Beautiful young Afro American couple is giving high five and smiling while sitting on the floor in kitchen after cleaning it
Carecemos de uma mudança urgente, uma vez que o acúmulo desta dupla jornada pelas mulheres resulta não somente no esgotamento físico mas também interfere em sua saúde mental.
Tem sido frequente ouvir – de homens – sobre o quanto participam com suas companheiras na execução das atividades domésticas. Quando lhes pergunto sobre quais são estas, tenho por respostas uma lista mínima de afazeres, o que corrobora com uma pesquisa feita por National Survey of Families and Households, um departamento da Universidade de Michigan (EUA) que realiza pesquisas longitudinais em famílias norte-americanas. Segundo o órgão, enquanto as mulheres contribuem com 64% das horas trabalhadas em casa (serviços domésticos) os homens não contribuem com mais do que 30% destas.
Mas como mudar esta realidade numa sociedade onde há décadas as mulheres deixaram de ser “donas de casa” – tão somente- para também trabalhar fora? Onde a cultura ainda vê tais tarefas como obrigação da mulher?
Reafirmo: carecemos de uma mudança urgente, uma vez que o acúmulo desta dupla jornada pelas mulheres resulta não somente no esgotamento físico mas também interfere em sua saúde mental.
A data (recém passada) de 23 de setembro assinalava o Dia Internacional de Combate ao Estresse, a qual fora instituída mundialmente para que se reflita sobre este mal que assola milhões de pessoas no mundo. Segundo a Organização Mundial de Saúde, cerca de 90% da população mundial sofre com o estresse, e, no Brasil, a preocupação também é grande. De acordo com um levantamento da Associação Internacional do Controle do Estresse (ISMA), já somos o segundo país do mundo com o maior nível de estresse.
É claro que o estresse pode decorrer tanto do ambiente de trabalho como do social, ou mesmo dentro das relações familiares. Proponho, neste texto, uma reflexão apenas sobre o questionamento aos casais (a base e a origem de uma família) sobre o quanto um bom entendimento na distribuição da execução das tarefas domésticas tem implicância na saúde e na qualidade de vida de ambos.
Há muitas formas de combate ao estresse, desde cuidados alimentares, prática de atividades físicas diárias, de qualidade de sono, da manutenção de relacionamentos sociais e de lazer, além de uma rígida disciplina financeira e de responsabilidades com o trabalho. Assim, como múltiplas são as causas desencadeadoras de estresse, igualmente, um sem número de atitudes podem nos auxiliar no seu combate.
Amigo leitor, comece por cuidar de quem você ama, seja justo e assuma a execução de mais tarefas domésticas em sua casa, ambos ganharão com isso.
Podemos agradecer e comemorar todos os dias, sem, no entanto, deixarmos de lutar por um futuro melhor. Pessoas que têm por hábito a prática de atitudes de gratidão vivem de forma mais leve, adoecem menos e são aquelas que sempre queremos ter ao nosso lado. Sendo mais gratos seremos mais queridos e estaremos em paz conosco. Leia mais: https://www.neipies.com/com-gratidao-adoecemos-menos/
As questões são muitas e complexas. Mas, a questão das questões está no tipo das sementes a serem semeadas. Ou não?
Com diferentes enfoques, a parábola bíblica do semeador é narrada por três evangelistas (Mt 13, 1-9; Mc 4, 3-9; Lc 8, 4-8). Também pelo evangelho apócrifo de Tomé (9). Ela continua muito oportuna e inspiradora.
Terrenos ótimos, bons, ruins e péssimos como referidos na parábola, seguem existindo. Semente de qualidade muito boa, transgênica, envenenada e vencida, igualmente.
Tipos de semeadores há uma variedade enorme. Nos terrenos bons, qualquer tipo de semente pode vingar. Vai depender dos/as cultivadores/as permitir que prosperem ou não. Já nos terrenos pedregosos e áridos, embora se lance semente da melhor qualidade, pouco ou nada produzirá, exatamente porque o terreno é ruim. Quanto às colheitas, sabe-se que elas nunca fogem da natureza das sementes.
Da metáfora para a realidade humana, tudo a ver. Imaginemos o amor, o respeito, a equidade social, a solidariedade e a paz como sementes. É altamente recomendado cultivá-las em todos os tempos, para o que se requer um preparo permanente dos terrenos. Entretanto, embora não se queira, há muita semente péssima que emerge de forma espontânea, mas que também é lançada e cultivada. E o pior é que muitos o fazem obcecadamente, inclusive em nome de Deus, da fé e da religião. Semeiam, adubam e comemoram a expansão das sementes do ódio e da intolerância.
Vivemos num país em que milhões são excluídos dos direitos e das condições básicas de sobrevivência. A concentração da renda e da riqueza segue em escala geométrica. Segundo o Relatório sobre Riqueza Global (2021), publicado pelo Banco Credit Suisse, no Brasil o 1% mais rico concentra 49,6% de toda a riqueza do país.
Assim, retornamos ao criminoso mapa da fome e da miséria. Uma realidade de pernas para o ar, onde “quem não é prisioneiro da necessidade é prisioneiro do medo. Uns não dormem por causa da ânsia de ter o que não têm, outros não dormem por causa do pânico de perder o que têm” (Eduardo Galeano). Nessa ordem, vigora a desordem associada e multiplicada pela pandemia e pelos pandemônios.
O ódio e as agressões virtuais e presenciais racham famílias e relações de amizade. Criam verdadeiros apartheids domésticos e sociais. A situação a que chegamos em nível mundial e, especialmente no Brasil, assume configurações inéditas. Para tentar compreendê-la será necessário a ajuda de todas as ciências. Entre elas, a psicanálise, a neurociência e a psiquiatria terão papel fundamental.
Por que é que o ódio passou a pulsar tão forte e insaciável nos humanos, sem qualquer escrúpulo, inclusive nas ditas “pessoas de bem”? Alguns estão afirmando que, por vias obscuras e fakenianas (falseadas), instalou-se na sociedade uma verdadeira Síndrome de Estocolmo coletiva, na qual se verifica uma paixão cega dos torturados por mitos torturadores, até identificados como autores de crimes de lesa humanidade.
