É óbvio que o conceito de “universidade para todos” é uma utopia. Entretanto, as afirmações do presidente e do ministro condenam a senzala ao seu papel histórico entre nós.
Durante a campanha eleitoral, Bolsonaro afirmou que os jovens brasileiros tem “tara” pelo diploma superior e que seria melhor se muitos deles buscassem o ensino profissionalizante para atuar em funções como técnico em conserto de eletrodomésticos e mecânico de automóvel. Isto é, condenou os pobres a se conformarem com posições subalternas.
Agora, o ministro da Educação Ricardo V. Rodrigues, importado da Colômbia, afirmou que a universidade não é para todos, mas somente para algumas pessoas. As Universidades, segundo ele, “devem ficar reservadas para uma elite intelectual, que não é a mesma elite econômica”.
Estaria o sistema de cotas – que dá oportunidade para negros, pardos, índios e estudantes de escolas públicas entrarem nas universidades federais sob ameaça? Seria o ensino superior um privilégio dos filhos da Casa Grande ?
Usando chavões, clichês e jargões para não manifestar o que realmente pensa, o ministro usa o “pensamento twitter”, o mesmo do presidente. Faz afirmações, mas não as detalha.
Sabemos que o ensino básico precisa ser melhorado com urgência. É a fórmula ideal para assegurar acesso igualitário ao ensino superior. Mas quando não se alcança esta qualidade? Simplesmente excluir ou adotar políticas que facilitem o equilíbrio desta balança?
Boaventura Sousa Santos, no livro “Pela mão de Alice: o Social e o Político na Pós-Modernidade”, abordou na década de 90 do século passado, as crises das universidades. Uma delas estava relacionada às restrições do acesso e da credenciação das competências, por um lado, e as exigências sociais e políticas da democratização da universidade e da reivindicação da igualdade de oportunidades para os filhos das classes populares, do outro.
Eis que o tema reaparece no Brasil do séc. XXI. É óbvio que o conceito de “universidade para todos” é uma utopia. Entretanto, as afirmações do presidente e do ministro condenam a senzala ao seu papel histórico entre nós.
Universidade para todos, Willian Cardoso.
A família dos muito pobres repete há 500 anos a família dos escravos. Pior. Eles ainda fazem o mesmo tipo de serviço que faziam antes. São escravos domésticos.
O Brasil atual não gosta do pobre. Temos um verdadeiro apartheid. O PT alimentou um ódio visceral por um motivo central: tocou no grande pecado de ter diminuído um pouquinho a distância entre as classes. Coisa de comunistas.
Como a classe média não pode transformar esse ódio ao pobre em mensagem política – porque seria canalhice e temos a questão da influência cristã –, ela utiliza mecanismos como o que está propondo o ministro colombiano, para manter a exclusão e manter a senzala em seu devido lugar.
Suas excelências, o presidente e seu ministro, deveriam ler a Constituição que no art. 205 deixa claro: “A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando o pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho”.
Já o inciso V, do art. 206, garante, “acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa e da criação artística, segundo a capacidade de cada um”.
Resgatar práticas de pseudoprofissionalização pode perpetuar o atraso tecnológico e científico do Brasil.