A educação é uma atividade maravilhosa, mas pede uma entrega. Nós temos que arriscar. Não podemos ficar esperando que a iniciativa venha do aluno. A iniciativa primeira tem de ser nossa. Há uma alegria enorme. No entanto, só é vivida por quem se entrega.
O Magistério propicia o prazer de ensinar, de ver o outro aprender com nossa mediação. Sabemos que é o outro quem aprende, cresce —por mais que goste de um aluno, não posso conhecer por ele- mas cresce com nossa ajuda. Isto traz uma enorme realização.
Preparamo-nos a vida toda para ser o profissional que somos hoje; dedicamo-nos a estudar, pesquisar, sistematizar determinada área do conhecimento humano, traduzí-la em plano de ação. Agora, na atividade de ensino, percebemos que aquilo que faz tanto sentido para nós, faz sentido também para outras pessoas, com as quais talvez nunca tenhamos nos encontrado antes.
Nada se compara com a satisfação de encontrar um antigo aluno e ouvir aquela carinhosa e significativa saudação: “Professor!…”. Neste momento, temos a certeza de que deixamos uma marca (ensino vem do latim insignare, pôr um sinal —signum—, marcar com sinal, dar a conhecer). Dessa forma, o magistério favorece a experiência radical de ser coautor da criação. O professor, assim, não morre jamais (Rubem Alves), exorcizando um dos medos do ser humano que é o anonimato, a insignificância.
Esta alegria só pode ser experimentada por quem se dedica, se entrega efetivamente ao ensino. Infelizmente, há professores esperando que primeiro os alunos se disponham, para que daí ele “faça sua parte”. Nós somos os adultos da relação, temos de tomar iniciativa, dar o primeiro passo.
Martin Buber (1878-1965), no livro Histórias do Rabi, tem uma colocação muito interessante: “O mestre orienta os discípulos e, nos momentos de depressão, os discípulos reorientam o mestre”. Isto é fantástico. Quem já foi resgatado por seus alunos em momentos difíceis de sua vida sabe o quanto esta afirmação é verdadeira. Todavia, isso só pode acontecer se houve uma entrega primeiro, se vínculos profundos foram criados com os alunos.
Como nos diz Fernando Pessoa (1888-1935): Para ser grande, sê inteiro: nada/Teu exagera ou exclui/Sê todo em cada coisa. Põe quanto és/No mínimo que fazes./Assim em cada lago a lua toda/Brilha, porque alta vive. Este poema remete à necessidade mergulhar, de se entregar àquilo que estamos fazendo.
A educação é uma atividade maravilhosa, mas pede uma entrega. Nós temos que arriscar. Não podemos ficar esperando que a iniciativa venha do aluno. A iniciativa primeira tem de ser nossa. Há uma alegria enorme. No entanto, só é vivida por quem se entrega.
VASCONCELLOS, Celso dos S. Alegria de Educar numa Perspectiva Crítica e Emancipadora. São Paulo: Libertad, 2023 (mimeo).
A Olimpíada da nossa vida tem muitos troféus e sabemos o que significou cada esforço para conquistá-los. Sempre temos e teremos motivos para comemorar, movidos pela paixão do viver.
Diante dos desafios enfrentados, é importante desenvolvermos a atitude de autoconfiança, que facilita a busca de uma meta, tendo foco nos objetivos almejados. Trata-se de saber querer e saber desejar.
A atuação dos atletas, que vemos nas Olimpíadas, nos traz diversas reflexões, desde o desempenho individual, quanto coletivo, nas diversas modalidades de esporte a qual se dedicam. Como se trata de uma competição entre os melhores, é evidente que vencerá sempre o que tiver melhor desempenho, no momento de sua apresentação. Houve o tempo intenso e disciplinado de treinamento, nas técnicas. Ocorreu o preparo necessário nas dimensões física e psicológica, para atingir a meta, e no momento decisivo do desempenho, é posta a prova a autoconfiança, a resiliência, o foco, o talento do atleta e sobretudo o seu discernimento diante das dificuldades encontradas.
Vários fatores interferem nessa dinâmica: pessoais, coletivos e circunstanciais. Para atingir o êxito, há uma caminhada de dedicação pessoal e de esforço coletivo, tendo a autoconfiança como um eixo de equilíbrio.
O sucesso não surge como um presente, uma gratuidade. Há um registro de muitas horas de solidão, de renúncia, de inquietações, de dúvidas, de escolha de prioridades, que constituem a carga psíquica carregada pelo atleta e que ele precisa saber lidar, com disciplina e tenacidade. Assim se registram as grandes conquistas da história humana, tanto nas artes, quanto nas ciências e no esporte ocorre o mesmo.
No ambiente de competição esportiva, como uma Olimpíada, reúnem-se os melhores, cujas medalhas recebidas expressam o reconhecimento público de um desempenho perfeito, cujas avaliações apoiam-se em diferenças de segundos, de décimos de tempo. É o instante, que não se repete. Foi ali, naquele momento, que o atleta evidenciou o seu preparo e mostrou sua performance. Não se pode esquecer, é lógico, os fatores intervenientes, como as condições familiares, as resistências psicológicas, as condições econômicas, o enfrentamento de contrariedades e o desejo de vencer.
Em momentos decisivos como esses vividos na Olimpíada, as emoções flutuam como as ondas do mar, ora intensas, perigosas, desafiadoras, ora mais mansas, vestidas de ternura e mansidão. Esse também é o flutuar da nossa vida. Às vezes, dominamos a onda forte, com nossas pranchas resistentes, outras, ela pode nos derrubar e nem sempre nos levar à praia mansa, mas ao alto mar solitário e desafiador.
Os desafios fazem parte do viver. Viver é saber lidar com desafios, é confiar na própria capacidade de superação de limites, rompendo a zona de conforto. Isso serve para todos nós, anônimos, que escolhemos pela dignidade de seres livres. A Olimpíada da nossa vida tem muitos troféus e sabemos o que significou cada esforço para conquistá-los. Sempre temos e teremos motivos para comemorar, movidos pela paixão do viver.
Não há necessidade de procurar por grandes aventuras ou feitos espetaculares. A verdade é que as coisas mais significativas da vida, como o sol interno que nos aquece, revelam-se nos cantos mais discretos da existência.
Minha jornada como professor não foi diferente. Desde o momento em que entrei em uma sala de aula pela primeira vez, senti uma afinidade pela profissão. No entanto, foi ao perceber um certo brilho que comecei a verdadeiramente amar o que faço e, de forma modesta, porém consistente, me tornei um educador.
O momento decisivo ocorreu quando comecei a lecionar na Escola Municipal de Ensino Fundamental Daniel Dipp. Logo de início, notei algo incomum: um número significativo de alunos, especialmente meninas, que tinham um apreço pela leitura. Naquele momento, ainda estava impregnado com a ideia equivocada de uma divisão entre professores e estudantes, uma barreira que nos separa em “eles” e “nós”. Muitas vezes, ouvimos discursos que perpetuam essa ideia de antagonismo entre alunos e professores.
