Eu não comecei na Pedagogia amando o curso, pelo contrário, a decisão em cursar no primeiro momento foi pura e concretamente influenciada pelo fato de no ano anterior, ter ouvido falar que o salário de uma Pedagoga seria de 3 mil reais. Foi isso: uma menina do interior, sonhando em cursar faculdade que ouviu que talvez pudesse receber uma quantia que jamais fez parte da renda da sua família.
Essa é a minha história inicial com a Pedagogia, pouco glamourosa, tampouco com pretensão de vocação mas carregado da realidade que vivia. É mais ou menos esse o sonho do pobre, uma ousadia em querer estar na academia mas nunca esquecendo do que a vida toda sempre tinha presente: saco vazio não para em pé, tampouco estuda.
Me apaixonei pela Pedagogia tardiamente e acho que foi um processo de descoberta bonito de quem começa a entender que tem voz e pode dizê-la no mundo. Acho que isso foi uma das coisas que me transformou imensamente: ser escutada e, no acolhimento da palavra, poder me fazer cidadã nesse mundo.
A minha língua pouco formal – e com poucas travas em alguns momentos – me fez ter a possibilidade de questionar o que antes era pouco claro pra mim. De cara, já um outro fato: eu não cabia numa pedagogia de hierarquias, numa cultura escolar que não compreende o exercício da palavra, da escuta e da acolhida como fundamentais para qualquer processo educativo e, assim, nascia alguém apaixonada pela Pedagogia Social.
Nesses seis anos passei por escolas, Ongs, clínicas, prefeituras e prisões. E em cada lugar me construía um pouco mais gente. Acho que, também, um pouco mais escutadora e admiradora da vida de cada pessoa junto a possibilidade de ouvi-las ou, como disse Edivânia (uma Pedagoga incrível), de “pisar o solo sagrado do outro”.
Há dias que me sinto uma fraude de Pedagoga, dias que se Paulo Freire me visse só ia baixar a cabeça e a balançar negativa e levemente enquanto coçava sua barba branca e me julgava interiormente. E isso é parte do processo eu acho, poder me olhar e ver o quanto ainda preciso aprender e melhorar.
Hoje carrego certeza de que a Pedagogia não é neutra e, se assim o dizem, falam sem o mínimo de conhecimento das pessoas que vivem nesse Brasil, sem o mínimo conhecimento do quanto a educação é essencial e transformadora na vida de tantas pessoas.
O desmonte que vivemos, da educação básica ao ensino superior, diz sobre isso. Precarizar a educação é um projeto político muito bem situado e com intenções bastante claras.
Essa foto eu tirei num dia de formação sobre mulheres na política do Política por.de.para Mulheres, lá em Curitiba. Penso que foi quando assumi pra mim mesma esse compromisso com a política que sempre atravessou minha vida e que permitiu que eu me sonhasse acadêmica e formada. Isso é simbólico dado a atual conjuntura desse país que caminha a cada dia para a impossibilidade de sonhos.
Nesse dia (20 de maio – Dia do Pedagogo/a), eu queria é dar um chamego em todas as colegas de profissão que diariamente e apesar de todas as intempéries tentam construir perspectivas e caminhos coletivos em que a voz, a dignidade e o sonho de cada criança, adolescente e jovem é acolhido e escutado.
Viva a Pedagogia Libertadora!
Autora: Helena Schimitz
Edição: Alex Rosset