Ao invés de reclamar por condições para que
se mantenha o acesso das crianças e
adolescentes na escola com qualidade na aprendizagem,
porque muitos escolhem professores e artistas
como problemas para a sociedade?

 

Qualidade é um substantivo inerente ao ser humano e a seus afazeres. O ofício de educar, como outros, pressupõe a qualidade, gerada na satisfação e na conquista de aprendizagens, protagonizadas por educadores e educandos.

O prazer maior nas relações de ensino-aprendizagem está na construção do conhecimento como algo útil, agradável e capaz de desencadear alegria e realização. O educador é um dos maiores interessados em qualidade na educação, pois ela sempre carrega potenciais para sua satisfação (o fracasso dos educandos também representa o seu fracasso).

Quem ganha com a desqualificação da educação pública? Quem ganha quando os professores e professoras não são tratados com a dignidade que merecem? Quem leva alguma vantagem quando os alunos de nossas escolas saem delas sem as mínimas condições de ler e interpretar o mundo, para melhor inserir-se nele?

É incrível que quando a sociedade se mostra disposta a debater qualidade na educação, os professores/as são atacados e apontados como responsáveis pelo insucesso escolar. E o que é mais grave: as peculiaridades de seu ofício começam a ser entendidas como privilégios, não como direitos. Professores e artistas passam a ser tratados como inimigos da família e da sociedade.

Professores que lutam para ampliar ou manter seus direitos são duramente penalizados. Por acaso professores e alunos estão sendo consultados para a avaliação dos processos educativos nos quais são os principais sujeitos?

Para avaliarmos a educação, precisamos de legitimidade nos processos avaliativos, a partir de acordos e convencimentos capazes de promover o envolvimento dos sujeitos nas realidades avaliadas. Seres humanos não são passivos como os produtos, e suas ações e atitudes sempre remetem à sua liberdade, sempre em construção.

Rubem Alves, quando discute “Qualidade em educação”, lembra que “a educação, na medida em que lida com a vida das pessoas e a vida do país, deve ser a área mais rigorosamente testada e é preciso que seja excelente. Entretanto, é aquela em que os testes são mais difíceis e as avaliações, vestibulares e provões quase nada significam: nada garante que a qualidade, medida por critérios acadêmicos numéricos, consiga passar os testes que a vida impõe”.

Alves afirma que as avaliações escolares sempre são anunciadas com a intenção de “consertar a máquina” (a estrutura dos sistemas de ensino). E logo responde: “eu, ao contrário, acho que não há nada de errado com a máquina. Não há o que consertar. Acontece que os alunos, mais precisamente os corpos dos alunos – têm também seus mecanismos de ‘controle de qualidade’. Se eles não aprendem é porque os seus corpos reprovam a máquina. Seus corpos vomitam o que a máquina lhes enfia goela abaixo. O resultado do ‘examão’ seria a prova disso”.

Segundo o escritor Rubem Alves, para se alcançar um bom nível de qualidade na educação básica é preciso capacitar professores: “O professor é o ponto central de qualquer programa de transformação do ensino brasileiro”.

Rubem Alves pondera ainda que nosso corpo só aprende dois tipos de conteúdos: os que dão prazer e os que levam ao objeto de prazer (aqueles com razões para serem aprendidos). “A máquina funciona como deve. O problema é que a comida que ela serve é imprópria para a inteligência”.

O ataque a liberdade de cátedra e a desconstrução da função dos professores e professoras deveria ferir nossas inteligências. Ao invés de reclamar por condições para que se mantenha o acesso das crianças e adolescentes na escola com qualidade de aprendizagem, porque muitos escolhem professores e artistas como problemas para a sociedade? Desde quando estes quiseram intervir para piorar a sociedade?

“É preciso reforma”, diz Celso Napolitano, “não com medida provisória, mas consultando e dialogando com o professor”. Napolitano afirma ser necessária a valorização financeira do professor e, também, a sua fixação na escola, para permitir o aumento do seu tempo de preparação e dedicação às suas disciplinas. “A chave da questão é a formação continuada do professor”, completa Paulo Ronca.

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