Em uma manhã, enquanto ensinava Filosofia para uma turma do sexto ano, observei uma aluna, Lara Morussi Hoppe, folheando um livro. Curioso, como leitor e escritor, aproximei-me dela para perguntar sobre o que estava lendo. Fiquei surpreso ao descobrir que era “Meu Corpo, Minha Casa”, da renomada poetisa Rupi Kaur. Tudo naquele momento me impactou: a jovem idade da aluna, seu interesse pela poesia, sua capacidade de discutir o conteúdo do livro e seu entusiasmo ao falar sobre ele.
Atônito, senti que era meu dever valorizar aquele momento. Quantas vezes pedimos aos alunos que leiam mais? Mas quando a iniciativa parte deles, como reconhecemos e valorizamos esse esforço?
Decidi registrar aquele momento tirando uma foto. Sim, uma simples foto para compartilhar nas redes sociais. Os estudantes têm uma relação ambígua com as redes sociais – orgânica e, ao mesmo tempo, desafiadora. Postar a foto da aluna lendo era uma maneira de reconhecer seu esforço, permitindo que sua ação fosse vista e valorizada pelos outros.
Pedi permissão à aluna para fotografá-la com o livro e fazer uma postagem. Ela concordou, e esse foi o embrião do projeto.
Na semana seguinte, para minha surpresa, muitos alunos já tinham visto a foto da Lara. Além disso, mais estudantes começaram a aparecer com seus próprios livros. Percebi que não poderia perder essas oportunidades e, sempre que via um aluno com um livro, tirava uma foto e compartilhava.
Com o tempo, descobri várias outras alunas que também eram ávidas leitoras, como Lívia Bernardes Rodrigues, Nataly Moraes Pedroso e Júlia Regina Domingues. Em uma conversa com elas, surgiu a ideia de formar um grupo de leitura e escrita.
No final de 2023, a diretora Ana Delise Claich Cassol me convidou a criar um projeto para o vernissage da escola. Na mesma hora, pensei nas jovens leitoras.
Meu desejo era transformar as fotos em uma exposição. Dessa vez, porém, queria que elas se vissem lendo através das lentes de um profissional. Foi então que conheci o fotógrafo Diogo Zanatta, que generosamente concordou em fotografar as alunas sem custos. Assim nasceu o grupo “SOFIA – Leitura e Escrita Criativa”
Vejo a escola como um palco artístico, onde professores e alunos colaboram para um espetáculo harmonioso. Para que tudo funcione, é crucial que os professores inspirem os alunos e estes, por sua vez, inspirem os professores.
Acredito que todo projeto precisa crescer organicamente, como uma árvore que germina lentamente. Não pode ser imposto, mas deve atender a uma necessidade coletiva. Assim tem crescido o SOFIA.
Desde a primeira reunião, os estudantes mergulham em leituras, participam de bate-papos literários, tanto entre si como com autores, competem em concursos de contos e frequentam eventos literários. Para as leituras coletivas, utilizamos os livros das sacolas literárias da Biblioteca Pública Municipal Arno Viuniski. Tudo isso é possível graças ao desejo de crescimento dos estudantes, suas famílias, dos professores e da administração escolar. Se um desses elos falhar, a corrente se quebra.
Sobre as parcerias e conquistas do grupo, contarei mais na próxima crônica, semana que vem. Seguimos, banhados pelo sol dos nossos sonhos, energizados pela luz que emana da literatura.
Viva a educação! Viva a literatura! Viva a EMEF Daniel Dipp!
É preciso que as autoridades reconheçam o trabalho dos catadores de materiais recicláveis os ajudando com políticas públicas de incentivo para que recebam a dignidade e o respeito necessários, afinal eles têm contribuído como já disse acima para um mundo melhor e mais bonito.
Na maioria das cidades há uma multidão que anda apressada e joga lixo pelas ruas sem se preocupar com o meio ambiente. É uma gente que não está nem aí com a sujeira das cidades. Não se preocupa com o próprio bem-estar. Contudo, se tem essa multidão que joga lixo nas ruas também temos os catadores de materiais recicláveis que ajudam as prefeituras e os garis a limparem as ruas dessas mesmas cidades de uma forma bonita e até poética.
O catador de material reciclável é um trabalhador que recolhe os resíduos sólidos recicláveis e reaproveitáveis, como papelão, alumínio, plástico, vidro, entre outros. É ele o nosso guardião do lixo saudável que jogamos fora todos os dias, pensando nós que existe um “fora” quando estamos todos dentro de um mundo que exige cuidados da nossa parte.
Esses catadores de materiais recicláveis, antigamente viviam solitários, sem receberem a ajuda de ninguém, mas hoje já podemos ver organizações, cooperativas e até mesmo associações que lutam pelos seus direitos e os ajudam a fazerem um trabalho melhor com preocupação na saúde e cuidados básicos necessários. Ainda falta muito, mas o primeiro passo já foi dado no reconhecimento da sua importância às cidades.
Os catadores de materiais recicláveis costumam andar pelas cidades buscando plásticos, materiais feitos com alumínio e outros objetos que possam ser reutilizados pelas pessoas nas suas casas e empresas, por isso tais catadores são tão necessários às vidas das cidades urbanas, neste momento prejudicial em que as pessoas não têm tempo para se preocuparem com ruas sujas e bueiros interrompidos por lixos.
As nossas maiores preocupações com os lixos que jogamos no mundo, acontecem quando chegam as chuvas e os esgotos explodem interrompidos pelo mesmo lixo que nós não tivemos o cuidado de descartá-lo no lugar apropriado. E por falar em lixo necessitamos ter o cuidado daquilo que jogamos nas nossas latas e sacolas de lixo, pois alguns desses catadores desavisados podem mexer neles e sem querer serem furados ou cortados por objetos que descartamos de forma errada.
Costumamos fazer do nosso lixo residencial um verdadeiro caos, descartando de tudo dentro das nossas latas de lixo, sem nos preocuparmos com o meio ambiente, querendo mesmo nos ver livre das pilhas, baterias de celulares, aparelhos de televisão e até mesmo vasos sanitários que já vi em alguns lixos de moradias da minha cidade. Tem gente que joga pedaços de vidros ou palitos de churrasquinhos no lixo, causando acidentes nesses catadores que em busca de materiais recicláveis esquecem de se cuidarem.
Na verdade, o bom é que usassem luvas apropriadas para esse tipo de serviço e que nós cidadãos fôssemos educados ambientalmente. Não pensamos no outro, isso sim é que é verdade. Somente olhamos para o nosso umbigo, e assim vamos deixando as cidades feias e sujas com a nossa falta de educação ambiental tendo a certeza de que isso é coisa para os garis, ou seja, jogar lixo nas ruas não vai causar mal nenhum a ninguém. Será mesmo?