Em um tal cenário de discriminação e violência generalizadas, vale recordar uma vez mais a famosa declaração do presidente da África do Sul (1994 – 1999) e Prêmio Nobel da Paz (1993), Nelson Mandela: “Ninguém nasce odiando outra pessoa pela cor de sua pele, por sua origem ou ainda por sua religião. Para odiar, as pessoas precisam aprender; e, se podem aprender a odiar, podem ser ensinadas a amar”. O grande líder Mandela combateu o bárbaro regime do apartheid (na “terra brasilis”, ele vigora há séculos) com as “armas” da paz.
Diante dessa safra gigantesca da cultura do ódio, da destruição do outro e da natureza, da desigualdade, da exclusão e da fome, podemos ter basicamente três atitudes:
a) Juntarmo-nos a estes/estas cultivadores/as e seguir produzindo a barbárie;
b) Ficarmos indiferentes, que é o mesmo que dar vitória ao time que está ganhando;
c) Fazer a diferença por meio da prática do diálogo, do amor e do respeito interpessoal, da solidariedade, etc.
Embora as atitudes pessoais sejam essenciais, elas não são suficientes. É preciso mais. Para problemas sistêmicos, nacionais e globais são necessárias medidas, políticas e programas estruturais e continuados. As questões são muitas e complexas. Mas, a questão das questões está no tipo das sementes a serem semeadas. Ou não?
Façamos de nossa vida um instrumento de promoção da vida mais plena e feliz. Embora nas turbulências, caminhemos firmes e esperançosos, pois não estamos destinados ao nada. Embora nem sempre pareça, nossa vida tem futuro. O futuro de um porto muito mais seguro! Leia mais: https://www.neipies.com/o-ser-a-morte-e-a-vida/
Os dois poetas conversam em versos semelhantes que se diferenciam apenas na forma de utilizar as palavras para falar desse conhecer-se e conhecimento das coisas que nos rodeiam e tanto precisamos saber como são constituídas para que cada vez mais possamos poetizá-las.
Não sou nada. Nunca serei nada. Não posso querer ser nada. À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.
Álvaro de Campos
Sonho que sou Alguém cá neste mundo… Aquela de saber vasto e profundo, Aos pés de quem a Terra anda curvada!
Florbela Espanca
Atrevo-me a comparar dois poetas portugueses maravilhosos e que os leio quase diariamente. Não tenho livros de cabeceira. Tenho livros nas minhas mãos e na mochila que levo para onde vou. Se você me encontrar na rua pode pedir para ler o livro que carrego. Terei sempre um poeta português junto comigo, porque amo aqueles que aqui chegaram e povoaram esse país fazendo dele um lugar maravilhoso para se viver.
A poesia portuguesa é para mim a mais linda do mundo, começando por Fernando Pessoa e chegando em Ernesto Manuel de Melo e Castro. Eu também não posso esquecer das mulheres portuguesas que brilham na arte da poesia e aqui deixo o meu abraço afetuoso à poesia de Sophia de Mello Bryner Andresen e a Luiza Neto Jorge cada uma com a sua unicidade e eu lírico que se diferenciam na arte de poetizar, mas se aproximam quando tecem versos que nos encantam a alma como se fossem orvalhos das manhãs.
Falar da poesia do engenheiro naval Álvaro de Campos é entrar no mundo da heteronomia de Fernando Pessoa no que há de mais profundo e filosófico sobre a sua poesia que se larga no chão feito enamorado apaixonado que se despede do seu eterno amor, seja naquele que pensa na vida como um balanço onde o estar aqui nem sempre é presença, mas essência que veste a psiquê de uma aprendizagem metafísica que nunca sabe ser-se ou quem ser-se, se é que somos algo antes de existir para a realidade do mundo.
No heterônimo de Álvaro de Campos, Fernando Pessoa consegue falar de uma psiquê que abre as portas da sensibilidade poética para falar de um nada que se aproxima de Parmênides quando ele se refere ao ser e ao não-ser que apesar de estarem próximos não são iguais.
O ser pode ser pensado e o não-ser é aquilo que não pode ser pensado. Se o não-ser não pode ser pensado e se de certa forma ele existe no universo deve se esconder atrás do daimon socrático. Eis uma questão que suspende o juízo para ser refletida. Em todo caso o poeta Álvaro de Campos traz esse não-ser quando fala em seus versos que nunca será nada. Existir também é ser um nada, penso.
Se a física nos diz que 74% do universo é composto pelo vazio e que 22% é composto de matéria escura, essa matéria pode ser vista como coisas que estão preenchidas por algo, o nada não deixaria de existir de alguma forma.
E por que o poeta Álvaro de Campos não pode querer ser nada? Talvez porque ele já seja alguma coisa mesmo sentindo-se vazio na sua essência há uma metafísica que alerta que o não poder é o poder da sabedoria divina onde os deuses do Olimpo têm poderes sobrenaturais capazes de mesmo não quererem ser nada serem o tudo para aqueles que acreditam neles.
Não poder querer ser nada é desrespeitar a essência do ser e essa desobediência é livre para o poeta que abre o seu terceiro verso dizendo que apesar de não querer ser nada tem todos os sonhos do mundo e quem tem imagens tem sabedorias à parte necessárias ao bom viver.
O nada não existe. Está é uma concepção do filósofo Bergson contemporaneamente modernizada por Sartre que nos diz que apesar do nada não existir pode ser concebido por operações da mente e de que o nada é uma entidade de existência real, ou seja, resumindo para simplificar nossas palavras melhor, o nada existe enquanto ser. E está presente na natureza e na verdade enquanto ser uno e indivisível. Por isso quando o poeta Álvaro de Campos nos diz que não é nada, na verdade, ele quer nos dizer que é mais do que tudo, ele é um ser completo que busca a essência das coisas e se percebe desassossegado ao não encontrá-las, logo é que no verso seguinte ele nos diz que tem em si todos os sonhos do mundo e quem não os teria preocupado em encontrar essa origem das coisas ao nosso redor? Vale a reflexão.
