Tenho pena de quem se julga perfeito. De quem, na pressa, pisa nas formigas sem nem perceber, correndo para algum lugar que, às vezes, nem sabe qual é.
Fracassei muitas vezes este ano como professor. Se fosse listar todos os meus erros, um único ano não seria suficiente — talvez nem trinta. Enumerar fracassos é como contar estrelas em uma noite de verão: apontamos algumas até o sono nos vencer, mas sabemos que é impossível contar todas.
Ainda assim, quero compartilhar algumas estrelas que identifiquei.
Fracassei quando, ao perder o controle, recorri aos gritos. Se fosse realmente bom, talvez um olhar bastasse, ou uma postura diferente, quem sabe um pedido firme e gentil. Fracassei quando, exausto, não ofereci a melhor aula possível. Admito que, em alguns dias, apenas “empurrei as horas”.
Fracassei quando não consegui dar a atenção que certos alunos precisavam. E também quando minha falta de foco comprometeu a organização de projetos ou atividades que poderiam ser melhores.
Essas são apenas algumas estrelas que observei em uma dessas noites. Há muitas outras. Fracassei setenta vezes sete — e me sinto feliz por isso.
Porque errar é parte essencial da experiência humana. Jamais seremos completamente “certos”. Buscar a perfeição é um ato de covardia. Impô-la aos outros? Sadismo disfarçado de boas intenções.
Tenho pena de quem nunca fracassou. De quem fez tudo corretamente. Daquele que, apressado, não parou para admirar as flores e as pisou com a desculpa de chegar mais cedo.
Tenho pena de quem se prendeu à performance e à imagem, esquecendo dos sentimentos. De quem mediu seus passos pela distância percorrida, e não pelos amigos conquistados ao longo do caminho. De quem valorizou mais a aparência do fruto do que seu sabor. Mais o corpo bonito do que a alma marcada por cicatrizes.
Tenho pena de quem se julga perfeito. De quem, na pressa, pisa nas formigas sem nem perceber, correndo para algum lugar que, às vezes, nem sabe qual é.
Eu errei setenta vezes sete — e me esforço para perdoar setenta vezes sete.
Por isso, considero-me feliz.
Autor: Aleixo da Rosa. Também escreveu e publicou no site “Apenas dou aulas”: https://www.neipies.com/apenas-dou-aulas/
Edição: A. R.