A escola deveria responsabilizar-se por despertar prazer,
autoestima, pelos estudantes como seres em formação,
que estão carentes de reconhecimento.
Nas formações e palestras que realizo para professores na região do RS, tenho focado muito na discussão sobre avaliação e a construção das notas dos alunos.
Uma questão basilar nas minhas provocações é a ideia da média. Como um professor pode saber se o aluno que atinge 7,0 aprendeu mais que o aluno que atingiu 5.0? Sendo que na maioria das vezes esse professor não tem diagnóstico do nível de conhecimento do aluno no início do processo? Quem me garante que o aluno que chegou na média, não iniciou a disciplina com conhecimentos acumulados 6.0, e ao longo do semestre melhorou 1.0? A média pode esconder e deturpar MUITO o processo.
Nesta mesma linha, pergunto sempre:
– Levantem a mão os professores aqui presentes que são medianos em TODAS as áreas do conhecimento!
Normalmente ninguém se pronuncia, por reconhecer que existem áreas do conhecimento que não domina ou não tem nenhum prazer em estudar ou se aprofundar. Nessas oportunidades gosto de falar das minhas próprias limitações, reconhecendo que sinto que falo melhor do que escrevo, mas que isso deveria ser normal para qualquer pessoa (ou pelo menos na ampla maioria de pessoas).
Se reconhecemos isso, alguém consegue explicar o motivo de obrigarmos os alunos a serem medianos em todas as áreas do conhecimento? (e se não for na minha disciplina, defenderei sua reprovação, independente se ele tiver altas capacidades em outras áreas?).
Alguém me explica qual seria o motivo de avaliarmos os alunos por notas que comparam pessoas diferentes (constroem hierarquias entre os alunos), mas que essas mesmas avaliações não são capazes de avaliar o aluno individualmente dentro das próprias capacidades e limitações que o seu contexto social e cultural o permite ser? A nota deveria perder centralidade, e entrar a aprendizagem dos alunos.
Se não problematizarmos essas questões, a educação estará apenas selecionando e retendo alunos por critérios que a maioria dos professores não atende.
Precisamos que a escola se responsabilize por despertar prazer, autoestima, e se responsabilize pelos estudantes como seres em formação, que estão carentes de RECONHECIMENTO. Se o aluno não escreve bem, mas fala bem, precisamos reconhecer essa habilidade e permitir que ele desperte prazer na escrita, mas seja RECONHECIDO pela sua capacidade. JAMAIS reprovar o aluno por isso. A escola e a universidade DEVERIAM ser espaços de descoberta de talentos e NUNCA MAIS espaços de destruição de sonhos.
Espero que essas formações sejam menos “beija-flor apagando incêndio”, e se se transformem gradativamente em movimentos de modificação de práticas no sentido de “água morro abaixo”.