E o que dizer de ser Alguém para Florbela Espanca? Talvez o ser de Parmênides que explica o que é pensado, a imagem que criamos no pensar, o que é uno, o que se apresenta à realidade. Se lembrarmos do filósofo Descartes o ser é aquilo que se pensa, logo existe. E por existir Florbela passa a sofrer todas as dores geradas pelas coisas presentes na realidade, uma angústia e melancolia produzida pelas musas da poesia.
O ser é tudo aquilo que constitui a realidade e pode ser formado como imagem no nosso pensamento. Para Parmênides o ser é todo, ou seja, inteiro, ele não se separa. Sendo a poeta Florbela Espanca um ser, melhor dizendo, um Alguém como ela mesma diz em seus versos pode ter um saber vasto e profundo, saber este que se apresenta na realidade dos mundos das ideias do filósofo Platão.
Todo saber é vasto e profundo quando não está preso, quando pode voar, quando é livre para navegar em mares nunca antes navegados.
A poesia de Florbela Espanca é doída, mas dói também ser um Alguém que não pode ser separado e que não pode ser dividido. Todo ser completo percebe-se apesar da sua completude ainda por indefinido tanto no existir quanto na arte da sabedoria. Assim é que o filósofo Sócrates dizia “Só sei que nada sei”. E por mais que a poeta Florbela Espanca diga ter um saber vasto e profundo para justificar ser alguém neste mundo, ela sabe que precisa saber mais para tornar-se infinita e por isso nos diz na terra anda curvada, como se essa terra soubesse mais do que ela.
Todos sabemos que da terra surgiu o homem segundo o cristianismo e que da terra vêm os alimentos que necessitamos para sobrevivermos, logo a terra passa a ser chamada por muitos de mãe terra. Essa mãe que tudo nos dar e nos proporciona.
O nada do poeta Álvaro de Campos ao Alguém de Florbela Espanca se aproximam e são semelhantes. A semelhança é concebida quando lembramos de Sartre na concepção do ser nada. Apesar desse ser nada não querer existir ele faz parte do nosso pensamento, então Álvaro de Campos também é uma Alguém assim como Florbela Espanca. O estar aqui existe e não pode ser o nada. Ter muitos sonhos dentro de si é a mesma coisa de ter um conhecimento vasto e profundo.
Os dois poetas conversam em versos semelhantes que se diferenciam apenas na forma de utilizar as palavras para falar desse conhecer-se e conhecimento das coisas que nos rodeiam e tanto precisamos saber como são constituídas para que cada vez mais possamos poetizá-las.
Se há uma melancolia na poeta Florbela Espanca também podemos encontrá-la no poeta Álvaro de Campos. E todos são divinamente inspirados pelas musas como nos exemplifica o filósofo Platão no seu diálogo Íon.
Sabemos hoje que a poesia não é feita somente de inspiração divina, mas de uma necessidade de conhecimento técnico sobre as coisas e talvez por isso Álvaro de Campos tenha tantos sonhos que podem tornar-se reais a partir do conhecimento que for adquirindo ao longo dos seus anos assim como a poeta Florbela Espanca mesmo com um saber vasto e profundo anda na terra curvada, sabendo que precisa de mais conhecimento técnico.
A perfeição do poetar está naquilo que aprendemos ao longo dos anos. Seja o conhecimento científico ou o do senso comum. Necessitamos dos dois para poetizarmos a vida de uma forma que possamos extrair das coisas aquilo que não é percebido pelos seres comuns que andam de olhos vedados e não sabem ler outonos, primaveras, invernos e verões antes do nada sumir do pensamento e tornar-se Alguém até depois do não-ser.
Quando o olho de um professor para de brilhar, a escola perde a poesia. E como diz aquele professor de literatura que refundou a sociedade dos poetas mortos, nada contra as demais matérias, mas é a poesia que nos mantêm vivos.(Luciana Kraemer) Leia mais:https://www.neipies.com/a-poesia-que-nos-mantem-vivos/
Quem já não ouviu falar de que tal história daria um livro! Pois é, as histórias que andavam de boca em boca e que poderiam ser liquefeitas, viraram livro. Parafraseando o livro mais lido do mundo, pode-se dizer que os verbos reunidos tornaram-se o livro Recordações Maristas.
Há muitos leitores que perguntam qual a melhor modalidade para se ler um livro, jornal ou revista. Respondo que cada leitor tem seu jeito de mergulhar num texto. Se for um livro de contos, ou crônicas, alguns preferem selecionar alguns títulos, começando pelo mais impactante, ou ir àquele que melhor atende suas expectativas.
Caso for a leitura de uma revista, a mesma regra, isto é, seleciona o artigo melhor ilustrado, sempre visando o tema de seu maior interesse. Já no que se refere ao jornal, há os que começam pelo final, onde consta a crônica do David Coimbra, ou o horóscopo. Outros ainda preferem a página policial, ou a parte esportiva. Vejo tanta gente lendo de trás pra frente!
Resumindo, cada leitor é único, selecionando o que mais lhe interessa. Pois lhe digo, ao ler o livro Recordações Maristas, há nele um misto de depoimentos, testemunhos, contos e crônicas, organizados pelos professores Agostinho Both e Eládio V. Weschenfelder.
Assista ao vídeo de lançamento da obra: Neste vídeo está registrado um entusiástico e significativo lançamento de Livro Recordações Maristas, organizado pelos professores Eládio Vilmar Weschenfelder e Agostinho Both. O lançamento do livro foi no dia 23 de outubro de 2021, às 18 horas. https://youtu.be/j4KuLWT5yZo?t=70
Como antologia, outros escritores participam ativamente falando sobre episódios vivenciados durante o processo de formação para serem religiosos Maristas, mas que, por razão de cunho pessoal, seguiram o rumo laico.
Na Parte I, Agostinho Both, Anilo Whatier e Rení G. Oleksinski tratam sobre três alterbiografias sobre os Irmãos Maristas Victor Rossetto, Pedro A. Weschenfelder e Taciano P. Rizzotto. Também tecem significativas informações sobre a importância da obra educativa Marista, desde sua origem até a contribuição à criação da Universidade Federal de Santa Maria e Universidade de Passo Fundo, inclusive da PUC/RS.
