Maniqueísmo é utilizado como estratégia de marketing político, como modo eficiente para arregimentar multidões e aniquilar controles críticos, filtros e produzir barreiras para outras possibilidades, num jeito de sequestrar de consciências, intelectualidades e liberdades.
Passadas as comemorações alusivas ao dia da independência do Brasil e expectando sobre os desdobramentos dos movimentos e ações que marcaram essa data, compartilho uma reflexão sobre um tema que tem me intrigado e provocado inquietações. Uma singela análise sem muitas pretensões, a não ser estimular reflexões e debates.
Com propósito crítico, com abordagem aberta e construtiva, convido a tratar sobre alguns sentidos dos conceitos maniqueísmo ou maniqueísmos. Filosofia ou concepção sobre o mundo, surgida no século III, de origem religiosa; sincrética e dualista e que vê e concebe o mundo dividido em duas partes: o bom e o mau, Deus e o Diabo.
Se as palavras surgem num contexto, ou se dá nome as coisas a partir de uma determinada realidade, é fato que, sem muita demora, o nome das coisas servem para definir e reconhecer outras tantas, se incorporam e se aplicam em tantas outras realidades e segmentos da vida social.
Na política, maniqueísmo tem sido associada a extremismos e polarizações, até mesmo a expressão tem sido estimulada, desenvolvida e empreendida, como ferramenta para marcar e destacar essa divisão entre o bem e o mal, entre nós e eles, quem concorda ou discorda com este ao aquele ato ou situação fatalmente será enquadrado ou marcado em um desses mundos ou nos dois mundos: ou será de Deus ou discípulo do demônio como resultado ou produto de idolatrias, endeusamentos e demonizações.
A propósito, maniqueísmo não reconhecido, mas efetivo, tem sido utilizado como estratégia de marketing político, como modo eficiente para arregimentar multidões e aniquilar controles críticos, filtros e produzir barreiras para outras possibilidades, num jeito de sequestrar de consciências, intelectualidades e liberdades, ao meu ver.
A quem interessa isso? A quem serve essa simplificação perigosa da vida e da política?
Muitos movimentos de massa comprometem a consciência individual e aniquilam, como dito, o senso crítico, desencadeando verdadeiros oportunismos e iniciativas diversionistas com o firme propósito de afastar da sociedade a análise e discussões sobre temas essenciais e decisivos para o aprimoramento do convívio, para a vitalidade da vida democrática e para o respeito às diferenças.
Quando expressões elementares da nossa vida são invocadas a todo o instante, os sinais é de que o que vemos e constatamos é a sua efetiva falta, a ausência, a reclamar que as invoquemos, como um esforço indispensável de que as mesmas e a civilidade não sucumbam.
Equilíbrio, ponderação e lucidez nunca foram tão necessários, assim como estabilidade, segurança e confiança nas instituições democráticas. Todas necessitam de narrativas e ações adequadas, críticas e responsáveis.
Num ambiente de instabilidade e desorientação há quem tenha vantagens econômicas e até políticas, alimentando e estimulando conflitos, promovendo e propagando o ódio e a intolerância, mas não tenho dúvidas que a maioria, a grande maioria, é e continuará sendo prejudicada.
Como a vida é mais rica do que os extremos e não é recomendável que não se construa e se estimule outras possibilidades do que essa visão e estratégias maniqueístas, num dualismo danoso e perigoso, podemos cogitar e buscar a vida e possibilidades ricas que estão entre esses extremos? A virtude está no meio, como já afirmou no passado o sábio Aristóteles.
Em introdução na obra O maniqueísmo em nossas vidas: a bondade dos maus e a maldade dos bons, Editora Movimento, 2015, Jorge A. Salton afirma: “o pensar maniqueísta, a divisão entre nós, os bons e eles os maus, é sinal patognomônico do surgimento da maldade – no sentido de sinal ou sintoma que por si só afirma a presença de algo. Ao dissecar o fenômeno, encontraremos, em sua base, o reducionismo, a generalização, a dogmatização, uma forma de pensar que, a partir de uma suspeita qualquer, já salta para a conclusão, a ausência de autocrítica, a inexistência de empatia e a necessidade de inimigos”.
Ao negar a necessidade básica de aprender a aprender, aprender a viver e conviver, nega-se também a identidade humana fundamental de aprender a ser e a ser mais e melhor.
Nenhuma necessidade básica pode ser considerada supérflua para quem a possui. E há muitos com múltiplas necessidades básicas não satisfeitas. De outra parte, uma pequena parcela da sociedade alça seus desejos ilimitados e insaciáveis como necessidades irrevogáveis, originando e dando sustentação à perversa desigualdade social que caracteriza o capitalismo ultraliberal. Então, podemos afirmar que ao par do mundo das necessidades há o mundo das insuficiências.
Refiro-me aqui mais especificamente à importância e à necessidade da ciência. Ela foi e se apresenta cada vez mais indispensável na sociedade pós-moderna. Todas as ciências, embora imprescindíveis, também são insuficientes. E assim ocorre porque nenhuma delas, em particular, e nem todas juntas são capazes de abarcar a complexidade da realidade e o mistério da vida.
Entretanto, atualmente há uma tendência, que se acentua de forma assombrosa, de negar o valor e o alcance da ciência. Fenômeno que se associa à negação da verdade, da realidade, da vida e da dignidade humana. Tempos de todo estranhos!
Dos gregos aprendemos que filosofia é a ciência da amizade com a sabedoria (philos= amigo; sophia = sabedoria). E aprendemos também que o prefixo “a” exprime negação. Assim, o neologismo asophiatraduz a noção e a possibilidade real de negarmos a sabedoria, quer consciente, quer inconscientemente. E pode-se, inclusive, chegar a gabar-se de negar o conhecimento, a sabedoria, a ciência e o necessário processo permanente do aprender.
Ao negar a necessidade básica de aprender a aprender, aprender a viver e conviver, nega-se também a identidade humana fundamental de aprender a ser e a ser mais e melhor.
Conhecimento não é sinônimo de sabedoria. Pode-se conhecer apenas de forma racional, somente com a cabeça. O conceito sabedoria faz pensar no saber para além do conhecer. No saber que inclui conhecimento, mas remete para o ser e o fazer. Ser sábio é diferente de ser conhecedor. A junção do conhecimento com a sabedoria constitui a verdadeira educação.
Nas palavras do educador Paulo Freire, cujo centenário de seu nascimento celebramos em setembro de 2021, a verdadeira e necessária educação precisa ser libertadora e humanizadora.
No desejo de buscar conhecimento, pode-se ir à Universidade. Nela é possível construir conhecimento, mas não só; também sabedoria. Pelo reverso, é possível não construir nem um nem outra. Ao invés de fortalecer a filosofia, pode-se elevar a asophia. Esse é o pior resultado que um ambiente universitário pode produzir. E, infelizmente, não é raro constatar esta realidade, onde educadores (ex= fora; ducere = conduzir; conduzir para fora) se transformam em meros transmissores de conhecimentos e estudantes se condicionam a ser meros depositários de informações.
