Uma vitrine literária feminina para encantar o leitor

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PIBID foi um projeto de formação de professores realizado com muito êxito no Brasil. Para quem atua em escolas há um certo tempo, as boas memórias deste projeto reforçam a importância da formação de professores e professoras como uma política pública que, infelizmente, vem sendo negligenciada por diferentes governos e órgãos educacionais. Resolvemos publicar este texto, por sugestão de uma colega de profissão, para destacar a qualidade deste programa.

O Projeto do PIBID/Leitura 2014 teve como objetivo formar alunos leitores do ensino médio adeptos da leitura fruitiva e apreciação estética. Os eixos temáticos do Subprojeto de Letras evidenciados foram Encontro com a Mulher Autora e Leitura em meio eletrônico. Como em 2014 houve um movimento proposto por Joanna Walsh para se discutir a desigualdade de gênero no mundo da literatura e promover um equilíbrio de leitura tanto masculina como feminina, tendo em vista que há uma supremacia de autores buscamos nos inserir neste processo com a leitura da obra escolhida – uma autora que apresenta nove autoras de renome nacional e internacional.

Conheça mais sobre o PIBID: https://youtu.be/jezsXoedRZc?t=31

A questão proposta para reflexão foi por que editamos, publicamos, traduzimos, divulgamos, estudamos, discutimos menos a produção de ficção e de não ficção de mulheres? O que fazer para mudar isso? É importante então ler as obras de escritoras, valorizar outras profissionais mulheres do mundo editorial.        

Para tal a escritora criou um Tumblr com a tentativa de mobilizar as pessoas leitoras a abraçarem esta ideia. Os interessados podiam participar enviando trechos de livros de escritoras, fotos de pessoas lendo livros de mulheres, fotos das capas dos livros, listas de leitura, imagens de algum trecho, resenhas, links de vídeos no YouTube. Quem tinha Tumblr, era só usar a tag #leiamulheres2014. Se não tinha, podia enviar o conteúdo para leiamulheres2014@gmail.com. – See more at: file:///C:/Users/VAIO/Downloads/heloisa,+7+UMA+VITRINE+LITER%C3%81RIA+FEMININA+PARA+ENCANTAR+O%20(1).pdf

Todas estas informações foram compartilhadas com os alunos para que eles se incluíssem neste processo.

A leitura desvendando diálogos

Pensar na ficção de Adriana Lunardi em Vésperas é entrar num mundo labiríntico de histórias de vidas que se apresentam ao final e sintonizam dialogando entre si pela essência do fato de todas serem escritoras. É uma obra que engloba todas as outras obras num volume único, o que condiz com a conclusão de Roland Barthes (BARTHES, 1974, p. 77) de que “é isto o intertexto: a impossibilidade de viver fora do texto infinito”.  

Para Umberto Eco (1985) “só se fazem livros sobre outros livros e em torno de outros livros” (ECO, 1985, p. 40). Julia Kristeva (KRISTEVA, 1974, p. 64) apresenta o primeiro conceito de intertextualidade quando afirma que “todo texto se constrói como mosaico de citações, todo texto é absorção e transformação de um outro texto” que encontra influência da noção de dialogicidade textual de Mikhail Bakhtin, presente nesta complexa inter-relação entre todos os textos da obra.  

Compreendendo bem este jogo de vozes, as acadêmicas, em primeira instância, realizaram a leitura e análise da obra que foi ofertada aos alunos do Ensino Médio. Apesar da preocupação que as mesmas sentiam, tendo em vista que a temática dos contos era a morte, na verdade pela metodologia de leitura fruição e estratégias estéticas e literárias de aproximação com a obra, a aceitação foi plena pelos mesmos.

O olhar inovador da autora pelo qual foi possível transformar a vida de mulheres escritoras, poetas e romancistas em personagens da obra fez com que os alunos fizessem um passeio nos século XIX e XX: Virginia Woolf, Dorothy Parker, Colette, Katharine Mansfield, Sylvia Plath, Zelda Fitzgerald, Ana Cristina César, Júlia da Costa e Clarice Lispector para conhecê-las  como personagens e autoras em seus tempos e espaços, seus estilos e suas reflexões finais – as vésperas.

A cada encontro um tempo, um estilo e uma nova obra eram apresentadas como muito bem os alunos sintetizaram na elaboração de um túnel do tempo. Além do túnel, foi realizada uma viagem pelos espaços,para conhecer as cidades, países nos quais as autoras viviam o que possibilitou entender os costumes, comidas, flores, casas que dão vida a cada um dos contos. É a simbiose de realidade e ficção que se faz presente.

Para ampliar o conhecimento cultural das autoras fez-se uso do laboratório de informática para busca de mais histórias, vídeos e documentários, objetos referenciados, citações de outros autores ampliando a compreensão do texto para poder tecer todas as intertextualidades utilizadas no conto, sobre as autoras personagens. Esta busca histórica provocou uma grande mobilização por parte dos alunos, pois sentiam-se como numa caça ao tesouro, uma informação a mais que enriqueceria a história escrita pela Lunardi e eles quem sabe tornar-se-iam coautores do “texto infinito”. 

Foram realizadas inúmeras estratégias de aproximação com os contos entre elas: leitura oral compartilhada, leitura silenciosa, leitura dramática pelas licenciandas e pelos alunos, apresentações de vídeos, teatros, músicas, resumos, cronograma histórico das autoras personagens, passeio ao cemitério, inclusive. Como todos os alunos receberam um exemplar do livro, os mesmos podiam ainda lê-los no horário do almoço uma vez que em regime integral eles permanecem na escola. Quem sabe não haveria um túmulo de uma autora itajaiense com um belo epitáfio?  

Algumas reflexões pertinentes

Ler para e com os alunos essa obra representou ao grupo de licenciandas, não somente a experiência de refletir sobre a temática e ações docentes, mas também permitiu conhecer estas autoras clássicas da literatura universal.

Como houve este primeiro encantamento os alunos foram contaminados levaram a sério todas as atividades propostas e os momentos de leitura fruição.

Tal envolvimento provocou as pibidianas fazendo com que efetuassem planejamentos adequados e criativos para a realização das oficinas e leituras.

Ao final, ressalta-se a intertextualidade de conhecimentos na troca mútua de tudo entre todos para desvendar os segredos e pistas apresentados pela autora nesta obra aberta. Os objetivos foram atingidos ultrapassando as expectativas dos professores supervisores e da coordenadora de área.

Leia também: Escola boa é escola onde professores estudam: https://www.neipies.com/escola-boa-e-a-escola-onde-professores-estudam/

Autoras:

Deise Bressan: Acadêmica de Letras

Karine Maestri: Acadêmica de Letras

Natalia Mendes: Acadêmica de Letras

Cleide J M Pareja: Mestre em Letras pelas UFSC – Professora da UNIVALI – Coordenadora de área/PIBID

REFERÊNCIAS

BARTHES, R. O Prazer do Texto. Trad. M. M. Barahona. Lisboa: Edições 70, 1974.

BAKHTIN, M. Estética da Criação Verbal. Trad. P. Bezerra. São Paulo: Martins Fontes, 2003.

COSSON, Rildo. Letramento Literário: teoria e prática. São Paulo: Editora Contexto, 2009.

KRISTEVA, J. Introdução à semanálise. Trad. L. H. F. Ferraz. São Paulo: Perspectiva, 1974.

LUNARDI, Adriana. Vésperas. Rio de Janeiro: Rocco, 2002.

Edição: A. R.

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