Vida e morte é a antítese mais verdadeira que existe.
Há relutância em escrever sobre um tema que é muito caro para todos: a morte. Mas é um tema necessário. Falar e escrever sobre a morte é assunto que circula em todas as redes sociais, sejam elas online ou presencial.
A pandemia potencializou essa temática.
Com a chegada do Natal e do final de ano, a morte de entes queridos deixa de ser uma ideia, a morte se materializa.
Sim, se materializa. Na ausência de alguns na mesa posta para ceia. Na carga de sentimentos como saudade, recordação, arrependimento, compaixão, apego, paz, amor, alegria, tristeza, compreensão, tolerância, intolerância, solidariedade, medo, angústia, ansiedade, piedade, ressentimentos, perdão, raiva, ódio, compaixão, gratidão…
Essa lista de sentimentos é infinita porque se trata das vivências terrenas.
Caro leitor(a), o acréscimo de sentimentos fica por conta do que se leva no coração e na alma. Depende de sua postura no mundo. De sua religiosidade ou de seu ateísmo. Do crescimento espiritual e intelectual. De seu posicionamento político. De sua classe social. De sua dimensão humanista ou não… A lista é cheia de antíteses. Porque vida e morte é a antítese mais verdadeira que existe.
Vejo amigos e amigas vivendo essa antítese de várias formas. Eu também. Há quem perceba a morte como processo da própria existência dos seres nesse plano. Para esses, a morte é um até logo. E, há aqueles que compreendem a morte como perda. Ambos, diante do inevitável fato, sentem ao seu modo. A dor do adeus ou do até logo não se mede.
Sabedores disso é que a corrente do “meus sentimentos”, “sinto muito”, “paz e luz”, “abraço fraterno” e “gratidão” se intensificou. A morte, provocada pelo vírus mundial e letal, despertou muito isso. Há um sentimento de injustiça que circula nesse evento, devido principalmente pelas desigualdades econômicas dos povos. A humanidade tende a se materializar, pois descobrimos o quanto de desumanidade carregamos. É uma tendência. Que bom!A melhor atitude notada nos últimos tempos, em relação à antítese vida x morte é o exercício da gratidão. E não é aquela palavra ao vento, dita de qual quer forma, é sentimento verdadeiro a quem fez a passagem. O melhor conforto é pensar no ente querido com o coração grato em ter a oportunidade de conviver. Acertar e errar. Aprender ou não. Amar ou não.
Portanto, celebremos a vida! Qualquer vida. De todos os seres vivos de nossa convivência.
Para finalizar esta reflexão de forma carinhosa, diante de um tema não tão “leve” como a morte, resgato um fato ocorrido com uma prima.
Por ocasião da morte de parente de uma amiga, ela foi ao velório. Como o falecido não fazia parte de seu convívio, sequer o conhecia, tampouco seus familiares, exceto sua amiga, sua mente não estava focada no passamento, ao chegar na sala mortuária se dirigiu a pessoa que estava próximo ao caixão, estendeu a mão para o cumprimento e soltou um sonoro: PARABÉNS!!
Constrangimento total.
Hilário o fato. Mas trago a reflexão: – Por que não dizer parabéns?
Afinal, a vida merece um PARABÉNS!!
Somos vocacionados para a vida. Não deixemos que a morte nos recolha de uma vida sem sentido. Não deixemos que outras forças nos retirem o sentido de uma existência verdadeiramente humana, solidária, comprometida com todas as formas de vida. A curva biológica da nossa existência é muito curta para ser pequena. (Dirceu Benincá) Leia mais: https://www.neipies.com/o-ser-a-morte-e-a-vida/
O livro é composto por onze artigos que retratam o cotidiano de docentes durante o ensino remoto, suas angústias, ressignificações e desafios ainda enfrentados com o distanciamento físico.
O futuro da humanidade e do Brasil precisa ser construído com diálogo, envolvimento, comprometimento, reflexão, inteligência humana e afetividade. Para darmos este passo, precisamos de convicção e de segurança nos valores que devem orientar as relações dos seres humanos entre si e com a natureza.
A evolução humana depende da nossa capacidade de intencionamos e colocarmos em prática uma organização econômica em que as necessidades materiais básicas estejam disponíveis para todas as pessoas. A materialização desta realidade depende de políticas públicas, nas quais está integrada à educação.
No conteúdo do audiovisual, temos a apresentação do livro: Políticas Públicas, Educação e Pandemia: os desafios impostos aos Estados e Municípios. Assista:https://www.youtube.com/watch?v=tMq_6WQTqdo
O livro foi idealizado pelas/os docentes da linha de pesquisa sobre Tecnologias, Desenvolvimento Regional e Políticas Públicas, que pertence ao Grupo de Pesquisa em Linguagens, Tecnologias e Políticas Públicas (GPLTPP), lotado na Universidade Estadual do Rio Grande do Sul (UERGS), em Erechim/RS.
O livro é composto por onze artigos que retratam o cotidiano de docentes durante o ensino remoto, suas angústias, ressignificações e desafios ainda enfrentados com o distanciamento físico. Também é possível compreender as conquistas de docentes durante esse processo, as mudanças nas relações interpessoais e as ferramentas adotadas para facilitar o processo educativo.
Tivemos a oportunidade de liderar a construção do artigo de abertura do livro com o título: “Docência em tempos de pandemia: o abismo entre a realidade institucional e a realidade humana que podemos construir”. Realizamos uma revisão assistemática da literatura com o objetivo de apresentar uma descrição geral dos desafios impostos para a prática docente no atual contexto de mudanças profundas.
“Os onze artigos que compõem esta obra retratam o cotidiano de docentes durante o ensino remoto, suas angústias, ressignificações e desafios ainda enfrentados com o distanciamento físico. (Natercia de Andrade Lopes Neta)
Quanto às emoções vividas na escola, em vez de programas de desenvolvimento das competências socioemocionais, talvez fosse melhor para o bem-estar e o desenvolvimento emocional de professores e estudantes que se assegurasse tempo e espaço na escola para dialogar sobre as próprias emoções em um ambiente seguro, oferecendo-se a possibilidade de reconhecê-las e aceitá-las como parte da condição humana, mas também perceber os seus efeitos e aprender a lidar com eles.
Nos últimos dois anos, eu fui chamada três vezes a me pronunciar sobre as competências socioemocionais, um indício de que esse tema encontra-se em evidência. Neste texto, retomo algumas reflexões realizadas nessas oportunidades.
Da primeira vez, tratava-se de avaliar a dissertação de mestrado Efeitos de um programa para o desenvolvimento de habilidades socioemocionais em professores, defendida no Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da Universidade Federal de São Paulo. Recebi esse convite com uma certa má vontade, embora tenha aceitado participar. Por que a má vontade inicial, que eu inclusive confessei no dia do exame, logo no início da minha arguição?
Embora esteja relacionado às disciplinas de psicologia pelas quais eu sou responsável na Faculdade de Educação, esse tema não é a minha especialidade e eu não estava especialmente interessada em me aprofundar nele, considerava que a emergência das competências socioemocionais no discurso educacional correspondia a mais uma tentativa de normalização dos comportamentos. E a perspectiva assumida pelo trabalho sugeria uma adesão ao discurso das competências socioemocionais, enquanto eu estaria mais inclinada a realizar a sua crítica.
Uma vez que aceitei participar – e consciente da minha resistência inicial –, evidentemente procurei maneiras de encontrar valor no trabalho realizado. Um convite para uma banca é uma responsabilidade, aquele convite expressava a confiança da pesquisadora e da sua orientadora em meu trabalho, eu não podia simplesmente derramar sobre elas a minha má vontade. E, como o trabalho estava muito bem feito, não foi difícil valorizar a pesquisa realizada. Na verdade, eu acabei revendo a minha posição inicial, se não em relação ao tema, ao menos em relação ao trabalho realizado por Alcione Moreira Marques, autora da dissertação. Eu afirmei com sinceridade que ela se propôs a investigar uma questão importante e lembrei que naquela semana – foi em 2019 – o jornal O Estado de S. Paulo publicara uma notícia sobre a inclusão da síndrome de Burnout na CID – Classificação Internacional de Doenças pela Organização Mundial da Saúde.
A notícia dizia: “Segundo o Ministério da Saúde, a síndrome é comum em profissionais que atuam diariamente sob pressão e com responsabilidades constantes, como médicos, enfermeiros, professores, policiais, jornalistas, dentre outros”, sugerindo que a profissão docente é estressante.
Embora atribuísse importância ao desenvolvimento das habilidades socioemocionais entre os professores, a pesquisadora admitia que contribuir para a formação dessas habilidades era apenas uma parte da solução dos problemas que se enfrenta no dia a dia das escolas públicas. Reconhecia que os professores não são estressados porque são incompetentes para lidar com as próprias emoções, embora possam ter dificuldades em relação a isso. Observava que eles e elas frequentemente têm muitas boas razões para se sentirem estressados, frustrados, ansiosos, com medo, deprimidos. Razões que em grande medida os ultrapassam, porque dizem respeito à gestão do sistema de ensino, às condições de trabalho e às dificuldades enfrentadas pelos alunos em seu cotidiano, quase sempre relacionadas às profundas desigualdades que caracterizam o País, entre outras.
Em sua dissertação, o relato das condições materiais da escola e das situações observadas em seu dia a dia correspondia muito ao que eu me habituei a ler nos relatórios de estágio dos meus alunos da licenciatura, na parte que caracterizava o cotidiano da escola pública.
