Numa experiência inédita em nossa cidade, alunos das séries finais de uma Escola Municipal de Passo Fundo, RS, participaram de uma viagem de estudos, deslocando-se por cerca de 330 Km, em meados do mês de junho de 2019, para o município de Três Coroas, para conhecer o Templo do Budismo Tibetano. Uma atividade que foi planejada na disciplina de Ensino Religioso desde o início do ano letivo e que envolveu professores, estudantes e alguns pais e mães. Uma atividade preparada com estudos, pesquisas e aulas antes de acontecer.
No mês de abril, conheceram também outros templos religiosos da cidade de Passo Fundo, conforme registro de matéria.
Conforme apresentação da página oficial do Templo, “O Chagdud Gonpa Khadro Ling, localizado no município de Três Coroas, no Rio Grande do Sul, é a sede sul-americana de uma rede de Centros de Budismo Tibetano Vajraiana fundado por Sua Emª Chagdud Tulku Rinpoche em 1995. Com o falecimento de Rinpoche em 2002, os centros estão sob a direção espiritual de Chagdud Khadro, sua esposa. Em tibetano, Kha significa “céu”; Dro significa “mover-se”, “ir”, “dançar”; Khadro é a tradução de Dakini, palavra associada a um aspecto da energia iluminada na forma feminina. Já Ling significa “local”. Uma tradução possível para Khadro Ling, então, é “Morada das andarilhas do céu”.
Cerca de 50 praticantes do Budismo Tibetano Vajraiana moram no Khadro Ling. São pessoas de vários locais do Brasil e do mundo, que vieram para cá com o objetivo de priorizar a prática espiritual e auxiliar nas atividades diárias necessárias à manutenção da Fundação Chagdud Gonpa. Toda a estrutura do centro é mantida por doações”.
Com esta publicação, queremos repercutir e dividir com os leitores as impressões, conhecimentos e a importância de conhecermos as diferentes expressões religiosas, aquelas que, sobretudo, se diferenciam em seus fundamentos e também em suas práticas. Quer também indicar e recomendar esta visita de conhecimento do templo Budista como parte de um roteiro de conhecimento desta região da Serra Gaúcha que envolve as cidades de Três Coroas, Canela e Gramado.
Neste relato que segue, teremos o registro da preparação para a visita ao Templo de 3 Coroas, uma breve entrevista com professora Glória Fauth, depoimentos de alunos e alunas, professoras e registros fotográficos.
Entrevista com professora Glória Fauth, seguidora do Budismo e moradora em Três Coroas, hoje.
NEI ALBERTO PIES: Professora Glória, conte-nos como descobriste o budismo tibetano? Como o budismo envolveu também a sua família?
Foi por volta de 1994 quando ganhei um livro do Dalai Lama. Ao ler, fui me identificando totalmente com os ensinamentos do livro. Percebi que era o que eu estava procurando há muitos anos. A conexão foi total e imediata. Assim comecei procurar mais livros dele para ler.
Em 1995 fiquei sabendo que um mestre tibetano havia chegado à serra gaúcha para comprar uma terra e construir um templo. Comecei a acompanhar esse evento. Sempre aparecia reportagens sobre ele em revistas…Mesmo com muito interesse, apenas em 2002 tive oportunidade de visitar o templo e conhecer o mestre Chagdud Tulku Rinpoche. A partir daí, comecei a estudar mais e ouvir os ensinamentos e efetivamente praticar.
Quanto a minha família, nunca convidei nenhum deles para me acompanhar. Acho que a mudança em mim foi tal que eles quiseram ver de perto o que estava acontecendo. O primeiro que ficou interessado foi meu marido, depois o filho mais novo com 8 anos, depois a filha e o filho do meio mais tarde.
O budismo não é uma religião proselitista, os praticantes não saem por aí falando para converter as outras pessoas. A pessoa que tem conexão com o budismo, vai procurar, ler, estudar, ouvir palestra, se depois disso chegar a conclusão que vai ser bom para a sua vida, ela segue.
