Qualquer coisa é motivo para queima de fogos. Essas pessoas que fazem isso parecem até que não convivem com animais, crianças e idosos. Elas mesmas não se respeitam. A audição é algo tão perfeito e maravilhoso e, se nós soubéssemos disso, cuidaríamos melhor das nossas.
Vocês já imaginaram como é a vida de uma pessoa surda? Os surdos no nosso país têm poucos direitos. Muitas escolas, órgãos públicos e privados não têm intérpretes de libras, língua oficial dos surdos no Brasil. A falta de intérpretes nessas instituições é grande. Até mesmo nas escolas e academias muitas vezes o surdo deixa de participar de alguns eventos porque não tem intérprete disponível. Não é nada fácil ser surdo no nosso país. Você já pensou querer assistir uma peça teatral, uma palestra, uma aula remota e não poder por que não há intérprete?
A língua de sinais devia ser oficializada em todas as escolas da educação infantil à graduação. É preciso dar voz aos surdos. Nos preocupamos com essa questão porque temos amigos e amigas surdos, mas também porque nos preocupamos com o bem-estar de toda comunidade surda nacional. Vivemos num país onde as pessoas com deficiências têm poucos direitos.
Que façamos barulho para essa comunidade possa ter os seus direitos garantidos principalmente nos postos de saúde, nos hospitais e nos shopping centers. Outro dia, ouvimos uma amiga reclamar de que foi ao posto de saúde do seu bairro e não tinha como se comunicar com o médico porque ele não sabia libras. E era um assunto muito pessoal para dividir com outra pessoa próxima. São esses pequenos detalhes que pedem a nossa participação na luta pelos direitos da pessoa surda.
Atualmente, temos visto muitas pessoas jovens perderem a audição. Antigamente, isso era comum nas pessoas idosas. Os jovens e isso serve de alerta para os pais das crianças também têm passado muito tempo com fones de ouvido escutando músicas ou ouvindo coisas nos seus celulares. Muitos jovens e crianças acham bonito e até charmoso usarem fones de ouvido caros e modernos. Existem fones de ouvido de todos os tipos e para todos os gostos. Outro dia, o meu sobrinho pediu para eu comprar um para ele. Disse que não. Ele ficou aborrecido comigo, mas depois me compreendeu quando lhe apresentei os motivos.
As crianças influenciadas pelos jovens adoram os fones de ouvidos. Algumas alegam que é para não incomodar quem está por perto ou apenas para a sua privacidade mesmo. O certo é que devemos evitar que os nossos jovens e crianças fiquem tanto tempo com esse aparelho.
Outra categoria que tem perdido a audição muito cedo são os trabalhadores de indústrias com máquinas barulhentas. Apesar de todo o cuidado que se possa ter através dos profissionais da segurança do trabalho dessas empresas ainda assim o barulho é tão violento aos ouvidos do trabalhador que ele não suporta e acaba adoecendo. Tem até profissionais desse ramo que recebem insalubridade por trabalharem com essas máquinas barulhentas. Passar seis a oito horas ouvindo o barulho de uma máquina deve ser muito difícil e dolorido ao espírito e ao corpo.
Homens de 35 a 50 anos estão perdendo a audição devido as horas que passam diante dessas máquinas. Muitos desses profissionais depois de perderem a audição são demitidos e não recebem os seus direitos como manda a lei. Diga-se de passagem, a lei trabalhista no Brasil ainda está cada vez mais ausente da vida do trabalhador. Os direitos e garantias nunca são ofertados como deveriam porque falta sempre um órgão para fiscalizar as indústrias e empresas.
O canal auditivo de uma criança é muito menor do que de um adulto e a pressão que entra no ouvido dos pequenos é maior, aumentando os riscos de problemas auditivos. Mas essa não é a única preocupação, já que a exposição a altos níveis de ruído também atrapalha o desenvolvimento e o aprendizado.
A exposição a barulhos e ruídos afeta não somente a criancinha, mas também o bebê na barriga da sua mamãe que a partir do sétimo mês de gravidez já consegue ouvir os sons externos. Mesmo protegido pelos músculos da barriga da mamãe, o bebê consegue ouvir todo o barulho externo e isso afeta a sua audição e emoções. O bebê na vida uterina já começa a sofrer com os problemas do mundo aqui fora, muitas vezes nascendo com traumas e medos que costumamos responsabilizar a outros fatores.
Muitos pais e mães no estresse do dia a dia costumam falar com os seus filhos gritando. Talvez para imporem autoridade e procurarem disciplinar as crianças gritam com elas como se não pudessem ouvi-los se falassem num tom de voz agradável. As crianças que recebem gritos acabam aprendendo a gritar também porque elas sempre imitam os pais e isso vai desencadear problemas emocionais graves na vida adulta.
