Um fenômeno intitulado “FINAL DO ANO”

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A Guernica, Pablo Picasso

Ele geralmente aparece em meados de novembro, e gradualmente, vai transformando uma atmosfera pacata em um buraco negro. Os dias passam a ser mais longos para o pessoal do hemisfério sul, mas, a impressão que temos é a de que eles encurtam. Você começa a notar que as pessoas estão com pressa, sem um motivo aparente. E quando você percebe, se percebe, está com pressa também.

Há uma tentativa de fazermos tudo o que não fizemos no ano todo (e às vezes, na vida inteira) em menos de um mês. É a época do ano em que a solidariedade predomina no ar e começamos a utilizar o nosso frasco, com prazo de validade super perecível, de amor e compaixão.

O nosso inconsciente ainda não desistiu do comercial “chester Perdigão”, da família perfeita reunida, na Ceia de natal. Mas, quando as celebrações acontecem, a realidade sempre faz a gente quebrar a cara. Além de encontrar aquele parente infeliz, uma espécie de uma luzinha queimada no pinheirinho de natal, encontramos uvas passas no arroz!

No Brasil, o Papai-noel sofre, pois, ainda não passou pelo movimento antropofágico e continua utilizando as roupas de inverno.

É a época do ano em que os Santos removem os ouvidos, uma tentativa eficiente de não receber as promessas que nós mesmos sabemos que não somos capazes de cumprir. Mas, a gente promete, com a esperança de que alguém deve ganhar na Mega-Sena. Falando nisso, você já fez a sua aposta?

– Para começar o ano frustrado por não ter ficado milionário? –

As previsões astrológicas começam a nos animar e um ano maravilhoso há de chegar (com a margem de erro de uma pandemia). A gente resolve tirar férias, mas a cabeça fica no trabalho, e quando voltamos ao trabalho, a nossa cabeça resolve ficar nas férias.

E o ano termina [1] e começa outra vez!

Notas de Rodapé: [1] E então, esse fenômeno se dissipa, com previsões de retorno no final do ano que vem, graças aos ventos desanimados que empurram a maré do saco cheio. Em Janeiro, o buraco negro passa a ser preenchido pela nossa rotina, que também engole a nossa expectativa de mudanças e é digerida pelos nossos bons e velhos maus hábitos.

Autora: Ana P. Scheffer

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