Conheço pessoas e as aplaudo por separarem seus lixos nas suas casas tendo uma sacola para os materiais recicláveis. Em datas combinadas com os catadores elas entregam essas sacolas cheias de lixo que será reutilizado e voltará para as estantes de supermercados ou comércios. Sendo assim, a importância dos catadores de materiais recicláveis é grande e bonita, pois eles têm contribuído com a limpeza das nossas cidades não somente em busca de garrafas pets e latinhas de cervejas ou refrigerantes, mas existem alguns catadores que também se preocupam com a limpeza das ruas pegando do chão outros lixos que não servem de nada para eles, ou seja, apenas para deixar feia a cidade.
Nos meus passeios pela minha cidade, gosto de ficar olhando os catadores de materiais recicláveis recolhendo as caixas de papelão das lojas do comércio local que já conhecem os seus trabalhos e empilham as caixas num canto da calçada para que eles as recolham. Bonito isso da parte dos lojistas e comerciantes, merecem aplausos por ajudarem os catadores.
Eu acho que nós também deveríamos ajudar os catadores de materiais recicláveis. Há tantas cooperativas desses materiais que os catadores muito buscam pelas ruas, e se nós tivéssemos a consciência de juntarmos nas nossas casas num canto separado algumas latinhas de cervejas ou de refrigerantes de alumínio dessas festas que damos nos fins de semana e vendêssemos para uma outra cooperativa dessas até ganharíamos um dinheirinho que daria para comprar pães, leite ou outra coisa.
A minha mãe junta as latinhas de cervejas das grandes festas que o meu irmão e seus amigos participam. Ela já chegou a juntar vinte quilogramas de latinhas e vendeu para uma cooperativa. O dinheiro arrecadado ela doou para um hospital que trata crianças com câncer. Você também pode ajudar a quem precisa. Precisamos aprender a ajudarmos uns aos outros. É uma cadeia mútua de boas intenções. Eu, você, os catadores de materiais recicláveis e o resto do mundo que precisa de ajuda. Então, o que quero dizer é que os catadores de materiais recicláveis se tornam tão essenciais nas cidades grandes que estão se profissionalizando e com isso melhorando os seus serviços.
Conheço um homenzinho que mora num bairro de periferia da minha cidade que tem uma carrocinha anexada ao seu automóvel onde ele sai catando materiais recicláveis pela cidade e vive somente da renda que consegue com a venda deles. Ademais, os catadores de materiais recicláveis estão até mesmo virando artistas ou ajudando pessoas que trabalham com artes plásticas quando saem buscando outros tipos de lixo que podem servir para performances, quadros e criações as mais diversas de poesias.
Os materiais recicláveis e seus catadores contribuem para um mundo melhor. São esses catadores pessoas sensíveis às necessidades de mantermos as nossas cidades limpas e organizadas. Eles contribuem todos os dias para que as ruas estejam sempre bonitas e boas de nos locomovermos. Já pensou andarmos pelas ruas pisando em pedaços de vidro ou palitos de churrasquinhos? Não é o serviço deles tirar esse tipo de lixo das ruas, mas muitos fazem isso.
Geralmente, os catadores de materiais recicláveis costumam trabalhar durante as madrugadas quando as cidades dormem, porque o trânsito pelas ruas diminui e assim podem andar com as suas carrocinhas puxadas pelos seus braços fortes e incansáveis. Sem esses profissionais tenho a certeza de que os mares e esgotos estariam muito mais poluídos e entupidos. Muitos dos esgotos entupidos são consequências dos materiais largados nas ruas pelas pessoas que têm esse hábito.
Se bebo água numa garrafa ou copo plásticos na rua sempre trago para descartá-los em casa, mas costumo ver as pessoas os jogando nos cantos de árvores e em meio as praças públicas. Assim sendo, os catadores de materiais recicláveis cuidam da seleção, triagem, venda, reuso desses materiais dos demais encontrados nos lixos das grandes cidades. São profissionais merecedores do nosso reconhecimento, pois sem eles as cidades estariam com mais problemas do que os que temos e os desastres naturais como as chuvas talvez fossem maiores.
É triste, mas os catadores de materiais recicláveis estão sujeitos a muitos problemas: insalubridade, insegurança, marginalidade, condições de trabalho, dentre outros que somente eles podem nos relatar com as suas centenas de experiências pelas ruas das cidades grandes quando não têm sequer como se identificarem com roupas coloridas ou com luminosidade para indicarem que ali existe a presença de um ser vivo.
As histórias dos catadores de materiais descartáveis são diversas. Muitas tristes, mas outras são bonitas e emocionantes. Conheço um dos milhares de catadores do nosso país que comprou a sua casinha com o dinheiro do seu trabalho, ou seja, dos materiais recicláveis e abriu a sua própria cooperativa ajudando atualmente cerca de mais de sessenta outros catadores. Embora exerçam um trabalho tão bonito para o meio ambiente, os catadores de materiais recicláveis, na sua grande maioria, vivem duramente, não sendo reconhecidos muitas vezes como profissionais, não tendo incentivos das autoridades, vivendo numa situação de extrema vulnerabilidade social devido a discriminação em relação ao trabalho que fazem sendo algumas vezes confundidos até mesmo com bandidos.
É preciso que as autoridades reconheçam o trabalho dos catadores de materiais recicláveis os ajudando com políticas públicas de incentivo para que recebam a dignidade e o respeito necessários, afinal eles têm contribuído como já disse acima para um mundo melhor e mais bonito.
Para finalizar deixo vocês com os versos da canção de Marcelo Torca intitulada “Reciclagem” em que ele nos diz
“O importante é reciclar / Reciclar plástico, papel / O importante é reciclar / Para economizar / Se o papel vem da árvore / Para que derrubar mais uma / O importante é reciclar / Se o plástico vem do petróleo Para que retirar mais…”
Sejamos todos catadores de flores e amores neste existir de preciosidades raras, respeitando os catadores de materiais recicláveis que fazem do LIXO um LUXO, como já diz o poeta
Se eu já admirava os professores antes, hoje eu os considero os meus super-heróis brasileiros. E consegui perceber as dificuldades de levar projetos: quem está de fora pode achar que é simples implementar em sala de aula, mas não é. Conheça mais nesta conversa com a pesquisadora, escritora e mãe, Raquel da Hora, sobre a comunicação da ciência com crianças e jovens.
Uma mãe cientista que resolveu fazer um livro para explicar como funcionam nossas células e o maravilhoso mundo visível apenas ao microscópio. Bióloga, especialista em genética, com mestrado e doutorado pelo Instituto Nacional do Câncer (INCA) e pós-doutorados nas áreas de Genética, pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Ciências Médicas e Microbiologia e Parasitologia Aplicadas, ambos pela Universidade Federal Fluminense (UFF): o currículo de Raquel da Hora é extenso. Ela se orgulha, em igual medida, de seu trabalho de divulgação científica nas redes sociais, com a página Quero ser cientista, e com a literatura em que busca popularizar a ciência para crianças.
Mãe de Davi e Benjamin, de 8 e 11 anos, ela viu em muitos momentos a vida pessoal atravessar suas pesquisas e vice-versa, como ter feito boa parte de seus estudos no INCA após a perda do pai para o câncer. Ou ter entrado para um dos grupos de pesquisas pioneiros que estudavam as relações entre o zika vírus e a microcefalia em bebês, logo após ter dado à luz ao segundo filho.