Aos leitores que preferem a leitura de textos mais breves e impactantes do ponto de vista do final imprevisível, como doses de humor e quebra de paradigmas, indicamos a Parte II, escrita pelos Ex-Irmãos Maristas que, por um longo tempo estiveram juntos, mas que agora se reúnem para contar histórias na forma de livro. Que ler, verá!
Quem já não ouviu falar de que tal história daria um livro! Pois é, as histórias que andavam de boca em boca e que poderiam ser liquefeitas, viraram livro. Parafraseando o livro mais lido do mundo, pode-se dizer que os verbos reunidos tornaram-se o livro Recordações Maristas.
Nossa proposta é provocativa. Quantas possibilidades nos aguardam no sentido de darmos novo direcionamento a nossa prática docente partindo da realidade, dando sentido profundo à vida do aluno e engajando-o em atividades significativas para ele, que lhe trarão, além de conhecimentos, a aplicação na realidade deles, a convivência com os outros e o autoconhecimento.
O que oferecer aos alunos? Qual será o papel dos professores? Como adequar, no Plano Político Pedagógico da Escola, a proposta da BNCC a ser gradualmente implementada, especialmente quanto ao desenvolvimento das habilidades socioemocionais? Estes são alguns questionamentos inquietantes que surgem agora na mente dos diretores, equipe técnica e professores das escolas de todas as redes em nosso Estado.
Deixando de lado a questão dolorida histórica de desvalorização financeira do educador e a falta de recursos básicos nas escolas, que provocam desânimo natural, ousamos refletir, como educadora, sobre os desafios deste novo tempo que, após a parada obrigatória exigida pela pandemia da Covid 19, na esperança de retorno da normalidade, com todos os cuidados necessários, como poderemos agir no ensino, nas escolas.
Estamos no raiar de uma nova época, novo momento histórico para a Humanidade, onde a família e a escola têm papel relevante na reintegração da vida cotidiana da criança e do jovem, na busca, até, de recuperar o tempo perdido.
Sueli Ghelen Frosi, da Escola de Pais do Brasil afirma que pais e mães sempre são educadores e que devem ser parceiros da escola, para a humanização dos filhos. Os filhos são educados pela linguagem, pelas emoções, pelo respeito e pelos exemplos. Assista!
Entendemos que todo projeto educativo deverá partir da ideia de PERTENCIMENTO do aluno nos diversos grupos sociais que ele está inserido, família, rua, bairro, município. Trabalhar a sua história pessoal, da família, da escola, do município, do Estado, da nação, do mundo.
O aluno precisa sentir-se parte integrante de toda esta rede vibrante de vida, como um ser social e histórico e, de que forma ele poderá ajudar a promover a mudança para melhor. O trabalho decente ocorrerá num processo interdisciplinar e transdisciplinar visando atingir este fim.
O aluno precisa sentir que pertence a este lugar (município) onde seu lar está inserido, onde ele nasceu ou mora. Para sentir-se integrado a este meio, precisa conhecer a sua História, aprender a reverenciar os antepassados, a cultura, as expressões religiosas, a base da economia, sua produção, a organização política e administrativa, a situação do meio ambiente, a sua preservação etc. Esta abordagem pedagógica feita pela escola abre amplo leque de atividades didáticas que devem ser planejadas com a colaboração da comunidade escolar.
O meio ambiente onde estamos inseridos deve ser o ponto de partida para esta reflexão. Nesta perspectiva temos que levar em conta a administração pública do município, suas diversas secretarias e seus objetivos entrelaçados umas com as outras. Por que? A Secretaria de Educação deverá estar em sintonia maior com a do Meio Ambiente e as demais secretarias.
Temas como: Reciclagem e coleta de lixo, poluição da água, ar e solo, produção de energia limpa, adubo orgânico, os agrotóxicos e outros que serão levantados pelos grupos, proporcionam motivação de mudança de comportamento que trará interesse para o aluno participar.
Estas atividades práticas que vão surgir, ajudam a desenvolver as habilidades socioemocionais como: horta na escola, de legumes e ervas medicinais, hortas comunitárias, ajardinamento da escola, plantio de árvores. Participação de recuperação de áreas verdes, de locais públicos, enfim, uma gama de atividades que poderão surgir em forma de projetos construídos coletivamente na escola.
Toda atividade deve ser embasada no estudo das áreas de ensino e das disciplinas que a escola proporciona. É um trabalho de rede, de integração, que atingirá individualmente o aluno, despertando nele a vontade de colaborar, cooperar, interagir, produzir de forma fraterna, superando os desafios dos conflitos naturais pois ele pertence a este espaço e pode melhorá-lo.
Os recursos da Natureza representam a maior fonte de equilíbrio para a pessoa. A observação e a interação com a mesma estimulam a elaboração de bons pensamentos, da consciência participativa e estimula a vontade de executar atividades boas, produtivas, que nos aproxima uns dos outros com alegria e fraternidade.
Aprender com a Natureza o processo de comparação de vários aspectos da vida, de seu verdadeiro significado e leva a nos identificarmos o transcendental, o divino. É surpreendente para o aluno verificar que a semente guarda dentro de si a vida, a árvore, a nova planta.
Nos aflige ver, pelas mídias, as queimadas e desmatamento da floresta amazônica. Quem de nós não gostaria de ir até lá ajudar a apagar o fogo e plantar novas árvores para recuperá-la? Precisamos perceber que o meio ambiente de nosso município também está degradado, poluído, não podemos ir à Amazônia, mas podemos, em ação conjunta, através de educação consciente, ajudar a recuperar o espaço em que estamos inseridos e que dele usufruímos.
Nas grandes cidades de países desenvolvidos, verdadeiras selvas de pedra, encontram-se parques naturais, como em Paris, Madrid, Lisboa, Coimbra, New York, onde as escolas levam seus alunos para aprender jardinagem, semear, fazer mudas de vegetais, em local especial para esta atividade. Cada cidade deveria ter seu horto florestal, seu jardim botânico, espaços que são verdadeiras salas de aula natural, ao ar livre. Qual é a arvore ou planta símbolo de seu município? Você conhece?