Ninguém gosta de ouvir gritos. É educado e respeitador conversar baixinho com a criança. Da mesma forma que um grito afeta o emocional da criança também ela é afetada pelos barulhos que vêm de fora da sua casa e entram no seu pequeno mundo. Elas não sabem o que está acontecendo do outro lado das suas casas, mas não conseguem dormir com os barulhos dos carros e dos aparelhos de som dos seus vizinhos.
Nas escolas, o problema da poluição sonora ainda é muito maior. Escolas que não são bem planejadas nas suas construções escutam todos os tipos de ruídos e barulhos que vêm lá de fora. As crianças não conseguem ouvir a professora e a professora grita o tempo todo para que seja ouvida. É um sofrimento ouvir a voz da professora com o barulho das buzinas e de motores dos carros e ônibus. Também tem o barulho que vem da quadra esportiva onde as outras turmas torcem pelos seus times favoritos. As crianças não conseguem aprender desse jeito. É na idade escolar que as crianças estão mais expostas a ruídos elevados e suas complicações.
Na escola, a poluição sonora e a falta de tratamento dos ruídos geram dificuldades de comunicação e aprendizagem, prejudicam o desenvolvimento escolar, além de aumentar o estresse e a frequência cardíaca. Muitas vezes não se sabe o motivo da criança está tão ansiosa ou sofrendo com outras emoções que sozinha não sabe lidar, tudo isso pode vir do barulho com o qual tem que enfrentar todos os dias na escola para tentar compreender o que lhe é ensinado e não ser reprovada no final do ano letivo.
A falta de acústica adequada nas escolas afeta estudantes e professores. Se a sua escola estiver enfrentando barulhos e ruídos externos procure chamar um profissional para que ele possa elaborar um projeto que diminua esse barulho. A NBR 10.151 estabelece que os níveis de pressão sonora para ambientes externos em áreas escolares são de 50 dB no período diurno e de 45 dB durante a noite. Já em ambientes internos os níveis de conforto acústico, de acordo com a NBR 10.152, são os seguintes: 35 a 45 dB em bibliotecas, salas de música e desenho, 40 a 50 dB em salas de aula e laboratórios, 45 a 55 dB em áreas de circulação. Na verdade, esses valores não são respeitados. Há escolas onde o barulho chega a 90 dB. Quando há festas nas escolas também deve-se ter o cuidado para os aparelhos de som que são utilizados não machucarem a audição das crianças. Todo cuidado é necessário e desejável.
As escolas devem ser planejadas antes da construção atendendo as normas acimas, ou seja, com uma acústica adequada, principalmente as que ficam próximas de aeroportos e rodovias. Alguns problemas acústicos podem ser minimizados já na definição do layout da escola. Nessa fase, o projetista acústico vai identificar quais são as áreas mais sensíveis e separá-las das mais barulhentas por corredores, divisões de edifícios etc. Esse zoneamento é utilizado ainda para evitar que fontes ruidosas como a quadra de esportes, por exemplo, fiquem próximas de áreas sensíveis. Um bom projeto evitará que o barulho perturbe as crianças e os professores, sendo assim o ensino-aprendizagem estará garantido.
As crianças que crescem em meio a gritos e barulhos tendem a ter comportamentos agressivos devido estarem extremamente estressadas com o barulho que chega de todos os cantos e lugares. A criança não sabe como agir com todo aquele barulho que nunca para e continua perturbando o seu sono, os seus estudos e o filme na televisão. Muitas dessas crianças apresentam choros inesperados e fazem xixi na cama mesmo depois de grandes. Quando isso acontece é porque elas não estão sabendo como lidar com tanto barulho.
Os pais devem ficar atentos a certos tipos de reação das crianças como a televisão ligada num volume mais alto do que o normal quando não há tanto barulho por perto. Isso é sinal de que a sua audição, de certa forma, está sendo prejudicada por algo, quer seja em casa ou na escola.
Muitas crianças que têm problemas de audição sentem vergonha de usar o aparelho no ouvido com receio de sofrerem bullying e acabam, escondidas dos pais, tirando o aparelho ao chegarem na escola. Com isso, muitas acabam perdendo os seus aparelhos auditivos e inventam as mais diversas mentiras para não serem castigadas. Isso também é um problema escolar. A escola precisa combater esse tipo de bullying, pois a criança necessita do seu aparelho para ouvir bem seus colegas e a sua professora.