O estudante universitário que afirma: “tirei nota baixa, mas o importante é que passei” nega a ciência, o processo educativo e também a capacidade de se aprimorar na sabedoria. O governante que nega a gravidade de uma pandemia, que orienta ao consumo de medicamentos de eficiência não comprovada, nega a ciência, age sem prudência e promove perdas vitais e irreparáveis. O líder religioso que utiliza da fé do povo e das Escrituras Sagradas para oprimir, alienar e produzir fanatismo também nega a verdadeira religião, a Ciência Teológica e a prática da libertação.
Toda informação, toda tecnologia, todo conhecimento e toda ciência são importantes. Porém, se não vierem acompanhados do diálogo, do respeito, da sabedoria e da sensibilidade poderão pôr tudo a perder. Conhecimento com arrogância se torna desprezível.
Ciência sem sabedoria pode se tornar perigosa. Tecnologia sem prudência pode gerar o caos e a barbárie. Portanto, trata-se de buscar sempre o que é necessário sem desconsiderar o essencial. No equilíbrio entre o necessário e o essencial poderemos avançar no caminho que nos torna mais humanizados, tal como enfatizou Paulo Freire!
Em outra publicação escrevemos: “que triste quando ninguém lê ou, mesmo lendo, não “curte”. Mas a curtição depende do sentido ou não do que se escreve para quem lê. Vale aqui lembrar o que outrora escreveu Bertolt Brecht: “Um homem que tenha algo a dizer e não encontre ouvintes está em má situação. Mas, estão em pior situação ainda os ouvintes que não encontrem quem tenha algo a dizer-lhes”. Leia mais: https://www.neipies.com/para-que-escrever/
O CPERS entra setembro em vigília permanente pela justa reposição salarial da categoria. Já são sete anos sem nenhum centavo de reajuste, levando professores e funcionários de escola a situação de miserabilidade.
Diferente do discurso de campanha, quando afirmava que bastava levantar da cadeira para valorizar os educadores, o governador Eduardo Leite elegeu a educação como sua inimiga e vem, sucessivamente, retirando direitos históricos.
Confisco do salários dos aposentados(as), fim de vantagens temporais, descontos acumulados do vale-transporte e o não pagamento dos dias trabalhados para recuperar a greve são alguns dos ataques que minguam ainda mais os já ínfimos recursos da categoria.
“O governo Leite segue com as mesmas políticas de Sartori, só que aprofundando ainda mais a retirada dos nossos direitos. Bolsonaro fez a reforma da previdência, taxando os aposentados, e imediatamente o governador fez o mesmo aqui. O sucateamento da educação pública e o desmonte dos serviços públicos fazem parte do projeto de ambos. Seguimos na luta contra este projeto de destruição do Rio Grande do Sul e do Brasil”, observou a presidente do CPERS, Helenir Aguiar Schürer.
O segundo vice-presidente do CPERS, Edson Garcia, frisou que o salário da categoria não acompanha os índices da inflação e nem a alta dos preços. “Houve aumento do gás, da luz, da gasolina, da alimentação, de tudo. E o nosso salário segue o mesmo. Um governo que não olha para a educação, não faz investimento no futuro”, frisou.
Juçara Borges, diretora do CPERS, lembrou do impacto aos aposentados. “A retirada dos nossos direitos nos deixa sem condições de termos uma vida digna. Estamos sendo penalizados, pagando novamente a previdência”, destacou.
“Os educadores estão tendo que escolher entre comer e pagar as suas contas. Isso é inaceitável. Ano que vem tem eleições estaduais e nacional. Vamos dar a resposta nas urnas”, afirmou a diretora Alda Bastos Souza.
“Os funcionários da educação recebem o menor salário na pirâmide salarial do estado do Rio Grande do Sul. Têm que escolher entre pagar as contas ou comprar comida. O que Eduardo Leite faz é desumano”, ressaltou a diretora Sonia Solange Viana.
A diretora Glaci Weber alertou para o risco do fim da paridade dos aposentados. “Os aposentados repudiam o sequestro dos seus salários, realizado por Leite e Bolsonaro através da reforma da previdência. Agora querem fazer a reforma administrativa para terminar com a paridade.”
“Nossa categoria está miserável, endividada com os empréstimos no Banrisul para tentar sobreviver. Precisamos da reposição para termos um mínimo de dignidade. Governador, respeite quem faz a educação desse estado”, disse a diretora Rosane Zan.
“Hoje estamos apoiando também o movimento do pessoal do Sindiágua e da Corsan, contra a privatização. E sempre lembrando da nossa necessária reposição salarial”, enfatizou o diretor Amauri Pereira da Rosa.
“Não é possível imaginar um país ou estado que cresça sem valorizar a educação pública. Não é tarefa do estado economizar, ter dinheiro em caixa, ao contrário, o estado precisa investir, especialmente em educação, para que servem 2,7 bilhões de superávit se educadores ganham somente para se alimentar?”, observou a diretora Carla Cassais.
O processo reflexivo da Teologia, considerando a sua estruturação a partir da fé, está marcado pela racionalidade. O compromisso de fé tem o mesmo peso do compromisso com a racionalidade. É uma ciência da fé e da razão e se utiliza delas em busca da verdade.
A região de Passo Fundo (RS) é servida por inúmeras Instituições de Ensino Superior – IES, voltadas à formação de pessoas em grau superior para atuação qualificada em diferentes áreas da sociedade. Esta realidade faz da região um polo de atração de pessoas de outros lugares do Brasil que vêm buscar a formação superior.
Desde 1982, existe na cidade de Passo Fundo uma Instituição voltada à formação teológica, a Itepa Faculdades. Tem como mantenedoras a Arquidiocese de Passo Fundo e outras Dioceses associadas. A principal oferta da Itepa Faculdades é o Curso de Bacharelado em Teologia. Este curso está voltado à formação de presbíteros, religiosos e religiosas, também aos leigos e leigas, que atuam nas comunidades exercendo o compromisso de batizados.
Historicamente, a Igreja sustenta a tradição de formar seus agentes para uma atuação qualificada, eficaz e comprometida com os pilares da fé cristã. As disciplinas componentes do Curso de Bacharelado em Teologia estão voltadas a esta formação qualificada porque ela exibe um conjunto de conhecimentos ordenados, com objeto, método, unidade, sistematização próprios (cf. CNBB 2011, n. 23) que lhe legam o estatuto de ciência. É a ciência que tem Deus, o ser humano e o mundo como seus interlocutores.
A Teologia é uma área do conhecimento que tem como ponto de partida a revelação de Deus à humanidade. O termo se origina do grego Theo + logia que significa estudo de Deus, ou ciência de Deus.
Não é um estudo qualquer. A certeza da Teologia, e, nisto se difere das outras ciências especulativas, que partem da dúvida ou da necessidade de comprovarem hipóteses, é que Deus se revelou ao ser humano. É a auto manifestação de Deus ao longo da História que se plenifica na pessoa de Jesus Cristo. Sobre isto a Teologia não coloca dúvidas sobre o risco de fazer ruir a sua própria estrutura de saber. Isto não implica em perda da racionalidade.
