Vivências e compromissos com educação e sociedade: educadora Solange Schmidt

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Lourdes Solange Schmidt, mais conhecida por Solange ou, simplesmente, SOL,  professora aposentada há 25 anos, 72 anos, é uma educadora sempre ativa nas lutas do magistério. Convicta em seus ideais e propósitos, mas sensata na hora de dialogar, esta educadora ensina muito porque sabe muito e tem orgulho em compartilhar vida, histórias e conhecimentos.

Em tempos de isolamento físico e social, de crise da Pandemia do Covid 19, conhecer a história desta professora nos permite adquirir um pouco de segurança e sabedoria para compreender e entender o mundo e a educação.

Acreditamos em histórias verdadeiras e fartas de sabedoria e conhecimento. Por isso destacamos e reconhecemos, por entrevistas neste site, os protagonismos e os protagonistas da educação.

Como professora, como cidadã e como dirigente sindical, Solange Schmidt acumulou muita experiência de vida, fez muitas e boas amizades e carrega grandes sabedorias de quem nunca se conformou com a apatia e com as injustiças sociais.

SITE NEIPIES: Quando, como e porquê decidiste ser professora?

SOLANGE SCHMIDT: Acredito, sinceramente, que nasci para ser professora. Minha tia-avó, Isaura, por quem fui criada, tinha uma escola de datilografia em casa. Quanto tinha uns 10 anos de idade eu sabia todo o manual e a ajudava a dar aulas.

Sempre fui incentivada a ler, interpretar, declamar poesias, com ênfase e emoção. Com um pouco mais de tempo, passei a ler obras importantes e vou te contar uma coisa intrigante: – li a Bíblia inteira, minha família era católica conservadora e tinha essa exigência.

Na mesma época, eu ficava curiosa, quando me diziam que os sindicatos, via de regra, eram comunistas, segundo a mesma interpretação da direita de hoje, então, decidi ler Karl Marx. Eu tinha já 13 anos, mas entendi que enquanto a igreja pregava sua dedicação aos pobres, mas abria os templos para os ricos que buscavam o poder, Marx dava a mesma versão, quanto aos pobres “proletários”, porém alertava e apontava a exploração da mão de obra dos mesmos, para o enriquecimento do capital dos patrões.

À medida que fui crescendo, fui acompanhando o pensamento e a prática da minha tia-avó, que era atuante na política e no sindicato dos bancários, nessa época conheci Olívio Dutra. Percebendo que havia muitos equívocos sociais, ideológicos, e partidários, entendi, por fim, que minha função na sociedade seria ensinar, para a libertação dos “esquemas mentais” como diz Althusser.

Escolhi Letras, Português/Inglês e, aos 16 anos entrei na Faculdade de Letras, da UNICRUZ, que na época era uma extensão de Santa Maria e tive excelentes professores. Na grade curricular, além das disciplinas específicas da área, inclusive Latim, havia as cadeiras de Filosofia e Sociologia.

SITE NEIPIES: Atuaste 30 anos no magistério até sua aposentadoria, em 1995. Que lembranças boas carregas contigo deste período em que integravas o magistério público estadual (das salas de aula/desafios de ser professora nesta época)?

SOLANGE SCHMIDT: São muitas as boas lembranças. Comecei a dar aulas, antes de me formar, substituindo professores de 1º e 2º grau, o que hoje se denomina Ensino Fundamental, na Escola Normal Santíssima Trindade, em Cruz Alta. Os colegas eram solidários, amigos e os alunos perfaziam um perfil diferente destes novos tempos. Eram educados, atenciosos e respeitosos, sem deixarem de ser crianças e adolescentes.

O desafio mais importante era ter conhecimento profundo sobre as temáticas desenvolvidas e uma didática estrutural condizente com as idades e com os diferentes ritmos dos alunos. A compreensão e a paciência ganhavam minha atenção, tão necessária para o transcurso das aulas.

SITE NEIPIES: Como era ser professora de língua portuguesa há 35 anos atrás?

SOLANGE SCHMIDT: Entrei no magistério estadual concursada, no final nos anos 70, em plena ditadura. Eu, cheia de ideias e inovações que me alimentavam a vontade de saber mais, de ensinar com qualidade, afinal, segundo Jakobson (1976), “a língua era um código através do qual se enviavam mensagens de emissores para receptores, com funções variadas, conforme a ênfase dada a um dos elementos do circuito da comunicação” (BEZERRA, 2005)[1].