Se voltarmos ainda mais no tempo, a pequena Raquel, que cresceu em Bangu, no subúrbio do Rio de Janeiro, um dia afirmou que seria cientista. E hoje busca despertar o interesse de crianças e jovens pela ciência na internet, em sala de aula ou por meio de seu livro O Maravilhoso Mundo da Célula. Para se aprofundar mais sobre a melhor forma de fazer isso, ela se tornou aluna da especialização em Divulgação e Popularização da Ciência da Casa de Oswaldo Cruz (COC/Fiocruz).
Raquel conversou com Radis sobre as diferentes formas de fazer a ciência estar mais próxima do cotidiano de crianças e adolescentes, de maneira inclusiva, interessante e didática.
Raquel é pesquisadora, mãe do Davi e do Benjamin e criadora da página Quero ser cientista, do instagram. — Foto: arquivo pessoal.
Como a pequena Raquel cresceu e se tornou cientista?
Sempre fui muito curiosa, muito ‘perguntadeira’ e isso tem a ver um pouco com a história da página Quero ser cientista. Sou bióloga, formada em licenciatura e bacharelado em Ciências Biológicas e depois fiz mestrado e doutorado na divisão de Genética do Instituto Nacional do Câncer (INCA) quando desenvolvi projetos sobre retinoblastoma, um tipo de câncer infantil que acomete os olhos e pode levar à cegueira, se não houver um tratamento urgente. Mas um pouquinho antes disso, durante o meu Ensino Médio, fiz o curso de formação de professores. Cheguei a trabalhar um ano com crianças, na educação infantil. A questão do lúdico na infância é algo que sempre acompanhou a minha carreira. Quanto à genética, quando fui fazer Ciências Biológicas, logo se tornou minha área de interesse porque meu pai foi paciente oncológico e, infelizmente, faleceu. A temática do câncer foi algo que atravessou a minha juventude.
Como foi conciliar maternidade e pesquisa científica?
Mais adiante, no meu primeiro pós-doutorado, tive o meu primeiro filho e resolvi fazer uma pausa porque era um verdadeiro malabarismo, estava sem rede de apoio e não ficava bem com aquela situação. Decidi parar. Ao retornar, quando o Davi já tinha dois anos, resolvi ir para o programa de Microbiologia e Parasitologia Aplicadas da Universidade Federal Fluminense (UFF). Continuei na área de Genética, mas dessa vez, tratando mulheres que tinham desenvolvido HPV. E no final do primeiro ano do pós-doutorado, já desenvolvendo trabalho, me descobri grávida novamente e pensava: “Nossa, mas acabei de voltar e vou ter que parar de novo? Dessa vez não posso parar, esse bebê vai junto comigo até quando eu aguentar com essa barrigona”. E aí tive o Benjamin.
Como sua experiência como mãe ajudou a ampliar o seu olhar de pesquisadora?
Em 2015, foi o momento em que estavam nascendo muitas crianças com microcefalia. Até então ninguém sabia exatamente que era por causa de um vírus. Fui chamada para integrar um grupo de pesquisa na UFF sobre a relação entre zika e microcefalia e isso foi ainda mais importante no processo de humanização, pois estava ali diante de mães e eu também mãe de um bebezinho.
Foi um trabalho do qual tenho muito orgulho de ter participado, pois queríamos fazer isso da forma menos traumática possível para as mães e resolvemos estudar a genética das células oculares, para ter acesso ao sistema nervoso e, assim, colhíamos nosso material a partir da lágrima dos bebês. Cada vez que você pisca, lubrifica e tem célula se soltando da camada ocular. Todo mundo me perguntava como eu fazia o bebê chorar (risos). A oftalmologista pingava um colírio que não interferia nas células e desenvolvi uma ‘membraninha’ de papel, bem fininha, que não machucava e, com isso, conseguíamos uma boa quantidade de células.
Acompanhamos crianças que tinham desenvolvido microcefalia cujas mães foram confirmadas com zika durante a gestação. E fui conversar com todas elas, eu com um bebê pequenininho, cheia de leite, e foi muito lindo participar disso. Sou apaixonada pela ciência e muitas vezes vejo esses atravessamentos ocorrendo entre vida e ciência.
Como surgiu a página Quero ser cientista?
Surgiu da minha lembrança de que, desde criança, eu já falava que queria ser cientista. E de onde veio essa afirmação? Havia o trabalho que hoje é do agente comunitário, de recolher amostras de água parada nos tubinhos para verificar se havia larva do mosquito Aedes Aegypti. Sempre fui muito curiosa, gostava de fazer perguntas. O moço que fazia esse trabalho foi me explicando e, entre tantas perguntas, ele falou assim: “Nossa, você tem todo jeito para ser cientista!” E eu perguntei: “O que o cientista faz?” Aí ele respondeu: “Faz perguntas o tempo todo”. E me deu alguns tubinhos, me explicou como fazer a coleta e levei tudo para a escola.
Em que momento você percebeu que o trabalho de divulgação científica seria uma forma de alcançar mais pessoas?
Já nos Estados Unidos para fazer pesquisa, antes da pandemia, me deparei com a notícia sobre um estudo realizado por pesquisadores da COC/Fiocruz em que foram entrevistados uns dois mil jovens e eles desconheciam nomes de cientistas nacionais, mesmo que boa parte deles afirmasse ter interesse na área de ciência. E aquilo me atravessou de uma forma, que pensei: “Poxa, sou cientista e o que eu faço é muito legal. Mas estou falando apenas para os meus pares. Qual vai ser o momento de começar a falar com a sociedade? E como falar?” Aí criei a página com esse nome, não no sentido de convencer que todos se tornem cientistas, mas com o objetivo de popularizar a ciência e mostrar o que um cientista faz.Comecei tirando fotos do que eu fazia e acabei dialogando muito com as mães, porque publicava bastante com os meus filhos. Nesse caso, a cientista é mãe e mulher também. A princípio, o conteúdo era voltado para crianças e jovens.
Vários estudos mostram que é na infância que a curiosidade é mais aguçada. E com o tempo isso vai se perdendo. Não é que elas se tornem totalmente desinteressadas, mas muitos estudos apontam que isso acontece muito mais em meninas. Existe uma janela de idade em que elas podem começar a se achar menos capazes para os diferentes tipos de ciências, como tecnologia, matemática e artes. Por isso, acabei direcionando também para um público de meninas na ciência.
Como foi a experiência de despertar o interesse pela ciência em sala de aula?
Estar mais em contato com a questão do letramento científico me fez voltar a pensar sobre essa questão da janela de tempo: é na Educação Básica justamente em que as meninas começam a se sentir menos capazes. Então me coloquei à disposição para ser uma cientista em sala de aula. Nunca havia passado por essa experiência, com adolescentes e crianças, porque lá atrás trabalhei na educação infantil, ou seja, com crianças muito pequeninas. Fui para uma escola rural no município de São Pedro da Aldeia (RJ). Estavam sem professores de ciência. Peguei turmas do sexto ao nono ano do ensino fundamental. E é uma experiência incrível estar dentro da sala de aula, sendo professora de ciências e cientista ao mesmo tempo. Se eu já admirava os professores antes, hoje eu os considero os meus super-heróis brasileiros. E consegui perceber as dificuldades de levar projetos: quem está de fora pode achar que é simples implementar em sala de aula, mas não é.