NEI ALBERTO PIES: Durante algum tempo, em nossa cidade Passo Fundo, além de professora da rede estadual de ensino e do seu trabalho com grupos de teatro, usavas do teu tempo para disseminar conhecimentos sobre Budismo Tibetano. O que a motivava para fazer isso?
A motivação maior era para que os estudantes conhecessem essa tradição religiosa. A história do Buda, a arte e a cultura oriental que nós não costumamos estudar no ocidente. Agora com a internet todos tem mais acesso a todas as culturas. Está mais fácil.
(Uma das primeiras palestras que fiz com alunos das séries finais do Ensino Fundamental foi no ano de 2013, na Escola Municipal de Ensino Fundamental Guaracy Barroso Marinho)
NEI ALBERTO PIES: Qual é hoje, a sua relação com a prática e a espiritualidade budista?
A relação com a prática espiritual e cada vez mais intensa e profunda. Uma vez que morando aqui tenho oportunidade de fazer retiros e estudar ainda mais.
NEI ALBERTO PIES: Participaste do Conselho do Ensino Religioso (CONER Seccional Passo Fundo) por um certo período. Que lembranças e que aprendizagens levastes desta experiência?
Tenho ótimas lembranças dos colegas participantes, do respeito entre todos. Foi uma experiência rica e intensa.
NEI ALBERTO PIES: Qual é a importância do conhecimento das diferentes religiões para a construção de uma cultura de tolerância e paz?
O conhecimento é importante. Acredito que quando se conhece, se respeita.
NEI ALBERTO PIES: Que fundamentos e princípios da prática budista podem ser observados por qualquer ser humano, independente de sua opção religiosa?
Acredita que o mais importante é aquele que chamamos a regra de ouro: No budismo tibetano é: “Não causar mal a nenhum ser” No cristianismo é: “Ama ao próximo como a ti mesmo” Outro ensinamento dos nossos mestres é: “cultive um bom coração”.
NEI ALBERTO PIES: Qual é a importância do Templo de Três Coroas para a difusão dos conhecimentos e práticas do budismo tibetano no Brasil e na América Latina?
Este templo é o maior centro de estudos budistas da América Latina para leigos. Vem aqui pessoas de todos os países latino americanos, também da Europa e América do Norte.
NEI ALBERTO PIES: Para quem nunca visitou o Templo em Três Coroas, qual é seu convite (inclusive para grupos de estudantes e escolas)?
Para grupos: recebemos os grupos de quarta-feira a sexta-feira. É só entrar no site www.templobudista.org e agendar a visita. Para as visitas de grupos solicitamos o pagamento de uma taxa de 50,00. Para carros de passeio, é aberto de quarta a domingo e não cobramos nada para estes acessar o templo. Mas sempre é bom consultar o site, porque em algumas ocasiões, pode estar fechado para visitação. São todos bem vindos.
NEI ALBERTO PIES: Algo que queira acrescentar.
“A vida é um espelho, não uma janela” que nossos mestres preciosos.” Todos nós ao olharmos ao redor, nos vejamos. Que possamos nos ver nas pessoas que nos cercam, nos animais de estimação e naqueles abandonados, naqueles seres que são desagradáveis e nos fazem mal.
Depoimento da Coordenadora da Escola Municipal Zeferino de Costi, Adriana Severo dos Santos
“Na viagem de estudos a Três Coroas, RS, visitamos o Templo Budista. Foi uma experiência única, tanto para professores, pais e, principalmente, aos nossos alunos dos 9⁰ anos.
Nessa oportunidade conhecemos uma filosofia de vida e uma linha religiosa diferente da nossa vivência diária. Foi muito enriquecedor o contato direto com as pessoas, seus ensinamentos e a própria estrutura e organização do Templo (que é esplendorosa).
Posso afirmar que nossos alunos aproveitaram muito, trazendo com eles mais conhecimentos sobre a temática ” Diversidade Religiosa”, que faz parte do Componente Curricular da disciplina de Ensino Religioso, do professor Nei Alberto Pies, organizador e mentor desta viagem de estudos”.
Depoimentos de professoras.