Como parte de sua pesquisa, a autora propôs um trabalho de intervenção na escola relativamente simples: uma sequência de dez encontros com professores para realizar um conjunto de atividades voltadas para o diálogo sobre as próprias emoções e seus efeitos no trabalho. Ao fazê-lo, ela criou na escola um ambiente propício a que o sofrimento e os problemas identificados pudessem ser objeto de reflexão conjunta daquele grupo. O que ela se dispôs a fazer é relativamente simples, mas não é fácil e não é pouco, embora também não possa ser considerado como medida suficiente para a superação das dificuldades. Essa simples intervenção produziu efeitos positivos, segundo os participantes.
Em minha arguição, observei que a conclusão do trabalho aproximava-se daquela a que chegaram, já há algumas décadas, os pesquisadores alinhados à psicologia escolar de vertente crítica, a qual se propõe a afastar o psicólogo em atuação nas escolas da condição de especialista que examina o aluno para diagnosticar deficiências ou distúrbios e, em vez disso, busca criar na escola um espaço como esse que ela havia criado, no qual os profissionais da escola podem pensar juntos sobre os próprios problemas para se apoiar mutuamente e criar alternativas para lidar com as dificuldades vividas no dia a dia do trabalho com as crianças.
Ao mesmo tempo, a pesquisa realizada por Alcione Marques é inovadora ao incidir sobre a expressão das emoções dos professores em seu ambiente de trabalho, sem pretender avaliá-los sobre sua capacidade maior ou menor de gerir as próprias emoções ou treiná-los de modo a torná-los mais capazes de exercer o autocontrole. Em vez disso, ela tornou possível reconhecer as emoções dos docentes e os seus efeitos no trabalho e também observar como as condições do ambiente de trabalho afetavam a sua disposição emocional.
A segunda oportunidade em que eu fui convidada a me pronunciar sobre esse tema foi em uma entrevista para este jornal em junho deste ano, realizada pelo jornalista André Derviche. Revisitando as anotações que fiz para me preparar para essa atividade, observo que a minha principal preocupação foi a de problematizar as ideias de que as escolas não desenvolvem competências socioemocionais dos alunos, os professores não têm preparo para isso e é preciso criar uma legislação, um currículo e um programa e treinamento na escola para que essa necessidade passe a ser atendida.
Na terceira vez, eu deveria preparar a minha participação em um debate sobre o tema na III Semana da Licenciatura do Instituto de Psicologia e então fiz uma breve revisão da literatura disponível sobre o tema, com vistas a compreender melhor a controvérsia que está posta no campo da educação e da psicologia acerca desse tema. Para isso, selecionei um conjunto de cinco artigos acadêmicos publicados desde 2015, um capítulo de livro e mais a dissertação já mencionada, os quais se situam dos dois lados da discussão sobre o valor de programas dedicados a desenvolver as competências socioemocionais. No que se segue, procurarei caracterizar brevemente os objetivos e conclusões desses textos para, em seguida, apresentar as minhas próprias considerações relativas à questão sobre o que fazer com as emoções na escola.
Um aspecto comum aos textos que eu pude ler, dos mais simpáticos aos programas de avaliação e desenvolvimento das competências socioemocionais na escola aos mais críticos, é a constatação de que a preocupação com essa questão na escola está em evidência em diversos países: Estados Unidos, Inglaterra, Finlândia, Coreia, Israel, Singapura, Austrália etc. Diversos programas governamentais foram formulados a partir da pressuposição de que o investimento em saúde mental é um dos mais lucrativos que o governo pode fazer, uma vez que melhora o desempenho das pessoas e reduz os custos com problemas causados pelas doenças mentais. Essa pressuposição é endossada pela Organização Mundial da Saúde, segundo a qual a saúde mental constitui atualmente “uma das maiores preocupações de saúde pública no mundo”.
Afirma-se ainda que o interesse pelo desenvolvimento das competências socioemocionais originou-se no campo econômico, tendo sido posteriormente apropriado pelo campo educacional, onde tem gerado polêmicas. Com o propósito de se avaliar as competências socioemocionais em ambientes como empresas e escolas, estabeleceu-se um conjunto de cinco fatores de personalidade designados como Big 5, que são os seguintes: extroversão, estabilidade emocional, amabilidade, conscienciosidade e abertura a experiências. Para avaliar as habilidades socioemocionais criou-se uma escala conhecida como SENNA, que corresponde à sigla para Social and Emotional or Non-Cognitive Nationwide Assessment. No Brasil, o Instituto Ayrton Senna encampou a defesa da avaliação das competências socioemocionais por meio dessa escala e criou seu próprio programa de desenvolvimento dessas competências e habilidades.
O artigo intitulado “Relações entre inteligência e competências socioemocionais em crianças e adolescentes”, de autoria de Tatiana Nakano, Isabella Moraes e Allan Oliveira, relata uma pesquisa realizada no Ceará com estudantes do terceiro e quinto anos do ensino fundamental, a qual pretendeu verificar se havia correlações positivas entre as competências socioemocionais e a inteligência. Seus resultados indicaram que sim. Ao demonstrar essa relação, de certa forma a pesquisa fortaleceu o argumento de um artigo crítico à avaliação das competências socioemocionais na escola como política pública, o qual questiona justamente a dissociação entre habilidades cognitivas e não cognitivas ou emocionais, como se fossem aspectos separados da personalidade.
Outro artigo comparou dois programas destinados ao desenvolvimento das competências socioemocionais em escolas, um dos Estados Unidos e outro da Inglaterra, considerando seus formatos e as pesquisas publicadas que procuraram avaliar os seus resultados. No texto, os pesquisadores descrevem o programa americano como mais padronizado e diretivo, enquanto o programa inglês é mais flexível e adaptável às diferenças entre as escolas, prevendo a possibilidade de aproveitar iniciativas já existentes nas escolas com vistas à promoção da saúde mental. Indicam ainda que há posições divergentes quanto às vantagens e às desvantagens de cada um dos formatos.
Se, por um lado, o programa norte-americano, que traz atividades prontas a serem reproduzidas pelos professores, é considerado muito rígido, por outro lado, o programa inglês, ao não oferecer orientações mais claras, é criticado por deixar os professores perdidos e confusos sobre o que e como fazer. Ambos se dirigem à educação básica e têm em vista a formação dos professores para melhorar o bem-estar dos estudantes.
Ao realizar a revisão de diversas pesquisas sobre a eficácia e a efetividade de ambos os programas, os autores concluem que seus resultados são contraditórios, sendo que algumas pesquisas apontaram melhoras, enquanto outras não identificaram qualquer resultado positivo, existindo inclusive um estudo que identificou uma piora no autoconceito dos meninos após a participação no programa.
Considerando agora os textos que se dedicam abertamente à crítica dos programas relacionados às competências socioemocionais na escola, é importante a discussão realizada no artigo “O problema da avaliação das habilidades socioemocionais como política pública: explicitando controvérsias e argumentos“, de Ana Luiza Smolka, Adriana Laplane, Lavínia Magiolino e Débora Dainez. O trabalho questiona a pertinência de se adotar a escala SENNA para a avaliação das competências socioemocionais como política pública, tal como ocorreu no Rio de Janeiro, a partir de uma parceria com o Instituto Ayrton Senna e o apoio da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico, a OCDE.
Ao analisar o relatório do projeto realizado, contesta a afirmação contida no texto de que as Big 5 sejam objeto de consenso no campo da psicologia e que sua relevância seja cientificamente comprovada. Recorre para isso a uma revisão da literatura sobre o tema da formação da personalidade a partir de teorias consagradas produzidas no século 22 para evidenciar a diversidade de perspectivas teóricas e modos de conceber e classificar os tipos de personalidade, o que se contrapõe à ideia de que haja um consenso ou uma firme sustentação teórica para os Big 5. Baseando-se também em revisão de literatura de diversas áreas – psicologia, antropologia, sociologia, biologia, e neurologia – questiona a suposição de que as competências socioemocionais sejam dissociáveis das competências cognitivas e discute também os riscos de se avaliar os estudantes tomando como norma atributos socialmente valorizados, tendo em vista a adaptação social e o sucesso econômico, em vista de sua consequência de estigmatizar as personalidades não conformes.
Outro texto escrito a partir de uma perspectiva crítica tem como título “Currículos socioemocionais, habilidades do século 21 e o investimento econômico na educação: as novas políticas curriculares em exame“, de Rodrigo Carvalho e Roberto Rafael Dias da Silva. A preocupação fundamental dos autores é evidenciar que os currículos socioemocionais correspondem a uma estratégia de governo que tem em vista objetivos econômicos: melhorar o desempenho e o ajustamento dos alunos à escola e favorecer a sua inserção no mercado de trabalho e a sua produtividade, assim como evitar problemas como a delinquência e a criminalidade e os gastos com a assistência social.
Os pesquisadores trazem exemplos de questões de avaliação da escala SENNA que os alunos devem responder, os quais evidenciam a orientação para a conformidade que a avaliação apresenta.
Roberto Rafael Dias da Silva escreveu também o capítulo “Inovações permanentes e desigualdades crescentes: elementos para a composição de uma teorização curricular crítica“, o qual retrata com riqueza de detalhes os discursos que sustentam o imperativo da inovação no campo educacional, em particular no currículo, os quais se configuram a partir de termos como entretenimento, protagonismo do estudante e formação de competências socioemocionais, relacionando tais elementos à emergência do que vem sendo designado como capitalismo artista e capitalismo emocional.
Considero que, apesar de ser bem-vinda a preocupação com a saúde mental dos alunos e dos professores, não surpreende que os resultados desses programas dedicados ao desenvolvimento de competências socioemocionais sejam duvidosos, quando não decepcionantes.