O processo reflexivo da Teologia, considerando a sua estruturação a partir da fé, está marcado pela racionalidade. O compromisso de fé tem o mesmo peso do compromisso com a racionalidade. É uma ciência da fé e da razão e se utiliza delas em busca da verdade. Como ciência tem um estatuto próprio. Sua identidade que, por sua vez não é fechada, é aberta ao diálogo com as outras ciências.
A partir dessa certeza a Teologia avança na especulação, tendo como referência o próprio Deus que se dá a conhecer, o ser humano que acolhe revelação divina e o contexto de vida de cada homem e mulher, sua historicidade. Então, a Teologia tem responsabilidade ao pronunciar-se sobre Deus, o ser humano e o mundo. Este pronunciar-se se funda no compromisso com a verdade.
Também deve considerar a sua responsabilidade eclesial, porque a Teologia além de ser uma ciência que parte da fé e considera a fé no seu desenvolvimento, também é uma ciência eclesial, porque a tradição reflexiva, da qual é herdeira e dá prosseguimento, desenvolve-se no seio da Igreja (Cf. CNBB 2011, n. 19). Ela contribui para que a Igreja apresente ao mundo as razões da sua fidelidade ao Senhor, aquele que se revela à humanidade fundado no amor e na gratuidade. Assume também a “grave” responsabilidade de tornar crível para os interlocutores as razões do seu acreditar.
Ao mesmo tempo em que presta um serviço à humanidade a Teologia ajuda também a Igreja, porque esta tem a missão de apresentar Jesus Cristo e o seu projeto salvador ao mundo.
Tendo presente o aspecto pessoal, de cada crente, é salutar o interesse em aprofundar-se na sua vida de fé. Se costuma cantar “creio Senhor, mas aumentai minha fé” também é factível que se procure compreender melhor esta fé, as razões de crer. Esta inquietação salutar diz respeito ao crente que procura compreender o conteúdo da sua crença a partir do próprio conteúdo que ele confia (cf. Fisichella, 2000, p. 59). Nesta caminhada pessoal, dialogante com a Igreja, dá-se o encontro entre a fé e a razão, pois uma fortalece a outra.
Compreendamos também a referência pastoral do estudo teológico. Faz-se necessário uma boa formação dos agentes de pastoral. No diálogo eclesial, a teologia fundamenta os processos formativos. Como toda a instituição de referência social, a Igreja necessita formar seus quadros humanos. A Teologia é a espinha dorsal dessa formação, sem desconhecer outras dimensões.
Por fim, a Teologia é uma necessidade para o mundo. Neste caso ela assume uma perspectiva profética. Não pode abster-se de ocupar, em nome da fidelidade ao Deus revelado, o seu lugar dialogante com o mundo, sobretudo em tempos onde o próprio nome de Deus é usado em processos desconectados da sua proposta amorosa e libertadora.
Comprometida com a profecia, a Teologia assume o compromisso com a verdade que vem de Deus e não se limita a quaisquer denominações ideológicas.
Neste sentido justifica-se a necessidade humana e eclesial de se estudar Teologia. Tenhamos mais pessoas dispostas a estudar Teologia. É uma necessidade pessoal, eclesial e de toda a humanidade.
Pandemia, Bolsonaro e Centrão. Paga a conta a multidão dos sem-terra, sem-teto e sem-trabalho.
O Brasil é refém da pandemia e de Bolsonaro, e o presidente refém do “Centrão”. Este tem representado o lado mercenário da política. Movido a “emendas parlamentares”, constitui um ralo sem fundo, por onde escoa parte considerável da riqueza nacional.
Não basta o chefe de plantão pagar e o apoio está resolvido uma vez por todas. Os membros do centrão vivem do jogo da chantagem. Votam pelos interesses do Planalto na medida em que (e somente na medida em que), nas votações da Câmara, vez por vez o governo irriga com dinheiro público a quota de gastos de cada parlamentar.
Em lugar de um compromisso definitivo, a fidelidade deve ser paga gota a gota, emenda a emenda. Afinal de contas, como é notório, o parlamentar tem de trabalhar duro para manter sua cadeira cativa no Congresso Nacional!
Resta saber quem paga a conta dessa hemorragia gigantesca sofrida periodicamente pelos cofres públicos. E a resposta tem alguns endereços pontuais. Primeiramente, paga a população mais pobre, carente e vulnerável, com rostos desfigurados pelo cansaço e o abatimento. Encontram-se nas filas das unidades de saúde, muitas vezes sequer chegando a ser atendidos, e em certos casos falecendo antes de chegar a um consultório médico.
A conta recai também sobre os ombros das crianças desfavorecidas, com uma educação cada vez mais distante da realidade socioeconômica e político-cultural do país; dos migrantes e das pessoas em situação de rua; dos desempregados, subempregados e todos os que subjazem nos subterrâneos do mercado informal.
Numa palavra, o dinheiro que sobra no crédito dos parlamentares, para a população de baixa renda, faltará na mesa e no vestuário, no transporte e na moradia, na escola e na saúde. Paga a conta a multidão dos sem-terra, sem-teto e sem-trabalho, para usar os três “T” do Papa Francisco.
Mas o círculo vicioso do toma-la-dá-cá tem outro endereço bem preciso. Agrava a desigualdade social e econômica, item em que o Brasil figura como uma das nações mais assimétricas de todo mundo.
De acordo com Thomas Pikety e com Jessé de Souza – ambos com estudos recentes sobre a distribuição desigual da riqueza – na virada do século XX para o XXI, aprofundou-se o fosso abissal entre os que ocupam a base da pirâmide social e aqueles que se encontram no pico.
A pequena fatia de apenas 1% da população mundial detém cerca de 50% de toda a riqueza produzida, enquanto a subnutrição, a miséria e a fome alcançam cerca de um bilhão de pessoas. No Brasil, praticamente a metade da população sofreu nos últimos dois anos algum tipo de insegurança alimentar. Daí o crescimento das filas pela marmita e pela cesta básica.
Ademais do progressivo desequilíbrio entre os que gozam o luxo do andar de cima da pirâmide e os que se escondem no andar de baixo, entretanto, outra distância cresce em igual proporção. Eleitos e eleitores se desconhecem cada vez mais. Os primeiros, ao conquistar pelos votos um lugar cativo no Planalto Central, parecem viver ali como verdadeiros extraterrestres. Navegam numa órbita muito superior aos que, na planície, experimentam “as alegrias e esperanças, as tristezas e angústias” (Gaudium et Spes, n. 1) do dia a dia.
A extensa quilometragem e o poder de compra que divide os parlamentares de um lado, e os pobres mortais de outro, é tamanha que estes últimos sequer sonham com as despesas diárias daqueles. E inversamente, os deputados sequer imaginam as dores e penas que sofrem os cidadãos que lhes dão os votos, menos ainda trabalham por seus interesses e direitos básicos.
O círculo vicioso se perpetua de eleição para eleição. A vitória do político abre novas portas para empreendimentos econômicos, ao passo que a força econômica garante maior poder de fogo no próximo processo eleitoral.
As pontas se juntam, se fundem e se estreitam, sendo que esse jogo perverso consolida, ao mesmo tempo, a concentração de renda e a exclusão social. Nunca é demais lembrar, porém, que a fidelidade do centrão é irmã gêmea de sua infidelidade. Quando o dinheiro escasseia ou quando se rompe o véu da transparência, o conta gotas deixa de pingar. Opositores voltam a ser o que sempre foram – inimigos!
