Respeite o momento do seu filho amando-o e brincando com ele das mais incríveis brincadeiras que ele possa imaginar, mantendo um diálogo cheio de criatividade e imaginário de modo que a criança possa estabelecer um laço afetivo com você.
Início o ensaio de hoje com o pensamento do filósofo e escritor de “O mundo de Sofia”, Jostein Gaarder: “não é o castelo de areia a coisa mais importante na brincadeira da criança. O mais importante é a imagem de um castelo de areia que a criança tem na cabeça antes de começar a construir o castelo. Por que outra razão você acha que ela destrói com as mãos o castelo que acabou de construir?”
Leia sempre que possível o pequeno pensamento acima quando tiver dúvidas se acertará conviver no mundo do seu filho, este mundo imaginário que ele constrói com tanto carinho para guardar as coisas que podem salvá-lo das dificuldades e incompreensões que a infância apresenta e, se possível, que você possa aprender com erros e acertos a fazer parte deste mundo vez ou outra imaginando coisas para tornar tudo mais belo, pois beleza a gente encontra no mundo de uma criança que cresce tendo respeitado o seu direito fundamental: brincar.
Seja o castelo de areia da sua criança antes que outros queiram sequestrá-la para um castelo com portões de ferro que aprisionam alegrias.
As crianças gostam quando os pais brincam com elas e fazem-nas acreditar que os seus mundos imaginários são lindos e encantados. Brincar com uma criança seja lá do que ela quiser é demonstrar amor, carinho e cuidado. As crianças sentem-se mais amadas e mais necessárias aos pais e responsáveis, também chega aquele sentimento de sentir-se útil à vida de um outro alguém.
Será que você tem entrado no mundo do seu filho? Para entrar neste mundo é muito simples, mas precisa de amor verdadeiro e tempo disponível para brincar com a criança que deseja atenção e carinho. Entramos no mundo da criança quando permitimos que ela se expresse do seu jeito e conversamos com ela na mesma linguagem que utiliza para chegarmos até nós, fazendo-nos compreender com as suas simples palavras, o seu esforço de poder descrever uma cena imaginária ou o que aconteceu com um brinquedo.
A criança só quer que você entre no seu faz de conta junto com ela, brincando e imaginando personagens que só existem no seu pequeno pensamento, no seu pequeno coração e no seu enorme amor por todos nós que lhes dedicamos os cuidados básicos para uma vida cheia de encantamentos.
O nosso maior problema é que para entrarmos no mundo dos nossos filhos precisamos voltar a ser criança, e muitos de nós não tivemos uma boa infância e não queremos lembrar dela para não nos machucarmos, logo não oferecemos este tempo às nossas crianças com receio de que lembranças dolorosas venham à mente.
Alguns pais não se esforçam mesmo por entrarem no mundo dos seus filhos, isso porque vivem ocupados com os seus trabalhos e rotinas cansativas, acostumados a uma vida difícil de seriedade e pessoas sem um pingo de paciência para lidar com uma brincadeira.
Quando entramos no mundo dos nossos filhos demonstramos cuidados e isso é bom para a criança que cresce acreditando que pode contar conosco, que existe alguém que a compreende, que terá sempre por perto alguém para amar e ser amada e o mais importante a confiança que essa criança entrega para nós tornando-se um ser mais seguro e com poder de decisões e escolhas muito mais fáceis.
Às vezes, na vida de uma criança há mais adultos do que amiguinhos da sua idade, e isso fica complicado para ela, pois lidar com a impaciência e cobrança que os pais e responsáveis lhe faz a todo instante é difícil e irritante. Ter que manter os brinquedos sempre em ordem, estar sempre limpinha, não gritar e nem pular pela casa, não bagunçar o quarto de dormir e nem subir no sofá, ficar quietinha dentro do automóvel, parecem ordens quase impossíveis da criança realizar. Mas, alguns pais fazem essas cobranças e quando as crianças não lhes atendem são castigadas.
Crescer ao lado de mais adultos do que de crianças da mesma idade é algo difícil e complicado, pois não conviver socialmente com outras pessoas da mesma idade pode comprometer o desenvolvimento da infância, uma vez que para o brincar verdadeiro é preciso estar com aqueles que sabem brincar e estão no mesmo mundo real. A criança que só convive com adultos pode ter problemas sérios mais tarde de convivência com o próximo, por isso é sempre bom socializá-la com outras da sua idade o quanto antes. A superproteção nem sempre é benéfica.
O mundo da criança sadia é cheio de encantos e magia.
Nele existem muitos personagens e o papai pode ser o herói vestido de dragão ou a mamãe que está na torre à espera do seu príncipe encantado. Há fadas, bruxas, gnomos e duendes. Poderes sobrenaturais estão lá prontos para ajudar a criança no momento que desejar. Conseguir ser personagem real desse mundo é acolher a criança dentro de um amor incondicional.
Brincar com a criança entrando no seu mundo imaginário e criando junto com ela as mais diversas brincadeiras, sendo o dinossauro que gosta de comer maçãs ou a formiguinha que gosta de comer doces nas madrugadas é sinal de que você respeita e ama a sua criança dando-lhe a atenção necessária para alimentar o seu imaginário de forma que cresça sempre fazendo deste mundo o seu local de fuga e acolhimento toda vez que necessitar largar a vida chata e incômoda dos adultos.