É que em vez de se voltarem para uma interrogação sobre como melhorar as condições do ambiente escolar – os espaços, as rotinas, as exigências a que professores e alunos encontram-se submetidos, as interações entre as pessoas –, tudo isso com o objetivo de melhorar o bem estar-comum e apoiar as pessoas em sofrimento, essas intervenções consistem em propostas de treinamentos, os quais, quanto mais padronizados, mais artificiais, especialmente quando são implementados não pelos próprios professores, mas por técnicos que se preparam para uma intervenção padrão e, depois de aplicar uma sequência pré-programada de atividades, vão embora.
As questões que emergem da leitura dessa amostra da produção acadêmica contemporânea sobre o tema são: as competências socioemocionais são treináveis dessa maneira? Se não for esse o caso, o que fazer das emoções na escola? O que já tem sido feito e como pode ser aprimorado? Começando pela última questão, gostaria de encerrar a minha fala fazendo algumas ponderações, que retomam aspectos dos trabalhos já mencionados.O fato de uma escola desconhecer as Big 5 ou a escala SENNA de avaliação das competências socioemocionais não significa que nada é feito nas escolas para desenvolvê-las ou que os professores não se interessem pelo bem-estar emocional de seus alunos ou que não saibam como ensiná-los a lidar com as dificuldades que apresentam para lidar com as próprias emoções, relacionar-se com os colegas e se organizarem para cumprir as suas tarefas e dedicar-se aos estudos. Sem dúvida há professores mais hábeis e menos hábeis para realizar esse trabalho, mas dizer que a escola se ocupa apenas dos conteúdos e das habilidades cognitivas dos estudantes não se sustenta de maneira alguma.
Como bem evidenciam as pesquisas em história da educação, a escola tem sido há mais de um século uma instituição encarregada tanto da transmissão de um legado cultural quanto da civilização das crianças, o que envolve o autocontrole das emoções, assim como a sensibilidade para perceber as emoções dos outros, aprender a respeitar e a ser respeitado.
Mesmo que se considere que seria preciso dar mais atenção ao bem-estar emocional nas escolas, penso que seria preciso começar por reconhecer que, atualmente, muitas vezes as escolas já se dedicam a esse objetivo em diversas atividades, dentre as quais se poderia mencionar as rodas de conversa, as intervenções feitas pelos professores quando surgem conflitos entre as crianças, do ensino sobre o respeito aos colegas e funcionários da escola e as orientações cotidianas dos professores sobre como os alunos devem organizar seu tempo de estudo, cuidar dos seus materiais, estudar diariamente para não ficarem sobrecarregados e aflitos na época das avaliações etc.
Seria preciso considerar ainda que a valorização das competências socioemocionais como parte das habilidades necessárias ao século 21, acompanhada da proposta de programas para o desenvolvimento das competências socioemocionais na escola, ao ser apresentada como um diferencial na educação dos estudantes, talvez especialmente nas escolas particulares, pode produzir como resultado uma outra modalidade de competição na escola, com todas as consequências já conhecidas: aumento da pressão sobre os alunos para que desenvolvam o mais rapidamente possível e ao máximo essas competências, estigmatização daqueles que não se mostram desde cedo hábeis em demonstrar essas competências e criação de formas de recuperação e tratamento, medicamentoso inclusive, para os considerados “deficientes” nesses atributos.
Programas com esse objetivo ainda produziriam o aumento da pressão sobre os professores, os quais também passariam a ser avaliados em função da sua capacidade de cultivar em si próprios as competências socioemocionais, bem como de promover tais competências em seus alunos. Acrescente-se a isso o risco muito provável dessa preocupação distrair a sua atenção do ensino dos conteúdos culturais que permitiriam desenvolver simultaneamente as habilidades cognitivas e emocionais.
A questão sobre se o ensino dos conteúdos culturais e dos procedimentos intelectuais que permitem a sua apropriação deveria ser secundarizado em relação a um trabalho que prioriza o desenvolvimento das Big 5 precisaria ao menos ser muito bem ponderada, em vez de simplesmente assumida como uma exigência evidente em vista das habilidades necessárias para o século 21.
Esses programas podem parecer bons investimentos: são econômicos e replicáveis em larga escala, permitem obter dados quantitativos e comparáveis, como o quociente intelectual (Q.I.) Mas, se o próprio instrumento é controverso, mal concebido, então tende a ser um desperdício de dinheiro, tempo e energia.
Na melhor das hipóteses, a implementação desses programas serviria apenas para se confirmar o que já se sabe. Na pior das hipóteses, acabariam servindo para desqualificar os professores, sempre que parecessem não atender às expectativas estabelecidas, além de confundi-los e sobrecarregá-los com novas exigências e ainda submetê-los a cursos padronizados de qualidade muito discutível. Muito provavelmente seriam empregados como mais um instrumento para desqualificar também os alunos que se afastam da norma e encaminhá-los para programas de recuperação ou tratamento médico. Isso tudo sem que se prestasse a necessária atenção às condições de vida e de trabalho que poderiam explicar as razões dos sofrimentos manifestados na escola.
A própria eleição das Big 5 mereceria um exame mais detido, tendo-se em vista que representam uma escolha feita a partir de critérios que parecem expressar os valores da cultura empresarial norte-americana. Esses fatores estabelecem de modo um tanto arbitrário a valorização de certos traços de personalidade, enquanto desvalorizam outros que também poderiam ser considerados enriquecedores em um grupo de pessoas e para a sociedade. Se extroversão é uma competência socioemocional, então a introversão deve ser considerada como uma incompetência e as pessoas que apresentam esse traço de personalidade deveriam ser corrigidas ou tratadas? Será que a abertura a novas experiências é necessariamente superior à disposição a se concentrar e se aprofundar em um campo específico de experiências, mesmo que saibamos que as artes e outras atividades humanas dependem de uma dedicação obstinada a um campo bem delimitado de experiências? É necessariamente melhor estar disposto a experimentar de tudo, fazer de tudo um pouco do que ir fundo em um tipo específico de atividade, de experiência? Por que deveríamos desqualificar uma pessoa introvertida, que prefere trabalhar sozinha e em silêncio se ela evidencia um alto grau de concentração em um tipo de atividade que a apaixona? Ela não teria uma contribuição valiosa a oferecer à sociedade simplesmente sendo quem é, profundamente dedicada às atividades de que gosta? Por que deveríamos pretender tratá-la, corrigi-la?
Na perspectiva das Big 5, um monge, por exemplo, possivelmente seria considerado como incompetente emocional, um desadaptado. Provavelmente a maioria dos artistas e intelectuais também, de modo que os programas que se fundamentam nas Big 5 parecem ter como objetivo desenvolver as competências socioemocionais necessárias ao bom funcionário. O propósito da escola, contudo, não é formar funcionários bem adaptados às exigências do emprego, mas educar pessoas.
Mesmo que as pessoas precisem, em alguma medida, adaptar-se às exigências sociais, até mesmo em muitos casos às exigências de um emprego, como professores desejamos que nossos alunos também sejam capazes de desafiar as normas sociais tendo em vista transformar o mundo e o mercado de trabalho, de questionar o que lhes parece injusto e prejudicial. Que se tornem capazes de recusar se submeterem a exigências sem cabimento, que se recusem a serem desrespeitados, explorados.
Quanto às emoções vividas na escola, em vez de programas de desenvolvimento das competências socioemocionais, talvez fosse melhor para o bem-estar e o desenvolvimento emocional de professores e estudantes que se assegurasse tempo e espaço na escola para dialogar sobre as próprias emoções em um ambiente seguro, inclusive sobre as emoções perturbadoras, oferecendo-se a possibilidade de reconhecê-las e aceitá-las como parte da condição humana, mas também perceber os seus efeitos e aprender a lidar com eles.
Eu gostaria de terminar lembrando o exemplo do professor paquistanês que é pai de Malala Yousafzai, Prêmio Nobel da Paz e ativista pelo direito à educação. Ele não precisou ser treinado em nenhum programa de desenvolvimento de competências socioemocionais para fortalecer a capacidade de sua filha de lidar com as próprias emoções. Provavelmente ele desconhecia as Big 5 e o vocabulário que constitui a escala SENNA. Em vez desse conhecimento técnico, bastou-lhe a convicção do valor da escola para a formação de Malala.
No desenvolvimento das habilidades socioemocionais, destaca-se que o educando não domine apenas o conhecimento cognitivo, tradicional, mas que saiba a importância do controle das emoções, da empatia, das relações sociais e da tomada responsável das decisões. Recursos pedagógicos: diálogo, conversa, trabalho colaborativo, elaboração de projetos em conjunto a partir de uma problematização. Assuntos como igualdade, diferenças, ajudam a que se reconheça e respeite o outro e verbalize sentimentos e intenções de si e dos outros. Exercitar a arte da convivência: ouvir e aceitar o outro como ele é. (Gládis Pedersen) Leia mais:https://www.neipies.com/o-ensino-religioso-e-habilidades-socioemocionais/
Autora: Ana Laura Godinho Lima, professora da Faculdade de Educação da USP
Jovens estudantes de uma escola da rede municipal de Passo Fundo, do nono ano do Ensino Fundamental, foram perguntados sobre o tema Jovens e seus desejos de mudar o mundo. Seu desafio era problematizar, de forma argumentativa, sobre a temática.
Surpreendentemente, pensaram e escreveram ideias interessantes sobre o tema. Os jovens sabem o que querem e afirmam o que desejam para o mundo no qual estão inseridos neste momento de suas vidas. Quando os jovens escrevem, sempre pensam melhor.
Confira aí. Boa leitura!
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Mudar o mundo é algo que fazemos diariamente
“A rebeldia e algo muito comum nos jovens, pois eles têm vontades e desejos que nem sempre conseguem realizar. Um destes desejos é mudar o mundo.