Um dos maiores ecologistas e ambientalistas do mundo, o agrônomo José Lutzenberger, era gaúcho, nos deixou um grande legado; já é falecido. Ele atuou na Área de Educação Ambiental e na promoção de tecnologias brandas socialmente compatíveis, tais como: Agricultura Regenerativa, Manejo Sustentável dos Recursos Naturais, a Medicina Natural. Nos deixou um grande legado na promoção da luta pela preservação ambiental. Criou o Rincão Gaia, em Rio Pardo, RS, numa área de 30 hectares, que estava totalmente degradada, devastada pela exploração de basalto e hoje é exemplo vivo de como podemos recuperar a natureza e torná-la útil ao ser humano.
Nossa proposta é provocativa. Quantas possibilidades nos aguardam no sentido de darmos novo direcionamento a nossa prática docente partindo da realidade, dando sentido profundo à vida do aluno e engajando-o em atividades significativas para ele, que lhe trarão, além de conhecimentos, a aplicação na realidade deles, a convivência com os outros e o autoconhecimento.
“Ser dialógico, para o humanismo verdadeiro, não é dizer-se descomprometidamente dialógico; é vivenciar o diálogo. Ser dialógico é não invadir, é não manipular, é não sloganizar. Ser dialógico é empenhar-se na transformação constante da realidade. Esta é a razão pela qual, sendo o diálogo o conteúdo da forma de ser própria à existência humana, está excluído de toda relação na qual alguns homens sejam transformados em “seres para outro” por homens que são falsos “seres para si”. É que o diálogo não pode travar-se numa relação antagônica” (FREIRE, 1983. p.43).
Independente da “série” ou ano de estudo do estudante, é importante que eles sejam envolvidos nas aulas desde o início, para que essa ocorra como uma “comunidade de investigação[1]”, nesse caso, do fenômeno religioso. Para tanto, se faz necessário partir de uma concepção dialógica de educação, na qual o estudante e docente são sujeitos que se colocam em processo de aperfeiçoamento e construção de saberes.
Essa concepção requer uma antropologia segundo a qual estamos em formação permanente, nos educamos juntos mediatizados pelo mundo como dizia o educador, filósofos e sociólogo Paulo Freire. Sendo o diálogo a opção metodológica para o ensino religioso, já se cumpre um dos requisitos deste componente que é educar para a valorização da diversidade, da pluralidade, das alteridades.
Para ser fiel a essa concepção de educação e de metodologia, é importante conhecer a religião dos estudantes, as vivências que possuem e qual compreensão já trazem consigo no que tange o Ensino Religioso escolar. Tendo o conhecimento do contexto religioso dos estudantes é possível contemplá-lo e inseri-lo no campo da cultura religiosa, partir de vivências favorece para a adesão e envolvimento dos estudantes. Feito isso é necessário e urgente distinguir ensino de religião do Ensino Religioso, ideia que precisa ser lembrada com frequência e em diferentes momentos da caminhada letiva, visto que muitos ainda concebem as aulas deste componente como sendo de caráter doutrinário.
Uma vez dado esse passo significativo, é de grande relevância que o professor, a professora trabalhe, sempre que possível, a perspectiva interdisciplinar deste componente, cujo saber, nasce também de um olhar para a filosofia, as ciências da religião, a história e a sociologia.
O trabalho interdisciplinar pode favorecer a valorização da área de Ensino Religioso e das ciências humanas, o que significa também promover uma educação humana e humanizadora que se opõe a perspectivas tecnicistas e meramente empresariais. Em seguida, apresentamos o que pode ser uma estrutura, um dos caminhos para aulas de Ensino Religioso comprometidas com os fundamentos apresentados no segundo ensaio.
Para bem realizar esse intento de respeito as alteridades, valorização da vida e promoção da diversidade cultural e religiosa, dentro de uma perspectiva dialógica, é importante dar início às aulas com uma atividade prévia, ou seja, uma técnica ou dinâmica que mobiliza para o estudo/investigação que se deseja fazer de acordo com o objeto que se pretende abordar. Essa atividade previa pode ser prática, ou ainda consistir em um audiovisual, música, tirinha, discurso, notícia, análise de obra de arte.
Num segundo momento da aula, é importante problematizar fazendo a ligação do conteúdo com a história, a filosofia, a sociologia ou outro componente de acordo com as possibilidades do objeto que está sendo trabalhado. Suponhamos que se trate do conceito intolerância, a atividade prévia pode consistir numa notícia sobre intolerância, num audiovisual que conte essa situação, e a problematização pode ocorrer na análise de dados acera da intolerância religiosa no Brasil e ou no mundo.
Importante desenvolver nos estudantes as habilidades de problematização, visto que são as perguntas que movem as investigações e possibilitam a criação de hipóteses fazendo da sala de aula um espaço propício para valorização e produção cientifica.
No terceiro momento da aula de Ensino Religioso pode ocorrer a fundamentação a partir de um texto especifico, e ou audiovisual sobre; mantendo o exemplo anterior o texto pode tratar sobre a diversidade religiosa, a distinção entre ecumenismo e diálogo Inter religioso, a alteridade como princípio ético; as leis em torno da liberdade religiosa. A escolha do recurso vai depender do objeto que será trabalhado, do perfil da turma e da proposta didático pedagógica da instituição.
No quarto momento é muito importante sistematizar a aula visando ser fiel a proposta da habilidade que estiver em questão, é importante que nesse momento o estudante apresente os resultados do estudo no qual participou e interagiu como um sujeito ativo do processo de aprendizagem.
Essa sistematização final pode ocorrer a partir da produção de um texto, da confecção de mensagens, banner, cards, jogos educativos. Pensando no conceito de intolerância, por exemplo, o estudante pode produzir uma “peça publicitária” com a intenção de combater a intolerância religiosa; um jogo de tabuleiro e ou jogo digital sobre o tema, uma poesia, uma história em quadrinhos, um desenho. A escolha desse recurso dependerá do segmento, do perfil da turma. Nos quatro momentos sugeridos aqui, a sensibilidade docente para a escolha dos melhores caminhos é imprescindível.