Certa vez, peguei as crianças no meio do recreio da escola onde dava aulas brincando com o aparelho auditivo do amiguinho enquanto ele pedia, desesperadamente, para que o devolvessem. O que é mais esquisito nisso tudo é quando alguém sabe que a criança tem baixa audição e fala de seus medos e dificuldades para outra pessoa sem saber que ela pode ler os seus lábios. As crianças são inteligentes por demais como sempre digo aqui. Isso pode deixá-la muito triste e até depressiva. É preciso cuidado quando se convive com essas crianças para que elas não se sintam rejeitadas ou excluídas de alguma tarefa só porque não ouvem bem.
Também temos visto muitas crianças frequentando consultórios de médicos cardiologistas. Algumas apresentam problemas de arritmia cardíaca logo cedo. Os seus pequenos corações não dão conta de tanto barulho. Os gritos que vêm de quem mais amam causam tremor e medo. Os seus lindos sonhos passam a ser pesadelos. Não conseguem dormir bem a noite toda e se sentem sozinhas e abandonadas quando os pais não permitem que durmam na cama com eles. Aquele barulho insuportável lá fora parece não cessar nunca e os seus ouvidos estão doendo com tudo ao seu redor.
Sem conseguir dormir, a criança começa a chorar e a gritar por ajuda acordando os seus familiares. Isso ocorre com os bebês também. Sendo que alguns bebês quando ouvem sons conhecidos sorriem e quando são vozes ou sons que nunca ouviram tendem a chorar como se quisessem nos chamar a atenção para tudo aquilo que lhes é estranho. O bebê não deve ser forçado a ouvir um adulto estranho tentar niná-lo, pois ele pode sentir medo ao invés de conforto e segurança.
A poluição sonora afeta a todos nós, na verdade. Sendo as crianças as mais prejudicadas, por isso devemos cuidar de sempre que possível as levarmos para um lugar sossegado onde só escutem o som da natureza. Colocar a criança para dormir cantando músicas de ninar com a voz doce ou contando-lhes histórias vai acalmá-la e confortá-la. Sempre que se dirigir a uma criança mantenha a voz calma e tranquila para não a assustar. Quem fala de forma branda e suave também é ouvido por todos. Você não precisa gritar como se estivesse numa feira para chamar a atenção da sua criança. Acostume-a a lhe ouvir com apenas um gesto ou uma palavra dita baixinha e docemente. O grito é uma agressão aos ouvidos da sua criança.
E para finalizarmos deixo você, querido leitor, com os versos do meu poeta português predileto, Alberto Caeiro, o poeta da natureza que nos diz “Eu não tenho filosofia: tenho sentidos… / Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é. / Mas porque a amo, e amo-a por isso, / Porque quem ama nunca sabe o que ama / Nem por que ama, nem o que é amar…”
Que os sentidos das crianças possam ser amados com bastante amor, mesmo a quem não sabe o que ama e que ama a criança tanto que é para ela os seus ouvidos e voz. Silêncio, por favor, vai começar a historinha!
A água, tão sagrada para a preservação da vida, será tratada como mercadoria PRIVADA e provavelmente não haverá tarifa social para famílias de baixa renda.
Antes de nascermos, a água já está presente na nossa vida.
A importância da água é inquestionável. Em que pese a crescente população mundial, o aumento de demandas econômicas e sociais que impõem a urgência de se ampliar o consumo de água para a produção de alimentos e para a indústria, a água é um bem comum e não uma mercadoria.
Estudiosos e pesquisadores reconhecem que, atualmente, todos os seres vivos existentes precisam de água para a sua sobrevivência. O corpo humano é constituído em média 60% em massa de água. Os músculos esqueléticos são constituídos por 73% de água.
O plasma sanguíneo chega a ser constituído em mais de 90% de água.
Cerca de dois litros de água são perdidos diariamente do corpo de uma pessoa adulta. Desta forma, a mesma quantidade deve ser reposta para evitar a desidratação, através do consumo de água tratada e alimentos ricos em água, como frutas e vegetais. No caso de nenhuma ingestão de água, o indivíduo morre em no máximo quatro dias.
No Rio Grande do Sul, em 28 de março de 1966, devido a precariedade no abastecimento de água as populações, foi criada a Companhia Riograndense de Saneamento – Corsan, sociedade de economia mista, de capital aberto, sediada em Porto Alegre, a partir da Lei Estadual nº 5.167/1965, sendo que o controle acionário é exercido pelo Estado do Rio Grande do Sul.
Atualmente é inegável que a Corsan proporciona ao Rio Grande do Sul e a sua população qualidade de vida, pois abastece cerca de 6 milhões de gaúchos, conforme levantamento realizado pela companhia e disponível em seu site institucional. Isso representa cerca de 2/3 da população do Estado, distribuídos em 317 municípios.