Quem de nós não gostaria de acreditar que é possível um mundo onde tudo se resolve com uma varinha mágica?
Quem de nós não gostaria de acreditar que um sapatinho de cristal pode mudar a vida de uma pessoa para sempre? É assim o mundo imaginário do seu filho e este mundo pode também pertencer a você se souber entrar nele o respeitando e cuidando para que as suas bonitezas sejam sempre preservadas.
Infelizmente, conheço pais que desconstroem o mundo dos seus filhos, dizendo-lhes de forma grosseira e estúpida de que fadas não existem e dragões são coisas de criança mimada. Alguns pais que querem ver seus filhos adultizados antes do tempo.
Fico triste quando vejo isso, mas tenho percebido que o mundo imaginário das criancinhas de um ano já não é mais como o de antes onde prevaleciam os personagens do faz de conta dos contos de fadas, sendo substituído pelos jogos eletrônicos das telas dos aparelhos celulares. Fico triste também quando vejo que os pais não dão mais atenção aos seus filhos deixando-os ao Deus dará nas poltronas das salas de visitas ou largados nos seus quartos de dormir presos a telas de computadores conversando com estranhos ou navegando em sites que não são adequados para as suas idades.
Eu gostaria muito de poder ver os pais brincando com as suas crianças nos parques de diversões, nas praças públicas ou até mesmo dentro de casa já que vivemos num mundo tão violento de uma forma em que o mundo da criança fosse respeitado e que nele pudessem caber outros personagens reais que ganham vestes de fantasia e encanto.
Quando os pais souberem que o segredo da infância saudável e amorosa é se colocar no mundo da criança de uma forma respeitosa e cuidadosa teremos menos problemas de saúde mental na infância, mais rapidez na aprendizagem das disciplinas de português e matemática, mais pensamentos lógicos, mais emoções bem trabalhadas e menos violências no mundo. Veremos que as crianças crescem cheias de sabedoria para lidar com os mais diversos problemas e dificuldades que vão aparecer ao longo das suas vidas e assim saberão compreender e vivenciar as dores que a vida adulta sempre traz.
Tente entrar no mundo da sua criança quando for convidado de uma forma respeitosa e cuidadosa fazendo valer o que pede o coração dela e que tipo de personagem você representa naquele mundo de forma que os outros personagens não sejam machucados pela sua incompreensão ou impaciência para se adequar as emoções da criança que tanto busca um pouco de atenção e alegria ao seu lado.
Respeite o momento do seu filho amando-o e brincando com ele das mais incríveis brincadeiras que ele possa imaginar, mantendo um diálogo cheio de criatividade e imaginário de modo que a criança possa estabelecer um laço afetivo com você.
A grande vivência da criança está na maior parte da sua infância no seu pequeno mundo onde poucos conseguem entrar e os que são convidados muitas vezes não sabem o que fazer lá dentro. É preciso compreender as emoções e sentimentos do seu filho para só assim poder fazer parte do seu mundo, um mundo onde alegria e fantasia fogem das intempéries de uma vida cheia de cobranças que nem sempre a criança entende o motivo de tantas atividades sem o tempo necessário para o seu brincar.
Quando uma criança não brinca tem algo errado com ela, e isso precisa ser verificado o mais rapidamente possível. É brincando de ser algo imaginário que a criança aprende a lidar com o mundo real, mesmo este sendo tão complexo para ela.
Segundo Donald Winnicott, brincar está além da diversão, do entretenimento: “a característica do brincar é o prazer“, mas esta atividade só dará prazer se for significada. “A significação do brinquedo depende do uso de símbolos” e, assim os símbolos podem ser aqui representados pelos pais que passam a ser personagens em forma de bonecos para a criança tornando-se uma significação de algo que traz harmonia, paz, amor e esperança para um mundo real tão difícil de ser compreendido pelos pequeninos.
Para entrar no mundo do seu filho basta um pouco de imaginação e criatividade, pois o resto já está pronto na cabecinha da criança. Ela sabe de tudo e de todas as coisas para se manter ali pelo tempo que precisar e você papai ou mamãe apenas deve respeitar esse tempo fazendo o possível para tornar este mundo um lugar de paz, alegria e esperança de que tudo vai melhorar ou estará sempre bem a partir do instante em que os personagens imaginários junto com os reais se preocupam no bem-estar daquele serzinho tão lindo que convive conosco e necessita tanto dos nossos cuidados.
E, para finalizar este pequeno ensaio sobre a importância de entrar no mundo da criança para que ela cresça mais feliz e saudável, eu deixo vocês com um pensamento de Lev Vygotsky: “ao brincar, a criança assume papéis e aceita as regras próprias da brincadeira, executando, imaginariamente, tarefas para as quais ainda não está apta ou não sente como agradáveis na realidade.”
Que as brincadeiras da criança possam fazer do seu mundo imaginário um convite aos pais para entrarem de forma encantadora e amorosa neste lugar cheio de vontade de alcançar a felicidade mesmo sabendo que o mundo real é tão incompreensivo ao seu bem-viver.
Autora: Rosângela Trajano
Muito bom! As crianças precisam mais de brincadeiras do que brinquedos!