Sendo um código que envolve os emissores e receptores e livre para ênfases, faladas ou escritas, muitas vezes fui questionada, por libertar o aluno da salivação repetitiva, dos departamentos e esquemas mentais. Por exemplo, a cada conteúdo fazia, com os alunos, letras de músicas, brincadeiras e dramatizações. Isto os incentivava a usar os verbos corretamente, a buscarem sinônimos, a usarem o dicionário, na formulação e criação da oração e da frase e assim, quando chegava ao final do ano, o livro de gramática era apenas um apoio, caso tivessem alguma dúvida.

Faço questão de dizer que nunca fiz ou incentivei a caligrafia, pois a natureza, a naturalidade da letra é obtida num processo complexo da formação do indivíduo. A letra bonita nem sempre corresponde a um texto bem escrito. Além disso, tem uma relação estreita com o sentido de submissão.

Dali para cá houve outras reformas no Ensino de LP, a primeira, em 1970, que:

Voltando ao contexto dos anos 70, vemos que o ensino do Português sofreu mais uma radical mudança, em virtude da promulgação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação (Lei 5692/71). Resultante da intervenção feita nesse momento histórico pelo movimento militar de 1964, a nova lei punha a educação a serviço dos objetivos e ideologia do governo vigente, passando a língua a ser considerada instrumento 7 para esse desenvolvimento, com seu foco voltado para o uso (MALFACINI, 2015)[2].

Houve muitas reformas da Língua Portuguesa, para aproximar-se ou corrigir seu uso em acordo com os demais países que se comunicam nessa língua. Vou apenas citar as datas por considerar um tema amplo, mas que trouxeram um processo complexo, que merece maior atenção. Reformas: em 1943 e 1971, (ao passo que, em Portugal as mudanças já vinham desde 1911, 1920, 1931, 1945 e 1973). A partir de 1990, Portugal e Brasil acordaram novas regras – Acordo Ortográfico de 1990.

SITE NEIPIES: Como manténs rotina de vida diária e ocupação psicossocial nestes 25 anos de aposentadoria?

SOLANGE SCHMIDT: Acreditas que não vi passar tanto tempo? Tenho um roteiro sempre pronto para o dia seguinte, não é o mesmo que rotina.

Tenho muitas atividades: gosto de ler, ouvir música, vejo documentários, passeio, vejo amigos, paro para tomar um cafezinho e bater papo, com a família e com amigos, por celular, pelo menos três vezes por semana, escrevo, me exercito todos os dias, acompanho meus netos, ajudo-os nos estudos, se eles precisarem, converso com minhas filhas, dou aulas de Metodologia para alunos de especialização, mestrado e doutorado leio as notícias diárias, assisto as lives que me interessam, uso o notebook ou o celular para todas as necessidades possíveis. Participo de grupos que cuidam da sobrevivência humana. Sou apaixonada por gatos e cães, tenho vários.

 SITE NEIPIES: Quando, como e por que entrastes para a luta sindical (CPERS Sindicato)?

SOLANGE SCHMIDT: Comecei a trabalhar em Passo Fundo, em janeiro de 1976, inicialmente na UPF, em cursos de férias e em seguida, nos cursos regulares. Naquela época, o ensino de Língua Portuguesa existia em quase todos os cursos. Em 1979, fui fazer o Mestrado em João Pessoa – PB. Como ainda vivíamos sob o bastão da Ditadura, eram poucos os professores brasileiros, grande parcela deles estavam no exílio, por isso, tive aulas com professores de vários países como França, Portugal, Espanha, Inglaterra e Alemanha.

Foram anos difíceis, mas produtivos na questão do conhecimento. Voltando para o Rio Grande do Sul, assumi minha profissão em Passo Fundo, na Escola Estadual De Ensino Fundamental Coronel Gervásio Lucas Annes, no Bairro Petrópolis.

O magistério estadual passava por grandes dificuldades, pois entendíamos que havia questões inadiáveis na busca de soluções. A mobilização precisava ser ativada no conjunto da categoria. Foi então que me filiei ao CPERS, Centro dos Professores do Rio Grande do Sul, passando a participar ativamente do 7º Núcleo e mais tarde da Direção Central. Quando terminou o mandato, fui designada para trabalhar na Escola Estadual de Educação Básica Nicolau de Araújo Vergueiro, onde fiquei até a aposentadoria.

No dia seguinte à aposentadoria, recebi a notícia de que meu curriculum vitae havia sido avaliado e aprovado em 1º lugar, pela Comissão de Educação da Assembleia Legislativa, para coordenar, como Assessora Técnica, o Projeto de criação da Universidade Estadual do RS.