Nesses 55 anos de existência e atuação no Rio Grande do Sul, a Corsan já se consolidou como uma empresa pública que presta serviços de qualidade, gerando riqueza para o Estado. Prova concreta disso são os cerca de R$ 2 bilhões de lucro somados pela estatal no ano de 2020.
Em Passo Fundo, a Corsan investe em diversas obras de infraestrutura para o tratamento de água e saneamento, especialmente por meio de um Fundo Municipal de Gestão Compartilhada, criado em 2010, por ocasião da assinatura do contrato de prestação de serviço entre a empresa e o Município.
Contudo, apesar de ser considerada uma empresa geradora de desenvolvimento e garantidora da vida, o governo do estado quer privatizar a Corsan.
Após derrubar a exigência de plebiscito, consulta feita diretamente ao povo, por meio de votação do tipo sim ou não à venda de estatais, no dia 31 de agosto de 2021, por 33 votos a 19, os deputados “autorizaram” o governador Eduardo Leite a repassar à iniciativa privada o controle acionário da companhia.
Ocorre que alguém vai se beneficiar com a venda da Corsan, mas não será o povo gaúcho. Serão os representantes do “capitalismo selvagem” que buscam o lucro a qualquer preço. A água, tão sagrada para a preservação da vida, será tratada como mercadoria PRIVADA e provavelmente não haverá tarifa social para famílias de baixa renda.
Não podemos permitir a privatização da Corsan, nem das reservas e mananciais. Preservar o direito humano a água é garantir a vida das próximas gerações.
Ora, os direitos a vida, ao abastecimento de água, a produção de alimentos, a preservação dos recursos hídricos e do meio ambiente, a geração de energia, entre outros temas fundamentais para a existência de um futuro sustentável e justo não podem ser entregues ao interesse privado pelo lucro.
A água é do povo gaúcho E ASSIM DEVE PERMANECER.
Os municípios gaúchos têm agora uma importante missão: precisamos do apoio e da sensibilidade das vereadoras e vereadores, das prefeitas e prefeitos que ainda podem impedir a privatização, pois dispõem de mecanismos como não assinar a proposta do governador do Estado de aditivo aos contratos municipais que estão vigentes com a Corsan. Além disso, também podem fazer a municipalização da Corsan ou buscar alternativas junto à esfera judicial.
Por fim, ressalto que eu acredito na luta e na força popular, o povo organizado também pode evitar um erro sem precedentes no Rio Grande do Sul, que causará prejuízos incalculáveis para a manutenção da vida e do desenvolvimento justo e sustentável de todos os municípios gaúchos.
Continuaremos debatendo esse importante tema nas nossas próximas colunas nesse espaço.
Esta reportagem começou a ser produzida há três meses, portanto, bem antes do assassinato de João Alberto de Freitas por funcionários do Carrefour. E as estatísticas que a reportagem teve acesso já anunciavam que João era um alvo em potencial da discriminação pela cor da pele. Pelos dados do Ministério Público do RS relativos a processos judiciais de racismo e injuria racial nos últimos cinco anos, é possível traçar um perfil tanto de quem comete a violência, como quem é vítima dela. Nos dois extremos, estão o gênero masculino. Os homens, representam 72% dos que cometem o crime e 68% dos que sofrem a violência.
João Alberto era negro, tinha 41 anos e foi morto no dia 19 de novembro, véspera do Dia da Consciência Negra. O tema é complexo, e os números parecem ser a ponta do iceberg, pois apesar dos crimes e denúncias se centrarem no gênero masculino, dados exclusivos da Policia Civil do RS para esta reportagem revelam que as mulheres são as que mais registram boletins de ocorrência relacionados aos crimes raciais. Esta reportagem que você está começando a ler agora, é uma tentativa de juntar pontas e lançar questões para um tema e um crime — o racismo — que tem ganho cada vez mais espaço no Brasil e no mundo.
“Um olhar agressivo […] a expressão no olhar era muito intimidadora, que parecia procurar confusão”. A simples percepção de ter recebido um olhar se tornou o motivo suficiente para que João Alberto Freitas fosse brutalmente assassinado. A afirmação anterior foi retirada do depoimento dado à polícia por uma das funcionárias do supermercado, que teve contato com a vítima minutos antes dos seguranças da loja o conduzirem para fora do prédio para violentá-lo.
O crime segue em investigação, três pessoas foram presas e o crime mobilizou o país e deixou explícito o racismo estrutural no Rio Grande do Sul e no Brasil.
O acontecimento jogou luz sobre as práticas racistas e as posturas das pessoas brancas em relação aos negros, apesar do Brasil ser formado por uma maioria parda ou negra. Não é demais lembrar que a região sul do país é historicamente reconhecida por valorizar sua cultura majoritariamente branca (colonização europeia), o que não acontece quando o tema é a formação afro-brasileira.