Entendemos que uma prática que ocorre observando a fundamentação que apresentamos e esses passos metodológicos está em sintonia com as habilidades da área de Ensino Religioso propostas na BNCC, a saber:
Conhecer os aspectos estruturantes das diferentes tradições/movimentos religiosos e filosofias de vida, a partir de pressupostos científicos, filosóficos, estéticos e éticos.
Compreender, valorizar e respeitar as manifestações religiosas e filosofias de vida, suas experiências e saberes, em diferentes tempos, espaços e territórios.
Reconhecer e cuidar de si, do outro, da coletividade e da natureza, enquanto expressão de valor da vida.
Conviver com a diversidade de crenças, pensamentos, convicções, modos de ser e viver.
Analisar as relações entre as tradições religiosas e os campos da cultura, da política, da economia, da saúde, da ciência, da tecnologia e do meio ambiente.
Debater, problematizar e posicionar-se frente aos discursos e práticas de intolerância, discriminação e violência de cunho religioso, de modo a assegurar os direitos humanos no constante exercício da cidadania e da cultura de paz. (BNCC, 2018)
Tendo apresentado sugestões metodológicas para aulas de ensino religioso, entendemos que a realização de feiras ecumênicas e inter-religiosas envolvendo outros componentes curriculares potencializam a construção de um ensino comprometido com a valorização da alteridade, com a pesquisa e produções capazes de fomentar a cultura da paz.
Ainda, neste aspecto, entendemos que colocar os estudantes em diálogo com líderes de diversas religiões e filosofias de vida potencializa o estudo dos objetos do conhecimento de cada segmento da educação básica, essa proposta pode ser elaborada em consonância com a proposta pedagógica das diferentes instituições, em espírito de diálogo e valorização da legislação em vigor.
Muito mais do que ensinar no sentido de transmitir o que propomos, especialmente neste último ensaio, foi a construção conjunta de saberes, o que significa também produção de ciência.
O Ensino Religioso, área de conhecimento e componente curricular, possibilita acesso ao amplo conhecimento religioso já presente na história e nos habilita para a ampliação e construção de cultura, que se deseja de paz, de respeito a vida e de efetivação dos Direitos Humanos. À você que nos acompanhou nessa trajetória fica o convite: partilhe de sua experiência, com ela podes enriquecer essa reflexão que segue em construção.
Para refletir (individualmente ou em grupo de professores):
1. Qual metodologia você utiliza para as aulas de Ensino Religioso?
2. De que aulas de Ensino Religioso você lembra? Explique.
3. Partilhe vivências que te marcaram na escola (palestras, feiras, encontros, passeios). Como a pluralidade, a diversidade, as alteridades foram contempladas nesses acontecimentos?
REFERÊNCIAS:
BENINCÁ, Elli. Religião, Saúde e o Popular. Passo Fundo. Editora Berthier 2010.
BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. Brasília, 2018.
SOUZA, Tania Silva. O ensino de Filosofia para crianças: uma nova perspectiva a partir de Matthew Lipman. Polymatheia, v. 8, n. 13, p. 58-75, 2015. Acesso em: 25 jun. 2020.
FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. 18 ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1983.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra. 1996.
Autor: Marciano Pereira.
Edição: Alex Rosset
[1] Conceito emprestado do pensador Matthew Lipman, que tratando sobre filosofia pra crianças sugere que as aulas sejam espaços de investigação de problemas, proposição de hipóteses, fazer que ocorre entre sujeitos envolvidos numa proposta dialógica capaz de fomentar a cidadania, a democracia e pôr consequência os direitos humanos.
A obra Topologia da Violência do filósofo Byung-Chul Han (2016) constitui um preciso escrito para analisar o tema da violência em suas múltiplas faces. A leitura dessa obra constitui uma aprendizagem e uma reflexão ímpar. Não havia ainda lido algo com essa compreensão da violência.
Apesar de ser uma prática tão antiga quanto a espécie humana, a violência com certeza continuará sendo um tema instigante sobre o qual precisamos pensar, estudar, investigar, refletir e escrever. Dentre as coisas que nunca desaparecem, a violência certamente pode ser incluída e por isso constitui assunto/tema/problema da antropologia, filosofia, política, psicologia, história, sociologia, economia, literatura, educação. Sua forma de aparição varia segundo a constelação social.
Na atualidade, ela tem se modificado de visível para invisível, de frontal para viral, de direta para mediata, de real para virtual, de física para psíquica, de negativa para positiva e, sutilmente, se retira para os espaços subcomunicativos e neuronais, de tal maneira que pode dar a impressão de que desapareceu. Porém, um olhar mais apurado possibilita perceber que ela se mantem constante, presente, invisível.
A obra Topologia da Violência do filósofo Byung-Chul Han (2016) constitui um preciso escrito para analisar o tema da violência em suas múltiplas faces. A leitura dessa obra constitui uma aprendizagem e uma reflexão ímpar. Não havia ainda lido algo com essa compreensão da violência.
Han consegue nos fazer participar de sua reflexão devido a clareza com que aborda o tema. Se compreendermos o modo como a experimentamos e as múltiplas faces pela qual ela se constitui ao nosso redor talvez possamos não somente fazer dela nosso objeto de estudos, mas mudar os contornos da vida e de nosso modo de viver.
Byung-Chul Han, nascido na Correia do Sul em 1959, estudou Literatura alemã e teologia na Universidade de Munique (Alemanha) e Filosofia na Universidade de Friburgo/Alemanha, onde também se doutorou em 1994 com uma tese sobre Martin Heidegger. Na atualidade é professor de Filosofia e Estudos Culturais da Universidade de Artes de Berlim. É autor de mais de uma dezena de qualificados Ensaios dentro os quais está Topología de la Violência, objeto da presente reflexão. O Ensaio é composto de 13 capítulos, divididos em duas partes: a primeira, intitulada Macrofísica da Vilência, é composta de 5 capítulos; a segunda, intitulada Microfísica da Violência, é composta de 8 capítulos.
Para Han é possível adquirir o poder por meio da violência, mas é um poder frágil. “É um erro pensar que o poder remete à violência. A violência tem uma intencionalidade completamente distinta do poder”. Tanto a macrofísica da violência quanto o poder “do soberano” são fenômenos da negatividade.