Em termos educacionais, exercer a pedagogia da escuta significa dar-se conta dos sinais e das vozes que vem de forma atravessada, que na maioria das vezes decodificamos de forma apressada e equivocada e, por isso, julgamos e compreendemos erroneamente.
Hermann Hesse, importante escritor e pintor alemão, prêmio Nobel da Literatura em 1946, autor de consagradas obras como Sidarta, Demian e O lobo da estepe, dizia em um dos seus textos que “para a arte de viver, é preciso saber a arte de ouvir, sorrir e ter paciência sempre”. Saber ouvir, sorrir e ter paciência não são somente conselhos para viver bem, mas são imprescindíveis para ser educador no sentido pleno da palavra.
Nosso inesquecível Paulo Freire em seu belo escrito Pedagogia da Autonomia dizia que “ensinar exige saber escutar”, pois “somente quem escuta paciente e criticamente o outro, fala com ele, mesmo que, em certas condições, precise de falar a ele”. Mas o que significa saber ouvir? No que consiste a pedagogia da escuta?
É de Rubem Alves a ideia de que precisamos urgentemente de um curso de “escutatória”. Há muitos cursos de oratória, pois todo mundo quer aprender a falar, mas poucos estão interessados e propensos a aprender a ouvir. Escutar é complicado e sutil, requer humildade, abertura, simplicidade, sabedoria, tempo, paciência, cuidado. Num mundo marcado pelo “destempero” do imediatismo, da urgência, da velocidade, da fugacidade, tempo para ouvir é considerado “perda de tempo”.
Queremos ser escutados, mas não temos paciência e sobriedade para ouvir.
Valendo-se do poeta Alberto Caeiro, Rubem Alves ressalta: “Não basta ter ouvidos para se ouvir o que é dito. É preciso também que haja silêncio dentro da alma”. Talvez por isso temos dificuldade de ouvir o que o outro tem a dizer sem logo dar um palpite melhor e assim misturamos aquilo que ele diz com o que nós pensamos ou julgamos ser melhor. Assim, nossa escuta é falsa, cínica ou de conveniência. Fazemos de conta que estamos escutando, mas no fundo já temos nosso próprio julgamento. Como ressalta Rubem Alves, “nossa incapacidade de ouvir é a manifestação mais constante e sutil da nossa ignorância e vaidade”.
Precisamos sim de um curso de “escutatória”, pois escutar no sentido mais profundo da alma é “auscultar”, do verbo latino auscultare, ou seja, a escuta dos sons internos do corpo que nos possibilita compreender o que não enxergamos, ver aquilo que está oculto aos olhos.
Em termos educacionais, exercer a pedagogia da escuta significa dar-se conta dos sinais e das vozes que vem de forma atravessada, que na maioria das vezes decodificamos de forma apressada e equivocada e, por isso, julgamos e compreendemos erroneamente.
Praticar a pedagogia da escuta é compreender as múltiplas experiências para além do imediato, do utilitário, do padrão convencional. Assim, talvez, tenhamos chance de perceber que a indisciplina que ocorre muitas vezes na sala de aula, o desinteresse de muitos alunos pela aprendizagem, a forma como alguns negativamente reagem a forma como realizamos nosso trabalho, não é a negação da educação, mas um sinal de que precisamos exercitar a pedagogia da escuta para compreendê-los.
Em outra publicação, escrevemos: “Enganam-se aqueles que acreditam que a felicidade está em comprar coisas, em adquirir bens materiais ou atingir certas metas planejadas. Como horizonte, ela sempre nos escapa quando tentamos capturá-la. A felicidade não está nas coisas ou num lugar, mas na capacidade humana sempre inconclusa de viver intensamente a vida nas pequenas coisas”. Leia mais!
Devemos manter o respeito pelas florestas e pelos animais que nela habitam. Assim como devemos acreditar em alguma força sobrenatural que movimenta o planeta terra e que é possível a existência de deuses dentro e fora dos nossos pensamentos cheios de bits e bytes.
Eu já escrevi muitos poemas para crianças, mas se fosse a terra faria o que nos diz Khalil Gibran “arvores são poemas que a terra escreve para o céu.” Que um dia possamos saber ler cada um desses poemas e cultivar os seus ensinamentos mostrando as crianças que quando poetizamos a natureza estamos, na verdade, criando outros mundos possíveis dentro de nós, mundos esses subjetivos e únicos capazes de transformar pensamentos alheios em coisas boas, em benquereres e amores que parecem cafonas aos homens da atualidade.
Mandar flores ainda é um gesto de amor, e escrever poemas para alguém ainda é dizer um eu te amo de verdade. E que de verdade possa ser sempre o amor das crianças pelas nossas árvores.
Os indígenas e alguns velhos africanos acreditam que nos troncos de árvores habitam deuses. São esses troncos moradas de deuses que cuidam das florestas, protegendo-as contra todas as forças humanas que querem a todo instante derrubá-las com machados ou serras elétricas. Os deuses fazem o que podem. Não é por serem deuses que impedirão os homens com livre arbítrio de derrubarem as suas árvores seculares. O que um deus pode fazer é cuidar e proteger, mas evitar que a maldade humana chegue até as florestas é uma tarefa impossível, pois antigamente os deuses castigavam os homens pelos seus malefícios e, infelizmente, hoje são os deuses os castigados pelos homens.
Deram tanto poder aos homens que eles conseguiram tomar o lugar dos deuses na natureza. Isso é a maior das tristezas que podemos constatar nos dias atuais, os homens se colocando nos lugares de deuses. Em breve vão querer ser imortais e logo não tardará que inventarão o elixir da vida longa. Esperem um pouco.
O deus Pã na mitologia grega é aquele que cuida dos bosques, das montanhas, dos campos, dos rebanhos e dos pastores. Vive em grutas e caminha pelas florestas e montanhas sempre a brincar com as ninfas. É representado com orelhas, chifres e pernas de bode, amante da música, traz sempre consigo uma flauta. É temido por todos aqueles que necessitam atravessar as florestas à noite, pois as trevas e a solidão da travessia os predispõem a pavores súbitos, desprovidos de qualquer causa aparente, e que são atribuídos a Pã; daí o termo “pânico”. Esse deus é um dos protetores das florestas e antigamente os homens o temiam.
Hoje, somente as crianças temem os deuses e os seus castigos. Quer dizer, algumas crianças porque os adultos estão adultizando as crianças logo cedo e essas perdem o imaginário e passam a se sentirem corajosas e a não temerem nada.
Em suas brincadeiras com as ninfas pelas florestas, o deus Pã estava sempre ali cuidando da natureza. Quando as ninfas o distraíam uma vez ou outra algum homem tentava invadir as florestas, mas assim que percebia tal gesto ele combatia com os seus castigos tal homem. A missão do deus Pã era proteger as árvores, os rebanhos e os pastores.