Não importa como, o jovem quer mudar o mundo de alguma forma, seja para fins próprios ou coletivos, esse desejo sempre existiu nele, de poder fazer alguma coisa. No entanto, nem sempre este desejo persiste, às vezes ele acaba no esquecimento e a pessoa apenas segue sua vida.
Mudar o mundo é algo que fazemos diariamente, mas o jovem quer mudar o mundo do seu jeito, quer que o mundo seja como ele quer e, às vezes, acaba esquecendo de outras pessoas e das consequências as vezes destrutivas que seu desejo pode causar.
Quando o jovem pensa com outros jovens, teremos vários tipos de vontades e desejos; muitas vezes desejos iguais ou desejos que acabam sendo adotados de outros. Podem acontecer desejos contrários, pois nem todos irão agradar com suas vontades. A discussão é outra coisa comum na vida deles.
Na minha opinião, para mudarmos o mundo para melhor, os jovens deveriam unir-se e juntar os desejos que contribuam para todos e largar vontades egoístas, pois só assim teremos um mundo melhor. Que as próximas gerações sobrevivam e continuem com pensamentos num todo, para a evolução e melhoria da humanidade”.(Estudante William de Lima)Deixem o jovem sonhar, pois, posteriormente, esse “jovem tolo” poderá ser o adulto que mudará o mundo
Crianças brincam e adultos brigam. Jovens brigam para mudar o mundo e são levados na brincadeira.
“Não tente abraçar o mundo com as pernas” ou um simples “uhum” diante de uma humilde tentativa de mudar o mundo ou simplesmente tornar a realidade interessante.
“Você tem fome de que”? Isso é tudo que o mundo não pode tirar de você. Parece fútil, mas pode ter significado profundo para quem quer mudar o mundo. Tire tudo de um jovem, mas não tire seu desejo de mudar a cada dia.
Seu modesto gesto de protesto pode transparecer em redações, poesias e músicas; afinal, quem nunca quis mudar o mundo? O jovem, talvez, só tenha mais energia para demonstrar este seu desejo de mudança.
Afinal, o que é mudar o mundo? A verdade é que mudar o mundo é mais uma daquelas 1001 vontades que temos, mas que acabam nunca se concretizando. Deixem o jovem sonhar, pois, posteriormente, esse “jovem tolo” poderá ser o adulto que mudará, ao menos, sua própria realidade e, mais tarde, o mundo”. (Estudante Susane Reghelin Mendes)
O mundo obriga a sociedade a trabalhar em conjunto, superando assim diferenças sociais, visando um futuro melhor para todos.
Os jovens da atualidade têm muita noção dos males que ocorrem no mundo inteiro por conta dos modernos meios de comunicação que determinam a vida na nossa sociedade. Por isso, esses jovens tem interesse de mudar o mundo, para que possam ter um futuro melhor, ou até ajudar outras pessoas.
Por isso devemos levar algumas perguntas em questão: será que podemos mudar o mundo? Ou: os jovens tem o poder de mudar o mundo?
A resposta a estas perguntas vai de cada um, mas na minha visão se o ser humano e, principalmente, os jovens devem parar de se preocupar com atitudes superficiais ou que apenas trazem benefícios a eles próprios. O mundo obriga a sociedade a trabalhar em conjunto, superando assim diferenças sociais, visando um futuro melhor para todos.
Nada disso será possível se continuarmos a ter tantos preconceitos. Os jovens que desejam mudar o mundo devem passar suas ideias para seus familiares, para seus amigos e, por fim, para toda comunidade. É preciso que as guerras, os preconceitos e a pobreza cheguem ao fim. Se isto realmente acontecer algum dia, podemos ter certeza que todo este movimento terá reconhecimento, pois fama não é necessária, mas o reconhecimento é algo explêndido.
Malala e Greta são jovens que podem nos inspirar. (Estudante João Polese)O problema é que quem quer mudar o mundo quase sempre quer fazer isso mudando os outros.
O mundo precisa de mudanças de todos os tipos, mas a grande questão é como efetuar estas mudanças? O jovem se faz essas e outras perguntas sobre como mudar o mundo e ele tenta ir atrás de soluções todos os dias.
A juventude é a fase em que o indivíduo passa a se descobrir como tal. Essa fase exige encarar seus defeitos e reconhecer suas qualidades para que, só assim, você consiga conviver com estes. Exige que você aprenda a fazer escolhas e, mais importante, assuma a responsabilidade pelas consequências.
O problema é que quem quer mudar o mundo quase sempre quer fazer isso mudando os outros.
A rebeldia dos jovens é o desejo de mudar o mundo.
Para mudar o mundo, não precisa de muita coisa: pratique a solidariedade, o respeito, seja conscientes sobre nossa responsabilidade no mundo, não julgue, compartilhe conhecimentos e, sobretudo, procure entender e apoiar os jovens. (Estudante Ana Clara de Quadros Colla)
Queremos mudanças sociais verdadeiras, mudanças que mudem o mundo de verdade.
Sabemos que todas as gerações estão atrás de mudanças e feitos que deixem marcas para sempre. Como parte desta geração e usuária de diversas plataformas de comunicação e entretenimento, vejo que, ao contrário das gerações passadas, a internet é um meio importante para adquirir conhecimentos e de fazer barulho para que escutem os jovens.
Temos acesso a todo tipo de informação em qualquer hora e em qualquer lugar, para nos informarmos sobre problemas sociais, políticos e ambientais. Se eu não tivesse um celular na mão, com certeza não seria quem sou hoje e não saberia muito do que sei.
Nossos pais são de uma geração que era limitada de informações e, com certeza, também eles queriam mudar o mundo. Muitos de nós, jovens, no entanto, não temos a mente aberta para entender, aceitar e abordar questões como intolerância religiosa, homofobia, racismo, machismo, depressão. Muitas vezes também praticamos atos incorretos, mesmo sem querer.
Queremos mudanças sociais verdadeiras, mudanças que mudem o mundo de verdade. (Estudante Laura Inchoeste Sganderla Mendes)
Devemos manter um equilíbrio entre os conhecimentos virtuais e os conhecimentos da vida real.
O jovem, normalmente, tem o desejo de mudar o mundo. Ele acredita que e o único que pode mudar a sociedade. Isso acontece desde o começo dos tempos, mas está mais acentuado em nossa geração que nasceu com a tecnologia nas suas mãos.
A tecnologia, por sua vez, pode nos livrar da ignorância e da intolerância, pode até ajudar na descoberta de coisas novas e curiosidades. Dependendo do tamanho da influência da tecnologia, o jovem pode se tornar uma pessoa tóxica e enjoativa. Devemos manter um equilíbrio entre os conhecimentos virtuais e os conhecimentos da vida real. (Estudante Vinicius Manfroi)
Esta prática pedagógica foi realizada em aulas de Filosofia na EMEF Zeferino Demétrio Costi (ZDC) com estudantes do nono ano do Ensino Fundamental. A partir de textos reflexivos sobre a rebeldia como atitude saudável dos jovens e de seus desejos de mudar o mundo, os estudantes fizeram uma construção textual. Estes textos são fragmentos de alguns textos produzidos pelos estudantes, selecionados para esta matéria.
De que forma estamos educando nossas crianças para o espírito do Natal? As festividades de final de ano não poderiam ser algo diferente do que simplesmente correr às compras, comprometer boa parte do orçamento em gastos desnecessários?
Estamos próximos de comemoramos as festas de Natal e Ano Novo. Como já estamos “acostumados”, novamente o tempo frenético das compras, corrida às lojas, presentes, promoções, parcelamentos, propaganda intensa, brinquedos, eletrodomésticos, Papai Noel, espumantes, fogos e todo tipo de chamamento para o ápice do consumismo.
Os noticiários televisivos fazem referência aos índices de vendas, horários alternativos para as compras, felicidade de receber presentes e todos os outros acréscimos que se repetem a cada ano. Diante deste clima festivo, dificilmente nos damos conta que estamos sendo “condicionados” e “absorvidos” pela cultura do consumismo que tomou conta de nosso modo de viver, da maneira como nos relacionamos e da forma como gastamos o que ganhamos com nosso suado trabalho.
No livro Consumido: como o mercado corrompe crianças, infantiliza adultos e engole cidadãos, traduzido para o português em 2007, o teórico político americano Benjamin Barber fala do ethos infantilista que tomou conta da sociedade contemporânea. Para Barber, o ethos infantilista tem tanto poder de moldar a ideologia do comportamento de nossa sociedade radicalmente consumista quanto o poder que a ética protestante teve para moldar a cultura empreendedora nos primórdios da sociedade capitalista moderna.
A tese de Barber é de que o hiperconsumismo que está tomando conta de nosso modo de viver constitui uma real e perigosa ameaça à democracia, à responsabilidade e à cidadania. Trata-se de uma ameaça à sociedade democrática porque além do ethos da infantilização não produzir cidadãos adultos responsáveis, está promovendo a perversão e a corrupção da infância. De que forma isso acontece? Por que o consumismo corrompe as crianças?
Na análise de Barber, vivemos hoje a fantasia de Peter Pan invertida. Todos conhecemos o desenho animado em que o herói Peter Pan não quer crescer e por isso foge para a Terra do Nunca. Crescer para Peter Pan significaria enfrentar o fardo da vida adulta responsável: emprego, família, trabalho, responsabilidades. “Eu não quero crescer, eu não quero ser homem”, exclama Peter com convicção. E conclui: “quero ser para sempre um menino e me divertir”.