E como nasceu O Maravilhoso Mundo da Célula?
Eu sentia falta de um livro sobre a prática do cientista para as crianças. Publiquei O Maravilhoso Mundo da Célula no fim de 2022. O lançamento foi na Flip [Festa Literária Internacional de Paraty] e, em braile, saiu recentemente na Bienal de 2023. Toda a história foi pensada como uma grande brincadeira. Meu filho mais velho é autista com nível 1 de suporte e altas habilidades. E ele também começou a falar que queria ser cientista como a mãe e eu o levei ao laboratório. Esse primeiro livro foi muito pensando neles também, como se eu estivesse contando para eles como é o meu trabalho. É como se eu quisesse dizer: “Olha o que eu faço, como é legal. Como a célula é incrível e maravilhosa, como a gente usa o microscópio…”
Como surgiu a possibilidade de fazer um livro inclusivo?
A escolha da editora foi bem consciente porque queria que fosse um lugar que tivesse uma proposta inclusiva, para ser publicado em braile, em livro narrado com a opção em Libras e, mais recentemente, com a possibilidade de pictograma para crianças do espectro autista. Fazer o livro em braile é algo que conversa muito comigo por ter trabalhado por quase 20 anos com uma doença que afeta os olhos e pode levar à cegueira. Comecei a pensar como as crianças que conheci lá atrás durante a pesquisa poderiam ter acesso a algum conhecimento que estou publicando.
Como fazer com que esse movimento de popularização da ciência chegue a todas as crianças e jovens?
Quando comecei a fazer a página, me deparei com uma frase da astronauta Sally Ride [primeira mulher estadunidense a viajar para o espaço], que traduzindo é: “A gente não pode ser aquilo que a gente não pode ver”. Então, se não tivermos o contato, fica muito difícil. É preciso ter referências para mostrar para crianças e jovens o que o cientista faz e que não somos apenas aqueles que estão no laboratório, já que temos vários tipos de ciências.
Quais foram as minhas referências para ser hoje uma cientista? Para as crianças e jovens de agora, temos a incrível doutora Jaqueline Góes [biomédica que coordenou a equipe responsável pelo sequenciamento do genoma do vírus da covid-19]. Inclusive na minha primeira aula como professora da escola rural, resolvi levar o tema das mulheres nas ciências e falei sobre a doutora Jaqueline. É uma referência que impacta bastante. É um trabalho de formiguinha, mas o caminho, ao meu ver, é tentar garantir o acesso e trazer as referências para que eles possam concretizar isso cada vez mais, ou seja, fazer valer a expressão “Ciência para todos”.
Eu digo que se formos cancelar o pecador – e não o pecado – não sobrará uma obra sequer da vasta produção humana que não sofra cancelamento, seja ela em tela, página ou melodia. Nada restará de pé para que nossa civilização possa degustar sem culpa.
Meu pai costumava dizer “As virtudes são do sujeito e sua genialidade será eterna; já os defeitos são de seu tempo e lá devem ficar”. Com isso, procurava relativizar as falhas e defeitos encontrados nas biografias de gênios da literatura, música, artes plásticas e até da ciência. “É injusto, continuava ele, analisar o sujeito fora do seu tempo, alijado de seu contexto, sem a pressão do seu campo simbólico, no tempo e no espaço. Sem levar em conta seu tempo nosso julgamento sucumbe ao anacronismo”.
Eu digo que se formos cancelar o pecador – e não o pecado – não sobrará uma obra sequer da vasta produção humana que não sofra cancelamento, seja ela em tela, página ou melodia. Nada restará de pé para que nossa civilização possa degustar sem culpa.
Quem, dotado de genialidade criativa, estaria isento de ser seduzido pelos próprios monstros internos? Quem, diante da fama, fortuna e o poder que delas deriva, não seria chamado a se lambuzar nos sabores mundanos? Quem pode julgar o sujeito – não o delito – que podendo, errou?
Por essa razão, eu me oponho de forma veemente a todo tipo de julgamento moral de artistas e pensadores. Nada é mais danoso à cultura contemporânea do que a patrulha moralista, em especial a identitária.
Nada é mais embutrecedor do que apagar o passado por julgamentos morais do presente. A tentativa de remediar estas falhas, colocando embrulhos de celofane nos malfeitos é ainda pior; a solução encontrada por alguns de mudar as obras, fazendo “correções” para amenizar “erros” é absurda e mutilatória. “Corrigir” Heidegger, Monteiro Lobato, Picasso ou Wagner é destruir a história que circunda seus trabalhos, o que lhes veste de significados e relevâncias.
Deixem os termos racistas, antissemitas, misóginos e homofóbicos intactos e discutam esses fatos abertamente, como uma janela aberta no tempo para enxergar nossos valores mutantes no passado, assim como os erros de lá que desejamos combater aqui. Apagar da história as obras de gênios controversos é um crime de lesa-arte. Ao fim e ao cabo acabamos percebendo que a avaliação moral do artista serve sempre a interesses políticos, e libertar-se desse tipo de constrição é sempre um ato de justiça à própria arte, que será livre ou não será arte.
Adultos e crianças, ao se perderem nesse mar de cores e sentimentos, encontrarão não apenas diversão, mas uma rica tapeçaria de significados e insights que reverberarão muito além dos créditos finais. É uma dança com nossas próprias sombras, uma celebração do emaranhado de sentimentos que nos torna humanos”.
As profundezas do nosso ser no qual os mares da mente se entrelaçam com os rios do coração, ‘Divertida Mente’ convida-nos a embarcar em uma jornada encantadora pelas paisagens do inconsciente que nos foi apresentado por Freud e Jung. Não é apenas um filme, mas um mapa para o labirinto de emoções que nos compõe, um convite para navegar no oceano de sentimentos que habitam cada um de nós.
Na história de Riley, uma jovem em meio à turbulência da transição de sua vida, vemos a materialização de cinco personagens: Alegria, Tristeza, Raiva, Medo e Nojinho.
Cada um desses personagens é uma pincelada vibrante no quadro emocional que pinta o nosso mundo interior. Alegria, com seu brilho solar, nos ensina que a felicidade é uma dança de luz sobre as sombras. Tristeza, por outro lado, nos lembra que há beleza e profundidade na melancolia, como a chuva que alimenta o solo seco, preparando-o para novas florescências. Raiva, com suas chamas indomáveis, mostra-se como uma força de mudança, enquanto o Medo nos sussurra cautela, um vigia constante no castelo da mente. E, por fim, Nojinho, com seu ar de superioridade, nos protege dos perigos do mundo, seja de brócolis ou de corações partidos.
