O livro de Rosangela Trajano contém 30 poesias
para crianças dedicadas a cada telefonista da Telern.
Cada poesia tem uma ilustração para colorir.
Trinta “meninas”, dimensionadas liricamente a partir de aspectos simultaneamente corriqueiros (porque cotidianos), singelos e delicados, são, neste livro, motivo. Motivo para quê? Para a composição de retratos-flagrantes que iluminam personagens quase sempre escondidas por trás de seus gestos de zelo e dedicação.
Do bolo com gosto de flor (“A menina do bolo”) ao curativo feito de carinho (”A menina do curativo”), o livro constrói, poema e poema, um universo de gestos que transborda o que, no exercício de cada profissão e na vivência de atividades ora comuns ora personalíssimas, é inscrição no melhor do humano.
“A menina que ama Jesus” reparte o pão assim como “A menina que dança” reparte sua alma dançarina com a vida. Os “cajus amarelos” da “menina cozinheira” têm a mesma alegria das mesas decoradas pela “menina que decorava mesas”. “A menina que amava ser avó” é fã de seus netos como “A menina fanática” o é em relação a seu cantor predileto. “A menina fotógrafa” é capaz de captar a dor, enquanto “A menina da cozinha italiana” faz da cozinha um prazer à moda de massas. Cada qual com seus atributos e suas ações integra um caleidoscópio de gestos diversos, mas irmanados pela doçura do ponto de vista que os apreende.
Se “A menina assistente social” se assume como porta-voz de valores humanos, “A menina professora” vive o magistério com magia. Se “A menina vovozinha” ama com sabor de tapioca e bolo de chocolate, “A menina do vôlei” joga simbolicamente com mãos de torcedora. Todas, desde “A menina bióloga” à “menina do desenho”, sabem que reside na vivência plena do dia-a-dia a colheita farta de uma vida bem vivida. Por isso, “A menina do trem” estuda e planta, “A menina da motocicleta” crê nos próprios sonhos e “A menina dos cosméticos” colore e perfuma a própria imagem.
Se “A menina das crianças especiais” mergulha nos novos mundos inventados por suas crianças, “A menina das cartinhas” vive a alegria de mediar os encontros que só as palavras podem proporcionar. Se “A menina feliz” é pragmática nos gestos do amor, “A menina filósofa” pensamenteia os sentidos do mundo, e “A menina manicure” encarna a psicóloga que entende de histórias de mãos.
Nessa família de telefonistas, “A menina e seu filhinho”, “A menina que gosta de viajar”, “A menina dona de casa” e “A menina policial”, tal como as demais, ilustram flagrantes de mulheres cuja inserção na vida não pode passar despercebida aos olhos atentos da “menina poeta”, que há anos se dedica ao trabalho com a palavra e ao desejo de despertar, nos pequenos meninos e nas pequenas meninas, o gosto pela leitura e pela escrita.
Todas têm nome. Todas são individualizadas na palavra lírica de Rosângela Trajano, que, se tal como “A telefonista da alegria”, não sabe fingir quando está zangada, entende bem, por outro lado, do significado do “fingimento poético”. Por isso, ela “finge” serem apenas 30 poemas para telefonistas o que são, na verdade, reflexos de uma vida dedicada a fazer o bem, tanto por parte das homenageadas quanto por parte da que as homenageia. Bem sem ponteiros, bem como a “Zero hora”, quando ouvidos e sensibilidades delicadas revelam que há, sim, quem atenda às chamadas de quem não pode dormir.
Que Rosângela Trajano continue vivendo a “zero hora” de cada dia, sempre plena, múltipla e cheia de energia para cantar/contar, por meio de linguagem transparente e melódica, o mundo que nos cerca. Este mundo, habitado por incontáveis personagens dedicadas à arte de SER, que ela, Rosângela, consegue VER.
(Apresentação do livro feita por Christina Ramalho)
Conheça duas poesias que compõem este precioso livro.
A menina do bolo
Para Márcia, a verdadeira menina do bolo.
A menina do bolo
Misturava o açúcar
Na farinha de trigo
Cinco xícaras adoçar.A menina do bolo
Os ovos quebrava
Misturava na vasilha
Fôrmas que dava.A menina do bolo
Fazia com amor
Seus lindos bolos
Tinham gosto de flor.
A menina do curativo
Para Cris, a minha enfermeira.
A menina do curativo
Tinha muita paciência
Amava a enfermagem
Com a sua sapiência.A menina do curativo
Aplicava a injeção
Com o maior carinho
E gigante coração.A menina do curativo
Do soro cuidava
Com a criança sorria
Da pediatria gostava.
Detalhes da Obra: O livro contém 30 poesias para crianças dedicadas a cada telefonista da Telern. Cada poesia tem uma ilustração para colorir.