Para Barber, os especialistas em modernos merchandising também não querem que Peter cresça: não para preservar sua inocência, não para preservá-lo do mundo do comércio, mas sim, para torná-lo cliente leal, para explorar sua suposta “autonomia” de comprar tudo o que estiver ao alcance das mãos ou que o dinheiro dos adultos possa pagar, e assim promover uma diversão sem fim que produz crianças cada vez mais estressadas e dependentes de medicação para conviver socialmente. “Voe para a Terra do Nunca (Shopping) Peter”, exclamam os mantenedores profissionais do ethos infantilista; “estamos esperando por você com tudo aquilo que o dinheiro possa comprar”; “deixe seus pais para trás, mas assegure-se de trazer com você sua carteira de dinheiro para comprarem tudo o que desejarem”.
A análise assustadora de Barber poderia provocar nosso pensamento para questionar algumas atitudes que simplesmente nos acostumamos a vivenciar sem refletir: de que forma estamos celebrando as festividades de final de ano? De que forma estamos educando nossas crianças para o espírito do Natal? As festividades de final de ano não poderiam ser algo diferente do que simplesmente correr às compras, comprometer boa parte do orçamento em gastos desnecessários?
Em termos educacionais, em vez de simplesmente abraçar a narrativa de que “a escola deve preparar para o mercado de trabalho cada vez mais competitivo” ou de que “cada um pode ser empreendedor de si mesmo”, não deveríamos ajudar nossas crianças e jovens a ter a capacidade crítica de dar-se conta que talvez devemos rever nosso modo de vida?
Talvez seja urgente dar-se conta, criar uma conscientização coletiva que a “vida cidadã” não se resume em ter dinheiro para gastar em tudo o que nos é oferecido pela sociedade consumista com a promessa de felicidade. O trabalho não deve servir apenas para ganhar dinheiro para consumir ou ter uma ocupação.
É possível pensar um modo de vida diferente do que estamos acostumados a viver, começando pela forma como escolhemos nossas prioridades, sobre o que realmente importa para ter uma vida melhor, mais saudável, mais pensante.
O Brasil voltou ao Mapa da Fome. E não há políticas públicas para seu enfrentamento.
No dia 26 de novembro de 2021, sexta-feira, aconteceu uma Plenária nacional de Combate à Fome sob a coordenação do SEFFRAS, Serviço Franciscano de Solidariedade: construção de uma Frente Nacional contra a Fome. Houve mais de 100 participantes de diferentes Movimentos sociais, organizações, Ação da Cidadania, OXFAM Brasil, Movimento Fé e Política, MST, Coalizão Negra pelos Direitos, Banquetaço, Periferia Viva, CAMP, para enfrentar a urgência da fome no Brasil.
Na tarde de 26 de novembro de 2021, mesma sexta-feira, fui, como sempre, na Banca de jornais do Largo Glênio Peres, Porto Alegre: comprar o jornal Valor Econômico, com seu Caderno EU & Fim de Semana. Manchete principal do VALOR: “Superendividado terá limite de renda para pagar dívidas”. O endividamento exacerbado atinge cerca de 30 milhões de brasileiros, segundo estimativa do Instituto de Defesa do Consumidor (IDEC).”
Na mesma edição, 26.11.2021, há o Caderno ‘Imóveis de Valor´. Manchete principal do Caderno: “Condomínios no interior têm gama de serviços sofisticados”. Lojas, offices, salão de beleza, teatro e até escola passam a fazer parte de empreendimentos de alto luxo em São Paulo, Rio de Janeiro e Bahia.” No Complexo Terravista Brasil, no topo das falésias de Trancoso, Bahia, “atualmente, estão em construção casas em terrenos de quase cinco mil metros quadrados, com até oito suítes, a R$ 14 milhões. O complexo abriga um teatro, restaurante, piscinas, hangar, lojas e um campo de golfe de 70 hectares. O empreendimento está em plena expansão e tem como principal diferencial uma pista de pouso homologada para jatos executivos e turboélices.”
Fui recuperar outro Caderno ´Imóveis de Valor´, de 19.11.2021. Manchete principal: “Brasileiros retomam o interesse por imóveis no exterior”. Na matéria, segundo o CEO Marcello Romero, “cerca de 8% do total de imóveis vendidos em Miami é para brasileiros. Nos últimos 12 meses, saímos de uma média de 15 negócios por ano para 25”.
Segundo a corretora Cristina Hungria, “meu telefone não para de tocar. São mais de 20 contatos por semana de brasileiros que estão vindo à cidade de Nova York e querem ver apartamentos. Em geral, a busca por imóveis de dois quartos, próximos ao Central Park e com ticket médio de U$ 2 milhões”.
Enquanto isso acontece com os ricos brasileiros, que enriqueceram muito em plena pandemia, as manchetes do UOL em 29.11.2021 eram: “Moradores de SP desmaiam de fome em filas de postos de saúde”. “Os brasileiros que sobrevivem com comida de porco e água suja: ‘um balde para 6 pessoas’.” E o Blog da Cidadania estampa, em 29.11.2021: “Paulistanos dependem de doações, xepa e lixo para comer.”
Esta é a elite brasileira, conservadora, escravocrata, e que sempre só pensou no seu bolso e umbigo ao longo da história. Não há solidariedade, nenhum olhar para o seu povo, para os pobres, ou para seu país e Nação, para a soberania e a democracia.
Esta elite não deixa fazer qualquer Reforma tributária, com taxação de grandes fortunas, e outras reformas estruturais. Para que quem compra casa ou mansão de milhões de reais ou dólares em Trancoso e Miami pague impostos, como qualquer trabalhadora e trabalhador paga diariamente.
Diz Thomas Piketty (Carta Maior, 01.12.2021): “Estamos em uma situação semelhante à que levou à Revolução Francesa. Os privilégios concedidos às grandes fortunas levarão a uma crise política.” Piketty recorda a insurreição do final do século XVIII, quando a nobreza resistia a pagar impostos.
Para ver a fome, basta ir para às ruas. Não há sinaleira em Porto Alegre em que não tenha alguém pedindo uns trocados, além de todas e todos que sobrevivem morando nas ruas, praças e avenidas.
A fome é também um assunto de fé. Padre Valter Girelli, reitor do Seminário de Fátima de Erechim/RS, no último dia 16 de março, refletindo sobre a passagem bíblica da partilha dos pães e dos peixes (Jo 6, 1-15), afirmou que Jesus sempre se preocupou muito com a fome do povo. Diante dela, não deu espetáculo da multiplicação mágica da comida, mas realizou o grande ensinamento da distribuição dos alimentos disponíveis. (Dirceu Benincá) Leia mais:https://www.neipies.com/fome-caminho-de-desumanizacao/
A fome voltou. O Brasil votou ao Mapa da Fome. E não há políticas públicas para seu enfrentamento. Só a sociedade se mobiliza com os Comitês Populares contra a Fome, as Cozinhas Solidárias e Comunitárias, os sopões, as cestas básicas, o Natal Sem Fome. A sociedade realiza uma Conferência Popular nacional de SSAN, Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional, já que o CONSEA, Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional, foi extinto, junto com suas políticas e programas. Os CONSEAs estaduais, onde ainda existem, como no Rio Grande do Sul, estão na luta para manter políticas de segurança alimentar e nutricional e de agroecologia e produção orgânica.
Por isso, é fundamental a construção de uma Frente nacional de Combate à Fome, com unidade e solidariedade, bem como é urgente uma Reforma tributária pra valer.
Sem ilusões, portanto. Nenhuma mudança profunda virá das elites. Virá, sim, como sempre, do povo consciente e organizado e de sua capacidade de luta. A resistência ativa e o esperançar freireano são a possibilidade de futuro, com direitos e democracia, na construção de uma sociedade do Bem Viver.
Enquanto açougues vendem gordura e ossos de boi para consumo de famílias empobrecidas pela crise econômica do país, e pessoas são flagradas invadindo caçambas de lixo atrás de resto de comida, a Bolsa de Valores instalou a estátua do Touro de Ouro no Centro de São Paulo inspirada na Harging Bull, o touro de bronze no coração financeiro do mundo, Wall Street em Nova York. Um verdadeiro acinte à dignidade de milhões de brasileiros entregues à miséria. (Hermes Fernandes) Leia mais:https://www.neipies.com/a-fome-o-bezerro-de-ouro-e-a-idolatria-do-capital/
Autor: Selvino Heck, Deputado estadual constituinte do Rio Grande do Sul (1987-1990). Conselheiro do CONSEA RS pelo CAMP (Centro de Assessoria Multiprofissional)
Que nós possamos ao redor de uma árvore, abraçados a elas ou sentados debaixo das suas copas pensarmos em que ideias temos sobre Deus, as coisas e a alma porque tudo é mistério para nós e para os cientistas ainda hoje.
Na música de Lupicínio Rodrigues podemos ouvir os seguintes versos “A minha casa fica lá detrás do mundo / Onde eu vou em um segundo quando começo a cantar / O pensamento parece uma coisa à toa / Mas como a gente voa quando começa a pensar”. E hoje eu quero falar sobre o ato de pensar. Sim, nós podemos voar através do pensamento e podemos também pensar em qualquer coisa que quisermos ou que seja algo à toa, como diz o poeta acima.
O pensamento que nos garante a existência e o nosso querido filósofo francês René Descartes com sua famosa proposição em latim que diz “cogito, ergo sum” e traduzida para o português “penso, logo existo” é do que nós vamos tratar neste ensaio. E existir é uma preciosidade para os homens que não sabem o seu valor. Talvez a existência seja um dos maiores presentes que o universo pode nos oferecer. Descartes descobriu que pensar só é possível se existirmos, na sua obra “Discurso do método”.