Na atualidade o “poder e a violência” não representam um meio fundamental para a política. “Com a positivização da sociedade, também o poder, como meio socioimunológico, perde cada vez mais significação”. Não significa o fim da “violência”, mas um novo tipo de violência, porque esta não se manifesta somente na negatividade do outro, mas também na positividade.
Da macrofísica para a microfísica. “A violência macrofísica destrói toda a possibilidade de ação e atividade. Suas vítimas são jogadas em uma passividade radical. A destrutividade da violência microfísica, ao contrário, tem sua origem no excesso de atividade que se manifesta como hiperatividade”. O outro não é mais o inimigo, mas o competidor. Este não gera nenhuma reação imune. A micrológica da violência que será explorada na segunda parte deste livro, é uma lógica do igual. “E o terror do igual”
As reflexões de Han em Topologia da violência certamente constitui um rico arsenal para pensar os dilemas e conflitos vivenciados na sociedade contemporânea. Além de dialogar com diversos autores de distintas áreas, Han apresenta uma amplo e complexo panorama do lugar da violência no cenário da sociedade atual.
Uma boa leitura para educadores, pesquisadores, profissionais de distintas áreas e principalmente para todos aqueles que buscam compreender as novas e distintas patologias provocadas pela violência que se faz sentir nos micro e nos macros espaços da globalização.
A cidade, outrora local de convivência, de contatos freqüentes, de vida social intensa, está se tornando espaço de segregação onde os muros estão cada vez mais altos ao redor das casas, dos condomínios, dos parques, das praças, das escolas, dos escritórios. Leia mais: https://www.neipies.com/a-mixofobia-da-cidade/
A evasão escolar é um problema real, agravado durante a pandemia. No entanto, é necessário destacar que o descaso do Governo do Estado com a educação e com as políticas de inclusão social e de transferência de renda é uma das causas para esta realidade.
Com o programa Avançar Educação, o governador Eduardo Leite (PSDB) prioriza o marketing vazio e sua campanha presidencial, ao invés de dialogar com a comunidade escolar, valorizar educadores e garantir de fato uma ação concreta para diminuir a desigualdade social.
Durante toda a sua gestão, Leite tirou a educação pública da sua lista de prioridades. Desde antes da pandemia só fez retirar direitos, fechar escolas e diminuir investimentos na pasta.
O mesmo acontece com as políticas de inclusão social, tão necessárias para garantir o direito à educação. Leite tardou em lançar o auxílio emergencial gaúcho e não conseguiu executar nem 11% do previsto, novamente quem mais precisa na mão.
Em um cenário de sucateamento total, nas escolas do Rio Grande do Sul falta tudo: professores, funcionários, infraestrutura e segurança. Até 11 de março de 2020, em apenas 9 meses, Leite (PSDB) já havia fechado 61 escolas da rede estadual e 1.889 turmas.
Com a pandemia, o cenário só se agravou. Novamente o executivo gaúcho lavou as mãos, não garantindo nenhum plano de melhoria neste período. Pesquisa do CPERS Sindicato, que ouviu 695 escolas gaúchas, apontou a falta de 1149 profissionais e 85,1% dos participantes consideram que os EPIs recebidos não foram adequados.
A falta de valorização dos educadores também é gritante. Há sete anos a categoria não recebe reajuste. Servidores da SEDUC estão desde novembro de 2014 com salários congelados, mesmo com o fato de que não conceder a inflação fere a previsão constitucional de irredutibilidade salarial. Negar este repasse tem o mesmo efeito prático de uma redução.
Desta forma, apresentar projetos após 3 anos de inércia e ataques, sem garantir a reposição salarial dos trabalhadores e nem a conexão com uma política permanente de transferência de renda para a população, é pura maquiagem eleitoreira.
A educação não pode mais esperar! Dinheiro, o governo tem! Basta priorizar o que importa!
Infelizmente, gurus modernos e livros de autoajuda barata não se cansam de afirmar que devemos focar apenas em nossos pontos positivos.
É difícil, para qualquer um, aprender a conviver com seu lado obscuro. Todos nós deveríamos adquirir consciência do mal que carregamos. Infelizmente, gurus modernos e livros de autoajuda barata não se cansam de afirmar que devemos focar apenas em nossos pontos positivos.
Outras vertentes do pensamento, como a Psicanálise, focam mais naquilo que nos incomoda e, quer desejemos ou não, faz parte de nós. Não está no outro, no vizinho. No colega de trabalho, no partido político, no sistema. Sendo parte de nossa natureza em termos de espécie, está em todos.
Outra linha da psicologia a trabalhar muito bem com esse “eu nefasto” é a Psicologia Analítica. Fundada por Carl Gustav Jung na primeira metade do século passado, ela tem um conceito específico para se referir a isso: sombra.
A sombra é, segundo Jung, parte de nossa estrutura psíquica. É aquele aspecto rejeitado de nós mesmos que, muitas vezes, nem ousamos admitir, repleto de egoísmo e violência. A sombra não deseja nada além de satisfazer seus próprios desejos, pouco se importando com questões morais.
Quando não conseguimos suportar nossos piores defeitos, os projetamos nos outros.
Não devemos nos surpreender, assim, com notícias sobre pessoas que, gritando contra a corrupção, acabam elas próprias sendo presas por cometerem tal delito ou crimes piores.
Pelo mesmo motivo, é bom desconfiar de alguém muito esforçado em passar uma boa imagem de si mesmo, em parecer dócil e correto. Pode ser alguém que, tendo dificuldade em suportar sua própria sombra, a projeta nos outros e, ao mesmo tempo, faz um esforço hercúleo para a esconder de si.
Ninguém é “bonzinho”. O santo e o sábio são idealizações, objetivos inatingíveis. Servem para nos auxiliar em nossa busca pela perfeição.
Precisamos, no entanto, ter consciência de que jamais seremos perfeitos.
