Se todas as pessoas entendessem o valor da escrita, talvez houvesse menos dor e sofrimento. Quem é das letras, sabe. Não penso em publicar ou não um livro. Escrevo porque gosto. Sei que vão se esquecer de mim logo após a minha partida.
Uma pessoa que conheço, olhando bem nos meus olhos, disse que eu deveria escrever para mim:
— Para que expor teus sentimentos? Guarda-os para ti ou fala com teu terapeuta — prosseguiu, argumentando que não achava adequado uma profissional como eu falar sobre a própria vida.
Não respondi. Nada a dizer. Pensei bem e achei melhor não me indispor com quem não lida com esse tipo de viver. Agi com naturalidade. Senti que ela desviou o olhar quando a encarei fixamente. Contudo, nem me mexi. Fiquei ali, parada, e o ar começou a ficar pesado.
Nesse instante, virei as costas e saí, dando um tchau meio sem graça.
Apertando os lábios, como é meu costume, disse para mim mesma:
— Não fraqueje, Elenir. A literatura está te salvando.
Fixei meus olhos apenas nos raios de sol do pleno verão em que estávamos. Segui pela rua em silêncio, respirando fundo. Cabisbaixa, andei, andei e andei — pensativa e, ao mesmo tempo, com uma sensação de paz.
Escrever, para mim, já é uma sina. Há uma ideia comum de que psicólogos são imunes a determinadas dores, que devemos saber lidar bem com as perdas. Mas acredito que expor meu sofrimento, a céu aberto, é uma forma de outras pessoas se sentirem acompanhadas em suas dores.
E há sofrimentos que não devem ser comparados à pedra de Drummond, no meio do caminho…
Quando não tenho o que fazer, escrevo.
Mas também escrevo quando minha lista de afazeres está cheia e, de repente, sinto a necessidade de colocar em palavras o que estou sentindo. Não tem jeito: pego logo o caderno de anotações.
Sou adepta de Clarice Lispector. A própria Clarice fazia anotações à mão sempre que sentia vontade de escrever. Para mim, exprimir o que sinto no momento é libertador — um gesto espontâneo que me livra de tantos males.
Ameniza os efeitos desastrosos das vicissitudes da vida. É um meio de catarse, de não se deixar ser devorada por sentimentos que podem trazer dor. Além disso, também serve para desanuviar a mente.
Quero falar tudo o que tenho vontade, ainda mais agora que alcancei a liberdade de escrever sobre qualquer coisa. Basta uma folha em branco à minha frente, e parto para a escrita, sem me preocupar com o gênero do texto.
Meu sentir está no movimento da caneta sobre o papel. Viro o texto para cima e para baixo. Escrevo, paro, guardo. Reviso outro dia.
Assim, penso ter encontrado um salvo-conduto para a possível felicidade ou, ao menos, para o bem-estar. Quero quebrar o silêncio sem me arrepender depois.
Se todas as pessoas entendessem o valor da escrita, talvez houvesse menos dor e sofrimento. Quem é das letras, sabe. Não penso em publicar ou não um livro. Escrevo porque gosto. Sei que vão se esquecer de mim logo após a minha partida.
Então, passei a não deixar de fazer certas coisas por medo do que possam pensar a meu respeito. Não, não se espantem. Não é que eu esteja pensando “nela” agora. Nem gosto de citar o nome — é apenas a realidade. Minha escrita tem sido original e verdadeira para com meus leitores.
Soledade, RS, Janeiro de 2025.
Autora Elenir Souza. Também escreveu e publicou no site “Por que escrevo”?: www.neipies.com/por-que-escrevo/
Edição: A. R.