Isso é uma boa discussão para as crianças em sala de aula porque talvez elas ainda não tenham se dado conta de que podemos duvidar da nossa existência, de que tudo isso aqui é uma ilusão, não passa de um sonho e quem nos garante essa existência é o pensamento, por isso ele é tão importante. Que somos dotados de razão que nos concebe o pensamento e sendo a única forma de existência.René Descartes antes de chegar a essa sua afirmação, ele procurava uma metodologia capaz de traçar um conhecimento verdadeiro. Considerado o pai da filosofia moderna, ele se preocupava com o conceito da filosofia e o que ela podia nos oferecer de verdadeiro. O filósofo e matemático desejava obter o conhecimento absoluto, irrefutável e inquestionável.
Para Descartes, não havia nenhuma certeza verdadeira além da dúvida. Sim, ele duvidava de tudo. Contudo, Descartes encontrou algo que não poderia duvidar: da dúvida. De acordo com o pensamento do filósofo, ao duvidar de algo já estaria pensando e, por estar duvidando, logo pensando, estaria existindo.
Descartes entendeu que ao duvidar, estava pensando, e por estar pensando, ele existia. Desta forma, a sua existência foi a primeira verdade irrefutável que ele encontrou.
Tendo feito seus estudos clássicos com os jesuítas de La Fléche, Descartes logo se interessou pelas matemáticas como se fossem a causa da certeza e da evidência de suas razões. O sistema que elaborou é marcado pelo rigor.
No prefácio dos Princípios da Filosofia, ele define o conhecimento (a Filosofia) semelhante a uma árvore. As raízes são constituídas pela Metafísica, indicando que todo saber do sistema se apoia sobre a existência de Deus, considerado como o revelador e criador das verdades. É, portanto, de Deus que o homem deve deduzir as regras indispensáveis para compreender o mundo. Nessa perspectiva, a Física é a aplicação dessa concepção de conhecimento, formando o tronco da árvore. E, enfim, os galhos são constituídos pelas outras ciências (Medicina, Mecânica) e a moral, que surgem como os resultados da pesquisa, sobre a qual o próprio Descartes esboça grandes tratados.
Os professores devem ensinar as crianças sobre a metafísica, a física e a moral tomando como base o mesmo exemplo de Descartes, ou seja, a árvore. Tendo raízes, tronco e galhos ela pode ser dividida em partes diferentes e estudada de forma metafórica, mas didática, qualquer conteúdo que seja do interesse do professor e das crianças.
Há muitos críticos que questionam o ensino da filosofia às crianças, mas não concordo com nenhum deles. Acredito que o filósofo francês Michel de Montaigne no seu ensaio “Da educação das crianças” consegue nos convencer da necessidade que as crianças têm de aprenderem a filosofia a partir da tenra idade. Desde que ela seja ensinada de uma forma lúdica e criativa. Não serão com professores carrancudos e de mal humor que elas aprenderão os conceitos básicos da filosofia.
Como também devemos saber que para se ensinar a filosofia às crianças é preciso que os textos sejam adaptados para as suas idades e que a linguagem seja parecida com as delas. Levar as crianças num parque ecológico e colocá-las diante de uma árvore para falar sobre o conceito de filosofia e as suas divisões será maravilhoso. Aprender filosofia diante da natureza é preciso porque foi assim que surgiram os primeiros filósofos da physis, ou seja, todos eles tinham contato com a natureza.
Explicar para as crianças o conhecimento verdadeiro através das partes de uma árvore pode ser tarefa fácil, mas não é. O professor deve ser bem cuidadoso e explorar todas as divisões da planta de forma que as crianças possam juntá-las e separá-las sempre que sentirem necessidade sabendo que todas as partes juntas formam o conhecimento em si, ou seja, a filosofia.
As raízes explicam a metafísica e toda criança, na verdade, parece trazer a metafísica nas suas falas e questões, pois elas nas suas curiosidades querem saber de Deus, da morte, de onde viemos e para onde vamos quando morremos. As crianças podem fazer um trabalho com as raízes das árvores que se ramificam terra adentro e vão explorando o solo. De repente, elas podem explorar através das raízes algumas questões metafísicas que nunca pensaram antes com a ajuda do professor.
As raízes das árvores as sustentam no solo. São muito importantes à sua existência. Se cortamos as raízes das árvores elas morrem. É por onde a árvore tem contato com o solo recebendo dele a água e outros sais minerais. Nas raízes, para explicar a metafísica, podemos levar as crianças a pensarem se aquela árvore existe mesmo ou se não estamos tendo um sonho, de repente, se tudo o que está ao nosso redor não passa de uma ilusão do nosso pensamento ou se algo nos ilude brincando conosco.
Em Descartes vamos encontrar três níveis de ideias: as inatas, adventícias e factícias. Mas aqui abordaremos as consideradas ideias inatas que, por sua vez, são claras e distintas. É bom ressaltar que na metafísica cartesiana a ideia de Deus é considerada fonte das ideias e garantia da evidência. É Deus quem garante a veracidade e a existência das ideias que se pode conceber, podendo afirmar que as mesmas são claras e distintas, são verdadeiras. Mas, por outro lado, “(…) Pode ser que existam (…) pessoas que acharão melhor negar a existência de um Deus tão poderoso a crer que todas as outras coisas [ideias] são duvidosas”. (DESCARTES. 1999 pág. 253).
Essa tentativa de falar de Deus nasce na Terceira Meditação da obra “Meditações Metafisicas” de René Descartes. Nesta obra, os seus escritos apontam para um paradoxo acerca da existência de Deus. Em um lado está a ideia de que nenhum poder “conseguiria fazer com que eu não fosse nada enquanto eu pensar ser alguma coisa” (PASCAL. 1999, pág. 55). E do outro, todas as vezes que a ideia/opinião de Deus apresenta ao meu pensamento sou obrigado a confirmar que o mesmo existe, mesmo sendo ele um enganador.
O filósofo, para tentar comprovar a existência de Deus e resolver esta aporia existente em seu pensamento filosófico, apoia-se na evidência de que nada me pode fazer duvidar. E de que o mesmo (Deus) não é um ser enganador. Em Descartes, a veracidade metafísica é toda fundamentada na razão.
Descartes nos alerta para o fato de nos voltarmos exclusivamente ao passado e esquecer o presente como também a constante ausência da terra em que se vive, como segue com as suas próprias palavras “quando gastamos excessivo tempo em viajar, acabamos tornando-nos estrangeiros em nossa própria terra; e quando somos excessivamente curiosos das coisas que se realizavam nos séculos passados, ficamos geralmente muito ignorantes das que se realizam no presente” (DESCARTES, 1999, p. 39)
Sendo assim, a educação das crianças deve estar pautada numa paridade entre passado e presente para nortear o futuro, ou seja, as crianças devem aprender um pouco de tudo não fixando o conhecimento numa determinada parte do tempo. Como também a cultura próxima, essa da qual a criança faz parte, deve ser valorizada e explorada, sem afastar a possibilidade de conhecer a de outros povos.
Descartes deu uma grande contribuição a educação com a sua obra “Discurso do método” em que ele fala como o indivíduo deve fazer para resolver um problema. Isso é importante que as crianças aprendam.
Dividir o problema em partes e colocá-las numa espécie de caixa e ir resolvendo-o das partes mais fáceis para as mais difíceis. Com isso, ele criou o método cartesiano que parte da premissa “duvidar de tudo” e tinha quatro regras principais: i) só aceitar como verdadeiro o que está claro e não suscita dúvidas; ii) dividir cada problema em tantas partes forem necessárias; iii) analisar cada parte com clareza e plenamente acrescentando-a ao conhecimento do todo; iv) não deixar de levar em conta nada que possa ser fonte de erro. O método cartesiano é uma proposta de metodologia de ensino que assegura a facilidade do ensino-aprendizagem da criança e colabora para o desenvolvimento do seu pensamento cognitivo.
O professor pode aproveitar os galhos da árvore para resolver um problema dividindo-os em várias partes relacionando-os com o problema em questão. Separar os galhos no chão ou em cima de uma mesa e pedir para os alunos tentarem buscar soluções ou descobrirem outros problemas menores ou mais dúvidas.
Aqui, paro um pouco para lembrar do meu professor de filosofia Juan Bonaccini (in memoriam), nos anos 2000 com quem tive a minha melhor aula sobre Descartes quando ele deixou a classe inteira em dúvida sobre a nossa existência ao discutir sobre as “Meditações Metafísicas”.
Talvez eu tenha aprendido um pouco sobre o pensamento de Descartes que amo tanto e gostaria de que as crianças tivessem contato desde a tenra idade para não chegarem à idade adulta com um pensamento cheio de abobrinhas que não dizem nada e sim com um conhecimento verdadeiro e próprio a respeito das coisas. O professor Juan Bonaccini plantou uma árvore cartesiana enorme dentro de mim.
Depois de expor um pouco o pensamento de Descartes, que sei deve ser bem difícil explicar às crianças, mas eu tenho uma obra que ensina a como fazer isso. As crianças e o professor podem discutir sobre a existência de Deus numa roda de conversa. Será que Deus existe? Quem me prova que ele existe e como ele é? Por que ele não aparece? Será que ele é infinito?
Além de trazer questões para instigar a discussão, o professor deve deixar que as crianças levantem as suas e anotar tudo na lousa para depois retornar a cada uma delas com mais tranquilidade. Então, para começar a discussão com as crianças, o professor pode iniciar colocando a seguinte fala: que nós somos finitos, mas que Deus é infinito e perguntar as crianças como sabemos dessa nossa finitude e infinitude de Deus.
Explorar junto com as crianças que as árvores segundo a Bíblia Sagrada foram criadas por Deus e que Deus criou todas as coisas. Se Deus é o criador de todas as coisas e sabe de tudo, então ele é algo no qual podemos pensar e se pensamos nele de alguma forma ele passa a existir na nossa razão, pois tudo aquilo que concebemos nos nossos pensamentos é um ser que existe.
