A isso podemos chamar de crise. Na verdade, uma porção delas: crise econômica, crise social, crise médica. E como nós, cidadãos comuns que estamos impacientes na espera de respostas, podemos lidar com essa angústia?
– Discorde-se quem puder!
Espera, não entendeu? Então, vem comigo! Mas, antes de tudo, devemos lembrar-nos de aceitar racionalmente a incerteza e tomar cuidado com possíveis consequências `non gratas’ do nosso desejo instintivo de ver padrões no que pode ser uma mera casualidade. Calma. Leia de novo, com todas as pausas que julgar necessárias, pois é exatamente disso que vamos tratar de refletir neste texto. A frase pode não parecer atrativa em primeiro momento, mas tem fundamental importância para entender nosso comportamento diante do mal-estar na sociedade.
Sob condições de sobrecarga de informações e ansiedade relacionada à incerteza – e estamos em um período demasiadamente incerto -, temos a tendência crescente de favorecer inadequadamente as informações adquiridas recentemente, devido à sua facilidade do que podemos chamar de recall – uma heurística conhecida como viés de disponibilidade. Calma, eu vou facilitar, eu prometo, vem comigo.
O período que estamos passando – a pandemia de 2020 – nos traz uma série com abundantes episódios de incertezas sobre, basicamente, tudo. Quanto tempo vai durar? Quando vamos encontrar um tratamento ou vacina? Que medicamento profissionais da saúde devem dar aos pacientes? Quando todos voltarão ao trabalho?
Provavelmente todos nós, seres mortais, já nos deparamos com alguma dessas perguntas flutuando em nossas mentes enxugadas de vieses cognitivos, aqueles, que contornam nossas incertezas. Ora pois, mas é claro. Isso é natural do ser humano, né.
Pensar, ideologizar, problematizar, reinventar. Mas vem aqui comigo só um pouquinho. Quantas respostas nós temos para cada uma dessas perguntas? Tantas. Parece que o mundo é incerto e o fim está sempre perto, como diria um certo artista que não vem ao caso.
Enfim, onde está a solução? A isso podemos chamar de crise. Na verdade, uma porção delas: crise econômica, crise social, crise médica. E como nós, cidadãos comuns que estamos impacientes na espera de respostas, podemos lidar com essa angústia? As pessoas estão morrendo! “Edaí?” – Como diria… não lembro quem.
Muitos observam essa enfermidade deslocando seus traumas mais impetuosos e mal resolvidos para o jogo do conflito, em meio a cruzadas: o ódio colossal. Aqui no Brasil, parece que somos uma referência forte nesse quesito. Mas acredito que não somos exclusivos, não. Nas situações emergentes, o que prevalece é a cegueira ao padrão de desejo instintivo, o qual pode ser uma mera casualidade. A isso, não podemos chamar de razão. Conquanto, outros são otimistas, outros negam (ah, lembrei!), outros são pessimistas, outros querem a revolução, assim como fez nosso mais prestigiado sanitarista brasileiro, que sim, você sabe quem é, né? Claro que sabe, quem não gostaria de uma mente brilhante como a de Oswaldo Cruz neste momento… ah, dele não posso me esquecer.
Pois bem. Alguém nos diz, em tom gritante e destemperado: Cloroquina é a salvação! – Outrora, um novo componente – Hidroxicloroquina é eficaz! – Ou, por bem, vejamos, o Ritonavir? Azitromicina? Remdesivir? Mas que tal fazer como Waldick? Tome Anemokol!
É, é. Dentre essas e outras, pairamos nas `soluções’ regadas de incertezas em nome da emergente situação que nos espanta. E discutimos, debatemos, brigamos, cortamos relações nas nossas telas virtuais. Isso assola o bem-estar social, que já não está nos seus melhores picos desde… anos. Contudo, não podemos negar o caos.
Mas, perceba a necessidade que por vezes temos – e aqui devo me colocar como réu confesso -, de compactuar com o caos. “Se você não acredita na Cloroquina, é simples, não tome quando estiver morrendo”, ou “AH, MAS ESSE BANDO DE IRRESPONSÁVEIS, QUERENDO EMPURRAR CLOROQUINA GUELA ABAIXO! ASSASSINOS!”, é, porque é, porque é. Por vezes a gente caí nos precipícios. Tem gente, que vive por lá…
Compactos ao caos. Triste loucura. Loucura essa que não passa de uma máscara que esconde alguma coisa, esconde um saber fatal e “demasiado certo”. A isso, não podemos chamar de razão. Pensamos nisso juntos, e assim, posso me colocar. Um lembrete para raciocinar. Contribuir construindo, a medida que vivemos uma crise biopsicossocial, raciocinando criticamente e refletindo sobre os vieses que podem influenciar nossos processos de pensamento. Ah, isso é trabalhoso, com certeza. Mas é um trabalho digno, que fazemos para o nosso bem e que esta diretamente ligado a uma raiz – uma guerreira raiz -, do nosso bem-estar social.
Como eu poderia contribuir em meio ao caos? Atacando o argumento que não me convém ou construindo uma união racional? O primeiro meio é o mais fácil, mais atraente, pelo fato de instigar a mediocridade, que tanto conforta, que tanto almeja as incertezas casuais. O segundo é trabalhoso, pouco atraente por este fato – é verdade -, mas, instigador da veracidade. Envolve vários processos, dentre eles, o autoconhecimento. Este, procura aceitar racionalmente as incertezas. Porém, os caminhos estão à beira da loucura.
Então eu digo: SALVE-SE QUEM PUDER! – Ou melhor – DISCORDE-SE QUEM PUDER! Pois assim percebemos o poder e a importância dela… da dolorida e tão construtiva autocrítica. Mas, lembre-se de ter cautela, cautela para não cair nela, na triste loucura, ou melhor… na balela.
Reflexão inspirada nas seguintes referências:
1.Mal- estar na Civilização – Sigmund Freud
2. Perspective Covid-19 – A RemindertoReasonIvry Zagury-Orly, B.Sc., and Richard M. Schwartzstein, M.D. – NEJM
3.Nietzsche, Vida e Obra – Editora Nova Cultural Ltda.