‘Divertida Mente’ nos oferece um espelho, refletindo a complexidade de nossas próprias paisagens emocionais. É um lembrete sutil de que as emoções não são simples hóspedes em nossa casa interior, mas os arquitetos de nossa experiência. Em Riley, vemos a batalha contínua para equilibrar esses habitantes, cada um lutando por seu lugar ao sol da consciência. É através de seus olhos que aprendemos que nossas emoções não apenas nos influenciam, mas tecem o tecido de nossa identidade.
A jornada de Riley é, em última análise, uma lição de empatia e resiliência.
Enquanto ela atravessa os desafios inevitáveis da mudança — uma nova cidade, uma nova escola, um novo mundo — somos lembrados de que o caminho não é fácil, mas é necessário. Assim como um rio esculpe seu caminho através de rochas intransigentes, somos convidados a enfrentar nossos próprios desafios com coragem e compaixão. A resiliência, assim, emerge como a ponte entre o que fomos e o que podemos ser.
Mais do que uma exploração do universo individual de Riley, o filme é uma porta aberta para conversas significativas. Ele nos proporciona uma linguagem universal para discutir o inefável: as emoções. Quando famílias se reúnem em torno desta narrativa, elas têm a chance de desvendar suas próprias histórias emocionais, de falar sobre o que muitas vezes permanece silencioso. As crianças, ao assistirem às aventuras emocionais de Riley, são encorajadas a expressar seus próprios sentimentos, enquanto os adultos são levados a refletir sobre as raízes e ramos de suas próprias experiências emocionais.
Visualmente, “Divertida Mente” é um banquete para os olhos, uma tapeçaria animada de cor e imaginação. A genialidade da Pixar ao traduzir conceitos abstratos em visuais tangíveis inspira-nos a sonhar além das limitações do cotidiano. Esse universo onírico, onde a criatividade não conhece fronteiras, é uma ode ao poder da imaginação, que nos convida a explorar as vastidões ainda não mapeadas de nossas mentes.
Assistir “Divertida Mente” é mais do que uma mera atividade de entretenimento; é um mergulho nas profundezas do inconsciente, uma exploração poética das emoções que nos definem. Adultos e crianças, ao se perderem nesse mar de cores e sentimentos, encontrarão não apenas diversão, mas uma rica tapeçaria de significados e insights que reverberarão muito além dos créditos finais. É uma dança com nossas próprias sombras, uma celebração do emaranhado de sentimentos que nos torna humanos”.
Autor: Prof. Dr. Mauro Gaglietti.Titular da Cadeira 31 da Academia Passo-Fundense de Letras/ Professor da Pós-Graduação em Justiça Restaurativa e Mediação por intermédio da empatia da URI [Santiago, RS] /Mediador de Conflitos e Mentor em Soft Skills nas empresas, escolas e instituições. Também escreveu e publicou no site “Chamado das rosas noturnas no sul do Brasil”: https://www.neipies.com/chamado-das-rosas-noturnas-no-sul-do-brasil/
No teatro tem-se um grupo que dialoga, organiza, experimenta e que se conecta interdisciplinarmente, potencializando a criatividade. Constantemente, o grupo e cada indivíduo exercita memória, atenção, compreensão textual, imaginação e expressividade. No acontecer do teatro há um educar-se coletivo dos que estão em cena mediatizados pelo público que também se educa.
O que é o teatro se não a arte de representar papéis? Com certeza, esta não é uma boa definição. Porém sabe-se que teatro não significa prédios/edifícios, narrativas, atores, formas e estilos. Em sua obra A porta aberta: reflexões sobre a interpretação, Peter Brook (2011) discute este problema conceitual destacando a dificuldade para definir a palavra “teatro”; por fim se satisfaz afirmando que a essência do teatro reside num mistério chamado “o momento presente” e este por sua vez é surpreendente.
Para este breve escrito fico com essa breve definição do teatro como sendo a “a arte de representar papéis”. Da peça teatral participam todos os presentes: atores, plateia e os demais envolvidos no espetáculo. No teatro a sensibilidade sai por todos os poros, pois ele é genuíno, tenso, emocionante, inteligente, envolvente. As narrativas teatrais são histórias “ao vivo e a cores”.
Teatro é vida, afirma Peter Brook (2011), mas não se pode apresentar no teatro a “vida tal como ela é” porque seria tedioso. Também não se pode deixar de mostrar a vida porque não haveria identificação com a plateia. Mas então como se faz teatro? Teatro se faz com atores, pessoas que emprestam aos personagens uma exuberante vida interior.
Nas palavras do autor, “vamos ao teatro para um encontro com a vida, mas se não houver diferença entre a vida lá fora e a vida em cena, o teatro não terá sentido. Não há razão para fazê-lo. Se aceitarmos, porém que a vida no teatro é mais visível, mas vivida do que lá fora, então veremos que é a mesma coisa e, ao mesmo tempo, um tanto diferente. Convém acrescentar algumas particularidades. A vida no teatro é mais compreensível e intensa por que é mais concentrada (Brook, 2011, p.8).
Na vida real, utilizamos muitas palavras desordenadas e repetitivas. No palco a vida está mais condensada no tempo e no espaço. Com alguns movimentos e poucas palavras, atores conseguem dizer e fazer sentir o que na vida real levaria horas e talvez meses para ser tido ou sentido. Atores não são marionetes, pois se fossem, poder-se-ia dispensá-los e deixar que bonecos traduzissem as narrativas teatrais e não importa se é a obra Hamlet ou qualquer outra narrativa comercial.
A sensibilidade dos atores é fundamental para um bom espetáculo teatral. No entanto, não é somente a sensibilidade, mas a capacidade de ao contracenarem criarem algo novo que não está no texto, não está no cenário e em nenhuma técnica experimentada para lá de “mil vezes”. Os atores experimentam a interdisciplinaridade de uma forma jamais vista em sala de aula ou em grupos de pesquisas. Porque não se trata de cooperação ou de empréstimos de um saber específico compartilhado, trata-se de criação. Precisamos ficar atentos para as múltiplas tarefas que executam. Os atores se colocam à disponibilidade para aprender e absorver outras práticas que não pertencem à especificidade de ator.
No palco eles cantam, dançam, poetizam, interpretam papeis, montam cenários, experimentam com seus personagens múltiplas profissões, vivem dilemas humanos, aprendem a brincar e tantas outras experiências encantadoras. Diz Brook (2011, p.52): “A grande pergunta que os seres humanos fazem eternamente é: ‘Como devemos viver?’ Mas as grandes questões permanecem completamente ilusórias e abstratas se não houver uma base concreta para sua aplicação na prática. O teatro é maravilhoso porque é justamente o ponto de encontro entre as grandes questões da humanidade – vida, a morte – e a dimensão artesanal, extremamente prática”.
Na vida escolar já existem experiências multidisciplinares que utilizam o teatro para reforçar conteúdo, dinamizar o conhecimento, entreter, tornar a vida mais divertida ou para aliviar o tédio causado pelos repetitivos e desconexos conteúdos escolares.
Algumas escolas possuem oficina de teatro ou artes cênicas dentro da disciplina de Artes. Outras têm o teatro com atividade extracurricular. Cabe também frisar que a longa data pedagogos e pesquisadores do ensino já mostraram pela via científica que o brincar, o jogar, o lúdico e que os jogos dramáticos são fundamentais para o desenvolvimento do ser humano.