Deus não poderia ser algo enganador e um não-ser, se fosse assim não teria criado as árvores, os homens e os animais segundo consta na história. É preciso deixar que toda criança possa falar e duvidar até mesmo da existência de Deus. Sim, a dúvida em relação a Deus deve ser aceita porque, segundo Descartes ele poderia ser algo enganador e a dúvida é o princípio do bom filósofo e da filosofia. A criança que duvidar da existência de Deus buscará respostas para tantas indagações ao seu respeito que não podem ser respondidas pelo homem.
Depois de muito comentar sobre as raízes das árvores podemos passar para o seu tronco explorando assim a física. Tudo ao nosso redor é física e passarmos a ensinar as crianças a importância dessa ciência. A física permite-nos conhecer as leis gerais da natureza que regulam o desenvolvimento dos processos que se verificam, tanto no universo circundante como no universo em geral. O objetivo da física consiste em descobrir as leis gerais da natureza e esclarecer, com base nelas, processos concretos. Os cientistas, à medida que se aproximam desse objetivo, vão compreendendo melhor o panorama grandioso e complexo da unidade universal da natureza.
O universo não é um conjunto simples de acontecimentos independentes, mas todos eles constituem manifestações evidentes do universo considerado como um todo. Milhões de acontecimentos físicos ocorrem a cada segundo no universo e nós nem percebemos esses movimentos e transformações que podem ser explosões de estrelas, novos surgimentos de galáxias, asteroides se aproximando da terra e tantos outros elementos em nossa volta que se misturam ao nosso dia a dia e passam despercebidos por nós e pelas crianças que na maioria das vezes estão preocupadas com as tarefas escolares que achamos mais necessárias aos seus conhecimentos que são a matemática e a língua portuguesa. Na verdade, todas as ciências são necessárias às crianças e deveríamos permitir que elas escolhessem quais gostariam de estudar.Na discussão sobre a física, o professor pode levar as crianças a pensarem quais as propriedades físicas que envolvem as árvores. O que é essa natureza com a qual a física se preocupa e porque o universo tem tantos acontecimentos físicos.
Nos galhos das árvores encontramos as demais ciências e podemos pendurá-las neles para mostrar as crianças o quanto são muitas e quais as que mais elas gostariam de aprender.
Nesses galhos podemos encontrar a moral que é bastante valiosa para os nossos dias atuais. Questionar as crianças o que elas conhecem da moral e para que ela serve, o que nos torna melhores quando usamos da moral e quando somos moralistas. Importante mostrar que as árvores possuem muitos galhos e que novas ciências estão sempre a surgirem com os estudos dos homens. Falar das crianças sobre a moral necessária para as boas relações sociais, fruto da sociologia a qual tanto aspiramos.
A árvore cartesiana tenta explicar a filosofia, mas o professor pode tentar explicar outros conhecimentos com base no exemplo de Descartes. Também deve ser aproveitado o momento do estudo das partes das árvores para explorar cada uma delas e as suas importâncias e benefícios para os homens.
Das raízes podemos fazer chás e remédios, do tronco podemos fazer muitas coisas como casas, o papel que usamos para escrever, fogueiras para nos aquecermos do frio e dos galhos podemos falar das suas importâncias para os pássaros e outros animais que dormem e fazem as suas casas nas árvores. Além de ir falando cada importância de as partes das árvores também falarmos das divisões criadas por Descartes. A dúvida move o homem.
Para finalizar deixo vocês com alguns versos do heterônimo de Fernando Pessoa, mais amado dos ativistas ambientais, Alberto Caeiro que nos diz “Que ideia tenho eu das cousas? / Que opinião tenho sobre as causas e os efeitos? / Que tenho eu meditado sobre Deus e a alma / E sobre a criação do Mundo?”
Que nós possamos ao redor de uma árvore, abraçados a elas ou sentados debaixo das suas copas pensarmos em que ideias temos sobre Deus, as coisas e a alma porque tudo é mistério para nós e para os cientistas ainda hoje. Se Deus existe que ele possa vir nos visitar e conversar um pouco conosco sentados à beira-mar ou à beira de um rio ouvindo o canto de um pássaro… o difícil é diferenciarmos o pássaro de Deus. Eu penso, logo existo!
Peço licença às leitoras e leitores para iniciar a nossa conversa parafraseando Castro Alves:
“A política! A política é das mulheres
Como o céu é da águia.”
Assim, de imediato, através desse espaço, quero conversar e encorajar vocês, mulheres, a pensarem e se colocarem nos espaços públicos, ocupando vagas de extrema importância na construção e desenvolvimento da nossa sociedade.
O próximo pleito eleitoral se aproxima. Nos bastidores dos partidos políticos já se iniciaram as “negociatas”, “acertos políticos” e “arranjos” visando à escolha “dos melhores candidatos”.
Tenho observado, com certa tristeza e preocupação, o avanço dos debates para a escolha dos representantes, e o que percebo é que esses diálogos estão se baseando cada vez mais nos discursos e critérios masculinos. O senso comum, infelizmente, acredita na suposta “habilidade política” masculina, tornando algo comum e aceitável que o número de homens disputando e ocupando os espaços políticos seja quase que a integralidade das vagas.
Diante dessas situações, é sempre válido questionar acerca da baixa representatividade feminina nas casas legislativas. Vejamos a Assembleia Legislativa do Estado do Rio Grande do Sul: no último pleito, em 2018, tivemos mais de 200 mulheres candidatas que disputaram cadeiras de deputada estadual, entretanto, apenas 09 mulheres foram eleitas.
Ora, se somos 52% do eleitorado brasileiro, por que ainda estamos sendo marginalizadas politicamente?
Será em razão da falta de recursos financeiros? De interesse na política? Ou em razão do trabalho doméstico? Da tripla jornada de trabalho? Dos filhos? Da família? Das viagens que se fazem necessárias quando se ocupa espaços de poder? Falta de capacidade? Falta de apoio do companheiro(a)?
Para Débora Thomé, Doutora em Ciências Políticas, “as mulheres se encontram sub-representadas não por vontade própria, mas por uma disputa de forças, por empecilhos que vão além das intenções de parte do grupo de maior contingente na maioria dos países”, segundo Débora “há um déficit democrático no processo” e “a ausência de mulheres perpassa os mais diferentes partidos políticos, a imensa maioria dos cargos partidários está, no Brasil, ocupada por homens entre seus filiados”.
Poderíamos elencar diversos motivos, mas, apesar de todos os obstáculos, acredito que a plena habilidade política somente será alcançada quando efetivamente as mulheres estiverem em condições de igualdade com os homens.
A liberdade feminina para atuar nas esferas públicas deve ser tratada pela sociedade como um direito básico de todas as mulheres. Para tanto, urgentemente, é necessário a criação de grupos de apoio no seio da sociedade e nas agremiações partidárias. Os partidos políticos precisam criar mecanismos de incentivo e de valorização da mulher em cargos partidários, da candidata e da mulher eleita.
A violência política precisa ser enfrentada por todas aquelas pessoas progressistas que não aceitam a desigualdade de gênero e que querem mais mulheres dedicadas à esfera pública com seu olhar diferenciado para as políticas públicas.
Sabe-se que até o início do século XX as mulheres estavam fora do jogo político, mas a partir de 1932 nós começamos a ser reconhecidas e a construir a tão sonhada “igualdade jurídica com os homens”.
Mas mesmo assim, seguimos nos questionando: por que as mulheres gaúchas e passo-fundense não estão participando efetivamente da esfera pública e política? Quantas mulheres já concorreram à deputada por Passo Fundo? E à vereadora? Quantas mulheres já representaram Passo Fundo e a região na Assembleia Legislativa, na Câmara Federal e nos ministérios?
Ora, no caso dos ministérios, desde o governo José Sarney -1985 até o final do governo de Dilma Rousseff – 2014, foram nomeadas apenas 36 mulheres entre 467 nomes que assumiram postos de ministros (D’ARAÚJO; RIBEIRO, 2018).
Precisamos quebrar essas barreiras e impedimentos criados para as mulheres. A luta e a caminhada são duras, mas seguimos juntas para que mais mulheres ocupem os espaços de poder político nacional, estadual e municipal.
Cessar programas de expansão de instituições de ensino, fechar escolas, extinguir e reduzir o financiamento estudantil (Fies e Prouni), deixar de realizar concursos para professores, cortar bolsas do CNPq e Capes, contingenciar recursos para educação por mais 20 anos (EC 95/2016) e reduzir investimentos, revela uma opção política de produzir, intencionalmente, uma crise na educação.
Para além da ideologização e tentativas de censura, a edição do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) de 2021 representa mais uma intervenção autoritária do governo federal de negação do direito à educação para milhões de jovens de escolas públicas, principalmente jovens pobres, pardos e negros.
Esta política de que a “universidade deveria ser para poucos”, como defende o atual Ministro Ribeiro (MEC), foi desencadeada já em 2015 quando se questionou o aumento de investimentos em educação (Meta 20 do PNE 2014-2024); quando se atacou-se o financiamento estudantil (Fies, Prouni, Proies e outros); quando efetuaram cortes nos recursos para educação, ciência, tecnologia e cultura; quando se implantou uma reforma do novo ensino médio reintroduzindo a formação técnica e qualificação profissional para esses jovens pobres não sonharem nem progredirem seus estudos no ensino superior.
Naturalmente que as falácias do presidente e do ministro da Educação sobre o Enem possuem, pelo menos, outras duas intenções: primeiro, desviar o foco da grave crise econômica (inflação alta, desemprego), social (aumento exponencial da pobreza e da fome) e política (entrega da gestão do governo ao centrão) e, em segundo lugar, camuflar a incapacidade do governo em apresentar e liderar um projeto de educação para os mais de 56 milhões de estudantes matriculados desde a educação infantil até a pós graduação em nosso país.