A pesquisador Helena Bonetto comprovou como é difícil ser negro na capital gaúcha com a tese A invisibilidade negra na cidade de Porto Alegre, defendida há dois anos no Programa de Pós-graduação em Geografia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). A amostra foi de 336 pessoas: 71% brancos, 27% negros e 2% amarelos. O perfil dos entrevistados estava associado às representações que possuem do Rio Grande do Sul e de Porto Alegre.
Uma das perguntas era: Quando você escuta falar sobre o Rio Grande do Sul, você pensa automaticamente em que grupos culturais? Entre os brancos, o resultado foi: portugueses (37%), italianos (34%), e gaúchos com 13%. Somente 1% dos autodeclarados brancos respondeu que pensa na população negra como grupo cultural relacionado ao estado. Outra pergunta feita na pesquisa foi: Quais bairros que você evitaria em Porto Alegre? Entre os bairros mais evitados, destacaram-se Bom Jesus e Rubem Berta, dois lugares marcados pela grande presença negra.
Os perfis de um Racismo Estrutural
Porto Alegre não está sozinha neste ranking de denúncias. Ainda de acordo com os dados obtidos via Lei de Acesso à Informação, disponibilizadas pelo Ministério Público do RS, a soma dos procedimentos policiais e processos judiciais ocorridos no estado de 2015 até 25 de setembro de 2020 é de 256.
Os destaques ficam, além de Porto Alegre, para Bento Gonçalves e Caxias do Sul (Serra Gaúcha), Canoas (Região Metropolitana) e Rio Pardo (Vale do Taquari). São estas cidades que concentram os maiores registros em cada ano. Já em relação às denúncias coletadas até setembro deste ano, o MP conta com 74 registros.
E, entre os dados, a cidade de Encruzilhada do Sul, que fica na região do Vale do Rio Pardo, se sobressai por ter o maior número de denúncias, cinco, no ano de 2019.
Segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública de 2019, o Rio Grande do Sul é sem dúvida um estado racista. O estado lidera o triste ranking com 1507 registros de injúria racial. Das 27 unidades federativas, apenas 17 disponibilizam dados completos dos anos de 2017 e 2018 para análise. Os dados são baseados em informações das secretarias estaduais de segurança pública, polícia civil e Instituto de Segurança Pública/RJ (ISP). Se comparado ao ano de 2017, quando o estado disparava 1404 registros, o aumento foi de 103 casos*.
Diferença entre os crimes de racismo e injuria racial
Racismo e injúria racial são os únicos crimes existentes tipificados sobre a cor da pele na legislação brasileira. A distinção entre eles, contudo, é pouco conhecida para a maioria. Segundo o Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios (TJDFT), o crime de racismo “é mais amplo do que o de injúria qualificada, pois tem por objetivo atingir uma coletividade, discriminando toda a integralidade de uma raça”. Previsto na Lei nº 7.716, de 1989, é inafiançável, imprescritível, possui multa e sua pena pode chegar até cinco anos de reclusão.
Já o delito de injúria é previsto no artigo 140 do Decreto Lei nº 2.848, de 1940, do Código Penal, com pena de reclusão, que pode ser de um a seis meses, ou multa. No parágrafo 3º, porém, o crime de injúria racial é tratado como uma forma de injúria qualificada, possuindo, nesse caso, pena de um a três anos de reclusão e multa. Quando feita, a vítima recebe ofensas direcionadas à sua raça, cor, etnia, religião, origem, idade ou deficiência.
Agredido em via pública
Em uma tarde de dezembro do ano de 2014, em São Sebastião do Caí, que Luis* teve sua dignidade ofendida em consequência de sua raça e cor. Em plena via pública foi chamado por Maurício* de “ladrão” e “negro macaco”. O agressor afirmou ainda que “negro não podia morar na cidade de Harmonia, deveria morar na Coréia”. A Coréia é o apelido pejorativo do Bairro Navegantes de São Sebastião do Caí, conhecido por ter altos índices de criminalidade, e por abrigar moradores que possuem poucos recursos financeiros.
O relato, retirado do processo nº 70082672676, disponível no Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul (TJ-RS), ressalta que Maurício* foi denunciado pelo crime de injúria racial, pelo artigo 140, parágrafo 3º, do Código Penal. A sentença foi proferida em 2018 e a pena foi de um ano de reclusão, em regime inicial aberto, e pagamento de 30 dias-multa, à razão de 1/30 do salário mínimo vigente ao tempo do fato. Depois, no entanto, foi concedida a substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos, consistente em prestação pecuniária no valor de dois salários mínimos. Recentemente, o agressor ainda pediu apelo à justiça, a fim de reduzir sua pena. Essa, no entanto, foi negada em outubro de 2020, em julgamento.
