Um ambiente desafiador chamado Sala de Professores

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Este texto, prezados colegas, em momento algum tem o objetivo de ofender e sim de levar a reflexão de como recebemos os novatos, de que forma alguns dos nossos comentários, por mais verdadeiros que sejam, assustam e agridem aqueles que estão chegando e como isso pode impactar no desempenho de quem está começando.

Concluí a graduação em 2018. Por esse motivo, ainda me considero um professor recém-formado e, consequentemente, com pouca experiência de sala de aula. Quando estava por terminar a faculdade, muitas foram as dúvidas e incertezas passando em minha cabeça. Ficávamos pensando em como seria em sala, se iríamos conseguir ter um bom relacionamento com nossos alunos. Durante praticamente toda a graduação, somos preparados e lembrados que, por muitas vezes, a sala de aula é um território pouco convidativo e que, necessariamente, vamos ter problemas com os alunos.

Mas não somos preparados ou avisados sobre o quão hostil pode vir a ser a sala dos professores. Principalmente aos que estão iniciando sua carreira. É sempre importante ressaltar que não tenho o intuito de generalizar, e sim mostrar o quanto as ações pontuais de alguns professores e a omissão de outros marcam a nossa trajetória.

Logo depois de formado, fui contratado em alguns colégios e, de um modo geral, fui muito bem recebido pelas coordenações e pelos colegas. Contudo, algumas falas e atitudes destoantes merecem entrar neste relato. Ao ser apresentado à equipe de uma das escolas, por exemplo, alguns professores entenderam que seria legal e divertido fazer piada com a minha pouca idade e nenhuma experiência.

Fui colocado no meio da roda e os seguintes comentários foram proferidos: “não existia professor mais experiente para contratar?”, “sua primeira experiência?”, “os alunos vão te massacrar”. “Esse menino é muito novo, os alunos vão achar que ele é um colega.” “Esse aí é muito novo, não vai ter nenhum domínio de sala de aula.”

Também me chamou atenção a normalidade e a naturalização desse tratamento. Pude perceber que essas falas são bem comuns no ambiente escolar, entendidas por alguns quase como um processo de iniciação. Se para aqueles professores foi engraçado, para mim esse tipo de comentário serviu para aumentar ainda mais minha insegurança e verdadeiramente duvidar da minha capacidade. Por alguns dias, evitei ao máximo entrar na Sala de Professores, pois assim era mais fácil evitar aqueles que desconfiavam do meu potencial.

Em outro momento, percebi não só a hostilidade, mas o racismo. Aproveitando que a escola deixa disponíveis computadores na Sala de Professores, optei por lançar as presenças em um deles. Alguns professores que não me conheciam, ao me verem sentado usando o computador, entenderam aquilo como um insulto ou afronta. Afinal, o que faz um jovem negro sentado em uma sala que é ocupada por homens e mulheres brancos?

Eles perguntavam em volume audível à secretária responsável pela sala o que eu estava fazendo ali, e pude concluir que a pergunta tinha a intenção de me constranger. Foram exatamente quatro professores que fizeram esse comentário ao entrar. No entanto, quando a quarta pessoa fez o mesmo questionamento dos anteriores, eu levantei, pedi a palavra, me apresentei, informei que era o novo professor de História e que poderia usar a sala e os computadores como qualquer outro professor. É claro que os olhares de reprovação vieram a seguir, mas, como nenhum outro professor se manifestou, voltei a lançar as presenças.

Este texto, prezados colegas, em momento algum tem o objetivo de ofender e sim de levar a reflexão de como recebemos os novatos, de que forma alguns dos nossos comentários, por mais verdadeiros que sejam, assustam e agridem aqueles que estão chegando e como isso pode impactar no desempenho de quem está começando.

Posso afirmar que a maioria dos colegas com quem tive o prazer de trabalhar me recebeu muito bem, mas a falta de empatia de alguns acaba por marcar e muito esse início. Entendo a importância de estar contando um pouco dessa experiência aqui: alertar aos que estão iniciando suas carreiras e fazer refletir os mais experientes. Pois a educação libertadora se faz não só com os alunos, mas com toda a comunidade, inclusive nas relações entre os profissionais de educação.

FONTE: https://conexao.ufrj.br/2021/03/da-sala-de-aula-um-ambiente-desafiador-chamado-sala-de-professores/

Autor: Renan de Sá. Professor de História de Ensino Fundamental e Médio

Edição: A. R.

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