“Atividades como essa são muito importantes para o crescimento de nossos alunos, pois eles vivenciam na prática tudo aquilo que estudam na teoria, em sala de aula. Saímos do Templo com uma vontade de ficar, pois ele é repleto de energia positiva, em um lugar cercado de natureza, no topo de um morro e com vista para o vale. O budista respeita e se integra à natureza de uma maneira que o homem ocidental ainda não consegue. Percebemos o impacto nos nossos alunos, que adoraram a visita e se surpreenderam com os ensinamentos do Budismo”. (Graziela Bergonsi Tussi, Geografia)
“Na semana da viagem, os alunos e alunas dos nonos anos da Escola Municipal Zeferino de Costi tiveram uma aula de yoga e meditação, práticas ascéticas do Budismo, preparando-se para a viagem. Estas práticas podem ser em função da religião, como também em função de uma qualidade de vida que leve em conta o equilíbrio tão necessário entre o corpo e a mente humana”. (Professora Vanilde Bordignon, educação física)
“A visita ao templo budista em Três Coroas foi um passeio de estudos muito interessante. Logo que iniciamos a viagem o professor lembrou dos objetivos para o dia.
Conhecemos um lugar lindo, calmo, tranquilo, com uma natureza incrível, cheio de paz
e harmonia. Conseguimos observar o local e saber mais sobre o budismo.
Foi uma experiência única que agregou conhecimento e bem-estar”. (Ana Cláudia, professora e mãe de aluna/acompanhou a viagem)
Depoimentos de alunos e alunas que participaram da viagem de Estudos.
“Como aluno achei a experiência de ter contato com diversas diferentes crenças uma oportunidade que todo estudante deveria ter. A viagem ao templo budista, assim como todas os estudos feitos durante o ano, foi um contato com uma filosofia muito diferente da que estamos acostumados, assim nos apresentando um pouco da grande diversidade religiosa das quais não estamos acostumados a nos inteirar. Gostaria de agradecer a todos que nos deram essa oportunidade e convidar você a aprender um pouco mais sobre as diferentes religiões”. (Samuel do Nascimento dos Santos, aluno nono ano)
Viagem ao
Templo Budista
Os estudantes dos nonos anos A e B, acompanhados de alguns alunos do oitavo ano da escola Zeferino Demétrio Costi, fizeram uma excelente excursão ao Templo Budista Tibetano da cidade de Três Coroas no dia 14/06/19. Sendo acompanhados pelo Professor Nei Alberto Pies (Ensino Religioso e Filosofia), pela Professora Vanilde (Educação Física), Graziela (Geografia) e também pela Coordenadora Adriana.
Juntos, ao chegarem no local do Templo, foram recebidos por uma guia que explicou a história do local e levou-os
até uma sala de vídeo, onde contava a história e a origem do Budismo Tibetano.
Após, foram dirigidos até o templo principal, onde foi solicitada a retirada
dos sapatos para a entrada. Dentro, encontraram uma senhora budista. A mesma
contou a história do templo e das imagens de Buda que haviam nele, também tirou
dúvidas dos estudantes que a escutavam.
Foram liberados para que pudessem desfrutar das
belezas e do efeito calmante deste lugar silencioso e agradável em que estavam.
Será uma viagem inesquecível para qualquer um que teve a oportunidade de
conhecer. (Aluna Gabrielly Vitória de
Almeida, nono ano)
“Acho que a iniciativa da escola de tomar o contato com a diversidade religiosa uma matéria prática através de visitas e viagens diminui cada vez mais a distância entre os alunos e as diversas religiões, algo que todas as escolas poderiam fazer. Conhecer as diferenças e semelhanças entre as coisas que parecem tão distantes do nosso dia a dia é o primeiro passo para criar um futuro sem preconceitos.
Boa sorte a você aluno ou aluna, que está no começo de sua jornada de aprendizagem, sempre buscando o conhecimento para tornar o nosso mundo melhor. Afinal, somos o futuro e nos fazemos no presente”. (Caroline Muller Balsan, nono ano).