Nesta época junina deveria se fazer uma reflexão profunda sobre a vida sofrida que levam as pessoas da roça, e não ridicularizá-las da forma que é feito. Particularmente, como educador, (filho desta origem) e pessoa humana que tem um pouco de sentimento por essas pessoas que somos nós mesmos, nossos pais, nossos vizinhos, nossos colegas…

 

No mês de junho, escolas e alunos reúnem-se para fazer apresentações para a comunidade escolar. Realizam-se apresentações como teatros e danças “típicas”. Se olharmos pelo lado da expressão corporal, até isso colaborará para o desenvolvimento intelectual, corporal e linguístico. Agora se pergunta: como são feitas estas expressões? A que se refere à vestimenta?

A vestimenta é tipicamente remendada, rasgada e “fora de moda”. Na cabeça usa-se um chapéu grande, e, na maioria das vezes, rasgado.

Quem usa chapéu em nossa sociedade? São aquelas pessoas que trabalham de sol a sol para produzir o alimento. São as que tocam essa sociedade em termos de produção, que deveriam ter muito mais valor e, no entanto, são desprezadas. Esta vestimenta é encontrada nas pessoas da nossa sociedade que estão excluídas de um processo opressor e capitalista.

Nesta época deveria se fazer uma reflexão profunda sobre a vida sofrida que levam as pessoas, e não ridicularizá-las da forma que é feito. Particularmente, como educador, (filho desta origem) e pessoa humana que tem um pouco de sentimento por essas pessoas que somos nós mesmos, nossos pais, nossos vizinhos, nossos colegas, sou contra estas exposições que ridicularizam os agricultores e gente simples do campo. Sem querer, e sem refletir, acabamos de excluí-los duplamente.

A linguagem utilizada é até profana por se tratar de um esculacho muito grande da Língua Portuguesa, pois a real fala de nossos trabalhadores não chega a esse nível de deboche. E não se pode esquecer que essas pessoas da roça, trabalhadores que, para manter esse sistema que está aí e para o sustento desta nação, não tiveram oportunidade de acesso à educação.

Nós, educadores, deveríamos nos perguntar, já que falamos um pouco mais aproximados da língua “padrão”, talvez porque, com muito custo, chegamos a uma universidade, se temos o direito de ridicularizar a linguagem e o modo de ser dos outros, porque a dignidade das pessoas jamais estará na linguagem assim, ou assado… Deveríamos ter o cuidado para não estar incentivando, como algo normal, nossos educandos que tenham essa atitude, ainda, que por vezes, inconsciente.

Eu sinto orgulho de ser um filho da roça, porque a vida no “interior” me ensinou valores muitíssimo finos e refinados. (Nei Alberto Pies)

Vida na roça

 

 

 

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