Os deuses nunca se cansam de fazer coisas boas. Se não continuarmos ensinando as nossas crianças que o deus Pã existe e que ele é forte e corajoso no combate a preservação da natureza deixaremos de lado a parte mais bela da nossa história que os indígenas e velhos africanos contam às suas crianças, os deuses tudo podem e por isso devemos temê-los. Quando menos esperamos eles nos castigam.
Mas não são somente os deuses que habitam as florestas. Temos outras figuras importantes e muito conhecidas da mitologia grega: as ninfas ligadas a elementos naturais. Os gregos acreditavam que as ninfas viviam em lagos, montanhas, campos e bosques. Além de serem responsáveis por levar felicidade e alegria para as pessoas, eram uma espécie de deusas-espírito da natureza que representavam o dom de fertilidade da natureza. As ninfas serviram de fonte de inspiração para a arte greco-romana, emprestando suas características a seres mitológicos de culturas posteriores, por exemplo, os elfos, fadas e gnomos.
De acordo com a mitologia grega, as ninfas eram divindades benéficas que representavam elementos da natureza. Portanto, as ninfas viviam por muitos anos sem jamais envelhecer, permanecendo jovens, belas e graciosas. Contudo, não eram imortais, mas, despertavam a paixão de deuses e homens. Habitavam em fontes, lagos, rios, riachos, mares, bosques, florestas, prados e montanhas. Onde podiam viver livres e independentes, além de auxiliar os deuses em suas funções. Além disso, as ninfas eram ligadas a terra e a água, sendo classificadas de acordo com o lugar em que habitavam.
Essas figuras mitológicas eram descritas usando vestidos leves, esvoaçantes e quase transparentes, com cabelos compridos soltos ou entrelaçados. Segundo a lenda, as ninfas raptavam um mortal quando se apaixonavam por ele, como o mortal Hilas da lenda de Hércules, que ao retirar água de uma fonte foi raptado por uma delas. Da mesma forma, Hermafrodito, que ao banhar-se em uma fonte, despertou o amor da ninfa Salmacis. Que o abraçou e pediu aos deuses para que fundissem seus corpos em um só.
Uma das ninfas mais conhecidas e estudadas até hoje é Eco do mito de Narciso. Um mito que é bastante estudando na literatura, na psicologia e psicanálise. Existe a flor Narciso e podemos encontrá-la em alguns jardins urbanos. Narciso foi um jovem que ao nascer seus pais o levaram ao oráculo onde ficou dito que ele poderia viver por muitos anos se não visse o seu próprio rosto nunca.
Narciso cresceu nos bosques e gostava de caçar veados e outros animais. Até o dia em que a ninfa Eco o conheceu e passou a amá-lo. Eco amou tanto Narciso que ao ver-se desprezada por ele foi falar com uma deusa para castigá-lo por tal desprezo. Certo dia, Narciso passeando nos bosques encontra um lago de águas límpidas e se aproxima para beber da sua água. De repente, ele vê um rosto nas águas e se apaixona perdidamente por esse rosto que é o seu. Narciso fica tão apaixonado que chega a gritar com as águas do rio. Começa definhar, a entristecer com o desprezo do rosto no lago. Eco preocupada e arrependida pelo que fez com Narciso acaba morrendo e virando uma pedra. Narciso morre de tanto amor pelo rosto no lago e vira uma flor. A flor narciso.
Entrando um pouco no mundo da psicanálise é interessante também no mito que seja Eco (que usualmente conhecemos pelo som gerado por uma única voz em lugares grandes e vazios, condição frequentemente encontrada em cavernas) a buscar Narciso. Nesse sentido, podemos considerar que Narciso (aquele que está condenado a amar a si mesmo) não pode se relacionar com nada a não ser com seu próprio Eco. Nesta passagem, é muito interessante quando Eco diz para Narciso se juntar a ela e ele diz: “Prefiro morrer a te deixar me possuir”. Ou seja, não há nada mais assustador e terrível para o narcisismo que se deixar possuir por um outro, que não ele mesmo.
Assim é que quando a necessidade dos vínculos é negada, quando há um fechamento da libido em si mesmo, negando-se a própria condição de dependência e fragilidade humana, o que resta é a inanição e a morte.
Algumas pessoas costumam chamar outras de narcisistas. Sem saber bem o que isso representa. Narcisista é uma pessoa que só pensa em si, que só pensa em sua beleza física e não se preocupa com a beleza da alma. Um narcisista é alguém que ama demais a si mesmo, e esquece de amar as pessoas ao seu redor. A principal mensagem do mito de Narciso é como a vaidade e a arrogância podem ser prejudiciais ao ser humano.
O mito de Narciso poderia servir também para ser estudado em sala de aula pelas crianças através da beleza dos bosques onde ele tanto costumava brincar e onde morava Eco. Os professores poderiam interrogar aos alunos o que eles pensam sobre Narciso e Eco, se ainda existe perto das suas casas um bosque tão bonito quanto o de Narciso com águas límpidas e animais. A flor Narciso poderia ser mostrada às crianças na sala de aula em retrato ou até mesmo natural. A partir das reflexões das crianças poderia se chegar a um diálogo porque Narciso só amava a si próprio, o que ocorre com essas pessoas, por que Eco sofreu tanto, qual foi o erro de Eco e tantos outros elementos que podem ser retirados do mito para serem trabalhados em sala de aula.
O importante é que fique no pensamento das crianças a beleza dos bosques e das pessoas que convivem neles porque ainda há muitos indivíduos que moram ao redor de bosques, assim como pessoas que vivem em casas de campo.
Mas, para não esquecermos da literatura que traz as ninfas vamos falar um pouco sobre ela. O mito da Ilha dos Amores é contado por Luís de Camões, nos Cantos IX e X d’Os Lusíadas. Nestes cantos, é relatada a vontade da deusa Vênus em premiar os heróis lusitanos, com um merecido descanso e com prazeres divinos, numa ilha paradisíaca, no meio do oceano, a Ilha dos Amores. Nessa ilha maravilhosa, os marinheiros portugueses podiam encontrar todas as delícias da Natureza e as sedutoras Nereidas, divindades das águas, irmãs de Tétis, com quem se podiam alegrar em jogos amorosos. Durante um banquete oferecido aos portugueses, a ninfa Sirena canta as profecias sobre a gente lusa que incluem as suas glórias futuras no Oriente.
O mito da Ilha dos Amores, narrado por Camões, é fruto da sua imaginação, quer povoada dos lugares maravilhosos onde as suas viagens o levaram, quer influenciada pelas míticas ilhas da literatura grega ou de outras lendas árabes e indianas. No mito de Camões, podemos ver que apesar da Ilha dos Amores ser produto da sua imaginação ele consegue resgatar a beleza dos bosques, das ilhas e das ninfas da mitologia grega, para alegrar os seus soldados navegadores que voltavam felizes das suas viagens marítimas depois de enfrentarem muitos desafios. As ninfas são as grandes anfitriãs da festa da Ilha dos Amores mostrando que todo aquele que volta de uma grande empreitada merece o nosso respeito e a nossa recepção com festas e alegrias.
