UPF incentiva as Cidades Educadoras

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“A Cidade Educadora se constitui em atos que vão desde a participação da criança na esfera pública até a organização de espaços e tempos para que as pessoas vivam a cidadania plena em todos lugares da cidade”, ressalta a professora Adriana Dickel.

Um grupo liderado pela Universidade de Passo Fundo (UPF) e composto por representantes de prefeituras da região realizou uma viagem técnica para o município de Rosário, na Argentina, na última semana. A visita ocorreu em preparação ao III Encontro das Cidades Educadoras da Região Norte do RS, marcado para os dias 19 e 20 de maio, em Marau. A viagem teve por objetivo conhecer o modelo implementado que inclui as crianças nos processos de pensar e participar ativamente da vida na cidade argentina. A UPF é uma das mais importantes instituições no debate das cidades educadoras no Brasil.

Rosário, na Argentina, é considerada a protagonista das Cidades Educadoras na América Latina e integra a Associação Internacional de Cidades Educadoras (AICE) há 26 anos.

Entre os motivos estão ações como trabalhar integradamente na perspectiva de melhoria da qualidade dos espaços públicos que foram ressignificados; melhoria da educação formal e integração entre escola e cidade; além da descentralização de iniciativas culturais. Também entre as ações que desenvolve está o Tríptico da Infância.

A professora Dra. Adriana Dickel destaca que, em Rosário, o grupo pode conhecer experiências bastante significativas relacionadas à participação das crianças e jovens nos destinos da cidade. “Conhecemos o Tríptico da Infância que se constitui em três locais bastante planejados e organizados para que crianças e familiares possam, de forma bastante espontânea e monitorada, brincar”, pontua. Os três espaços que constituem o Tríptico são a Granja da Infância, a Ilha dos Inventos e o Jardim das Crianças. “Esses três espaços têm um princípio básico em comum que é permitir que a criança vivencie, no âmbito da cidade, experiências sensoriais, emotivas e cognitivas as mais diversas. Situações que dificilmente vivenciariam apenas na escola enquanto ambiente formal de ensino”, destaca. A professora pontua ainda que muitos dos projetos conhecidos na visita podem servir de inspiração e serem adaptados à realidade das Cidades Educadoras da região.

Foto: Arquivo pessoal

UPF incentiva as Cidades Educadoras

Nos últimos anos, a Instituição contribuiu para a disseminação do conceito e no apoio às experiências das cidades da região norte do Estado no processo de adesão à Carta da AICE, elaborada em 1990 e revista em 2004. Com o apoio da UPF, os municípios de Passo Fundo, Carazinho, Guaporé, Marau, Sarandi, Soledade e Camargo integram o movimento internacional. A região Norte do RS é a região em que se concentra o maior número de Cidades Educadoras do país, com sete municípios.

Conforme o vice-reitor de Pesquisa, Pós-Graduação, Extensão e Assuntos Comunitários da UPF, Dr. Rogério da Silva, isso é um desdobramento direto do papel que a Instituição protagonizou nessa construção.

Além da divulgação da ideia-força das cidades educadoras na região, quando os municípios aderem ao movimento internacional e à AICE, a Universidade trabalha de forma ampla na assessoria, com ações desde a formação de gestores; organização de eventos como o Encontro Regional – que acontecerá em Marau neste ano -; formação de professores; assessorias pontuais às prefeituras a partir de outras dimensões de políticas públicas, como saúde e assistência social; debate e formação na relação criança e cidade; e uso da cidade para todos os ciclos da vida. 

Comprometimento dos municípios

O prefeito de Marau Iura Kurtz destaca que, desde que Marau aderiu ao documento, houve uma mudança nas práticas. “Todas as ações e investimentos do município passaram a ter um olhar voltado aos objetivos da Carta”, comenta. A intenção com a participação na comitiva foi conhecer de perto as experiências de um dos principais exemplos de sucesso de ações práticas relacionadas à Carta das Cidades Educadoras.

Marau já identifica avanços. A secretária de Educação Simone Costenaro Ribeiro pontua avanços na área social e educacional com implementação de programas de acesso aos marauenses com foco nas questões raciais, de valorização e proteção da mulher, e de qualificação dos estudantes; ainda melhora na qualificação e valorização dos profissionais por meio da oferta de momentos de reflexão e esclarecimentos sobre os princípios da Carta das Cidades Educadoras.

Ações intersetoriais

Soledade aderiu à Carta das Cidades Educadoras no ano de 2019. O movimento que teve início na área da educação hoje se expandiu e é tratado de forma intersetorial na gestão do município.

Conforme a secretária de Educação Ádria Brum de Azambuja a prefeitura realiza conversas e acompanhamento permanente do andamento das ações como a criação e manutenção de canais de comunicação entre a comunidade e a gestão municipal, a formação continuada de professores, ações que estimulem o protagonismo de crianças e jovens, e de desenvolvimento integrado do meio rural.

Ainda, um dos grandes objetivos do município é envolver toda a cidade no processo de educar. “Queremos que as crianças possam ter o currículo desenhado não apenas como escolar, mas de cidade que contribui para o desenvolvimento integral das crianças e dos demais sujeitos da cidade, sempre com vistas a um processo de humanização nos diferentes espaços de convivência”, complementa. Para a secretária, a ida a Rosário possibilita conhecer a experiência da cidade argentina e compreender o cenário a fim de mobilizar experiências semelhantes em Soledade.

O que é ser uma Cidade Educadora?

A proposta das Cidades Educadoras é, por meio da educação, fazer das cidades um espaço de cidadania livre, responsável e solidária. Para isso, três grandes princípios norteadores são estabelecidos: o direito à cidade educadora, o compromisso da cidade, e o serviço integral às pessoas. A partir destes princípios, há o desmembramento de objetivos, dentre eles a educação inclusiva ao longo da vida; acesso à cultura; governança e participação dos cidadãos; sustentabilidade; promoção da saúde; promoção do associativismo e do voluntariado; e educação para uma cidadania democrática e global.

“A Cidade Educadora se constitui em atos que vão desde a participação da criança na esfera pública até a organização de espaços e tempos para que as pessoas vivam a cidadania plena em todos lugares da cidade”, ressalta a professora Adriana.

A partir da adesão à Carta, os municípios, por meio do poder público, entidades e instituições, se comprometem a colocar em prática os objetivos e princípios presentes no documento. O Rio Grande do Sul é o Estado brasileiro com mais cidades na Associação Internacional das Cidades Educadoras, tendo atualmente 12 municípios membros, sendo que muitos deles contaram com o apoio da UPF para o ingresso na AICE.

Assista: Como tornar uma Cidade Educadora? – por Márcio Taschetto

Fotos: Divulgação UPF

Edição: Alexsandro Rosset

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