O Enem de 2021 é o mais desigual desde sua instituição
Este Enem não somente excluiu milhões de estudantes, como ampliou as desigualdades sociais, raciais, educacionais e tecnológicas, já agravadas pela pandemia em 2020 e 2021.
O problema começou já na inscrição, quando MEC negou isenção taxa R$ 85,00, para quem não justificou ausência em 2020, quando muitos estudantes estavam inseguros com a maior crise sanitária provocada pelo Covid 19. Após o Supremo Tribunal Federal (STF) autorizar inscrição, apenas 9% se reinscreveram. “Tem gente que se esforça o triplo do que eu, trabalha, cuida da casa, da família e ainda estuda. Merecia muito mais uma vaga na universidade. Infelizmente, não é uma competição igualitária”, desabafa a estudante Tabatha Sayuri
Este Enem, também, vai impactar negativamente no acesso ao ensino superior, especialmente em instituições comunitárias e privadas, que já enfrentam redução de matrículas em decorrência da pandemia dos últimos dois anos, configurando um cenário catastrófico para as instituições e para a manutenção do trabalho de professores e pesquisadores.
Interferências nos exames
Servidores de carreira do Instituto de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) pediram demissão de suas funções por divergências com a cúpula da Autarquia. Apontaram que um policial federal acessou o “ambiente seguro”, violando o sigilo das provas e, sentiram-se pressionados sobre perguntas com conteúdo que poderiam desagradar o governo de Bolsonaro.
Esses mesmos técnicos entregaram ao Tribunal de Contas da União (TCU) e à Controladoria-Geral da União (CGU) um dossiê com as denúncias e, alertaram que tais interferências afetam não somente o Enem, mas, também, os outros exames, como: Enade (Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes), o Revalida, o Re-saber, entre outros.
Em uma Carta vários ex-ministros de educação lamentaram tomarem “conhecimento de relatos de assédio e interferência política veiculados na mídia, decorrentes da atuação do quinto presidente do Instituto nos últimos três anos e sua equipe” e, que nos 85 anos do Inep, jamais viram “na instituição uma crise tão profunda, ainda mais às portas da realização do mais importante instrumento de acesso ao ensino superior, que é o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem)”.
Para o presidente da SBPC, Renato Janine, “há gente, ingênua ou de má fé, que reclama das cotas “raciais” e diz que deveriam ser “sociais”. Mas eles já são: 50% das vagas vão para escolas públicas. Dentro dessa metade é que há vagas raciais ou étnicas, no mesmo percentual da população de negros ou de indígenas que vivem no estado onde está a universidade em que você quer entrar”. Isso implica que haverá mais vagas, por exemplo, na Bahia e menos no Rio Grande do Sul, mais para indígenas na Amazônia que no Sudeste, porém, antes de tudo, que nenhum negro ou indígena terá direito a cotas se tiver cursado o ensino médio em escolas particulares.
O papel da educação e da ciência
A educação, a ciência e o conhecimento são determinantes na história de uma nação e na vida dos adolescentes e jovens, que, por sua vez, são fundamentais para a construção de sociedade mais justa e democráticas. Não precisamos de mais presídios para estes jovens brasileiros, mas, sim, de educação, de cultura, de ciência e de condições condignas de vida para esses jovens viverem seus projetos.
Cessar programas de expansão de instituições de ensino, fechar escolas, extinguir e reduzir o financiamento estudantil (Fies e Prouni), deixar de realizar concursos para professores, cortar bolsas do CNPq e Capes, contingenciar recursos para educação por mais 20 anos (EC 95/2016) e reduzir investimentos, revela uma opção política de produzir, intencionalmente, uma crise na educação. E, “a crise da educação no Brasil não é uma crise; é um projeto” das elites que governam este país, proferiu Darcy Ribeiro em pleno regime militar (1970).
O Enem foi instituído em 1998 com o objetivo de avaliar o desempenho escolar dos estudantes ao término da educação básica. Em 2009, foi aperfeiçoado e passou a ser utilizado como mecanismo de acesso à educação superior. Trata-se de um instrumento democrático, universal e transparente de acesso a uma formação acadêmica.
O ENEM abre possibilidades para estudantes optarem e escolherem universidades que almejam, tanto no Brasil como em outros países que reconhecem o Enem como mecanismo de ingresso em suas instituições. A título de exemplo, só em Portugal, são mais de 50 universidades que o utilizam.
Essa credibilidade e legitimidade reconhecidas nacionalmente e internacionalmente precisam ser preservadas. Os estudantes, suas famílias e a sociedade exigem respeito e transparência, segurança e garantias de não ingerência ideológica e política do governo atual sobre o Enem e demais processos avaliativos no Brasil.
Sem investimento e atualização do banco de questões, combinado com a desconstrução do corpo técnico e o desmonte do Inep, o Enem de 2022 está sob risco de ser ainda mais excludente, elitista e conteudista.
Devemos honrar a quem tem sido desprezado, roubado em sua honra e dignidade, visto que os demais não necessitam disso.
Basta chegar a semana ou o mês em que se comemora o Dia da Consciência Negra para nos depararmos com inúmeros protestos nas redes sociais apelando a uma frase atribuída ao ator negro americano Morgan Freeman: “O dia em que pararmos de nos preocupar com consciência negra, amarela ou branca e nos preocuparmos com a consciência humana, o racismo desaparece.” Logo, não faria sentido dedicar um dia do ano à consciência negra.
Será que esta linha de raciocínio está correta? Bastaria parar de falar de um assunto para que ele perdesse a importância e desaparecesse?
Bem, parece que Martin Luther King, o pastor protestante que liderou a luta pelos direitos civis dos negros americanos, discorda veementemente: “Nossas vidas começam a terminar no dia em que permanecemos em silêncio sobre as coisas que importam. É agradável esperar que as coisas sumam ignorando-as, mas chega um tempo em que se torna necessário dizer “Pare! Isso é inaceitável!”.
Interessante ressaltar que nunca vi ninguém protestando no “DIA DAS CRIANÇAS”, alegando que somos todos HUMANOS, independentemente da idade. Nunca vi ninguém protestando no “DIA INTERNACIONAL DA MULHER”, alegando que independentemente do gênero, somos todos humanos. Então, não entendo a razão que leva alguns a protestar contra o DIA DA CONSCIÊNCIA NEGRA. De fato, somos todos humanos, mas nenhuma etnia sofreu tanto nos últimos séculos do que a negra. Digo, sofreu e ainda sofre nas mãos de outros pertencentes à mesma raça, a humana.
Morgan Freeman que me perdoe, mas deixar de falar de um assunto não vai fazê-lo desaparecer.
Não precisamos de um dia dedicado à consciência humana, assim como não precisamos celebrar o Dia do Adulto ou o Dia do Homem, ou mesmo o Dia do Orgulho Hétero (sim, não vejo nada de errado em que os homossexuais tenham um dia para celebrar a luta por seus direitos civis). E respaldo meu posicionamento nas Escrituras.
Antes de citar o trecho bíblico no qual me apoio, devo salientar que creio que a igreja de Cristo nada mais é do que o embrião da nova humanidade. Portanto, muitas das regras apostólicas que deveriam ser seguidas pelas igrejas, são igualmente pertinentes na organização social do novo mundo sonhado pelos profetas.
Tomando o corpo humano como analogia, Paulo diz que os membros que têm sido menos honrados, a esses deveríamos honrar muito mais, enquanto que, os que têm sido prestigiados ao longo da história não teriam necessidade disso. Segundo a lógica do apóstolo, isso certamente contribuiria para que não houvesse divisão no corpo, de modo que se corrigisse uma injustiça, e que todos tivessem igual cuidado uns dos outros. “De maneira que, se um membro padece, todos os membros padecem com ele; e, se um membro é honrado, todos os membros se regozijam com ele” (1 Coríntios 12:26).
À luz disso, alguém ainda insistiria em dizer que precisamos celebrar o DIA DO HOMEM, ou o DIA DA CONSCIÊNCIA BRANCA, ou o DIA DO ADULTO ou do ORGULHO HÉTERO? Chega a ser cômico!
Devemos honrar a quem tem sido desprezado, roubado em sua honra e dignidade, visto que os demais não necessitam disso. Ou você conhece alguém que deixou de ser empregado por ser branco? Ou alguém que teve seu salário reduzido por ser homem? Ou foi privado de algum direito por ser hétero?
Como diz a profecia, “todo vale será exaltado, e todo o monte e todo outeiro será abatido; e o que é torcido se endireitará, e o que é áspero se aplainará. E a glória do Senhor se manifestará, e toda a HUMANIDADE juntamente a verá, pois a boca do Senhor o disse” (Isaías 40:4-5). Nosso trabalho é “preparar o caminho do Senhor”, isto é, nivelar o terreno, dar voz aos que não têm voz, tornar visíveis os invisíveis, honrar os que foram desonrados ao longo do processo histórico, corrigindo assim a injustiça cometida pelas gerações que nos antecederam.
Consciência humana é toda e qualquer consciência. Assim, “consciência humana” é uma expressão toda, unificada, em que o “humana” funciona não como adjetivo do substantivo consciência, mas apenas como uma peça reiterativa. Na sociologia, não faz sentido falar em “consciência humana”, pois a ideia de consciência X ou Y está ligada à ideia de identidade social. Há, então, “consciência negra”, “consciência operária”, “consciência feminista” etc. (Filósofo Paulo Ghiraldelli) Leia mais: https://www.neipies.com/existe-consciencia-negra-mas-nao-existe-consciencia-humana/