Eu, particularmente, tenho um grande amor pelas ninfas. Fico a imaginá-las belamente tomando banho nos rios ou caminhando pelos bosques cuidando das flores, dos lagos e dos rios. Sentadas em pedras, correndo pelas florestas com os seus cabelos longos. Talvez se procurarmos direitinho dentro de nós ainda encontraremos muitas ninfas nas florestas que tentam a todo instante protegê-las da ação maldosa do homem e conversam com os deuses sobre tais ações fazendo com que se rebelem e nos castiguem. Não é à toa que temos tantas enchentes, tempestades e furacões. São os deuses mostrando os seus poderes. Quem diz que eles não existem está enganado. Ainda há muitos que acreditam nos seus poderes.
Os indígenas acreditam incansavelmente nos poderes dos seus deuses. Eu também acredito. Mas o homem cruel não tem medo dos castigos dos deuses. Ele vai para dentro da floresta com as suas espingardas caçar animais inocentes para pendurarem as suas cabeças nas salas das suas mansões.
A arvore é uma fonte de forças ativas. O contato com ela pode nos enriquecer de energias novas e nos transmutar internamente. Tem como função universal ser a mediadora entre a Terra e o Céu, enquanto o ser humano é o intermediário entre o Céu e a Terra. Quando abraçamos uma árvore nos tornamos um só ser. Podemos sentir a sua energia entrar em nossos corpos. Se permitirmos as forças da árvore são transmitidas para dentro de nós. Ficamos mais fortes e dispostos para enfrentarmos as dificuldades do dia, por isso é importante ter uma árvore perto de casa.
Se toda pessoa soubesse a primeira coisa que fazia antes de começar o seu dia era abraçar uma árvore. As árvores têm poderes sobrenaturais de cura, de motivação, de felicidade, de bem-estar. Elas se conectam com os deuses e esses passam a ouvir o que dizemos para elas. Devemos ensinar as crianças a abraçarem as árvores com muita vontade e alegria para que possam receber delas forças para um crescimento saudável.
Em algumas regiões do continente africano, acredita-se que nos troncos dos baobás moram deuses. Alguns jovens são iniciados nos rituais de culto a esses deuses pelos velhos griots das aldeias que cuidam de zelar a tradição e de passá-la adiante. Além das árvores que podem curar doenças da alma e do corpo temos também algumas plantas medicinais que esses velhos griots e os indígenas brasileiros sabem muito bem seus benefícios. Antes mesmo de sermos levados ao médico costumamos tomar alguma espécie de chá em casa para aliviar uma dor aqui ou acolá.
As pessoas que acreditam nos poderes de curas das plantas pouco adoecem e estão sempre de bom humor. Conheço pessoas que passam o dia todo tomando chás. As plantas assim como as árvores têm poderes sobrenaturais capazes de curar todas as doenças dos nossos corpos e almas. Nós é que nos preocupamos muito em comprarmos remédios de laboratórios industrializados.
No poema de Ricardo Reis heterônimo de Fernando Pessoa intitulado “Deixemos, Lídia, a ciência que não põe” encontramos nos versos “Colhendo flores ou ouvindo as fontes / A vida passa como se temêssemos. / Não nos vale pensarmos / No futuro sabido” aqui numa análise simples do poema podemos dizer que o poeta fala desse colher flores nos bosques e ouvir a canção das águas das fontes ser mais vida e nos presentear com muito mais esperança de poder viver intensamente, pois tememos perdê-la rapidamente. É como se estar perto das flores dos bosques nos mostrasse a grandiosidade desses elementos da natureza diante das nossas vidas frágeis. E mesmo que colhamos as flores e possamos ouvir as fontes ainda assim as nossas vidas passam porque somos mortais e um dia todos iremos morrer, por isso é que não devemos pensar nesse futuro que já nos aguarda.
Vale a pena viver cada instante que nos for oferecido diante da natureza para que ela possa nos presentear com mais vida e energias capazes de enfrentarmos os nossos medos e obstáculos tirando assim as pedras dos nossos caminhos e colocando flores e fontes para que possamos sentir e ouvir a natureza.
Os indígenas retiram das florestas apenas aquilo que lhes são necessários, tais como elementos que possam lhes dar alimentos, utensílios e moradias. Se seguíssemos os ensinamentos dos nossos povos indígenas talvez houvesse menos queimadas e desmatamentos porque eles são os verdadeiros guardiões das nossas florestas. As crianças poderiam ser levadas para passarem um dia numa tribo indígena e manter junto com eles o contato com a natureza. Ainda se cultivam nas escolas o mito do indígena que só sabe pintar o corpo, dançar e andar de canoa. Atualmente, os nossos indígenas estão nas academias universitárias, atuando como políticos, sendo médicos e se destacando como grandes escritores.
O indígena faz parte da floresta e ele luta todos os dias para conservá-la sabendo que seus deuses moram nelas. O homem moderno está querendo acabar com os rituais indígenas e colocando de goela abaixo nesses povos as suas culturas. Todo povo deve ter respeitados os seus costumes e culturas.
Eu gosto muito de uma música do cantor Paulo Ricardo intitulada “Ninfa” que diz em alguns dos seus versos “Noites assim todos a fim, todos a fim de tudo / Então é sábado e tanta gente querendo acreditar / Em fadas, ninfas, duendes e em sereias do mar.” Na sua canção, Paulo Ricardo tenta nos mostrar o homem moderno que está sempre a fim de tudo, principalmente de divertir-se, de acreditar em algo sobrenatural numa noite de sábado que possa lhes acontecer como conhecer um grande amor, viver uma noite de sábado feliz na balada e que essa felicidade seja tão encantadora o quanto são as fadas, ninfas, duendes e as sereias do mar. Essa gente que procura todos os sábados uma forma de se divertir para esquecer o cansaço da semana de trabalho. Por que não acreditar nas ninfas? Não seriam elas capazes de aparecerem de repente e modificarem a vida de algum jovem cansado e estressado por ter passado o dia quebrando a cabeça com um programa de computador? As ninfas não poderiam fugir das florestas um só minuto para alegrar o sábado de um jovem que espera pela sua beleza, jovialidade e astúcia possível de vestir-se num ser humano para lhe fazer companhia na balada.
Assim como as crianças esperam nas noites de sábado que seus pais as levem para um passeio e que algo sobrenatural possa acontecer como ganhar um presente que não esperavam. Tudo pode acontecer num sábado ou num dia qualquer desde que acreditemos que é possível que as fadas ou as ninfas existam e podem fazer coisas sobrenaturais acontecerem em nossas vidas.
Devemos manter o respeito pelas florestas e pelos animais que nela habitam. Assim como devemos acreditar em alguma força sobrenatural que movimenta o planeta terra e que é possível a existência de deuses dentro e fora dos nossos pensamentos cheios de bits e bytes. Por isso gostaria de trazer uma canção de Maria Bethânia intitulada “Invocação” que diz Deus dos sem deuses / deus do céu sem Deus / Deus dos ateus / Rogo a ti cem vezes / Responde quem és? / Serás Deus ou Deusa? / Que sexo terás? / Mostra teu dedo, tua língua, tua face / Deus dos sem deuses.”