Os processos
O caso apontado acima representa um dos 6.654 processos que corriam no Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul entre 2015 e 2018. Mais da metade deles não foram levados adiante por desistência ou morte das vítimas (3.376). Em 924 sentenças houve absolvição ou perdão. 349 réus foram considerados culpados, como Maurício. 155 acordos foram feitos. Os números anteriores foram obtidos via assessoria de comunicação do Tribunal de Justiça do RS.
Nos casos de crimes de injúria racial, como a pena máxima é de três anos, o prazo para processar quem cometeu o ato de injúria é mais curto, uma razão para a descontinuidade segundo a juíza da 1ª Vara do Júri de Porto Alegre, Karen Pinheiro, que se destaca na representatividade do tema dentro da magistratura.
“(…) Isso acontece muitas vezes porque vai indo, indo, e aí acaba decorrendo o prazo prescricional.”. Por outro lado, a relação entre a ofensa e o crime racial ainda é difícil de ser vista. “Muitas vezes, a pessoa pratica o fato, chama de negro, de macaco, de negra suja e outros adjetivos. Mas é muito difícil que se aceite que essa conduta seja uma conduta intencional e que a pessoa estaria agindo de maneira racista, de maneira a subjugar ao outro em razão da cor da sua pele”, exemplifica a juíza. Assim, declara que o índice de absolvições acaba sendo significativo por isso, o que é chamado de “racismo recreativo”.
Legenda: Juíza Karen Pinheiro é voz ativa na discussão da temática racial dentro da magistratura gaúcha. (Foto: Flickr/Secretaria de Comunicação Social do TRT 4ª Região do RS)
Punir, se torna ainda mais difícil quando não se tem testemunhas, ou quando as testemunhas que não querem se comprometer, e isso independente do estrato social, como se poderá ver no exemplo a seguir.
Um jornalista injuriado pela cor da pele
Em março deste ano, pouco tempo antes de começar a quarentena, o jornalista Chico Izidro viajou para a cidade de Não-Me-Toque junto da equipe do jornal Correio do Povo, local em que trabalha desde 1994, a fim de cobrir a feira Expodireto. No penúltimo dia do evento agrícola, uma festa foi anunciada para comemorar o sucesso atingido, porém, a data que era para ser alegre se tornou, segundo ele, o fato mais violento que já ocorreu em sua vida. E, mesmo com as diversas ofensas racistas, Chico não pode sequer seguir com um processo em razão da “ausência” de testemunhas.
Legenda: Chico Izidro, jornalista, foi alvo de preconceito racial na cidade de Carazinho. (Foto: Arquivo pessoal)
Antes da ocasião, o jornalista já havia combinado com seu fotógrafo de saírem para comemorar, mas, no fim, decidiram comparecer na festa, que aconteceu na cidade de Carazinho, vizinha do município de Não-Me-Toque. Logo ao chegarem, o jornalista percebeu que, dentre as 20 ou 25 pessoas do local, apenas duas eram negras, contando ele. Em determinado momento do encontro, pediu o controle remoto para uma pessoa próxima e decidiu assistir a um show de blues na televisão. Assim que o programa acabou, outro show começou, desta vez de pagode, o que fez Chico querer mudar de canal. Por não conhecer o funcionamento do controle, desligou o aparelho por engano.
Nesse momento, um dos diretores presentes passou por ele, o olhou segurando o controle e começou a ofendê-lo: “Quem deixou esse negro pegar o controle remoto? Porque é isso que acontece. Olha só, não sabe. Pega o controle remoto, pega qualquer coisa, não pode deixar o negro no comando de nada. Isso não é uma banana, cara, isso é um controle remoto. Tá entendendo?”. Sem acreditar no que estava acontecendo, Chico tentou parar as ofensas, mas elas apenas continuaram: “olha só, o macaco ainda fala”. Ao redor, as pessoas riam em vez de prestar qualquer ajuda.
Agravando a situação, o agressor ainda afirmou que por esses motivos era contra a Lei Áurea (Lei nº 3.353, de 13 de maio de 1888, que extinguiu a escravidão no Brasil): “Olha o que ela fez, olha a merda que a princesa Isabel fez em libertar vocês. Vocês deviam estar tomando chicotada, porque vocês não são gente.” Prontamente, Chico trouxe a questão de abuso de poder e de que tudo isso poderia virar um processo, mas, após todo o discurso ofensivo, todos os presentes continuaram bebendo e conversando como se nada tivesse acontecido.