Foi um trabalho intenso, uma experiência única e uma grande aprendizagem, pois essa atividade envolvia deputados de todas as bancadas e funcionários ativos e competentes, de todos os partidos, portanto, um grupo heterogêneo. Mas não lembro de nenhuma discussão, que não tivesse o sentido de contraposição benéfica ao plano que estava sendo construído. Essa também é uma história longa.

Considero importante dizer, que após a aceitação do projeto, por todas a bancadas, os responsáveis se dirigiram ao Governador da época, Alceu Collares, que teceu elogios, mas não assumiu sua implantação. Assim foi, também, com Antônio Brito.

Finalmente, no Governo Olívio Dutra, cumpriu-se a criação da UERGS. Apesar de muitas modificações no projeto inicial, iniciou-se a implantação de mais um espaço de conhecimento dedicado as jovens que clamavam por essa oportunidade. A ideia inicial deste projeto, partiu de um político passo-fundense, Beto Albuquerque, na época, deputado estadual.

SITE NEIPIES: Ainda estás ativa nas lutas do magistério estadual. Qual foi e qual continua sendo o maior desafio dos sindicatos de professores?

SOLANGE SCHMIDT: Uma das questões, que sempre está em pauta nas nossas discussões é a qualidade do ensino. É uma luta incansável e poucos são os resultados desde a época em comecei a trabalhar até agora. Isto inclui a estrutura das escolas, a manutenção das mesmas, laboratórios, bibliotecas atualizadas, cursos adequados a cada área do conhecimento.

A pandemia trouxe a necessidade de dar aulas pela internet, isso também trouxe grandes dificuldades aos professores, que nunca haviam trabalhado com plataformas tecnológicas, assim como aos alunos, principalmente aqueles que são deficitários em questões de sobrevivência e não têm condições para adquirir as ferramentas indispensáveis para esses métodos.

Por esses fatos, aliado à desvalorização contínua, dos salários dos professores e dos funcionários estaduais, ainda temos muitos desafios a enfrentar. A luta dos trabalhadores em educação, era muitas vezes criticada por causa das greves, mas nas últimas, observa-se que pais e alunos já tiveram maior compreensão da realidade.

 Passamos todo governo Sartori sem pagamento em dia, sem reajuste e tendo o salário parcelado. No governo de Eduardo Leite é ainda pior, todos os benefícios, como triênio, por exemplo, foram retirados, e acrescido da cobrança da previdência dos aposentados.

Quando na ativa pagamos a nossa aposentadoria, descontada na folha mensal, agora estamos obrigados por lei aprovada no início deste ano, a pagar novamente. O subsídio que o governo nos paga, não chega perto do que nos foi tirado, as perdas salariais foram tão expressivas, que o CPERS/Sindicato, organizou uma campanha de arrecadação de mantimentos, remédios e outras necessidades urgentes dos colegas mais afetados por essas novas medidas.

Vivenciei, como profissional, a postura de vários governos, tivemos algumas vitórias importantes que não duraram dois meses, como o aumento do salário, depois de uma greve de 64 dias, para 2 e 1/2 Salários Mínimos, no Governo de Jair Soares, que fez o primeiro e único pagamento no final de seu mandato e, no mês seguinte, já com o governador Pedro Simon, imediatamente pediu a sua inconsticionalidade. Esse jogo nos pareceu como produto de conchavismo, entre o que saía e o que entrava. Esse é apenas um caso dos tantas que vivenciei, e vivencio, mas, com outros requintes, é a mesma tragédia que hoje acontece.  

SITE NEIPIES: És uma “pessoa de resistência”, que fez história junto com muitos e muitas lutadores e lutadoras. O que gostaria de dizer a estes?

SOLANGE SCHMIDT: Sim, foram muitos companheiros e companheiras que lutaram e lutam, buscando melhorias. Minha geração foi sempre muito ativa e muitas e muitos assim continuam. Endereço aos professores da ativa, a necessidade de focarem suas lutas no coletivo da sua categoria. A unidade será mais fortalecida e muitas queixas deixarão de existir, estudem junto ao CPERS/sindicato as estratégias mais adequadas e formem a resistência mais poderosa. Sejam observadores dos encaminhamentos de pautas e das reações do patrão, que na maioria das vezes, não conhece a nossa causa. Conheço muitos colegas, que não participam das lutas, não se associam ao sindicato, e, nas vitórias, recebem os frutos conquistados por colegas que abandonaram o conforto, mínimo que possa ter, os filhos, e que diferencia situação socioeconômica de cada um. Isto não é justo. Quem assim se individualiza não pode ser professor, pois erra na essência da união dos diferentes pensamentos.