Que toda pessoa mesmo aquela que não tem um deus em si possa desfrutar da felicidade de viver perto de uma árvore e que essa passe a ser a sua cuidadora e a sua amiga íntima mostrando os seus dedos, a sua língua e a sua face porque apesar de não ser deus as árvores podem responder quem são e quem somos nós através do balanço das suas folhas. Rogo a ti cem vezes responde quem és quando plantas uma semente no coração de uma criança.
Além dos deuses e das ninfas que protegem as nossas florestas também temos os duendes e os gnomos. Esses seres pequeninos que vivem nos troncos das árvores, também. Os duendes são conhecidos por serem divertidos e extremamente sensíveis. Gostam de brincar com as crianças nas florestas e as ajudam a encontrarem o caminho de volta para casa quando se perdem. Já os gnomos são seres maravilhosos que fazem artesanatos com os elementos da natureza. Esses seres são figuras maravilhosas e costumam aparecer nos contos de fadas abrilhantando o imaginário mundo das crianças.
Trago mais uma canção essa de Carlinhos Brown intitulada “Duendes” que nos diz em seus versos “Duende / Duende Vem da floresta / Do centro da mata / Do ventre da rosa / Do verso cantando.” Que todos os duendes e gnomos possam habitar os sonhos das crianças para sempre amarem e protegerem as florestas.
Mas, não poderia finalizar este ensaio sem falar dos “Smurfs” essas pequenas criaturinhas azuis que vivem numa aldeia no meio de uma floresta e são atormentadas pelo mago Gargamel e seu gato Cruel.
Os “Smurfs” são velhos conhecidos das crianças e amam as florestas. Este é um belo filme para ser passado em sala de aula com o objetivo de ensinar as crianças as belezas das florestas, como é a vida nelas, que criaturas más vão existir em todos os locais quando se trata do mago Gargamel, mas também das virtudes e valores da família “Smurf” e dos ensinamentos do papai Smurf que é o mais velho de todos e guarda na memória muitas vivências e experiências que ajudam os smurfs mais novos como o atrapalhado e zangado chamado de Ranzinza e a bela Smurfete que está sempre pronta para ajudar a todos.
Em outra publicação, escrevemos: Temos a floresta Amazônica onde moram diversos bichos e podíamos fazer contos de fadas os mais diversos para despertar nas crianças o cuidado por ela e a sua preservação. Convido os autores de literatura infantil para se voltarem à biodiversidade da floresta Amazônica e começarem a explorá-la nos seus mais diversos contos. Leia mais!
O Brasil precisa sim de ordem, respeito, cuidado com a Casa Comum e com o outro, mas essa ânsia de buscar o perfil ideal de um “messias”, precisa ser revista.
Meu pai foi uma pessoa de origem extremamente humilde. Seus pais moravam muito longe da cidade, no interior de Passo Fundo e mal tinham o que comer. Meu pai me contava que seu pai, capataz da prefeitura, vinha ainda de madrugada trabalhar na cidade, junto com o seu pai, e os meninos mais velhos vinham junto. Até que um dia, um agricultor chegou na casa deles e disse que era proprietário daquelas terras, e os expulsou de lá: seus pais vieram para a cidade como retirantes, sem nada, apenas com os filhos e uma vaquinha que era a única fonte de alimento. Acabaram trocando a vaquinha por um terreninho na periferia.
Meu pai, trabalhando com o pai dele, fez o muro do regimento da Brigada Militar. Lá trabalhando, sua honestidade foi testada. Ele contava que o tenente pagou ele, com um valor bem acima do que ele recebia e que aquilo encheu os olhos (não vamos passar aperto nesse final de semana, vai dar para comer melhor!), mas mesmo sabendo que aquele dinheiro era uma boa ajuda, ele sabia que aquilo não era o certo e a decisão dele, baseada no que tinha de valores, trilhou o seu caminho a partir daquele momento: ele foi até o responsável, o qual ele chamava de tenente, e explicou que deveria ter havido um engano, pois, aquele valor era, 3 vezes mais o que ele recebia.
Segundo ele, o tenente sorriu, e em poucos dias, o chamou e mandou que escrevesse seu nome em um papel. Meu pai escreveu e “apesar da letra feia por estar sentando alicerce”, como dizia meu pai, o tenente o convidou para ser “brigadiano”. A partir daquele dia, a história dele mudaria um pouquinho, pois seria o único da família com um emprego reconhecido, com um certo “status”.
Meu pai foi reconhecido, pelos seus serviços durante seu tempo na família brigadiana: foi presenteado com troféu e medalha de honra ao mérito, entregues pelo governador do estado (um baita feito, para o antes retirante), pelos seus serviços prestado a BM e por nunca, em todo o seu tempo de polícia militar, ter sofrido uma advertência de um superior, uma queixa de civil, nada!
A cada eleição que tinha meu pai ponderava os candidatos, falava sobre seus feitos e sobre as promessas. Meu pai fazia o que a gente faz hoje: “tenta achar o menos pior”. Lembro que meu pai nunca votava no partido, mas sim na pessoa, tentando fazer pelo melhor.
Meu pai nunca teve problema em votar no PT quando achava que isso era positivo. Assim como nunca teve problema em votar na direita quando achava que essa seria a melhor escolha.
Talvez você esteja se perguntando. Onde ela quer chegar?
Meu pai foi um militar o mais honesto que eu conheci. Eu sou uma admiradora da polícia (queria ser militar, mas minha altura não cooperou). Minha filha quer ser militar, porém, a pessoa que está à frente do executivo federal, não representa o conceito que eu conheço por militar: honra, honestidade, família, lealdade, etc.
Meu texto vem dizer para você, caro leitor, que esse ser humano perturbado, irônico, que desmerece a fome do pobre, a dor do pobre, não é a identidade de um militar (pesquisem a história dele no exército!).
O Brasil precisa sim de ordem, respeito, cuidado com a casa comum e com o outro, mas essa ânsia de buscar o perfil ideal de um “messias”, precisa ser revista.
Pense um pouco: estamos prestes a uma guerra civil motivada por uma pessoa doente. Você realmente acha que o fanatismo resolverá os problemas do Brasil?
Ah, e antes que digam que eu sou petista, não sou nem um pouco! Existe vida inteligente além dessa disputa!
Não me basta escrever porque nesse momento eu quero perder a polidez e escancarar a hipocrisia que a gente vive, essa falsa solidariedade uns com os outros.
Já faz algum tempo que não sei direito o que colocar no papel (ou na tela do computador ou do celular). Digo que na minha cabeça dormem e acordam infinitas frases, poemas e palavras que vão problematizando tudo que me atravessa. Mas silenciam quando encosto em qualquer algo que pressuponha registrá-las.
Tenho pensado se é importante dizê-las. Ou, melhor, tem martelado em minha cabeça uma pergunta que fizeram dia desses. Assim, despretensiosamente, chega assolando meu peito e me jogando num mar de dúvidas: Helena, para quem você escreve?
Emudeço.
Não sei. Às vezes é como se existisse um outro eu que precisa de narração. Necessita que eu diga repetida e incansavelmente, as coisas que vejo e pouco fazem sentido. E, explicando, tento compreender tudo aquilo de não tão novo que acontece mas que não passou pelo meu corpo.
Outras vezes, preciso dizer só pra reafirmar. Pra não esquecer que estou viva nesse mundo que ainda me arrepia seja pela delicadeza dos pássaros cantando num fim de tarde, seja pela indiferença pela morte de tantos.