Na volta para Porto Alegre, os murmúrios sobre a injúria racial começaram, assim como pessoas falando para ele abrir um processo. “Eu precisava que as pessoas testemunhassem. Quantas pessoas acha que se ofereceram para testemunhar? Zero. Nenhuma. Ninguém”, admite Chico, que não pode dar continuidade na busca de seus direitos, pois os argumentos eram de que seria pior para ele e para a empresa. ”E ficou por isso, ainda está entalado na garganta. Não ouvi um pedido de desculpas. Simplesmente ficou assim. Uma agressão que extrapolou todos os limites do bom senso, da civilidade.”, finaliza.
O Racismo Institucional
A fim de que esses problemas sejam reduzidos, Gleidson Renato Martins Dias, especialista em Direito Público pelo Instituto de Direito Contemporâneo, fundador do Fórum Nacional de Comissões de Heteroidentificação e membro do Movimento Negro Unificado,- organização brasileira formada por pessoas negras, que luta há 42 anos contra o racismo, organizando reivindicações políticas — defende, assim como a juíza Karen Pinheiro, a necessidade de que exista uma delegacia especializada para tais crimes. Segundo ele, não há pessoas preparadas para atender as vítimas assim como há, por exemplo, na Delegacia da Mulher. Anteriormente, as mulheres vítimas de violência também eram ridicularizadas pelos servidores da Polícia Civil. “As mulheres demandaram a necessidade de uma delegacia especializada onde as pessoas estariam, pelo menos em tese, com uma preparação para receber as mulheres que estão em violência”, salienta.
A falta de um atendimento adequado nas delegacias é antiga, e fez a Aléxia Plost sofrer um processo de revitimização ao tentar denunciar a violência sofrida, como é possível veraqui.
Mas como Gleidson ainda assegura, é necessário que todas as pessoas entendam como é violento o racismo, assim como as instituições precisam estar por dentro de uma visão antirracista. “Então, se existe um direito penal feminista, se existe uma criminologia feminista, se existe um direito da antidiscriminação, por óbvio nós precisamos que o Direito, hoje, entenda que a questão racial é estrutural”, destaca. Desse modo, indica que, para combater o racismo estrutural, é preciso ter esses aportes, não só teóricos, mas práticos.
Guilherme de Azevedo, professor e coordenador do curso de Direito da Unisinos, desenvolveu a tese Raça, Igualdade e Trauma: a função do direito na inclusão/exclusão dos negros na diferenciação social brasileira. Para ele, há uma defasagem na formação dos profissionais que estão no sistema de justiça e que muitas vezes acabam levando o caso para um lado folclórico e oferecendo mais tolerância do que esses processos deveriam receber. “Os nossos alunos, futuros profissionais de direito, podem passar às vezes cinco anos em uma faculdade de direito sem ter estudado a fundo o direito da discriminação. Então a questão técnica não é compreendida, ela é só completude. A baixa formação técnica de juízes, de promotores e de advogados na área de direito discriminatório leva a reforçar esses índices baixos de continuidade das ações e de condenação” afirma o professor.
De acordo com a juíza Karen Pinheiro, não apenas o campo do Direito, mas todas as demais áreas do ambiente escolar refletem o racismo institucional. “Um dos espaços que deveria ser objeto de um olhar muito profundo, são os espaços escolares, desde o ensino fundamental até o ensino superior, pós-graduação, mestrado, a política de cotas não é o suficiente. Educação antirracista é muito mais do que isso!”, afirma. Ela ainda explica que a falta de contato com professores e colegas negros impossibilita a visão de que eles também são capazes de transmitir conhecimento.
Já para a advogada e presidente da Comissão Especial da Igualdade Racial da OAB, na Subseção do Rio Grande, RS, Mauren Lisiane Acosta Amaral, o fato dos currículos das universidades serem compostos majoritariamente por pensadores e escritores brancos influencia na questão educacional, em que há uma presença quase nula de profissionais negros como fonte de conhecimento. Em sua perspectiva, afirma que não somos levados a estudar ou a aprender sobre a ótica dos autores negros e isso é um fator que influencia, inclusive, na conduta profissional.
Mauren também reflete que, se tivéssemos mais autores, mais conteúdo gerado por pessoas negras nos bancos universitários, seria possível formar profissionais de outra maneira: “Conscientes da sua negritude enquanto pessoas negras, enquanto pretos, e conscientes da necessidade de se respeitar o outro e de se buscar uma sociedade mais equânime, quando não negros.”, conclui.
A ausência de diversidade racial nos espaços escolares, seja no ensino básico como no âmbito superior, é um problema tanto para alunos, com para professores negros, como explicam a mestranda Carol Anchieta e o professor Elói Marques Coelho Júnioraqui.