Você já parou para pensar quais são os aspectos mais sombrios da sua personalidade? A Sombra é um assunto que muitas pessoas não gostam e evitam falar sobre. Assista: https://youtu.be/YohTU-38s00?t=99
Sugestão de uma prática pedagógica– (Aulas de Filosofia ou Ensino Religioso –Anos Finais do Ensino Fundamental
Agora que você já leu o texto, responda:
1) Quais são seus três defeitos mais aparentes?
2) “Quando não conseguimos suportar nossos piores defeitos, os projetamos nos outros.” Explique, com suas palavras, esse trecho.
3) Usamos as palavras sem parar para pensar em seu real significado. O que é um defeito?
4) Se, conforme afirma o texto, jamais seremos perfeitos, de que adianta, então, buscar a perfeição?
4) Depois de assistir ao vídeo Como limpar sua sombra (https://youtu.be/YohTU-38s00?t=99 ), faça um breve resumo do que você entendeu.
Há 31 anos trabalhando como educadora, Ana Delise leva consigo o amor por ensinar, muitas histórias e agora o título de Professora Emérita 2021
(Matéria Jornalista Andressa Wentz)
“Deixa a gente voltar pra cá, Ana”, é o que dizem os alunos para a diretora Ana Delise quando saem da Escola Municipal de Ensino Fundamental Daniel Dipp para cursar o Ensino Médio. Ana Delise Cassol, a menina que entrou para o magistério com 15 anos por conta de um desejo da mãe – que sempre quis a sua independência –, hoje carrega consigo 31 anos na educação, o título de Professora Emérita de 2021, e a pedagogia freireana.
A mãe do Marcelo e do Gabriel, e esposa do Jaime, é natural de Entre-Ijuís, graduada em Estudos Sociais, pós-graduada em Geografia e especialista em Gestão Escolar. Foi em um primeiro de março que Ana chegou à Passo Fundo, no ano de 2004, após ter sido aprovada em um concurso da Prefeitura. Antes de encontrar a Daniel Dipp, a professora havia passado pelas EMEFs Professor Arno Otto Kiehl e Antonino Xavier. Embora fossem escolas diferentes, seu objetivo sempre o mesmo: fazer com que os alunos construíssem seu próprio espaço. “Olhar nos olhos, não de cima”.
Seu envolvimento com a equipe diretiva da Daniel Dipp começou quando foi convidada pela professora Leonise Cola para ser sua vice-diretora, mas havia uma condição: Ana só aceitaria se pudesse trabalhar diretamente com os alunos. O que sempre quis foi fazer parte de suas histórias. “Foi um trabalho constante para que os estudantes gostassem da escola, sentissem que ela é a casa deles, e que é da comunidade”.
Até então, não se percebia por parte dos alunos um amor pelo local… Quem buscou construir esses afetos foi a direção. A aproximação foi acontecendo aos poucos, por meio do diálogo e da confiança, criando um espaço onde quem estudasse na Daniel Dipp pudesse sentir que lá existe um lugar para chamar de seu. Um lugar para voltar e dizer que sente saudades – e é o que acontece. “Que escola você quer deixar para o seu filho? Eu e Nadia – sua vice-diretora e companheira – dizemos a eles quando não tomam o devido cuidado com o ambiente escolar. Mas a mão que puxa a orelha, também é a mão que afaga.”
Uma escola colorida
No Dipp, não há sala da diretora. A direção é um espaço amplo, onde todos podem estar. Fazer com que os alunos sentissem medo da equipe diretiva nunca foi a intenção de Ana Delise, pelo contrário, ela acredita em conversas abertas e em dar chances. Embora seja firme – uma ‘tigra’ – quando é preciso. “Quando o aluno tem medo da diretora é porque a única metodologia utilizada é a da ameaça. Nesses casos, não existe liberdade para o estudante”.
Quanto à inclusão, essa também é uma de suas bandeiras. Não só de Ana Dê – como é chamada pelos amigos –, mas de toda a Daniel Dipp. Para a diretora, o essencial está no olhar com carinho, na socialização em sala de aula – sem separações –, e em permitir que os alunos evoluam dentro de seu próprio tempo. Afinal, no Dipp tem lugar para todos. E todas.
Sala de aula construída pelos alunos, escadaria literária, reformas no ginásio, ambiente acolhedor para professoras e professores… Muitos foram os projetos desenvolvidos pela atual gestão. A Escola Colorida foi um deles, onde a proposta se baseava em colorir paredes e espaços físicos para que ficassem com a cara dos estudantes e dos educadores, captando aquilo que mais gostassem. Colorir por fora aquilo que já estava sendo pintado por dentro.
Para Ana Delise, mudar o mundo físico dá trabalho, mas transformar a mente das pessoas dá mais ainda. É aí que entra o papel da educação. “Tem uma frase do Piaget que eu gosto muito, é a seguinte: “O principal objetivo da educação é criar pessoas capazes de fazer coisas novas, e não simplesmente repetir o que outras gerações fizeram””. No fim das contas, pode-se dizer que educar e transformar são sinônimos.
Mas nenhuma mudança teria conseguido realizar sem sua equipe diretiva, ela conta. Foi em conjunto da vice-diretora Nadia Bolzan, das coordenadoras Angela Santos, Camila Santos e Vera Lucia Mazuco e da orientadora Maria Andreia Reginato que construiu o Daniel Dipp de afetos que existe hoje.
Porém, não é só com o carinho dos alunos, da gestão e dos professores com o qual Ana pode contar. E também não são só os alunos que sentem falta do Dipp. O professor Tiago Machado sente a mesma saudade. Para o professor de História e atual diretor administrativo do CMP Sindicato, nos dois anos em que esteve na escola encontrou um dos melhores ambientes para desenvolver sua ação docente. Um privilégio. E, em grande parte, o local tão receptivo se deu pelo trabalho do grupo da direção. “Quem conhece a professora ‘Ana Delícia’ sabe que a mesma é uma grande educadora, administradora e defensora do ensino público de qualidade”.
A verdade é que o que Ana Dê sempre quis foi deixar um legado. Deixar marcas nos estudantes. Hoje, sempre que um deles entra em sua sala carregando uma florzinha amarela – dessas do campo – para dar a ela de presente, pensa que não há algo mais precioso que seu trabalho.