Tô viva, ainda.
Escrevo também pra me fazer nesse mundo. Pra marcar e reler minhas palavras na minha mente ou em qualquer papel e, mais uma vez, me ver. Me ver porque nem sempre fui vista como queria. E isso é algo incômodo ainda pra mim: tentar compreender esse espelho com que insistem em ver aqueles que não queremos que pareçam com a gente.
Me ver porque podia ser vista mas não considerada.
Escrever deve ser o duro exercício de trazer à tona o menos visível de nossas escolhas, decisões, convicções e desejos. Forçar quem lê (e, automaticamente quem escreveu) a se confrontar com o que preferiria não reconhecer no espelho – seja para sair correndo, espatifar o vidro ou levantar-se e refazer estradas. (Maurem Kayna) Leia mais: http://mauremkayna.com/escrever-para-que/
Escrevo por isso, pra me fazer.
Pra correr atrás das palavras que enchem minha boca e explodem minha cabeça com tantos sentidos e significados.
Me assusta, no entanto, aquilo que a gente pode fazer de destrutivo nesse enfileiramento de letras.
E, entre uma mensagem e outra, ou no diz que diz de quintal, a gente vai matando lenta ou subitamente os outros.
E, tristemente, já vi gente cheia de vida preenchida de muita morte devido a ferimento de palavras.
Saliento, isso é bastante comum de onde vim.
Talvez também seja por isso que insista em escrever, pra dizer que a gente pode fazer bom uso das letras (e da língua).
Hoje, um menino de 16 anos tirou a própria vida pelos comentários que leu. Palavras essas escritas pela gente, por essa nossa ânsia em achar que podemos falar sobre tudo e sobre o outro de um modo pouco cuidadoso e bastante maldoso.
Não é a primeira vez que vi isso.
Já perdi amigos e conhecidos desse mesmo modo. E, não me basta escrever porque nesse momento eu quero perder a polidez e escancarar a hipocrisia que a gente vive, essa falsa solidariedade uns com os outros.
Essa mania da gente achar que precisa opinar sobre algo que não nos diz respeito. E, na ingenuidade do “é só minha opinião”, ir matando aos poucos.
Assim, a pergunta que faço é também um pouco um questionamento interno: quantas mortes já causamos?
Todos escrevem (ou quase todos), sobre muitos temas e muitos o fazem de qualquer jeito. Não que isso não seja um direito, talvez até uma necessidade. Afinal de contas, todos têm o que dizer, mesmo que seja só repetir o que os outros falam, apenas pela necessidade de mostrar que existem. Porém, há escritas que ferem de morte as regras básicas da língua. E mais do que isso: atentam contra o bom senso, o respeito ao diferente e ao divergente.(Dirceu Benincá)https://www.neipies.com/para-que-escrever/
Onde há continuidade e pertencimento, há sentido da vida. Onde há descontinuidade e desenraizamento, que sentido poderá haver?
Entre o céu e a terra, o homem habita e, entre os animais e os anjos, vagueia pelo mundo. É verdade que está mais para a terra e para os animais do que para os anjos, mas projeta-se para o alto pela sua capacidade de elevação que brota do pensamento que medita.
Pensar e meditar, contudo, não significa afastamento do mundo rumo ao éter, ao vazio ou ao buraco negro. Tal como árvore frondosa que quanto mais se projeta para o alto mais necessita aprofundar suas raízes, assim é o homem cosmopolita que só se compreende situado em sua terra natal e dentro de uma tradição.
Terra e tradição, pátria e passado não podem ficar nas mãos dos conservadores, retrógrados de extrema direita que tudo pervertem. O que é bom e faz bem não pode ficar refém dos que só manipulam e, por vocação, deturpam e corrompem. Sim, nas mãos dos tradicionalistas e conservadores, a pátria e as tradições estão à perigo e necessitam ser resgatadas e salvas.
Martin Heidegger (1889-1976), um dos maiores filósofos do século XX, foi o que melhor pensou o lado positivo da pátria e da tradição. Ele é o filósofo do ser, afinal. E ser é tempo e tempo é ser. Ser é habitar esse mundo entre o tempo e o espaço. Tempo é tradição, espaço é chão, pátria.
O conceito que melhor pode pensar a vida humana no tempo e no espaço é o enraizamento. Essa é a posição de Heidegger e ele diz de uma forma solene que parece definitiva. Ele diz: “tudo o que é essencial, tudo o que é grandeza surgiu do homem ter uma pátria e estar enraizado numa tradição”. Sem pátria e sem tradição não há construção e habitação. E sem construção e habitação o que seria do humano?
Como pensar essas duas grandezas, a pátria e a tradição sem decair em xenofobias e culto ao passado? A extrema direita moralista capturou e deturpou a fala sobre o tempo e espaço, sobre a tradição e o chão, transformando o que seria uma postura sadia em algo doentio e tóxico: o nacionalismo e o conservadorismo.
É preciso reiniciar um movimento de reconquista dessas duas bandeiras e não haverá sucesso na fala dos progressistas e libertários se não incorporarem a reflexão sobre o tempo e espaço, sobre tradição e pátria. Libertar essas duas grandezas da prisão a que foi submetida pelos conservadores será o desafio para os que querem tornar a vida saudável para todos.
A modernidade iluminista se fez efetiva pela ciência e pela técnica. E foi pela ciência e pela técnica que o homem processou um desenraizamento como nunca visto na história.
As sucessivas revoluções tecnológicas, sobretudo no campo da comunicação e transporte, processaram uma equivalente revolução na vivência e compreensão do tempo e do espaço. Não há área da vivência humana que não se experimenta o desenraizamento.
O chão e a tradição, isto é, a vida num ethos identitário, nos usos e costumes compartilhados, em sintonia com uma tradição que nos enlaça e nos dá sentido de pertencimento e de missão de transmissão para as gerações futuros, parece estar se perdendo. Assim é na família, na escola e na igreja, só para ficar em três campos. A recepção do passado e a transmissão para os jovens, dos valores, ritos, costumes, da fé, é, talvez o maior desafio do nosso tempo.
Longe de mim o saudosismo do tipo “no meu tempo era melhor”, “antigamente as coisas eram diferentes” etc. Seria necessário escutar as pessoas que assim pensam para que narrassem o que realmente era melhor. Às vezes. o que aparentemente era melhor, era simplesmente falta de opções ou vigência funcional de uma sociedade estratificada, obediente e excludente.
Contudo, há de se pensar no que há de sadio no valor de pertencimento a um povo e a uma tradição com seus costumes, hábitos e valores que se desdobram em costumes e valores familiares e religiosos. Sem pertencimento e enraizamento o que sobra é a sensação de vazio, separação, isolamento e solidão.
O sentido da vida oferece-se em grandes e pequenas coisas, mas, talvez, o lugar mais seguro do seu encontro seja em sentir-se subjetivamente fazendo parte de um todo maior, um elo que une o passado com o futuro. Lá onde há continuidade e pertencimento, há sentido da vida. Lá onde há descontinuidade e desenraizamento, que sentido poderá haver?