Educa-se para sensibilidade em qualquer momento e situação. Para isso é preciso ficar atento ao mundo da vida. Certa vez, um adolescente enquanto falava sobre um assunto que nada tinha a ver com o que suas mãos faziam, estando ele próximo de uma pequena árvore cujos brotos nasciam, ficava arrancando-os sem nenhuma preocupação ou sentimento de destruição. Ele só parou de arrancar os brotos após ter sido repreendido por um adulto. Destaca-se aqui o fato do garoto não ter sido “afetado”. A chamada de atenção não o fez pensar no que estava fazendo. Para ele não havia nada de errado. Sua falta de sensibilidade com a planta era descarada e, obviamente a sua apresentação pública não havia nada de belo. É bem provável que sequer compreendia a totalidade do contexto. Talvez se este indivíduo tivesse tido experiências que envolvesse o plantar, o regar, o cuidar ele conseguisse dar-se conta do seu agir no mundo naquele momento.
Se queremos seres humanos mais sensíveis aos contextos, então precisamos educá-los e para isso é preciso vivências. O fato de alguém ter muito conhecimento não significa naturalmente que se tornou um ser sensível para todos os contextos.
Como já foi dito anteriormente, a sensibilidade tem a ver com percepção e esta é a elaboração mental das sensações. Um contexto pode oferecer inúmeros estímulos às sensações. No entanto, não prestamos a atenção em tudo que está ocorrendo ao nosso redor. Coisas nos passam despercebidas, o que na visão de algumas pessoas possa aparentar insensibilidade. Quanto maior for a percepção do ambiente maior nossa apreensão da realidade.
O ser humano precisa de uma experiência estética do cotidiano porque esta é capaz de fazer aflorar seu potencial sensível. Estética, segundo Nadja Hermann (2005, p.34) “é um termo derivado do grego aisthesis e significa sensação, sensibilidade, percepção pelos sentidos ou conhecimento sensível-sensorial”. O belo, o bom gosto, o bom humor define o ser humano tornando-o uma pessoa melhor na sua relação consigo mesma, com os outros e com as coisas.
A estética enquanto totalidade da vida sensível significa uma ampliação das percepções. Segundo Morin (2013, p. 342), “a relação estética não deve ser considerada um luxo. Ela nos remete ao melhor, ao mais sensível de nós mesmos. Ela nos envia uma mensagem de autenticidade a respeito de nossas relações com os outros, com a vida, com o mundo”.
As pulsões são eventos naturais, mas precisam ser educadas e neste quesito concordamos com Schiller (1991) “as pulsões naturais” emanam da vida e por vezes são opostas. O sensível é corpóreo, parte da existência física do homem. Essa sensibilidade pode levar o sujeito a seguir as inclinações das paixões. Porém, viver apaixonadamente o tempo todo pode ser destrutivo. Por isso Schiller (1991) vai insistir no equilíbrio destacando a importância do impulso racional. O belo, para o filósofo, é justamente o encontro entre a sensibilidade e a racionalidade. Quem sabe a tarefa de uma educação para sensibilidade possa ser religar o sensível ao racional.
Sendo o teatro uma arte, sem dúvida, a experiência dele permitirá ao ser humano uma autocompreensão de seu “ser e estar no mundo”, além da expressão cênica e da narrativa que fazem a dramaturgia e que, por si só, já revela valor estético e educativo. Atividades dramáticas liberam a criatividade revigorando a potencialidade imaginativa do ser humano e sua capacidade para a improvisação. Que ser humano não brincou de “faz de conta”? Na infância representar papéis é algo espontâneo e revelador da situação interna e afetiva da criança. “As capacidades de expressão – relacionamento, espontaneidade, imaginação, observação e percepção – são inatas no ser humano, mas necessitam ser estimuladas e desenvolvidas, por meio de atividades dramáticas, musicais e plásticas” (Reverbel, 2009, p. 23).
Não significa dizer que teatro é um “faz de conta”.
Sabemos que teatro é feito por atores “com vivacidade intelectual, emoção verdadeira e corpo equilibrado” (Brook, 2011, p.14). Uma criação artística teatral requer pensamento, sentimento e corpo em perfeita harmonia. No espetáculo teatral alguns elementos são indispensáveis: ator, diretor, texto (personagem) e espectador. Para unir estes elementos exige-se trabalho duro. Muito estudo, ensaio, talento, dinamismo e comunicação.
O que nos interessa aqui é entender que desde muito cedo o ser humano cria personagens para revelar-se e para comunicar algo ao mundo. Que possui grande capacidade imaginativa e que por meio de narrativas consegue envolver-se e envolver o espectador de tal forma que este se torna peça fundamental para o valor do espetáculo. Para Peter Brook (2011), a plateia é cumplice dos atores. Se isso não acontecer o espetáculo não faz sentido.
Podemos ler um texto sem uma conexão sensível com a história; podemos escrever um artigo sem nenhum envolvimento afetivo; podemos participar de uma brincadeira de grupo superficialmente; podemos viver até mesmo um relacionamento amoroso sem uma entrega; no entanto, arriscamos afirmar que não podemos fazer teatro sem envolvimento total dos participantes. Tal envolvimento se traduz em emoções, afetos, sabedoria, conhecimento, responsabilidade, colaboração, entrega, sentimentos, atitude, aprendizagem, humanidade. Por isso, o acontecer do teatro é uma profunda prática da sensibilidade, assim como uma visceral e instigante experiência interdisciplinar, pois mobiliza nossos sentidos, nossos sentimentos, nossas emoções, nossas faculdades cognitivas, nossas compreensões e percepções do mundo.
No acontecer de um jogo dramático, não importa se o método de aprendizagem ou a possibilidades de mensuração são para fins avaliativos ou estatísticos; o que importa é o acontecer da experiência total, o relacionamento, a criação, os afetos, as parcerias, a compreensão da realidade e as experiências vivenciadas.
Em sua conhecida obra Pedagogia do Oprimido, Paulo Freire (1987, p.68) já dizia que “ninguém educa ninguém, ninguém educa a si mesmo, os homens se educam entre si mediatizados pelo mundo”. Encontro nesse anúncio freireano não só uma profunda visão coletiva de formação, mas também uma concepção interdisciplinar de educação. Da mesma forma, me arrisco a afirmar que o teatro é uma experiência coletiva e, poderíamos complementar o anúncio freireano dizendo que somos afetados constantemente no encontro de um com o outro.
No teatro tem-se um grupo que dialoga, organiza, experimenta e que se conecta interdisciplinarmente potencializando a criatividade. Constantemente, o grupo e cada indivíduo exercita memória, atenção, compreensão textual, imaginação e expressividade. No acontecer do teatro há um educar-se coletivo dos que estão em cena mediatizados pelo público que também se educa.