SITE NEIPIES: Qual foi e qual ainda é o papel da educação pública, de qualidade, na sociedade?

SOLANGE SCHMIDT: Sou freiriana convicta. É preciso dizer, de início, que Paulo Freire não fez uma teoria educacional, mas um método, um processo de aprendizagem. Freire, que prega a educação libertadora, em contraponto ao que denominou “educação bancária” que focaliza uma a atuação de bancos, onde são “depositados” os conteúdos, de forma unilateral, como se fosse dinheiro.

A educação bancária faz o educador pensar, versejar, como se só ele tivesse uma conta recheada de capital, o qual só ele, soberbamente, detém o saber e o seu uso. O aluno, nesse caso, é o passivo, que nada sabe. Passa-se a multiplicar seres submissos e acomodados, a quem ele suprime a capacidade crítica ao mundo, tão necessária para o desenvolvimento sócio educacional.

Outra questão desassociada, mas intrometida num projeto educacional é a política, na sua forma mais atual de acomodação dos interesses de algumas pessoas ou grupos partidários. A cada eleição para qualquer dos cargos executivos, uma das primeiras ações é fazer mudanças na educação, desconsiderando procedimentos possíveis e passiveis de continuação.

A Educação não pode ser alterada, por qualquer governo que se elege, nem gerenciada por quem a desconhece. Um plano educacional dever ser bem elaborado, contemplando as questões sociais e regionais, históricas e outras características, como a diversidade, o meio-ambiente, entre outras ditadas ou contemporizadas pela sociedade.

É preciso conhecer o país e suas necessidades, como por exemplo o caos do saneamento básico, a fome, o desemprego, que implicam gravemente na vida de todos. Isto posto, em exercícios matemáticos, é uma ameaça aos governantes. Mas não tem nada a ver com posições ideológicas, como o bolsonarismo quer que acreditemos. É a realidade, afinal, a Matemática é uma ciência exata.

SITE NEIPIES: Conte-nos uma pequena história de professora que marcou sua trajetória?

SOLANGE SCHMIDT: Quando estava trabalhando na Escola Gervásio Annes, observei que alguns alunos tinham muitas dificuldades em escrever e falar. Solicitei à escola um espaço para estudar essas dificuldades separadamente, o que foi acolhido. Falei com os pais e montei um pequeno laboratório de ensino e aprendizagem. Tendo a colaboração de outros colegas, fiz um plano que envolvia a fonologia, a morfologia e o pensamento. Em menos de 2 anos consegui alcançar o objetivo. Relatei o trabalho e, fui convidada a expô-lo num congresso internacional de Língua Portuguesa, realizado em Campinas – SP. Foi algo tão gratificante que me fez redobrar meus estudos e me inteirar, cada vez mais, das amplas possibilidades que existem na educação e no ensino da língua.

SITE NEIPIES: Sobre a pandemia: o que já aprendeste com esta pandemia e com o necessário isolamento físico? Achas que sairemos melhores como pessoas e nas nossas relações interpessoais?

SOLANGE SCHMIDT: Estou em quarentena desde o dia 06 de março, me organizei para ter atividades em casa e não abandonei meus amigos. Sinto saudade da liberdade, da rua, da cidade toda, mas minha maior responsabilidade, agora, é tomar todos os cuidados por mim e pelos outros.

Tenho filhos e netos e os quero perto de mim. Entendo que é possível sairmos bem melhores desta crise, apesar de ver nos noticiários que muitas pessoas se entregam, desistem ou não acreditam que a paciência é necessária. Temo que o mundo retorne dividido, mais uma vez, entre os conscientes e aqueles que continuarem confiando nos destruidores da Cultura, da Educação, da História de das ciências.

SITE NEIPIES: Consegues imaginar o desafio da educação em tempos de educação precária ou remota do ponto de vista dos professores e professoras (trabalhos à distância, novas aprendizagens com tecnologias, stress pelo isolamento, medo de voltar às aulas por ser parte do grupo de risco)? O que pensas disso?

SOLANGE SCHMIDT: Estamos vivendo numa nova realidade, infelizmente imposta por um vírus de grande resistência, para o qual não se encontra medicamentos nem vacinas, como todos sabem. A interferência política, nesta fase, no Brasil, tem demonstrado que traz turbulência no trato de situação tão complexa. Isto influi na comunicação com o povo, que fica perturbado, pelas dicotomias expostas pelos políticos incrédulos, em contraposição aos cientistas, que se esmeram nas pesquisas e estudos aprofundados.

Encontro muita gente com medo. Isto vai prevalecer, se não tomarmos cuidado com nossa mente, conforme os psicólogos têm alertado.