Os juízes e as cotas raciais
Menos presentes nos espaços universitários, os negros também são em bem menor número entre os magistrados. De acordo com os dados do último senso do Conselho Nacional de Justiça, publicado em 2018, apenas 18,1% dos juízes brasileiros são negros. Dentro deste percentual, somente 1,6% se declara como preto, e 16,5% é pardo. “Isso revela um déficit de representatividade e é também uma demonstração de como essas carreiras são construídas de forma a dificultar o acesso de pessoas negras.”, explica Karen.
Hoje, 20% das vagas de juízes são reservadas para negros. No entanto, ainda que exista este espaço, ele não é ocupado totalmente. Segundo a juíza, é necessário ao menos seis anos de dedicação total e exclusiva ao estudo, já que o processo seletivo é muito exigente. No entanto, o negro dificilmente tem condições de não trabalhar e se focar apenas na busca por conhecimento, já que, geralmente, por trás dele existe uma família dependente da sua força de trabalho.
Além do fator de intimidação para as vítimas, a advogada Mauren Amaral, presidente da Comissão Especial da Igualdade Racial da OAB, na Subseção do Rio Grande, admite que, como o sistema judiciário é composto majoritariamente por profissionais brancos, isso inquieta igualmente os advogados e defensores negros. Para ela, há uma luta contra a diferença e contra esse racismo estruturado na sociedade: “Não é incomum o relato de colegas que foram ou se sentiram intimidados em audiência. São os advogados negros que são confundidos com partes, como acompanhante das partes, e isso não é tão raro quanto se imagina”, afirma.
Análise de Boletins de Ocorrência no estado
Dados exclusivos da Polícia Civil-RS via lei de acesso a informação, trazem detalhes dos boletins de ocorrência (B.O) registrados nos últimos 5 anos nos estados. Os números revelam que o total de B.O’s só aumentou, passando de 1532 em 2017 (menor índice desde 2015) para 1810 em 2019.
Comparado a 2018, em 2019 houve uma queda de 26 B.O’s em “Injúria Qualificada” e 13 em “Preconceito Raça Cor e Etnia”. No entanto, em “Injúria Discriminatória” quase 200 B.O’s a mais foram feitos. No geral, os números de boletins de ocorrência registrados nessa categoria são superiores às outras tipificações.
Neste ano, até o momento da apuração dos dados, 842 .O B.Os haviam sido abertos por Injúria Discriminatória, enquanto apenas 318 se enquadraram em Injúria Qualificada, e 22 em Preconceito de raça, cor e etnia. Conforme a juíza da 1° Vara do Júri de Porto Alegre, Karen Pinheiro, membro do Judiciário há 21 anos, muitos boletins são registrados em uma categoria errada, e isso é resultado da falta de uma delegacia especializada para crimes raciais.
Em 5 anos, foram realizados 9.330 registros por crimes raciais no estado, um número alarmante quando comparado com os dados do Tribunal de Justiça.
Mulheres registram mais Boletins de Ocorrência
De acordo com os dados da Polícia Civil sobre Boletins de Ocorrência, nos últimos 5 anos 5225 B.O’s foram feitos por mulheres, enquanto 4105 foram feitos por homens. Esse dado traz a tona a vulnerabilidade da mulher negra em relação aos homens. Apesar dos dados do Ministério Público mostrarem que o maior número de denúncias é feito por homens, é importante entender que para isso, a vítima precisa fazer a queixa formal ao MP, e isto só é possível se o inquérito for levado adiante, não sendo arquivado.
Uma hipótese para os B.O’s feitos por mulheres negras não serem levado adiante se refere às dificuldades que elas encontram para serem ouvidas, consideradas e apoiadas.
De acordo com a juíza Karen, isso se deve a uma pirâmide social muito presente no Brasil: “Mulheres negras ganham menos do que homens negros, que ganham menos que mulheres brancas, que ganham menos que homens brancos, ou seja, mulheres negras estão no topo da pirâmide social das opressões.”
Dados do Atlas da Violência 2020 indicam que a realidade é ainda mais crítica. Entre 2008 e 2018, a taxa de feminicídios de mulheres não negras caiu 11,7%, enquanto a taxa entre as mulheres negras aumentou 12,4%.
*Os dados de 2020 já saíram, mas os de injúria racial divergem dos que foram divulgados nos anuários anteriores. Para tentar entender a questão, a equipe da reportagem tentou contato com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, por e-mail, mas não obteve retorno até o momento da publicação da reportagem.
**Os nomes do agressor e da vítima foram alterados, pois o caso foi retirado do portal do Tribunal de Justiça do RS
A Beta Redação integra diferentes atividades acadêmicas do curso de Jornalismo da Unisinos em laboratórios práticos, divididos em cinco editorias. Sob a orientação de professores, os estudantes produzem e publicam aqui conteúdos jornalísticos de diversos gêneros.