A arte de representar papéis exige do ator despojamento de si mesmo para se colocar no lugar do outro. Ao viver um personagem, o ator experimenta “outra vida” que lhe permite um aprendizado do sensível. Além desse ganho pessoal do ensimesmar-se, existe o envolvimento dos sujeitos entre si, com a narrativa, com a plateia e isso os afeta emocional e cognitivamente. Por todas estas razões, o teatro se apresenta como uma estratégia formativa da sensibilidade de primeira grandeza.
As reflexões apresentadas neste escrito fazem marte de um escrito maior que desenvolvi a seis mãos com minha filha Camila Fávero e minha esposa Alcemira Maria Fávero num capítulo intitulado “A vivência teatral como experiência interdisciplinar formativa” (Fávero; Fávero; Fávero, 2018). Foi Camila que nos apresentou os escritos de Peter Brook e nos ajudou a compreender a grandeza do teatro como experiência formativa da sensibilidade. Sua vida de artista, sua sensibilidade em capturar as dores e as alegrias da existência servem de inspiração constante para nossas vidas e para pensar essa comunhão entre teatro e educação. Para os que desejarem ler o capítulo na íntegra, segue o link para acessar todos os capítulos da coletânea Interdisciplinaridade e Formação Docente (Fávero; Tonieto; Consaltér, 2018).
Em tempos de crise climática iminente, “A civilização em risco” é um chamado para que cada um de nós participe da luta pela sustentabilidade e pela habitabilidade do planeta.
Um alerta sobre as riquezas do mundo, a finitude dos recursos naturais, e como o sistema econômico atua de modo ininterrupto para o destruir. “Vista objetivamente, a crise global que bate à nossa porta, afetando diretamente o sentido de viver em sociedade, é crescente, intensa, assustadora. Acima de qualquer outro motivo, ainda que entre nós haja quem não a leve a sério, é uma crise que produz ameaças por todos os lados.”
Em um mundo cada vez mais moldado pelas demandas incessantes do mercado e pelo consumismo desenfreado, o livro “A civilização em risco: a humanidade na contramão do equilíbrio ecológico”, do economista Marcus Eduardo de Oliveira, surge como um alerta urgente e necessário.
Com uma narrativa envolvente e fundamentada, o autor nos conduz por uma reflexão profunda sobre o impacto devastador das ações humanas no meio ambiente. A partir de uma perspectiva crítica, o livro expõe como a obsessão pelo crescimento econômico tem levado a uma imensa degradação ambiental.
Citando especialistas como Albert Jacquard e Christian de Duve, Thomas Lovejoy e Stephen Hawking, a obra destaca a incompatibilidade entre a busca por crescimento infinito e os limites finitos do nosso planeta. O livro também aborda a responsabilidade das nações mais ricas e consumistas, enfatizando como a lógica do lucro imediato ainda sobrepõe-se à preservação ambiental.
Com textos de Eduardo Suplicy, Dal Marcondes, José Carlos Carvalho, entre outros, este livro é mais do que uma simples denúncia: é um convite à ação e à reflexão. A obra desafia-nos a reconsiderar nossa relação com a natureza e a reavaliar os fundamentos da economia moderna. Em tempos de crise climática iminente, “A civilização em risco” é um chamado para que cada um de nós participe da luta pela sustentabilidade e pela habitabilidade do planeta.
SOBRE O AUTOR:
Marcus Eduardo de Oliveira é economista e ativista ambiental. Mestre em Integração da América Latina pelo Programa de Estudos Latino-Americanos (prolam), da Universidade de São Paulo (usp). Nos últimos anos tem se dedicado a estudar a relação da economia com o meio ambiente. Suas publicações mais recentes: Economia destrutiva e Civilização em desajuste com os limites planetários (ed. CRV, 2017 e 2018).
O autor também é Convidado do site, com 28 textos publicados.
Como conhecer o perfil mais adequado para um governante de uma cidade?
Nas campanhas eleitorais, os candidatos/as a pais ou mães da cidade apresentam-se como os/as melhores, bons/boas, maravilhosos/as, competentes. Infelizmente, estas características ou qualidades de cada governante só serão conhecidas e reconhecidas pelos cidadãos e cidadãs no exercício do mandato. Ainda bem que, de quatro em quatro anos, a população manifesta-se sobre aprovação ou reprovação dos mandatários, considerando, principalmente, a sua forma de governar, cuidar e a maneira de resolver os problemas de uma cidade.
Não escolhemos nossos pais e mães mas, numa cidade, escolhemos o prefeito ou a prefeita por votação e é uma decisão muita séria, tendo em vista que a família de uma cidade são todos os que ali moram e que precisam, de algum modo, apoio e guarida de um pai ou de uma mãe.
Mas como conhecer o perfil mais adequado para um governante de uma cidade?
O caráter democrático ou autoritário destes pais ou mães (prefeitos e prefeitas) são manifestados pela forma de atuação política destes/as junto à população. Não é verdade que o poder corrompe as pessoas; ele apenas oportuniza a revelação do caráter delas. Por isso, também, pessoas com trajetórias reconhecidas e boas experiências de gestão tendem a levar vantagens na definição dos votos.
Um dos aspectos a considerar nesta tarefa de governar a população de uma cidade é a idade dos prefeitos e prefeitas. Será que um jovem ou uma jovem conseguiria representar e administrar uma cidade, considerando todos os papéis e funções que o cargo de prefeito ou prefeita envolve?
Observe e repare, querido leitor, que muitas candidaturas a prefeito e prefeita das nossas cidades se consolidam por duas hipóteses. Vejamos.
Se o candidato a prefeito ou prefeita é mais experiente, busca-se um candidato ou candidata a vice-prefeito/a mais jovem, com a ideia de aliar a experiência com renovação. Se o candidato/a for mais jovem, busca-se um vice-prefeito/a mais experiente para contrabalancear a pouco idade do prefeito ou prefeita. Neste último caso, o vice-prefeito ou vice-prefeita é uma espécie de avalista do prefeito/a mais jovem. Em suma, candidatos mais experientes ou muito jovens tendem associar-se para aliar experiência com renovação política (ou vice-versa).
A sabedoria popular ensina que o prefeito ou prefeita é uma espécie de pai ou mãe de uma cidade.
Consideramos pertinente e interessante pensarmos que a função ou representação de um prefeito ou prefeita pode estar associada com a figura de um pai ou de uma mãe. Este pai ou mãe que imaginamos é responsável, tem visão de futuro, sabe conciliar desenvolvimento econômico com inclusão social, sabe valorizar o meio ambiente e sustentabilidade, demonstra capacidade de diálogo e escuta com a população, projeta a cidade em direção ao futuro, aposta em educação e valorização dos professores, pensa e projeta obras estruturantes para viabilizar mudanças significativas para a maioria da população.
Este ideal encontra-se num perfil de governante que não se fecha em gabinetes e nem se cerca de gente para afastar a comunidade. A voz, a conversa, a reclamação, as críticas, a escuta e a proximidade são as estratégias daqueles que querem e tem necessidade de serem vistos, ouvidos e atendidos. Um pai ou uma mãe sempre terão disposição de servir, pois conhecem e reconhecem as necessidades de cada um e do conjunto da população.