Quanto à atividade educacional, vejo que sua retomada será bastante complicada, por motivos acima revelados e por outros que a comunidade educacional tem indicado. As escolas estaduais precisam de uma urgente reforma, nos seus espaços físicos, a preparação da volta as aulas, no meu entendimento, prescindem de uma estrutura de desinfecção para a entrada e a saída dos alunos e dos trabalhadores em educação, assim como outras pessoas, como pais e responsáveis que ali transitam. Isso se chama PREVENÇÃO.

Se pensarmos somente do conteúdo a ser ensinado, o que é de enorme importância, e, se deixarmos de tratar da prevenção, continuaremos expondo todos a doenças.

É preciso TRATAR a escola como um ser vivo, pois os alunos são nosso maior tesouro e a vida da escola. O Estado tem o dever de investir nessa questão, o que já deveria estar realizando, neste tempo de afastamento.

Quanto às aulas, espero que se deem conta da necessidade de recuperação dos conteúdos, mesmo dos alunos que conseguiram acompanhar aulas on line, pois a inexperiência de grande contingente de professores que ainda não desenvolveram as temáticas dos planos nas plataformas oferecidas, assim como de alunos e seus pais e responsáveis.

Não podemos fechar os olhos para esta realidade, muito menos, para os agentes da educação que não têm condições financeiras para ter um notebook, ou pelo menos um smartfone que abarque todas as necessidades para dar uma aula.

Quando o sinal verde permitir que os alunos voltem, as escolas deverão estar prontas para uma retomada renovada, alegre como um jardim florido, que os professores regam todos os dias com a água do conhecimento.

Por fim, entendo que este ano, foi tão diferente, que é muito difícil prever o mundo pós-pandemia. Por isso, deveria ser suspenso, como outros educadores já têm sugerido; dar continuidade, on line, para os que estão encerrando o ensino médio, facilitando sua participação nas provas do ENEM ou vestibulares. Os demais, ao voltarem, devem ter um tempo para recuperações e uma comprovação de aptidão para continuarem o ano letivo seguinte. Após isso é que se deve reiniciar as aulas regulares. Lembrando Bill Gates, reforço esse pensamento: “A tecnologia é somente uma ferramenta no que se refere a motivar as crianças e conseguir que trabalhem juntas, um professor é o recurso mais importante. ”

SITE NEIPIES: Uma mensagem de encorajamento e esperança aos professores e professoras, neste momento histórico?

SOLANGE SCHMIDT: Colegas: minha trajetória como professora me ensinou mais do ensinei, pois encontrei nas salas de aula tamanha heterogeneidade de culturas, vivências e sobrevivências, que me fez rica em aprendizagem, paciência, em coragem e esperança. Isto é o que desejo para todos e todas.

Como disse Paulo Freire: “Ninguém caminha sem aprender a caminhar, sem aprender a fazer o caminho caminhando, refazendo e retocando o sonho pelo qual se pôs a caminhar”. Ou ainda, na palavra de Confúcio, “A educação alimenta a confiança. A confiança alimenta a esperança. A esperança alimenta a paz”.

SITE NEIPIES: Uma frase que defina a senhora?

SOLANGE SCHMIDT: Sou uma pessoa simples, humilde, estudiosa, e bem-humorada, mas reajo forte às injustiças sociais como a desigualdade, às discriminações de gênero, de etnia ou qualquer outra que queira sufocar os pensamentos, os desejos e a vontade de crescer desenvolvendo a sua tarefa profissional. Ideologicamente, sou adepta do Socialismo, mas não sou filiada a nenhum partido. Ser socialista, para mim, é um estado de espírito, que me permite liberdade e igualdade.

SITE NEIPIES: Uma mensagem, música ou frase que defina “o mundo como ele deveria ser”.

SOLANGE SCHMIDT: O mundo deveria ser composto de mais humanidade, solidariedade e humildade, reconhecendo no outro sua própria igualdade, sem esquecer jamais da maior lição que nos foi passada pelo amor de quem nos criou.

Fotos: Arquivo pessoal/ 4 fotos de manifestações de professores e professoras/ 1 foto de perfil atual e uma foto com cachorros da família.


[1] BEZERRA, M.A (Org.). O livro didático de português: múltiplos olhares. 3. ed. Rio de Janeiro: Lucerna, 2005.

[2] MALFACINI, Ana Cristina dos Santos. Breve histórico do ensino de Língua Portuguesa no Brasil: da Reforma Pombalina ao uso de materiais didáticos apostilados. Rio de Janeiro, Idioma, nº. 28, p. 45-59, 2015.

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